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Nos discursos, tudo resolvido, solucionado, com o excelso poder da caneta governamental em portarias, decretos, leis e medidas provisórias.

 

Walmir Rosário

A cacauicultura, que já teve a primazia de ser a principal matriz econômica do sul da Bahia, sempre andou de mãos dadas com os políticos, com troca de favores em determinados períodos, estes nem sempre cumpridos. E às vezes os políticos tinham razão, haja vista que os esperados votos barganhados nunca apareciam nas urnas conforme os totais aprazados.

Nas cidades do sul da Bahia sempre foi costumeira a dispersão dos votos para quase todos os candidatos – dos vários partidos –, não importando de que regiões venham e quais os compromissos assumidos com as causas regionais. Era um suplício para os comunicadores verificarem as listas da apuração dos votos, dado ao número de candidatos a deputados – estadual e federal – que foram sufragados nas urnas.

E não era nenhuma novidade para nenhum deles na promoção das chamadas “casadinhas” que, se não rendiam votos regionais suficientes para conferir um mandato, pelo menos ajudavam. Políticos e eleitores da casa sempre reclamaram dessa prática, mas o hábito nunca mudou, se transformando apenas em meras reclamações dos perdedores, inconformados com a falta de votos.

E entre tapas e beijos esses relacionamentos conflituosos continuam como costume a ser seguido, pois o bom mesmo é que pinguem os votos nas urnas de todo o estado da Bahia, não importando onde. Eleitos, quando cobrados a honrarem as promessas feitas durante a campanha eleitora, simplesmente dizem não terem o que fazer, pois não foram votados maciçamente, não lhes conferindo poder para brigar em Salvador e Brasília.

Bem, mas essa é só uma pequena parte dos conflitos pós-eleitorais dos deputados sem o prestígio suficiente junto aos governos do estado e federal, ou sem a devido relacionamento com a poderosa mídia. Outros políticos que detêm esses poderes vão além e fazem as coisas acontecerem com mais “barulho”, pois sabem como encaminhar os pedidos, os pleitos de anos sem qualquer solução.

O mundo do cacau é diferente de outras regiões, pois sempre foi rico (ou pelo menos considerado), se preocupando em ganhar dinheiro, deixando a complicada arte da política para os novos amigos da capital ou outras regiões. Tanto é assim que poucas lideranças conseguem se eleger com os votos do sul da Bahia. Muitos dos que já foram precisaram das “casadinhas” com candidatos de outras regiões, com raríssimas exceções.

E desde que existe eleição não é segredo que as contas de chegar dos votos nunca enganaram as duas partes: o político faz de conta que acredita nos votos prometidos e a liderança engana na contrapartida. Muitos destes se contentam apenas sair nas fotos em que fazem com os candidatos, como demonstração de poder, ser “o amigo do rei”, jactando-se serem da cozinha de tais deputados ou autoridades.

Nada mais falso, a exemplo de uma cédula de três reais. E por que se submetem a esse tipo de relacionamento promíscuo? As vantagens advindas do que não está escrito ou pactuado entre eles. Em conversa com alguns políticos ao longo dessas várias décadas de militância na comunicação, ouvi bastante que a política é a arte de ser sabido, pois só assim é que conseguiram se eleger.

E vários diziam abertamente que defender as causas da cacauicultura não daria o resultado esperado na urnas, embora pudessem estar constantemente na mídia regional, estadual e nacional. E não é por menos, já que o cacau não é somente uma importante commodity e sim o fruto emblemático das histórias contadas pelo escritor itabunense Jorge Amado, com ou sem a ideologia.

Marketing melhor não há do que as entrevistas nas emissoras de rádio, televisão, jornais e redes sociais com a cobrança das providências junto às autoridades competentes, apresentando uma extensa lista de reivindicações. E tome-lhe pedido de providências, discurso inflamado no plenário vazio, encontro com ministros, todos devidamente com a cobertura da mídia, para a prestação de contas aos futuros eleitores.

Alguns, até, conseguem furar a agenda presidencial e programam viagem com o presidente da República e ministros à Ceplac, com promessas de soluções importantes e imediatas. Para delírio da população, fotos e imagens televisivas mostram as autoridades examinando pés de cacau infestados por vassoura de bruxa, e cacaueiros sadios, cujos frutos são quebrados na hora para o deleite do paladar de nossas autoridades.

Nos discursos, tudo resolvido, solucionado, com o excelso poder da caneta governamental em portarias, decretos, leis e medidas provisórias. Enquanto não chega a eleição a papelada tramita em Salvador e Brasília, enquanto as notícias ocupam grande espaço na mídia. Mas como não querem nada, os burocratas tomam todas as providências necessárias para que fiquem emperradas, no esquecimento, logo após a eleição.

O que não se faz para conseguir votos…

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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O pêndulo já se movimentou. Já está fazendo o caminho de volta. O espectro político nas eleições de 2020 mostra a convergência do eleitorado para os partidos tradicionais de centro direita, aqueles partidos oriundos da antiga ARENA – Aliança Renovadora Nacional.

José Cássio Varjão

Esse é um movimento natural na política. Sempre que o pêndulo se desloca até um extremo, o movimento de resposta é para o lado oposto. A dinâmica eleitoral ao redor do mundo faz o pêndulo global se inclinar à direita.

Entre 1945 e 2020, a alternância de poder nos Estados Unidos da América entre os Partidos Democrata e Republicano só não ocorreu em duas oportunidades. Richard Nixon (Republicano) elegeu Gerald Ford em 1974 e Ronald Reagan (Republicano) elegeu George H.W. Bush em 1989. Portanto, nos últimos 75 anos, o pêndulo da política norte-americana se manifesta a cada eleição, com exceção dos casos supracitados. Em 2016, com Donald Trump, a extrema direita chegou ao poder.

Com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, alguns países do Leste Europeu, chamados de socialistas, começaram um movimento de distanciamento entre os dois extremos. Hungria, Polônia e República Tcheca foram da extrema esquerda para o extrema direita. Na Europa, a crise econômica e migratória, desgaste do meio político e a desconfiança nas instituições, contribuiu para o reaparecimento da direita radical e populista.

A Primavera Árabe foi uma onda de protestos e revoltas populares contra alguns governos do mundo árabe em 2011 (segundo alguns historiadores, sob influência do imperialismo estadunidense). Com o agravamento da crise econômica, elevadas taxas de desemprego, alta do custo de vida e a falta de democracia, as populações de Egito, Tunísia, Líbia, Síria, Iêmen e Barein foram às ruas e proporcionaram gigantescos levantes populares. Bashar al-Assad, Presidente da Síria, é o único que se mantem no poder.

No Brasil, vivemos alguns momentos históricos, com forte entusiasmo democrático e o avanço das liberdades individuais do cidadão. A Constituinte de 1946, foi bastante moderna para a época, consagrando as liberdades expressas na Constituinte de 1934. Foi a Carta Magna mais democrática antes da Constituinte de 1988. Interessante notificar que o nosso Jorge Amado, deputado constituinte, foi o autor da Emenda 3.218 que instituía a liberdade do culto religioso. Em 1984, o movimento das Diretas Já, levou milhões de pessoas às ruas, elites e massas se juntaram numa só voz pedindo eleições diretas no Brasil.

O tempo passa, o pêndulo se move. Uma das Leis Herméticas é a do ritmo: “tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; o ritmo é compensação; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação”. Podemos usá-la na política também.

Em 1989, com a eleição de Fernando Collor de Mello, o neoliberalismo começa a tomar corpo entre alguns setores do capital, dos políticos conservadores e da grande imprensa brasileira, ganhando espaço após anos de inflação alta e grave crise econômica. Iniciou-se o processo de privatização das estatais, abrimos a economia para o capital estrangeiro e o mercado passou a desempenhar papel preponderante na economia da nação. Fernando Henrique Cardoso segue a linha com atitudes e medidas de cunho neoliberal, como a continuidade do programa de privatização, taxa de juros excessivamente alta e a falta de medidas protecionistas à economia nacional.
O pêndulo se moveu.

Em pesquisa do Datafolha de outubro de 2002, a avaliação positiva – ótimo/bom do governo FHC era de 23%. Antes, em junho de 2002, pesquisa Ibope/CNI revelava que 52% dos entrevistados não votaria em nenhum candidato que representasse a continuidade da política econômica, apesar de algumas conquistas do governo, como a estabilidade econômica.

Veio o governo Lula, em 2002, com a manutenção da estabilidade econômica, retomada do crescimento do país, a redução da pobreza e da desigualdade social e terminou seu mandato de 8 anos com avaliação positiva de 80% da população, como 7ª economia mundial. Elegeu Dilma Rousseff como sua sucessora em 2010, sendo reeleita em 2014. Sofreu impeachment em 2016 e foi substituída por Michel Temer.

O pêndulo continuou se movimentando.

Em 2018, pela primeira vez na história, elegemos um presidente da República de extrema direita, que fez o minúsculo PSL, partido que elegeu um deputado em 2014, se tornar a segunda maior bancara da Câmara Federal, com 52 deputados. Dos 27 governadores eleitos, 15 estavam com Jair Bolsonaro no primeiro ou segundo turno.

Chegamos a 2020. A participação do Presidente da República no processo eleitoral foi pífia. Elegeu Gustavo Nunes em Ipatinga (MG) e Mão Santa em Parnaíba (PI) no primeiro turno. Capitão Wagner, em Fortaleza, e Marcelo Crivela, no Rio de Janeiro, disputaram o segundo turno e foram derrotados. Finalizando, dos 13 candidatos a prefeito que o presidente manifestou apoio em lives na internet, onze não se elegeram.

Em termos percentuais, os partidos vitoriosos nessa eleição foram o DEM, seguido por PP, PSD e Republicanos, que fazem parte do chamado Centrão. O MBD ainda mantém a maior quantidade de prefeituras no Brasil e no segundo turno o partido garantiu a vitória em onze das treze cidades em que estava na disputa, um aproveitamento de excelentes 83,33%. Se incluirmos o PSDB, que foi o maior vencedor no estado de São Paulo, com 172 prefeituras e os outros partidos menores que compõem o Centrão, juntos governarão 85% da população brasileira.

O pêndulo já se movimentou. Já está fazendo o caminho de volta. O espectro político nas eleições de 2020 mostra a convergência do eleitorado para os partidos tradicionais de centro direita, aqueles partidos oriundos da antiga ARENA – Aliança Renovadora Nacional. Magalhães Pinto, ex-governador de Minas Gerais, dizia que “a política é como uma nuvem, você olha e ela está de um jeito, olha novamente e tudo mudou”.

Certa vez perguntaram a Albert Einstein porque a mente humana conseguiu desvendar o segredo a estrutura do átomo, mas somos incapazes de desvendar os meandros da política?. E ele respondeu: É simples meu amigo. Isso ocorre porque a política é mais difícil que a física.

José Cássio Varjão é graduando em Ciência Política.

FHC defende que Bolsonaro renuncie ao cargo
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O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (FHC) defendeu que Jair Bolsonaro renuncie ao cargo. O ex-presidente brasileiro (1995-2012) se manifestou por meio do Twitter, após o discurso do ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro.

Para FHC, Bolsonaro cava a própria “fossa”:

– É hora de falar. Pr está cavando sua fossa. Que renuncie antes de ser renunciado. Poupe-nos de, além do coronavírus, termos um longo processo de impeachment. Que assuma logo o vice para voltarmos ao foco: a saúde e o emprego. Menos instabilidade, mais ação pelo Brasil.

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Ex-ministro Zé Dirceu lançará obra em Itabuna nesta quinta (19)

Figura fundamental na fundação e consolidação do PT, o ex-ministro José Dirceu estará em Itabuna para o lançamento do livro Zé Dirceu – Memórias – Volume I, nesta quinta-feira (19). O evento será às 18 horas, no Plenário da Câmara de Vereadores de Itabuna. O lançamento da obra contará com a participação de autoridades regionais e dirigentes de partidos de esquerda, além do novo presidente do PT Itabuna, Jackson Moreira.

A obra Zé Dirceu – Memórias… foi escrita pelo ex-presidente nacional do PT e ex-ministro no período em que esteve na prisão. Nela, conta os bastidores inéditos da militância estudantil nos anos 1960, o exílio e o treinamento para ser guerrilheiro em Cuba e detalhes como a cirurgia plástica para mudar o rosto, além da vida clandestina no país nos anos 1970.

Na volta à legalidade, Dirceu conta a saga para fundar o Partido dos Trabalhadores (PT), do qual veio a se tornar presidente e os períodos dos governos Lula e Dilma Rousseff, que representam a chegada do maior partido de esquerda do Brasil ao poder central.

A obra traz segredos da política interna do PT e dos governos Lula e Dilma Rousseff, além de sua passagem pela Casa Civil do primeiro Governo Lula. Dirceu ainda aborda luta contra a ditadura militar, a redemocratização, a queda de Fernando Collor e a oposição ao Governo FHC. Dirceu também aborda um dos períodos mais duros para ele e PT, o julgamento do “Mensalão”.

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Cláudio Rodrigues
 
 

Durante a campanha eleitoral, o presidente eleito afirmou desejar um Brasil “semelhante ao que tínhamos há 40, 50 anos atrás”. Se voltarmos 50 anos, cairemos em 1968. Precisamos ter a esperança de que o futuro ministro da Justiça não faça como o colega e também ex-ministro Gama e Silva

 
 
1968 foi um ano conturbado, marcado por fatos que viraram de ponta cabeça o Brasil e o mundo. O jornalista e escritor Zuenir Ventura é um estudioso do referido ano. Em seu livro 1968: O Ano que não Terminou (Nova Fronteira – 1989), Zuenir cita importantes personagens, obras e músicas que fizeram parte do período.
Figuras emblemáticas como a atriz italiana e esquerdista Claudia Cardinale, o militante do MR-8 César Benjamin, “Cesinha”, que participou da luta armada, e Carlos Lamarca, “O Capitão da Guerrilha”, que militava na VPR e do MR-8 são personagens da obra de Zuenir. O livro faz referência a artistas que tiveram papel de suma importância nos anos que se passaram, a exemplo de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e Geraldo Vandré, que agitavam os festivais com suas músicas. Já o teatro era a representação do momento peças como Roda Viva. Atraíam uma geração com muita fome e sede de cultura.
Na política, o Brasil vivia uma grande tensão, passados quatro anos do Golpe Militar. A censura, punições, cassações, tortura, exílio e repressão eram a marca do governo dos generais. Diante do Regime, os estudantes inspirados no movimento Maio de 68, que acontecia em Paris, sentiram a necessidade de criar um movimento estudantil articulado politicamente e crítico em relação à Ditadura Militar.
Ao movimento estudantil os militares responderam com mais e mais repressão, e em 13 de dezembro de 1968, no governo do general Artur da Costa e Silva, o seu ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva, foi o redator e locutor do Ato Institucional nº 5. O AI-5 foi o golpe dentro do golpe: fechava o Congresso Nacional, autorizava o presidente da República a cassar mandatos e a suspender direitos políticos, o habeas corpus deixava de existir, a censura estava oficializada e outras medidas repressivas foram adotadas.
Gama e Silva foi jurista, juiz do Tribunal de Contas, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e reitor da mesma USP. Enquanto reitor da USP, elaborou a lista com nomes de professores universitários, colegas seus, que viriam a ser processados no Inquérito Policial Militar da USP, entre os quais Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso. Pelo papel de dedo-duro de Gama e Silva foi agraciado com o cargo de Ministro da Justiça.
Outubro de 2018! O deputado e capitão reformado do Exercito Brasileiro Jair Messias Bolsonaro é eleito presidente do Brasil, na oitava eleição direta pós-Ditadura Militar. O presidente eleito escolhe para chefiar a futura super pasta da Justiça o juiz de direito Sérgio Fernando Moro. Moro tornou-se uma espécie de “herói nacional” depois de ser o juiz da Operação Lava-Jato, que desvendou um esquema de corrupção que envolvia políticos e seus partidos, empreiteiros e grandes empresários.
Juiz de primeira instância, Sérgio Moro usou e abusou da prisão preventiva, sem previsão, para obter delações premiadas. As delações tinham aceitação e valia rápida quando envolvia pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores. Dessa forma o “juiz herói”, mandou para a cadeia figuras de proa do PT, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista era líder nas pesquisas de intenções de voto e maior nome da esquerda na América Latina, em uma ação muito questionada por juristas do Brasil e do exterior, inclusive o Comitê de Direitos Humanos da ONU.
Mesmo preso e impedido pela justiça brasileira de disputar o pleito de outubro último, o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores lançaram seu candidato e a apenas a seis dias da disputa do primeiro turno das eleições o “juiz herói”, liberou parte da delação do ex-ministro dos governos petistas Antônio Palocci, delação rejeitada pelo Ministério Público Federal e aceita pela Policia Federal e o juiz Sérgio Moro. A divulgação da delação de Palocci fez a festa dos opositores do PT e por pouco o capitão reformado não levou a disputa já no primeiro turno.
Passado a eleição, o “juiz herói” é agraciado com o convite para assumir o Superministério da Justiça. Mais: o capitão reformado e presidente eleito diz, em entrevista à imprensa, que o trabalho do “juiz herói” o ajudou a crescer politicamente. Já o vice-presidente eleito, o general Hamilton Mourão, que não tem papas na língua, soltou que o convite ao juiz foi feito ainda durante a campanha, o que deixa uma imensa suspeita no ar em relação ao papel do “juiz herói” no processo eleitoral.

Durante a campanha eleitoral, o presidente eleito afirmou desejar um Brasil “semelhante ao que tínhamos há 40, 50 anos atrás”. Se voltarmos 50 anos, cairemos em 1968. Precisamos ter a esperança de que o futuro ministro da Justiça não faça como o colega e também ex-ministro Gama e Silva, uma vez que existem algumas semelhanças nos “méritos” que os levaram a chefiar a pasta. Zuenir Ventura acertou: 1968 é o ano que insiste em não terminar.

Cláudio Rodrigues é consultor e colaborador de Pimenta.

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Marco Wense
 

Agora, no maior cinismo do mundo, o tucano mais exótico, de plumas mais coloridas e bico reluzente, passa a ser o principal incentivador da candidatura de Luciano Huck.

 
O padrinho político da candidatura do global Luciano Huck ao Palácio do Planalto é Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República.
FHC, como é abreviadamente chamado, é o tucano (PSDB) mais exótico do tucanato, sem dúvida o de plumas mais coloridas e bico reluzente.
O engraçado é que FHC dizia que o prefeito de São Paulo, João Doria, estava tendo um comportamento condenável em relação ao governador Geraldo Alckmin, ambos do PSDB.
Doria se autoproclamava presidenciável da legenda, querendo tomar o lugar do seu criador, daquele que foi responsável pela sua eleição para o Palácio do Anhangabaú.
Alckmin, mesmo contra algumas lideranças do partido, elege o “poste”, que logo é picado pela mosca azul e começa a sabotar a pré-candidatura presidencial do chefe do Executivo estadual.
FHC, percebendo a traição de Doria, aconselha Alckmin a assumir o comando nacional do PSDB, se fortalecendo para ser o nome da legenda na sucessão de Temer.
Agora, no maior cinismo do mundo, o tucano mais exótico, de plumas mais coloridas e bico reluzente, passa a ser o principal incentivador da candidatura de Luciano Huck.
Como o anzol da infidelidade partidária só pega peixes pequenos, os tubarões ficam isentos de qualquer questionamento. Não são taxados de ingratos, traidores e oportunistas de plantão.
Fernando Henrique Cardoso, também conhecido como o “Príncipe da Privataria”, é um, digamos, João Doria mais lapidado, mais traiçoeiro.
A candidatura de Luciano Huck é o sonho de FHC, que se dane o PSDB, Alckmin e todo o tucanato.
Marco Wense é editor d´O Busílis.

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Ricardo Kotscho
 

Pontificam na cena pública tipos como Carlos Marun e Cristiane Brasil, retratos de um país que já não se dá ao respeito e, se o Judiciário serviu para tirar Lula da parada, não se mostra capaz de fabricar o candidato procurado por FHC, que joga para o eleitorado o desafio de encontrar um nome capaz de unir o país.

 
“A pátria precisa tanto de líderes como de instituições. E principalmente de um eleitorado que leve ao poder quem tenha visão de país e de mundo”.
A descoberta acima foi feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em seu artigo dominical publicado no Globo e no Estadão.
Até aí estamos de acordo, mas a pergunta que a maioria do eleitorado está se fazendo é: quem?
A apenas 250 dias de irmos às urnas, pela primeira vez desde a redemocratização estamos no breu absoluto, com o cenário eleitoral ainda absolutamente indefinido.
O país continua dividido ao meio após a segunda condenação e o provável impedimento pela Justiça de Lula, o pré-candidato que lidera todas as pesquisas, participar da disputa.
Seus adversários comemoraram a derrota do ex-presidente no TRF-4 ao verem o campo livre para eleger o sucessor de Temer, mas descobriram que estão sem um candidato competitivo, como fica claro no artigo de FHC.
Mais de um terço dos eleitores responderam aos pesquisadores do Datafolha que ainda não têm candidato ou não pretendem votar em ninguém.
Depois de afirmar que a eleição sem Lula “produz certo alvoroço para saber como se distribuirão seus votos”, o ex-presidente tucano constata o óbvio: “E assim será a cada nova pesquisa eleitoral que apareça. As eleições, entretanto, virão”. Não diga.
Os nomes até aqui testados pela direita governista _ Alckmin, Meirelles, Maia e Doria _ não conseguem passar de um dígito nas pesquisas, mesmo sem Lula na lista de candidatos.
É por isso que FHC voltou a falar tanto em Luciano Huck, que já havia desistido de concorrer, mas isso não pode ser levado a sério.
A Presidência da República não é um programa de auditório que distribui oferendas.
Não dá para inventar um candidato em tão curto espaço de tempo.
Quem for eleito vai herdar um país destroçado, tanto econômica como politicamente, a exigir medidas urgentes para evitar o caos social que já se desenha no horizonte com mais de 12 milhões de desempregados e o colapso nas áreas de saúde, educação e segurança pública.
A tal “ponte para o futuro” produziu em dois anos um retrocesso de décadas nas condições de vida da maioria da população e dos direitos dos trabalhadores.
O tal do ajuste fiscal só fez aumentar o rombo nas contas públicas confirmado no orçamento deste ano.
Até agora, nenhum pré-candidato ou partido foi capaz de apresentar programa mínimo de governo, muito menos um projeto de país.
Continuamos sendo um deserto de homens e de ideias, discutindo o varejo do poder, a distribuição de verbas e cargos.
Pontificam na cena pública tipos como Carlos Marun e Cristiane Brasil, retratos de um país que já não se dá ao respeito e, se o Judiciário serviu para tirar Lula da parada, não se mostra capaz de fabricar o candidato procurado por FHC, que joga para o eleitorado o desafio de encontrar um nome capaz de unir o país.
Este candidato simplesmente não existe até onde minha vista alcança. Bom domingo.
Vida que segue.
Ricardo Kotscho é editor do Balaio do Kotscho.

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Afonso DantasAfonso Dantas | afonso.dantas@camaracomunicacao.com.br

 

 

O Temer, o que bebe o Temer? Não foi comprovado seu gosto vampiresco por sangue, embora milhões de brasileiros pensem o contrário com a série de denúncias sobre seu governo pululando na imprensa e nas redes sociais.

 

Analisando o perfil dos nossos presidentes, observo a relação destes com as bebidas. Não lembro se o Sarney apreciava alguma “branquinha” daquelas com infusão de maribondos e devidamente flambada, para fazer alusão ao seu tão famoso livro de poemas, nem dos gostos dos sisudos militares ou do querido Tancredo. O mais famoso, sem dúvida, nesse setor foi o Jânio Quadros, que disse “Bebo porque é líquido, Se sólido fosse, come-lo-ia.”…Mas vamos lá!

Collor era apaixonado pelo Logan, um whisky escocês de 12 anos – e por causa disso, as importações desse bom whisky dispararam no Brasil. (Há quem suspeite até de sociedade com a destilaria. Pura fofoca.)

Itamar não demonstrava preferência por nenhuma bebida, embora no episódio da modelo Lílian, sem calcinha, no camarote oficial da presidência, durante o carnaval, alguns aleguem que não seria possível ele não estar em um estado um pouco alterado. Ficará sempre a dúvida.

Uma pausa nos presidentes da república para lembrar de outro presidente, o Ulisses Guimarães, eterno presidente do PMDB, que lançou moda ao revelar seu gosto por um aguardente de pêssego, que inclusive vinha com uma pera dentro. A garrafa do Poire Williams, caríssima, era sinônimo de intimidade com o poder e ostentá-la na mesa do Piantella, restaurante preferido da fauna política da Capital Federal, era requisito para atrair a atenção do Doutor Ulisses.

Fernando Henrique Cardoso, era colecionador de cachaças, embora alguns afirmem que isso era para tentar ser um pouco mais “pé na cozinha”, frase que disse e que o acompanhou até o fim do mandato como um presidente que “forçava” seu lado popular. Sua coleção de cachaças foi “socialmente compartilhada” – seria esse o termo politicamente correto? – pelos companheiros do MST, Movimento dos Sem-Terra, que invadiram sua fazenda e degustaram sem cerimônia a sua tão estimada coleção.

Lula, presidente extremamente popular, nos tempos do sindicato adorava uma cachacinha e uma cervejinha gelada. A marca? Gelada! No poder, ainda curtiu uns licores de jenipapo e quentões em uma festa junina palaciana, mas, encantado com as benesses do poder, foi conquistado pelo mundo do vinho, estimulado pelo seu marqueteiro Duda Mendonça – esse influenciado pelo ex-governador de São Paulo Paulo Maluf – e fez uma adega de fazer inveja aos Rothschild. Uma boa garrafa de Romanée-Conti, devidamente “decantada”, sonho de consumo de enólogos pelo mundo todo, passou a fazer parte de sua degustação diária. Um luxo.

Dilma Rousseff em matéria de bebidas não se destacou, embora afirmem que não seriam normais suas declarações e discursos em estado de sobriedade. Mas, por via das dúvidas, vamos deixar esse assunto para lá, pois fora a farra de vinhos bem acima da média na escala em Lisboa, de uma viagem internacional, com fotos um pouco comprometedoras em termos de falta de sobriedade, nada temos a comentar muito. Melhor ficar de bico calado, para não sermos acusados de machismo. Tempos difíceis.

O Temer. O que bebe o Temer? Não foi comprovado seu gosto vampiresco por sangue, embora milhões de brasileiros pensem o contrário, com a série de denúncias sobre seu governo pululando na imprensa e nas redes sociais. A bebida predileta do atual mandatário do Palácio do Jaburu (não quis o Alvorada, pois, dizem, tinha muita luz…) é um mistério, embora haja suspeita de que exista um estoque reforçado de uma bebida escura, a base de catuaba, feita por um raizeiro de origem libanesa, que é melhor do que muita pílula azul famosa que existe por aí.

Um brinde ao poder.

Afonso Dantas é administrador de empresas e especialista em Gestão Cultural pela Uesc, além de sócio e diretor de criação da Camará Comunicação Total.

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Wenceslau diz que Temer é governo ilegítimo e defende novas eleições.
Wenceslau diz que Temer é governo ilegítimo e defende novas eleições.

O professor de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e ex-vice-prefeito de Itabuna, Wenceslau Júnior (PCdoB), acredita que a bomba política desta noite de quarta (17) “esclarece de vez os objetivos” da queda da ex-presidente Dilma Rousseff. Substituto da petista, Michel Temer foi flagrado ordenando a compra de silêncio de eventuais delatores dos esquemas de corrupção no âmbito do PMDB.

Para professor, os novos fatos revelam que “o problema de fundo” do país “nunca foi o combate à corrupção, até porque desde o início o PMDB sempre foi o partido mais envolvido em corrupção. Desde o Governo FHC”. E acrescenta: “o problema é de projeto político”. “O objetivo do golpe na verdade sempre foi retomar o projeto neoliberal interrompido desde o fim da era FHC”.

Wenceslau enumera, como reflexos diretos desta política neoliberal, as ações pela “retirada de direitos sociais e retomada das privatizações”, além de ajuste fiscal.”Tudo em nome do pagamento dos juros abusivos da dívida para beneficiar os banqueiros e o escancaramento do mercado nacional para o capital externo”.

NOVAS ELEIÇÕES

Devido a estas últimas ações e propostas de reformas do Governo Temer, diz Wenceslau, “o povo começa a perceber que foi enganado, ludibriado”. O professor acrescenta: “esse fato novo sela a necessidade de pôr fim ao governo ilegítimo de Temer e convocar imediatamente eleições presidenciais diretas”.

