O presidente Jair Messias Bolsonaro e sua frase mais sincera: "Eu sou do Centrão"
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Na metáfora batida do campo político como tabuleiro de xadrez, Bolsonaro é aquele peão dobrado no canto, que, ignorado pela estratégia adversária, avança até a casa de promoção: a Presidência da República.

Thiago Dias

O samba Reunião de Bacana, composto por Ari Alves de Souza e Bebeto Di São João, ganhou uma famosa paródia do general Augusto Heleno, em 2018, quando o deputado Jair Bolsonaro vendia, com sucesso, a imagem de que era um político antissistema.

Naqueles tempos, com boa parte da classe política manchada pelas revelações da Operação Lava Jato, interessava ao candidato dizer que não fazia parte do jogo, mesmo estando nele há três décadas. Com o senso de humor e a afinação musical dos generais, Heleno cantou: “Se gritar ‘Pega Centrão!’, não fica um, meu irmão”.

Na boca de um general, a paródia trazia a mensagem de que Bolsonaro não governaria com o toma lá da cá do presidencialismo de coalizão. Afinal, tinha ao seu lado os melhores quadros políticos do país, os militares, a exemplo do general Eduardo Pazuello, especialista em logística em tempos de crise. Sem falar no ilustrado Posto Ipiranga, Paulo Guedes, fiador de Jair nos negócios com o mercado. 

Com esse time de notáveis, quem precisa do Centrão? Candidatos pretensamente outsiders não precisam, mas presidentes fracos, certamente.

Bolsonaro sabe disso e se pôs a listar as legendas pelas quais passou na sua longa estadia na Câmara dos Deputados. “Centrão é um nome pejorativo. Eu sou do Centrão, eu fui do PP metade do meu tempo, fui do PTB, fui do então PFL. No passado, integrei siglas que foram extintas, como PRB, PPB. O PP, lá atrás, foi extinto. Depois, nasceu novamente da fusão do PDS com o PPB, se não me engano”, discorreu o presidente, nesta quinta-feira (22), em entrevista à Rádio Banda B de Curitiba.

Esse foi um dos raros momentos de explanação sincera de Bolsonaro em público. Quando disse “Eu sou do Centrão”, afirmou duas verdades. Primeiro, a de que o antigo deputado falastrão sempre fez parte do clube ironizado por um Heleno que não existe mais. Mesmo distante do centro das decisões sobre o destino do país, tinha lá seus cargos de assessoria para rachar com amigos, apartamento funcional para comer gente, diárias, passagens de avião e um belo salário.

Na metáfora batida do campo político como tabuleiro de xadrez, Bolsonaro é aquele peão dobrado no canto, que, ignorado pela estratégia adversária, avança até a casa de promoção: a Presidência da República.

A segunda verdade é que Bolsonaro é do Centrão não só por sempre ter estado lá, como membro insignificante do clube, mas também porque passou aos antigos correligionários o comando do seu governo. Na Casa Civil, caberá ao futuro ministro Ciro Nogueira (PP-PI) administrar o orçamento de R$ 12 bilhões para emendas parlamentares de autoria secreta. Enquanto isso, na Câmara, Arthur Lira (PP-AL) continua sentado numa pilha de petições de impeachment.

Thiago Dias é repórter e comentarista do PIMENTA. Este comentário não representa, necessariamente, a opinião do site.

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