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A professora Leninha Vila Nova, diretora do Núcleo Territorial de Educação Litoral Sul (NTE-5), defende que uma avaliação honesta do ensino nas escolas estaduais da Bahia não pode se resumir ao Índice Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

“Na educação em geral, alguns fatores interferem tanto nas condições de aprendizagem do sujeito quanto nas possibilidades de ensino. Não se pode falar do Ideb sem fazer alguns levantamentos e associações. A gente sabe que esse menino da escola é o mesmo sujeito que está numa casa sem condição de moradia, sem segurança alimentar, sem condição mínima de sobrevivência. Isso interfere nos processos cognitivos e até na permanência dele na escola”, diz a gestora ao PIMENTA.

Considerando todas as séries, Bahia bateu metas do Ideb de 2009 a 2019

Considerando as séries do Fundamental ao Médio, a Bahia bateu todas as metas do Ideb de 2009 a 2019, o mais recente disponível no portal do Ministério da Educação. Considerado de forma isolada, o desempenho das turmas de terceiro ano do Ensino Médio das escolas estaduais não atinge as metas desde 2011 e é o último no ranking dos estados brasileiros. É deste dado que a oposição ao governo Rui Costa se vale para afirmar que a Bahia tem a pior educação do Brasil.

Desempenho do 3º ano do Ensino Médio não bate metas desde 2011

Leninha reage. “Quando eles falam da educação, é porque não conhecem. Quem tem que falar é quem conhece, quem estudou e quem está no chão de uma escola para dizer o que é educação. Nós, professores, não podemos permitir que qualquer pessoa abra a boca para dizer que não sabemos ensinar. Porque, se eles falam que os alunos não aprendem, é porque não tiveram quem ensinasse, e não é esse o elemento”.

Perguntamos à gestora como comparar a rede estadual que a Bahia tem hoje com a do passado, indo além dos números do Ideb. “Primeiro, a gente precisa deixar claro que eu, como professora, pesquisadora, acredito que esse índice deve existir. O exame externo é importante para o financiamento e para uma leitura [da política] de Estado. Precisa existir”, enfatiza Leninha Vila Nova.

“Não estou falando mal do índice”, continua. “Ele não é descartável. O que discuto é que não é o Ideb que autoriza afirmar se a educação da Bahia é ou não a pior. Quando a gente diz que o fim, o resultado, é o que vale, a gente nega o processo”.

ACESSO À ESCOLA

O site perguntou à diretora do NTE-Sul quais são as evidências de que a educação no estado é melhor hoje, na comparação com o período anterior a 2007. Para ela, a resposta está no aumento da acessibilidade à escola, na diminuição da evasão escolar e na menor ocorrência da distorção idade/série.

“No início dos anos 2000, você não via deficientes na escola. Não via uma escola para todos. O filho do trabalhador rural não tinha uma escola no campo. Como vejo que a educação da Bahia melhora? Quando ela alcança uma população que não alcançava. O acesso importa. Hoje, tenho escolas com autistas. Quem está na escola? É o filho do trabalhador, do quilombola. Neste ano, cinco estudantes de presídios entraram na universidade federal. Nunca tinha acontecido isso. São esses recortes sociais e dos fluxos internos de aprendizagem que nos fazem acreditar que a educação da Bahia está melhor”.

A oposição à direta dos governos do PT, segundo Leninha Vila Nova, não consegue analisar a educação de forma abrangente. “Esse é um olhar da qualidade social [do processo ensino-aprendizagem], que é nosso, da esquerda, do campo progressista. Volto a dizer: só sabe falar disso quem é da educação. Quem não é da educação precisa de um número: ‘era cinco, agora é sete, então melhorou'”.

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