Tempo de leitura: 4 minutos
Ministra de Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou, nesta terça-feira (28), um documento científico com considerações sobre a proposta do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, de indicar a abstinência sexual como método eletivo para prevenção da gravidez na adolescência e outras situações de risco à saúde reprodutiva e sexual.No texto, a entidade enfatiza que o amplo acesso à educação e à informação, associado à disponibilidade de serviços de saúde qualificados, representam a única ferramenta comprovadamente eficaz para lidar com a questão.

A SBP reitera o posicionamento de diferentes instituições científicas internacionais que, após a análise de estudos publicados a respeito da eficácia de programas de educação sexual, apontam graves falhas científicas e éticas da abordagem para abstinência sexual exclusiva. Nesse contexto, a entidade ressalta a urgência da elaboração de políticas públicas sempre embasadas em orientações cientificamente reconhecidas e amplamente discutidas entre os especialistas brasileiros e de outros países.

De acordo com a SBP, o tema da prevenção da gravidez em adolescentes é extremamente importante e exige maiores esclarecimentos e informações, sobretudo para serem repassados aos pais e aos próprios adolescentes. Especificamente sobre o início da vida sexual, questões biológicas, psicológicas e sociais precisam ser consideradas neste contexto, segundo os especialistas. Acesse documento aqui.

DIFICULDADE NO PLANEJAMENTO FAMILIAR

Para a entidade, a ausência do uso de métodos contraceptivos, a dificuldade de acesso a programas de planejamento familiar e sobretudo a falta de informação adequada e sistematizada para os jovens têm contribuído para o aumento da gravidez precoce. Além disso, o início cada vez mais precoce da puberdade constitui outro fator relevante, com repercussão na ampliação do intervalo entre o preparo físico do corpo para a atividade sexual e o amadurecimento psicossocial necessário à prática da sexualidade.

Segundo o documento científico da SBP, para fazer frente a essa problemática, diversas possibilidades têm sido aventadas e testadas em todo o mundo. Os Estados Unidos, por exemplo,que detêm um dos maiores índices de gravidez na adolescência entre os países desenvolvidos, têm gastado bilhões de dólares na busca de alternativas.

“O que ensina a experiência americana? Os resultados evidenciam que estratégias combinadas são mais efetivas do que aquelas isoladas. Várias críticas têm sido feitas ao programa americano que estimula unicamente a abstinência sexual entre os adolescentes até o casamento, principalmente pela baixa eficácia de resultados e alto custo”, informa o texto.

Além disso, conforme destaca a publicação, a abordagem de abstinência sexual exclusiva exclui da política de prevenção uma série de grupos, incluindo os adolescentes sexualmente ativos, aqueles que já são pais, os que não se consideram heterossexuais e as vítimas de abuso sexual.

De acordo com a presidente da SBP, a médica Luciana Rodrigues Silva, muitas mudanças ocorreram nos âmbitos biológicos e culturais e todos os profissionais que lidam com os adolescentes sabem que a iniciação sexual ocorre cada dia mais precocemente, sendo que apenas a informação adequada pode evitar tanto a gravidez precoce quanto as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).

“A abstinência somente é saudável se for uma escolha genuína do adolescente e não uma imposição ou a única opção oferecida. É fundamental garantir espaço para a autonomia. Qualquer programa com o objetivo de reduzir a prevalência de gravidez precoce deve promover o acesso à orientação adequada. Nesse sentido, é importante considerar a educação, tanto no meio familiar quanto na escola, e sobretudo a assistência à saúde, com destaque para a figura do pediatra, que nos últimos anos tem sido paulatinamente retirado dos programas de Atenção Primária”, comenta.

INTENÇÕES FALHAS

Para a presidente da SBP, embora teoricamente protetoras, as intenções de abstinência geralmente falham, pois esses programas não são eficazes para retardar o início das relações sexuais ou alterar comportamentos de risco. Por outro lado, pesquisas nacionais e internacionais demonstram que, quanto mais bem informados são os adolescentes, mais postergam a iniciação sexual, cultuam o respeito aos outros e buscam projetos de vida.

“Cada adolescente precisa ser acompanhado pelo seu pediatra. Nas consultas, são apresentados todos os métodos contraceptivos, avaliadas as contraindicações e enfatizada a necessidade de dupla proteção: anticoncepcional associado ao uso de preservativo. Esse é o local adequado para que as dúvidas do paciente e seus familiares sejam respondidas, uma vez que essas questões comportamentais e sociais devem ser consideradas de modo individualizado”, conclui a dra. Luciana.

Entre as medidas desenvolvidas pela SBP para fortalecer a disseminação da educação sexual, estão os documentos científicos elaborados pelo Departamento Científico de Adolescência da entidade: “Prevenção da Gravidez na Adolescência” e “Anticoncepção na Adolescência”, além do documento complementar sobre “Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs)”.

A SBP enviou ofício ao Ministério da Saúde, no qual apresenta as evidências científicas sobre o tema e aponta recomendações para reduzir o número de casos de gestações precoces na população com até 19 anos. No texto, a entidade solicita a análise dos argumentos apresentados e se coloca à disposição para contribuir com a formatação de ações que tragam aos jovens brasileiros acesso à saúde e à qualidade de vida, o que implica, inclusive, em contar com condições de fazer seu planejamento familiar e de se proteger de Infecções Sexualmente Transmissíveis.

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *