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Ângela Góes

Historicamente, o acesso das pessoas com deficiência aos sistemas de transporte urbano é associado à adaptação dos veículos, tendo como símbolo o acesso do usuário de cadeiras de rodas, por meio de elevadores, aos diversos tipos de veículos utilizados no Brasil. Essa visão impediu uma abordagem mais adequada do problema, desconsiderando os outros tipos de deficiência existentes e suas necessidades específicas.

A acessibilidade não se resume na possibilidade de se entrar em determinado local ou veículo, mas na capacidade de se deslocar pela cidade, através da utilização dos vários meios existentes de transporte, organizados em uma rede de serviços e, por todos os espaços públicos, de maneira independente.

Tão importante quanto adequar os espaços públicos para garantir a circulação dessas pessoas, eliminando-se as barreiras existentes, é evitar que se criem novas dificuldades. Além de garantir a mobilidade das pessoas com deficiência pela cidade, também deve ser promovido o acesso a prédios públicos, estabelecimentos de comércio, serviços e áreas de lazer.

O resgate da cidadania não é feito somente com o trabalho de setores e gestão isolados e, sim, através dos esforços combinados que envolvem uma administração pública, juntamente com a participação social, norteados por uma visão de sociedade mais justa. Trata-se de fomentar um amplo processo de humanização do espaço urbano e o direito à cidade a partir do respeito às necessidades de todas as pessoas que a usufruem.

Ângela Góes é educadora e cadeirante.

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Marival Guedes

Visitante assíduo de  Ousarme Citoaian, do Universo Paralelo,  li comentário de Frank Sinatra afirmando que não gostava  de  My way “porque a letra é muito gabola e eu não gosto de falta de modéstia”. Em verdade e em verdade vos digo, meu caro Ousarme: My way é o retrato cantado do arrogante e prepotente Sinatra. Chequei há muito tempo a esta conclusão baseado em alguns fatos.

Por exemplo, o autor da composição, o canadense Paul Anka em DVD gravado durante um show, declarou após cantá-la: “Sinatra me ligou e disse, ‘soube que você fez músicas e as distribuiu para Tom Jones, Angle Burton, Humphrey Dirk ,Andy Wiliams. Quero que escreva um sucesso’”. E o compositor ironiza: “pessoal, quando Sinatra pede é melhor você escrever um sucesso senão um homem vai aparecer com uma cabeça de cavalo embaixo do braço”.

Paul Anka se refere à história de um cavalo de corrida do chefe da Columbia, Harry Cohn, que teve a cabeça decepada a mando da máfia, numa punição ao veto de Sinatra ao filme “From Here To Eternity”. Conh entendeu o recado e imediatamente escalou o ator. O fato é retratado no filme “O Poderoso Chefão”, baseado no livro de Mário Puzo, a quem o cantor nunca perdoou. Na obra, Frank Sinatra leva o nome de Johnny Fontane.

Numa outra cena Michael Corlene, filho do poderoso chefão, conta à  namorada que o pai fez um favor para Johnny .Ele queria sair da banda de Tommy Dorsey, antes do final do contrato, e por ter recusado o maestro recebeu a visita de um integrante da “família” que encostou o cano do revólver na sua cabeça e advertiu: “ sua assinatura ou seus miolos estarão no contrato em um minuto.” Ao terminar o relato, Michael fala que “é uma história real, Kay” .

Preconceituoso, quando os travestis adotaram como hino a música Strangers in The Night (Estranhos na Noite), ele a excluiu do repertório.

O cantor se relacionava com os chefões Luck Luciano e Sam Giancana. Segundo o comediante Jerry Lewis, Frank passou a ser mula da máfia e chegou a ser flagrado, numa viagem de volta no aeroporto de Nova York,  transportando  uma mala com US$ 3,5milhões. Escapou porque a multidão de fãs se acotovelando levou o fiscal a desistir da revista.

Foi Sinatra quem levou a Giancana pedido do velho Kennedy para o chefão influenciar no resultado das eleições em 1960. E prova maior do seu real estilo é quando se casa com Mia Farrow.  Ela fez queixas do ex, Woody Allen, e o ator perguntou: “quer que eu mande quebrar as pernas dele?” Preconceituoso, quando os travestis adotaram como hino a música Strangers in The Night (Estranhos na Noite), ele a excluiu do repertório. Nunca mais cantou.

