O repórter Ramiro Aquino e o narrador Geraldo Santos
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No dia seguinte, ao chegarem à emissora para apresentarem a resenha esportiva, o jovem Borrachudo, destaque no jogo, esperava os radialistas para que consertassem um mal-entendido que lhe causou dissabores em casa.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

O futebol é pródigo em tudo! E por isso mesmo – acredito eu – a razão de tanto sucesso. No futebol, as coisas erradas acabam dando certo e nem mesmo o politicamente correto consegue sobreviver. Ainda bem! É o futebol que faz muitos jogadores famosos – alguns conceituados –, embora efêmeros, não importa, embora também seja perverso com outros tantos que vão do céu ao inferno em bem pouco tempo.

Se todo o jogador que se preze pudesse jogar como atacante, marcando gols, por certo estaria em alta constante com a torcida, endeusado pelos feitos, um drible desconcertante ali, um gol de placa para ganhar o jogo, quem sabe o campeonato. É a glória. Já outras posições, principalmente as defensivas, já não conseguem sempre conviver com esse clímax, que digam os goleiros.

Pra não ter que encompridar esse “nariz de cera”, vamos ao que interessa: os apelidos dos jogadores. Sejam eles oriundo da infância – de casa ou da rua – ou os recebidos nos campos de futebol. Não causa espanto que uma grande parte dos apelidos tenha sido dados pelos cronistas esportivos – notadamente os repórteres de campo e narradores de partidas inconformados com a pronúncia ou bizarria.

No nosso futebol paroquiano – seja Itabuna, Ilhéus ou Salvador – os jogadores conhecidos por apelidos não são poucos e muitos fizeram história sem se importar de como passaram a ser conhecidos. O importante era jogar bola, e bem, seja em que posição atuasse. Há também casos em que os nossos cronistas esportivos simplesmente não gostaram do apelido e passaram a chamá-lo pelo nome, o que nem sempre deu certo.

Alguns apelidos são inesquecíveis e se encaixam perfeitamente nas pessoas – no caso os jogadores em questão – e o exemplo mais límpido é o de Pelé (Edson Arantes do Nascimento soa estranho); Garrincha, Mané Garrincha, tanto faz; Didi, o Folha Seca, o Príncipe Etíope, o Senhor Futebol, todos conhecem, mas se perguntarmos por Waldir Pereira…dará um trabalho danado para sabermos de quem se trata.

O Furacão da Copa também atende por Jair Ventura Filho, ou Jairzinho, sem qualquer problema, já o também botafoguense Heleno de Freitas era chamado de Príncipe Maldito, o que, convenhamos, não pega bem. Artur Antunes Coimbra ainda é chamado de Zico, um diminutivo dado pela família, mas os narradores da época gostavam de chamá-lo pela alcunha de Galinho de Quintino, sem qualquer problema.

Agora imaginem a mãe de um jogador de futebol ter que aturar a crônica esportiva chamar o seu mimoso filhote de Leandro Banana, Flávio Caça-Rato, Pinga (o herói do Hexa da Seleção de Itabuna). Cláudio Caçapa? Melhor a morte! Pior, ainda, é Cascata, Ruy Cabeção (ex-Botafogo), Yago Pikachu, Boquita, Rafael Ratão, embora pouco importassem que nomes os chamassem e sim o que futebol que jogavam.

Em certos casos os nomes de batismo e registro civil não pegam bem para um jogador de futebol. Imagine o narrador ter falar com rapidez que Parmênides passou a pela para Ariclenes, que driblou Pelópidas Guimarães. Esses nomes não deram certo nem no cinema e televisão, tanto que Ariclenes se transformou em Lima Duarte e Pelópidas passou a ser conhecido e chamado por Paulo Gracindo.

E assim é por esse mundo afora. Não foi diferente com um lateral-esquerdo do meu Botafogo do bairro Conceição, conhecido por Borrachudo. Para não perder a embocadura, nesta época o Botafogo de Rodrigo tinha o jovem Iaiá como um promissor goleiro e mecânico da empresa de ônibus Sulba. Ao ser convocado para Seleção de Itabuna não quis saber do apelido e só aceitava ser chamado por Aderlando, conforme lembra outro não menos famoso goleiro Raul Vilas Boas, também conhecido no futebol por Marcial (goleiro do Flamengo) pelas pontes que cometia para pegar as bolas altas.

Como sempre, a mídia acredita que sempre sabe das coisas e o grande narrador da época, Geraldo Santos (hoje Borges), e o repórter e comentarista Ramiro Aquino resolveram dar uma forcinha para Borrachudo. Apesar de experiente, a dupla nunca tinha visto um apelido desse, e logo no jovem reserva do Botafogo que assumiria a titularidade o apelido poderia ser um fator negativo.

Tudo combinado na emissora e no dia seguinte começa o jogo no velho campo da desportiva entre o Botafogo e Fluminense. E o nosso lateral-esquerdo fez valer sua ascensão e foi um dos destaques do jogo. Só que em vez de Borrachudo, os radialistas Geraldo Santos e Ramiro Aquino se esmeraram em chamar o jovem pelo seu nome de batismo: José Carlos, como tinham prometido.

No dia seguinte, ao chegarem à emissora para apresentarem a resenha esportiva, o jovem Borrachudo, destaque no jogo, esperava os radialistas para que consertassem um mal-entendido que lhe causou dissabores em casa. É que a senhora mãe de Borrachudo – agora José Carlos – passou-lhe o maior sabão por ele ter dito que jogaria naquela tarde e seu nome sequer apareceu no rádio. Ela não tinha ouvido uma vez sequer na transmissão.

Desse dia em diante a dupla Geraldo Santos e Ramiro Aquino desistiu do intento de mudar os nomes dos jogadores, se esmerando para tornar as transmissões mais humanizadas. José Carlos voltou a ser chamado de Borrachudo e o seu colega goleiro Aderlando, que não teve grande êxito na seleção itabunense, voltou a ser chamado pela crônica esportiva de Iaiá. Sem traumas!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Com ar professoral, o Comandante de Longo Curso desfiou uma longa história sobre sua experiência em jornadas por rios e mares, a exemplo da expedição que planejou há cerca de 50 anos, ainda nos tempos em que Buerarema se chamava Macuco.

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Eu tinha a simples percepção que essa viagem não daria certo, apesar de ser uma pessoa otimista que sempre acredita nas coisas novas, mesmo quando experimentais, principalmente quando vislumbro aventura. Além do mais, pelo cenário pictórico dos manguezais, com suas plantas exuberantes, deixando à mostra suas enormes raízes e folhas, numa viagem emocionante pelos canais fluviais entre Canavieiras e Belmonte.

Minha apreensão não se prendia às qualidades e habilidade do piloto da lancha, marinheiros acostumados às constantes viagens de turismo ou simples transportes entre essas duas cidades, encantando seus passageiros. Conhecimento da área não faltam aos experimentados marinheiros, que sabem – sem consultar o Google ou os livros – os horários das marés, os ventos e outras intempéries.

Buscam, sempre, o “mar de Almirante”, para deixar à vontade seus clientes, ávidos por fotos e filmes com a exuberante paisagem e fauna, buscando emoções nas imagens, em que caranguejos e guaiamuns se transformam em artistas de cinema, mais, ainda, verdadeiros astros. Pegar o voo de uma garça, então, é a glória, que dirá os saltos de peixes e a paisagem bucólicas das casas dos pescadores e agricultores.

Mais essa viagem não seria apenas um simples translado de Canavieiras a Belmonte, cidades tão próximas que, às vezes parecem distantes. O percurso, feito em apenas 40 a 50 minutos, a depender das condições de navegabilidade, seria feito com esmero. E para garantir a segurança dos Irmãos, não teria comandante mais gabaritado do que Raimundo Antônio Tedesco, versão canavieirense de Vasco Moscoso de Aragão, Capitão de Longo Curso.

Nomeado comandante da aventura, tratou de vasculhar sua vasta biblioteca, na qual pesada bagagem literária proporcionam conhecimento sobre o planeta terra, e as diversas galáxias nesse vasto universo. Mãos à obra, tratou de vasculhar toda a literatura sobre a tábua de marés, assoreamento dos rios, mudança de rota e percursos causadas pelas correntes marítimas.

Após vasta consulta, eis que seu Raimundo Tedesco decidiu que o melhor horário seria sair às 8 horas, já com sol quente e maré alta. Um dia depois descobriu, na sua bagagem literária, que o horário mais prudente era às 10 horas, nem um minuto a mais ou a menos. Com ares de especialista em oceanografia, englobando aí, rios e canais navegáveis, foi passar as coordenadas ao experiente marinheiro.

Mapas, livros, bússola, astrolábio, quadrante e balestilha, nosso Comandante de Longo Curso passa a explicar ao marinheiro a importância de sair no horário, para aproveitar a maré e evitar contratempos, alguma árvore de mangue caída no canal. Foi quando, de forma paciente, o homem do mar que conduziria a lancha explicou que no sábado (23), a maré boa para a viagem seria ao meio-dia e não às 10 horas, como queria Tedesco.

Nova ordem repassada aos inexperientes viajantes Batista, Ériston e Júnior Trajano, que prometeram não atrasar a viagem. Exemplo inédito veio de Batista, que passou a sexta-feira a pão e água, prometendo acordar cedo, temendo causar atraso e provocar dissabores. Afinal, alertou o Comandante de Longo Curso Tedesco, não se sabe quando o mar fica escrespado, causando as terríveis tormentas conhecidas nas velhas e clássicas enciclopédias mantidas com todo o zelo na biblioteca do estudioso Tedesco.

Com ar professoral, o Comandante de Longo Curso desfiou uma longa história sobre sua experiência em jornadas por rios e mares, a exemplo da expedição que planejou há cerca de 50 anos, ainda nos tempos em que Buerarema se chamava Macuco. Pretendia o ainda jovem marinheiro, embarcar numa canoa no ribeirão Macuco, continuar pelo Itararé, até alcançar o Santana no Rio do Engenho e chegar à baia do Pontal.

Outra opção era chegar à serra do Serrote, descer o rio Sapucaeira e chegar ao rio Acuípe, aportando bem ao Sul de Olivença, no oceano Atlântico, próximo a uma aldeia dos índios Tupinambás. Entretanto, o projeto não foi à frente por falta de patrocínio e, aconselhado pelos amigos e professores Antônio Lopes (jornalista) e Jolisson do Rosário (bancário), terminou por abortar o projeto, mantido até hoje numa pasta azul num local de destaque em sua biblioteca.

Ao saber da história, o confrade fundador da Confraria d’O Berimbau junto com Tedesco, Tyrone Perrucho, alertou por qual motivo não teria incluído o Comandante de Longo Curso na organização e planejamento da circunavegação das sete ilhas de Canavieiras. Para Tyrone, é muita ciência para tão pequena expedição que, mesmo por toda sua importância histórica, ficaria a cargo de marinheiros mais afeiçoado ao rio Pardo e seus afluentes.

Voltando à viagem, o condutor da lancha fez um percurso perfeito por entre os canais dos mangues até chegar a Belmonte, trazendo-os de volta no domingo pela manhã, com a maré bastante favorável. A única baixa – se é que assim pode ser chamada – foi um mal-estar nos brônquios do Comandante de Longo Curso, após o minucioso estudo das navegações, que consumiram muitas horas aos livros e enciclopédias guardados desde crianças e tomado pelos fungos.

Mas uma missão como essa de tamanho significado não teria a mesma importância não fosse a missão dos nobres viajantes, que deixaram, num sábado ensolarado, uma promissora assembleia na Confraria d’O Berimbau, para se dirigir a Belmonte. Somente um evento do naipe de uma Iniciação na Loja Maçônica União e Sigilo mereceria todos os cuidados dispensados pelo Comandante de Longo Curso aos irmãos marinheiros de primeira viagem.

Altruísmo!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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As pesquisas estão aí, realizadas a cada semana para mostrar a força de cada grupo, de cada candidatura, mas continuam guardadas a sete chaves, longe das vistas de curiosos sob pena de fazer ruir os castelos de areia ameaçados pelas fortes ondas da maré cheia que avança pelas praias ilheenses.

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

A eleição presidencial de 2018 foi rica em ensinamentos e quem buscou o aprendizado agora nada de braçadas na eleição municipal neste ano de 2020, em que a pandemia tratou de mudar, ainda mais, o comportamento e costumes da sociedade. Os novos, ou diferentes, trataram de ocupar seus espaços e fizeram com maestria, falando a verdade, olho no olho, sem ter o que esconder da população.

E assim está sendo por todo esse imenso Brasil, exceto em algumas cidades, que embora não seja tão insignificativo que não merece um estudo maior, devido a diferenças paroquiais atávicas. No sul da Bahia uma cidade me chama a atenção: a tradicional Ilhéus, que volta e meia chuta o pau da barraca, dá um freio de arrumação e desbanca a velha e coronelista política.

O que acontece em Ilhéus é por demais importante para a sucessão no estado da Bahia, haja vista as duas forças políticas postas como as preferidas do eleitorado baiano. Uma, a liderada pelo governador petista Rui Costa e, do outro lado, aparece o prefeito de Salvador, ACM Neto, considerado o melhor prefeito de capital conforme apresenta todos os institutos de pesquisa.

Mas o que tem ACM Neto a ver com a escolha do futuro prefeito de Ilhéus? Tudo, digo eu, e explico. Conforme deixou claro, o melhor prefeito do Brasil pretende influir no pleito de 15 de outubro em vários municípios e Ilhéus se tornou a preferida. E o seu candidato é o empresário Valderico Junior, que desponta no tabuleiro político como o representante da verdadeira mudança.

Com a vitória do candidato de ACM Neto em Ilhéus, o prefeito e provável futuro candidato a governador, conforme mostram as pesquisas, pavimenta uma enorme avenida em direção ao palácio de Ondina. Por outro, faz vestir os pijamas listrados da aposentadoria política muitos adversários, a exemplo de Jabes Ribeiro, a deputada Ângela Sousa, Cacá Colchões, que abandonou o voo solo, e Ednei Mendonça, há anos liderando o petismo.

O que Valderico Junior apresenta de novo para que represente esse desejo de mudança da população? A esperança dos que ano após ano votam nos mesmos, com as velhas promessas e as conhecidas desculpas. Pouco ou nada fazem, embora pretendam se manter por décadas a fio no poder. Perderam a noção de tempo e do espaço e ainda se julgam os coronéis, chefes de jagunços armados de parabéluns e repetições.

As armas para a guerra eleitoral de hoje são outras, bem diferentes daquelas que vomitavam chumbo e terror. São simples smartfones, carregados de máquina fotográfica, filmadora, gravador, dentre outros aplicativos que fazem uma notícia correr o mundo com um simples clique no facebook, instagram, twitter. E causam um terror maior do que uma bomba atômica por mostrar, em tempo real, as mentiras, a corrupção, a falta de compromisso.

E foi com um aparelhinho desses que esses dias recebi imagens de alguns representantes da velha políticas serem enxotados de um dos morros ilheense sob protestos, estrepitosas vaias e palavras de ordem. Os velhos coronéis perderam o comando, o povo não mais se entusiasma com a retórica ultrapassada, os discursos rococós repetidos com exaustão a cada período eleitoral, para nunca serem cumpridos.

Se analisarmos bem, muitos são os candidatos que se apresentam em Ilhéus. Alguns são mais dos mesmos, outros representam segmentos fechados e um deles aparece desafiando o atavismo político. De início não acreditaram, apenas e tão somente por não ter pertencido aos seus grupos, ter vindo da mesma escola da enganação e da visão caolha da gestão pública.

Se enganaram redondamente e a luz vermelha acendeu com tanta intensidade, que a luminosidade chegou a Salvador, subiu ao palácio de Ondina atrapalhando os planos políticos de Rui Costa no sul da Bahia. No grupo aliado do governador, liderado pelo senador Otto Alencar, o crescimento de Valderico Junior caiu como um tsunami na estratégia de manter o poder por mais quatro anos no Palácio da Conquista.

Mas o que tem esse garoto que por muitos anos comandou a música que sempre trouxe alegria para o ilheense do morro e do asfalto a preocupar os poderosos da política de Ilhéus e Salvador? Para os que ainda não sabem, ele fala a mesma linguagem do povo, mostra com simplicidade o que poderá fazer para diminuir as diferenças econômicas e sociais, uma receita simples quando honesta nos propósitos.

As pesquisas estão aí, realizadas a cada semana para mostrar a força de cada grupo, de cada candidatura, mas continuam guardadas a sete chaves, longe das vistas de curiosos sob pena de fazer ruir os castelos de areia ameaçados pelas fortes ondas da maré cheia que avança pelas praias ilheenses. Como diz a sabedoria popular, as velhas raposas já não amedrontam como antes e nem mesmo convencem.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Façamos as apostas e aguardemos a abertura das urnas no próximo dia 15, que dirá quem continuará em campo para as próximas disputas e quem, em definitivo, irá “pendurar as chuteiras”.

