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Walmir Rosário | wallaw2008@outlook.com
 
 

Pela nossa experiência, está por demais claro que o Estado abdicaria de suas atividades empresariais e passaria a atuar como uma fomentadora do desenvolvimento, incluindo, aí, o seu papel regulador das atividades econômicas.

 
Este slogan, “Só cresce quem renova”, foi responsável pela recuperação e transformação da lavoura cacaueira da Bahia e, consequente, da nossa região, por tornar a cacauicultura uma atividade produtiva e rentável. Os resultados, apesar da resistência inicial em voltar a investir na lavoura, nos fez conhecer um período dos mais ricos da nossa história, com o cacau alcançando US$ 5 mil a tonelada no mercado internacional.
Não resta a menor dúvida de que a publicidade é a alma do negócio, desde que ele (o negócio) seja bom, com larga aceitação no mercado, além de remunerar bem o produtor pelos investimentos e custeio. Existe a demanda, temos um produto de excelente qualidade, então só nos resta oferecer ao mercado, que comprará, pois existem consumidores ávidos para consumi-lo.
Esse exemplo acima se encaixa muito bem para exemplificarmos parte do que está acontecendo na China – ainda comunista – mas que “vende seu peixe” como um país de economia capitalista. As reformas estão sendo feitas, de forma gradual e segura – como diria o ex-presidente Ernesto Geisel –, no sentido de oferecer ao mundo produtos cada vez mais bem elaborados e com garantia.
Assim como o Paraguai – guardadas as devidas proporções –, os produtos chineses hoje não são vistos como de péssima qualidade, do tipo R$ 1,99, ou descartáveis, como foram durante muito tempo. Das cópias imperfeitas de produtos fabricados nos Estados Unidos e países do chamado primeiro mundo, passaram a oferecer bens duráveis com garantia de muitos anos, para atrair o consumidor.
E onde o slogan “Só cresce quem renova” se aplica? Na transformação que a China está aplicando na sua economia, mudando os relacionamentos internos e externos, embora mantenha um governo de pulso firme nesse país ainda comunista. Mais nada que se compare aos tempos de chumbo de Mao Tse Tung, quando o que valia mesmo era o poder absoluto do Estado.
Prova dessas mudanças para o regime capitalista é que a República Popular da China iniciou a elaboração de um novo Código Civil, com conclusão prevista para o ano de 2020, embora a parte geral já tenha sido aprovada no ano passado. Com isso, o país assume um papel de relevância no mercado internacional, superando barreiras, inclusive as criadas pelos Estados Unidos.
Com esse novo diploma legal herdado pela humanidade do Direito Romano antigo, e adotado pela grande maioria dos países democráticos, extingue – ou, pelo menos, diminui – as restrições de mercado escravo e mão de obra barata. Por lá, desde o ano de 1949 que foram revogadas as leis de direito privado, resultado das ações do regime comunista em vigor.
No novo código, não só as relações e o direito entre pessoas serão contempladas, como também o direito societário, regulando os contratos entre empresas nacionais e as multinacionais. Contudo, não esperemos que todos os problemas sejam resolvidos de imediato, pelo contrário, novos conflitos haverão de surgir, até por força do conteúdo da legislação, que criará novos conceitos.
O que nos chama a atenção é que a China, principal mercado comprador, passou para uma nova fase: a de solucionar os conflitos de acordo com os modernos padrões legais, rompendo com um costume atávico. Com isso passará a ter uma performance e protagonismo junto à comunidade internacional, rompendo barreiras históricas. O mesmo acontecerá no âmbito interno.
Sem querer comparar mal, a China marcha em direção ao futuro, reconhecendo que o Estado não é um bom administrador de empresas, dentro dos princípios do estado democrático de direito. Essa mudança de comportamento deveria ser um espelho para o Brasil se mirar, e abandonar os péssimos costumes de atuar onde não deveria, e se organizar para governar bem as áreas próprias de Estado.
Pela nossa experiência, está por demais claro que o Estado abdicaria de suas atividades empresariais e passaria a atuar como uma fomentadora do desenvolvimento, incluindo, aí, o seu papel regulador das atividades econômicas. Quem sabe se assim passaria a cuidar bem da educação, saúde, segurança, justiça e legislação, com o cuidado que o brasileiro merece? Seria uma boa opção para desaparelhar o Estado dos governantes e seus apaniguados.
Walmir Rosário é jornalista, radialista e advogado, além de editor do Cia da Notícia.

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Luiz Conceição | jornalistaluizconceicao2@gmail.com
 

O Conceição e o Vila Zara eram como se família única fosse. Pais e filhos se reconheciam no pertencimento. A farra do Judas do Seu Conrado era traço de união a todos. Que tempos memoráveis!

 
Entre os anos de 1960 a 1980, o Sábado Santo, que antecede o Domingo de Páscoa, era marcado pela queima da Judas. Crianças e adolescentes dos bairros Conceição e Vila Zara aguardavam com ansiedade o show pirotécnico comandado pelo Seo Zé Conrado, um coletor de impostos do Fisco em Itapé, que morava no bairro próximo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Com engenhosidade, arte e humor, Conrado esticava fios de arame pelos postes da Praça dos Capuchinhos onde colocava um boneco simbolizando Judas Iscariotes, aquele personagem bíblico que entregou Jesus Cristo ao suplício para a redenção da Humanidade. Repleto de bombas e outros fogos de artifício, o boneco ficava ali o dia inteiro até ser queimado fixado em uma estaca de madeira sendo “insultado” por adultos em repulsa à sua conduta de entregar o Filho de Deus aos algozes.
Crianças e adolescentes não entendíamos muito, mas ficávamos ainda mais ansiosos pela hora da queima do boneco, findo os atos religiosos na igreja. Uma multidão ria à vontade com o “testamento” deixado pelo fajuto Iscariotes, mas era delicioso ver as pilhérias e o legado a pessoas conhecidas dos dois bairros e da cidade como um todo. Sim, políticos também eram vítimas das piadas do Seo Conrado e até gracejavam por reconhecer na brincadeira o humor ferino.
O Conceição e o Vila Zara eram como se família única fosse. Pais e filhos se reconheciam no pertencimento. A farra do Judas do Seu Conrado era traço de união a todos. Que tempos memoráveis! A felicidade enchia a todos pela suposta vingança de ver queimado, depois do rastilho de pólvora nos fios de arame, o boneco que representava o traidor, o falso apóstolo que com um beijo na face entregou Nosso Senhor ao suplício da cruz redentora e salvadora das pessoas que Nele acreditam.
Que a Páscoa, na aurora dominical, represente mais uma dessas passagens para um tempo novo em vez do desamor e do ódio, do ceticismo e descrença, da dor e sofrimento de cada um. É tempo de esperança, certeza e fé que um novo amanhã com amizades sinceras, harmonia e uma sociedade mais fraterna é possível. Que crianças e adolescentes fiquem longe da subjugação das drogas, maus tratos e da violência não só dos dois bairros, como de outros locais. E que renasça a crença de que o amor maior é aquele nascido da família, das boas amizades e da Cruz.
Feliz Páscoa!
Luiz Conceição é jornalista.

