Coordenado por professor da Uesb, estudo mostra concentração de recursos para pesquisas na Região Metropolitana de Salvador, enquanto homens detêm maior parte das bolsas de pesquisa no estado
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Diferença, desigualdade, disparidade, discrepância, assimetria. Esses termos são recorrentes nos resultados do projeto de pesquisa “Distribuição espacial das atividades científicas e tecnológicas na Bahia e as desigualdades regionais”, liderado pelo pesquisador e professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), Roberto Paulo Machado Lopes.

De acordo com o pesquisador, a abordagem inicial identificou a distribuição espacial das atividades de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) na Bahia, observando os desníveis da sua presença nas regiões do estado. Além disso, a pesquisa revela como essa distribuição desigual dificulta a formação de economias de aglomeração e reforça as desigualdades no desenvolvimento econômico.

CONCENTRAÇÃO NA GRANDE SALVADOR

As evidências empíricas geradas na pesquisa mostraram que os desníveis entre a microrregião de Salvador (capital do estado) e as demais 31 microrregiões do estado (interior) vêm reduzindo, mas ainda persiste uma forte concentração nas atividades de CT&I na Região Metropolitana de Salvador (RMS), com 59,4% dos projetos aprovados.

Enquanto isso, o índice de aprovação em todo o interior corresponde a 40,6%. As discrepâncias são maiores nas atividades de inovação, com a RMS concentrando 80,9% dessas atividades.

ASSIMETRIAS DE GÊNERO

A segunda linha de investigação mapeia as assimetrias de gênero na ciência baiana, tendo por base de análise a proporção de projetos de pesquisa e inovação aprovados em editais da Fundação de Amparo Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).

Os principais resultados mostraram uma redução na desigualdade de gênero na ciência baiana, acompanhando uma tendência que ocorre na ciência brasileira e na maioria dos países ocidentais. A proporção de mulheres entre pesquisadores no Brasil avançou de 38% para 49% de 1996-2000 até 2011-2015, enquanto na Bahia avançou de 30,6% para 44,3%, de 2008 e 2015.

Entretanto, o equilíbrio observado nos dados gerais não se reproduz na análise segmentada, existindo fortes desníveis de gênero na ciência entre as grandes áreas do conhecimento. “A discrepância na participação dos dois sexos entre as grandes áreas mostra uma separação na ciência, com carreiras com forte predominância de um dos dois sexos, e revela uma desigualdade escondida nos dados agregados”, destacou Lopes.

As assimetrias de gênero são maiores nas Ciências Exatas e da Terra e nas Engenharias, áreas que abrigam campos de pesquisa como Matemática e Ciências da Computação, que apresentam uma sub-representação feminina não só na Bahia, mas em todo o país.

A participação feminina na coordenação de projetos para o desenvolvimento de pesquisa de excelência ou em áreas de fronteiras da ciência também registra números desfavoráveis às mulheres. Nenhum dos Institutos Nacionais (INCT) baianos têm uma mulher na coordenação geral e apenas 21,4% dos Programas de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) são coordenados por mulheres.

Lopes afirma que a desvantagem das mulheres na coordenação e na participação em grupos de excelência acaba se refletindo no reconhecimento das pesquisas que elas desenvolvem, gerando um ciclo vicioso. As assimetrias de gênero nos grupos de excelência se reproduzem na participação feminina entre os pesquisadores com bolsa de produtividade em pesquisa (PQ) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na Bahia. Entre os pesquisadores baianos com bolsas PQ, as mulheres estão em desvantagem, com 36,8% das bolsas.

DISTINÇÃO POR ÁREA DE CONHECIMENTO

Na terceira linha de investigação, o trabalho analisa o predomínio de determinadas áreas do conhecimento, seguindo a tabela de áreas do CNPq na produção científica baiana. As grandes áreas do conhecimento foram agrupadas de modo a permitir contrastar a produção de conhecimento pelas Ciências Naturais e pelas Ciências Sociais.

As disparidades entre as grandes áreas da ciência baiana foram muito elevadas, mas dentro do mesmo padrão de desigualdade observado para a ciência brasileira. Na Bahia, o predomínio das Ciências Naturais, com 87,7% dos projetos aprovados, reflete a lógica de pilares racionalistas que atribuem à ciência instrumental o papel de transformar a realidade. Áreas do conhecimento relacionadas às Ciências Sociais aprovam apenas 12,3% dos projetos.

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