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O Teatro Candinha Doria, em Itabuna, foi o espaço escolhido para a celebração do centenário da Semana de Arte Moderna no Brasil. O Admirarte, evento do Colégio Batista de Itabuna em comemoração à data, recebeu na noite desta quinta-feira(27), centenas de pessoas, pais e avós de alunos, professores e convidados.

“Em fevereiro deste ano comemoramos o centenário da Semana de Arte Moderna no Brasil. A data foi escolhida em homenagem ao então centenário da Independência do nosso país, no ano de 1922, como uma espécie de “grito” pela arte autenticamente brasileira”, disse a diretora do Colégio Batista de Itabuna, professora Graça Guimarães. “Depois de tantos anos, ainda persiste a questão: somos realmente independentes artisticamente? A arte é para todos(as)?”.

No palco do espaço das artes do município, a encenação feita por alunos e professores da escola, trouxe a história de personagens que fizeram parte da Semana de Arte Moderna, a exemplo do músico Heitor Villa Lobos, mostrando o seu trenzinho caipira, e da artista plástica Tarsila do Amaral.

Público lotou Candinha Doria e se encantou com as apresentações

A famosa autora do famoso quadro Abopuru não participou da Semana de Arte Moderna, por se encontrar na França, mas foi a personagem central no movimento por ter sido casada com o escritor Oswald de Andrade, um dos expoentes do evento cultural.

Os alunos da educação infantil recitaram o poema de Manoel Bandeira, Os Sapos. A obra, que na época provocou reações e até vaias, inspirou, anos depois, o cantor e compositor Vinícius de Moraes. O coral dos alunos da escola fez a apresentação da música Trenzinho Caipira, de Villa Lobos.
Figuras como a pintora Anita Malfatti e os escritores Monteiro Lobato e Manuel Bandeira foram lembrados nas apresentações, que teve a participação de todas as séries da escola, seja na apresentação ou nos bastidores.

A homenagem ao mais importante momento da arte brasileira também trouxe questões atuais como a morte do indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips.
Professores e colaboradores do Colégio Batista de Itabuna foram homenageados no Admirarte. “Queremos trazer sempre cultura e educação de qualidade para a nossa população”, finalizou Graça Guimarães para um teatro lotado.

Semana de Arte Moderna completa 100 anos neste domingo (13)
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Cem anos depois, ainda estamos em uma plena Semana de Arte Moderna, que precisa ressignificar nossa caminhada, quebrar o parnasianismo da elite e desmascarar uma gente que se finge de inocente.

Efson Lima

Após 100 anos da Semana de Arte Moderna, o que temos é um Brasil que procura sua identidade. As inquietações permanecem, e o país está “pluridiversificado”, tem-se uma plêiade de vontades e pouco foi feito até aqui. Uma coisa é certa: de lá para cá jamais fomos os mesmos. As coisas não ficaram no lugar. Deixamos de ser um país rural e adentramos na urbanização. As cidades foram amontoando gente. Para abastecer toda essa gente, a agricultura foi maximizada e continuou a encher os bolsos de alguns.

Nas cidades, os postos do setor de serviços são ocupados por aqueles que, supostamente, são os mais habilitados. A indústria se tornou pujante, cada vez mais tecnológica e empregando menos pessoas. Os nossos cabelos nos centros urbanos são depósitos para as fuligens, que se dispersam nas nossas carapinhas e se impregnam em nossa pele. Os rios se tornaram nossos esgotos, pois conferem maior fluidez para as nossas sujeiras.

O Brasil de ontem é o mesmo de hoje quando o assunto são as castas e quem pode mais na república federativa. O QI ( Quem Indica) continua a desafiar os princípios republicanos e condena a nação no trópico. Cem anos depois, uma elite continua a fazer a festa. Todos podem fazer arte, mas nem todos são valorizados. Apenas os bem “indicados” alcançam um patamar de visibilidade, estes são apresentados na TV e aparecem nos jornais impressos. As revistas fazem o arremate final com bastante tinta e brilho. Os quadros, leiam-se as telas, agora são usados para disfarçar as propinas.

O Brasil continua sendo o país dos corpos. As pessoas malham e se exibem nas ruas e avenidas, que são vitrines. Sem falar nas redes sociais, que potencializam e são senhas para as curtidas. Não vou me fazer de santo: eu adoro! Não sou pudico.

As músicas incentivam os tapas nas mulheres e as ofendem. Colocam-nas no porão da história. As bichas, publicamente, são esquartejadas. Os corpos negros caem nas ruas das cidades. Somos todos fiscalizados e monitorados no maior controle da História. Apologias a crimes contra a humanidade, constantemente, são defendidas por alguns em nome da liberdade de ofender minorias e tragédias humanas.

Sentimos saudade dos rebeldes com causa de 1922. Eles descortinaram nossa realidade e impuseram uma caminhada menos romântica. Seria trágico se pegássemos aquele caminho da pura idealização. O Brasil de hoje é plural e continuará a ser. Tem enormes desafios diante dos quais minha geração “já” fracassou. Precisamos recorrer à próxima geração para amenizar as angústias.

No contexto atual, as mulheres se rebelam, mas as regras estão bem delimitadas. Serão superadas. Os negros buscam quebrar as correntes, mas há quem ache beleza em artesanato com réplicas de pessoas escravizadas para comercialização em aeroporto. Cem anos depois, ainda estamos em uma plena Semana de Arte Moderna, que precisa ressignificar nossa caminhada, quebrar o parnasianismo da elite e desmascarar uma gente que se finge de inocente.

Efson Lima é mestre e doutor em Direito pela UFBA, advogado, professor, escritor e membro da Academia Grapiúna de Letras.