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Felipe de Paula | felipedepaula81@gmail.com
 

No país que mais mata pessoas trans no mundo – 40% do total das mortes, a ação da UFSB, que reserva uma vaga supranumerária na Área Básica de Ingresso, ainda é muito pequena. Que as vagas se expandam para outros cursos, outras universidades e a instituição universitária possa ser equivalente à população que a sustenta e abriga: com gente de todas as raças, gêneros, identidades, credos, culturas, origens.

 
Coloquei meus pés numa universidade pela primeira vez há pouco mais de 18 anos e nunca mais saí. Entrei na UESC em fevereiro de 2000 para fazer minha matrícula como estudante de graduação. Depois disso fui servidor técnico e estudante de mestrado na mesma instituição e, posteriormente, professor da Universidade Federal de Alagoas por quatro anos antes da minha redistribuição para a UFSB. Ao longo desses anos tenho notado uma mudança de composição das comunidades acadêmicas.
Do tempo em que frequentei minha graduação, lembro-me de uma universidade predominantemente branca e de classe média. Conto nos dedos de uma mão os colegas originários de escolas públicas. Negros também eram poucos – em alguns cursos, praticamente inexistentes. Isso me incomodava muito.
Ao longo dos anos, percebi a mudança com o desenvolvimento de uma política de ações afirmativas. Vi uma universidade para poucos se transformar em uma instituição um pouco mais plural, mais completa. Vi estudantes terem suas vidas mudadas pela simples oportunidade de frequentar uma universidade.
Minha instituição de trabalho, a UFSB, notabilizou-se nacionalmente nas últimas semanas em razão da implementação de vagas reservadas a pessoas trans. A universidade sul baiana é a primeira do país a garantir essa reserva na graduação.
Entre os dias 22 e 26 de março, a UFSB oferece vagas de acesso à Área Básica de Ingresso de suas graduações, através de seus Colégios Universitários. Em cada um desses Colégios estão garantidas vagas supranumerárias para indígenas, quilombolas e pessoas trans que tenham cursado ensino médio em escolas públicas.
Lendo alguns comentários nas redes sociais, encontrei muita revolta com a decisão e constatei o evidente: a extrema necessidade desta ação.
Vale ressaltar: a questão não é declarar inabilidade desse grupo e sim de compreender as cruéis condições sociais historicamente constituídas que afastam essas pessoas da oportunidade de estudar e mudar a sua realidade. Não é apenas abrir uma “cota” para pessoas trans e sim de garantir uma política de ação afirmativa que reverta um pequeno aspecto do ambiente negativo a que este grupo é submetido cotidianamente na sociedade, impossibilitando acesso à educação e, consequentemente, emprego.
Estudos apontam que 73% dos estudantes que não se declaram heterossexuais já foram agredidos verbalmente em ambientes educacionais, 25% já foram agredidos fisicamente e 55% afirmam já ter ouvido comentários depreciativos especificamente sobre pessoas trans.
No país que mais mata pessoas trans no mundo – 40% do total das mortes, a ação da UFSB, que reserva uma vaga supranumerária na Área Básica de Ingresso, ainda é muito pequena. Que as vagas se expandam para outros cursos, outras universidades e a instituição universitária possa ser equivalente à população que a sustenta e abriga: com gente de todas as raças, gêneros, identidades, credos, culturas, origens.
Que possamos transformar a realidade através da educação.
Felipe de Paula é professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)

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Marco Wense
 

O vereador Guinho, que faz um bom trabalho no Legislativo, está sendo atropelado pela vaidade. O eleitor não costuma perdoar os ingratos.

 
O vereador Enderson Guinho, eleito pelo PDT do ex-prefeiturável Antônio Mangabeira, presidente do diretório municipal, pode ir para o PR.
Segundo o blog Ipolítica, o edil estará em Salvador na próxima semana para uma conversa com o deputado federal José Carlos Araújo, dirigente-mor estadual da legenda.
Guinho, que só chegou no Legislativo de Itabuna graças aos votos de legenda do Partido Democrático Trabalhista, foi sufragado por 669 eleitores.
O vereador, que é pré-candidato a deputado estadual, abandona o partido que o elegeu e lhe deu todo o apoio, dando um chega-pra-lá nos companheiros.
O motivo alegado é que a cúpula estadual do PDT resolveu se juntar com outras legendas, incluindo aí o PT, na eleição proporcional para à Assembleia Legislativa, o chamado “chapão”.
O problema de Guinho não é o PT, já que o vereador sempre demonstrou ser um simpatizante do partido, mas sim um caminho mais fácil para alcançar seus interesses pessoais.
Para frear a fúria de alguns pedetistas, Guinho insinua que o PR pode apoiar Mangabeira na sucessão municipal de 2020, como se esse inconsistente argumento servisse para amenizar a ingratidão.
O vereador Guinho, que faz um bom trabalho no Legislativo, está sendo atropelado pela vaidade. O eleitor não costuma perdoar os ingratos.
Outro ponto é que o PR está caminhando a passos largos para apoiar ACM Neto (DEM). Guinho vai ter que rever seu voto na reeleição de Rui Costa.
Em tempo: a suplente do PDT, a fisioterapeuta Sandra Rihan, pode questionar o mandato do vereador Enderson Guinho.
Marco Wense edita O Busílis.