Quanto à My way, alguns traduzem como “Minha Caminhada”, outros “Meu jeito”. “I did it my way” (fiz do meu jeito) expressão tipicamente mafiosa, fala da trajetória de uma pessoa no final da vida. No caso de Sinatra poderia ser intitulada minha vida pregressa. Já Comme d’habitude, (Como de costume), que deu origem a My way, fala sobre o cotidiano de um casal de pouca criatividade, que teve o ardor da paixão apagado pelo tempo. Prefiro My way.

O leitor Ferraz tem razão, Mia foi casada com Sinatra de 1966 até 1968.Depois casou-se com André Previn em 1970 e separou-se em 79. Com Woody Allen casou-se em 1983 e separaram-se em 1997 porque o ator começou a ter um caso com a filha adotiva de Mia e Previn. Foi aí que procurou Sinatra para se queixar e recebeu a proposta de punição contra o ator. Obrigado Ferraz pela contribuição.

Marival Guedes é jornalista.

Atualizada às 20h40min

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Jony Torres

O goleiro e a bola sempre viveram um caso de amor. No mundo do futebol todos sabem como a relação é intensa, cheia de muito carinho e brigas também, afinal a união é apaixonada. Há muito se sabe que arqueiro bom, mas bom mesmo, dorme e acorda acompanhado da sua amada gorduchinha.

Mas na semana passada, uma das partes resolveu lavar a roupa suja em público. Nosso arqueiro Júlio César foi um dos primeiros goleiros escalados para o Mundial da África do Sul a manchar a imagem da pelota apelidada de Jabulani. Tudo bem, a moça anda metida à modernosa, abandonou de vez a roupa de couro, se cobriu toda de poliéster e poliuretano, e rebola no campo como se estivesse de novo amor. Mas chamar a menina de horrível na frente de um bocado de marmanjo com caneta e papel na mão, isso não se faz goleirão. Não pode! Que falta de educação e de respeito com quem lhe traz alegria, fama e dinheiro.

Ô Júlio, não quero meter a colher nessa briga, só acho melhor você tomar cuidado com as palavras. Todo macho sabe como elas podem ser vingativas e cruéis e não esquecem nunca uma frase, principalmente se a tal frase for algum adjetivo quanto à forma da dita. Outra coisa, meu velho. Nenhum espécime feminino gosta de ser chamada de fácil. Por isso, nem de longe, você deve sair por aí dizendo que esta menina pode ser encontrada em qualquer supermercado.

Só não vá dar chilique se a pelota caprichosamente te trair ao ceder aos galanteios de um pé artilheiro.

Ela, a Jabulani, a bola da Copa!Se o senhor acha que vai ser difícil pegá-la, porque o vaivém no caminho está mais forte ou porque anda mais ligeira e faceira na busca pelas redes, faça então o seu dever. Chegue mais cedo em casa, ou melhor, no campo e trate-a muito bem. Quando os atacantes bater na moça, você sai correndo, pulando, se jogando para pegá-la em seus braços quantas vezes for necessária para deixá-la mal-acostumada com tuas mãos. Mas pega de jeito mesmo, no tempo e no lugar certo. Ela vai adorar, confie em mim. Se fizer desta forma, quando rolar no jogo contra a Coreia do Norte, já estará caidinha por ti.

Só não vá dar chilique se a pelota caprichosamente te trair ao ceder aos galanteios de um pé artilheiro e acabar passando a noite onde a coruja dorme. Se isso ocorrer, mantenha a frieza e nada de espernear debaixo das traves, mas não deixe passar em branco. Chama o Lúcio e manda ele bater com força toda vez que ela chegar perto. Já para o Kaká, o negócio é pedir para ele levá-la para bem longe de você e de forma rápida, bem rápida. Aproveita que teu amigo Luis Fabiano também não gosta dela mesmo e pede para ele terminar o serviço desovando o corpo no gol adversário. Faz isso e vais conquistar a bola e o país dela.

Jony Torres é jornalista e apresentador da TV Bahia, coluna publicada no Correio.

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Allah Góes | allah.goes@hotmail.com

O sertão sul-baiano, quase que desabitado até o início do século passado, deve seu desenvolvimento à monocultura do cacau, que acabou criando por estas terras, em virtude da diversidade étnica e cultural de seus colonizadores, o que hoje chamamos de civilização grapiúna.

Esta civilização, que se desenvolveu no fausto do cacau, acabou por transformar aqueles outrora simples desbravadores em “Coronéis do Cacau”, que foram eternizados nas obras do também grapiúna Jorge Amado.

Mas, infelizmente, aqueles “Coronéis”, por terem muito dinheiro e por acreditarem que o “El Dourado Grapiúna” seria eterno, nunca se preocuparam em se preparar para a “época das vassouras de bruxa”, deixando de investir na diversificação da lavoura, de investir em candidaturas eletivas que lhes permitisse ter, além do poder econômico, o poder político e, pior, passando este ensinamento para as outras gerações de grapiúnas.

Como resultado desta prática, na última eleição que teve 133 candidatos ao cargo de Deputado Federal, 129 destes postulantes obtiveram votos em Itabuna e Ilhéus, fazendo com que nosso quinhão de mais de 300 mil votos fosse desperdiçado em pessoas que pouco ou nenhum compromisso têm com a nossa região.

E, nesta nova eleição, parece que o ocorrido no pleito passado se repetirá, pois o que assistimos são os mesmos candidatos “copa do mundo”, que nada fizeram, ou fazem, pelo desenvolvimento de nossa Região, uma vez mais, e com as mesmas falsas promessas, por aqui aparecem em busca de voto.

Sim, enquanto outras regiões de nosso Estado se preparam para eleger candidatos comprometidos com seus interesses, nossa “Italhéus”, além de não incentivar o surgimento de outras candidaturas regionais, recebe de braços abertos todo e qualquer forasteiro que por aqui aparece.

E estes candidatos já perceberam que, para terem o voto regional, basta fazer uma “dobradinha” com um candidato a Estadual que, mesmo sem ter o lastro eleitoral necessário, se lança numa aventura que visa tão somente ajudar a eleger o seu “Federal”.

E assim, como o compromisso do “Federal” era apenas com o seu “cabo-eleitoral-candidato”, acabada a eleição e apurados os votos, o já eleito Deputado parte para aqui voltar apenas daqui a mais quatro anos, oportunidade em que aparecerá ao lado de um novo “cabo-eleitoral-candidato”, para reiniciar este círculo vicioso das, tão somente, promessas eleitorais.

Não é de se estranhar que por aqui, enquanto pululam candidaturas regionais a Deputado Estadual (que chegam a mais de 15), ouvimos apenas falar de pouco mais de 05 candidaturas regionais a Deputado Federal, o que deixa patente que estão aparecendo candidatos a Estadual apenas com o intuito de enganar o eleitor, ao iludir este a achar que estão votando em candidatos compromissados com a região.

Claro que no meio desses mais de 15 candidatos a Estadual existem aqueles que são de fato candidatos. E são comprometidos com as causas regionais, devendo o eleitor ter muito cuidado ao analisar as candidaturas postas, pois poderá, por conta de sua escolha, fazer com que, por falta de compromisso político, nossa “Italhéus” permaneça no mundo das promessas e mergulhada no atraso e no desemprego.

Allah Góes é advogado municipalista e consultor jurídico de câmaras muncipais e prefeituras.

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Marco Wense

Pelo último levantamento do instituto Vox Populi, entre 8 e 13 de maio de 2010, a pré-candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff, ultrapassa o tucano José Serra pela primeira vez.

Na estimulada, Dilma aparece com 37% e Serra 34% (38% a 35% em cenário só com Dilma, Serra e Marina). É bom lembrar, para o desespero do PSDB, que a pesquisa de intenção de votos foi realizada antes do programa nacional do PT na televisão.

A preocupação maior do tucanato, principalmente dos tucanos da famosa e atraente Avenida Paulista, é com a consulta espontânea, quando a ex-ministra coloca uma frente de quatro pontos (19 versus 15) sobre Serra.
A “menina” do Lula fica cada vez mais conhecida como a candidata do “cara”.

Marco Wense é articulista do Diário Bahia.

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Ailson Oliveira

A tática da oposição de tentar evitar na Justiça a participação do presidente Lula na pré-campanha da ex-ministra Dilma Rousseff, do PT, não vem produzindo o resultado satisfatório.

Dilma vem assumindo a dianteira no Nordeste e vem crescendo na região Sudeste, base do PSDB/DEM nos últimos anos, e tende a crescer ainda mais quando começar a campanha plebiscitária que visa comparar os governos de Lula/Dilma X FHC/Serra, nos seus respectivos mandatos.

Recorrer sempre à Justiça para evitar o crescimento de Dilma tem sido uma prática comum por parte da oposição. Mas tal estratégia parece ter chegado ao seu limite.

