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Walmir Rosário | wallaw2008@outlook.com
 

A apresentação publicitária era uma pequena prévia do gabarito dos artistas circenses. Se agradava, o espetáculo era garantia de casa cheia, do famoso poleiro (arquibancadas mais altas), passando pelas cadeiras e até camarotes.

 
Hoje tem espetáculo? Tem, sim senhor! Hoje tem marmelada? Tem, sim senhor! Hoje tem palhaçada? Tem, sim senhor! Então, arroooooochaaaaa, negrada! Era assim o apelo publicitário dos circos na minha infância e adolescência. O palhaço com sua perna de pau, alguns anões, e outros personagens circenses que, todos a pé, circulavam pelas ruas da cidade, convidando o respeitável público para os shows.
Não tinham alto-falantes – no mínimo uma espécie de corneta com a aparência de um funil – mas tinham graça e sabiam arrastar uma galera de moleques, que como eu não resistiam ao charme do palhaço e sua trupe. Se bem que não era apenas o charme do palhaço que nos fazia acompanhá-lo, mas a possibilidade de assistir ao espetáculo, gratuitamente. Bastava o palhaço marcar o nosso braço com uma tinta apropriada.
Que publicidade melhor do que essa para “arrebanhar” assistentes para o grandioso espetáculo? O respeitável público comparecia em massa para conhecer a variedade de atrações, que iam do drama ao globo da morte. Ainda mais se fosse o Capitão Anthony. Palhaçadas, a emoção do trapézio, leões, macacos, elefantes, a mulher de borracha, e uma centena de artistas capazes de agradar aos mais variados gostos.
Mas, se o circo fosse mambembe, a alegria também contagiava a todos nós, que nos apresentava aos donos e artistas do circo, como parte dos personagens da publicidade volante. Para dar credibilidade e a garantia de público, até oferecíamos o roteiro a ser percorrido, principalmente passando pelas ruas cujos moradores seriam presença assegurada, dado ao poder aquisitivo favorável.
A comunicação era perfeita, sem muita zoada, apenas a garganta era suficiente para fazer com que as pessoas deixassem o interior de suas casas, aparecerem no passeio e soltarem boas e alegres gargalhadas. A apresentação publicitária era uma pequena prévia do gabarito dos artistas circenses. Se agradava, o espetáculo era garantia de casa cheia, do famoso poleiro (arquibancadas mais altas), passando pelas cadeiras e até camarotes.
Lembro-me até hoje da boa comunicação, feita por quem tinha o dom e a sabedoria da arte da publicidade, embora nenhum deles tenha passado em frente ou alisado os bancos de uma faculdade de marketing e propaganda. Simples, eles não queriam inventar a roda, apenas vender seu peixe bem vendido, com a competência de quem sabia e gostava do que estavam fazendo.
Nos dias atuais, em que falamos de boca cheia que temos e utilizamos tecnologia, parece que desaprendemos a boa prática de vender nossos serviços de forma eficiente, para termos eficácia no nosso negócio. Inventamos fórmulas mirabolantes que não levam a nada, a não ser a confusão na cabeça das pessoas. É o chamado “embromeicho”, “enroleicho” que ninguém entende ou gosta.
Pra começo de conversa, partem do princípio de que todos somos surdos – ou nos querem fazer surdos –, ligando os carros de som numa altura insuportável, nos obrigando a ouvir uma verborragia na voz execrável de um locutor horrendo e inconveniente. Se fosse só isso – que já é demais –, até poderíamos tolerar o incômodo, mas os carros de som percorrem, insistentemente, as ruas, um atrás do outro, deixando-nos martirizados.
Pensa que acabou, caro leitor: nem pense, pois sequer falei nas baterias de fogos, queimados a todo o instante, como se tivessem a intenção de deixar os shows pirotécnicos de Ano Novo em Copacabana no chinelo. Ledo engano, os fogos daqui somente fazem zoada, para o desespero de pessoas idosas, doentes, crianças e os animais.
Os donos dos circos Show Fantástico e Dayllon, ou seus gerentes, devem ter ouvido de alguém que em Canavieiras tudo começa e termina com a queima de fogos, daí que devem ter acreditado e torraram o dinheiro do mesmo modo que o poder público. Pelas minhas desconfianças, aí deve ter o dedo do jornalista Tyrone Perrucho, fogueteiro mor dos tempos que o fuzilar de fogos era sinônimo de recontagem de votos. Tudo passado e boa molequeira.
Esperamos que na próxima safra de circos que venham apresentar seus espetáculos ao nem tão respeitável público, receba, por parte do poder público municipal (meio ambiente) e do ministério público, as orientações sobre a legislação pertinente. Caso não acatem as recomendações, é o dever das nossas polícias civil e/ou militar enquadrar os infratores na forma da lei, como diz o jargão.
Tudo por uma questão de respeito.
Walmir Rosário é jornalista, radialista e advogado, além de editor do Cia da Notícia.

0 resposta

  1. Sábias observações de um profissional de comunicação sobre comunicação bem e mal aplicada. Aqui em Itabuna esses picadeiristas anunciaram o “espetáculo” para as 19h00 e, nessa hora, tudo fechado, tudo às escuras. Meu filho de 10 anos ficou frustrado, acabamos indo pro shopping. É, essa vida é mesmo um circo, como diria alguém de sobrenome Anunciação.

  2. Nos doces tempos de criança deste comentarista o circo trás lembranças indeléveis da sua infância na doce Vila de Mutuns, uma vez que saia pelas ruas de Mutuns na maior algazarra atrás do palhaço sobre uma perna de pau.
    O palhaço dizia assim: hoje têm espetáculo! Todos respondiam,têm se senhor! E
    cantarolando,quem não ir no circo hoje,uma praga vou rogar,uma dor no cotovelo e
    outra dor no calcanhar. Já vem a lua saído por de trás da bananeira não é lua não é nada é a bandeira brasileira. A minha mãe tá me chamando,diga ela que já vou,tô tirando a calcinha da morena que chegou e o quebra quebra guabiraba e a criançada numa só voz respondia,quero vê quebrar. O palhaço dizia: imita seu Tomás,a criançada respondiam,dá pra frente e dá pra trás e fazia o gesto e o palhaço dizia,seu mané! Todos com as mãos na cintura,boca fechado fazia o gesto de ruivo hummm pra frente e pra trás e as tantas outras anedotas e as criançadas na maior festa do doce Mutuns.
    Todos em fila e organizado exigência do palhaço e numerava com tinta de carvão
    os braços de cada um e dizia que não pode apagar,se apagar não vai entrar no circio,ninguém ousava molhar o braço na hora do banho.
    Falar do anunciado seria o mesmo de chover no molhado,o circo um dos espetáculos
    mais antigo da terra em entretenimento da humanidade. Na Roma antiga o pão e o circo o Imperador romano dava aos pobres e no Brasil esse prisma o PT fez o mesmo,pão e esmola aos pobres e o entretenimento deixou o crack e cocaína aos miseráveis e tome propaganda escondendo este grande mau e desgraças.
    “A arte de pensar e ter uma visão crítica da sociedade são de poucos,é uma pena”
    Autor desconhecido.

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