MUNDO VISTO POR SAPO NO FUNDO DO POÇO

O TERMO “PRESIDENTA” É ANTERIOR AO PT
A palavra presidenta é muito mais velha do que o grupo político hoje no poder em Brasília. O português Castilho (Antônio Feliciano de), nascido em1800 (e lá se vão dois séculos e pico!), a empregou – citado por Mário Barreto (Novos Estudos da Língua Portuguesa). Ariano Suassuna também grafa presidenta várias vezes na sua obra maior, O Romance d´A Pedra do Reino/1971. Numa busca rápida (minha edição – a 5ª da José Olympio – tem mais de 750 páginas!), encontro duas referências (pág. 304 e 391): ele trata Dona Carmem Gutierrez Torres Martins como “presidenta perpétua” da enigmática entidade As virtuosas damas do cálice sagrado de Taperoá.
GROTESCA “AULA” DE PRECONCEITO E MÁ-FÉ

AFINAL, QUAL É A PIOR FALA BRASILEIRA?

SÃO PAULO EXPORTA PARA TODO BRASIL
Há expressões de paulistês que incomodam ouvidos habituados à pronúncia “nacional”, o padrão Rio de Janeiro (de acordo com Antenor Nascentes). É mal falado o português que chama a letra E (aberto) de Ê (fechado) – ou apelida o O de Ô. Sotaques de gente como Sabrina Sato (tenho um Asterix e os Vikings dublado por ela, uma tragédia) e Neto (aquele que comenta futebol na tevê) agridem ouvidos não paulistas. Mas o filólogo Marcos de Castro (obra citada) destaca como a pior coisa que se faz em São Paulo a frase do tipo “Nós estamos em cinco”, que ele diz ter ouvido até do carioca Jô Soares. Exportação de São Paulo, para o Rio.
DON FERNANDO PEREIRA LEITE, O GROSSO

VIVEMOS NOS TEMPOS DE CAVALO VELHO

A PARAÍBA, APESAR DA FAMA, É FEMININA
“Paraíba masculina, mulher macho, sim senhor!” – diz o verso de Humberto Teixeira, gravado por Luiz Gonzaga, e que tanto constrangimento causou à mulher paraibana. O pior de tudo é que a “maldade” foi feita a um dos, se bem me lembro, dois únicos estados brasileiros “femininos”. O outro é a Bahia. Há predominância de nomes “masculinos” (Amazonas, Rio de Janeiro, Amapá, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e outros) e “neutros” (Goiás, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe, por exemplo). “Eu vim da Bahia/ e algum dia eu volto pra lá”, diz a canção de Gil. Fala-se “Vim do Rio (ou do Pará e do Tocantins) e “Vim de São Paulo (de Brasília, de Goiânia, de Macuco).
OS ESTRANHOS POENTES DE TELMO PADILHA
Imagino (e tomara que os linguistas não me vejam como gafanhoto na seara que lhes pertence) que se trata, nos casos de São Paulo, Minas, Goiânia, Sambaituba e semelhantes (que não aceitam o artigo ”o” ou “a”), de vestígio do gênero neutro latino. Mas deixo a explicação para quem dispuser de melhor engenho e arte do que eu. “Que artista é este que pinta/ estranhos poentes em Ilhéus?”, interroga Telmo Padilha, abonando nossa tese: o poeta não poderia dizer no ou na Ilhéus (a palavra, para este efeito, não é masculina nem feminina). Mas essa forma “neutra” também sofre pressão de escolhas regionais. O exemplo que me ocorre é Recife. Ou… o Recife.
ANTÔNIO MARIA TINHA SAUDADE DO RECIFE
“Eu nasci em Recife” seria a construção a nos tentar, pois a cidade, aparentemente, está no grupo dos neutros. Mas os recifenses fizeram sua própria regra: vou ao Recife, moro no Recife, gosto do Recife, pretendo passar o carnaval no Recife. Esse falar é típico local, para quem Recife é masculino, sim senhor. Gilberto Freire (foto) escreveu Assombrações do Recife Velho e Roberto Beltrão, no rastro, O Recife assombrado. “Sou do Recife/ com orgulho e com saudade” – chora o grandalhão Antônio Maria, no Frevo nº 3 do Recife. Observe-se a “masculinização” da palavra, a partir do título da música, cantada aqui por Geraldo Maia (ousei um incidental de Frevo nº 1 do Recife, do mesmo autor, com Betânia).
(O.C)
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bobeira é perder tempo com bobagens.
já fui preconceituoso, já fui anti-preconceituosos.
Hoje rio de tudo para não chorar; as vezes.
ps.: continuo gostando, por demais, dessa coluna.
Quanto a o topônimo “Recife” pedir o artigo masculino na construção de frases. Há uma regra (talvez não escrita ou não oficial, mas regra existente) que manda pôr o artigo em topônimos designativos de acidentes geográficos. Assim é “o” Rio (de Janeiro, Grande do Sul / do Norte), “o” Cabo, “a” Bahia, e outros. E assim é “o” Recife. E assim deveria ser em outros topônimos em que o artigo anterior não vingou, como “as” Alagoas (esse ainda é usado algumas vezes), “o” Maceió, “os” Ilhéus.
Saudade Ousarme!
Sou sua fã mais ardorosa, sinto muita falta da curiosidade domingueira de ler Universo Paralelo. Está valendo meu humilde pedido de que esta bela coluna seja lançada em livro com todos
os pormenores eletrônicos.
Ah, presidenta ou presidente, sou fã da Dilma Roussef, mulher-destaque pela coragem de comandar com maestria – apesar das oposições -, um grupo de homens machistas e viciados em poder naquele Planalto de meu Deus. Ela não é qualquer presidente, é PresidentA, mesmo!