Durante o ano mais longo da história do Brasil, o general Braga Netto foi protagonista na construção das respostas desastrosas da Presidência à crise sanitária. Nesta condição, portanto, nada mais natural que depor à CPI.
Thiago Dias
A CPI da Pandemia tem um bom teste de coragem política: o requerimento da convocação do ministro Braga Netto para depor. A matéria deveria ter sido votada no último dia 3, mas a comissão decidiu adiá-la por tempo indeterminado.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), autor do requerimento, fez questão de reapresentá-lo, enfatizando que a ida de Braga Netto à comissão é relevante, pois ele foi ministro da Casa Civil, onde ficou de fevereiro de 2020 a março de 2021.
O argumento é incontestável. A Casa Civil é a antessala institucional da Presidência da República. Tem atribuições centrais no assessoramento direto do presidente e na integração das ações do governo. Durante o ano mais longo da história do Brasil, o general Braga Netto foi protagonista na construção das respostas desastrosas da Presidência à crise sanitária. Nesta condição, portanto, nada mais natural que depor à CPI. O fato de ser um militar no comando do Ministério da Defesa é alheio aos critérios da investigação.
Se desistir de convocá-lo, a CPI passará recibo de medo das ameaças golpistas de Bolsonaro, o que pode dar força às intenções já declaradas do presidente.
A desculpa de que a convocação tencionaria a crise institucional entre os três Poderes não cola (quem faz isso o tempo todo é o presidente), a não ser que prevaleça a loucura dos que atribuem às Forças Armadas o papel de poder moderador da República.
Thiago Dias é repórter e comentarista do PIMENTA.