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Duas mulheres, em casa, com uma arma potente nas mãos, usada de forma completamente distinta: o poder de influência.

Manuela Berbert || manuelaberbert@yahoo.com.br

Sábado à noite, live de uma das maiores cantoras nacionais da atualidade, Ivete Sangalo. No meio de uma pandemia, quando os estados brasileiros começam a sinalizar um possível colapso na saúde: Atenção, Nação! O número de leitos disponíveis pode não conseguir atender à população! E o mais grave: Nosso profissionais (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas etc) estão adoecendo! É grave, e isolamento social é imprescindível!

De um lado, a cantora, na cozinha da sua casa de praia, de pijama de bolinhas, tentando levar ao país um momento de alegria, mas produzido com muito pouco: marido e filho, descalços, amendoim com casca e um prato, e um público lúdico presente, armado com brinquedos simples. Ivete é artista de massa e sabe disso. Tem a real noção de que é seguida e assistida por todas as classes, e incorporou isso majestosamente com simplicidade.

Do outro lado, uma das maiores influenciadoras digitais do país, Gabriela Pugliesi, sem noção alguma. Salvo engano, Gabriela foi uma das primeiras mulheres a postar sua rotina (lifestyle) no instagram, aqui no Brasil. Recentemente, uma das primeiras pessoas públicas a testar positivo para a Covid-19 (após o casamento de sua irmã, em um resort de luxo em Itacaré) e a divulgar. Manteve o isolamento social até a cura, mas sábado protagonizou um verdadeiro desserviço ao país: recebeu amigos em casa para uma festa e postou nas redes sociais vídeos em que os brindes eram regados a frases como “Foda-se a vida!”, que soou para todos como um “Fodam-se vocês, estou imune!”.

Ainda que a sua carreira e visibilidade não sejam comparadas à de Ivete, vê-se claramente a importância da RESPONSABILIDADE SOCIAL de cada uma em um momento tão delicado como este. Gabriela é seguida por milhares, de todas as classes sociais, e serve de inspiração para muitas empresas também, afinal é bem comum inclusive vermos marcas apresentando produtos similares aos que ela consome, mais baratos, com campanhas que abusam de frases como “baseado no produto X que a Pugliesi usa”. Não é bacana, nós sabemos, mas é a realidade da nossa população consumista, pelo menos até esta crise atual. (Depois disso, muita coisa pode e deve mudar, mas aí é pauta para outro texto.)

Duas mulheres, em casa, com uma arma potente nas mãos, usada de forma completamente distinta: o poder de influência. De um lado, a ironia e a soberba de quem vive a sua própria bolha e no fundo está pouco se importando com quem está do outro lado da tela. Na contramão e com muito bom senso, uma cantora que ainda brincou com o tamanho da “calçola” que estava usando, com empatia a quem está em casa alternando entre dias bons e ruins, instabilidade econômica e com medo do Sistema Único de Saúde, que ainda salva, mas que não sabemos até quando…

Manuela Berbert é publicitária.

Uma resposta

  1. Excelente texto. Gostei muito do estilo da escrita. Gostei mais ainda da crítica delicada, que denuncia a inadequação de comportamento de uma famosa, que, pela ética da responsabilidade, deveria respeitar a vida, já que seu público, seus seguidores, aqueles que alimentam sua existência de famosa são seres vivos, vulneráveis ao coronavirus.

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