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Cel artigo 2016Celina Santos | celinasantos2@gmail.com

 

Por falar em casta, o esquema de roubo (sem eufemismos!) bilionário da Petrobras é apenas uma ponta das antigas irregularidades que elevam à enésima potência o patrimônio dos “escolhidos”.

 

O trabalhador brasileiro, contando cada centavo para garantir a cesta básica, o transporte e o remédio contra dor de cabeça, sequer tem tempo para pensar que saem do bolso dele os recursos para manter a megaestrutura da República. Embora o discurso oficial sustente que vivemos numa democracia, o tão propalado “governo do povo” é muito mais “pró-forma”. Para começar, o eleitor não escolhe seus representantes de maneira voluntária; é obrigado a votar.

Enquanto isso, é bombardeado com informações sobre escândalos de corrupção cujos montantes vão muito além do que ganharia após uma vida inteira de labuta. O volume de notícias, decorrente das investigações capitaneadas pela Polícia Federal, sugere que os desvios do dinheiro público são recentes (???). Entretanto, até mesmo o cidadão menos escolarizado, teoricamente com menor senso crítico, sabe que grande parcela da “casta” dos políticos comete seus “deslizes” desde sempre. A novidade, talvez, seja um esboço de punição.

Por falar em casta, o esquema de roubo (sem eufemismos!) bilionário da Petrobras é apenas uma ponta das antigas irregularidades que elevam à enésima potência o patrimônio dos “escolhidos”. Como revelou a jornalista Lilian Witte Fibe, ela presenciou na sauna de um hotel, na década de 90, uma conversa entre diretores da estatal. Eles mencionavam a lucratividade de seus cargos por meio de vantagens indevidas. O grupo, ao saber que havia ali uma profissional da comunicação, tratou de escapulir logo da temperatura a que o ambiente poderia chegar.

Naquele período, os contratos na Petrobras ainda eram submetidos ao processo de licitação – que, em tese, impõe regras às movimentações financeiras em órgãos públicos. No governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, porém, tal procedimento deixou de ser obrigatório. Ou seja, tornou-se legal comprar e vender conforme o entendimento das diretorias. Mas por que houve uma liberação do tipo? Não teria se agigantado com aquela decisão o mau uso dos cofres da empresa? Possivelmente, nunca saberemos.

Agora, com a famosa Operação Laja Jato, multiplicam-se as “delações premiadas”; as acusações que envolvem políticos de quase todos os partidos, bem como seus indicados; empreiteiros vão para a prisão; em contrapartida, algumas denúncias são arquivadas, mas parece espalhada a sujeira que sempre esteve por aqui. Boa parte dos deputados apontados na investigação votou pela admissibilidade de um pedido de impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff.

E a comissão encarregada de dar prosseguimento ao processo no Senado tem (pasmem!) mais de um terço dos integrantes respondendo a inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Figuram como suspeitos de desvios, irregularidades, malfeitos e outros sinônimos que enojam o eleitor. Este último, vale lembrar, é o mesmo que não tem poder de decisão sobre os assuntos relevantes para a coletividade; aquele que é obrigado a votar, independentemente de concordar ou não com as opções a ele ofertadas, sob pena de sofrer uma série de sanções.

Nesse espetáculo da tentativa de impeachment, com personagens da oposição, do governo, ex-aliados (que se tornaram adversários de última hora, após saborear o farto banquete do poder), frequentemente vem à memória uma frase da então candidata à Presidência, Luciana Genro: “É o sujo falando do mal lavado”.

Então, no Dia do Trabalho, mundialmente celebrado no 1º de maio, ao povo brasileiro só resta esperar por reformas para mudar a antiga máquina de eleger. Principalmente, no que se refere aos requisitos ($$$) ainda considerados cruciais para definir quem toma posse nos cargos eletivos.

Celina Santos é pós-graduada em Jornalismo e Mídia e chefe de redação do Diário Bahia.

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marco wense1Marco Wense

 

Se houvesse uma troca de presentes entre o PT e o PSDB, o tucanato daria um colar de pena de tucano e receberia uma simbólica estrela. O colar seria pendurado no pescoço e a estrela fixada no peito.

 

 

 

A desenfreada roubalheira na Petrobras, segundo o Ministério Público Federal, começou em 1999. Passou pelos governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

A SBM, só para citar um exemplo, em acordo com o MP, confessou a propina de 140 milhões de dólares no Brasil. O PSDB fica cada vez mais igual ao PT. A ex-candidata à presidência da República pelo PSOL, a gaúcha Luciana Genro, diria que é “o sujo falando do mal lavado”.

Se houvesse uma troca de presentes entre o PT e o PSDB, o tucanato daria um colar de pena de tucano e receberia uma simbólica estrela. O colar seria pendurado no pescoço e a estrela fixada no peito.

 (Foto Pimenta).
(Foto Pimenta).

AÉCIO, O MAIS CHATO

Pois é. O delator Carlos Alexandre Rocha, mais conhecido como Ceará, trabalhava como entregador de propina para o doleiro Alberto Youssef. Na sua delação, disse que Aécio Neves, ex-candidato à presidência da República e atual presidente nacional do PSDB, “era o mais chato para cobrar o dinheiro”.

Já estou imaginado o tucano do outro lado da linha, com aquele seu jeito, pressionando o Ceará: “Cadê, cadê, cadê o meu?

Marco Wense é articulista do Diário Bahia.

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Ciro critica aliança com "golpistas"
Ciro critica conciliação com “golpistas”

Crítico contumaz do que chama de escalada do golpismo, o ex-ministro Ciro Gomes disse ontem (3) no programa Espaço Público (TV Brasil), que a presidenta Dilma Rousseff está conciliando com os opositores que pedem o seu afastamento do cargo e que o governo deveria alterar os rumos da política econômica para recuperar o apoio popular.