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Robenilson Sena Torres | robenilson.sena@gmail.com
 
 

Ao analisar o quadro da violência nas localidades de maior incidência, a exemplo da Zona Norte do Município, percebe-se ausência de equipamentos, programas e serviços públicos para garantir os direitos fundamentais inerentes às crianças, aos adolescentes e aos jovens destas localidades.

 
Vivemos o caos da violência desenfreada instalado em Itabuna e, apesar das ações na área da Segurança, o problema parece não ter fim. Paralelamente a isso, surgem os chamados “salvadores da pátria” e os “oportunistas de plantão”, que dizem ter fórmula pronta. É notório que quando se fala em superação da violência, a Secretaria que mais tem recebido visita é a Segurança Pública, como se a resposta estivesse na polícia. Um dos fatores mais relevantes que corroboram para o atual quadro de violência é a falta de efetividade das políticas públicas e aplicação do princípio da proteção integral às crianças e aos adolescentes, aliado a ações desarticuladas do poder público, controle social ineficaz e não gerenciamento dos programas educacionais e sociais existentes, ou seja, a falha do Estado em garantir direitos.
Ao analisar o quadro da violência nas localidades de maior incidência, a exemplo da Zona Norte do Município, percebe-se ausência de equipamentos, programas e serviços públicos para garantir os direitos fundamentais inerentes às crianças, aos adolescentes e aos jovens destas localidades. Constata-se que as maiores vítimas de homicídio são adolescentes e jovens do sexo masculino e negros, números que mostram um claro recorte de classe, idade e cor.
Em dados gerais de Itabuna, 95% das vítimas de homicídios são negras. Números que merecem reflexão e programas direcionados. A ausência de políticas públicas nas áreas de educação, saúde, esporte, lazer, profissionalização, saneamento retrata que a não garantia desses direitos, geram uma série de fatores político-sociais, dentre eles a delinquência juvenil caracterizada pela ausência sistemática do Estado.
Além da falta de oportunidades de trabalho e de alternativas de lazer, uma marca singular dos jovens, nestes tempos, é a sua vulnerabilidade à violência, o que se traduz na morte precoce de tantos. A falta de alternativas de trabalho e lazer não é traço novo na vida dos jovens de baixa renda no Brasil, o medo, a exposição à violência e a participação ativa em atos violentos e no tráfico de drogas seriam marcas identitárias de uma geração, de um tempo no qual vidas jovens são ceifadas como em nenhum outro período da idade moderna, exceto em circunstâncias de guerra civil entre países.
Para solucionar o problema da violência em Itabuna, não existe fórmula pronta. A busca por solução simplistas, embora populares, não são as que vão resolver o problema. Muitos, principalmente no meio político, não queiram de fato resolver, buscam somente “jogar pra torcida”. Almejam votos e holofotes. Idas à Secretaria de Segurança Pública e apelos à redução da maioridade penal não resolvem. Não basta apenas aderir à severidade no controle das ações criminosas.
O crime deve ser prevenido, o foco deve ser ações que previnam a exclusão e a marginalização do indivíduo, a prevenção à violência perpassa por serviços e programas articulados entre setores do poder público e da sociedade civil, diálogo entre as pastas governamentais e orçamento público que atendam a população infanto-juvenil de forma prioritária. As cidades que conseguiram vencer o domínio da violência seguiram por esse caminho. Não há outra saída.
Portanto, se Itabuna quiser sair dessa situação, se faz mister investimento maciço em educação e em políticas públicas, somado a programas que combinem repressão qualificada ao crime e inclusão social. Intervir na realidade social antes que o crime aconteça, utilizando ações estratégicas intersetoriais, mobilização e participação social. E menos discursos midiáticos.
Robenilson Sena Torres é bacharel em Direito e membro do Conselho Tutelar de Itabuna

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Marco Wense
 

Tiram dinheiro da educação, da saúde, enfim, de tudo que é indispensável para o bem-estar do cidadão para satisfazer os parlamentares e seus respectivos partidos.

 
Não satisfeitos com os R$ 1,7 bilhão de recursos para bancar suas campanhas, os senhores deputados e senadores se articulam para ampliar o fundo público eleitoral.
O mais revoltante é o governo criar um teto para os gastos, alegando um rombo nas contas públicas, e ficar na calada da noite alimentando “o quero mais”.
Tiram dinheiro da educação, da saúde, enfim, de tudo que é indispensável para o bem-estar do cidadão para satisfazer os parlamentares e seus respectivos partidos.
Da saúde, tiraram R$ 350,5 milhões, o suficiente, segundo cálculos do jornal Estadão, para arcar com a construção de 150 novas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) ou financiar 859 Unidades Básicas de Saúde (UBSs).
Da educação, R$ 121,8 milhões, o que corresponde a 34% de todos os pagamentos que o governo realizou no ano passado no Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância).
O PRB é a legenda que vai receber a maior diferença em relação a eleição de 2014, a “mixaria” de R$ 56,8 milhões a mais em 2018.
O MDB, antigo PMDB, partido sob o comando do senador Romero Jucá, é quem mais vai desfrutar da dinheirada pública, a “ninharia” de R$ 234,3 milhões.
Pois é. E ainda acham pouco, querem mais, muito mais.
Marco Wense é editor d´O Busílis.

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Marco Wense
 
 

Portanto, todo cuidado é pouco com o deputado Lúcio, que já avisou que vai permanecer no MDB e que os incomodados procurem outra legenda.  

