Com exceção do deputado Fabrício Pancadinha, que precisa correr trecho para se qualificar já em 2026, todos os outros terão 4 anos pela frente para aprimorar seus projetos, sejam pessoais ou coletivos. O populismo, por si só, terá dificuldades em vencer uma eleição em Itabuna.
José Cássio Varjão
Em período pós-eleição, o senso comum costuma apontar, superficialmente, vencedores e perdedores dos embates eleitorais. Observando dessa forma, sem a profundidade necessária que o tema exige, essa conduta não contribui para a formação crítica de determinada metodologia, que, efetivamente, não corresponde à realidade do mundo político. Ganhar ou perder faz parte do processo. Assim, a vitória nem sempre representa o verdadeiro sucesso, como a derrota não significa um terrível fracasso, afinal, trata-se de resultado imediato e este não define o êxito ou o revés de uma trajetória. A longo prazo, é o trabalho sério, a capacidade de adaptação às nuances da política e a responsabilidade com o eleitorado que determinam o verdadeiro legado de um político.
Na política, a ideia de que “às vezes ganha-se perdendo e perde-se ganhando” reflete a complexidade das vitórias e derrotas eleitorais e do próprio processo político. Uma derrota eleitoral, por exemplo, pode servir como oportunidade para o candidato desenvolver uma visão mais madura, revisar seus planos, investir na sua formação ou especialização em políticas públicas e ouvir as necessidades do eleitorado de forma mais profunda. Essa experiência traz aprendizado e crescimento, e o candidato pode voltar mais forte e preparado, conquistando maior respeito e apoio no futuro. Como não lembrar de José Pepe Mujica: “não existe vitória nem derrota definitiva”.
O candidato mais preparado venceu as eleições em Itabuna, mas não somente. Rompeu uma regra que se prolongava desde a eleição de 2000. O instituto da reeleição contribuiu para a vitória de Augusto Castro e, para quebrar com a maldição da reeleição no município, ele contou, também, com as estatísticas a seu favor, visto que nas últimas três eleições, 2016, 2020 e 2024, os candidatos à reeleição saíram vitoriosos no pleito, com percentuais de 67%, 65% e 80%, respectivamente. Para além da reeleição, o prefeito de Itabuna ganhou também a condição de líder político regional, com seu nome ganhando força para presidir a UPB (União dos Municípios da Bahia).
Por outro lado, com expressiva votação, a Federação Brasil da Esperança, formada por PT, PC do B e PV, também foi destaque positivo em Itabuna nessas eleições, com 7.752 votos. Manoel Porfírio foi o vereador mais bem votado, com 3.485 votos, seguido da vereadora Wilma, com seus 2.770 votos, concluindo com o vereador Paulinho do Banco e seus 1.497 votos. O PSD, partido do prefeito Augusto Castro, também elegeu três vereadores, que, somados, contabilizaram 6.643 votos. O Avante, do mesmo modo, elegeu três vereadores, perfazendo um total de 3.565 votos. Como observância da amplitude da vitória da Federação, o Avante obteve, com a eleição dos mesmos três vereadores, 45,98% da votação do grupo formado por PT, PC do B e PV.
Para além dos dados acima, a Federação ainda contribuiu na eleição de Augusto Castro, indicando o vice-prefeito, Júnior Brandão, do PV. Por conseguinte, como evento considerável, existem conversas avançadas, já com várias adesões, para indicação de Manoel Porfírio como candidato a presidente da Câmara de Vereadores, no biênio 2025/2026.
Em artigo científico de minha autoria, publicado em 2022, sobre a Volatilidade Eleitoral no município de Itabuna, nas eleições legislativas, constatei uma espantosa renovação de 2/3 dos vereadores entre os períodos de 2012/2016 e 2016/2020, ou seja, a cada eleição entraram 14 novos vereadores e somente 7 se reelegeram. Em 2024, a renovação foi de 57,14%, entrando 12 novos vereadores e continuando 9 vereadores. Para o período 2025/2028, a Câmara de Vereadores de Itabuna contará com 95,24% dos seus ocupantes, composto por homens. Um dado interessante entre esses três pleitos é que somente um parlamentar municipal foi reeleito nesse período, o vereador Ronaldo Geraldo, o Ronaldão.
Como conclusão desse estudo, que será atualizado a cada novo pleito, pude consumar que a renovação ocorrida na Câmara de Vereadores de Itabuna, nesse período, se deve à ação do eleitor utilizando como parâmetro à Teoria da Escolha Racional, quando esse cidadão/eleitor se utiliza de um custo-benefício do voto para escolher seu candidato, baseando-se na sua situação econômica e no assistencialismo presente no ambiente político. Corroborando com essa definição, a utilização do termo “da Saúde”, por exemplo, está presente no nome de quatro vereadores eleitos em 2024.
Na outra ponta, acerca dos candidatos que disputaram o cargo majoritário nessa eleição, fiquei surpreso, mas nem tanto, com a incipiência dos pretendentes ao Centro Administrativo Firmino Alves. Esperava um debate mais propositivo e enfático de quem deseja administrar um município que, em alguns anos, viu 15% da sua população praticar a migração forçada para outras regiões do estado e do país, por questões econômicas. Como o resultado inconteste, a enorme diferença de 35.709 votos entre o primeiro e o segundo colocados nessa disputa majoritária.
Foi perceptível a falta de harmonia entre apresentar projetos e planos de governo, elemento preponderante de uma candidatura, e partir para o confronto com o adversário, como se esse fosse o fator fundamental da disputa. Jacques Séguéla, publicitário francês, disse que “a comunicação é como uma droga. Em doses adequadas é medicamento, em doses elevadas, veneno fatal”. O equilíbrio é a palavra-chave, mas há candidaturas que nascem fadadas ao fracasso.
Como as eleições nas grandes cidades são necessariamente estadualizadas, as lideranças políticas do estado marcam presença, com os olhos no horizonte de 2026. A definição posicional dos chamados opositores do prefeito Augusto Castro e, por conseguinte, do governador Jerônimo Rodrigues, nas eleições municipais, foi um tanto confusa, deteriorou-se na fase embrionária por individualismo político, tudo isso com o aval do vice-presidente nacional do União Brasil. Algumas possibilidades de coalizão, que eventualmente poderiam ter acontecido, trariam mais dificuldades para o candidato do PSD, com destaque para a palavra “tratorado”, efusivamente pronunciada pelo Capitão Azevedo, vítima da escolha majoritária do cacique do partido.
O desfecho de toda candidatura passa por alguns fatores que são inerentes intrinsecamente ao candidato, como potencial de votos, exigindo capacidade de liderança, habilidade de discurso e o seu carisma. Também existem os fatores internos de pressão, como seu grupo político, partido e bases financeiras da campanha. Ultrapassadas essas duas etapas, vem o objetivo primordial da campanha, o eleitor, e aí, por último, chega-se aos adversários. Aqui encontramos uma das regras mais conhecidas do marketing eleitoral: “Numa campanha, metade do esforço se faz no seu próprio quintal e metade no quintal alheio”. Portanto, a grande virtude do político é mostrar suas qualidades, de um lado, e as deficiências de seus adversários, de outro.
Existem algumas mensagens que os resultados das urnas em Itabuna mostram, mas que nem sempre são captadas pelo agente político. Nessas eleições, foram poucas as pesquisas divulgadas, apesar de partidos e candidatos fazerem internamente as suas, sem registrar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Daí surge um detalhe que é de conhecimento de toda a população, mas, às vezes, imperceptível. Todos os candidatos a prefeito de Itabuna, com exceção de Chico França, já eram conhecidos da população, portanto, com teto limitado para crescimento. O candidato do PL, que teve seu nome inserido na cédula pela primeira vez, era a incógnita da eleição.
Uma observação que não é peculiar a Itabuna, mas inerente ao nosso sistema político, são as sucessivas candidaturas que concorrem tanto nas eleições municipais como gerais, que são completamente distintas uma da outra. A magnitude eleitoral de uma eleição municipal se restringe à abrangência territorial do município, enquanto a eleição estadual a amplitude é muito maior e o disparate entre elas está na concorrência. O atual vice-prefeito, Enderson Guinho, foi o candidato a deputado federal, por Itabuna, mais bem votado em 2022, com 15.218 votos. Não conseguiu se eleger vereador em 2024. O candidato Isaac Nery concorreu a deputado federal em 2022, obtendo 15.155 votos. Para prefeito em 2024, 8.259 votos. Fabrício Pancadinha teve, em 2022, para deputado estadual, 27.338 votos. Em 2024, 29.620 votos para prefeito, com a concorrência somente de três opositores, maior visibilidade e com aporte financeiro considerável.
Também como fato em destaque, são as sucessivas trocas de partido pelos candidatos. O candidato Isaac Nery já participou de três eleições, em 2020, para prefeito; em 2022, para deputado federal; e em 2024, para prefeito novamente, por três partidos diferentes, Avante/70, Republicanos/10 e PDT/12, respectivamente. Se por um lado essa permuta busca melhores condições para a disputa, não mais que isso, por outro, confunde o eleitor menos observador, escancarando o personalismo político do candidato em detrimento ao partidarismo. Situação semelhante ocorreu com vários vereadores, idem com o Capitão Azevedo e com o vice-prefeito Enderson Guinho.
Outra observação gira em torno da candidatura dita de direita nas eleições municipais de Itabuna, que, num primeiro momento, deduz-se que não foi bem-sucedida. Se levarmos em consideração a votação obtida por essa direita e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2022, que obteve 52.768 votos, ou 47,07% dos votos válidos, a candidatura Chico França, que contou com vídeos com o próprio JB, obteve somente 12,95% dos votos do ex-capitão. Assim, fica cristalinamente demonstrado que esse percentual de votos obtidos em 2022, pelo ex-presidente foi distribuído entre todos os candidatos, inclusive – e principalmente, para Augusto Castro. Com o personalismo político, algumas pessoas votam em determinado candidato por rejeição a outrem, ou seja, por eliminação. O que garante que, em nova eleição entre Jair Bolsonaro e outro adversário, ele conservará esse percentual de votos em Itabuna?
Após a derrota em uma eleição, o político precisa fazer algumas escolhas, podendo seguir alguns passos estratégicos no sentido de fortalecer sua imagem e preparar o terreno para uma possível nova candidatura. Começando por analisar os erros e acertos de campanha, continuar a se aproximar das suas bases eleitorais, fortalecer a presença nas redes sociais e na mídia, estar inserido nos projetos comunitários e sociais, construir novas alianças políticas, enfim, preparando um plano a longo prazo. Por fim, a profissionalização dos agentes políticos em gestão e políticas públicas é fundamental para um mandato eficaz e alinhado com as necessidades da população. Quando políticos possuem conhecimento técnico e compreensão sólida das ferramentas de gestão pública, eles são mais capazes de formular e implementar políticas que realmente impactem a vida das pessoas de maneira positiva e duradoura.
Com exceção do deputado Fabrício Pancadinha, que precisa correr trecho para se qualificar já em 2026, todos os outros terão 4 anos pela frente para aprimorar seus projetos, sejam pessoais ou coletivos. O populismo, por si só, terá dificuldades em vencer uma eleição em Itabuna.
José Cássio Varjão é cientista político
Respostas de 2
Perfeito, sr. José Cássio.
A derrota mais dolorida, talvez, tenha sido, no plano do legislativo, a sofrida pelo ainda vice-prefeito Enderson Guinho, do União Brasil. Entendo que fará falta à cidade ter um vereador da envergadura do Guinho, que, na minha avaliação, tornou-se vítima da própria imaturidade política e da cegueira do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, que fez péssima escolha para a disputa ao Executivo, alijando nomes, teoricamente (ex-prefeito Capitão Azevedo, do próprio União Brasil, e do médico Isaac Nery (PDT)), e optando por Pancadinha (SDD).
Obrigada a vc Cássio pelo dom da palavra tão bem escrita, vc falou tudo, dispenso comentários, e vamos que vamos!!!
Gratidão….