NÃO FALTA DEFENSOR PARA A ARTOCARPUS
NA JAQUEIRA, A RIMA DE NOBREZA E REALEZA
Euclides (foto), advogado e político engajado no compromisso da ascensão social de sua gente, prefeito de Ipiaú, cassado e preso pela ditadura militar, defendeu jaca e jaqueira – o fruto como alimento, a árvore como matéria de marcenaria, principalmente na fabricação de móveis em que nobreza rima com beleza. Paulo, para quem a criatividade era uma espécie de segunda natureza, pregou, ao microfone, que jaqueiras fossem plantadas pelo prefeito ao longo das ruas de Itabuna, tornando nossa urbe verde e cheirosa. Antônio Lopes, papa-jaca lá das bandas de Macuco, viu com humor a opinião do ilheense Paulo Kruschewsky e a reproduziu no livro de crônicas Luz sobre a memória (Agora Editoria Gráfica/1999).
“JAQUEIRIZAR” É PRECISO, SEGUNDO PAULO
DISTÂNCIA ENTRE HÁBITO E PRECONCEITO
CONCEITO DE CULTURA PARA A SÉTIMA SÉRIE
Cultura – se me permitem um pouco de marxismo para crianças inteligentes da 7ª série – é o antagonismo entre o homem e a natureza. Tudo aquilo que acrescentamos ao ambiente é “cultura”. Assim, uma árvore não é elemento cultural (talvez seja agricultural!), mas um banco que é feito dessa árvore, sim. Da mesma forma que um berimbau ou uma palmatória. Aliás, usei muito o exemplo do berimbau, como elemento de cultura: nas casas da dita elite branca ele é pendurado na parede, como uma exótica peça de decoração; já entre pobres e negros tem forte valor histórico e até financeiro. Penso que um colar indígena guarde o mesmo duplo significado.
EIS AQUI O TIPO FACEIRO E DARWINIANO
O AMOR NÃO NOS AVISA, APENAS ACONTECE
SÓ “ACONTECE” O QUE NÃO FOI PLANEJADO
Redatores que tratam bem a língua costumam usar o verbo acontecer com o sentido principal registrado pelo dicionário Aurélio (“suceder ou realizar-se inopinadamente”). Machado de Assis, em Várias histórias, abona a definição: “Aconteceu–me uma aventura extraordinária”. Entre nós, um exemplo simples, porém recidivante, até que as autoridades policiem nossas estradas: ”Grave acidente aconteceu na Ilhéus-Itabuna”. Neste caso, o Caldas Aulete tem entendimento semelhante ao Aurélio – acontecer é “realizar-se algum fato inesperadamente”. Logo, como o concurso estava programado, ele não acontece. Mas “acidentes acontecem”, diz o adágio.
COLUNA SOCIAL COM CRIATIVDADE E GRAÇA
“Estou acontecendo no café soçaite”, brincava Miguel Gustavo, na voz fanhosa de Jorge Veiga (Betânia regravou Café soçaite/1953 no começo dos anos setenta). Era só uma sátira bem-humorada ao colunismo social da época, um tempo em que por lá existiam Ibrahim Sued, Jacintho de Thormes, criatividade e graça. Mais tarde, a indigência vocabular dos redatores fez com que o verbo acontecer fosse utilizado a torto e a direito, nos lugares mais escusos, sem nem sombra do charme que lhe dera o jornalista carioca Maneco Müller, famoso como o colunista mundano Jacintho de Thormes.
Resposta de 0
Olá, vez por outra passo neste Universo Pararelo!
Os fatos políticos, não menos importantes, são interessantes. Mas confesso que desestimulantes para leitura. Dai o UP – nós dois sentidos – enriquecer a página.
Abraço
Excelente !
Acontecer é “realizar-se algum fato inesperadamente” tipo comer um parafuso no restaurante popular de Itabuna.
No governo Azevedo tudo “acontece”, não há dúvida
Gosto muito de ler “Universo Paralelo”, pois encontro qualidade, competência, conhecimentos e textos diferenciados.
Parabéns!