A recente pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi antes do último programa do PT, que foi ao ar no rádio e na TV dia 13/05, apresenta pela primeira vez a ex-minista à frente do pré-candidato José Serra.

Na última eleição a oposição recorreu ao artifício do denuncismo e foi derrotada. Nesta pré-campanha recorre à judicialização e não tem surtido efeito.

Em decorrência disso, surge uma pergunta: o que a oposição deverá fazer pra impedir a eleição de Dilma Rousseff à Presidência da República? O próprio PT tem a resposta: apresentando um programa alternativo para contrapor ao do governo Lula.

Mas, será que a oposição tem algo diferente para apresentar à nação?

O medo do debate plebiscitário e da participação do presidente Lula na campanha de Dilma mostra que a oposição não tem coisa alguma de diferente do que está aí para oferecer ao povo brasileiro. Se a entrada do presidente na campanha assusta os opositores, é indicativo de que o governo está no caminho certo.

Conclusão: o tapetão não é a solução.

Ailson Oliveira é professor de Filosofia (Uneb) e da rede municipal de Itabuna.

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Ailson Oliveira

Arte GE.

Finalmente acabou a expectativa quanto à convocação de Neymar, Ganso e Ronaldinho Gaúcho, pelo técnico Dunga, da seleção brasileira.

Agora os comentários mais comuns são: “Dunga foi conservador”, “Dunga foi coerente”, “só tem Kaká de criativo no meio campo”, “teria que ter chamado Ganso” e “a surpresa foi Grafite”.

Que Dunga foi conservador, a lista comprova isso. Concordo com o comentarista Neto de que o Kaká é um jogador de velocidade e muito importante para o Brasil, mas não é criativo.

Nesse caso, acho que um jogador com a característica do Ganso cairia muito bem no meio de campo da seleção, junto com Kaká ou na ausência dele. Trata-se de um jogador criativo, que sabe segurar a bola, cadenciar o jogo em alguns momentos da partida. Enfim, um jogador moderno.

Grafite de fato foi uma surpresa na lista, mas não foi a única. Kleberson, que é reserva no Flamengo, foi menos testado do que Carlos Eduardo (opção de criação para a meia que se saiu muito bem na seleção, inclusive reconhecido por Dunga) e mesmo assim foi um dos escolhidos para a copa.

Dunga sempre disse que ficaria na seleção quem estivesse jogando bem. As convocações negam esse discurso.

Dunga sempre disse que ficaria na seleção quem estivesse jogando bem. As convocações negam esse discurso. Chamou alguns jogadores que são reservas nos seus times. Ganso e Neymar estão fora da lista.

O que me impressiona é que a imprensa critica agora a convocação de jogadores que são reservas no time de Dunga, para justificar o descontamento pela não-convocação de Ganso, Neymar ou Ronaldinho Gaúcho. Antes, o mais criticado era Gilberto Silva.

Acho injusta criticar jogadores que têm uma história de boas atuações na seleção, como Josué e Júlio Baptista, principalmente nos momentos críticos, e blindar jogadores que conseguem jogar muitas partidas ruins, como Ronaldinho Gaúcho e Robinho.

Se considerarmos o elogio de Dunga pelo futebol apresentado por Carlos Eduardo quando foi convocado, penso que o técnico não foi coerente na escolha de Kleberson.

E se considerarmos que a seleção tem Luís Fabiano e Nilmar como jogadores de área e que Grafite será reserva, o fenômeno, mesmo gordinho, seria uma alternativa para entrar e resolver uma partida no segundo tempo.

A seleção tem jogadores experientes, mas não é, na minha opinião, a favorita ao título. Mas isso pouco conta agora. Nem sempre ganha quem tem melhor elenco e joga melhor futebol. Então, vamos ao hexa.

Ailson Oliveira é professor e amante do futebol.

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Ângela Góes

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O movimento das pessoas  com  deficiência tem  apresentado propostas para  modificações no Beneficio de Prestação Continuada, o BPC,  baseadas no paradigma da inclusão da pessoa com deficiência. Essas propostas buscam remover os entraves que o BPC, tal como é hoje instituído, representa  para a inclusão no mercado formal de trabalho dessas pessoas.

A  proposta central,  apresentada em conferência, seminário  é mudar a concepção do BPC, para que atenda a quem tem deficiência  e esteja momentaneamente desempregado e tenha renda familiar per capita inferior a ¼ de salário mínimo. Assim, uma vez em um emprego de carteira assinada, a pessoa com deficiência teria seu benefício apenas suspenso (e não mais cancelado), sendo restabelecido automaticamente em caso de demissão.

