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Eliseu Junior, da Uesc, pesquisa cura para o Mal de Parkinson || Foto Júlia Barreto

O estudante Eliseu da Cruz Moreira Junior, no quarto ano, do curso de Medicina, da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) durante o intercâmbio nos Estados Unidos, na University of Mississippi-Medical Center. Lá, desenvolveu uma hipótese sobre a gênese da Doença de Parkinson (Mal de Parkinson), Hyper-serotonergic state determines onset and progression of idiopathic Parkinson’s disease (Estado hiper-serotoninérgico determina início e progressão da doença de Parkinson idiopática), publicada na revista americana Medical Hypothesis, da Elsevier.

A hipótese escrita por Eliseu é única, por que foi primeira a correlacionar uma possível alteração na liberação de um neurotransmissor específico causando a morte axonal. Segundo o estudante, “apesar de décadas de pesquisa sobre a doença de Parkinson, a etiologia (estudo da causa) dessa doença permanece incerta. O artigo introduz uma nova hipótese, propondo um estado hiper-serotoninérgico como o principal mecanismo que leva ao comprometimento axonal, tanto nos neurônios dopaminérgicos quanto nos serotoninérgicos na doença de Parkinson.”

– A serotonina parece ser um candidato promissor para explicar vários dos sintomas precoces pouco compreendidos da doença de Parkinson, incluindo comprometimento do sono, ansiedade, alteração da motilidade gastrointestinal e alucinações – observa.

Eliseu Júnior e o professor e médico Marcelo Araújo || Foto Júlia Barreto

A hipótese desenvolvida por Eliseu enfatiza que um estado hiper-serotoninérgico causaria inicialmente interrupção do transporte axonal, um estado agudo no qual as alterações axonais são reversíveis e o processo neurodegenerativo pode ser interrompido. “À medida que o estado hiper-serotoninérgico persiste, o acúmulo de produtos neurotóxicos e um comprometimento sustentado no transporte axonal levariam à morte axonal e culminariam em um processo neurodegenerativo irreversível.”

Ele explica “que as implicações potenciais dessa hipótese são discutidas, bem como futuras pesquisas podem ser empregadas para elucidar ainda mais o papel da serotonina na progressão da doença de Parkinson.”

A sua orientadora, nos Estados Unidos, foi a doutora Laís Berro, que ajudou na escrita e submissão do artigo. Para Eliseu, talvez o que lhe espera à frente seja a parte mais difícil desse processo, pois precisa provar a sua hipótese ou refutá-la. “Tenho algumas certezas quanto a isso. E acredito que, se confirmada, mudaríamos totalmente a forma de ver as doenças neurodegenerativas e nos apontaria em direção à cura”.

HISTÓRIA

Eliseu da Cruz Moreira Junior é baiano de Itabuna. Antes de entrar na universidade, ele fez o ensino médio e fundamental usando os métodos do homeschool (Educação Domiciliar) e, por isso, permaneceu na escola apenas até a antiga segunda série. A sua trajetória até o ensino superior e durante o seu período na academia é bem marcado pelas skills (habilidades) que desenvolveu sendo autodidata e com pensamento crítico aguçado, reforçados pela escolha do método formativo pelos seus pais.

Eliseu sempre teve paixão pelo difícil, intrincado e misterioso. “Quando decidi pela neurociência, decidi pela minha inclinação por fazer novas descobertas e pelo espaço que eu teria para desenvolver meu intelecto, sendo o cérebro um universo em si mesmo, com mistérios ainda difíceis de entender. Isso se juntou com o fato de que minha avó sofria de uma doença neurodegenerativa muito comum hoje em dia, o Parkinson. Lembro-me que, ainda quando vivia, em uma das visitas que fazia a sua casa, prometi que acharia a cura para a sua doença e que os meus esforços na neurociência seriam para entender mais sobre essa doença.”

“Essa promessa foi feita em 2016, algum tempo antes de sua morte. Foram quase três anos e meio desenvolvendo uma hipótese sobre a doença de Parkinson que ninguém havia feito ainda. Escrevendo na parede do meu quarto, lendo artigos, fazendo experimentos mentais, assim foi a minha rotina para os questionamentos que, há três meses, me renderam uma hipótese publicada em uma revista americana como único autor”, conclui Eliseu da Cruz Moreira Junior.

2 respostas

  1. Que matéria feliz! Parabéns, Eliseu e família. Perdi meu pai para o Mal de Parkinson e espero que seus esforços e pesquisa sejam eficientes para trazer à luz a cura dessa terrível doença.

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