Como não bastasse a indecisão de ser ou não candidato ao governo da Bahia, o prefeito ACM Neto tem pela frente o presidente Temer e o deputado Lúcio Vieira, ambos do MDB.  
A autoridade máxima do Poder Executivo, que chegou ao cargo com o impeachment de Dilma Rousseff, tem um alto índice de rejeição, beirando aos 90%.  
O parlamentar baiano, depois do “bunker” de R$ 51 milhões, vive pelos cantos, até históricos correligionários se afastam do ex-chefe.  
O problema é que o alcaide soteropolitano não pode prescindir do bom tempo do MDB no horário eleitoral, sem falar que qualquer atitude de menosprezo a Lúcio pode provocar a ira do irmão Geddel.  
O ex-ministro não vai aceitar que Lúcio seja jogado na sarjeta. O que se comenta, nos bastidores de Brasília, é que Geddel pode insinuar uma delação se a perseguição política contra o mano se tornar um fato.  
Portanto, todo cuidado é pouco com o deputado Lúcio, que já avisou que vai permanecer no MDB e que os incomodados procurem outra legenda.  
ACM Neto vai ter que suportar essas duas “malas”. Como presidente nacional do DEM, partido que integra a base aliada do Palácio do Planalto, terá até que carregá-las.  
Saindo candidato na disputa com o governador Rui Costa (PT-reeleição), Neto tem que rezar muito para que impopularidade de Temer e Lúcio não contamine sua campanha.  
Marco Wense é editor d´O Busílis e da Coluna Wense, no Diário Bahia.

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José Nazal
 

Experiente, Romualdo logo achou a solução: “volte lá e diga a Choule para vir. Já contratei um guarda-cu para ficar atrás dele o tempo todo!”.

 
Na eleição de 2004 tive o privilégio de ver nascer uma nova profissão: guarda-cu. Explico.
Romualdo Pereira, candidato à vereança, inovou a política com a apresentação do boneco “Romualdão”, inspirado na tradição carnavalesca pernambucana. Contratou “Choule” para carregar a peça. Feita em fibra, suficientemente leve para ser carregada, tinha o incômodo de limitar os movimentos do seu carregador, fato esse que passou a ser o deleite da criançada que perambulava pelos comícios e atos políticos.
Passar o dedo na traseira do boneco era um divertimento pela eles e um transtorno para “Choule”, que levava alguns segundos para dar uma volta de 360º, sem enxergar direito devido aos pequenos furos que permitiam a visão. Quando rodava, os meninos rodavam antes… e tome dedada!

O boneco com o “guarda-cu” de Romualdo || Acervo José Nazal

Certo dia “Choule” não apareceu. Todo mundo preocupado, Romualdo também, forçando o candidato a mandar alguém buscar o Romualdão. Quando chegou o preposto, logo lhe foi dito a razão da falta: “Choule” não aguentava mais tanta dedada. Mandou que procurasse outro para carregar.
Experiente, Romualdo logo achou a solução: “volte lá e diga a Choule para vir. Já contratei um guarda-cu para ficar atrás dele o tempo todo!”. Foi assim que nasceu essa nova ocupação e o boneco permaneceu ativo até o final da campanha.
José Nazal é memorialista, fotógrafo e vice-prefeito de Ilhéus.
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Valéria Ettinger || lelamettinger@gmail.com
 

Precisamos quebrar esse inconsciente coletivo negativo e pessimista que nos paralisa e nos coloca em um lugar de inferioridade e fragilidade social.

 
Quando eu era criança, todos diziam que o Brasil era o país do futuro.
Durante uma fase da minha vida, não compreendia o que a frase significava, mas com o passar do tempo eu entendi que ela era uma metáfora para afirmar que o Brasil era o país da esperança, da felicidade, da alegria, das riquezas, do contentamento, da boa educação, da segurança, da saúde, do bem-estar.
O tempo foi passando, e esse futuro idealizado nunca chegava e ainda não chegou… Uma tristeza assola meu coração porque ao observar a realidade que me circunda só vejo dor, pessimismo, angústias, ódios, pobreza, miséria, invisibilidades, marginalidades, violência, insegurança, doenças, almas enfraquecidas e enlouquecidas, indiferenças e a pior de todas as mazelas: a segregação e o preconceito.
Às vezes fico pensando: será que estamos no mundo de Saramago, onde os que enxergam são cegos e os cegos se enxergam em suas dores infinitas? ou se vivemos em uma sociedade de zumbis, teleguiados por uma força invisível que escurece nossas mentes e nos leva a um lugar de desequilíbrio e separação?
O supérfluo se tornou essencial, e as pessoas vivem como se o outro fosse uma coisa descartável, que a qualquer momento pode ser jogado fora, conforme o humor de quem tem o poder de controlar tudo, através do medo, seja pelas palavras ou pelas armas.
As armas se tornaram o escudo de proteção, a ordem deve ser estabelecida pela força e pela insegurança de que amanhã você poderá não estar vivo para contar uma história.
Fico pensando que mundo é esse que tanto desejamos a paz, mas ao mesmo tempo nos regozijamos com a morte de alguém, apenas, porque ela pensa diferente, ama diferente, vive diferente, tem cor diferente ou se apresenta com qualquer condição que foge do hegemônico ou do padrão dominante ou simplesmente não é como eu, na minha vaidade insana, gostaria que fosse.
Acostumamo-nos com a desordem, com as ilegalidades, com os atos ilícitos com o jeitinho que nos transformou nessa sociedade autofágica que ao invés de se unir para avançar coletivamente se destrói, puramente, porque o próprio umbigo é a única coisa que importa.
É notório como nossa sociedade tem como fundamento o patrimônio que se estabelece por meio de relações desiguais e opressoras, combinadas com um ideal patriarcal que marginaliza as minorias e os movimentos sociais, impedindo que esses tenham seus direitos garantidos e obtenham um lugar que ao longo de nossa história pertenceu aos privilegiados e aos nascidos em berço esplêndido.
Eu poderia não escrever essas palavras que saem de um coração moído e dolorido, porque tive oportunidades que muitos não tiveram, mas não posso, na minha loucura egoísta, não ter uma atitude de alteridade e compaixão, porque o acesso à justiça social deve ser para todos, por entender que enquanto os meus pares não puderem chegar onde eu cheguei, simplesmente, porque a eles não é dada essa oportunidade. Eu devo tomar uma atitude para mudar essa realidade e não, simplesmente, fugir dela ou lavar as minhas mãos. Toda vez que fecho os olhos à injustiça eu me torno conivente com seus resultados.
Mais uma vez meu otimismo foi colocado à prova, mas ao mesmo tempo essa dor me impulsiona a continuar na luta, a não fechar os olhos, a sair da minha zona de conforto, a não ter um discurso de culpabilidade do estado e, simplesmente, permitir que esse Estado continue sendo conduzido pelos opressores, a criminalizar aqueles que estão lutando para que todos possam ter acesso aos bens da vida necessários à felicidade e ao bem-estar.
Hoje, mais do que nunca, tenho a certeza de que o pouco que faço é necessário para garantir às gerações futuras viver em um mundo melhor e acredito que se nos unirmos podemos construir um novo Brasil. Precisamos quebrar esse inconsciente coletivo negativo e pessimista que nos paralisa e nos coloca em um lugar de inferioridade e fragilidade social.
E, assim, eu termino com Aldir Blanc e João Bosco:
[…] Pra noite do Brasil. Meu Brasil. Que sonha com a volta do irmão do Henfil. Com tanta gente que partiu. Num rabo de foguete. Chora. A nossa Pátria mãe gentil. Choram Marias e Clarisses. No solo do Brasil. Mas sei que uma dor assim pungente. Não há de ser inutilmente. A esperança. Dança na corda bamba de sombrinha. E em cada passo dessa linha. Pode se machucar. Azar! A esperança equilibrista. Sabe que o show de todo artista. Tem que continuar…
Valéria Ettinger é gestora social e servidora pública.

