Julio Gomes escreve sobre as marteladas histéricas de Tarcísio de Freitas || Imagens Redes Sociais/Reprodução
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“Há muito tempo se confunde masculinidade com grosseria, virilidade com estupidez, exercício da autoridade com truculência e autoritarismo, e a forma de agir adotada pelo Governador reforça todos estes equivocados estereótipos”.

Julio Cezar de Oliveira Gomes

Viralizou nas redes sociais a imagem do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, batendo o martelo no leilão da disputa pela arrematação das obras de um trecho Rodoanel paulista, uma importante obra de infraestrutura situada na região metropolitana de São Paulo que definiu, recentemente, a empresa ganhadora da licitação que irá administrar parte deste anel viário pelos próximos 31 anos.

Embora seja uma obra de grande importância, envolvendo bilhões, não é sobre a obra nem sobre a política implementada pelo governador que desejamos falar, mas sobre a simbologia de determinados atos e gestos no imaginário popular.

É muito fácil encontrar na internet e assistir ao vídeo das marteladas do governador Tarcísio, que podem ser vistas, entre diversos outros, neste link: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/governador-de-sp-quase-quebra-martelo-da-b3-apos-leilao-de-trecho-do-rodoanel-e-video-viraliza-veja/

Quando assistimos à violência das seis marretadas desferidas com toda a força pelo governador, seguidas do ato de atirar para fora da mesa o martelo utilizado, temos de imediato a sensação de um ato forte, viril, masculino, cheio de energia e imparável na sua ação. Sem dúvida, uma excelente imagem para o marketing político.

Mas, como isso funciona no imaginário da população, para além da política?

É assim que deve ser quem nos governa? Uma pessoa do sexo masculino que, com força física, impõe sua decisão sobre tudo e todos, batendo arrogantemente com o objeto que possui nas mãos? É assim que nós também devemos ser?

Um Presidente, um Governador ou mesmo o prefeito de nossa cidade, assim como os astros do esporte ou do mundo das artes, são modelo de conduta, paradigma a ser copiado pelas demais pessoas, sobretudo de forma inconsciente.

Vendo um governador agir daquela forma em uma cerimônia pública, fico a me perguntar: como agirá o chefe de um setor no trato com seus subordinados? Como será o tratamento do gerente da empresa com um funcionário humilde? Como se comportará um diretor em face de uma funcionária mulher que lhe é subordinada, sobretudo se estiverem a sós?

Saindo do mundo do trabalho e adotando como modelo a forma de agir do governador Tarcísio, como será a atitude do homem ao retornar para casa e encontrar sua mulher que não trabalha fora do ambiente doméstico? Como será a abordagem da polícia, à noite e em local ermo, em face de um jovem da periferia? Em resumo, como se comportará qualquer pessoa que, por determinada contingência social, econômica ou política, esteja em condição de dar ordens e impor-se a seus subordinados?

Há muito tempo se confunde masculinidade com grosseria, virilidade com estupidez, exercício da autoridade com truculência e autoritarismo, e a forma de agir adotada pelo Governador reforça todos estes equivocados estereótipos.

Entretanto, ser homem de verdade está muito além disso, deste senso comum infeliz e infelicitante. Na verdade, cabe ao homem buscar na moderação, na educação, a maneira mais adequada de ser firme, positivo, sem precisar ser um troglodita das cavernas.

Quem é homem de verdade compreende que já temos testosterona o suficiente no sangue e que tendemos a ser, por nossa natureza masculina, mais impulsivos, lascivos e violentos do que seria desejável em uma sociedade civilizada. Nosso esforço deve ser para moderar nossa natureza animal, sem abrir mão de sermos do sexo masculino.

Para além disso, o que sobra são palhaçadas feitas para “agradar à torcida” e atrair a atenção dos incautos, tais como aquela protagonizada pelo Governador de São Paulo.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

Uma resposta

  1. Na minha humilde opinião, primeiro: considerando que o Sr. Tarciso, nunca praticou esse comportamento durante toda sua gestão e que isso aconteceu pela primeira vez, num ato isolado;
    Segundo: que esse “Gesto”, agora considerado Grosseiro e Estúpido por “alguns”, mas para quem o acompanhou durante sua trajetória no seu mandato de Ministro e sentiu todo o stress que foi aquele mandato com a perseguição da Mídia e Oposição que não divulgavavam e nem reconheciam nada do que ele realizava,
    pode SIM, considerar tais Gestos, como um “GRANDE E MERECIDO DESABAFO”, um ato que transbordou o limite do seu caráter de pessoa humilde e discreta, que não necessita de DESTAQUE para mostrar seu trabalho e realizações, pois quem o acompanhou, já reconhece automaticamente.

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