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rpmRosivaldo Pinheiro | rpmvida@yahoo.com.br

 

Não podemos continuar sem fazer o enfrentamento necessário, ou timidamente acreditar que teremos uma nova cidade sem que mergulhemos de cabeça e com cooperação mútua.

 

Semana passada, caminhando em um determinado bairro de Itabuna, deparei-me com três relatos de filhos que presenciaram o assassinato dos próprios pais quando ainda não passavam dos cinco anos de vida. As avós me contaram os fatos no geral, mas foram as crianças, hoje com cerca de oito anos de idade, que acrescentaram alguns detalhes.

São relatos duros, estarrecedores, já ouvi outros e confesso que sempre nos levam a um grande sofrimento, por tristeza e sentimento de impotência. Nesses momentos percebo nas falas um pedido de socorro para além do desabafo, e ao mesmo tempo vejo a banalização da vida. A dor e sofrimento produzidos pelos episódios geram aos familiares e à comunidade um comportamento de aceitação tácita, principalmente pelo pensamento de que os assassinatos fazem parte do risco de viver em uma cidade com conflitos gerados por organizações criminosas.

Fico a me perguntar como fazer para possibilitar um horizonte de rompimento do ciclo da violência imposto para as famílias que se encontram nesse universo estatístico. Na maioria das situações que encontrei apenas nesse dia, as avós paternas assumiram a criação dos netos para que as mães deles pudessem buscar o sustento da família ou ficar livres para criar um novo vínculo matrimonial. Como possibilitar superação aos filhos vitimados por essas ocorrências? Como desenvolver ações de inserção socioeconômica para suprir as carências imediatas dessas famílias? Um sem-número de perguntas sem respostas que fica no ar…

As diversas necessidades da nossa cidade muito têm a ver com um processo histórico de falta de políticas públicas que contemplem diretamente investimentos no ser humano. Nossa população está submersa em uma série de conflitos muitas vezes imperceptíveis aos olhos dos que detêm poder e responsabilidade para o enfrentamento desses males. Nesse aspecto, a responsabilidade recai não apenas sobre os que têm cargos eletivos, mas também sobre o Ministério Público e, consequentemente, o Poder Judiciário, que pouco se insere na realidade concreta do cotidiano dos cidadãos, especialmente os que estão geográfica e socialmente residentes nas periferias da cidade.

As polícias Militar e Civil poderiam, com as ocorrências criminais, tabular e fornecer dados para o conselho de segurança, que, vale lembrar, está desativado em Itabuna. A falta de um conselho dificulta a articulação com os diversos segmentos da sociedade, e, consequentemente, respostas que permitam a superação do problema detectado. Não podemos continuar sem fazer o enfrentamento necessário, ou timidamente acreditar que teremos uma nova cidade sem que mergulhemos de cabeça e com cooperação mútua.  O município, por meio do conselho, precisa fazer uma ampla interlocução e exigir ação concreta do Estado e da União. Acredito nos valores da sociedade e só por esse caminho consigo vislumbrar a superação desse ciclo da violência.

Rosivaldo Pinheiro é economista, com especialização em Planejamento e Gestão de Cidades.

Uma resposta

  1. Não são politicas pulblicas que vai substituir os valores que a familia se permitiu perder, talvez convocar as familias ao seu papel, e difundir a responsabilidades dos diversos pares da sociedade, esse sim é o papel do Estado.

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