“Neste momento, a Dilma está fazendo o oposto, estamos numa escalada golpista que é a mesma rigorosamente, os mesmos atores, partícipes, a presidenta está conciliando com aqueles que nos fazem a perseguição e isso torna esta crise mais explosiva que aquela”, disse o ex-governador do Ceará ao comparar a situação de crise vivida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2005 e a situação atual.

Na ocasião, Lula também enfrentava forte oposição na Câmara dos Deputados, em razão do mensalão, que acabou elegendo o ex-deputado Severino Cavalcanti como presidente da Casa. Ciro comparou a eleição de Severino com a do atual presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a quem acusa de intimidar o governo com a possibilidade de abertura do processo de afastamento.

“A Dilma teve sorte de o Ministério Público (MP) da Suíça ter mostrado que o picareta-mor da República é formador de quadrilha”, disse. “A história brasileira tem sido muito farsante. Só para relembrar: Severino foi cassado naquela ocasião por receber um cheque de R$ 10 mil mensais de um dono de lanchonete”.

Segundo Ciro, o governo deveria trabalhar pela saída de Cunha. Ele disse que o deputado ainda mantém apoio na Câmara por ter “distribuído” parte desses recursos, atribuídos a ele, no financiamento de campanha de outros parlamentares. Ciro lembrou que, de acordo com o Ministério Público suíço, “R$ 411 milhões circularam nas contas e ele [Eduardo Cunha] mentiu dizendo que não tinha conta”.

Na entrevista, o ex-governador do Ceará condenou duramente a tentativa da oposição, liderada pelo PSDB, de abrir um processo de impeachment de Dilma. Para ele, a oposição não aceitou o resultado das eleições e quer “pegar um atalho” para chegar ao poder. “Boa parte do calor dessa crise deve-se a uma geração inteira de tucanos, para quem se a Dilma ficar no governo significa Lula mais oito anos a partir de 2018”.

Além de criticar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Ciro, que já foi do PSDB e ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, se disse decepcionado com o presidente da legenda, senador Aécio Neves (MG), a quem acusou de ter “desapreço às regras e ao calendário [eleitoral]”. Como pode um neto do Tancredo Neves escalar o golpe?”.

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marco wense1Marco Wense

 

O Brasil vai sair dessa grave crise, mais política e ética do que econômica. Os bons políticos querem. Todos nós queremos. Só os idiotas e imbecis torcem pelo “quanto pior, melhor”.

 

O quarteto tucaniano, composto por Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin, não tem um ponto de equilíbrio em relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.

FHC e Aécio defendem dois caminhos: o da renúncia de Dilma, que é um ato unilateral, e o do Tribunal Superior Eleitoral, que vai julgar se houve abuso de poder e financiamento irregular na campanha de 2014.

O posicionamento pela renúncia, que leva o vice a assumir a presidência da República, é de mentirinha. Querem um desfecho contra Dilma e Temer. Ou seja, via TSE, que, julgando procedente a ação do PSDB, poderia definir por novas eleições, no prazo de até 90 dias, ou pela posse de Aécio Neves, segundo colocado no processo sucessório. O comando do Palácio do Planalto ficaria, interinamente, com o incendiário Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. É bom lembrar que Cunha pode virar réu a qualquer momento. O evangélico parlamentar é investigado pela Lava Jato, acusado de ter recebido uma propina de cinco milhões de dólares no esquema do petrolão.

O senador José Serra concorda com a renúncia de Dilma, mas não quer nem ouvir falar do TSE. Torce por uma decisão do TCU condenando as chamadas “pedaladas fiscais”. Por mais estranho que pareça, Serra é um pró-Temer. Trabalha, sorrateiramente, contra o “companheiro” Aécio. Serra quer ser uma espécie de super-ministro em um eventual governo peemedebista. Com Aécio Neves no poder, o tucano-temista seria impiedosamente isolado, tratado com desdém, defenestrado. O roqueiro e doidão Lobão, cotado para ser o titular do ministério da Cultura, teria mais prestígio do que Serra.

Uma decisão desfavorável a Dilma no Tribunal de Contas da União abriria as portas do Congresso para um processo de impeachment por crime de responsabilidade. Temer assumiria o comando do País se o afastamento fosse concretizado.

Sobre as “pedaladas”, escrevi, em 31 de julho, que os governos de FHC (1995-2002) e o de Lula (2003-2010) maquiaram as contas públicas para garantir o pagamento do seguro desemprego. O TCU não tomou nenhuma providência. O que antes era aceitável é agora crime contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Bastou um piscar de olhos na direção do impeachment.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com o corpo, a alma e o espírito voltados para a eleição de 2018, é contra o impeachment. É outro que vem rifando Aécio Neves. Para que o projeto seja aberto pela Câmara, é preciso o apoio de 342 deputados. Seguindo para o Senado, o aval tem que ser dado por 54 senadores.

Parabéns a Renan Calheiros, presidente do Senado, que, juntamente com os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, trabalham na criação de uma agenda positiva, suprapartidária, de interesse nacional. O Brasil acima da politicagem.

Quando questionado sobre a grave crise, o senhor Aécio Neves, até hoje inconformado com o inquestionável resultado das urnas, diz, com aquele inerente deboche, que “cabe ao governo, e não à oposição, buscar soluções”.

Ora, o PSDB não aponta soluções porque não tem competência para apontá-las. A sinceridade parte do próprio tucanato, do vice-presidente nacional da legenda e ex-governador de São Paulo Alberto Goldman: “o PSDB não tem projeto de País”. Finaliza dizendo que “a legenda não é capaz de dizer o que faria se tivesse vencido as eleições do ano passado”.

