Secretária Sônia Fontes explica funcionamento da coleta seletiva em Itabuna || Foto Pedro Augusto
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A cena é a mesma de milhares de cidades brasileiras. Num terreno afastado do centro comercial, acumulam-se montanhas de lixo onde humanos disputam espaço com porcos, urubus e outros animais. A chegada de nova carga de resíduos gera expectativa em que procura coisas com algum valor comercial. Com o tempo, a presença demorada acostuma o olfato aos gases da matéria em decomposição, porque o embotamento desse sentido é requisito para se adaptar ao ambiente. À noite, nos barracos perto dali, algumas horas de sono antes da próxima jornada. Resumida de grosso modo neste recorte do tempo, assim era a vida das 161 pessoas que trabalharam por anos no lixão de Itabuna, fechado pela Prefeitura no dia 4 de maio de 2021.

“Era uma vergonha do município há mais de 40 anos”, diz a secretária de Planejamento de Itabuna, Sônia Fontes, ao explicar à reportagem do PIMENTA a implementação do projeto Recicla Itabuna, que iniciará o serviço de coleta seletiva do município na próxima quarta-feira (26).

Arquiteta e urbanista, Sônia Fontes relembra que o esboço do projeto nasceu em 2020, no plano de governo do então candidato a prefeito Augusto Castro (PSD). Naquela altura, sabia-se que, dali a dois anos e meio, em julho de 2022, venceria o prazo da Política Nacional de Resíduos Sólidos para o fim dos lixões nos municípios com mais de 100 mil habitantes – a população de Itabuna é estimada em 214 mil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No ano passado, quando assumiu a Prefeitura, o prefeito Augusto Castro elegeu a gestão dos resíduos sólidos como uma das frentes prioritários do governo, explica a secretária de Planejamento. Com a decisão, em maio de 2021, o município passou a destinar seus resíduos à Central de Valorização de Resíduos Costa do Cacau (CVR), que inaugurou aterro sanitário no mesmo ano, às margens da Ilhéus-Itabuna (BR-415).

A SAÍDA

Augusto Castro inaugura Central de Triagem de Reciclagem || Foto Roberto Santos

O fim do lixão exigiu abordagem interdisciplinar, afirma a secretária Sônia Fontes. Além da equipe de planejamento, o trabalho envolveu as secretarias de Infraestrutura e Urbanismo e de Promoção Social e Combate à Pobreza. Esta última teve papel decisivo na criação das condições para que os catadores pudessem deixar o local.

Numa parceria da Promoção Social com a CVR, de maio a novembro de 2021, todos os 161 trabalhadores receberam auxílio mensal de R$ 432,00, além de cestas básicas e recursos do Aluguel Social. Também participaram do Seminário de Capacitação de Catadores de Material Reciclável. Além disso, com auxílio da Prefeitura e sob a supervisão do Ministério Público do Trabalho e da Defensoria Pública do Estado da Bahia, formaram a Associação Itabuna Recicla para Viver Melhor. A entidade vai administrar a Central de Triagem de Material Reciclável, inaugurada na sexta-feira (21) com a presença de Augusto Castro.

Ao longo desse percurso, segundo a secretária, os catadores aprenderam nova forma de viver do lixo urbano. Na segunda (24) e terça-feira (25), antes do início da coleta seletiva, eles receberão treinamento intensivo para lidar com o maquinário da central de triagem, que foi montada com o apoio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (Setre) e da CVR. Os custos de manutenção, como as contas de energia e de água, ficarão a cargo da Prefeitura.

A COLETA

Nesta primeira etapa, a coleta seletiva vai absorver 3% dos resíduos produzidos no município, estima Sônia Fontes. O governo pretende avaliar o alcance e a execução do Recicla Itabuna a cada três meses.

A princípio, a separação será a mais básica, isolando o lixo orgânico, a exemplo restos de comida, dos materiais secos, como papelão, embalagens plásticas, garrafas pet, metais, vidros, latinhas, etc.

A cidade terá ecopontos permanentes nas praças dos bairros São Caetano, Mangabinha, Conceição, Santo Antônio e Califórnia, além das praças Adami e Camacan, no Centro, e na Avenida Aziz Maron.

Às segundas-feiras, a coleta porta a porta ocorrerá das 8h às 10h no Jardim Vitória; das 10h às 12h no Góes Calmon; e das 14h às 16h30min no Conceição. Moradores do bairro de Fátima serão atendidos sempre às terças, pela manhã e à tarde. Na Califórnia, a coleta será às quartas, também em dois turnos; já o Conceição será atendido às quintas. O comércio terá coleta diária. As sextas-feiras serão dedicadas aos prédios dos órgãos municipais.

No final da conversa, o PIMENTA perguntou à secretária sobre a expectativa quanto à adesão dos munícipes, que têm sido sensibilizados por campanha de educação ambiental. Conforme Sônia Fontes, o município se esforçou muito para instaurar um novo momento de cidadania, investindo recursos arrecadados de todos os contribuintes. Agora, cabe à população corresponder.

“A gente precisa que cada cidadão comece a se conscientizar de que é preciso fazer essa separação, já que o lixo reciclável é rentável e disso depende a nossa sobrevivência. A nossa sobrevivência ambiental e a sobrevivência de muitas pessoas, porque a rede de reaproveitamento é muito maior do que apenas os catadores. Inclusive, é uma cadeia muito forte no mundo e no Brasil”, concluiu a gestora.

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