Por outro lado, a própria existência do BPC, tal como é hoje instituído, potencialmente se  coloca como uma barreira significativa ao próprio processo de inclusão. Isso, ao menos, para o contingente de pessoas com deficiência e baixa qualificação profissional, para quem a alternativa de emprego formal pode significar remuneração idêntica ou muito próxima ao valor do benefício assistencial e assim não compensar o risco de trocar o que é líquido e certo para toda a vida  pelo duvidoso ao passar a ser assalariado sujeito ao risco  de não-continuidade, numa possível demissão.

Portanto, são urgentes as  transformações profunda na sociedade e em seus mecanismos de amparo a esse segmento social para que de fato aconteça sua integração de forma ampla.

É evidente que novos tempos permeiam a vida das pessoas com deficiência,  que esta mais consciente quando exige que seja da sociedade a obrigação de se adaptar à diversidade, ao invés de ser o indivíduo quem deva adaptar suas especificidades a um padrão do “homem ideal” para ter acesso ao que a sociedade oferece.

Ângela Góes é educadora e cadeirante.

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Daniel Thame

É absolutamente compreensível que, diante de acidentes terríveis como o que ocorreu na tarde de sexta-feira na rodovia Ilhéus-Itabuna, em que um casal e o filho recém-nascido morreram presos entre as ferragens de um carro atingido de frente por um caminhão-guincho; a indignação das pessoas se volte contra as autoridades.

Afinal, há pelo menos duas décadas que se fala na duplicação da rodovia que une as duas maiores cidades do Sul da Bahia e que, além de ter em suas margens a Ceplac e a Universidade Estadual de Santa Cruz, é uma das portas de entrada para o crescente movimento turístico nas áreas litorâneas e possui um intenso fluxo de veículos entre municípios que se completam nas áreas de comércio, saúde, educação superior, prestação de serviços e lazer.

A duplicação da rodovia Ilhéus-Itabuna é, portanto, mais do que necessária e existem motivos para acreditar que, finalmente, a obra sairá do pantanoso terreno da promessa. Os recursos para a duplicação da rodovia estão disponíveis no PAC e o projeto final está em vias de aprovação.

A partir daí é, literalmente, colocar as mãos à obra.

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Juca Kfouri

Corria o ano de 1956, e, sem pieguice, eu não podia correr.

Uma tuberculose ganglionar quase tinha me matado, e eu andava fraco.

Já fora de perigo, me mandaram passar uns dias em Ilhéus, na Bahia, na casa de parentes.

Tio Pacheco era médico, dono do hospital da cidade, e um figuraço, casado com tia Esther, irmã de minha avó.

Estava lá eu em franca recuperação quando foi anunciada a presença do Fluminense em Itabuna, ali perto.

Foi então que tio Pacheco chegou em casa no fim de uma bela quinta-feira com dois ingressos na mão e prometeu que iríamos ao jogo.

Havia dias que eu não tinha febre, mas, sei lá se a excitação mexeu demais comigo, fato é que na sexta-feira amanheci febril.

Assim foi durante todo o dia, 38, 39 graus de febre, e, quando o tio Pacheco chegou e soube, nem pestanejou: sentou-se ao meu lado e disse que era melhor esquecer o jogo, mas que de todo modo me faria uma surpresa no domingo. Desnecessário contar o tamanho da frustração, e, na verdade, não havia surpresa possível que me interessasse ou consolasse.

Passei o sábado bem jururu e fui acordado no domingo com o anúncio de que tinha uma surpresa para mim na sala.

Lavei o rosto, escovei os dentes, fui para a sala e dei de cara com um bando de gente que eu não sabia bem quem era.

Era o time do Fluminense!

Tio Pacheco havia conseguido levar o time do Flu à casa dele, para visitar o sobrinho doente.

Ganhei autógrafos do Castilho, do Pinheiro, do Telê Santana, do Escurinho, uma beleza!

Muitos anos depois, às vésperas da Copa de 82, perguntei a Telê se ele se lembrava do episódio, e ele disse que sim, vagamente. E, sempre que de alguma maneira divergíamos, ele me ameaçava: “Vou espalhar para todo mundo que você já sentou no meu colo”.

Mas foi em 1984 que essa história teve seu fecho de ouro.

Num programa de tv, com Castilho, o maior goleiro da história do Flu, e Telê, perguntei a eles, piscando o olho para Telê, se guardavam alguma lembrança de visitas a crianças doentes em excursões do Flu.

E Castilho imediatamente se virou para Telê e disse: “Sim, é claro. Você se lembra, Telê, de um menino paulista que fomos visitar na Bahia, estava com uma doença grave, bem fraquinho, acho até que morreu?”

Antes que Telê falasse qualquer coisa, eu disse a Castilho que o garoto era eu.

O velho e sensível goleiro se emocionou às lágrimas.

Foi a última vez que o vi.

Três anos depois, deprimido, Castilho suicidou-se.

Deixou saudade.

Extraído do livro “Meninos, eu vi”, de Juca Kfouri.

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Marco Wense

A presidenta do Partido dos Democratas (DEM) de Itabuna, Maria Alice, está disposta a mostrar que o anzol do instituto da fidelidade partidária não é só para fisgar os peixes miúdos.

O ex-prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, sabe que Alice, sua histórica e fiel aliada, é uma implacável defensora da coerência política. Portanto, para evitar qualquer tipo de atrito com a ex-dama de ferro, o agora neogeddelista vai pedir sua desfiliação do DEM.

O ex-governador Paulo Souto, pré-candidato do democratas ao cobiçado Palácio de Ondina, hoje o segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, não vai contar com o importante apoio do fernandismo.

Entre os vários acertos com Fernando Gomes, incluindo até a possibilidade do ex-alcaide ser o candidato do PMDB na sucessão municipal de 2012, o ex-ministro Geddel pediu ao ainda democrata que olhasse com carinho o nome de Renato Costa.

O médico Renato Costa, pré-candidato a deputado estadual pelo PMDB, sabe que a inusitada e surpreendente aproximação com o ex-alcaide pode provocar a perda de centenas de votos, mas acredita que o ganho vai ser bem maior que a perda.

Coisas da política: Fernando Gomes politicamente afastado de Maria Alice e Renato Costa se aproximando.

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Daniel Thame | www.danielthame.blogspot.com

Algumas mães, de tão devotadas, costumam dar a vida pelos filhos.

O instinto maternal se manifesta de forma tão intensa que eles não hesitam em submeter-se ao sacrifício para preservar aqueles a quem, numa das mais sublimes manifestações da natureza, deram a vida.

Mães, invariavelmente, sonham que seus filhos e filhas se tornarão homens e mulheres respeitáveis e levarão uma vida digna.

Mães, se pudessem, teriam seus filhos e filhas junto delas, como se fossem eternamente crianças necessitando de afeto e proteção, como se o ciclo da vida ficasse paralisado, quando na verdade segue seu curso natural.

É de se imaginar, portanto, a dor de uma mãe quando um filho se desvia do caminho que ela idealizou.

Mais do que isso, quando o filho se transforma em ameaça.

Foi isso que o aconteceu num episódio ocorrido em Itabuna, exemplar pela desagregação que a droga, especialmente o crack, vem provocando como fator de desestrutura familiar.

Primeiro, a mãe percebeu que o filho, até então um dedicado estudante de uma das mais rigorosas escolas públicas de Itabuna, estava mudando de comportamento.

O menino carinhoso se tornara ausente e até agressivo com ela.

Abandonou a escola e passou a andar naquilo que mães zelosas costumam definir vagamente como “más companhias”.

Não demorou muito para ela descobrir que o filho, de 17 anos, estava viciado em crack e, pior, acumulando dívidas com traficantes, que têm o hábito nada ortodoxo de quitar esse tipo de débito com a execução do devedor. Por “execução”, entenda-se assassinato.

A mãe fez um imenso sacrifício e pagou um débito de R$ 800,00 que o filho tinha com o tráfico, mas novas dívidas foram contraídas.

Quando os apelos para que largasse o vício se tornaram inúteis, a mãe, num gesto de desespero, avisou que iria procurar a polícia.

“Se você fizer isso, eu te dou um tiro na cara”, foi a resposta do filho.

O rapaz não estava blefando.

Ao encontrar um revólver no quarto do filho, ela constatou que ele havia subido mais um perigoso degrau na escala natural do vício: ele provavelmente estava cometendo assaltos para conseguir dinheiro ou qualquer objeto (relógios, celulares, tênis, etc.) para trocar pelas pedras de crack.

Deve ter percebido também que a expressão “eu te dou um tiro na cara” não era apenas um desabafo de quem já perdeu qualquer respeito pele mãe.

Era uma ameaça real.

