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O secretário-geral do PP na Bahia, Jabes Ribeiro, reconstituiu a sequência de eventos que antecedeu o fim da aliança do seu partido com o PT baiano. Segundo afirmou em entrevista ao PIMENTA, no final da relação política, faltou confiança por parte do PT, que descumpriu acordo sobre as eleições deste ano. O acordo rompido, afirma, previa a renúncia do governador Rui Costa (PT) para concorrer ao Senado, passando o comando do Governo da Bahia ao vice-governador João Leão (PP).

Duas reuniões foram episódios marcantes  do desfecho dessa história. A primeira envolveu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Rui e os senadores Jaques Wagner (PT) e Otto Alencar (PSD), em São Paulo, em 15 de fevereiro passado. O noticiário daquele dia especulava que Wagner desistiria da pré-candidatura a governador. Logo após a reunião, ele usou o Twitter para declarar que ainda era pré-candidato. A desistência seria confirmada duas semanas depois.

A segunda reunião ocorreu no dia 16 de fevereiro, em São Paulo, também com a presença de Lula, que, dessa vez, tinha como interlocutores João Leão, Rui e o próprio Jabes Ribeiro. No encontro, Lula deu aval à composição em que Rui se candidataria ao Senado, diz Jabes. “O que Lula falou? Que estava feliz com essa possibilidade. De lá pra cá, você sabe o que aconteceu”. Naquele dia, Rui também ficou muito feliz, segundo Jabes, porque desejava concorrer ao Senado.

A possibilidade descrita acima esbarrou em duas resistências. A irresignação discreta de Otto, que não quis trocar a pré-candidatura ao Senado pela disputa do governo estadual. E a grita de parlamentares petistas descontentes com a possibilidade de disputarem a reeleição sem a referência de uma candidatura do PT ao governo. Na avaliação de Jabes, com a persistência das duas barreiras, o PT decidiu alijar o PP do processo eleitoral.

Leão, Lula e Rui: reunião selou acordo descumprido pelo PT, dispara Jabes

“FALTOU CONFIANÇA E FALTOU ESTILO”

“O PT tomou uma decisão. Qual foi a decisão do PT? Dividiu em tarefas. A primeira tarefa foi, no dia 6 de março, Rui chamar o PCdoB e o PSB e comunicar que ficaria na cadeira e que o PT iria lançar candidato. Evidentemente, pediu sigilo da conversa. E Wagner ficou com a responsabilidade de entrar em contato com o nosso partido”, conta o secretário-geral do PP.

6 de março foi um domingo. Na segunda-feira (7), em entrevista à Rádio Metrópole, Wagner anunciou que Rui continuaria no cargo até o fim do mandato e que o PT lançaria candidatura própria ao governo baiano. Dias depois, o partido lançou a pré-candidatura do secretário de Educação da Bahia, Jerônimo Rodrigues, ao Palácio de Ondina.

Antes do anúncio, Wagner conversou com o deputado federal Cacá Leão (PP), o ex-senador Roberto Muniz (PP) e Jabes. “O estilo de Wagner qual foi? Ligou para nós três e não disse nada. A gente tem o mínimo de capacidade de intepretação. Se alguém descumpriu acordo, se alguém não cumpriu o acertado, não fomos nós. Nós fomos alijados do processo”, lamenta Jabes Ribeiro.

Para o ex-deputado federal, se Otto queria continuar no Senado e Rui decidiu permanecer no Palácio de Ondina, a consequência natural, em tese, seria o grupo indicar Leão para a disputa do governo. “Então, faltou confiança e faltou estilo na forma de discutir a questão. Quando a desconfiança toma conta de uma relação, seja no casamento, seja onde for, acabou. É procurar outro caminho. Procuramos outro caminho e estamos felizes, porque Leão e o partido estão sendo tratados com o respeito devido. Leão é candidato ao Senado”, disse, fazendo referência à aliança do PP com o pré-candidato a governador ACM Neto (UB).

JABES REFUTA HIPÓTESE DE INTERVENÇÃO DA EXECUTIVA NACIONAL NO PP BAIANO

Recentemente, o ex-deputado federal Geraldo Simões (PT) levantou a hipótese de que o PP baiano sofreria intervenção da Executiva Nacional se continuasse na base do governo Rui Costa. “Meu amigo Geraldo Simões está desinformado ou está participando das narrativas petistas para explicar o inexplicável”, rebate Jabes Ribeiro.

Ao PIMENTA, o ex-prefeito de Ilhéus fez questão de ressaltar que, originalmente, a vontade do PP era continuar na base e, se isso não foi possível, o movimento de ruptura partiu do PT. “Por mais que você veja narrativas para tentar mudar a verdade, é impossível. A mentira não se sustenta. Todos os fatos indicam que nós queríamos continuar na aliança. É só lembrar. Nós conseguimos independência e autonomia junto à direção nacional para continuarmos aliados ao PT, inclusive apoiando a eleição de Lula”.

Também recordou a independência do PP baiano nas eleições presidenciais em que apoiou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), nos anos de 2014 e 2018, respectivamente, quando o PP nacional coligou-se às candidaturas do PSDB.

Outra demonstração da autonomia do partido no estado, afirma Jabes, foi a posição dos deputados federais progressistas eleitos pela Bahia no impeachment de Dilma. Dois parlamentares votaram contra a abertura do processo (Roberto Britto e Ronaldo Carletto) e os outros dois se abstiveram (Cacá Leão e Mário Negromonte Júnior).

“PT DA BAHIA ESTÁ NA CONTRAMÃO DO PT NACIONAL”

O secretário-geral do PP afirma que, mesmo com o apoio da Executiva Nacional ao presidente Jair Bolsonaro, a maioria dos progressistas baianos deve apoiar Lula. Ele mesmo antecipa que votará no petista. Entretanto, destinou palavras duras aos ex-aliados petistas na Bahia, ressalvando a boa relação que mantém com Jaques Wagner.

“Não cobrem da gente deslealdade, porque nós não somos desleais. Sempre agimos com imensa lealdade com o PT. A recíproca não é verdadeira. Na hora final, depois de tudo acertado, dá um golpe, né?! E o pior: como não tiveram coragem de enfrentar olho a olho, comunicaram a decisão pelo rádio. Tô falando isso com o PT, porque sou amigo, gosto muito de Wagner pessoalmente e já disse isso tudo a ele”.

Para o progressista, enquanto o PT nacional, sob a liderança de Lula, articula-se para ampliar suas alianças com centro político, o PT baiano caminhou no sentido contrário ao abrir mão da parceria com o PP. Sobre a disputa pelo Senado, diz que, naturalmente, Lula caminhará com Otto, mas preferiria não ter o PP de Leão como adversário no estado, mantendo o partido do vice-governador no seu palanque. “Se você me perguntar se Lula está feliz com isso, acho que não. O PT da Bahia está na contramão do PT nacional”.

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