Cleonice Monteiro é professora e doutora em Teologia e engajada na causa das mulheres || Foto Divulgação
Tempo de leitura: 4 minutos

 

O Dia Internacional da Mulher é um dia para relembrar o esforço, a força e a luta de todas, tanto no passado quanto no presente. É triste pensar que ainda precisamos de um dia para nos lembrar disto e dos direitos arduamente conquistados.

 

Cleonice Monteiro

Desde o final do século 19, organizações femininas oriundas de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial levaram as mulheres a greves para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante o período.

Foi escolhido 8 de março porque neste dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, e ocuparam a fábrica onde trabalhavam. Elas reivindicavam redução da carga horária diária de trabalho para 10 horas. Porém, o resultado foi a morte de 130 das grevistas queimadas vivas trancadas dentro da fábrica.

Elas tinham como objetivo chamar a atenção para a função social e para a dignidade da mulher, sendo:

a)incentivar a tomada de consciência do valor da mulher enquanto pessoa;
b)destacar o papel desempenhado pelas mulheres na sociedade;
c)romper com os preconceitos e as limitações, que historicamente, vinham sendo impostos à mulher o qual ainda existem até os tempos atuais.

Algumas outras datas são bastante significativas na história da luta das mulheres por direitos iguais.

Em 1691 as mulheres do Estado do Massachusetts conseguem o direito de voto, embora venham a perdê-lo posteriormente (1789).

Em 1788, Condorcet, filósofo e homem político francês, reclamava para as mulheres o direito à educação, à participação na vida política e ao acesso ao emprego.

Quatro anos depois, ou seja, em 1792, no Reino Unido, Mary Wollstpnecraft pioneira da ação feminista, publica uma texto tratando das dificuldades das mulheres em terem direitos; ela denomina seu texto, se não me engano, de algo como “direitos das mulheres- injustiças dos homens”.

Em 1840, nos Estados Unidos, Lucrécia Mott lança os alicerces da Equal Rights Association, reivindicava direitos iguais para mulheres e negros.

Todos somos iguais em dignidade, e o respeito à mesma surge do reconhecimento de que a diversidade não pode, sob hipótese alguma, servir de base para a discriminação, opressão.

O Dia Internacional da Mulher é um dia para relembrar o esforço, a força e a luta de todas, tanto no passado quanto no presente. É triste pensar que ainda precisamos de um dia para nos lembrar disto e dos direitos arduamente conquistados.

Foi no seio dos movimentos de mulheres, a partir da luta das mulheres, que incontáveis grupos subjugados, oprimidos, violentados e usurpados em seus direitos civis, políticos e, fundamentalmente, em seus direitos humanos, ganharam força e respaldo para lutar pelos seus direitos. Foram os movimentos de mulheres que denunciaram a violência doméstica, não só a violência do marido contra a esposa, mas também, e principalmente a violência contra a criança. Foram os movimentos de mulheres que denunciaram, lutaram e até hoje lutam pela dupla discriminação que sofre a mulher negra, e faz o mesmo com relação à mulher pobre.

Ressalto que no período de 1999 colaborei bastante para o ingresso de mulher nas políticas pública do município de Itabuna com a participação de um grande número de mulheres no projeto: Mulher cidadã à Luz da Equidade de Gênero que tinha como objetivo: integrar todas as mulheres na defesa dos seus direitos, constituindo por meio de associação e núcleos de mulheres ações que realmente façam jus a presença da mulher em todos os movimentos garantir a sua participação efetivação no que lhe for cabível, consolidando em parte a inclusão social de algumas que vivem distantes da realidade sem participação social, bem como da importância de conhecer as políticas públicas das quais deverão estar inseridas participando ativamente, enquanto ser humano que constitui a sociedade. Integrar- se dos seus direitos para sobreviver de forma consciente e participativa, reconhecendo o seu avanço e direitos conquistados.

Neste momento não poderia deixa o meu repudio a tragedia da jovem Saionara Costa Santos Borges, que fora estrupada, violentada como se ainda estivéssemos distantes ou desconhecedores de tantas leis que autorizam a concessão de medidas protetivas de urgência, em caso de assédio e/ou violência:

Lei 11.340/06: Lei Maria da Penha
Lei 12.737/12: Lei Carolina Dieckmann
Lei 12.845/13: Lei do Minuto Seguinte
Lei 12.650/15: Lei Joana Maranhão
Lei 13.104/15: Lei do Feminicídio
Lei 13.718/18: Lei de Importunação Sexual
Lei 14.245/21: Lei Mariana Ferrer

A sociedade quer saber por onde anda o assassino que praticou tamanha barbaridade. E a luta incansável por reconhecimento em várias esferas da vida das mulheres e por seu espaço na sociedade não para por aí. É diária!

Relembro ainda uma reflexão do Papa Francisco sobre a dignidade da mulher, feita em uma audiência pública, em setembro de 2015. Entre as tentações que o homem sofre desde a Criação. O Papa cita o “delírio da onipotência” e “a desobediência a Deus”, causando a ruptura da harmonia entre o casal humano, “gerando desconfiança, divisão, prepotência, como demonstra a história”.

Todos somos iguais em dignidade, e o respeito à mesma surge do reconhecimento de que a diversidade não pode, sob hipótese alguma, servir de base para a discriminação, opressão. O Dia Internacional da Mulher é um dia para relembrar o esforço, a força e a luta de todas, tanto no passado quanto no presente.

E é triste pensar que ainda precisamos de um dia para nos lembrar disto e dos direitos arduamente conquistados.
Em períodos de eleição, um direito conquistado deve ser fortemente lembrado! O direito de votar e ser votada. Mais mulheres na política pode trazer um novo olhar sobre a luta das mulheres. Embora tenhamos evoluído nos últimos anos, a situação atual está longe de ser considerada ideal.

Cleonice Monteiro é professora aposentada, doutora em Teologia e engajada nas lutas das mulheres.

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.