Claudio Rodrigues || aclaudiors@gmail.com

As eleições municipais de 2020, devido à função da pandemia do novo coronavírus, é realmente uma eleição diferente. Em  Itabuna, a decisão do juiz eleitoral Antônio Carlos Rodrigues de Moraes, proibindo algumas modalidades de eventos de campanha, deixou o processo ainda mais anormal. Mas essa eleição na terra de Jorge Amado é, também, um divisor de águas, pois poderá aposentar “velhas raposas” da política local, a exemplo do prefeito Fernando Gomes (PTC) e os ex-prefeitos Geraldo Simões (PT) e Capitão Azevedo (PP), além do quase neófito Antônio Mangabeira (PDT).

Independentemente do resultado, vencendo ou não, essa será a última campanha eleitoral de Fernando Gomes, uma vez que a idade e o fator de já estar disputando uma reeleição talvez não lhe permitam encarar outra campanha em 2024 – participar de outra disputa dependeria mais da não reeleição agora.

Os ex-prefeitos Simões e Azevedo apostam todas as fichas nesse pleito. Caso não obtenham êxito, darão adeus a uma nova disputa, uma vez que o projeto Geraldo chegará à sexta derrota consecutiva – perdeu em 2008 e 2012 com a esposa Juçara Feitosa, na tentativa de chegar ao paço municipal e o próprio Simões ficou pelo caminho nas disputas de 2010, 2014 e 2018 em campanhas para a Câmara Federal e para a Assembleia da Bahia e em 2016 ficou em sexta colocação no pleito municipal.

Já o Capitão Azevedo, que governou a cidade no período de 2009 a 2012, perdeu as disputas à reeleição em 2012 e a última em 2016, sem esquecer de uma tentativa para a Assembleia Legislativa. Caso não vença a eleição do próximo dia 15, quase certamente não veremos mais suas corridinhas e pulinhos, marcas pessoais de suas campanhas. O médico Antônio Mangabeira, que encara sua terceira eleição, tendo perdido em 2016 na disputa pela prefeitura e conquistado a primeira suplência a Câmara Federal em 2018, caso amargue uma nova derrota, dificilmente dará as caras em uma futura eleição.

Por outro lado, novos e outros nomes vão aflorar como futuras lideranças, independentemente do resultado final. Entre esses nomes, figuram o ex-deputado estadual Augusto Castro (PSD), os vereadores Enderson Guinho (Cidadania) e Charliane Sousa (MDB) e o militar e médico Dr. Isaac Nery (Avante). Há também a possibilidade de surgimento de um ou dois nomes dos 534 que buscam uma vaga na Câmara Municipal como nova liderança política.

Dentre os candidatos majoritários da disputa atual, Castro é o mais experiente, com 50 anos e dois mandatos de deputado estadual, mesmo não saindo vencedor, ainda terá gás para enfrentar novas disputas. Caso venha a ganhar a peleja de 2020, emergirá como nova liderança regional.

O companheiro de chapa de Augusto Castro nessa eleição, o jovem vereador Enderson Guinho, com sua forte penetração junto à juventude e dentro de alguns segmentos da Igreja Católica, tem muito campo a conquistar e se tornará um forte nome na política itabunense. A vereadora e única mulher na Câmara Municipal e na disputa de 2020, Charliane Souza, que tinha uma reeleição a Câmara dada como certa, mesmo perdendo a atual disputa, deixará sua marca e será nome certo na disputa por uma vaga à Assembleia Legislativa da Bahia, em 2022.

O médico e verdadeiro neófito Isaac Nery, já que disputa a sua primeira eleição, caso não consiga vencer a peleja de novembro, se tiver um discurso coerente e a depender do desempenho do futuro gestor, poderá colocar seu nome num processo eleitoral futuro. Como ainda há muita água e baronesas para passar por baixo das pontes que ligam os dois lados da cidade, façamos as apostas e aguardemos a abertura das urnas no próximo dia 15, que dirá quem continuará em campo para as próximas disputas e quem, em definitivo, irá “pendurar as chuteiras”.

Cláudio Rodrigues é consultor na área de comunicação e marketing.

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Para evitar as derrotas frequentes, apesar de ter formado uma grande equipe, contrataram um décimo terceiro jogador, de apelido estranho: VAR, o tal árbitro assistente de vídeo, que constantemente livra o time das derrotas.

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Por mais que eu goste de alguns amigos flamenguistas, não posso me furtar de lembrar as grandes goleadas aplicadas pelo Botafogo no Flamengo, que jamais serão apagadas da história do futebol. Em 10 de setembro de 1944 – prestes a completar 75 anos, portanto – o clássico disputado pelo Campeonato Carioca, em General Severiano, não acabou. Isso porque os jogadores do Flamengo, ao tomarem o quinto gol sentaram em campo.

Peço perdão pela lembrança aos meus amigos José Senna, Tolentino, Batista, dentre outros, mas não podemos deixar fato como esse apenas nos arquivos de jornais da época, pois não sou baú para guardar segredo. E olha que já vencemos o Flamengo por placares mais elásticos, como no Campeonato Carioca 1927, quando o Botafogo atropelou o Flamengo pelo placar de 9 a 2, na Fase única do certame.

Outros botafoguenses não abrem mão da partida em que o Botafogo venceu com facilidade o Flamengo por 5 a 0, no estádio General Severiano, na Fase 1º Turno do Campeonato Carioca 1924. Outro jogo famoso foi aquela goleada por 6 X 0, em 15 de novembro de 1972, em que os flamenguistas do famoso Canal 100 jogaram fora o filme com vergonha de tamanha derrota.

Mas o lendário Jogo do Senta, que hoje tem poucas testemunhas, embora esteja registrado nos anais da história, como já disse, deixou os flamenguistas acabrunhados, pois após o time sofrer o quinto gol, do atacante alvinegro Geninho (depois técnico), os jogadores do Flamengo se sentaram em campo. E a desculpa ridícula do protesto teria sido a marcação do quinto gol.

Como acontece até os dias atuais, os jogadores do Flamengo reclamam de tudo e de todos, e naquele fatídico dia 10 de setembro de 1944 não foi diferente e partiram pra cima do árbitro tentando intimidá-lo a anular o tento. Como o árbitro Aristide “Mossoró” Figueira sustentou o apito e os flamenguistas se sentaram em campo, apesar dos protestos do seu treinador, Flávio Costa. Há quem afirme que a ordem teria partido dos dirigentes flamenguistas.

Enquanto os jogadores rubro-negros protagonizavam a ridícula cena, os torcedores do Bota provocaram os atletas flamenguistas, gritando: “Senta para não apanhar de mais”. Nesta partida, o segundo tempo terminou aos 31 minutos, quando o juiz decidiu encerrar o jogo por atitude antidesportiva. Os dirigentes do Flamengo recorreram ao Tribunal de Penas da Federação Carioca, mas o resultado do campo (5 a 2) foi mantido.

E esse tipo de comportamento antidesportivo é prática useira e vezeira no Flamengo, que perde em campo e não se conforma, buscando a pretensa vitória nos tribunais, o que nem sempre acontece. Recentemente, recorreu até o Supremo Tribunal Federal (STF) por um título de campeão brasileiro, com mais uma derrota no tapetão, após sucessivas decisões em várias instâncias.

E essa pendenga vem rolando desde 1987, quando em mais uma lambança, o Flamengo se recusou a jogar contra o Sport pernambucano. Na ocasião, o Flamengo venceu a Copa União, mas a CBF mandou jogar a semifinal com Inter (segundo colocado), Sport e Guarani (que venceram o Módulo Amarelo). Flamengo e Inter se negaram a disputar os duelos. Assim, o Sport venceu o Guarani e acabou sendo considerado campeão.

E as proezas do Flamengo continuam tão em voga, que se escondem depois do resultado adverso e da perda dos campeonatos, o famoso cheirinho, como costumam “gozar” os adversários. Para evitar as derrotas frequentes, apesar de ter formado uma grande equipe, contrataram um décimo terceiro jogador, de apelido estranho: VAR, o tal árbitro assistente de vídeo, que constantemente livra o time das derrotas.

