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rafaelmoreiraRafael Moreira
gama.moreira@hotmail.com

A violência, apesar da sua gênese ocorrer a partir das desigualdades sociais, tem a sua externalidade também nos objetos, nas técnicas de segurança que alguns podem pagar para obter.  São paisagens, aquilo que as vistas alcançam (SANTOS, 1997) e que demonstram uma sociedade em estado de medo, de insegurança e no caso de Itabuna-BA isto não é diferente. Grades, muros altos, cercas eletrificadas, são apenas alguns exemplos desta paisagem do medo.

São expressões de uma sociedade marcada por grandes diferenças sociais e pela exacerbação do individualismo, em que o pensamento coletivo na resolução dos problemas se encontra subalterno ás ações individuais do trancar-se cada vez mais, em detrimento da procura por identificar as causas de tal estado de insegurança, quanto à vida e ao patrimônio, e agir nelas.

Para o sociólogo e geógrafo Demétrio Magnoli, a violência se expressa de forma intensa na paisagem e contribui de duas maneiras para a infração dos direitos coletivos por sobre o espaço público: a primeira se dá com a apropriação privada do espaço público: “vias de tráfego e calçadas são interrompidas por cancelas e portões”; a segunda se materializa conforme a proteção da vida e do patrimônio, neste caso público e/ou privado, como que enclausuram o indivíduo.

Entender a expansão da violência nas cidades é também poder compreender o quanto esta sociedade é desigual e excludente, e o quanto esta fecha as portas àqueles que não se enquadram no perfil de consumidor ativo e/ou de mão-de-obra geradora de lucro. A violência, mesmo que não justificada em nenhuma de suas modalidades, na maioria das vezes, vem como resposta dada por um grupo social às mazelas às quais são submetidos.

Com isso percebemos que as classes mais favorecidas economicamente vão montar uma estrutura em torno da proteção da vida e do seu patrimônio, que vão deixar-lhes como que numa ilha isolados no interior das suas habitações, enxergando o mundo externo a esta como lugar do medo e dos riscos, posto que o Estado não garante a segurança de quem por ele transita.

Não pretendemos, com esta reflexão, atribuir culpa a nenhuma das classes sociais pelo estado de insegurança ao qual toda a sociedade está submetida, entretanto, há de se considerar que todos possuem sua parcela de responsabilidade e que aqueles que possuem melhores condições culturais, econômicas, entre outras, acumulam maiores responsabilidades (na luta contra a estrutura de isolamento que vem sendo construída) e, na maioria das vezes, encontram-se omissos.

Este isolamento contribui para a exacerbação do individualismo e para a perda da atenção antes focada na figura do outro. Assim o que outrora fora uma possibilidade (de amizade, de negócios, de auxílio etc.) hoje, na maioria das vezes, se configura como uma ameaça. Ou ainda como, no dizer de Magnoli, “a cidade parece desistir da sua vocação histórica, de lugar de encontro e intercâmbio”.

É sobre o espaço urbano, socialmente construído, mutável e repleto de dinamicidade que as relações de violência vão se estabelecer, se dando, de um lado, sob a forma de atos como: sequestros, assassinatos, assaltos entre outros, e de outro, com a construção de novos “feudos” que enclausuram aqueles que podem pagar por esse modelo de (in)segurança, reafirmando as relações de individualismo e reforçando a ideia de que os indivíduos que não se enquadram no estereótipo de consumidor ativo são mercadorias que podem ser descartadas.

E é neste mesmo espaço (o urbano) que vai se estabelecer a criminalidade, pautada em ações contra a vida e o patrimônio, que vai provocar, a cada dia, um maior isolamento das famílias em suas residências, vivenciando aquilo que Rodrigues aponta como a sociedade dos “incógnitos”.

Restam alguns questionamentos: até que ponto, as ideias anteriormente apresentadas diferem daquilo que nós vivenciamos, cotidianamente, em nossa cidade? Em que medida o poder público tem se manifestado a fim de proporcionar aos contribuintes a devida segurança? De que maneira vocês/nós/toda a sociedade temos nos comprometido com a causa de se lutar por relações menos desiguais, e, por conseguinte, por uma cidade menos violenta? Vale a pena refletir.

Rafael Gama Moreira é Professor de Geografia, Vice-Diretor e Coordenador Pedagógico da Cooperativa Educacional de Itabuna (COOPEDI).

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