Tempo de leitura: 3 minutos

Quando Maynart deixou a direção do Hospital de Base, os interesses e as pressões do empresários da Saúde – que historicamente age sorrateiramente nos bastidores, à escondidas – falaram mais alto. No final de abril, em Itabuna não havia nenhuma morte por vocid-19. Hoje, o município é o epicentro da doença na Bahia.

Ederivaldo Benedito|| ederivaldo.benedito@gmail.com

O anúncio da posse de Juvenal Maynart como secretário de Saúde de Itabuna nos faz lembrar dois filmes que conquistaram o sucesso em meados da década de 80: O Retorno do Jedi e De Volta para o Futuro.

No primeiro, um jovem conhece a mãe – antes do casamento com seu pai – que fica apaixonada por ele e põe em risco sua própria existência. O outro, mostra a construção da Estrela da Morte, a estação bélica do Imperador Palpatine e os bandidos da galáxia.

Juvenal Maynart, ex-presidente da Fasi-Fundação de Atenção à Saúde de Itabuna, instituição que administra o Hospital de Base Luís Eduardo Magalhães, está retornando à administração Fernando Gomes. No último dia de março, ele pediu demissão fazendo duras críticas ao modelo de gestão do setor no município.

Após realizar um trabalho reconhecido por todos, Maynart queria transformar o Base numa unidade referência ao combate do coronavírus no sul da Bahia. A proposta, muito bem aceita pelo governador do Estado – que chegou a ser por anunciada ao vivo, em entrevista a Imprensa – enfrentou forte resistência de um grupo de médicos liderados pelos bolsonaristas Eduardo Fontes e Amilton Gomes, inimigos políticos ferrenhos e declarados de Rui Costa e do PT.

Com apoio do vice-prefeito Fernando Vita e da secretária de Governo, Maria Alice, o grupo, que contou com a participação dos médicos Almir Gonçalves e Isaac Nery, agiu nos bastidores e convenceu Fernando Gomes – no momento licenciado do cargo – a enviar uma carta a Rui Costa anunciando que o Base retornaria os atendimentos emergenciais, clínicos-cirúrgicos e traumáticos.

Irritado, o governador mandou o secretário estadual de Saúde ligar para Maria Alice. O conteúdo da conversa não foi nada amistoso e Fábio Vilas-Boas chegou a ameaçar retirar a gestão plena da Saúde de Itabuna. A partir daí, a relação Rui Costa-Fernando Gomes nunca mais foi a mesma. Continua estremecida e o governador apenas finge que esqueceu a desfeita do prefeito itabunense.

Em defesa de seus interesses, o grupo apresentou como opção o Hospital São Lucas, um hospital sucateado, segundo Fábio Vilas-Boas. Resultado: o Base continua enfrentando problemas, a população continua sofrendo e os empresários da Saúde continuam agindo nos bastidores, com duras críticas ao prefeito e ao governador. A crise se agrava e o São Lucas, que poderia estar aberta ao público, continua fechado.

Só o futuro dirá se Juvenal Maynart acertou ao sair ou se está errando ao retornar. Mas ele sabe que vai enfrentar as mesmas forças ocultas que agiram em abril último. Que, em Itabuna, muitos beneméritos, filantropos, abnegados, desprendidos desejam inviabilizar o pleno funcionamento do Hospital de Base. Eles pensam apenas na saúde dos seus bolsos.

Quando Maynart deixou a direção do Hospital de Base, os interesses e as pressões do empresários da Saúde – que historicamente age sorrateiramente nos bastidores, à escondidas – falaram mais alto. No final de abril, em Itabuna não havia nenhuma morte por covid-19. Hoje, o município é o epicentro da doença na Bahia.

Na manhã desta sexta-feira, dia 12, Juvenal Maynart assume a Secretaria de Saúde de Itabuna. No seu futuro está a paixão pela mãe Saúde e o amor por Itabuna; no seu retorno, o desafio de fazer o Hospital de Base referência em salvar vidas, cuidar das vítimas da pandemia do coronavírus e enfrentar os interesses dos empresários do setor, que continuam agindo nos bastidores.

Ederivaldo Benedito é radialista e jornalista, além de editor do Blog do Bené.

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *