VITÓRIA DO IMPRESSO

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Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com
Em Brilho de uma Paixão (Bright Star – Reino Unido/ Austrália/ França, 2009), Jane Campion mostra o que parece ser um alter-ego sem talento. Ao revisitar temas, sentimentos e tipos de abordagens, ela não se apresenta, por exemplo, como a mesma diretora de O Piano (1993). Visto Brilho de uma Paixão, é inevitável pensar que ela fez este como um rascunho para o outro – o que, óbvia e infelizmente, não é o caso.
Ainda que baseado na biografia de John Keats (1795-1821) por Andrew Motion, o que temos aqui é a relação de Keats (Ben Whishaw) – um dos maiores poetas britânicos do romantismo –, no final da vida, com Fanny Brawne (linda e ótima Abbie Conish, que parece irmã de Jack White). Temos um homem romântico, uma mulher mais jovem que mostra paixão recíproca, e a impossibilidade de ficarem juntos – por alguns motivos, mas especialmente pela falta de condições para Keats pagar as contas.
É Campion em retorno ao biofilme sobre personagem literário, como em Um Anjo em Minha Mesa (1990), quando falou sobre a (conterrânea) neo-zelandesa Janet Frame. Só que, ao abordar o poeta britânico, Campion cai em todas as armadilhas possíveis.
Poemas são recitados sem a fruição que podem ter quando lidos, e sem o poder que a mise-en-scène pode oferecer. O mel jogado na tela, mesmo não excessivo, é o suficiente para tirar a sensualidade melancólica ali presente. E os pequenos detalhes que envolvem a relação, um dos pontos altos do filme, parecem fracos quando vemos Conish em sintonia diferente da de Whishaw – e isso não em termo de situação social no filme, mas de atuação mesmo.
Todo o apego de Campion ao texto, a Keats e à dor dele, é tão perceptível quanto prejudicial à imagem. Até no final, quando ela nos lembra que Keats morreu sem ser reconhecido e que hoje é tido como expoente do movimento, a impressão é de que o personagem e sua obra só ficam maiores quando postos ao lado do filme. É quando a paixão, bem perceptível, atrapalha mais que cativa a transposição e o resultado.

Visto no Cinema do Museu – Salvador, junho de 2010.

Filmes da semana

1. O Corvo (1943), de Henri-Georges Clouzot (DVDRip) (***)
2. Brilho de uma Paixão (2009), de Jane Campion (Cinema do Museu) (**)
3. Paris, Texas (1984), de Wim Wenders (DVDRip) (****)
4. Sissi (1955), de Ernst Marischka (**)
Curta:
5. Futebol Além dos Sentidos (2010), de Luciana Queiroz (Espaço Unibanco – Glauber Rocha) (**1/2)

Filmes do mês

10. O Profeta (2009), de Jacques Audiard (Espaço Unibanco – Glauber Rocha) (***1/2)
9. Cidade Baixa (2003), de Sergio Machado (DVD) (***1/2)
8. Ligações Perigosas (1988), de Stephen Frears (DVD) (***1/2)
7. Batalha no Céu (2008), de Carlos Reygadas (sala Walter da Silveira) (***1/2)
6. Ascensor para o Cadafalso (1957), de Louis Malle (DVDRip) (****)
5. O Demônio das 11 Horas (1965), de Jean-Luc Godard (DVDRip) (****)
4. Na Cidade de Sylvia (2007), de José Luis Guerín (DVDRip) (****)
3. Inimigos Públicos (2009), de Michael Mann (DVD) (****)
2. Paris, Texas (1984), de Wim Wenders (DVDRip) (****)
1. A Infância de Ivan (1962), de Andrei Tarkovsky (DVDRip) (****1/2)
______________
Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”.