Tão real que, ao dar pela falta do revólver, que a mãe havia escondido, o rapaz passou a quebrar objetos da casa e a agredi-la fisicamente.

Solução: a mãe chamou a polícia e entregou o próprio filho. Como é menor e não pode ficar preso, ela pediu que ele seja internado num centro de reabilitação, instituição de efeito duvidoso, mas que se apresenta como única alternativa.

“É melhor ver meu filho preso do que ver ele morto”, desabafou a mãe, incapaz de admitir (de novo pelo instinto maternal) de que nessa história havia grandes chances de que poderia morrer pelas mãos do filho a quem deu a vida.

Essa história da vida real, que se repete à exaustão, só terá fim quando as autoridades (in)competentes e a sociedade (des)organizada se derem conta de que o crack é um caso de calamidade pública.

Uma imensa, ameaçadora, e devastadora calamidade.

Daniel Thame é jornalista, blogueiro e autor de “Vassoura”, que será lançado em breve.

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Rosivaldo Pinheiro

O Gasene é o primeiro dos macros-vetores de desenvolvimento que chegam à nossa região. A construção desse gasoduto faz parte da estratégia de dotar o país de infra-estrutura para permitir a integração das regiões. Com essa integração das malhas de dutos, o Brasil cria condições para que os fluxos de capitais possam se deslocar em toda espacialidade nacional.

Cumpre o papel de integrar as economias do Nordeste às economias das Regiões Sul e Sudeste, dando a esta parte do Brasil as mesmas oportunidades que o Sul e Sudeste tiveram ao longo dos anos sob a proteção do estado brasileiro.

Em nível regional, o início de operação do Gasene permite a chegada do gás natural, representando uma nova fonte de energia, comercializado pela a Bahiagás. Esta alternativa energética significa um poderoso fator para a atração de novas indústrias, bem como o fortalecimento das já existentes.

A Ferrovia Oeste-Leste também faz parte desse esforço e representa o nascimento de um grande corredor de escoamento da produção de grãos e de minérios, ligando Ilhéus, na Bahia, a Fernandinópolis, no Tocantins, possibilitando a redução de custos de transporte dos produtos agrícolas e, propiciando aos produtores abastecer o mercado interno e externo com maior agilidade e melhor lucratividade.

Sua implantação ajudará o desempenho brasileiro na produção de alimentos, além de contribuir para que o Brasil atinja novos patamares no comércio internacional de minérios.

O porto, o aeroporto e a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) são ações complementares necessárias para viabilizar a integração entre produção e consumo, além de criar condicionantes para elevar a economia da região sul, para além do modelo agrário exportador centrado na produção de cacau.

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Do Política Etc:

Num artigo em tom emocional, publicado na edição de ontem (20) do jornal A Tarde, o deputado federal ACM Neto (DEM) sustenta que, a despeito das vozes contrárias, o carlismo vive. Argumenta o parlamentar e herdeiro do clã que a ação – no seu modo de ver, desastrada – do governo baiano ajuda a manter fortes os ideais do velho babalorixá.

O que se convencionou chamar de carlismo na Bahia foi um modo de fazer política duro, com pouca ou nenhuma margem para o diálogo, o tempo do “para os amigos tudo e para os inimigos os rigores da lei”. Antônio Carlos encarnou o poder, amou o poder, viveu do e para o poder. Foi um político ousado, mas não se pode esquecer que suas décadas de mandonismo não tiraram a Bahia do atraso.

Não é de hoje que a Bahia encabeça as listas de analfabetismo, mortalidade infantil, falta de saneamento básico, ausência de infraestrutura. De certa forma, o carlismo ainda vive nessa miséria toda que assola o Estado e não pode deixar de ser considerada como herança de quem passou 40 anos no comando. De fato, o carlismo vive…

Neto acredita que o debate comparativo pode ser favorável ao Democratas, mas ele está equivocado. É possível até dizer que o governo atual poderia ter avançado mais, sido mais arrojado, mas daí a entender que seria bom se copiasse o do passado vai uma enorme distância. Não dá para afirmar que a Bahia estava boa e hoje está ruim, porque boa jamais esteve.

Quando o carlismo vivia mesmo, o grupo controlava trezentas e tantas prefeituras com um poder incontrastável. Hoje tem só uns 70 prefeitos, aqueles que não debandaram para os lados do PT ou do PMDB.

