Fausto Pinheiro escreve sobre a cadeia cacau-chocolate || Foto Daniel Thame
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É um setor que movimenta a economia de forma significativa, com uma dinâmica própria, gerando emprego e renda, contribuindo para a produção conservativa e de alto valor agregado.

 

Fausto Pinheiro

O setor Cacau-Chocolate no Brasil, na atualidade, reúne verdadeiras condições de retomar e firmar-se como referência mundial de desenvolvimento da cadeia produtiva.

O forte espírito empreendedor de seus atores, a existência de diferentes modelos de produção, sejam eles grandes, médios e ou familiares, e a presença de infraestrutura de grande moagem e de transformação de amêndoa em chocolate em associações e iniciativas individuais, demonstram a pujança da cadeia e um dos elementos de força da área.

O franco desenvolvimento do mercado consumidor de cacau-chocolate de qualidade, orgânico, fino ou especial, agregando valor ao produto caracteriza mais um significativo segmento a ser explorado e ampliado.

As condições de clima, solo, desenvolvimento de novas tecnologias através de pesquisas públicas e privadas, plantio em regiões tradicionais e não tradicionais, a exemplo do oeste baiano, São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Tocantins, conferem à cacauicultura nacional potencial de aumento de produtividade e competitividade na produção de matéria-prima e de chocolate.

A geopolítica da produção mundial de cacau nos leva a considerar que os maiores países produtores do mundo, concentrados no continente africano, a exemplo da Costa do Marfim e Nigéria, enfrentam dificuldades nas questões climáticas, no pouco cuidado com o meio ambiente, aspectos sociais com forte impacto sobre a produção e problemas com pragas e doenças. Ainda, com um modelo expansionista com fronteiras limitadas e baixa incorporação de tecnologias e pequena produtividade, que sinaliza um cenário de escassez do produto dessas origens e abre uma grande oportunidade para o Brasil.

Recentes e motivadoras notícias de novos mercados compradores conquistados em mais cinco países do leste Europeu e da Ásia (Rússia, Belarus, Armênia, Cazaquistão e Quirguistão) só aumentam nossas reais oportunidades de crescimento do setor. Os países tradicionalmente conhecidos como consumidores também demonstram disposição e resiliência para o aumento do consumo, apesar da alta recente dos preços. A ampliação também dos produtos derivados de cacau e suas diversas utilizações, tais como maquiagem, hidratantes, gastronomia, medicamentos, além do valor adicionado como alimento promotor de saúde e bem-estar, consolidam novas formas de consumo.

O estado da Bahia detém a liderança nacional na produção de cacau, com 60% do volume produzido no Brasil e adiciona um aumento no volume produzido em amêndoas de qualidade para produção de chocolates finos, já reunindo 100 marcas em fase comercial. Reúne também pujante estrutura científica e tecnológica instalada no que denominamos de Estrada do Conhecimento, dispondo de universidades e centros de pesquisa como Uesc, Ceplac, Centro de Inovação do Cacau (CIC), IFBaiano, Ifba e UFRB, conferindo ao estado protagonismo e liderança para acreditar em novo e continuado modelo de desenvolvimento da cadeia produtiva.

Estes fatores dão sinais ao Brasil e destacam a Bahia em particular junto a outros estados, trazendo estímulo e mostrando que vivenciamos um momento singular e estratégico para dar assistência a tais requerimentos.

É um setor que movimenta a economia de forma significativa, com uma dinâmica própria, gerando emprego e renda, contribuindo para a produção conservativa e de alto valor agregado. Representa faturamento estimado de R$ 24 bilhões e exige atitude proativa dos entes envolvidos na busca contínua de produção de conhecimento e concertação de políticas para o setor, que possam fazer o enfrentamento dos novos desafios em nossos caminhos.

Isto posto, há de se retomar o fôlego, aumentar o investimento público e privado em pesquisa, recuperar o crédito e financiamento para a lavoura (em particular na Bahia), investir no aumento de produtividade, ampliar o diálogo com os setores e entes envolvidos fortalecendo a governança do setor, acreditar que estamos estruturando um modelo viável de desenvolvimento e que caminhamos para um novo ciclo de sucesso. Necessário ser breve na decisão, pois trata-se de uma cadeia geradora de emprego, renda, tecnologias e divisas para os estados produtores de amêndoas e de chocolate, fazendo frente à nova realidade.

Fausto Pinheiro é produtor rural e presidente da Câmara Setorial de Cacau da Bahia.

Respostas de 2

  1. Gostaria que o Fausto com sua competencia fosse diretor da CEPLAC. haja em vista que a instituição está acabada com os gestores atuais e do faz declinar com as pesquisas da CEPLAC.

  2. Parabéns, Fausto, pelas excelentes reflexões. Artigo muito bom. Provocações necessárias. As demandas apresentadas devem ser levadas à sério pelos governos, inclusive, os gestores municipais devem inserir esse problema na agenda política. As instituições de ensino, de pesquisa e a sociedade civil não podem perder de vista as demandas elencadas por ti nesse oportuno texto.

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