<p style=”text-align: center;”><a href=”http://www.pimentanamuqueca.com.br/wp-content/uploads/70-MM2.jpg”><img title=”70 MM” src=”http://www.pimentanamuqueca.com.br/wp-content/uploads/70-MM2.jpg” alt=”” width=”559″ height=”95″ /></a></p>
<p style=”text-align: center;”><a href=”http://www.pimentanamuqueca.com.br/wp-content/uploads/Final-3.jpg”><img class=”aligncenter size-full wp-image-30092″ title=”Final 3″ src=”http://www.pimentanamuqueca.com.br/wp-content/uploads/Final-3.jpg” alt=”” width=”42″ height=”13″ /></a></p>
<p style=”text-align: center;”>
<p><strong>Leandro Afonso</strong> | <a href=”http://www.ohomemsemnome.blogspot.com”>www.ohomemsemnome.blogspot.com</a></p>
<p><em><img class=”alignright” src=”http://roteiroceara.uol.com.br/wp-content/uploads/2009/09/BLOG2_viajo_porque_preciso_volto_porque_te_amo_cultura.jpg” alt=”” width=”368″ height=”182″ />Viajo porque preciso, volto porque te amo</em> (<em>idem</em> – Brasil, 2009), de Karim Aïnouz (<em>O Céu de Suely</em>, <em>Madame Satã</em>) e Marcelo Gomes (<em>Cinema, Aspirinas e Urubus</em>), é um <em>road-movie </em>experimental (também por isso inevitavelmente irregular) que tem de melhor o que de melhor seus dois diretores podem oferecer – especialmente Aïnouz. É um filme em um meio, o semi-árido nordestino, e sobre sentimentos – carinho, amor, rejeição – já visitados por ambos, mas trata também e principalmente das divagações e aflições do personagem principal.</p>
<p>Faz sentido dizer que a maioria dos planos de <em>Viajo porque preciso…</em> não tem significado concreto ou função narrativa. Do mesmo modo, praticamente tudo aquilo que visa o horizonte e paisagens afins dura mais que o que o plano de fato mostra – mas esses fatos são menos um demérito que uma defesa da contemplação. E ainda que muitas vezes simplesmente não haja o que ser contemplado, faz parte do personagem esse sentir-se parado – a agonia e o tédio do personagem chegam a nos atingir, às vezes, sem eufemismo algum</p>
<p>Em filme que se assume tão ou mais experimental quanto narrativo, temos aí, no entanto, talvez – e paradoxalmente – uma tentativa de evitar uma monotonia que a ideia do filme sugere. Quase tudo não acontece em cena, mas na cabeça do personagem principal, a escrever suas cartas – trata-se de um filme epistolar de mão única. Como, então, filmar isso – algo tão ligado a um diário, algo a princípio tão anti-audiovisual?</p>
<p>Não temos uma resposta, mas uma opção arriscada, na qual os melhores momentos vêm de depoimentos (prostituta falando em vida-lazer, por exemplo), quando percebemos que os dois souberam extrair uma sinceridade tocante que emana daqueles que dirigem. Isso sem falar do personagem como entrevistador/provocador, em situação que nos liga inevitavelmente a ele fazendo o papel de diretor.</p>
<p>Esse caráter experimental, contudo, pode camuflar desnecessários tremeliques de câmera ao mostrar o personagem em meio à sua jornada, uma vez que não dá para chamar de experimental (ou dar qualquer mérito aqui) o que já virou um quase padrão – a câmera na mão nos dias de hoje.</p>
<p>Ainda assim, vale dizer que os altos do filme atingem um nível de sensibilidade que vem, entre outras coisas, justamente dessa abstração da narrativa convencional: da por vezes completa imersão em um mundo acima de tudo sensorial. Torto, talvez fatalmente torto, talvez o mais fraco trabalho de ambos, mas com momentos de coragem e brilhantismo bem-vindos.</p>
<h2><span style=”color: #800000;”>8mm</span></h2>
<p><strong>Paixão do visível</strong></p>
<p style=”text-align: left;”><em><img class=”aligncenter” src=”http://harpymarx.files.wordpress.com/2009/03/sylvia2.jpg” alt=”” width=”480″ height=”270″ />Na Cidade de Sylvia</em> (<em>En La Ciudad de Sylvia</em> – Espanha/ França, 2007) é meu primeiro contato com José Luis Guerín, catalão que teve três de seus longas exibidos no Panorama Internacional Coisa de Cinema. (Alguém sabe falar sobre?)</p>
<p>Guerín se mostra preocupado com a cidade, às vezes mais que com seus dois personagens principais, ou – o que pinta com alguma prioridade – as relações entre personagens diversos e o lugar onde vivem. No entanto, a busca dele (Xavier Lafitte) por ela (Pilar López de Ayala) é interessante a ponto de causar angústia quando algo foge do esperado. Ele desenha e retrata a cidade, é ele o mais afetado e sobre quem é o filme, é ele que não sabemos de fato o que sente, viveu ou viu; mas é ela que magnetiza a tela quando aparece.</p>
<p>Todavia, e felizmente, o filme vai além da contemplação de um sensacional rosto de uma boa atriz. Pode-se entrar em longas discussões e análises sobre memória e imagem, sobre miragem e dúvida; em uma palavra, sobre cinema. E, o que é melhor, através do cinema.</p>
<h2><span style=”color: #800000;”>Filmes da semana<br />
</span></h2>
<ol>
<li><strong>Viajo porque preciso, volto porque te amo (2009), de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes (Cine Vivo) (***)</strong></li>
<li><strong>Batalha no Céu (2008), de Carlos Reygadas (sala Walter da Silveira) (***1/2)</strong></li>
<li><strong>O Refúgio (2009), de François Ozon (Espaço Unibanco – Glauber Rocha) (***)</strong></li>
<li><strong>O Profeta (2009), de Jacques Audiard (Espaço Unibanco – Glauber Rocha) (***1/2)</strong></li>
<li>O Demônio das 11 Horas (1965), de Jean-Luc Godard (DVDRip) (****)</li>
<li>Na Cidade de Sylvia (2007), de José Luis Guerín (DVDRip) (***1/2)</li>
</ol>
<p>______________</p>
<p><strong>Leandro Afonso</strong> é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”.</p>
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Marinheiro de primeira viagem na Câmara dos Deputados, o vice de José Serra, Índio da Costa (DEM) tem um histórico de proposições pra lá de estranhas, como revela matéria publicada na edição deste domingo da Folha de S. Paulo.
Ainda na época de vereador no Rio de Janeiro, Índio apresentou proposta para punir com multa os cariocas que dessem esmolas e outra para impedir totalmente o comércio ambulante. Bastante “sensível” o rapaz!
No parlamento federal, um de seus discursos foi em defesa de plebiscito para discutir a pena de morte, tema evitado pelos políticos experientes.
Caso Serra seja eleito, Índio da Costa será o seu substituto quando o titular estiver em viagem ou afastado por qualquer motivo. Se o presidente vier a falecer ou ficar impedido, o Índio com todas as suas ideias “fascinantes” assume o cargo em definitivo.

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As campanhas eleitorais terão início oficialmente nesta terça-feira, dia 6, com a liberação dos comícios e propaganda nas ruas. O horário eleitoral gratuito no rádio e na TV começa no dia 17 de agosto. 
De acordo com reportagem do jornal “O Estado de São Paulo”, as estratégias estão definidas. Enquanto o tucano José Serra se organiza para um intenso corpo a corpo na região Sudeste, onde as pesquisas apontam uma certa queda de sua liderança, a candidata Marina Silva, do PV, empenha-se na preparação para os debates diretos – sua grande arma, já que seu tempo em rádio e TV será de apenas 72 segundos.
Para Dilma Rousseff (PT) – diz o jornal paulistano com certo sarcasmo – a prioridade são as cenas e falas para preencher “os seus longos 10min25s no horário gratuito”.

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foto Max Haack / Bahia Notícias

A regra do TSE que limita a participação de candidatos à Presidência nas campanhas estaduais já provocou duas baixas. Os partidos PHS  e PSL, que teriam postulantes à sucessão de Lula, desistiram, para não comprometer sua presença em chapas regionais.
Jaques Wagner (PT), candidato ao governo da Bahia, é beneficiado pela decisão do PSL, que integra a sua coligação e, caso mantivesse o nome de Américo de Souza para presidente, poderia tornar impossível o uso da imagem de Dilma Roussef na campanha petista baiana.
A regra, no entanto, ainda complica a vida do candidato do PMDB ao governo, Geddel Vieira Lima. Ele apoia Dilma, mas cinco partidos de sua coligação têm candidatos a presidente.

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Do Herald Tribune

Neuer, goleiro da Alemanha, vê bola dentro do gol. A Inglaterra foi roubada – descaradamente! (Foto Getty Images/Fifa).

O mundo inteiro viu o gol claramente, mas o juiz e os bandeirinhas não. E, nesta era das câmeras onipresentes e das verdades fornecidas por inúmeras fontes, surpreendentemente, o erro de uns poucos indivíduos prevaleceu diante daquilo que foi mostrado pelas câmeras e visto pelos olhos de muita gente.
Assim, apesar das desculpas apresentadas dias depois por Sepp Blatter, o presidente da Fifa (Federação Internacional de Futebol), e de uma promessa de reavaliar a questão da tecnologia nos jogos, a Inglaterra não recuperou o segundo gol que marcou contra a Alemanha no fim de semana passado.
Qual poderia ter sido o resultado do jogo se a Inglaterra tivesse entrado no segundo tempo com a tranquilidade psíquica condizente com um placar empatado? Torcedores e comentaristas ficaram furiosos: como é que esses jogos multibilionários podem desprezar uma tecnologia que é encontrada em qualquer telefone celular comum? Por que não adotar o inevitável?
Mas uma outra forma de enxergar a abordagem da Fifa é como um ato raro e revelador de resistência em uma era incessantemente digitalizadora.
A tecnologia é criada pelo ser humano. Mas nos dias de hoje, nós agimos de forma a organizar a vida em torno dos aparelhos tecnológicos, em vez de fazermos com que estes é que existam em nossa função. Se os tecnologistas vendem banda larga de acesso ininterrupto, nós nos tornamos criaturas que acessam ininterruptamente o ciberespaço.
Se eles inventam um novo aparelho, nós fazemos fila para comprar a novidade antes de sequer sabermos como usá-la. Se os e-mails podem chegar até nós em qualquer lugar, nós assumimos que eles têm que nos ser enviado em qualquer lugar em que nos encontremos.
O ceticismo digital da Fifa é uma exceção notável a essa cultura. Em uma declaração notável feita três meses antes da Copa do Mundo, a associação não apresentou simplesmente um argumento ludista para explicar essa sua reticência. Ela falou de um jogo caracterizado por certas essências profundas que a associação deseja preservar, e argumentou que a tecnologia ameaça essas essências.
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ASPAS, URTICÁRIA E ESCABIOSE

Ousarme Citoaian
Os jornais, blogs e semelhantes têm sido contaminados por uma moléstia que irrita tanto quanto urticária ou escabiose. São as chamadas “aspas simples” – ou, como preferem os arautos das novidades inúteis, ´aspas simples´. Atualmente, se alguns desses redatores desejam citar a famosa frase de Euclides da Cunha, por certo escreverão  ´O brasileiro é, antes de tudo, um forte´. De que lado veio a sandice, não sei. Mas sei que ela chegou às redações – lugar onde pouco se lê (e hoje, com a internet, também pouco se escreve) – e lá fez morada, pois encontrou quem a adotasse, sem fazer incômodas perguntas.

SERIA ISTO “EVOLUÇÃO” OU ‘EVOLUÇÃO’?

Antes que algum linguista um pouco mais permissivo surja de dedo em riste a defender essa bobagem, provavelmente em nome da “evolução” (ou ´evolução´?) da língua, adianto que nunca em minha já longa existência encontrei guarida para tal coisa em qualquer autor de respeito. De poetas a ficcionistas, de dicionaristas a gramáticos, de Cyro de Mattos a Adonias Filho, de Aurélio Buarque de Holanda a Napoleão Mendes de Almeida e Rocha Lima, sempre encontro aspas utilizadas (ou definidas) como vírgulas dobradas (“). Aspas simples, para esses autores, são usadas somente numa situação muito especial.

EXEMPLO NA CITAÇÃO DE BERGSON

José Afonso de Souza Camboim, em Língua hílare língua (Universidade de Brasília), nos dá uma citação do filósofo Henri Bergson (1859-1941), tirada de um texto do comediante também francês Eugéne-Marin Labiche (1815-1888): “Certo personagem grita ao locatário de cima, que lhe suja a varanda: ´Por que você joga lixo na minha área?´ ao que o locatário responde: ´Por que você põe sua área debaixo do meu lixo?´”. Esta comicidade de inversão citada por Bergson (foto) talvez não tenha muita graça hoje (afinal de contas, o texto tem uns bons 130 anos), mas que o exemplo do uso das aspas simples dentro das aspas “normais” (ou prefeririam ´normais´?) é bom, lá isto é.

DESCONHECIMENTO E PREGUIÇA

Esta frase, colhida num jornal que parece escrito por pessoas que têm compromisso com a língua culta, deixa claro o centro da minha dúvida: “A melhor escolha hoje para o tratamento da Aids é um ‘coquetel’ de três antivirais”, disse o ministro José Gomes Temporão. Até agora, segundo fui informado, aspas simples servem para marcar uma sentença ou palavra dentro de uma citação já aspeada (ou aspada), conforme ilustra o textinho acima. Fora disso, o uso indiscriminado das aspas simples me parece o resultado de uma fórmula sabidamente danosa à escrita: desconhecimento da língua consorciado preguiça de aprender.

DE VALES TRISTES E FLORES MORTAS

Impossível fugir .
Nem mais as praias são serenas,
nem mais os bosques são tranquilos.
Onde o silêncio? onde o repouso?
Acaso a alma dos bosques fugiu
pelas clareiras abertas como bocas
E os vales?
Por que não mais florescem lírios?
alvos lírios, mais alvos que as espumas?
Vejo tanques passando pelos campos,
machucando flores, amassando gramas,
baladas, madrigais aos ermos bosques.
Vinde cantar, poetas, o massacre das flores.
Rondéis,
aos vales tristes
às flores mortas (…).

POETA EM TEMPO DE GUERRA

Este excerto de “Passam tanques pela vida”, de Jorge Medauar (foto), foi colhido em Chuva sobre tua semente, livro de 1945, e o ano termina sendo relevante: o poeta sofre e reflete um tempo de guerra. Mas a composição carrega o signo da eternidade: hoje, 65 anos depois,  a sensação que temos é de que os tanques estão nas ruas e nos campos, amassando flores e esperanças – e o homem ainda é um ser repleto de lamentos. Uma curiosidade sobre o poeta e contista Jorge Medauar (1918-2003): nunca aceitou que sua cidade natal se chamasse “Uruçuca”; tratou-a, sempre, como Água Preta, o nome anterior.