O carlismo não vive em ACM Neto, que sem dúvida é um bom deputado. É inteligente, assim como o patriarca era. É equilibrado, ponderado, respeitoso na divergência… O que o avô não era. Portanto, nem ACM Neto é carlista. O carlismo não vive também em Paulo Souto, em José Carlos Aleluia nem no tucano Antônio Imbassahy.

Quem mais se assemelha ao velho líder, embora fuja da  comparação, é o peemedebista Geddel Vieira Lima, que já pertenceu ao time e depois virou seu inimigo.

Então, é forçoso concluir que o carlismo só vive na memória de alguns. Para uns com saudade e para outros com o alívio de quem se lembra como era difícil querer respirar e não poder.

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Daniel Thame | www.danielthame.blogspot.com

Em alguns momentos da primeira metade do século passado as imensas riquezas geradas pela produção de cacau criaram todas as condições para que uma parte desses recursos fosse aplicada em projetos de diversificação, permitindo um duradouro processo de desenvolvimento e bem estar social, algo impossível de ocorrer quando se vive da monocultura, por mais lucrativo que o produto seja.

Ou aparente ser.

O fato é que, por falta de visão ou pela ilusão de que aquelas riquezas seriam eternas, aliadas a uma notória ausência de espírito coletivo, as raras iniciativas no sentido de se evitar a extrema dependência do cacau se mostraram ineficientes.

O resultado é que quando a crise provocada pela vassoura-de-bruxa se revelou mais devastadora do que todas as outras crises, o Sul da Bahia mergulhou num abismo e viu sua economia reduzida a frangalhos.

As conseqüências foram e ainda são visíveis: produtores descapitalizados, centenas de propriedades rurais relegadas ao abandono, desemprego em larga escala, empobrecimento das pequenas e médias cidades e criação de bolsões de miséria nas periferias, cada vez mais carentes e violentas, de Ilhéus e Itabuna.

Mesmo com um processo de recuperação a partir dos primeiros anos deste século, com a expansão do turismo e de um incipiente pólo de informática em Ilhéus e da consolidação dos pólos de comércio, prestação de serviços, saúde e ensino superior em Itabuna, ainda existe uma imensa demanda por empregos, que resultariam numa vida mais digna para milhares de pessoas.

E eis que o Sul da Bahia se vê diante de uma segunda chance de encontrar o caminho do desenvolvimento, com a implantação de projetos importantes como o Porto Sul e a Ferrovia Oeste Leste, cujos benefícios não se limitarão apenas a Ilhéus, mas se estenderão aos demais municípios do Sul da Bahia.

O porto e a ferrovia vão fazer da região um pólo industrial, além de aquecer outros setores da economia, criando as bases para um novo ciclo de desenvolvimento. São obras capazes de ter, para o Sul da Bahia, o mesmo impacto que o Pólo Petroquímico teve para a Região Metropolitana de Salvador.

Mas eis que, em vez de gerar uma ampla mobilização de todos os segmentos regionais, em função das múltiplas oportunidades que oferecem, a Ferrovia Oeste-Leste e o Porto Sul enfrentam a resistência de alguns setores, a exemplo dos ambientalistas e alguns hoteleiros, que num misto de má fé, desinformação e interesses inconfessáveis, tentam transformar o porto e a ferrovia numa versão grapiuna do apocalipse, como se em vez de progresso e desenvolvimento, eles fossem trazer destruição.

Em nome de uma causa justa, a conservação ambiental, esses setores estão usando todos os artifícios para barrar os projetos, como se fosse possível, em função das rígidas leis ambientais de hoje, realizar obras de tamanha envergadura sem os necessários estudos e as compensações por eventuais danos, mínimos se comparados aos benefícios que o Porto Sul e a Ferrovia Oeste Leste proporcionarão.

O debate é necessário, salutar e contribui para que sejam dadas todas as garantias para que os impactos ambientais sejam mínimos e compensáveis.

Já a radicalização em nome de uma causa (será que é apenas isso?) é condenável, numa região que não pode se dar um luxo de desperdiçar essa segunda e talvez derradeira chance, em nome de uns poucos caranguejos, uma penca de guaiamuns, meia dúzia de siris e um pedaço de mata.

Ou será que eles são mais importantes do que os milhares de pais de família que estão aí, a espera de um emprego que lhes permita viver com dignidade e quem sabe, num domingo de sol, desfrutar com os amigos as decantadas praias e as maravilhas naturais de Ilhéus?

Daniel Thame é jornalista, blogueiro e prepara lançamento do livro “Vassoura”.