Mas voltando aos 5 X 2 de 10 de setembro de 1944, esse jogo foi relatado pelo jornalista Paulo Cézar Guimarães no livro “Jogo do Senta: a verdadeira origem do chororô”. O lançamento, como era de se esperar, foi realizado na sede do Botafogo, em General Severiano. Nada melhor para marcar o polêmico jogo e resgatar detalhes daquela partida. Mais uma vez, peço desculpas aos flamenguistas, mas só pela lembrança.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Luke Rey foi alvo de nove processos movidos pelo prefeito Marão
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Mas o que importa aos poderosos é continuar com suas homéricas farras nos condomínios de luxo, incomodando vizinhos madrugada afora, com músicas ao som mais alto. Estão felizes, comemoram seus feitos, quem sabe calar a voz de Luke Rey e de outros comunicadores que não rezem pela cartilha palaciana. Como disse Luke, manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Walmir Rosário 

Conheço o radialista Luke Rey há muitos anos, com quem tive o prazer de trabalhar junto. Um repórter nato, daqueles que não briga com a notícia, dos que numa análise rápida enxerga o futuro, sabe perguntar e respeita o entrevistado. Há muito não nos vemos e recentemente soube que virou notícia, daquelas que ele sabe fazer. O que me intrigou foi que o bom comunicador faz notícia, não se transforma em notícia.

Imediatamente, pensei… tem alguma coisa errada, pois Luke Rey nunca foi de pular para o outro lado do balcão. Após uma busca na internet, chego aos fatos. Luke Rey foi obrigado a deixar o comando do programa Gabriela News, na Gabriela FM. Até aí tudo bem, não fosse a violência perpetrada contra ele pelo prefeito de Ilhéus, Mário Alexandre, o conhecido Marão.

E Marão usou contra Luke Rey – um fiscal da sociedade – uma arma torpe, aquela usada pelos poderosos, os de alto poder econômico: as ações judiciais, num total de nove, contra um comunicador indefenso, cuja uma única arma que possui é o microfone e as ondas do rádio. O crime cometido – pasmem os senhores e senhora –, apontar erros de uma administração pífia, desorientada, de olhar enviesado para os problemas da cidade.

– A minha voz ficará muda, não sei até quando – reclama o radialista.

E Luke Rey não é um menino afoito, daquele que empunha um microfone como se fosse um justiceiro, policial, membro do Ministério Público, um juiz ao sentenciar. O profissional Luke Rey sabe muito bem distinguir a qualidade da notícia, a análise dos fatos, o que dizer aos seus ouvintes. Não agradará a todos e isso é fato, principalmente aos que prometem administrar uma cidade e nem sempre cumprem o compromisso.

Em Ilhéus um fato é notório: quem administra a cidade é o governador Rui Costa e não Marão. Luke Rey também sabe disto, afinal, são 35 anos de experiência. Por ser um grande comunicador, é ameaçado por uma tempestade de ações judiciais contra o exercício legal de sua profissão. Nove ações judiciais o forçam a encerrar o programa e a carreira por conta da velha política do manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Se tornou uma prática corriqueira em todo o Brasil ingressar com ações judiciais contra os comunicadores. É a luta dos filisteus com o gigante Golias à frente, contra os israelitas liderados pelo pequenino Davi. Poderoso, Marão e seu exército de advogados entulham o poder judiciário com ações, com o mero objetivo de apequenar, calar a voz de um defensor da sociedade.

É a luta do milhão contra o tostão. Sim, pois ingressar com ações no poder judiciário, mesmo sendo um preceito constitucional garantido no artigo 5.º, inciso XXXV, ao determinar que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, independentemente de ter razão em uma demanda, qualquer pessoa pode iniciar um processo judicial.

Ora, qualquer pessoa, por mais desinformada, sabe que para manejar a justiça é preciso poder econômico, bancas de advogados que cobram os olhos da cara, custas judiciais altíssimas. E esses são atributos intrínsecos ao poder político, notadamente quando se exerce um cargo executivo, com uma grande procuradoria política a promover o ataque ou a defesa do mandante de plantão.

Enquanto os interessados buscam ser amigos dos poderosos, aparecendo nas fotos, colunas sociais, defendendo polpudos contratos, Luke Rey tem apenas na sua carteira de clientes os ouvintes, milhares deles ávidos que a notícia de uma rua esburacada chegue ao conhecimento do prefeito e consiga sensibilizá-lo. O que nos parece ser o dever cumprido, é tema iminentemente pueril para os palacianos.

Não é a primeira vez que um comunicador se depara com esse golpe contra a dignidade da pessoa, em que um poderoso tenta lhe tirar o emprego. Mais que isso, querem lhe tirar a dignidade, a capacidade de trabalhar e com o suor do seu rosto manter as obrigações mínimas de sua casa, cuidar de sua família, levar para casa o pão de cada dia, como todo o trabalhador.

Mas o que importa aos poderosos é continuar com suas homéricas farras nos condomínios de luxo, incomodando vizinhos madrugada afora, com músicas ao som mais alto. Estão felizes, comemoram seus feitos, quem sabe calar a voz de Luke Rey e de outros comunicadores que não rezem pela cartilha palaciana. Como disse Luke, manda quem pode, obedece quem tem juízo.

E assim, Luke Rey encerrou o programa lembrando o trabalho de comunicação social que fez ao longo da carreira, defendendo os ouvintes e agradecendo a todos que estiveram com ele durante a caminhada no rádio.

– Me recuso a crer que fracassei, apenas me sinto injustiçado – desabafou.

Sem condições emocionais de apresentar o programa, Luke encerrou o Gabriela News antes do terceiro minuto de duração. Mas como não há mal que sempre dure, neste sábado (10), após a repercussão do caso, o radialista recebeu inúmeros manifestações de solidariedade, inclusive de advogados se oferecendo para defendê-lo das ações judiciais.

Uma verdadeira campanha social para que a justiça seja feita e Luke Rey possa continuar sendo o grande secretário a elaborar a ata dos acontecimentos sociais.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Ainda que a quarentena e o isolamento sejam momentos difíceis para uma grande parte das pessoas que nunca imaginariam passar por isso, buscar ajuda profissional pode ajudar bastante a enfrentar tantas mudanças.

Caroline Loureiro

Neste ano de 2020 o mundo está passando por uma pandemia causada pela Covid-19, experiência nunca antes passada por essa nova geração. O novo coronavírus se espalhou de forma muito rápida, trazendo muitas mudanças para a saúde, economia e nosso dia a dia.

Como sabemos, a quarentena, o afastamento social e o isolamento são considerados as principais “armas” para combater a propagação da doença em todo o mundo.

Por isso, nesses casos de afastamento social, a terapia online pode ser uma ótima solução para as pessoas que querem continuar com seus tratamentos.

Ainda que a quarentena e o isolamento sejam momentos difíceis para uma grande parte das pessoas que nunca imaginariam passar por isso, buscar ajuda profissional pode ajudar bastante a enfrentar tantas mudanças.

Por isso, sentimentos de angústia, ansiedade, medo, estresse e tensão podem aparecer, isso é normal, pois seres humanos pensantes.

Algumas pessoas podem começar a se sentirem sozinhas, desesperadas, sem esperança. Quais são os sintomas de quem precisa de uma terapia?

Alterações no humor;
Preocupação excessiva;
Atraso de pensamento;
Dificuldade de concentração;
Problemas de sono;
Pensamentos suicidas;
Sentimentos de tristeza;
Vazio e desespero;
Inquietação;
Fadiga, tonturas e enjoos.

TERAPIA ONLINE

Agora que você já sabe o que é terapia online e como se tratar, busque ajuda médica especializada para se consultar ou para ajudar uma pessoa doente. Entre em contato com profissionais que ofereçam esses serviços de forma séria.

Se, em seu caso, você não puder sair de casa, procure uma plataforma confiável e comece sua terapia e solucione seus problemas de uma maneira mais rápida.

Carolina Loureiro é psicóloga.

Ponte do Tororó no Rio Cachoeira, em Itabuna || Foto Arquivo Walmir Rosário
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Gostaria de, em cima das pontes atuais e das que serão construídas, poder apreciar o Cachoeira revitalizado na Itabuna altaneira que sempre acostumamos a ver. Espero um dia possa ter essa oportunidade, assim como todos os itabunenses – daqui e de fora – que aprenderam a amar essa terra.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Confesso que sou um pouco saudosista, mas quem há de resistir àquelas boas lembranças dos tempos de criança e adolescente? Poucos insensíveis, diria eu, recordando a belezas e a funcionalidade do rio Cachoeira dos anos 1950/60. A beleza plástica está quase toda registrada nas telas dos nossos artistas, com suas pedras à mostra, às vezes nem tanto, pois também serviam de “quarador” para as centenas de lavadeiras de ganho, ou de casa, que utilizavam as abundantes águas.

Labutavam, ainda, nas águas do velho Cachoeira pescadores – alguns especializados – de pitus, calambaus e camarões; peixes das mais variadas espécies, em sua maioria nobre, a exemplo de robalos, jundiás, tucunarés; os areeiros, que retiravam a areia para as construções com suas canoas e transportadas nos jegues; tipo de transporte também utilizados para levar água (de gasto e de beber) às residências que não dispunham de água encanada, artigo (melhor, serviço) raro à época.

