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ricardo bikeRicardo Ribeiro | ricardo.ribeiro10@gmail.com
 

Sobre opiniões, é lícito e saudável evoluir, mas mudanças repentinas em momentos tão especiais como uma eleição, sempre irão gerar desconfiança.

 
A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, poderia continuar em disparada rumo à vitória em primeiro turno, não fossem as opiniões vacilantes acerca de temas polêmicos. No programa da socialista, havia promessa de apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que acabou sendo retirado, supostamente por pressões do pastor Silas Malafaia, da Igreja Assembleia de Deus.
De acordo com pesquisa do Ibope, 53% da população brasileira rejeita a ideia do casamento gay e é provável que o recuo de Marina tenha mais a ver com esse posicionamento do eleitorado do que com a oposição de Malafaia. Até porque, estrategicamente falando, não faria sentido para a candidata ficar bem com o pastor e mal com a opinião pública.
No entanto, ainda que a retirada do tema tenha aproximado Marina do pensamento geral, a postura titubeante foi apontada pelos adversários como indício de que a herdeira de Eduardo Campos utiliza as tretas da velha política. Tipo dançar conforme a música ou jogar para a torcida, sem valorizar a firmeza do que defende.
A partir desse gancho, opositores passaram a lembrar que Marina já flexibilizou sua oposição ao agronegócio e ao cultivo de transgênicos e seu vice, Beto Albuquerque, recebe financiamentos de fabricantes de cigarros e de armas. Além disso, a atitude de “metamorfose ambulante” foi reforçada pelo fato de Marina já ter se filiado a quatro partidos políticos: PT, PV, Rede e PSB.
Sobre opiniões, é lícito e saudável evoluir, mas mudanças repentinas em momentos tão especiais como uma eleição, sempre irão gerar desconfiança. E foi esse “pé atrás” do eleitor que freou o ritmo de crescimento de Marina nas pesquisas, conforme se verifica pelos últimos dados do Datafolha e do Ibope.
Em campanha eleitoral, as pesquisas – sobretudo as qualitativas – indicam as estratégias dos candidatos. O que fazem, o que dizem, para onde vão, praticamente tudo é determinado pelos marqueteiros, a partir do que se colhe nos levantamentos. Isso é natural para todos, menos para uma candidata que vende uma imagem que exala autenticidade e uma etérea nova política.
A equação, em todo caso, é difícil. Se mantivesse fidelidade aos ideais que a fizeram surgir como um elemento novo na política, talvez Marina desagradasse e assustasse a muitos. Ao buscar harmonizar sua pauta com múltiplos interesses, correu o risco de ser tachada como incoerente. O fato é que hoje ela é dirigida e não determina sua própria pauta, o que já desestimula e frustra pessoas que viam Marina como uma política totalmente diferente de “tudo o que está aí”.
Ricardo Ribeiro é advogado e jornalista.

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