Nazal relembra debate acalorado sobre construção do muro do Cemitério São João Batista
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Maneca sempre discursava com veemência, mais ainda se no dia tivesse esquentado os dentes com uma boa pinga, esfriando-os depois com umas cervejas durante o almoço.

José Nazal | nazalsoub@gmail.com

Início da década de 70 do século passado, Edmond Darwich assumiu o governo do município depois de vencer Gilberto Fialho na eleição. Era o tempo do bipartidarismo, com a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), e ele governou com apertada maioria na Câmara Municipal.

No Legislativo, palco de acaloradas discussões em busca da defesa do melhor para a cidade, em uma das sessões, o vereador Manoel Paulino de Oliveira, popularmente conhecido como Maneca do Caixão (era dono da funerária mais luxuosa da cidade), apresentou um requerimento sugerindo que fosse construído um muro no Cemitério São João Batista – no antigo Distrito de São João da Barra do Pontal, muito antes de ser bairro -, pois estavam ocorrendo ações de vândalos, havendo túmulos danificados, inclusive, com roubo de metal dos ornamentos.

Maneca sempre discursava com veemência, mais ainda se no dia tivesse esquentado os dentes com uma boa pinga, esfriando-os depois com umas cervejas durante o almoço.

No grande expediente, após a apresentação da proposta, o professor e vereador Cláudio Silveira, que já estava inscrito para falar, mudou seu discurso e foi frontalmente contra a proposta de Maneca, alegando que o recurso público a ser gasto na construção do muro seria melhor aplicado na reforma de pelo menos dois colégios, com melhor condições para os alunos.

Pronto. Bastou o contraditório para que os ânimos fervessem. E tome-lhe réplica, tréplica… Enfim, um desacordo completo! Foi aí, no ponto mais alto da discussão, em que os dois falavam ao mesmo tempo, defendendo suas posições, que o vereador Jocelim Macêdo fez sua intervenção:

– Caros colegas, meus nobres edis, vossas excelências permitam-me um aparte, disse com voz firme e forte (naquele tempo não tinha sonorização nas sessões).

Em respeito ao colega, de pronto os dois permitiram e pediram a fala. Do alto de sua experiência de vida, Jocelim fez sua intervenção, inicialmente saudando os companheiros:

– Meus queridos amigos e colegas de legislativo, obrigado por me permitirem intervir, com o único e exclusivo intuito de resolver essa questão. A você, meu amigo Maneca, tenho a dizer que nossa amizade não é apenas dentro dessa casa legislativa. Nossa amizade remonta há muito anos e vem sendo confirmada pelos nossos encontros diários, especialmente nas mesas dos bares que frequentamos, de segunda a domingo, um dia no Bar Atlântico, do nosso amigo Manolo Barral; ou no Barril, onde Maynard serve o chopp mais gelado da Bahia; no Pif-Paf de Turquinho; com João Nepomuceno Filho, o nosso Garangau; nos Bancários, para comer o caranguejo do João; sem falar em tantos outros pontos que juntos frequentamos. Desta forma, em nome dessa nossa amizade, me sinto à vontade para sugerir que abra mão do seu projeto e apoie o do vereador Cláudio Silveira. Ao vereador Cláudio, que conheço menos do que Maneca, mas tenho certeza de que, sendo filho do grande cidadão João Rodrigues Silveira, jamais se negará a permitir que os dois assinem juntos esse requerimento. A você, querido Maneca, além desse pedido que faço em nome de nossa amizade, ofereço ainda um argumento na tentativa de convencê-lo da minha proposta: vale mais a pena usar os recursos para as reformas das escolas do que para fazer o muro do cemitério. O cemitério não precisa de muro porque quem está dentro não pode sair e quem está fora não quer entrar!

Rindo muito, Maneca do Caixão concordou.

José Nazal é fotógrafo, memorialista e foi vice-prefeito de Ilhéus (2017-2020).

O novo ministro da Defesa, Braga Netto, e o presidente da República: é bandeira demais
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Enquanto costura sustentação política com o Arenão, Bolsonaro estica as cordas em várias frentes, sobretudo na disputa das polícias, que aderiram ao presidente, presas aos governadores apenas pelas amarras frouxas da institucionalidade.

Thiago Dias

Os planos do golpe estão aí, só não vê quem não quer. O presidente da República e seu novo ministro da Defesa propagam descaradamente o ideário de 64 e usam a ameaça golpista como instrumento político.

Enquanto costura sustentação política com o Arenão – adoto a terminologia do Foro de Teresina para nomear o conjunto partidário herdeiro da Arena -, Bolsonaro estica as cordas em várias frentes, sobretudo na disputa das polícias, que aderiram ao presidente, presas aos governadores apenas pelas amarras frouxas da institucionalidade.

O governo, com o auxílio da bancada da bala, desfigurou projeto de lei de 2001 para subverter o pacto federativo usurpando o comando das polícias estaduais. Quer criar a figura do general PM, que responderia diretamente ao presidente. No mundo de Bolsonaro, os governadores só atrapalham.

O deputado federal Vitor Hugo (PSL-GO), bolsonarista até os ossos, propôs ampliação das hipóteses de uso do instituto da mobilização nacional, típico de guerra, para momentos como o atual, de calamidade pública em razão da pandemia.

A demissão dos três comandantes das Forças Armadas deixou ainda mais clara a ameaça civilizatória do projeto de Bolsonaro, que investe no Arenão e no autoritarismo ao mesmo tempo.

Para completar, Messias entrou na mente de boa parte da população. Pessoas andam por aí repetindo que Lula é uma ameaça comunista e que desconfiam da segurança das vacinas contra a Covid-19.

A ameaça comunista e o medo contemporâneo de vacina são produtos do glossário da extrema-direita, palavras de ordem que evidenciam a dimensão discursiva do embate político brasileiro.

Conforme tese do professor Idelber Avelar, da Universidade de Tulane, o bolsonarismo expressa os ressentimentos daqueles que ficaram (ou se sentiram) fora do grande pacto lulista – o oximoro do lulismo, que mete o pau na TV Globo no comício de manhã e janta com diretores da empresa à noite.

Esse é só um dos exemplos da complexidade do arranjo do governo do ex-presidente, segundo a análise acurada de Idelber no livro Eles e Nós – retórica e antagonismo político no Brasil do século XXI.

Idelber recorre ao que o filósofo Marcos Nobre chamou de emedebismo ao analisar as coalizões que governaram o país antes de Bolsonaro. Segundo Nobre, uma coalizão, por maior que seja, tem que deixar alguém do lado de fora. Isso interessa aos seus membros, porque os frutos dados a quem ajuda a governar são limitados.

Nesse embate, como se sabe, não é a revolução comunista que assusta o bolsonarismo. O que Lula ameaça são os planos do presidente para 2022.

Bolsonaro adorava ter o ex-presidente como adversário quando o petista não podia entrar no ringue. Agora, está muito claro quem mais sentiu o impacto do renascimento político de Lula, que tirou Jair da zona de conforto – aquela logo acima de 317 mil cadáveres.

Os gestos recentes de Bolsonaro, que passou a atirar para todos os lados, foram incitados pela volta do petista ao jogo, notadamente aqueles que levaram os ex-comandantes militares a impor limites a Jair na demissão conjunta e inédita desta terça-feira (30).

Lula, satisfeito com a estocada que deixou o oponente sangrando junto com o povo brasileiro, ficou em silêncio por duas semanas. Vai falar amanhã, em entrevista a Reinaldo Azevedo, o mais novo xodó do garantismo petista. A bibliografia do jornalista, o rottweiller amoroso, ficou no passado.

Thiago Dias é repórter e comentarista do PIMENTA.

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Que o despojamento e os ensinamentos de José de Oliveira Santana – Zito Baú, nome em que era mais conhecido – sirvam de exemplo às novas gerações, para que possam analisar como um paradigma a ser seguido.

 

Walmir Rosário

A ninguém é dado ao direito de desconhecer as mudanças em nossas vidas, por mais que possamos rejeitá-las, pois, na esmagadora maioria das vezes, elas não dependem ou ocorrem da nossa finita vontade. As que não nos dizem respeito, apenas acompanhamos pela leitura dos meios de comunicação; outras, as que nos atingem, sejam no plano físico ou espiritual, nos regozijamos ou choramos. É da vida.

E é justamente quando essa mudança extingue a vida que não nos conformamos, embora tenhamos plena consciência de que nada poderemos fazer para mudar o evento morte, restando, no entanto, consolar a família e os amigos com orações. E foi justamente o que fizemos nesta quarta-feira (31), na celebração da Santa Missa de 7º Dia em homenagem à alma do amigo José de Oliveira Santana, na Igreja de N. S. da Conceição, em Itabuna.

José Oliveira Santana, mais conhecido como Zito Baú (pela estrutura avantajada do seu corpo), faleceu na quinta-feira (25 de março), após ter sido internado para se submeter a uma cirurgia cardíaca. Infelizmente, pelo que soubemos, o internamento lhe trouxe consequências desastrosas, por ter sido infectado pelo terrível vírus e ser acometido pela Covid-19. Triste partida.

Não sei se é dado ao direito de algum filho de Deus escolher quando partirá para a eternidade, mas acredito que foi em data imprópria, pelos simples motivos de não ter se despedido da grande legião de amigos, bem como comemorar seu aniversário. E faltavam poucos dias para a efeméride, já que no dia 14 de abril próximo Zito completaria 82 anos de vida, e bem vivida, para ser mais claro.

Aos que não tiveram a felicidade de conhecê-lo ou desfrutar de sua amizade, Zito Baú era uma daquelas pessoas que Deus colocou no mundo para fazer o bem – sem olhar a quem, da forma mais indistinta possível. Foi assim na sua infância, adolescência, continuando quando adulto até o seu desaparecimento, não havendo registro algum de uma pessoa desafeta ou ex-amigo.

De fala fácil, sabia ser o amigo, o conselheiro. Somente ele sabia subir o tom de voz na medida certa ao repreender um amigo, sem deixar qualquer mágoa, ao contrário, solidificando a amizade. E procedia de maneira simples – como ele – nos campos de futebol (baba, pelada), ao expor sua filosofia de que não bastava ao garoto ser um grande craque e sim um cidadão. Chorava quando algum deles desvirtuava.

E assim, desde os meados dos anos 1950 – quando o conheci – gastava seu tempo a praça (jardim) dos Capuchinhos aconselhando a garotada a estudar para jogar nos seus times de baba ou no Botafogo juvenil do bairro da Conceição, do qual era técnico. E para convencer os futuros craques, rádio de pilha no ouvido, se inteirava das resenhas dos grandes centros futebolísticos como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Ilhéus e Itabuna.

Ali mesmo na pracinha reunia a garotada no comecinho da noite para incentivá-los a jogar o bom futebol, ter um bom comportamento na escola e na sociedade, ter uma boa e rendosa profissão. E ele fazia os comparativos com os famosos jogadores de futebol do Brasil, citando muitos dos quais abandonavam os estudos em troca de uma carreira curta e às vezes desagradáveis.

No time de Zito Baú, aos jogadores não bastavam saber defender, construir, atacar e fazer gols. Eles tinham que saber driblar as adversidades da vida, aprender a construir uma vida sólida. Muitos dos que não gostavam desses conselhos e, mesmo que buscassem espaço em outros times, não deixavam de escutar o conselheiro Zito Baú e continuavam amigos para o resto da vida.

E o mesmo exemplo que pregava aos outros praticava consigo mesmo. Estudou com afinco para ser aprovado no concurso da Ceplac, onde se aposentou, e continuou sua carreira acadêmica, diplomando-se em Direito, seguindo a advocacia. Com todos os afazeres profissionais, Zito nunca deixou de viver sua vida no pacato bairro da Conceição, cercado de amigos.

Ele deixou como um dos seus exemplos bem-sucedidos aos pretendentes a craques: No Botafogo juvenil – onde era o treinador – aconselhava a garotada a estudar para fazer concursos, a exemplo do Banco do Brasil, um sonho para uma carreira de sucesso. E o primeiro a ser aprovado no concurso foi Sinval, que se tornou um exemplo a ser citado por Zito, tanto assim que em seguida Raul Vilas Boas e outros tantos foram aprovados.

Que o despojamento e os ensinamentos de José de Oliveira Santana – Zito Baú, nome em que era mais conhecido – sirvam de exemplo às novas gerações, para que possam analisar como um paradigma a ser seguido. Por ora, nos resta dar um adeus ao amigo, orientador, conselheiro, psicólogo, advogado, e dizer que os que aqui ficaram continuarão sentido muito a sua falta. Até mais!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

O prefeito e a mãe de santo, que, antes de falecer no último sábado (27), manifestou publicamente o desejo de que estação elevatória de esgoto não seja construída no local da Festa de Iemanjá
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Thiago Dias

O feminino desempenha papéis centrais na dinâmica matriarcal de boa parte dos terreiros de candomblé. Posiciona mulheres – muitas delas negras – na liderança de comunidades, algo fora da curva numa sociedade patriarcal. Esse era o caso de Mãe Laura, que faleceu no último sábado (27), no Hospital de Ilhéus, vítima da Covid-19.

O prefeito Mário Alexandre (PSD), segundo nota da Secretaria de Comunicação, expressou “as suas mais sinceras condolências a todos os amigos, familiares e admiradores de Mãe Laura”.

Reinvestido do cargo mais importante do município, após a vitória grandiosa de 2020, Mário pode fazer mais do que uma manifestação de sentimento para honrar a memória de Mãe Laura.

Pode, por exemplo, realizar o último desejo manifestado publicamente pela mãe de santo, que se posicionou contra a instalação de um equipamento da Embasa no local onde, durante quatro décadas, ela organizou a Festa de Iemanjá, um dos festejos mais bonitos e tradicionais da cultura popular de Ilhéus.

Foi a Prefeitura de Ilhéus que cedeu à Embasa o terreno dentro da Maramata, local da celebração sagrada para o candomblé. Por isso, uma canetada do prefeito pode evitar que a estação seja construída ali. Afinal, município e Embasa têm recursos para desapropriar outro espaço com as condições topográficas exigidas pela boa técnica dos engenheiros.

Já o bom senso político, atravessado pela cultura, religião e economia, recomenda o tombamento da Festa de Iemanjá como patrimônio cultural de Ilhéus e a construção de um busto de Laura na Maramata, que poderia muito bem passar a ser chamada pelo nome da mãe de santo.

Nessa miragem, posso ver a Universidade Livre Mãe Laura ao lado da Praça Padre Luiz Palmeira.

Thiago Dias é repórter e comentarista do PIMENTA.

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Quando Haroldo Lima foi convidado a fazer uso da palavra parece ter feito uma viagem de volta ao passado, lembrando de que, quando estava na clandestinidade, perseguido pela força policial da Ditadura Militar, atuou como trabalhador rural nos municípios de Buerarema, São José da Vitória e Arataca…

Wenceslau Júnior

Hoje recebi um telefonema do amigo Lucas Costa, ex-secretário de Agricultura e Meio Ambiente do Município de Arataca.

Ele fez questão de manifestar o seu pesar pelo falecimento do nosso querido Haroldo Lima.

Logo hoje, 26 de março, Dia do Cacau, dois dias após o falecimento de Haroldo e um dia após o aniversário do Glorioso Partido Comunista do Brasil.

Uma história curiosa me chamou a atenção e jamais poderia guardá-la comigo.

Lucas lembrou de uma reunião ocorrida na campanha eleitoral do ano de 1998, ocasião na qual Haroldo Lima foi candidato a deputado federal e Davidson Magalhães a deputado estadual.

O cenário: umas dezenas de pessoas na porta do estabelecimento de um outro “cabo eleitoral” conhecido como “Zé do Caixão”, já falecido. Todos em pé no meio da rua. Uma caixa de som e um microfone improvisados. Lucas e Zé do Caixão apresentavam seus candidatos a Deputados.

Quando Haroldo Lima foi convidado a fazer uso da palavra parece ter feito uma viagem de volta ao passado, lembrando de que quando estava na clandestinidade, perseguido pela força policial da Ditadura Militar, atuou como trabalhador rural nos municípios de Buerarema, São José da Vitória e Arataca, período no qual se dedicou a “recrutar” e formar militantes rurais para resistirem à Ditadura.

Mirando uma mata que podia ser vista por todos, Haroldo Lima apontou para ela e disse: “Baixinhos, eu já quebrei muito cacau no pé de pau nestas matas de Arataca”.

Alguns permaneceram em silencio, outros cochicharam nos ouvidos daqueles que estavam ao lado. Um ar de desconfiança pairava no ar.

Evento encerrado, Haroldo e Davidson seguiram viagem com a comitiva e a turma permaneceu no bar de Zé do Caixão para bebericar e jogar sinuca.

Aí foi aquele alvoroço: “o que ele quis dizer com isso? Quebrar cacau no pé do pau?”

Muitos duvidando da história de Haroldo Lima trabalhador rural. Outros querendo entender a expressão, outros rindo da cara de Haroldo.

Quando Lucas explicou que nessa época costumava chover muito na região, o que dificultava a colheita e transporte do fruto na “cabruca” (cacau plantado sob a mata). Por tal razão os trabalhadores colhiam o fruto, colocavam nas raízes das árvores frondosas umas folhas de bananeira para servir de anteparo e não sujar a poupa e ali mesmo quebravam o cacau, dispensando a casca e coletando apenas o caroço. Tal pratica facilitava o transporte para as barcaças, pois reduzia o peso e o volume.

Lucas finalmente disse: “vocês estavam duvidando do homem e o homem mostrou que conhece mais de cacau de que vocês todos”.

Haroldo Lima e Davidson angariaram alguns votos e nossa amizade com Lucas que até hoje permanece sólida.

Wenceslau Júnior é ex-vereador de Itabuna e professor da Uesc.