Com poucos esgotos in natura (tratamento também não existia) despejando no nosso rio, era o local da higiene corporal de muitos moradores, alguns que se exibiam com saltos e braçadas durante a natação num simples banho. As águas límpidas – embora salobra – era um convite, inclusive durante a noite quando alguns se aventuravam a mergulhar e nadar sorrateiramente para furtar os peixes capturados nas grozeiras e outras armadilhas colocadas em frentes às residências.

Os donos sabiam quem eram os larápios, mas nada de chegar às vias de fato, bastava uma simples censura, como geralmente assim fazia Pepê, hoje o advogado Pedro Carlos Nunes de Almeida, que tinha suas armadilhas ali na rua da Jaqueira, hoje avenida Fernando Cordier. Nos tempos atuais, mesmo com os parcos recursos, poucos se aventurariam a entrar nas águas superpoluídas do nosso velho rio, ainda mais com peixes suscetíveis a todos os tipos de doenças.

Sem medo de errar ou ser interpretado como politicamente incorreto, até as inundações do rio Cachoeira eram de encher os olhos e correr o mundo com as notícias da invasão das águas na pujante Itabuna. E olhe que naquela época não existia internet ou redes sociais, ganhava o mundo através dos jornais, telégrafo e dos microfones das rádios Clube, Difusora e Jornal, já que os serviços de alto-falante Tabu (bairro Conceição) e a Voz da Cidade não tinham longo alcance.

Passada a refrega, o comércio contabilizava seu prejuízo, refazia seus planos e tudo voltava à normalidade. A economia cacaueira dava o seu ar da graça e todos voltavam a ser o grapiúna de sempre, rico mesmo sem ter dinheiro no bolso, mas com muito crédito na praça. Nenhuma cidade do porte de Itabuna possuía o número de agências bancárias numa mesma avenida, a Cinquentenário, e todas funcionando, emprestando dinheiro e recebendo aplicações da venda do cacau.

Voltando ao comércio, a Cinquentenário e adjacentes se impunham com a galhardia de seus luminosos, confeccionados em gás neon, apagando e acendendo em intervalos diferentes, como só se viam nas grandes metrópoles pelo mundo afora. E os visitantes ficavam de “queixo caído” com nossa beleza feérica, tanto assim que muitos anos depois um conhecido biólogo da capital fluminense (à época Niterói), José Zambrotti, enchia os pulmões para nominar Itabuna como a Broadway brasileira.

Nem parecia que meses atrás tinha sofrido a grande catástrofe e, assim como no comércio, indústria e serviços maiores, a vida do rio voltava ao normal, com todos utilizando o que as águas produziam e permitam que fosse retirado para o bem do homem. Até as pontes voltavam ao normal. Me refiro às pontes do Tororó (conhecida como dos Velhacos), estreita, baixa e somente para pedestres, e a do Marabá, cujo nome, Miguel Calmon, ainda é desconhecido da maioria da população, que eram interditadas.

Hoje maltratado, o rio Cachoeira ainda tenta sobreviver, mesmo contra a falta de vontade dos nossos governantes, que pela importância dos rios, já poderia merecer tratamento diferenciado, com um projeto de despoluição desde sua nascente até o chamado “mar de Ilhéus”, onde deságua. Atualmente nenhum artista plástico dedicaria parte do seu tempo para retratar seu leito tomado pelas baronesas, criadouro do mosquito da dengue, ou as águas fétidas e de cor encardida pelo caldo derramado pelos esgotos.

Mesmo assim, ainda tenho a esperança de vê-lo, se não como o de antigamente, mas um rio importante na nossa vida e na socioeconomia do itabunense, do grapiúna. Gostaria de, em cima das pontes atuais e das que serão construídas, poder apreciar o Cachoeira revitalizado na Itabuna altaneira que sempre acostumamos a ver. Espero um dia possa ter essa oportunidade, assim como todos os itabunenses – daqui e de fora – que aprenderam a amar essa terra.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Cida Berger era corretora quando tomou a decisão de ir para a Europa tocar o próprio negócio e morar pertinho dos irmãos Bob e Adriana.

Manuela Berbert || manuelaberbert@yahoo.com.br

Dizem os especialistas em performance que somos a média das cinco pessoas com quem mais convivemos. Logo, se essas pessoas não nos inspiram, é hora de rever essas companhias! Particularmente acredito que somos as nossas conexões, afinal ninguém nasce pronto e os dispostos acabam entrelaçando a vida de alguma forma, em algum momento. (O que torna o fim destes ciclos algo comum também, com cada um seguindo seu baile com o seu “cada qual” do momento!) Ok, concordo que falamos quase a mesma coisa, mas acrescento a possibilidade dos rompimentos como algo natural!

E foi pensando nisso tudo que escrevi esse artigo sobre os intrépidos, que são, para quem não sabe, as pessoas arrojadas e corajosas. Aprendi esse termo com minha amiga Cida Berger, natural de Itabuna, hoje empresária do ramo alimentício em Portugal.

Eu fico num orgulho “da porra” (permitam-me a gíria baiana, mas o momento pede!), quando vejo outra amiga nossa, que mora na Espanha, reclamar no WhatsApp: “Não consigo comprar os queijos Estrela do Sul porque vivem esgotando no mercado daqui!” Cida sorri e pede paciência, afinal sua fábrica já não tem dado conta realmente de abastecer os mercados dos países vizinhos, mas a expansão da produção está sendo montada.

Cida Berger era corretora quando tomou a decisão de ir para a Europa tocar o próprio negócio e morar pertinho dos irmãos Bob e Adriana. Nós dividíamos apartamento em Salvador na época (mesmo eu não podendo pagar o aluguel), e escutava diariamente a frase “Manuca, o mundo é dos intrépidos!”, enquanto assistia TV e fazia companhia a ela, que passava horas sentada na mesa da sala planejando a futura empresa.

Cida foi, naturalmente, uma das primeiras pessoas a saber o rumo que a marca Cola Na Manu estava tomando, apesar da distância física atual. “Estamos abrindo duas lojas, com marca própria de camisetas, sandálias e outras coisinhas em Porto Seguro e Itacaré. Uma marca genuinamente baiana, com a nossa cara. Será que um dia você vai passar por um turista aí em Portugal usando uma tee-shirt Cola Na Manu Store?”, questionei, sorrindo. “Manuca, o mundo é dos intrépidos!”

Manuela Berbert é publicitária.

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O poeta saiu pela tangente de maneira bem-humorada: “Então, Baden, Chopin esqueceu de fazer essa”. Em seguida se dirigiu à máquina de escrever.

Marival Guedes || marivalguedes@yahoo.com.br

Há duas décadas o Brasil perdeu um dos maiores músicos. Baden Powel morreu de infarto, aos 63 anos, no dia 26 de setembro de 2000. Aproveito e compartilho uma história interessante que ele contou durante um show.

Baden era amigo de Vinicius de Moraes (1913-1980) e frequentava a casa do poeta em Petrópolis para comporem e beberem uísque. Ou vice-versa.

Numa dessas mostrou uma música para o parceiro colocar letra. Vinicius gostou, mas até a madrugada não tomou iniciativa alguma. Baden reclamou: Já estamos na terceira garrafa, quase bêbados, são três da madrugada e a letra não saiu…

O poeta disse que aconteceu uma coisa chata, mas não iria contar por ser muito desagradável. Diante da insistência, revelou:

-Eu acho que é plágio

-Porque não disse antes? Eu não teria tocado tantas vezes.

-Mas é e não fica bem. Vai sair nos jornais, “ Vinicius e Baden plagiam música.

-Não é plágio. Mas diga, de quem?

-É claro, Baden, isso aí é Chopin

-Não Vinicius, eu conheço Chopin, não tem nada a ver

-Eu tenho ouvido, Baden, isso é Chopin puro. Você bebeu demais, fez uma música pensando que era sua e não é.

-Não Vinicius, eu acho que quem bebeu demais foi você e está implicando comigo.

-Então pra acabar esta dúvida vou chamar minha mulher, a Lucinha. Ela toca piano e conhece toda a obra de Chopin.

-Vai acordar sua mulher esta hora?

-Ela está acostumada.

Lucinha chega e oferece café, mas Baden gentilmente rejeita argumentando não ser bom misturar. O poeta pediu pra o músico tocar. Em seguida, afirma que é Chopin e pede a opinião de Lucinha, que dá o veredicto: “ Não Vinicius, eu conheço as coisas de Chopin, isso não é Chopin.

