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Anita sentiu na pele e escreveu para se vingar das loiras. Já os empresários judeus, financiadores do filme, foram motivados por interesses político-ideológicos.

Marival Guedes | marivalguedes@yahoo.com.br
O guarda de trânsito manda parar a loira que trafegava na contramão e pergunta: “aonde a senhorita está indo?
E a loira: “ah, seo guarda, acho que nem vou mais. Tá todo mundo voltando”.
Outra: Quer fazer uma loira rir na segunda-feira pela manhã? Conte-lhe uma história engraçada na sexta-feira.
São várias as piadas sobre as loiras, todas com o mesmo tema, a burrice. Não sei a origem desta crença, porém o que mais contribuiu para o mito se espalhar pelo mundo foi o filme americano de 1953, que vi recentemente, “Gentlemen Prefer the Blondes” (Os Homens Preferem as Loiras), comédia romântica musical baseada no livro homônimo da americana Anita Loos (1888-1981), escrito em 1925.
A escritora se inspirou numa experiência pessoal quando viajava de trem. Enquanto Anita, que era morena, se “virava” sozinha arrastando as malas com dificuldade, os homens paparicavam a loira ao seu lado.
No filme, Lorelei Lee (Marilyn Monroe) é uma loira fútil que comete gafes, faz tudo para agradar milionários em busca de um casamento “interessante” e mantém complicada relação com a gramática. Para se ter uma idéia do sonho de Lorelei, a principal música da comédia é Diamonds Are a Girl’s Best Friends (Diamantes são os melhores amigos das mulheres).
Anita sentiu na pele e escreveu para se vingar das loiras. Já os empresários judeus, financiadores do filme, foram motivados por interesses político-ideológicos. Buscavam desmitificar a horrenda e equivocada crença na superioridade da raça branca propagandeada pelos nazistas.
Marilyn, não loira nem burra, mas foi atingida pelo estigma por causa da personagem. Pra interpretar Lorelei, tingiu os cabelos e apimentou os comentários gerais e o imaginário masculino quando falou sobre a mudança estética, revelando que havia alterado também a cor da região pubiana. “Se é pra ser loira em cima, é preciso ser loira embaixo”, justificou cheia de sensualidade.
Aqui no Brasil quem ajudou a reforçar o mito foi Gabriel o Pensador com a música Lôrabúrra: “Existem mulheres que são uma beleza// Mas quando abrem a boca// Hmm que tristeza”.
Voltando a Anita Loos, anos depois quando lhe perguntaram qual título daria ao livro agora, ela respondeu: “Os homens preferem os loiros”.
Marival Guedes é jornalista e escreve no PIMENTA às sextas-feiras.

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