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Walmir Rosário | wallaw2008@outlook.com
 

A apresentação publicitária era uma pequena prévia do gabarito dos artistas circenses. Se agradava, o espetáculo era garantia de casa cheia, do famoso poleiro (arquibancadas mais altas), passando pelas cadeiras e até camarotes.

 
Hoje tem espetáculo? Tem, sim senhor! Hoje tem marmelada? Tem, sim senhor! Hoje tem palhaçada? Tem, sim senhor! Então, arroooooochaaaaa, negrada! Era assim o apelo publicitário dos circos na minha infância e adolescência. O palhaço com sua perna de pau, alguns anões, e outros personagens circenses que, todos a pé, circulavam pelas ruas da cidade, convidando o respeitável público para os shows.
Não tinham alto-falantes – no mínimo uma espécie de corneta com a aparência de um funil – mas tinham graça e sabiam arrastar uma galera de moleques, que como eu não resistiam ao charme do palhaço e sua trupe. Se bem que não era apenas o charme do palhaço que nos fazia acompanhá-lo, mas a possibilidade de assistir ao espetáculo, gratuitamente. Bastava o palhaço marcar o nosso braço com uma tinta apropriada.
Que publicidade melhor do que essa para “arrebanhar” assistentes para o grandioso espetáculo? O respeitável público comparecia em massa para conhecer a variedade de atrações, que iam do drama ao globo da morte. Ainda mais se fosse o Capitão Anthony. Palhaçadas, a emoção do trapézio, leões, macacos, elefantes, a mulher de borracha, e uma centena de artistas capazes de agradar aos mais variados gostos.
Mas, se o circo fosse mambembe, a alegria também contagiava a todos nós, que nos apresentava aos donos e artistas do circo, como parte dos personagens da publicidade volante. Para dar credibilidade e a garantia de público, até oferecíamos o roteiro a ser percorrido, principalmente passando pelas ruas cujos moradores seriam presença assegurada, dado ao poder aquisitivo favorável.
A comunicação era perfeita, sem muita zoada, apenas a garganta era suficiente para fazer com que as pessoas deixassem o interior de suas casas, aparecerem no passeio e soltarem boas e alegres gargalhadas. A apresentação publicitária era uma pequena prévia do gabarito dos artistas circenses. Se agradava, o espetáculo era garantia de casa cheia, do famoso poleiro (arquibancadas mais altas), passando pelas cadeiras e até camarotes.
Lembro-me até hoje da boa comunicação, feita por quem tinha o dom e a sabedoria da arte da publicidade, embora nenhum deles tenha passado em frente ou alisado os bancos de uma faculdade de marketing e propaganda. Simples, eles não queriam inventar a roda, apenas vender seu peixe bem vendido, com a competência de quem sabia e gostava do que estavam fazendo.
Nos dias atuais, em que falamos de boca cheia que temos e utilizamos tecnologia, parece que desaprendemos a boa prática de vender nossos serviços de forma eficiente, para termos eficácia no nosso negócio. Inventamos fórmulas mirabolantes que não levam a nada, a não ser a confusão na cabeça das pessoas. É o chamado “embromeicho”, “enroleicho” que ninguém entende ou gosta.
Pra começo de conversa, partem do princípio de que todos somos surdos – ou nos querem fazer surdos –, ligando os carros de som numa altura insuportável, nos obrigando a ouvir uma verborragia na voz execrável de um locutor horrendo e inconveniente. Se fosse só isso – que já é demais –, até poderíamos tolerar o incômodo, mas os carros de som percorrem, insistentemente, as ruas, um atrás do outro, deixando-nos martirizados.
Pensa que acabou, caro leitor: nem pense, pois sequer falei nas baterias de fogos, queimados a todo o instante, como se tivessem a intenção de deixar os shows pirotécnicos de Ano Novo em Copacabana no chinelo. Ledo engano, os fogos daqui somente fazem zoada, para o desespero de pessoas idosas, doentes, crianças e os animais.
Os donos dos circos Show Fantástico e Dayllon, ou seus gerentes, devem ter ouvido de alguém que em Canavieiras tudo começa e termina com a queima de fogos, daí que devem ter acreditado e torraram o dinheiro do mesmo modo que o poder público. Pelas minhas desconfianças, aí deve ter o dedo do jornalista Tyrone Perrucho, fogueteiro mor dos tempos que o fuzilar de fogos era sinônimo de recontagem de votos. Tudo passado e boa molequeira.
Esperamos que na próxima safra de circos que venham apresentar seus espetáculos ao nem tão respeitável público, receba, por parte do poder público municipal (meio ambiente) e do ministério público, as orientações sobre a legislação pertinente. Caso não acatem as recomendações, é o dever das nossas polícias civil e/ou militar enquadrar os infratores na forma da lei, como diz o jargão.
Tudo por uma questão de respeito.
Walmir Rosário é jornalista, radialista e advogado, além de editor do Cia da Notícia.

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Valéria Ettinger | lelamettinger@gmail.com
 

Vou lutar do seu lado para que todos possam entender que nós, mulheres, não queremos ser melhores que os homens ou subjugá-los. O que nós queremos é ter direitos, respeito e viver com dignidade.

 
Te peço desculpas por um dia ter me afastado de você.
Te peço desculpas por um dia ter julgado você.
Te peço desculpas por um dia ter competido com você.
Te peço desculpas por um dia não ter acreditado em você.
Te peço desculpas por ter criticado você.
Te peço desculpas por ter falado do seu vestido, do seu batom, da sua dança e da sua gargalhada.
Te peço desculpas por te chamar de “puta”, simplesmente por você ser livre.
Te peço desculpas por não ter te apoiado e de defendido quando você era ignorada, vilipendiada, abusada, explorada e violentada.
Te peço desculpas por ter dito que você era culpada.
Te peço desculpas por não ter aceitado você porque tinha filhos.
Te peço desculpas por um dia ter dito que não gostava de trabalhar com você.
Te peço desculpas por ter dito que você era minha inimiga.
Te peço desculpas por ter rejeitado o seu feminismo por acreditar que era uma luta da mulher contra os homens.
Te peço desculpas por ter me afastado do meu feminino sagrado, por, ingenuamente, achar que só seria vista e respeitada se me apropriasse e me comportasse como o masculino.
São tantas desculpas a te pedir…
Mas nesse dia que tentam te presentear, te dizer o quando você é linda e essencial, eu gostaria mesmo que dissessem a você:
Que você pode ser o que você quiser.
Que você não perderá seu emprego porque você engravida.
Que seu salário não será menor do que o do seu colega homem que desempenha a mesma função.
Que você não precisa ter medo do homem que te segue, porque ele é, apenas, um transeunte passando próximo.
Que você não vai ser estigmatizada pelo jeito que se veste e se comporta.
Que você pode ficar tranquila, pois ao chegar em casa, cansada, o seu homem vai está com o jantar te esperando e já vai ter feito a lição com os seus filhos.
Que tua voz vai ser escutada e a sua ideia será acatada.
Que sua condição será sua felicidade e não a sua dor.
Hoje, eu quero te dizer que jamais te abandonarei e seja o que você escolha fazer ou queira ser, eu, jamais, irei te apontar o dedo, simplesmente, por você ser mulher.
Vou lutar do seu lado para que todos possam entender que nós, mulheres, não queremos ser melhores que os homens ou subjugá-los. O que nós queremos é ter direitos, respeito e viver com dignidade.
Feliz dia Internacional da Mulher que luta por todas.
Por vocês, para vocês e com vocês mulheres. Sororidade!
Valéria Ettinger é mulher, mãe e amiga.

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Mariana Ferreira
 

Quanto ao médico, fui informada pela ouvidoria do hospital, no período da tarde, de que foi afastado dos plantões e está sendo investigado. Aqui me posicionei e espero que minha voz convide outras mulheres a não se curvarem diante de um assédio, seja ele qual for.
 

 
“… Que eu não ando só”. A frase, entoada na poderosa voz de Maria Bethânia, serve bem como lema da luta feminina. São inúmeras as experiências ruins, deflagradas por invasões masculinas, na vida de qualquer mulher em qualquer etapa de sua existência. Basta nascer com esse sexo. Não é preciso ser representante de nenhum movimento para afirmar em alto e bom som que esse mau é real.
Relatar um assédio sexual ainda é um dilema na atualidade: para muitas mulheres, por medo da reação do agressor, e para outras muitas, pelo medo da exposição e do estigma de uma sociedade que tem a cultura de se voltar contra a vítima. Mas como diz Maria Bethânia, “não ando no breu, nem ando na treva”, e por isso não serei eu que me calarei.
Sempre fui bem tratada na Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, local que sempre considerei um dos mais seguros da cidade para um cidadão buscar atenção à saúde. Não imaginava que seria lá que sofreria desrespeito e teria o meu pior Dia Internacional da Mulher. Justo numa instituição que tem 101 anos de fundação, mais de 70% do seu quadro funcional formado por mulheres e que presta relevantes serviços à sociedade, como o 1º Mutirão da Mulher no próximo dia 10. Em atendimento por causa de uma dificuldade respiratória pela manhã, o médico plantonista Luiz Duarte mostrou sua forma de agir num procedimento de ausculta respiratória, tocando de forma invasora uma paciente.
A primeira reação de uma mulher nessa circunstância infelizmente é tentar fazer a “ficha cair”, porque, apesar de todo o preparo que buscamos ao longo da vida – psicológico, emocional e físico, nunca imaginamos que isso vá acontecer conosco. A atitude foi flagrante, e era o meu dever reagir, pois algumas coisas que vêm à mente são: “eu pertenço a mim, ele não tem esse direito” e “não fui a primeira e não serei a última se eu permitir que continue às escuras”.
É preciso calar o medo da exposição para dar voz a um basta. Acredito que nada seja por acaso, e talvez por isso Deus tenha usado alguém com senso de cidadania e responsabilidade para não permitir que esses fatos se perpetuassem, para zelo das pacientes e da própria instituição.
É importante que prestem atenção que nós não queremos, nem precisamos, de piedade. Nós precisamos de apoio com atitude – de homens, mulheres e instituições competentes, e exigimos respeito de todo indivíduo e de sua representação máxima, a sociedade. O problema é que romantizar uma data como o Dia da Mulher só camufla uma realidade emergente.
Flores são bonitas e muitas mulheres, como eu, gostam, mas precisam ser símbolo de respeito praticado cotidianamente, e não banalizadas como têm sido. Assim como os discursos bonitos que são cheios de panos quentes para disfarçar a violência contra a mulher. Quantos assediadores notórios não vemos passarem mel em suas palavras no Dia da Mulher para se mostrarem de acordo com os bons costumes, mas que agem como predadores, não importando o dia, a hora, o local? É repulsivo, é vergonhoso!
Finalizo esse artigo fazendo alguns pleitos à Secretaria de Segurança Pública e à Secretaria de Políticas para as Mulheres da Bahia. Não se pode falar em respeitar as minas sem olhar para suas estruturas de apoio a elas. A Delegacia da Mulher em Itabuna reúne tudo o que não pode acontecer: endereço num local deserto, com várias ocorrências de assaltos no entorno, a necessidade de subir ladeira para chegar à unidade, um sistema de registro de queixas que demora mais de uma hora para concluir o processo (no meu caso foi 1h15min) e em um cômodo abafado e sem um ventilador sequer para esse momento penoso da denúncia, sem falar na falta de privacidade da denunciante. Passou da hora de melhorar!
Quanto ao médico, fui informada pela ouvidoria do hospital, no período da tarde, de que foi afastado dos plantões e está sendo investigado. Aqui me posicionei e espero que minha voz convide outras mulheres a não se curvarem diante de um assédio, seja ele qual for. Já disse Maria, a Bethânia: “O que é teu já tá guardado, não sou eu que vou lhe dar”. É a Justiça quem vai. O tempo é chegado.
Mariana Ferreira é jornalista.

