Juvenal pede demissão após prefeito confirmar reabertura do comércio
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Juvenal Maynart tornou público o teor da carta em que pede a exoneração do cargo de diretor-presidente da fundação mantenedora do Hospital de Base, a Fundação de Atenção à Saúde de Itabuna (Fasi). Ontem (30), o prefeito Fernando Gomes decidiu que o hospital não mais atenderia apenas pacientes vítimas do novo coronavírus (covid-19), como anunciado na última sexta-feira (27). Juvenal enxerga como perigosa a decisão do prefeito.

Para Juvenal, seria mais eficaz o hospital atender a um só fim (pacientes vítimas do coronavírus), para evitar contaminação cruzada.

E exemplificou:

– Evitaríamos que um paciente entrasse com o tornozelo quebrado saísse num caixão, vítima do coronavírus, numa infecção cruzada, sem direito a velório – explicou.

Na avaliação de Juvenal, voltar a ser portas abertas, recebendo variados tipos de pacientes, muitos já infectados pelo novo coronavírus, é uma temeridade no enfrentamento de “praga tão virulenta, que não respeita fronteiras, gênero, idade ou condição social”.

E emenda com um alerta:

“Temo que muitas vidas podem ser perdidas”.

Desde o último sábado (28), o Hospital de Base passou a ser referência exclusiva para pacientes com o novo coronavírus. Os demais pacientes estavam sendo encaminhados para o Hospital Costa do Cacau, na Rodovia Ilhéus-Itabuna. A decisão foi acertada entre governo estadual e o prefeito de Itabuna. Porém, ontem, Fernando recuou, contrariando orientações de técnicos. Juvenal decidiu, então, pegar o boné ao ver que a decisão contém riscos imensuráveis, como expõem na carta.

Abaixo, o inteiro teor da carta com o pedido de exoneração de Juvenal, que faz vários alertas.

Ao Prefeito Sr. Fernando Gomes de Oliveira
C.C Secretária de Governo
Maria Alice Pereira

Juvenal Maynart Cunha, brasileiro, inscrito no CPF sob o nº 293.733.525-04, venho pelo presente formalizar à Vossa Excelência meu pedido de exoneração do cargo em comissão de DIRETOR PRESIDENTE da Fundação de Atenção a Saúde de Itabuna – FASI, que exerço em razão de nomeação pelo Decreto de nº 13.396, com data de 02 de setembro de 2019.

Sinto-me na obrigação de formalizar tal pedido por entender que a minha contribuição ao Governo e à Saúde do município já não se faz necessária, especialmente por ter, no dia de ontem (segunda-feira, 30.03), observado uma mudança de rumo muito perigosa no que se refere à condução das ações de enfrentamento ao flagelo do Coronavírus (Covid-19) no município e na região.

O Hospital de Base, senhor Prefeito, passaria à condição de Referência em atendimento a 800 mil potenciais pacientes da microrregião de Ilhéus e Itabuna. Essa mudança, lastreada nos ofícios do Governo do Estado (nº 258, da Sesab), e do próprio Município (nº 124/2020/SMS), que seguem anexos, se constituiu na esperança de um atendimento mais eficaz, porque direcionado a um só fim.

Também seria mais seguro para a comunidade em geral, visto que já não iriam ser misturados pacientes que procurassem nossa unidade por outros motivos, aos que estivessem tratando da Covid-19, dado o alto risco de contágio. Evitaríamos que um paciente entrasse com o tornozelo quebrado saísse num caixão, vítima do coronavírus, numa infecção cruzada, sem direito a velório.

Sendo uma unidade de atendimento exclusivo, teríamos aporte (habilitação) de 31 leitos de UTI, que se somariam aos nossos 9 leitos já habilitados, o que iria perfazer um total de 40 desses leitos. Como uma ação local, preparamos espaço para uma eventual expansão, com capacidade para mais 90 leitos, prontos para receber respiradores.

Esses, caso necessário, se somariam aos 60 leitos anunciados pelo Governo do Estado, perfazendo 150 leitos clínicos, todos equipados com respiradores. Todos esses leitos, habilitados, fariam de nosso Hospital de Base uma verdadeira referência – aí no sentido de importância – estadual, quiçá nacional, no tratamento desses agravos.

Não é demais lembrar que estaríamos preparados para atendimento exclusivo para os casos de infecção pelo novo Coronavírus (Covid-19) já a partir da sexta-feira (03.04), com os nossos 9 leitos de UTI, que já estão habilitados, e na segunda-feira (6), com os 60 leitos clínicos, além dos 31 novos leitos de UTI, desde que chegassem os equipamentos anunciados pelo secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas.

Seríamos, sem dúvidas, um dos hospitais mais bem equipados do interior baiano, podendo, a depender da habilidade política do futuro gestor, reter para seu patrimônio todos esses equipamentos, superada a pandemia.

Finalmente, alerto à gestão que, voltar a ser portas abertas a cerca de 160 municípios, recebendo variados tipos de pacientes, muitos desses certamente já infectados pelo coronavírus, se constitui uma temeridade do ponto de vista do enfrentamento a uma praga tão virulenta, que não respeita fronteiras, gênero, idade ou condição social. Temo que muitas vidas podem ser perdidas.

Deixo, porém, muito claro, que essa saída em nada abala meus sentimentos de amizade pessoal e admiração pelo político. Espero ter correspondido às expectativas da gestão, enquanto pude continuar no cargo.
Senhor prefeito, sabemos que é difícil chegar a esse cargo tão relevante e humanista. Sábio, porém, é saber a hora de sair.

Itabuna, 31 de março de 2020
Juvenal Maynart Cunha

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