O senador Jaques Wagner (PT) resistia a ser candidato a governador da Bahia ainda em 2021. A família não aceitava. Era a origem da objeção à ideia de participar de uma eleição que prometia ser das mais tensas do século no Estado. Retornar ao comando do estado depois das gestões de 2007 a 2014 não estava no radar.
Ao contrário do favorito na disputa de 2022, ACM Neto (UB), Wagner não fazia pré-campanha no segundo semestre do ano passado. Somente passou a colocar o pé na estrada em dezembro passado. Parecia tomar gosto pelo projeto do partido e de aliados, principalmente os mais à esquerda.
Passou a ser presença constante em eventos com Rui Costa e aliados e, também, na mídia. A principal tese era a de que a disputa seria nacionalizada, o que, na Bahia, significava dizer que quem o ex-presidente Lula colocasse a mão teria as maiores chances de ser eleito. Logo, ele, petista e amigo do ex-presidente, seria o maior beneficiário da tese. ACM Neto rebatia.
Mais que isso, Wagner percebia as repercussões das falas e as reações de ACM Neto. Numa entrevista ao PIMENTA, com grande repercussão estadual, o senador disse que Neto estava nervoso:
– É só ver todas as pesquisas. Ele tá nervoso, porque sabe que o comando presidencial vai pesar muito – disse Wagner a este site em dezembro passado (relembre aqui).
Parecia que o Galego começava a embalar.
Dali em diante, Wagner colou em Rui Costa e teve presença destacada, também, nas ações governamentais de vistoria e auxílio às vítimas das enchentes ocorridas em dezembro no sul e no extremo-sul do estado, enquanto o virtual e principal adversário, ACM Neto, gozava férias na Europa.
Aí veio janeiro. Diferentemente do Wagner seguro de janeiro, passou-se a ver um senador um tom acima e brigando não mais com ACM Neto, mas com figuras que, embora conhecidas na Bahia, não tinham nem têm a projeção do adversário. Caiu em briga inexplicável com um dos mais antigos e fiéis aliados, o deputado federal Marcelo Nilo, num tom que dava projeção ao parlamentar e causava questionamentos internos no PT e em aliados. Perguntavam-se o que estaria por trás da reação até destemperada de Wagner.
As ações erráticas de janeiro eram prenúncio de um fevereiro de sabor amargo. Numa riqueza de versões, Wagner desistiu da disputa. Riqueza de versões, pois não se sabe se ele deixava a peleja por vontade própria ou por imposição da provável candidatura a senador de Rui Costa, que deixaria o governo nos primeiros dias de abril para concorrer à vaga na Câmara Alta.
Numa segunda de Carnaval sem Carnaval, Wagner pronunciou o que poucos resistiam a acreditar e reagiram com pontinha de esperança, essa que morreu, no caso da candidatura, bem a dois dias da Quarta-Feira de Cinzas. Início da noite de segunda (28), Wagner reafirma que não disputaria a eleição a governador. Balde de água fria para deputados estaduais e federais presentes, prefeitos, vereadores e dirigentes da sigla presentes à reunião extraordinária.
Se resta esperança de candidatura petista, ela, no máximo, se resume à fala de Wagner:
– A retirada da minha candidatura não implica na retirada da candidatura do PT. Quem decidirá se terá candidatura ou não, não sou eu, será o partido – afirmou ele, com todos sabendo que isso somente pode se concretizar se o senador Otto Alencar (PSD) não aceitar disputar o governo baiano.
Há, ainda, outro problema: após Wagner e Rui, o PT não conseguiu dar projeção estadual a um nome que pudesse disputar o Palácio de Ondina. Talvez, o ex-prefeito Guilherme Menezes, que mudou Vitória da Conquista e é reconhecido por isso.
O presidente do PT da Bahia, Éden Valadares, reconhece o balde de água fria na militância. “É claro que respeitamos a decisão do companheiro Wagner, mas não a recebemos com alegria. Nossas instâncias se reunirão intensamente nos próximos dias para atualizar nossa posição”.
Agora, o PT terá que conversar internamente e com aliados. Do outro lado, ACM Neto joga parado. Sabe que a peleja ficou mais fácil. Os oposicionistas sentem o cheiro de votos casados Lula-ACM Neto.
Restará aos aliados apresentação de um nome consistente. Otto Alencar tem recall de 2014 e CPI da Pandemia. Precisará de sinais consistentes da base aliada para se jogar na missão. Ouviu-se dele, até ontem, que disputaria o Senado.
Respostas de 2
Correu da taca que seria grande papai.
Já foi tarde! O PT se perdeu nos seus fundamentos! A defesa dos direitos dos trabalhadores deixou de ser sua principal bandeira. Os resultados estão aí pra gregos e troianos ver: 4 reformas da previdência; arroxo salarial de 8 anos; descaso com a educação dos mais carentes e investimento, tamanho G, em propaganda! Tomara que não retorne nunca mais!