O presidente Jair Bolsonaro
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Bolsonaro não pode ser tratado como um político comum. É um criminoso que tem nas costas a reponsabilidade da morte de 300 mil brasileiros.

Carlos Pereira Neto Siuffo

Sempre foi comum se ouvir a frase “não se deve brigar por política, religião e futebol”. É uma máxima de origem conservadora, brandida normalmente por pessoas que se consideravam “neutras” ou que diziam “não gostar de política”. O futebol entra de gaiato na história.

Tal frase poderia ter até sentido em períodos de normalidade política, nos jogos eleitorais das pequenas políticas provincianas, onde cada qual buscava as suas melhoras dentro das ofertas dos grupos políticos em contenda (processos fisiológicos de atendimento das necessidades de sobrevivência das pessoas, onde quase nulas as ofertas de trabalho e de acesso por meio de concursos públicos). Comuns os atritos ocasionais, os xingamentos, mas logo superados; as mesmas pessoas transitavam de um grupo para o outro conforme as possibilidades de êxito (ainda transitam).

Pessoalmente, acho que se deve brigar por política e religião. Falo da grande política, daquela que visa efetivamente transformar o mundo e a vida das pessoas. Não se pode aceitar o mascaramento segundo o qual todos são iguais (não são), tem que se desvelar o que não é normalmente visto, mostrar que existe luta de classes e que uns são beneficiados pela suposta normalidade das coisas. Na religião há que ter respeito à todas (o Estado é laico), mas não se pode aceitar o pensamento reacionário de interpretações preconceituosas, tem que se discutir, sim, demonstrar que aquele Jesus pregado não pode nunca ser o bíblico (é o Jesus do pastor malandro). Tem que ter o diálogo, mas não pode se aceitar a homofobia, o racismo, a misoginia, o preconceito contra religiões diversas; tem que brigar contra e muito.

Normalmente quem professa tal frase quer ficar no escondidinho dos seus preconceitos e/ou privilégios. Quer ficar no panteão da sua acomodação.
Já no futebol não tem por que brigar, tem que brincar, gozar o amigo torcedor do outro time. É desporto, brincadeira. Torcidas organizadas violentas são organizações políticas de natureza fascizantes (não fazem parte da naturalidade da coisa).

Já o Bolsonaro e os bolsonaristas, em regra, são fascistas. Não são políticos simplesmente conservadores interessados apenas em conservar o seu “status quo”. Bolsonaro não pode ser tratado como um político comum. É um criminoso que tem nas costas a reponsabilidade da morte de 300 mil brasileiros – em razão de um política sanitária genocida. Em diversas ocasiões defendeu tortura, ditadura, extermínio de índios, adversários e quilombolas (negro pesado em arroba). A mídia, todos os dias, mostra a corrupção das rachadinhas.

Desse modo, Bolsonaro e bolsonaristas são criminosos e assim devem ser tratados. Faço ressalvas para a massa de evangélicos, em verdade ignorantes e manipulados, que devem ser disputados religiosa e politicamente (o que não quer dizer que não são perigosos em face do fanatismo).

A rigor, com o julgamento da suspeição do Moro, o TSE deveria anular as eleições, e não só por isso, pois há as fraudes das Fake News. A eleição de Bolsonaro foi fruto de crimes e golpe.

Bolsonaro deve ser derrubado, julgado( com o devido processo legal,mas os seus crimes são gritantes) e condenado.

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Haroldo Lima, de camisa branca, compondo a mesa de ato em defesa da estadualização da Fespi, episódio histórico lembrado no artigo de Élvio Magalhães
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Foi na transição da Fespi para a Uesc que Haroldo Lima pôde despontar para minha geração como o que sempre foi: um orador brilhante, um dirigente afetuoso, um político estudioso, um defensor das causas da Bahia e do Brasil.

Élvio Magalhães || Para José Junseira e Adnaelson Amparo, “emarquianos uesquianos”

Numa madrugada de inverno de 1986, a pequena célula “emarquiana” do PCdoB iria fazer sua primeira ação eleitoral: colar nos alojamentos masculinos a propaganda de Haroldo Lima para deputado federal. Balde, soda cáustica, farinha de trigo, vassoura. Ainda guardo no rosto respingo da cola e a cicatriz da ferida e, no coração, os tempos idos de descoberta e rebeldia.

Na Emarc-Ur me fiz comunista, entre leituras amadianas e artigos de Haroldo, aquele deputado, líder do PCdoB, que emergia da clandestinidade como fênix, após vinte anos de arbítrio de uma ditadura militar feroz e implacável, que espancou, torturou, assassinou, prendeu e baniu.

No ano de 1986 haveria eleições para a Assembleia Constituinte, e os comunistas baianos do sul buscavam reeleger Haroldo Lima. Militante oriundo da Juventude Universitária Católica (JUC), um dos responsáveis pela incorporação da Ação Popular ao PCdoB, ele enfrentou a ditadura, resistiu à tortura, ao cárcere e à barbárie de cabeça erguida. E venceu!

A chegada na Fespi de parte daquela célula da Emarc foi uma alegria. Na entrada, Ramon Vane recitando o “Poema Sujo” de Ferreira Gullar e o megafone de Déa Jacobina, a carismática líder estudantil, nos davam boas-vindas. Foi na transição da Fespi para a Uesc que Haroldo Lima pôde despontar para minha geração como o que sempre foi: um orador brilhante, um dirigente afetuoso, um político estudioso, um defensor das causas da Bahia e do Brasil.

Em 1987, a crise no modelo híbrido (subfinanciamento pela Ceplac, complementado pelas mensalidades), que sustentou a Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna desde sua fundação, tinha chegado ao auge. No movimento estudantil, o PCdoB dirigia o DCE e organizava a luta contra aumentos de mensalidades e pela estatização. Neste ano o deputado Haroldo Lima consegue um recurso extra no Ministério da Educação do governo Sarney, que possibilita à FESPI pagar os salários dos professores e seguir sem onerar os estudantes, congelando as mensalidades.

Mas é no ano de 1988, com as palavras de ordem “parar pra acertar” e a campanha “Ô estadualiza ou pifa”, que foi possível o desencadeamento de uma greve com o qual o movimento estudantil e acadêmico arrancaram, após 7 meses de intensa mobilização política, a estadualização da Fespi e a gratuidade do ensino. Deste processo participaram intensamente a militância do PCdoB e o deputado federal Haroldo Lima. O governador Waldir Pires, antevendo o futuro, queria federalizar a Fespi, com o correto argumento de que era preciso investimento federal no ensino superior da Bahia, o que só viria acontecer 25 anos depois, com a criação, pela presidenta Dilma Rousseff, da Universidade Federal do Sul da Bahia.

No início dos anos 90, quando a transição da Fespi para universidade se alongou e o impasse institucional se deu em função do Patrimônio da Universidade e outras burocracias, foi de novo Haroldo Lima quem construiu a saída. Mesmo um tenaz opositor do então governador Antônio Carlos Magalhães, Haroldo utilizou de sua amizade com o deputado Luís Eduardo Magalhães, vizinho de apartamento funcional em Brasília, para relatar as dificuldades institucionais da Fespi e cavar uma audiência da comunidade universitária com o então governador ACM. Presente na reunião, vi quando ACM se dirigiu a Haroldo Lima e disse: “Haroldo, você não precisa de intermediários para falar comigo!”.

Desta reunião ficou decidido que a Fespi seria estadualizada e viraria a Universidade Estadual de Santa Cruz – Uesc, o que de fato ocorreu meses depois, numa solenidade no auditório do Pavilhão Jorge Amado, onde o então estudante Wenceslau Jr., recém-eleito presidente do DCE, foi intensamente aplaudido pelos presentes, como reconhecimento da condução vitoriosa do movimento estudantil para aquele desfecho. A maior conquista da minha geração.

Ultimamente, conversava com Haroldo sobre sua participação na vice-liderança da Comissão Permanente do Índio, presidida pelo deputado xavante Mário Juruna, que deu origem à atual Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, os avanços conquistados na Constituição de 1988 e a luta dos povos indígenas pelos seus direitos. Não deu tempo de levá-lo à Marcha dos Tupinambás em Olivença, como combinado.

A nefasta política genocida do governo Bolsonaro, que boicotou vacinas e protocolos (e certamente colaborou para a morte prematura de Haroldo e de quase 300 mil vítimas da covid-19 no Brasil), só me faz ter a certeza da necessidade da construção de uma frente ampla, como defendia Haroldo, para que possamos derrotar o fascismo negacionista e descortinar o futuro de prosperidade para o povo brasileiro.

E, quando tudo isso passar, haveremos de fazer uma grande homenagem a este homem público imprescindível. Tomara que a Uesc esteja presente.

Haroldo Lima Vive!

Élvio Magalhães presidiu o Diretório Central dos Estudantes Carlos Mariguella, da Uesc; é membro da direção estadual do PCdoB na Bahia e assessor do deputado estadual Fabrício Falcão (PCdoB).

Foto José Martins
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Uma ação ousada, pioneira no país, que dá um fôlego de boas energias a todos os envolvidos. Avante, Itacaré!

Manuela Berbert || manuelaberbert@yahoo.com.br

Vou logo adiantando que esse texto pode parecer apaixonado demais para alguns, mas estamos no Mês das Mulheres e por isso tenho licença poética para tal, instituída de mim para mim mesma, afinal não é novidade para ninguém a personalidade forte igual a pimenta: só acompanha as opiniões quem aguenta! Rs!

Brincadeiras à parte, a verdade é que venho nutrindo uma paixão arrebatadora por Itacaré. A cidade, que eu mesma achava até alguns anos um lugar belíssimo, mas sem o apelo sofisticado que os centros turísticos tinham, só me surpreende. E escrevo não somente como apreciadora das praias, restaurantes e pubs inusitados, mas como empreendedora. Ousei abrir a primeira loja física da marca Cola Na Manu no centro turístico dela, na Pituba, mesmo sabendo das limitações da pandemia, e também por isso sigo acompanhando todas as News, inclusive da atual gestão.

Hoje, 21 de março de 2021, a prefeitura local lançou uma campanha inusitada, oferecendo descontos médios acima de 30% em itens que vão de hospedagem a alimentação, incluindo equipamentos de lazer e bem-estar, para os profissionais de saúde. Reconhecimento, gratidão e acolhimento a médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e demais profissões, movimentando o trade turístico e fazendo a máquina econômica girar.

Em outras palavras, os profissionais de saúde terão descontos, cortesias em hotéis, pousadas, bares e restaurantes. Até guias turísticos estão entrando na campanha para atender com preços reduzidos de até 50%. Apesar de Itacaré ter barreira sanitária e uma taxa de infecção baixa, a campanha não é para lotar a cidade no próximo final de semana, por exemplo. Pelo contrário. Os profissionais poderão adquirir seus pacotes, se programar e usá-los até novembro. Uma ação ousada, pioneira no país, que dá um fôlego de boas energias a todos os envolvidos.

Avante, Itacaré!

Manuela Berbert é publicitária.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
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Lula, no imaginário popular, é uma figura muito maior do que o Lula de carne e osso. Lula não é só maior do que o PT, é maior do que ele próprio.

Carlos Pereira Neto Siuffo

1 – O discurso de Lula após as anulações dos processos por Fachin foi um grande acontecimento político.

2- Foi um discurso político com centro correto, priorizou a luta concreta e imediata, não colocou os carros na frente dos bois. Não se poderia ali exigir uma autocrítica dos erros passados (vi artigos cobrando isso).

3- Lula, no imaginário popular, é uma figura muito maior do que o Lula de carne e osso. Lula não é só maior do que o PT, é maior do que ele próprio.

4- Na força e no tamanho de Lula estão as virtudes e defeitos (os perigos). Ele pode ser o grande alinhavador da unidade das forças de esquerda, desde que use o seu tamanho para a construção de um programa mínimo de unidade e promova, junto com o conjunto, um calendário de lutas e de ações concretas para combater a pandemia e o a política neoliberal do desgoverno Bolsonaro. Mas, ele sofre uma grande pressão da direita petista e aí poderá vir a fazer alianças e concessões à direita, que serão mais problemas para as soluções dos infortúnios populares. Também o poder do chamado mercado pressiona para que se mantenha a atual política fiscal. Há também o risco do Lula de carne e osso, com as suas tendências conciliadoras (superadas, espero).

5- A esquerda ao lulismo não poderá ficar refém. Deverá tocar as suas lutas e participar das ações de unidade. A luta hoje é por vacina, auxílio emergencial de R$ 600 e para organizar no dia a dia as massas populares.

6- A força na luta política não se dá pela retórica. Ela é fruto da realidade concreta. Não se é temido pelo grito.

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É, meu amigo, quanta falta você vai fazer! Agora, só tomando aquele “elixir tombante” pra aguentar a saudade.

Ricardo Ribeiro

Solon Cerqueira era uma figura que não passava despercebida. Espirituoso, inteligente, inquieto, era o centro da roda, o contador de causos, provocador de boas risadas. Foi diretor de rádio, fez campanha política, montou uma fábrica de cosméticos, o cara inventava mil e umas.

Trabalhamos juntos lá pelos idos de 2005 e ele logo ganhou naquela época, por motivos óbvios, o apelido de Monteiro Lobato. Tinha histórias incríveis, como a de quando foi convidado para montar um receptivo na reserva ambiental de Una para ninguém menos que o Duque de Edimburgo, durante visita do membro da família real britânica ao Brasil.

A forma como contava essa e outras histórias, reais e imaginárias, era única e a risada era inevitável, daquelas de doer a barriga.

As missões que a vida nos apresenta afastaram-nos, mas sempre conversávamos por telefone. No ano passado, encontrei-o junto com o também amigo Robson Hamil. Almoçamos e relembramos os velhos tempos. Não sei por que, mas na ocasião o achei mais sério e preocupado que de costume.

Ele iria fazer um trabalho político na cidade onde moro atualmente, mas veio a pandemia e os planos mudaram. Depois disso, voltamos a nos falar algumas vezes por telefone, inclusive no mês de julho, quando eu e minha esposa contraímos Covid e ele ligava todos os dias para ter notícias.

Esse era Solon. Amigo, solidário, muito sincero e o mais engraçado da turma. Quando o nosso querido amigo Antônio Lopes, jornalista e escritor, assumiu uma cadeira na Academia de Letras de Ilhéus, Solon não teve dúvidas e passou a tratá-lo cerimoniosamente como “imorrível”.

Em fevereiro, soube que Solon estava com Covid e havia sido internado. Nem tive tempo de ligar, como ele fez tantas vezes quando eu estava com esse vírus maldito. Tinha muita fé que nosso Monteiro Lobato sairia dessa e cheguei a imaginar o dia em que sentaríamos diante de uma mesa para ouvi-lo contar sua batalha pela vida.

É, meu amigo, quanta falta você vai fazer! Agora, só tomando aquele “elixir tombante” pra aguentar a saudade. Aí no plano superior, bate aquele papo com o Pai e apela em favor dos seres inferiores que permanecem aqui na Terra. A coisa tá feia, meu parceiro!

Ricardo Ribeiro é delegado de polícia.

Peixoto: abastecimento normalizado
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Nunca esqueça, a maior riqueza do homem é a família, os amigos, os colaboradores. Ninguém é feliz sozinho.

 

José de Carvalho Peixoto

Na minha vida aprendi a valorizar o trabalho, valorizar as pessoas.

Aprendi a ser simples, a não ser arrogante.

Aprendi a ficar no lugar do outro em caso de reclamação.

Aprendi a pensar antes de agir.

Meu querido pai sempre me dizia: “Pedra que muito se muda, não cria limo”.

Resolvi enraizar na minha querida Itabuna, povo simples e acolhedor.

A vida é passageira, a gente vem do pó e ao pó voltaremos.

Sabe porque muita gente quebra a cara na vida?

Porque acredita no errado.

Duvida do certo.

Acredita na impunidade.

Abandona o verdadeiro.

Valoriza o falso.

Esquece que existe a Lei do Retorno.

Não acredita em Deus.

Assim, nada dá certo.

Pense positivo, acredite em Deus, Nosso Ser Supremo.

Acredite em você!

Não existe nada pior que não possa piorar, mas também não existe nada melhor que não possa melhorar.

“Lembre-se: um sonho sem ação é simplesmente um sonho, mas um sonho com ação pode transformar a sua vida”!

A vida é uma dádiva de Deus!

Nunca esqueça, a maior riqueza do homem é a família, os amigos, os colaboradores.

Ninguém é feliz sozinho.

José de Carvalho Peixoto é empresário.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
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A grande novidade está fora do texto, num Lula reinvestido da expectativa de poder. Por isso o mundo lhe deu ouvidos durante três horas. E o Brasil, sob as botas do capitão, olha para 2002 sonhando o velho futuro possível.

Thiago Dias

O discurso do ex-presidente Lula, nessa quarta-feira (10) apoteótica, não trouxe novidade. Sua atração renovada está na justa reconquista dos direitos políticos.

Ali estava o candidato da Carta ao Povo Brasileiro, o autodenominado presidente da conciliação entre capital e trabalho, que evocou a memória do empresário José Alencar como a do vice perfeito.

Defendeu a recuperação do poder de compra do salário mínimo e de medidas de estímulo ao consumo, marcas dos anos dourados dos governos petistas que falam direto ao coração de quem vive do próprio suor.

As carências reais do povo sempre foram lembradas nos discursos de Lula. Como observa o professor Carlos Pereira em artigo neste site, o ex-presidente nunca flertou com o projeto revolucionário de setores mais à esquerda.

Acrescento que, a depender do ponto de vista de quem analisa, esse é o maior elogio ou a mais severa crítica ao lulismo. Pragmatismo imposto por correlação de forças, mesmo no auge da popularidade, ou capitulação diante do mercado? Desencobrir essa aporia é tarefa do auditório. Um e outro, Lula reivindica novamente o papel de conciliador nacional. No seu elogio a José Alencar ecoa um psiu para Luíza Trajano.

Nada disso é novo. A grande novidade está fora do texto, num Lula reinvestido da expectativa de poder. Por isso o mundo lhe deu ouvidos durante três horas. E o Brasil, sob as botas do capitão, olha para 2002 sonhando o velho futuro possível.

Thiago Dias é repórter e comentarista do PIMENTA.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o discurso desta quarta-feira (10) || Foto Andre Penner/AP
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LULA é hoje a maior liderança popular que o Brasil tem. Ele não é comunista nem revolucionário. É um socialdemocrata. Sabe ler os sentimentos das massas e falar com elas. Que a esquerda revolucionária faça o seu papel.

Carlos Pereira Neto Siuffo

Comecei a ouvir o discurso no início, interrompi após os agradecimentos para cuidar de outros afazeres. Estranhei a não citação de Dilma dois dias após a data comemorativa à luta das mulheres (8 de março), dia em que Ciro Gomes grosseiramente destratou a ex-presidente da República. Lula teria dado uma pisada na bola.

À tarde ouvi todo o discurso atentamente. Lula corrigiu o erro, no final, justificando o silêncio em face da ausência do nome na nominata e mais adiante, quando responde pergunta sobre mais uma grosseria do Ciro, faz uma espécie de desagravo.

Mitigou o equívoco inicial, porém foi uma falha grossa tanto do cerimonial quanto dele. Dilma, independentemente dos erros cometidos no governo, merece todas as homenagens possíveis, não só por sua vida de lutadora das causas populares como por ser a Presidenta do Brasil eleita pelo povo e golpeada pela direitada.

Lula fez um discurso preciso e correto. Atacou de frente o desgoverno neoliberal de Bolsonaro. Colocou na frente de tudo o combate à Covid-19, a necessidade urgente da vacina e do auxílio emergencial até o fim da pandemia.

Enfatizou a necessidade do investimento público para a criação de empregos. Defendeu as estatais e as riquezas nacionais. Acusou o desmonte que estão fazendo. Defendeu a presença de um Estado democrático e atuante. Insinuou a reestatização da Petrobras e manifestou-se radicalmente contra a autonomia do Banco Central.

Fez acenos conciliatórios para os empresários, mas deixou claro que o inimigo é o capital rentista e que enfrentará a política neoliberal. Atacou também os setores golpistas das Forças Armadas, sem deixar de estender as mãos (não discuto se isso é ilusório ou não). Porém, deixou claro qual seria o seu papel na defesa da soberania nacional.

O discurso político para a sociedade e as massas não é tese acadêmica nem programa de vanguarda. Lula focou em necessidades imediatas, apontou o caminho das ruas e da organização popular. Foi preciso ao ironizar a tal da Frente Ampla e demonstrou em que pontos ela seria possível (auxílio, vacina, etc.).

LULA é hoje a maior liderança popular que o Brasil tem. Ele não é comunista nem revolucionário. É um socialdemocrata. Sabe ler os sentimentos das massas e falar com elas. Que a esquerda revolucionária faça o seu papel. Organize as massas, conscientize-as, vá à luta e pressione organizadamente por conquistas mais radicais.

Defendo uma Frente de Esquerda com candidato próprio. Mas, Lula é parte fundamental do jogo e pode começar a estabelecer a criação de algo como a Frente Ampla Uruguaia, na qual muitos partidos (inclusive os sem representação parlamentar) acordem programas mínimos e unifiquem-se nas lutas.

Não caberia a Lula hoje fazer autocríticas dos muitos erros dos governos petistas. Não teria qualquer sentido. Isso pode ser feito na discussão sobre o programa e atualizá-las na prática futura.

Não sou petista e não me cabe escolher o candidato do partido. Lula, com o discurso desta quinta-feira (11), entra muito forte no jogo. Acredito que ajudará nas saídas desse desespero nacional. No momento, é ultrapassar a imensa barbárie em que está o Brasil. 2022 será fruto do que for feito agora. Eleições vêm depois. É hora de organização e lutas.

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

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Enquanto isso, em meio ao alto índice de infecções e óbitos, o ‘luto’ vai se tornando verbo, uma luta árdua vivida pela sociedade brasileira.

Lucas França || jornalistalucasfranca@gmail.com 

Um ano após o primeiro caso de Covid-19, o país registra mais de 268 mil mortos e vive o pior momento da pandemia. O sistema de saúde colapsando e na maioria das cidades brasileiras, governadores e prefeitos, com exceções, fazendo o que podem para conter a tragédia da impossibilidade de atendimentos nos casos de internação, agravamento e UTI.

Em todo o país, uma onda de revolta, protesto e insurreição. Empresários e manifestantes começam a se rebelar contra as medidas restritivas, e surgem convites para manifestações contra governadores e prefeitos e as medidas de toque recolher (lockdown) e demais restrições impostas.

Durante os protestos, se quer mencionam a pandemia, o colapso na saúde, os índices de contágio e mortes, e tampouco a falta de vacina para imunizar mais de 210 milhões de brasileiros. Empresários acusam governadores e prefeitos de falirem suas empresas, e de serem os responsáveis por demissões.

Cada categoria afirma que o seu setor não é responsável pelo crescimento do contágio. Fechar o comércio não é solução. Fechar bares, restaurantes, academias não é solução. A questão hoje no Brasil, no entanto, não é ouvir o que não é a solução, mas saber qual é a alternativa ao fechamento das coisas.

Em alguns estados, o número de mortes nos dois primeiros meses deste ano já supera o total de vidas perdidas no ano passado, então, qual é a medida mais eficaz para conter o vírus, as mortes e o colapso nas redes de saúde? A situação do Brasil é singular, no sentido de ser uma das piores possíveis.