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Aline Setenta | alinesetenta@gmail.com
 

Em reverência a todas que me
antecederam e que lutaram para que eu
estivesse aqui escrevendo esse texto e as irmãs
que sofrem ainda mais violências do que eu

 
 
A política, assim como os demais sistema sociais ao longo do último século, sempre estiveram ocupados por homens. Assim, não é incomum ouvir “Xaxo” (como fala uma irmã de luta) quando as mulheres decidem ocupar espaços políticos sejam eles institucionais ou não. Loucas, histéricas, vagabundas, mulher-macho, desocupada são alguns dos adjetivos que ouvem as mulheres que “vão pra rua”, candidatam-se a cargo eletivo, ou defendem uma pauta feminista. O discurso feminista tem incomodado conservadores e, por vezes, gerando mais opressão e violência quando as feministas são alvo dos mais diversos ataques como: “isso aí é falta de homem”, “vai lavar louça”, “essa aí vai ficar sozinha”! Apesar da necessidade de combater esses discursos, entendo que são reações esperadas de um sistema social e cultural que agoniza…. são reações daqueles que não querem admitir a mudança que já esta acontecendo.
Sobre isso, gostaria de fazer uma reflexão: ter um companheiro pode não ser o plano de vida mais importante para uma mulher, assim como não é para alguns homens, a felicidade é um estado interior que pode ou não incluir outra pessoa, vamos superar isso de uma vez por todas. E sobre ser ou não “feminina” espero por um dia que cada mulher respeite-se e seja respeitada na sua individualidade, compreendendo que o feminino está dentro, na sua alma, na sua essência, na sua verdade interior. Simone de Beauvoir disse assim: “Que nada nos defina, que nada nos sujeite que a liberdade seja nossa própria substância”!
Segundo o Valor Econômico, o número de lares brasileiros chefiados por mulheres saltou de 23% para 40% entre 1995 e 2015. O volume de homens que se apresentam como chefes de família no Brasil caiu pela primeira vez em 2016, no ano passado, enquanto 2,4 milhões de mulheres passaram a exercer a função de chefe de família no país, 985 mil homens perderam essa função. Tais mudanças refletem as conquistas feministas e a inserção da mulher no mercado de trabalho, mas infelizmente não tem sido acompanhadas, na mesma velocidade, de alterações sociais significativas.
No Brasil, a cada dia 12 mulheres são assassinadas e 135 são estupradas a cada hora, 503 mulheres são agredidas, 61% dos agressores são cometidas por conhecidos, 19% das agressões partem de seus companheiros, 43% das agressões graves ocorrem dentro de casa. Em todo o Brasil, apenas 443 são as delegacias especializadas num universo de 5570 municípios, e destas a maioria funciona de forma precária e por vezes machista consistindo mais um espaço de violência institucional. Por isso posso, apesar de avistar mudanças no horizonte, e algumas já vem acontecendo, ainda há muito a ser feito.
No cenário brasileiro, destacamos iniciativas no campo das políticas públicas, o advento da Lei Maria da Penha Lei 11.340/06, mudanças no âmbito do Direito de Família e recentemente a Lei do Feminicídio Lei 13.104/15. Em 2003, no início do primeiro mandato do presidente Lula, o governo federal transferiu a então Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher, vinculada ao Ministério da Justiça, para a Presidência da República, nascia assim a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), hoje com status de ministério.
A Secretaria ampliou o escopo de atuação do Estado na defesa dos direitos da mulheres e passou a trabalhar em três linhas de ação: políticas do trabalho e da autonomia econômica das mulheres; combate à violência contra a mulher; programas para as áreas de saúde, educação, cultura e ações voltadas para maior participação das mulheres nas políticas de igualdade de gênero e diversidade. Na Bahia, a SPM também tem avançado na institucionalização de políticas públicas e combate à violência destacando a atuação da Polícia Militar com a criação da Ronda Maria da Penha, e esperamos que as demais pautas avancem num futuro próximo. Itabuna precisa também avançar nesse campo, temos o Conselho da Mulher, o CRAM, a DEAM, as instituições precisam se fortalecer, dialogar e se aproximarem da realidade das mulheres em situação de vulnerabilidade.Leia Mais

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Adroaldo Almeida | adroaldoalmeida@hotmail.com
 
 

O certo é que a crítica “republicana” de Aninha não se interessa pela atuação dos atores e diretores a quem o PT combate. Pelo visto, nem com duas batidas de Molière ela acertaria o fim do espetáculo dos vampirões que tomaram o país.