A FALTA QUE FAZ O ROMANCE DO FUTEBOL

O futebol, ao que sei, não teve maior interesse para a literatura regional. Telmo Padilha, se bem me lembro, nunca se debruçou sobre o assunto, Jorge Amado (foto) e Adonias Filho também não, Jorge de Souza Araujo, embora goste do velho esporte bretão, não lhe dedicou maior esforço – e Marcos Santarrita, que chegou a goleiro do fortíssimo esquadrão do Vasco da Gama de Itajuípe, também não escreve sobre esse tema. Essa mesma visão local poderia ser estendida à literatura brasileira como um todo – pois, embora tenhamos ótimos contistas, parece que ainda não nasceu o ficcionista destinado a produzir o grande romance do futebol brasileiro.

“IMAGINÁRIO AMPLO E COMPLEXO”

O antropólogo Roberto DaMatta afirma que os intelectuais brasileiros, elitistas, “detestam futebol”, mesmo os escritores mais ligados às camadas populares, como Jorge Amado e Graciliano Ramos. Este chegou a dizer que o futebol jamais daria certo no Brasil. Exceção que confirma a regra é José Lins do Rego, torcedor fanático e cartola do Flamengo. “Vou ao futebol e sofro como um pobre-diabo”, dizia o autor de Água-Mãe (em que o futebol tem forte presença). Para o crítico Silviano Santiago, não se trata de  “elitismo”, mas de dificuldade inerente ao tema: o imaginário do futebol é amplo e complexo, desencorajador de projetos estéticos na área (ops!). Mas na aridez do assunto entre nós avultam dois nomes: Hélio Pólvora e Cyro de Mattos.

HÉLIO PÓLVORA E A DERROTA DE 1950

Ghiggia/Pablo La RosaHélio, recém-saído da adolescência (nasceu em 1928), sofreu todo o trauma do Maracanaço – como ficou chamado aquele evento fatídico, em que o Brasil, favorito absoluto, já comemorando o título do (como se dizia na época) Oiapoque ao Chuí, perdeu para o Uruguai. Ghiggia (foto), quase antecipando Jorge Benjor, chegou aos 21 minutos do segundo tempo, bateu Bigode e não deu chance ao goleiro Barbosa. O Maracanã calou-se. Espantada, atônita, a nação brasileira fora nocauteada, sem perceber de onde veio o direto que lhe atingiu a mandíbula. Hélio parece ter carregado essa imagem pela vida inteira – e a imprime no excelente conto “O gol de Ghiggia”, de sintomas autobiográficos.

“É CAMPEÃO! O BRASIL É CAMPEÃO!”

Gol do Uruguai 1950Cyro de Mattos, que selecionou “O gol de Ghiggia” para a antologia Contos brasileiros de futebol, é apaixonado por esse esporte, com remessas à infância em Itabuna. O velho campo da Desportiva (título por ele lançado no fim de junho) é tema recorrente, em prosa e verso. E o autor de Alma mais que tudo é outra vítima de Ghiggia, confessado no texto pungente de “Copa do Mundo de 50”, a taça que ele se recusou a perder:
Valia a pena driblar as sombras de um pesadelo que se alojava em meu pequeno coração. Afugentar aquela coisa que só infundia tristeza,  aderia à pele, ardia tanto no coração. Empurrava-me com os outros meninos para os campos do abismo. O plano que armei com os meninos da Rua do Quartel Velho era simples. Não assistiríamos mesmo, na tela do Cine Itabuna, à derrota do Brasil na final contra o Uruguai.  Em algazarra sairíamos pela rua gritando “É campeão! O Brasil é campeão!”, batendo com pau nas latas vazias.

ACORDES QUE VÊM DO SÉCULO XIX

Fugindo a novelas e pregações (pseudo) religiosas, descubro num canal alternativo a reprise do filme Memórias póstumas, de André Klotzel, de 2001 (com Reginaldo Farias, Sônia Braga e Walmor Chagas).  A história, todos sabem, baseia-se em Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis no ápice da criação): morto em 1869, Brás Cubas narra sua vida, fala dos amigos (Quincas Borba, principalmente), dos amores e do fato de nunca haver trabalhado. Mas não foi isso que me chamou a atenção, e sim, na trilha sonora, a modinha incidental “Quem sabe”, de Carlos Gomes (letra de Bittencourt Sampaio), cantada pela soprano Kátia Guedes de Souza.

LIRISMO EUROPEU EM TERRA PAULISTA

Coisa mais linda! O músico campineiro (1836-1896), autor de O guarani, rendeu-se ao popular, via modinha, gênero então em voga, ao fazer, dentre outras, “Suspiros d´alma” (sobre versos do lusitano Almeida Garret). Um texto do Ministério da Cultura diz que o artista teve forte influência européia. “Nas modinhas e canções de Carlos Gomes encontramos um pouco do lirismo francês e muito dos tons humorísticos das canções italianas”, registra o MinC. Romântico, com forte influência interiorana, Carlos Gomes (foto) deixou cerca de 50 canções, dentre elas essa surpreendente “Quem sabe”, aqui, na gravação de Francisco Petrônio (1923-2007).
</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as

DISCOS QUE VALEM O PESO EM OURO

Petrônio gravou pela primeira vez aos 37 anos. Teve sucessos como “O baile da saudade”, “Lampião de gás”, além da série de 4 LPs que valem seu peso em outro: Uma voz e um violão em serenata. Nesses discos ele é acompanhado por ninguém menos do que Dilermando Reis (1916-1977), referência em violão brasileiro – mais conhecido pela autoria de “Magoado” e pela execução de “Sons de carrilhões” e “Abismo de rosas”. Consta que somente entre 1941 e 1962 gravou 68 músicas, sendo 43 de sua autoria. Petrônio, neste “Quem sabe”, mostra o virtuosismo que lhe justificou a alcunha de “Cantor da voz de veludo”.

(O.C.)

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O Ibope divulgou uma nova pesquisa sobre o cenário eleitoral à presidência da República. E crava um empate entre os dois principais candidatos. Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) têm 39% das intenções de voto e Marina Silva pontua com 10%.
A pesquisa foi divulgada pela TV Globo e revela, ainda, 6% de brancos e nulos e 7% de indecisos. A pesquisa foi encomendada pela Associação Comercial de São Paulo e projeta um cenário de segundo turno. Nele, Dilma e Serra pontuam com 43%.
No dia 23, o Ibope divulgou os números de uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em que Dilma aparecia com 40% e Serra, 35%. Marina surgiu com 9%. A margem de erro da pesquisa divulgada hoje é de dois pontos percentuais. Foram ouvidas 2002 pessoas em 140 municípios, de 27 e 30 de junho.

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Um “avião” foi detido ontem à noite pela polícia no bairro Lomanto Júnior, em Itabuna. Portando razoável quantidade de maconha, suficiente para enquadrá-lo por tráfico, o sujeito arrancou risos dos policiais ao definir o produto que transportava como uma “relíquia”.
“Amigo, maconha agora é igual nota de 1 real”, comparou o traficante, explicando que “agora, os maluco só querem crack”.
Adaptando o velho dito popular, é o costume do cachimbo que está deixando a malandragem torta.

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O promotor Clodoaldo Anunciação ganhou fama de brigão pela postura fiscalizadora que adotou diante do executivo itabunense. Pelo menos no ano passado, quando foi pra cima do governo contra a realização do carnaval num momento em que a cidade estava assolada pela epidemia de dengue. Em 2010, o promotor apareceu menos na mídia, mas recentemente moveu uma ação apontando irregularidade na constituição do Conselho Municipal de Saúde.
Pois em breve Anunciação estará bem distante de Itabuna. Ele pretende dedicar os próximos dois anos à realização de um doutorado na França, o que para muitos é visto como notícia das melhores. E não necessariamente por desejar um alvissareiro futuro acadêmico para o promotor, mas tão-somente por querer vê-lo a milhares de quilômetros de distância…

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Reunião em Brasília, quando Geddel ainda era ministro