Como não bastasse, até mesmo o financiamento de leitos Covid que o Governo Federal mantinha está sendo cortado drasticamente. Não há dinheiro para abrir centenas de leitos e mantê-los, e mesmo se houvesse, já há falta de profissionais de saúde disponíveis e habilitados para atuar com os infectados.

Já se ouve rumores que, se a média de agravamento dos casos se mantiver no patamar que temos visto de janeiro pra cá, a indústria farmacêutica brasileira pode não ser capaz de produzir medicamentos sedativos suficientes para os entubados nas Unidades de Terapia Intensiva.

Diante da perplexidade efusiva, qual é, quais são as medidas propostas por quem acusa governadores e prefeitos por medidas de restrição? O que deve ser feito? Esperar o vírus se alastrar? Ver o surgimento de variantes mais severas e mais letais? Pagar para ver crescer o número de óbitos?

A imprensa, por sua vez, também vive sob uma condição crucial. Não é pequena a quantidade de brasileiros que se queixam de jornais, telejornais, rádios, sites. E então? Vamos ignorar que somos o segundo país do mundo em mortes, além de todas as dificuldades que enfrentamos?

O que assistiremos nos próximos episódios dessa ficção serão as controvérsias que tomarão as ruas, radicalizando a polarização, a politização da pandemia, a demonização dos gestores face à condução da crise e o estímulo à violência entre grupos, que veem a gestão da Covid de modos distintos entre si.

Houve um tempo em que o mundo ficou horrorizado com os mortos no campo de extermínio Dachau, na Alemanha Nazista. Se compararmos os números oficiais do campo de extermínio por gás, com o campo de extermínio de Covid no Brasil, por aqui já morreram o equivalente a oito Dachaus em apenas 1 ano.

Enquanto isso, em meio ao alto índice de infecções e óbitos, o ‘luto’ vai se tornando verbo, uma luta árdua vivida pela sociedade brasileira.

Lucas França é jornalista, publicitário e estrategista de marcas.

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Esperamos que o estado de direito seja o norteador do ordenamento jurídico e político e que a democracia siga o seu curso, superando a falta da noção tão necessária para que sejamos de fato uma nação.

Rosivaldo Pinheiro || rpmvida@yahoo.com.br

O Brasil vive mais um momento efervescente não apenas pelas dificuldades impostas pela Covid-19, mas, também, pelas interferências provocadas pelo poder judiciário, que, aliás, passou a ser quem dita o ambiente desde a judicialização da política. O movimento foi iniciado em 2005, quando o presidente Lula buscava a sua reeleição.

A escalada do judiciário aconteceu sob um ambiente de letargia e, de certa forma, parceria do Congresso Nacional. Só que se agigantou e acabou criando um ambiente propício para chegar nos agentes políticos listados por setores do judiciário como adversários do sistema, à luz do combate à corrupção. O modus operandi culminou com a estruturação da Operação Lava Jato, comandada pelo ex-juiz Sérgio Moro, iniciada em 2014.

A estruturação da operação seguia uma pauta midiática: fases, performances, escutas ilegais, prisões e muito marketing, tudo em fina parceria com setores da grande mídia, além dos vazamentos seletivos anunciados sob grandes holofotes e plantões, retroalimentados em diversas emissoras. Uma massificação com um enredo hollywoodiano.

A operação parecia ser liderada por um herói, com prisões de figurões dos poderes político e econômico com claras participações em ilicitudes, e também de outros atores sem a necessária apresentação da materialidade do crime cometido. Entre idas, vindas, versões e notas de esclarecimento, aconteceu o fato de maior repercussão: a prisão do ex-presidente Lula.

O Brasil assistiu às oitivas em que o ex-presidente comparecia para ser interrogado pelo então juiz Moro e sempre se dizia inocente. A divisão do país só se acirrou e as urnas elevaram Bolsonaro ao posto de presidente. Já Moro, largou a magistratura para ser membro do novo governo como ministro da Justiça e Segurança Pública.

Mas surgiu algo inesperado: vazamentos de conversas privadas ocorridas entre Moro, integrantes da Lava Jato e membros do Ministério Público Federal foram divulgados pelo The Intercept Brasil. As conversas foram negadas pelos envolvidos e logo o ministro Moro ordenou a prisão dos responsáveis pelos vazamentos.

Foi montada a Operação Spoofing, que culminou com o encarceramento dos hackers responsáveis pela façanha. De lá para cá, muita coisa mudou e o ex-presidente Lula responde em liberdade, após cumprir pena de um ano e sete meses em regime fechado.

Diante dos fatos da Operação Spoofing, a defesa de Lula requereu ao Supremo Tribunal Federal acesso às mensagens e, após autorização, pediu a suspeição do ex-juiz Moro por parcialidade e motivação política. Com o avanço em favor do ex-presidente, o ministro do STF Edson Fachin adotou um remédio jurídico, fazendo valer a máxima popular “dá-se os anéis para não perder os dedos”.

Para livrar Moro e salvaguardar o que sobrou da operação Lava Jato, Fachin considerou a justiça de Curitiba incompetente para proceder o julgamento e, por consequência, devolveu os direitos políticos ao ex-presidente Lula. A ação de Fachin, embora pareça em favor de Lula, pode ter objetivado evitar a suspeição de Moro, provocando a anulação dos recursos da defesa do ex-presidente, na tentativa de forçar os seus arquivamentos por perda dos objetos.

A batalha jurídica e política parecem não ser encerradas de imediato, ao contrário, novos capítulos serão produzidos. Um deles foi iniciado nesta terça-feira (9) com a retomada do julgamento da suspeição do ex-juiz Moro, colocada em pauta pelo ministro do STF Gilmar Mendes. Aos brasileiros, restará ficar a postos, de olho no noticiário, principalmente porque o próximo ano é eleitoral e os desfechos dessas questões jurídicas influenciarão diretamente na composição das forças políticas que concorrerão no pleito. Esperamos que o estado de direito seja o norteador do ordenamento jurídico e político e que a democracia siga o seu curso, superando a falta da noção tão necessária para que sejamos de fato uma nação.

Rosivaldo Pinheiro é economista e especialista em Planejamento de Cidades (Uesc).