Segundo Baden, Vinicius ficou “sem graça” e falou: “até você tá contra mim?”

“Não Vinicius, ninguém está contra você,” interferiu o músico.

O poeta saiu pela tangente de maneira bem-humorada: “Então, Baden, Chopin esqueceu de fazer essa”. Em seguida se dirigiu à máquina de escrever.

Nascia a belíssima Samba em Prelúdio.

Marival Guedes é jornalista.

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Não podemos permitir a desestruturação desse nosso patrimônio, que neste mês completa 30 anos de muita luta. Precisamos fazer sua defesa permanentemente e avançarmos ainda mais na sua eficiência.

Rosivaldo Pinheiro || rpmvida@yahoo.com.br

O SUS é o maior sistema público de saúde do mundo, fruto de uma intensa luta que acabou garantida na Constituição Federal em 1988 e nas Leis 8.080 e 8.142, em 19 de setembro de 1990. Sua gestão é tripartite – de responsabilidade dos três níveis de poder: federal, estadual e municipal. Funciona em consonância com os princípios da universalização, equidade e integralidade.

Segundo informa o Conselho Federal de Medicina, 75% dos brasileiros dependem 100% do SUS, representando um custo total anual de R$ 103 bilhões para o tesouro nacional. Para fazermos um comparativo, os outros 25% dos brasileiros que usam plano de saúde gastam, por ano, R$ 90 bilhões, significando dizer que investem três vezes mais no cuidado com a saúde, se comparados aos usuários do Sistema Único.

É importante destacar que a nossa população está envelhecendo e já ultrapassa as 30 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a população com 65 anos ou mais alcançará um contingente de mais de 55 milhões de pessoas em 2060.

É sabido por todos os brasileiros que as políticas de saúde passam por cotidianas dificuldades no tocante à redução dos recursos, em função da promulgação, no apagar das luzes de 2016, da Emenda Constitucional 95, que fixou teto de gastos para saúde, educação e segurança pública por 20 anos.

Mesmo diante desses ataques provocados pelo teto de gastos, desvios por corrupção, impactos provocados por gestores sem qualificação e compromisso com a missão desse poderoso sistema de saúde, sua face de humanidade foi demonstrada nessa pandemia do novo coronavírus, evitando que tivéssemos ainda mais mortes.

Os profissionais dos SUS deram a vida e se agigantaram, mostrando para todos o quão importante é o nosso SUS, especialmente para os mais vulneráveis economicamente, demonstrando toda a sua capacidade e importância na luta em defesa da vida, fazendo valer a máxima do artigo 196 da CF/88: “a saúde é um direito de todos e dever do estado”.

Portanto, defender o SUS é defender as nossas próprias vidas, garantindo assistência à saúde gratuita e de qualidade para um número cada vez maior de brasileiros que precisam dessa política pública comprovadamente essencial em nossas vidas. Não podemos permitir a desestruturação desse nosso patrimônio, que neste mês completa 30 anos de muita luta. Precisamos fazer sua defesa permanentemente e avançarmos ainda mais na sua eficiência.

Rosivaldo Pinheiro é economista e especialista em Planejamento de Cidades (Uesc).

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Para completar o serviço era preciso entregar o “troféu” ao delegado para as providências de praxe. Então a comitiva desfilou pelas ruas do bairro da Conceição, em direção à feira livre – no local onde hoje funciona a FTC –, onde o delegado calça curta trabalhava em sua barraca de farinha.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Lembro-me bem que nos tempos em que ainda criança, a segurança pública era feita com muito esmero, embora os exageros também fossem fecundos. Não era pra menos, pois os tempos eram outros, em que não se falava em direitos humanos. O que valia mesmo era a palavra das autoridades, ou na falta delas, de alguém que detivesse algum poder.

Em matéria de segurança, em Itabuna, os equipamentos eram bem distribuídos. Em cada um dos bairros existia um aparelho da delegacia, com delegado e os chamados “inspetores”, geralmente um funcionário da prefeitura destinado para este fim, ou alguém que tinha a polícia como vocação, vontade essa não realizada.

A autoridade competente em cada um desses bairros era alguém indicado pelo prefeito por ser seu amigo, seu cabo eleitoral, ou alguém com coragem suficiente para meter os meliantes no xadrez. Sim, em cada um desses aparatos existia uma cela, onde eram “enjaulados” aqueles que cometiam qualquer deslises contra a comunidade.

De pequenos furtos, roubos, brigas de ruas, bares e de marido e mulher, tudo era resolvido pelo delegado (chamado de calça curta), com o auxílio do inspetor. A depender do crime praticado, o meliante, pra começo de conversa, tinha que respeitar a autoridade e era submetido a uma sova, que podia ser na “mão grande” ou outros apetrechos mais apropriados, como a uma palmatória, bainha de facão, ou o próprio, batido com a banda ou folha, para que aprendesse a se comportar.

Mas, pelo que pude observar, não era uma profissão – se é que assim pode ser chamada essa obrigação – muito segura, pois tinha lá os seus percalços, que o diga um amigo meu que assumiu esse posto máximo de segurança em Ferradas. Ao receber a voz de prisão do delegado, o bandido que ceifou a vida de um irmão de sangue ameaçou, dizendo de pronto: “Se o delegado está vendo o que fiz com ele, que é meu irmão, pode imaginar o que farei com o senhor quando for solto”. Imediatamente, a voz de prisão se transformou em “esteja solto”. O que facultou o amigo Faruk a desfrutar sua proveitosa aposentadoria.

Apesar dessas exceções, a regra era da chamada “maré mansa”, sem grande sobressaltos para a sua segurança, pois os transgressores da lei eram mais chegados às contravenções penais do que aos crimes maiores. Pulavam um quintal ali, subtraíam uma mercadoria num ponto de venda do comércio em geral, ou davam uns tapas numa briga num jogo de gude ou jogavam dados pra valer (apostado).

No caso dos amigos do alheio, a depender do modus operandi, os agentes da lei já sabiam quem eram os prováveis autores e davam uma busca no bairro, inclusive na residência da família. E essa providência não dependia de nenhum mandado judicial, bastava apenas e tão somente a vontade da “autoridade”. Alegações outras contra a obstrução da “autoridade policial” simplesmente não eram admitidas e ponto final.

Volta e meia um crime mais significativo, ou fatal, era cometido e aí, sim, era requisitada a Polícia Militar e Civil para dar conta dos fatos. Mas não era todo o dia que um fato dessa grandeza merecesse a atenção dos verdadeiros agentes de segurança, ou da lei, como costumavam a ser chamados. A cidade ainda gozava de certa tranquilidade.

Os “delegados calça curta”, dentro das condições existentes, davam conta do recado, mesmo que vez em quando eram chamados a atenção pela condução nem sempre legal dos inquéritos. Por ouvir dizer, lembro desses abnegados da segurança que já indiciaram até mesmo animais, como a vaca Florisbela, na vizinha cidade de Itapé, inquérito esse tornado sem feito pela atenção de um zeloso promotor de justiça.

No bairro Conceição, em Itabuna, também por ouvir dizer, acumulei conhecimento de muitas dessas histórias – ou estórias –, a depender do grau de credibilidade de quem nos contava. Uma delas me marcou bem, pois foi narrada por uma pessoa tida e havida como de bem, conhecida por Turrão, que era antigamente chamado pelo nome de Albertino César, zeloso funcionário do Banco do Brasil.

Segundo contou, um desses costumeiros praticantes de contravenções penais pulou o muro de um vizinho e atacou o galinheiro, subtraindo alguns frangos de raça, mantidos para as homéricas brigas de galo na rinha do bairro da Conceição. Ao receber a queixa, o zeloso “inspetor” não se fez de rogado e, pelo conhecido modus operandi, se dirigiu à casa do meliante dando voz de prisão.

Ao resistir à voz de prisão, tentou correr, mas foi detido prontamente pela grande plateia que acompanhava o inspetor, sendo contido e amarrado com cordas. E o inspetor tinha que prestar contas da ação com rapidez, haja vista que o proprietário dos galináceos era pessoa de importância na sociedade, amigo pessoal do prefeito e quase vereador, pois perdeu a eleição por umas três dúzias de votos.

Para completar o serviço era preciso entregar o “troféu” ao delegado para as providências de praxe. Então a comitiva desfilou pelas ruas do bairro da Conceição, em direção à feira livre – no local onde hoje funciona a FTC –, onde o delegado calça curta trabalhava em sua barraca de farinha. Por onde passavam, a comitiva aumentava, bem como as dores das porradas sofridas pelo amigo do alheio.