Quando Geddel ainda era ministro da Integração Nacional e bem antes de romper com Jaques Wagner, ele recebeu em Brasília a visita do prefeito de Itabuna, Capitão Azevedo, e do secretário municipal do Desenvolvimento Urbano, Fernando Vita. Foi nesta ocasião que ficou praticamente selado o convênio que permitiu a liberação de R$ 12,8 milhões para as obras de revitalização da Avenida Amélia Amado.
Curiosamente, quem ciceroneou Azevedo no encontro com Geddel foi o deputado estadual Luiz Argôlo (PP). Hoje, o jovem político de Entre Rios trabalha intensamente para eliminar qualquer possibilidade de aliança entre o prefeito e o ex-ministro, pois quer Azevedo colado com o projeto de reeleição de Jaques Wagner.
Aliás, Argôlo já até disse que confia 100% no apoio de Azevedo ao petista.

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Chegante na Terra da Gabriela para substituir por três meses o colega Maurício Maron na Assessoria de Comunicação Social da Prefeitura de Ilhéus, o jornalista e advogado Walmir Rosário teve receptividade das mais calorosas. Na primeira semana de trabalho, reencontrou velhos amigos da imprensa ilheense, familiarizou-se rapidamente com a nova rotina na assessoria e participou de atividades importantes, como a votação da reforma administrativa do município.
Rosário tem ampla experiência no jornalismo, já atuou em diversas assessorias, além de ter sido até recentente secretário de Assuntos Governamentais e Comunicação Social da Prefeitura de Itabuna, de onde saiu por vontade própria para cuidar de projetos mais estimulantes.

Maron vai para missão no Norte do País e deixa o cargo em boas mãos (foto Clodoaldo Ribeiro)

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Imagem área mostra a devastação promovida na área que deveria ser de preservação permanente (foto Ed Ferreira)

A construção de um luxuosíssimo complexo residencial, em uma área de mais de 80 hectares situada entre Serra Grande e Itacaré, no sul da Bahia, pode trazer dores de cabeça ao empresário Guilherme Leal, dono da fabricante de cosméticos Natura e candidato a vice-presidente da república na chapa de Marina Silva (PV).
Segundo informações, a obra – realizada em uma Área de Preservação Permanente (APP), onde há dunas e restinga – não possui autorização nem do Ibama nem do Instituto do Meio Ambiente (IMA). Por se tratar de área com mais de 80 hectares, seria necessária a elaboração de um Estudo de Impacto Ambiental, o que não ocorreu. O município de Uruçuca (onde está situada a APP), por não se encontrar enquadrado no Programa de Gestão Compartilhada, não pode liberar a construção. E na prefeitura local, os que poderiam autorizar o projeto, negam tê-lo feito.
O fotógrafo Ed Ferreira, que registrou imagens da área devastada, explica que notou intensa destruição da vegetação nativa e “mudanças nas características de drenagem por cortes e aterros”. Houve também a abertura de estradas de acesso, tudo sem licenciamento ambiental, conforme denúncia apresentada ao Ibama.
Segundo Ferreira, que é também ambientalista, os prejuízos à natureza são evidentes, principalmente por conta da supressão da mata de restinga, numa área que até  a chegada do empreendimento de Leal era altamente preservada. “O que agrava a situação é que a obra está sendo realizada num ponto bem próximo à barra dos rios Tijuípe e Tijuipinho, que agora estão ameaçados”, preocupa-se o fotógrafo.

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Um show de gala da precisa e bela Alemanha mandou a Argentina mais cedo para casa. 1, 2, 3, 4… 4×0, na maior derrota já sofrida por uma grande seleção nesta Copa 2010.
Os hermanos foram para casa sem o gostinho de fazer um gol sequer em cima dos alemães. Klose, candidato a artilheiro da Copas, sabiamente trabalhou para nos poupar de um espetáculo deprimente: ver o treinador Maradona pelado, se fosse campeão do Mundial.
Um tango para Maradona, pois.