Manu Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br
Ser professor não é apenas uma profissão, mas um gesto de solidariedade para com o outro. Ou para com os outros.
Como em todas as manhãs, sentei de frente para o computador e fui visitando os sites e blogs de praxe, além das redes sociais. 15 de outubro, Dia do Professor. Vi alguns artigos pessoais sobre o tema, pouquíssimas homenagens e uns dois desabafos. Pensei em escrever sobre os inúmeros profissionais bacanas que tive ao longo da vida, mas preferi me reportar a uma outra fase.
Já estive professora por duas vezes. Ter a consciência de que estava vivenciando a profissão nunca fez me sentir menos motivada. Muito pelo contrário. Foi na labuta diária com meus próprios conhecimentos e identificando o que ainda precisava (e preciso) aprender que descobri que ser professor é profissão crescente, mutável, troca de experiências. Mais ou menos como um caminhão que vai passando e levando a bagulhada toda que encontra pelo caminho, sem ter muito tempo ou o direito de descartar algum material. Tem que levar tudo junto e misturado mesmo e, no final do dia, tentar parar para refletir o que fazer com aquilo. O que guardar, afinal? O que descartar?
Lecionei em instituições privadas até então (no ensino fundamental e superior) e trago na pequena bagagem passagens inesquecíveis, mas principalmente o sentimento de que ser professor não é apenas uma profissão, mas um gesto de solidariedade para com o outro. Ou para com os outros. Árduo e pouco valorizado (em todos os sentidos), mas prazeroso. Como algo forte que poucos têm o desejo de experimentar, mas que dado o primeiro contato fica ainda mais difícil largar.
Dentre tantas lembranças, um dos momentos em que me calei por não saber o que dizer. Um dia, uma aluna pegou uma cadeirinha, colocou ao meu lado durante uma apresentação dos colegas, e desabafou. “Muita falsidade essa homenagem ao Dia do Professor!”. Surpresa, tentei amenizar sua ira baixinho, explicando a ela que aquele trabalho tinha o objetivo de afirmar e resgatar o respeitos aos professores, quando fui surpreendida: “Tia, respeito é sentimento, e sentimento não se pede!”. Olhei para a frente. Emudeci. Tenho a leve impressão de que saí daquela turma sendo uma professora (e pessoa) completamente diferente da que entrei.
Manu Berbert é publicitária e colunista do Diário Bahia.