Ao chegar à barraca, nosso bravo delegado deixou de atender um freguês para dar ouvidos ao subordinado, que contou o crime ocorrido, com a gravidade de ter sido aplicado contra uma pessoa de bem. E assim que a plateia aumentou o suficiente, para o desespero do prisioneiro, o delegado largou a medida de farinha, sacou de seu revólver, e do alto dos seus pulmões, em voz solene anunciou:

“Teje preso, seu amarrado!”.

E com o sentimento do dever cumprido ainda ordenou: “Leve-o à delegacia para os costumes de sempre!”.

Em seguida, o delegado Juquinha fez um gesto próprios dos vencedores, deu meia volta e voltou a atender ao comprador de farinha.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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A bem da verdade, os bares não acabaram, mas perderam o charme dos botequins, o que também perde um pouco da graça. E bota a saideira!

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Podem falar da Canavieiras de tempos idos quem quiser, mas os que viveram àquela época, apreciadores de uma caninha da roça, uma cerveja bem gelada e os mais exigentes, que preferem gim, vermute, whisky e outras bebidas importadas tiveram do bom e do melhor. Pois tenham ciência que aqui pra bandas da Princesinha do Sul essas beberagens nunca faltaram, melhor dizendo, sempre foram encontradas em profusão.

E tenho uns amigos que se lembram com muita saudade da falta daqueles bares, um deles, que atualmente não bebe mais, sempre se emociona quando lembra deles que chegam a escorrer duas lágrimas faces abaixo. É o Antônio Amorim Tolentino (Tolé), bebedor de boa cepa, hoje considerado traidor das causas etílicas e que conta com muita satisfação a localização dos bares e as nuances de cada um.

Não tenho ciência do mal que praticamente exterminou esses bares e botecos, mas é certo que tal e qual um fungo exterminador como o da vassoura de bruxa varreu eles das ruas, praças, avenidas e travessas. Alguns poucos teimaram em continuar sentando praça e servido a antiga e nova freguesia – hoje chamada de clientela –, mas sem o glamour de tempos pretéritos.

Quer dizer, salvando algumas pequeníssimas exceções, ainda encontramos firmes e fortes o Berimbau; o Mac Vita, onde tudo acontecia em Canavieiras; O Meu Cacete, na Atalaia; e um ou outro escondido pelos bairros. Mas nada se compara aos de antes e até mesmo O Brazão, de Pitipiti, acabou se rendendo e fechou suas portas há cerca de dois anos. Outros, como o Padeirinho, depois Casablanca, virou churrascaria até dias atrás.

Pra não dizerem que estou floreando ou mesmo mentindo, em maio de 1993, o poeta e filósofo Zé Emídio publicou no jornal Tabu uma página inteira sobre os bares presentes e os passados. Também em 1993, eu mesmo elaborei o “Roteiro Turístico-Etílico e Gastronômico de Canavieiras” no caderno Sul da Bahia, do Correio da Bahia, no qual era mostrado um roteiro fora dos roteiros de conhecimento dos turistas.

Se hoje somos pobres nesse segmento, podemos dizer que a opulência era presente em tempos idos, como ressalta o velho amigo Tolé, alertando para as dificuldades da época, em que o motor da energia elétrica era desligado às 22, 23 horas. Ele lembra do esplendoroso Bar e Sorveteria Triunfo, que possuía motor-gerador próprio para gelar a salmoura dos sorvetes e picolés, mas cismava de fechar o bar no mesmo horário em que a energia era desligada. Sem deferência para os clientes.

E existiam bares luxuosos pras bandas do brega, como o Céu Azul, que comercializava bebidas no andar térreo e o amor em forma de sexo no andar de cima. Juntinho, se localizava o Bar Irajá, em que o homem só poderia dançar se estivesse uniformizado com terno completo e as mulheres de longo. O Bar do Batista, no Porto Grande e no Beco do Fuxico (hoje sem bar algum), tinham tantos como o Arrastão e o Beco ainda se dava ao luxo de ter até uma leiteria.

O Bar Misterioso fez muito sucesso. Em frente, do mesmo dono, uma boate abrigava os solteiros e alguns casados puladores de cerca, que embreavam na luz negra ficando irreconhecíveis. Mesmo assim, as restrições às frequentadoras eram feitas com muito esmero pelo porteiro Si Brasil, que não as deixava entrar no Aeroclube, sob o argumento de que as figuras que dançam em Dácio [na boate] não podem entrar no Aeroclube.

Como esquecer do Bar Luso-Brasileiro, do Ranchinho dos Meus Amores – ali na praça da Capelinha –; do Society Bar, depois Nosso Bar, Aerobar, na praça Maçônica; do Araketo – na rua do Gravatá; e de Parmênio, na Birindiba. Esses dois últimos funcionavam como pronto-socorro nos dias em que faltavam energia elétrica a mando de Valdemar Broxinha, por estarem equipados com geladeira a querosene, trocadas posteriormente para gás de cozinha. Não faltava cerveja gelada.

E os donos de bar eram comerciantes abnegados que se estabeleciam onde os clientes estivessem e não mediam esforços para levar os pesados engradados (de madeira) de cerveja, panelas e insumos para os tira-gostos nas canoas até a praia da Costa. Assim foi com Zé Sapinho, cuja cabana pioneira na praia da Atalaia foi apelidada de Sapolândia; a cabana Samburá, de Neném de Argemiro.

Na ilha da Atalaia também prosperaram outros bares, como o Bar Atalaia, mais conhecido pela alcunha de A Visgueira de Mílton, por motivos mais que óbvios, e “O Meu Cacete”, de Domingão, um nome sui generis que espantavam os turistas quando eram convidados para dar uma chegada no “Meu Cacete”. Para alívio deles, eram bem recebidos por Domingão e passavam a frequentar o local com assiduidade.

No bairro Birindiba também era parada obrigatória no Coquinho de Quelé, famoso aqui e alhures depois que o coquinho começou a viajar na bagagem dos turistas e se transformou em encomenda a pedido dos nativos que moravam fora e os visitantes que não poderiam vir bebê-lo pessoalmente. Além do coquinho, Quelé também era famosa pela cerveja bem gelada, cachaça em infusão de folhas e tira-gostos.

Na reportagem de Zé Emídio ficaram registrados, ainda, o Bar e Lanchonete Plaza, O Arrastão, famoso por suas batidas, O Petiskos, O Devia’s Vir, O Paladar, onde se comia muito bem, O Terra, O Mangue. Muitos deles fizeram grande sucesso – alguns efêmeros – e muitos não resistiram à mudança dos tempos. Um deles, o Berimbau se transformou em sede da Confraria d’O Berimbau e ainda resiste, se bem que de férias na pandemia.

A bem da verdade, os bares não acabaram, mas perderam o charme dos botequins, o que também perde um pouco da graça. E bota a saideira!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Do alto dos seus 81 anos, e com toda a experiência adquirida em todos esses anos, acredito que Fernando Gomes tenha adotado uma tática para “derrubar” seus adversários, se mostrando em pleno vigor aos seus eleitores.

Walmir Rosário || walmirrosario.blogspot.com

Com a terrível e apavorante pandemia do Coronavírus não teve um filho de Deus neste mundão que não mudou seu comportamento, não importa se pra melhor ou pior, o certo é que as circunstâncias decidiram quais e pra onde. Na maioria dos casos que analisei, o consumo de bebidas e comidas foi lá pra cima e muita gente boa não quer passar perto de uma balança. Nem morto, como diziam antigamente.

Ah, parece até que foi combinado nessas lives, que entraram de vez da vida do povo e estão dando o que falar. Estão fazendo live para acertar a data e horário da promover uma live sobre determinado assunto. Das que cheguei a ver, tinha político falando de política e até votando matérias no congresso, numa espécie da “gazeta”, falta institucionalizada, enquanto outras falavam de economia e a maioria de vinhos e comidas.

Pouquíssimas de educação física, e mesmo assim meu filho explicando conceitos e vantagens da prática do kettlebell, instrumento criado há mais de mil anos e que está virando febre no Brasil e no mundo. Se todos prestavam atenção às aulas teóricas, as práticas não se fizeram presente na telinha do meu computador. Ficar em forma, malhar, suar nas esteiras, levantar peso, pedalar bicicleta sem sair do lugar, nada.

E as desculpas eram as mais variadas, a começar pela proibição de funcionamento das academias de ginásticas. Pelo que soube – apenas por ouvir dizer –, descobriram que o Coronavírus tinham predileção pela forma física e, para precaver, as autoridades vedaram o ingresso dos atletas e candidatos a Hércules para evitar uma contenda qualquer. Nunca se sabe o que poderia acontecer numa luta entre uma pessoa e um vírus desconhecido.

