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Presidente do PCdoB da Bahia e secretário estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Davidson Magalhães vê um cenário diferente na sucessão do governador Rui Costa após as movimentações políticas dos dois últimos meses. “Tiramos aquele pessimismo que ocorreu [com a desistência de Jaques Wagner]”, avalia o político e também professor universitário. “A eleição agora dá um grande impulso, com possibilidade real de vitória de Jerônimo [Rodrigues, do PT]”, completa. 

Na entrevista a seguir, Davidson fala da desistência de Wagner, da saída do PP da base governista e da chegada do MDB. Destes três movimentos, ele conclui que não houve a imaginada sangria na base e que a recomposição se deu de forma rápida. 

Ainda opina que o governador Rui Costa demonstrou sua capacidade de aglutinação, fazendo gestão e política – contrariando o que dizia o antes aliado Marcelo Nilo, deputado federal que deixou a base e pode ser candidato a vice-governador na chapa de ACM Neto (União Brasil).

Davidson ainda fala dos próximos passos da pré-campanha e campanha de Jerônimo. E por que ele acredita na vitória do petista na corrida ao Palácio de Ondina? A aposta do presidente estadual do PCdoB, dentre outros fatores, se dá pelos cabos eleitorais fortes do petista, o governador Rui Costa e o ex-presidente Lula. Confira a entrevista concedida ao Pimenta e ao Diário Bahia.

Como o sr. avalia a pré-campanha de Jerônimo Rodrigues?

Tiramos aquele pessimismo que ocorreu [com a desistência de Jaques Wagner] e a impressão de que as eleições eram favas contadas [para ACM Neto]. A eleição agora dá um grande impulso, com possibilidade real de vitória de Jerônimo.

Na sua avaliação, o que mudou para que ocorresse essa mudança de perspectiva eleitoral?

Sempre reclamavam de que o governador [Rui Costa] não fazia política. Temos um governador bem avaliado, um dos principais cabos eleitorais de Jerônimo. Rui foi a campo e demonstrou, dentro deste espaço de prefeituras e de lideranças regionais, a sua capacidade de aglutinação.

E a saída do PP?

Parecia que iríamos ter uma sangria. E isso não ocorreu. Foi importante a atitude do governador de virar essa chave, de casar administração com política. Rui só chegou a 16% em agosto. Jerônimo chegou a isso agora em maio. Então, é um crescimento muito grande. Veja: os governadores anteriores não iam aos municípios. Rui e Jaques Wagner mudaram essa cultura de governador ficar no Palácio [de Ondina]. Rui e Wagner foram aos municípios, visitaram bases, constituíram bases. O segundo elemento dessa estratégia é a discussão do PGP [Programa de Governo Participativo] nas regiões, também pega e aglutina as forças políticas nas regiões, que estavam distanciadas.

 

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Sempre reclamavam de que o governador [Rui Costa] não fazia política. Temos um governador bem avaliado, um dos principais cabos eleitorais de Jerônimo. Rui foi a campo e demonstrou, dentro deste espaço de prefeituras e de lideranças regionais, a sua capacidade de aglutinação.

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O PGP é feito por regiões. Não é limitado quanto a capilaridade eleitoral?

É uma estratégia positiva, porque faz a região, faz centralizado na região, mas há todo um processo de articulação política nas regionais. Isso é a fase da pré-campanha, fundamental para fazer isso.

Com o nome de Jerônimo desconhecido do eleitorado, essa é a melhor estratégia?

Acho que sim. Tem que conjugar com um terceiro momento, que são as ações de massa com pré-candidaturas [a deputado], porque isso vai colocando Jerônimo em contato com as lideranças. Acho que vai ser rediscutida essa agenda de pré-campanha, porque a agenda precisa ir, agora, nos pré-lançamentos de campanhas, que reúne a base eleitoral dos candidatos. Então, não é mais falar só para lideranças. Essa etapa do PGP e das discussões das ações de governo vai continuar, porque é muita ação de governo, é muita coisa.

E quais seriam as outras estratégias para que o pré-candidato ganhe visibilidade?

Temos aí junho e esse período de São João, toda uma agenda que exponha ele, além das inserções de TV, que precisamos aproveitar para projetá-lo ainda mais. Claro, hoje é diferente do passado, hoje você tem as redes sociais, que aceleram processo de conhecimento.

Claro que a população ainda não está pensando em eleição. Então, quando a gente associar as ações e êxitos do governo, passada essa etapa de PGPs e outras ações e massificar as ações políticas, vinculando Jerônimo aos nomes do Lula, do Rui e do Wagner e do reforço com a candidatura do Otto… A saída do Leão foi um grande prejuízo político… Leão tinha estatura de vice-governador.

 

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A vinda do MDB causou prejuízo na principal base eleitoral do ACM Neto, que é Salvador. E aquela saída do MDB [do grupo de Neto] foi muito simbólica. Trouxe um partido do centro, mas não só isso.

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Essa recomposição após a saída de Leão, o sr. acha que foi rápida?

Tem um dado importante, que foi a vinda do MDB, o que causou prejuízo na principal base eleitoral do ACM Neto, que é Salvador. E aquela saída do MDB [do grupo de Neto] foi muito simbólica. Trouxe um partido do centro, mas não só isso, pois trouxe o presidente da Câmara de Salvador, [Geraldo Junior, escolhido pré-candidato a vice da chapa], e bagunçou o projeto deles de hegemonia completa em Salvador. Então, isso foi importante do ponto de vista da chapa majoritária, pois trouxe a liderança do presidente da Câmara. Foi um fato político. Somado tudo isso, cria um caldo muito propício à vitória [de Jerônimo].

O que o sr. tem visto que prenunciaria um “repeteco” das 4 últimas eleições, esse caldo a que o sr. se refere?

São os eventos, a reação das lideranças. Você não está vendo grande desagregação da base eleitoral que elegeu Rui, que elegeu Wagner. Do primeiro mandato para o segundo [de Wagner], saiu o MDB, entrou o PP. Agora, saiu o PP, entrou o MDB. Você não teve, do ponto de vista político, uma desagregação dessa base, que se manteve unida.

Quando chegar o final de julho, início de agosto, você acredita que mantém essa base de apoio nos municípios?

Muito se fala ´ah, os prefeitos estão querendo pegar convênio’. Mas aí entra o Fator Lula. Ele não pode entrar agora, com força, porque ainda não estamos na campanha eleitoral. Lula veio aqui uma vez [em março, no lançamento da pré-candidatura de Jerônimo], mas ele não tá visível na pré-campanha, pedindo voto. Quando esses que podem vacilar tiverem a perspectiva de vitória federal e o crescimento estadual… Nós ganhamos a primeira eleição com quantos prefeitos? A base tem em torno de 300 prefeitos. Em 2006, com Wagner, ganhamos com 30 prefeitos. Com essa ação do governo estadual… Me diga, qual a região que o governo não está presente, não está forte? Uma região que tínhamos uma certa fragilidade política era o extremo-sul.

 

 

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No extremo-sul, na enchente, Rui, Wagner, Otto Alencar, as nossas lideranças, todo mundo colocando o pé na lama para acudir o povo. Outras lideranças tiveram férias no exterior… Isso chamou muito a atenção do povo. Falta de solidariedade.  

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Por que o sr. considera que o quadro mudou?

No extremo-sul, na enchente, as lideranças políticas de responsabilidade, todas elas, tiveram presença efetiva no extremo-sul. Rui, Wagner, Otto Alencar, as nossas lideranças, todo mundo colocando o pé na lama para acudir o povo. Outras lideranças tiveram férias no exterior… Isso chamou muito a atenção do povo. Falta de solidariedade. O povo passando necessidade, ponte caindo, mortes, e onde estavam algumas lideranças políticas? No exterior, tomando champanhe francês, fora daqui.

A expectativa é de que a transferência de votos de quem vai votar em Lula e de quem votou em Rui nas últimas eleições seja principal trunfo para eleger Jerônimo governador?

Qual é o elemento importante? Quando alguém é candidato, representa um grupo, um conjunto de ações, não é ele sozinho. Representa um campo político. Quando sai um nome novo, como foi Jerônimo – e da forma que saiu e que pegou muita gente de surpresa, inclusive, nós, que estávamos na direção de campanha, quer dizer, até que cole a imagem do grupo ao candidato, leva um tempo, mas, na hora que cola, não tem jeito. É 13, aí você coloca as pesquisas… Isso é um processo de transferência de votos da liderança. É normal isso. Quantos prefeitos pegam aí candidato pouco conhecido e elegem? Ali é a expressão da liderança dele.

A expectativa é de esse louro aí seja colhido em que mês da campanha?

Aí vai depender muito de desempenho. Você vê com Rui, com Wagner. Olhe bem como foi Wagner. Eu estava na coordenação. O último evento da campanha de Wagner foi onde? Em Itabuna, aqui na região inteira, depois caminhada na Cinquentenário. No outro dia, o que as pesquisas diziam, na véspera da eleição? Sábado, a pesquisa dava dúvida se iria ter segundo turno. O cara [Wagner] ganha no primeiro. Então, a gente tem que ter convicção. Essa vitória [de Jerônimo] está bem encaminhada. Na Bahia, estamos no caminho certo da vitória.

 

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A terceira via desapareceu… Eu acho que vai acontecer um fenômeno, de acumular ainda mais votos para Lula, o voto útil. É bem provável que essa eleição seja decidida no primeiro turno.

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E no plano federal?

A rejeição de Bolsonaro é enorme. Ninguém ganha com uma rejeição daquela [refere-se à pesquisa Ipespe, divulgada na semana de 20 de maio]. A terceira via desapareceu… Eu acho que vai acontecer um fenômeno, de acumular ainda mais votos para Lula, o voto útil. É bem provável que essa eleição seja decidida no primeiro turno.

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