 
Vez por outra Aninha Franco tenta falar sobre política em seus artigos, mas o que sempre sai é um arremedo de crítica monotemática, repetidamente contra o PT e seus dirigentes, como agora nesse burlesco “A dramaturgia de Jaques Wagner”. Ao que parece, Aninha, a escritora e dramaturga, acha que pertence a uma categoria que chegou ao Planeta para atacar os que pensam diferente dela, inclusive em questões de estética, arquitetura e decoração de interiores. Preconceituosa e enviesada, sugere que a esquerda deve morar para sempre na Cabana do Pai Tomás.
Outro desencontro da personagem política de Aninha é se valer de um jornal, o Correio da Bahia, notório adversário e inimigo imperdoável de Wagner por ter infligido a maior e mais humilhante derrota aos seus proprietários em 2006. Assim fica fácil. Isso é sabujice do pior teatro serviçal.
Neste Brasil véi sem fronteira, muita gente faz teatro como Aninha; alguns, inclusive, a favor dos poderosos; outros, na trincheira da vanguarda contra o atraso; porém há aqueles que não são nem uma coisa nem outra, mas personagens de si mesmos, e escrevem repetitivos monólogos enfadonhos que adormecem a plateia.
Agora, tudo indica, suponho, que Aninha premiada roteirista, não entende patavina de cinema. Pois quando Geddel apareceu chorando diante de um juiz federal em cadeia nacional do JN da TV Globo, Aninha nada falou. Nem, tampouco, quando Rocha Loures foi flagrado correndo, numa cena de perseguição à noite pelas ruas do Rio de Janeiro. Também se calou quando um avião, pertencente ao Senador Perrela, foi filmado pousando no Espírito Santo com meia tonelada de cocaína pura. Ou, quem sabe, ela não aprecie as produções de “terrir” (o terror cômico dos filmes B).
Quem sabe?
O certo é que a crítica “republicana” de Aninha não se interessa pela atuação dos atores e diretores a quem o PT combate. Pelo visto, nem com duas batidas de Molière ela acertaria o fim do espetáculo dos vampirões que tomaram o país.
Adroaldo Almeida é advogado e ex-prefeito de Itororó.

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Mariana Benedito | mari.benedito@outlook.com
 

Um mecanismo de defesa para que não enfrentemos a dor, para que coloquemos máscaras e disfarces. Entretanto, o pote um dia enche. Quanto mais tempo passamos omitindo, escondendo, camuflando o que verdadeiramente sentimos por meio de uma realidade virtual, plastificada, mais a sensação de vazio se instaura.

 
É fato que estamos vivendo em uma era de exposição. Para onde vamos, o que fazemos, o que comemos, com quem estamos tudo é virtualmente compartilhado num piscar de olhos, à base de um toque na tela do celular. Esquecemos cada vez mais de vivenciar, de fato, os momentos, as companhias, as conversas; tudo porque existe uma necessidade inerente de mostrar, expor, postar. É uma busca incessante pela aceitação e valorização do outro; isso é nato do ser humano.
Desde o ‘Homo Sapiens’, o homem sente a necessidade de se agrupar, de se sentir pertencente a um meio, de ser amado, de ser aceito. É isso que nos move! O nosso maior anseio e desejo é ser amado. Todas as defesas que usamos, todas as couraças que foram construídas ao longo de nossas vidas serviram – e servem – para nos proteger da dor da separação, do não se sentir acolhido, aceito, inserido, da dor do aniquilamento. Todas as histórias terminam falando de amor, já diria Julia Kristeva, psicanalista francesa.
Porém, existe outro lado da moeda que precisa também de atenção especial. Essa mesma necessidade de exposição e aceitação muitas vezes pode buscar disfarçar um vazio, uma lacuna, uma dor.
Pesquisas apontam que as Redes Sociais são altamente nocivas à nossa saúde psíquica, já que existe uma felicidade, uma adequação, um estilo de vida ali compartilhado que muitas vezes não é o vivenciado pela maioria esmagadora. É uma cobrança velada por estar bem, por mostrar-se bem, muito embora – algumas vezes – estejamos em algum momento de tristeza, angústia, recolhimento.
Observa-se que é justamente quando mais precisamos deste recolhimento, quando mais estamos tristes, quando mais necessitamos de um olhar para dentro de nossos vazios e dores, é que mais compartilhamos fotos, vídeos, ‘stories’ exalando uma felicidade e um bem-estar ‘fakeados’.
Precisamos estar atentos a isso! Porque essa busca por omitir a dor, por se mostrar feliz, satisfeito, pleno – quando de fato não o estamos – caracteriza uma fuga de nós mesmos. Um mecanismo de defesa para que não enfrentemos a dor, para que coloquemos máscaras e disfarces. Entretanto, o pote um dia enche. Quanto mais tempo passamos omitindo, escondendo, camuflando o que verdadeiramente sentimos por meio de uma realidade virtual, plastificada, mais a sensação de vazio se instaura.
Afinal, estamos escondendo o que de quem? Já que “o Mundo” não precisa saber de nossas dores, já que – no íntimo – sabemos que estamos mascarando sentimentos, sendo mentirosos com nós mesmos. O que nos leva a mostrar uma felicidade que, em determinado momento, não existe? Por que precisamos mentir e deturpar o que sentimos?
Precisamos mostrar o que, para quem?
Mariana Benedito é psicanalista em formação, MBA Executivo em Negócios, pós-graduada em Administração Mercadológica e consultora de projetos da AM3 Consultoria e Assessoria.