Setores da chamada “grande imprensa” e importantes lideranças políticas de oposição começam a perceber que o impeachment é o pior dos cenários. João Roberto Marinho, um dos três sócios majoritários das Organizações Globo, diz que “o sucessor da presidente Dilma será quem vencer as eleições de 2018”. Editorial da Folha de São Paulo que “a ala aecista não pode subordinar os meios jurídicos a seus fins eleitorais, vergando as regras da democracia para encurtar o caminho até o poder”.

Clique no link abaixo para ler o artigo na íntegra.

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marco wense1Marco Wense

Os principais defensores do impeachment podem ser réus a qualquer momento.

Se existisse outra oposição, diferente dessa protagonizada por tucanos (PSDB) e democratas (DEM), o governo da presidente Dilma Rousseff estaria mais fragilizado, sem força para reagir.

Quando o assunto é a desenfreada cobiça do poder, o PT e o PSDB são a mesma coisa, comportam-se do mesmo jeito. Rezam na cartilha de que o fim justifica os meios. O petismo com o mensalão e o petrolão. O tucanato com os escândalos da reeleição e das privatizações.

Ora, não é a vontade de partidos e de lideranças pregadoras do golpismo, ainda inconformadas com o fracasso nas urnas, que vão respaldar um pedido de impeachment, e sim provas sólidas obtidas pelas instituições.

Os principais defensores do afastamento da presidente Dilma podem ser réus a qualquer momento. O presidente da Câmara dos Deputados, o incendiário Eduardo Cunha, é alvo da Operação Lava Jato.

O presidente do Senado, Renan Calheiros, já é réu em processo na Justiça Federal de Brasília. O senador é acusado de ter recebido propina da construtora Mendes Junior para apresentar emendas parlamentares que beneficiavam a empreiteira.

Agripino Maia, dirigente-mor do diretório nacional do DEM, coordenador da campanha do candidato Aécio, é acusado de receber propina de R$ 1 milhão para aprovar uma lei que torna obrigatório a inspeção veicular no seu estado, o Rio Grande do Norte.

Como não bastasse, tem o depoimento do doleiro Alberto Youssef dizendo que Aécio Neves pegava mesada de US$ 120 mil. O ex-presidenciável comandava uma das diretorias de Furnas no então governo FHC.

Ainda vem o José Serra defendendo a implantação do parlamentarismo, querendo ser primeiro-ministro, como se o parlamento brasileiro, adepto do toma-lá-dá-cá, estivesse preparado para tal missão.

E, para finalizar, o sincero e corajoso depoimento de Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB: “Os tucanos não são capazes de dizer o que fariam se tivessem vencido as eleições presidenciais. Nós não temos um projeto de país”.

Portanto, uma óbvia e inquestionável conclusão: a oposição, desprovida de credibilidade e coerência, não tem moral para acusar ninguém. É o sujo falando do mal lavado, como diria a ex-presidenciável Luciana Genro.

PS – Se a presidente Dilma Rousseff, na condição de ex-presidente da República do Brasil, resolvesse escrever um livro sobre a banda podre do PT, o título seria “Nunca vi nada igual”.

Marco Wense é articulista do Diário Bahia.

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marco wense1Marco Wense

A diferença do lamaçal petista para o tucano é na impunidade.  Os larápios petistas foram julgados e condenados. Os gatunos tucanos sequer foram a julgamento. Continuam livres e soltos.

“Como brasileiro, sinto vergonha”, diz o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o escândalo da Petrobras. Que coisa, hein! O FHC indignado com a corrupção. Vai terminar virando uma figura folclórica.
O cartel das empreiteiras assalta os cofres da Petrobras há pelo menos 15 anos, desde que a empresa era comandada por Henri Philippe Reichstul, nomeado pelo então presidente FHC para o cobiçado cargo.
Esse Henri causou prejuízos bilionários trocando ativos da estatal com a espanhola Repsol. Ficou conhecido por tentar privatizar a Petrobras. Chegou até a propor a mudança do nome Petrobras para Petrobrax.
Durante o reinado de FHC, Paulo Roberto Costa, réu no processo que investiga o desvio de bilhões de reais na estatal, foi gerente de Produção e Exploração (1995), diretor da Gaspetro (1997) e diretor geral.
Na era FHC, os réus viravam vítimas com o bolso cheio, os delegados eram afastados e os juízes removidos. Alguém se lembra de um mangangão preso no governo FHC ou de alguma devolução de dinheiro?
E os mensalões? O Ministério Público Federal considerou o mensalão do PSDB como o embrião do mensalão do PT. Tem algum mangangão tucano preso? Nem manganguinho.
A diferença do lamaçal petista para o tucano é na impunidade.  Os larápios petistas foram julgados e condenados. Os gatunos tucanos sequer foram a julgamento. Continuam livres e soltos.
O combate à corrupção no governo Dilma Rousseff alcançou as esferas dos corruptores. A Lava Jato vai terminar fortalecendo a presidente, que quer tudo apurado, doa a quem doer.
Alguns jornalistas, defensores do “terceiro turno”, escrevem que a prisão de gente graúda se deve a instituições que funcionam com independência, citando o Ministério Público, Polícia Federal, Congresso Nacional e o STF.
Ora, ora, por que essas instituições não tiveram o mesmo procedimento no governo FHC? Não eram independentes? Agiam de acordo com os interesses do Executivo, do mandatário-mor de plantão?
A reeleita presidente Dilma Vana Rousseff tem razão quando diz que a Operação Lava Jato vai “mudar para sempre as relações entre a sociedade brasileira, o Estado e as empresas privadas”.
O lado cômico do escândalo da Petrobras é FHC se dizendo envergonhado com a corrupção. Das duas, uma: ou tomou alguma pancada na cabeça ou sofre de “memorinite”.
Ao admirar exageradamente a sua própria imagem, sua paixão por si mesmo, o príncipe da privataria tucana esquece que tem telhado de vidro e bico quebradiço.
Marco Wense é articulista do Diário Bahia.