Saulo Carneiro, ao lado da orientadora, professora Francismary Alves da Silva,
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Estudante da Universidade Federal do sul da Bahia (UFSB) é aprovado em primeiro lugar na seleção para o Mestrado em História das Ciências e da Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz/Fiocrz do Rio de Janeiro. O estudante Saulo Carneiro Pereira dos Santos é licenciando em História do Centro de Formação em Ciências Humanas e Sociais do Campus Sosígenes Costa (CFCHS-CSC), em Porto Seguro, no extremo-sul da Bahia.

Saulo Carneiro Pereira também é egresso do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades do Centro de Formação em Políticas Públicas e Tecnologias Sociais do Campus Jorge Amado (CFPPTS-CJA), em Itabuna.

O projeto de pesquisa apresentado ao PPPG da Fiocruz é um desdobramento direto da monografia (trabalho de conclusão de curso) que o estudante desenvolveu no Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades do CJA (BIH-CJA), sob orientação da professora Francismary Alves da Silva.

A pesquisa defendida no BIH-CJA em setembro de 2020 é um estudo histórico interdisciplinar sobre a cannabis sp e seus usos no Brasil, com um enfoque para os processos de descriminalização e regulamentação. Por meio de alguns dos problemas sociais gerados pela proibição e pelo proibicionismo, o estudo histórico elaborou uma breve cronologia desde as primeiras proibições até a regulamentação do uso da maconha medicinal no Brasil.

Essa análise serviu de subsídio para refletir sobre a influência do discurso médico-científico nas proibições, no proibicionismo e suas interrelações com o discurso jurídico e com o lobby da indústria farmacêutica na recente regulamentação do uso medicinal da cannabis sp pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

ESTUDOS INTERDISCIPLINARES

Envoltos nessa temática, são diversos os atravessamentos que a análise histórica oferece para refletir sobre as interrelações da cannabis com o Estado, a eugenia, o racismo, o controle étnico legitimado por meio das leis, o encarceramento em massa e a guerra às drogas.

“Os estudos interdisciplinares do Primeiro Ciclo, a orientação do corpo docente qualificado, as contribuições da banca de defesa do TCC composta pelas professoras Janaina Losada e Paloma Porto e, posteriormente, o enfoque especializado da história, foram essenciais para o desenvolvimento de um olhar múltiplo sobre o discurso médico acerca da cannabis sp, objeto da pesquisa desenvolvida no BIH e também na Licenciatura em História, em continuidade”, afirmou Saulo Carneiro.

Como egresso do BIH-CJA, e seguindo a trajetória do modelo de ciclos da UFSB, o estudante Saulo Carneiro ingressou na Licenciatura em História do CFCHS da UFSB com intuito de aprofundar seus conhecimentos históricos e seguir pesquisando o papel da medicina enquanto ciência na produção de evidências que resultaram na criminalização e estigmatização da cannabis sp.

Ainda como resultado da pesquisa no BIH e já na Licenciatura em História, o discente foi aprovado pelo Edital Proaf 03/2020 – UFSB: Universidade Promotora de Saúde, com o projeto intitulado Medicina e Controle Social: Uma introdução ao discurso das Ciências da Saúde sobre a ideologia proibicionista.

“A aprovação nesse edital foi uma surpresa e um grande incentivo, sobretudo por se tratar de um edital voltado para a concorrida área de Saúde da UFSB”, lembrou o discente, que conta que o estudo sobre o tema segue dando frutos: “Há muitos outros desdobramentos da pesquisa, mas do ponto de vista objetivo, há inclusive um artigo já submetido a uma revista bem qualificada, e em fase de avaliação”.

EVENTO INTERNACIONAL

Em 2019, antes das restrições impostas pela pandemia de covid-19, o estudante participou de evento internacional em que expôs seus estudos a respeito do tema do potencial econômico e social da regulamentação da maconha medicinal no Brasil.

Dentre os inúmeros caminhos de uma pesquisa no campo da História das Ciências, conforme as diretrizes e linhas de pesquisa da Fiocruz, o estudante apresentou projeto de pesquisa sobre os estudos do médico sergipano José Rodrigues da Costa Dória, que teria lançado a pedra fundamental do proibicionismo brasileiro da maconha após publicação do artigo Os fumadores de maconha: efeitos e males do vício, no Segundo Congresso Científico Pan-Americano, realizado em Washington, DC, em 1915.

“Tendo como pressuposto teórico o pensamento do médico, polonês e historiador da ciência Ludwik Fleck, o projeto apresentado à Fiocruz busca melhor entender a ‘gênese e desenvolvimento’ de um fato científico, tal como encabeçado pelo médico sergipano José Rodrigues da Costa Dória, um dos responsáveis pelo atual formato de proibicionismo da maconha no Brasil”, explica Saulo.

“Geralmente, acredita-se que as ciências são formas de conhecimento neutras, objetivas, enfim, simples traduções das leis da natureza; contudo, a partir dos conceitos de Fleck, busco entender o contexto social, político e científico dos estudos de Rodrigues Dória como um discurso não simplesmente científico, mas com ênfases próprias, objetivos específicos, uma construção social fruto do seu meio.

No caso em questão, sabemos que o discurso proibicionista de Rodrigues Dória possui muitos desdobramentos sociais relevantes inclusive para o Brasil atual, o que é um dos pontos que também pretendo destacar durante o mestrado”.

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