Henrique Dantas retoma produção de "Silêncio", seu primeiro longa de ficção || Foto João Paulo Barreto/Screamyell
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Thiago Dias

O cineasta Henrique Dantas voltou a trabalhar na produção de seu primeiro longa-metragem de ficção, chamado provisoriamente de Silêncio. Ele ainda está em busca de apoio da iniciativa pública ou privada, como reportado pelo PIMENTA anteriormente (relembre).

Nascido em Salvador, Henrique viveu dos 7 aos 16 anos em Ilhéus. A ligação com a cidade foi decisiva para a escolha de rodar o filme no sul da Bahia. A história revisita os impactos do terrorismo de estado, promovido pela ditadura empresarial-militar, sobre famílias sul-baianas. O elenco reúne grandes nomes da dramaturgia nacional, a exemplo Helena Ignez, Fabrício Boliveira e Luiz Pepeu, que formam o núcleo familiar da trama.

Com 27 anos de carreira, Henrique levou os prêmios de melhor filme e do júri do Festival de Brasília, com o documentário Filhos de João – Admirável Mundo Novo Baiano (2009). Também venceu o Festival Internacional de Cinema Político na Argentina e o Festival de Cinema de Vitória, onde apresentou A noite escura da alma (2015), também sobre a ditadura. Em Dorivando Saravá – o preto que virou mar, o cineasta retratou vida e obra de Dorival Caymmi, com o auxílio luxuoso de artistas como Gilberto Gil e Tom Zé.

As credenciais do artista ainda não foram o bastante para despertar o interesse do governo ilheense. Apesar de inúmeras tentativas, até o momento, ele não obteve resposta da Prefeitura de Ilhéus sobre a possibilidade de o município auxiliar a equipe com hospedagem e o acesso a locações, por exemplo. A cidade teria contrapartidas asseguradas pelos realizadores, como a exibição de imagens de cartões-postais (Catedral São Sebastião, Lagoa Encantada e Ponte Jorge Amado) e da marca da Prefeitura no filme.

A peleja de Henrique para obter ao menos uma resposta do governo tem uma camada pessoal, revelada ao site pelo cineasta. Durante nove anos, ele estudou na mesma turma do prefeito Mário Alexandre, Marão (PSD), no Instituto Nossa Senhora da Piedade, em Ilhéus. Nem a amizade dos tempos de escola facilitou o acesso do cineasta ao mandatário.

Com uma ponta de frustração na voz, Henrique compara o tratamento que recebe em Ilhéus à receptividade de outros municípios. “Ontem, passamos por Nilo Peçanha e a Prefeitura, entendendo a importância da cultura para o turismo da cidade, precisou de 30 minutos para conceder o apoio pretendido”, disse ele ao PIMENTA, neste sábado (21). A Prefeitura disponibilizou ônibus para transportar a equipe de filmagem e o elenco até o município, no baixo-sul do estado. A manifestação cultural do Zambiapunga, herdeira da cultura quilombola presente em Nilo Peçanha, será retratada em Silêncio.

Nos quatro anos do Governo Bolsonaro, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) foi quase morta por inanição. Sem o amparo de sua principal fomentadora, o cinema brasileiro sofreu um baque forte. Silêncio foi uma das tantas produções prejudicadas. Daí o périplo de realizadores, passando a cuia à porta dos gabinetes da vida. “Às vezes, fazer um filme é mais um processo de luta do que de arte”, resumiu Henrique.

O PIMENTA tentou contato com o secretário especial de Cultura de Ilhéus, Geraldo Magela, para ouvir o gestor sobre a possibilidade de apoio ao filme. O gestor explicou ao site que fez uma cirurgia há pouco e, nesta semana, sofreu complicações decorrentes do procedimento cirúrgico. Ele tomou conhecimento da produção do filme na última segunda-feira (16) e afirmou que o Governo Marão tem interesse em apoiar a iniciativa.

“Acredito que agora ande [a conversa entre realizadores e Prefeitura], pois temos muito interesse. Ano passado foram 2 [filmes] e ajudamos bastante. Temos muito interesse em montar um centro de cinema aqui, conversamos com a Uesc, Secretaria de Cultura e Turismo do Estado, esperamos que esse ano a coisa rode tudo. Mas, a Prefeitura pode ajudar, espero sentar com ele [Henrique] na próxima semana, se Deus quiser”, assegurou o secretário. Atualizado às 12h29min para acrescentar a resposta do Governo.

6 respostas

  1. Deus ajude que s prefeitura de ilhéus , compreenda que esse filme será ,um grande avanço pra ilhéus , inclusivé ele já ganhou selo internacional, ele foi escolhido entre todos , será bom pra todos envolvidos, nossa região precisa ,se Ilhéus não quiser , Nilo Peçanha já sinalizou e outros,seria uma gde pena de isso vier acontecer, faço votos que ilhéus acorde para a importância do evento

  2. Bora patrocinar o filme todo prefeitura de Ilheus. A Sétima arte é a melhor ação em prol da cultura e do turismo que a cidade tem pra investir. Abra o olho seu prefeito…

  3. Importante matéria para se pensar a inedequada percepção dos gestores políticos sobre a criação e produção cultural, agravada pelo fato de se tratar de um cineasta de trajetória reconhecida e consequente.

    Em tempo, a fotografia de Henrique Dantas é excerto de um webdoc realizado pelo Bahiadoc, acessível nas redes.

  4. A uma carência para o lado da cultura..do cinema, da educação estamos em um sólido arido árduo em relação esse lado bom mais o Governo não tem vista nem avista é um capitão do mato!!

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