Em moda há, pelo menos, uma década, as academias ao ar livre também foram desprezadas. Intocadas, permaneceram nas praças, rejeitadas pelos atletas de rua, que nem mesmo lembravam da necessidade de fazer um alongamento antes da corrida ou caminhada. Pelo que percebi, em vez da população, quem permaneceu de quarentena foram os aparelhos de musculação.

E eu, que sou um atleta bissexto, me incluo nesse time da inatividade física durante esse período, mas prometo voltar aos exercícios de kettlebell, às caminhadas matutinas pela praia da Costa e centro da cidade. Vontade não falta, mas o incômodo da máscara que me faz inalar gás carbônico é terrível e tenho pena de submeter meus queridos pulmões a esse terrível sacrifício. Um dia retomarei com gosto de gás (simples expressão).

E prometo que vai ser pra já, pois me inspirei na força de vontade do octogenário prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, depois que o vi numa academia ao ar livre subindo e descendo num exercício de barra fixa, sob os aplausos de outros malhadores presentes. É certo que a demonstração de Fernando Gomes não foi das melhores, mas ao que parece foi uma espécie de liberação tácita dos exercícios físicos em Itabuna.

Aos 81 anos, vai precisar de muita malhação para subir e descer ladeiras pedindo votos, prática bastante comum entre todos os candidatos, se bem que agora substituída pelas lives, redes sociais e outras modernidades eletrônicas. Mas tenho certeza de que os candidatos precisarão se exercitar, para queimar as calorias dos pratos de sustança que haverão de comer nas casas dos considerados.

Quanto aos outros candidatos, ainda não vi nenhuma demonstração de preparo físico, pelo menos nas redes sociais. Quem sabe, recomendação dos marqueteiros para não entregar o “ouro ao bandido” e conseguir entrar pelo bairro de Fátima e sair no Califórnia de um fôlego só. Um bom treino é entrar pela rua da Floresta, no São Caetano, passar pela Baixa Fria, subir o Morro do Urubu, descer o Daniel Gomes e descambar pelo Zizo.

Aí, sim, sei que ficou pronto durante a pandemia, fazendo os exercícios na surdina, dentro de casa, para não despertar suspeitas aos olheiros dos adversários políticos, ávidos para mostrar o serviço de espionagem ao seu candidato. Vou pedir a um amigo meu, conhecedor dessas arapongagens, para pendurar umas câmeras de vídeos em locais próximos às academias ao ar livre para tentar flagrar os políticos em exercícios.

Pelo que observei atentamente, essas lives de educação física não são bons cabos eleitorais, do contrário o que teria de candidato se esforçando para conquistar o eleitor não estaria nos gibis. Pelo sim, pelo não, recomendo aos candidatos dispostos a ganhar fôlego que procurem uma boa academia e se exercitem com as recomendações e acompanhamento de um profissional de educação física.

Do alto dos seus 81 anos, e com toda a experiência adquirida em todos esses anos, acredito que Fernando Gomes tenha adotado uma tática para “derrubar” seus adversários, se mostrando em pleno vigor aos seus eleitores. Por outro lado, caso os adversários “comam a isca”, nunca mais ele aparecerá em frente a uma academia ao ar livre e praticará as caminhadas no sobe e desce das ladeiras itabunenses.

Como dizia o saudoso técnico de futebol Sotero Monteiro, pelo arriar das malas é que se conhece o jogador.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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De minha parte, guardo reservas até que minhas conjecturas se confirmem infundadas e possamos sentar à mesa em um bar nos fins de semana e pedir ao garçom meia dúzia de caranguejos grandes e gordos, acompanhado de uma cerveja bem gelada.

Walmir Rosário || walmirrosario.blogspot.com

Não estranho mais nenhuma invenção neste mundo corrido de hoje, em que as tecnologias passam mais rápidos do que os dias da semana, do mês, e em que o ano passado parece que foi ontem. Mas não discordo que tenha lá suas vantagens para sabermos o que está se passando. Se antes tínhamos que ir a uma biblioteca para consultar a Enciclopédia Delta-Larousse, hoje basta uma espiada no Google.

Depois dessa política de proteção aos animais ameaçados de extinção ou coisa que o valha, nossos campos estão mais verdes e nossos mangues mais povoados de caranguejos. Ainda bem, pois a história que vou contar me causou calafrios por simplesmente pensar que deixaria o velho hábito de comer meu caranguejo-uçá, quebrando as patinhas (puã) nos dentes.

É que eu soube que a designer sul-coreana Jeongwon Ji deslumbrou o mundo ao apresentar uma invenção inusitada: transformar caranguejos chineses em plásticos. Olhe que acredito piamente nas novas tecnologias, mas, aqui pra nós, tenho minhas dúvidas sobre a eficácia dessa transformação. Não entendo nada de química, e poucas são as informações que disponho para travar um debate sobre essa estranha invenção.

Mesmo assim, fosse o contrário, minhas dúvidas por certo seriam infundadas, haja vista parecer mais eficaz que transformemos produtos inorgânicos em orgânicos. Não é de agora que nos chegam aos ouvidos notícias alarmantes sobre a destruição do meio ambiente e fiquei deveras atordoado com a possibilidade de ter o caranguejo apenas nas boas lembranças do passado.

Ao que pude perceber após muita pesquisa, essa invenção dá a entender que este é um caminho aberto para alargar essa possibilidade invencionice. Imagino eu a corrida aos mangues para a captura desenfreada dos nossos caranguejos-uçás, guaiamuns, aratus e outros crustáceos nem tão abundantes em nossos manguezais, para transformá-los em brinquedos de plástico. Um verdadeiro absurdo.

Pelos meus nem tão precisos cálculos, nossos novos catadores promoveriam o extermínio desses crustáceos num piscar de olhos, antes mesmo qualquer reação do Ibama, Instituto Chico Mendes ou qualquer outra organização não-governamental recém-criada com a finalidade de coibir a caça desenfreada aos nossos saborosos artrópodes. Afinal, Deus deixou as coisas boas do mundo para seus filhos se deliciarem.

De logo, vou colocando minhas barbas de molho com receio das medidas governamentais que poderão ser tomadas para a criação da Caranguejobras, aparelhada por companheiros e coligados. Devido a importância do empreendimento, por certo também serão acomodadas algumas centenas de ambientalistas, de preferência caranguejólogos, dada a especialidade nos produtos do mangue.

Daqui de Canavieiras, onde mantenho minha sossegada trincheira, antevejo um futuro incerto para os manguezais lavados pelos rios Pardo, Salsa e Patipe, Cipó e outro menos votados que formam esse imenso delta, berçário dessa colossal fauna marinha. Sem os crustáceos circulando na área, o mangue perderia seu grande conceito de berçário esplêndido dos rios e mares.

Em terras canavieirenses o caranguejo é tão importante que é quem dá as boas-vindas aos turistas e visitantes mais amiúdes, numa cópia majestosa em fibra de vidro, sempre pronto para posar para fotos. Ao ler sobre a designer sul-coreana Jeongwon Ji fiquei com a pulga atrás da orelha e me lembrei de um atentado que o caranguejo sofreu em pleno Carnaval do Coronavírus e me pus a puxar o fio da meada para apurar responsabilidades.

Para minha tristeza, serei testemunha ocular do sumiço da gostosa “cabeça de robalo”, uma das iguarias mais famosas da gastronomia canavieirense. Se fosse só por isso me contentaria, mas ainda não somos conhecedores dos terríveis efeitos causados pelas devastações provocadas pela captura desenfreada do tão gostoso crustáceo.

Mas não pensem os senhores que estou advogando em causa própria com o egoismo tão peculiar dos viciados no primeiro dos sete pecados capitais: a gula, assim definida como tal pelo Papa Gregório Magno. Lembro aqui do grande número de famílias que laboram na enorme cadeia produtiva e que ficarão desprovidas do ganha pão. Ainda bem que os seiscentos reais ao auxílio aliviam, por enquanto, mas…

Brincadeiras à parte, como Deus ainda não me concedeu o dom de prever o futuro, não vislumbro qualquer possibilidade de vantagem nessa invenção, com todo o respeito que devemos aos orientais. De minha parte, guardo reservas até que minhas conjecturas se confirmem infundadas e possamos sentar à mesa em um bar nos fins de semana e pedir ao garçom meia dúzia de caranguejos grandes e gordos, acompanhado de uma cerveja bem gelada.

Mas caso a invenção seja verdade, no mínimo, decretaremos o fim do mundo.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.