O prefeito Valderico Junior e parte do secretariado || Foto Nadson Carvalho
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Ao contrário do que fez e tristemente ainda faz boa parte da direita radical e bolsonarista, não ficarei torcendo para que aqueles que ganharam a eleição governem mal. Não torcerei para dar errado, não desejarei o mal para nenhum integrante do novo governo. Não terei expressões de ódio nem de menosprezo, mas sim de respeito.

 

Julio Gomes

 

Grande parte do Brasil fez ontem uma reflexão sobre o significado do que ocorreu em 08 de janeiro de 2023, quando centenas de pessoas invadiram, depredaram e tentaram um golpe de Estado logo após a posse do Presidente Lula, ocorrida em 1º de janeiro daquele ano. E digo grande parte e não todos, porque há aqueles que se tornaram absolutamente incapazes de fazer qualquer reflexão racional, com base em fatos, e que jamais fizeram a autocrítica que em outros tempos tanto cobraram das demais pessoas.

Em todo o país a data é lembrada sobretudo para que extremistas não tentem novamente golpear nossa democracia por meio do uso de violência, de invasões, de criminoso vandalismo em afronta à soberania popular e às nossas leis.

Penso que nesta data seja importante fazer um paralelo entre o que aconteceu no Brasil e o que vivemos hoje em Ilhéus.

Todos que me conhecem sabem que votei para prefeito na candidata que ficou em segundo lugar na corrida eleitoral, obtendo 38.928 votos contra 41.567 votos recebidos pelo vencedor. Fico a imaginar como seria se nós, da esquerda, que perdemos as eleições em Ilhéus, tivéssemos ido, ontem, invadir a sede da Prefeitura e a Câmara de Vereadores para quebrar tudo, como fez a direita golpista em Brasília há dois anos.

O que a polícia e o Poder Judiciário deveriam fazer conosco se fizéssemos isso? A resposta é tão óbvia que deixo por conta de cada leitor.

Faço essa reflexão para ressaltar o quanto é fundamental e imprescindível respeitar o resultado das urnas, e também para ir adiante em nossas reflexões.

Vemos hoje em Ilhéus um governo que se inicia e que acredito sinceramente que tenha vontade de trabalhar na pessoa do gestor e dos secretários já nomeados.

Ao contrário do que fez e tristemente ainda faz boa parte da direita radical e bolsonarista, não ficarei torcendo para que aqueles que ganharam a eleição governem mal. Não torcerei para dar errado, não desejarei o mal para nenhum integrante do novo governo. Não terei expressões de ódio nem de menosprezo, mas sim de respeito.

Também não ficarei buscando em sites, blogs ou em grupos de WhatsApp de oposição notícias contrárias ao novo governo, alimentando a desesperança, o rancor e o ressentimento, muitas vezes com base em mentiras, em fake news.

Nada disso! Torcerei sinceramente para que a gestão municipal que ora se inicia trabalhe, acerte, cuide da cidade e da área rural, para que realize um bom governo. Farei isso porque não vou torcer contra a população de minha cidade, embora muitos ainda torçam contra o povo brasileiro.

É preciso colocar na política um sentimento de amor ao próximo, de solidariedade ou, se não formos capazes disso, ao menos uma atitude de respeito.

Por isso, além de lembrar que tentativa de golpe de Estado é crime, é preciso ir além e contrapor ao ódio o sentimento de amor ao próximo que consiste em desejar que se faça o bem, que se caminhe na direção do bem, e que se queira o bem das pessoas mesmo quando são nossos adversários políticos, desejando que acertem em seu trabalho e que suas ações sejam benéficas para todos, sem exceções.

Chega de ódio. Que o amor vença em todas as instâncias da vida!

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Advogado e integrante do movimento maçônico José Carlos Oliveira
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Como foi gratificante ver suas ações, ouvir seus ensinamentos. Sua semente foi plantada e, com certeza, dará bons frutos.

 

José de Carvalho Peixoto

A Loja Vigilância e Resistência estava lotada em um dia de sábado, às 9h da manhã, onde sabemos que um número grande de irmãos estão viajando em um repouso merecido, comemorando o ano novo que acaba de chegar.

Graças a Deus tinha muitos maçons para a despedida ao irmão José Carlos Oliveira. Também ele fez por merecer.

Quando iniciei nos altos corpos, precisava ligar para um, para outro, pedi ajuda a irmãos de outros orientes para formar a loja de perfeição. O trabalho árduo do nosso inspetor litúrgico foi magnífico. Hoje os graus filosóficos apresentam uma realidade bem diferente, está forte em nossa região.

Essa realidade devemos ao esforço e ao empenho do querido irmão José Carlos Oliveira, nunca mais veremos alguém com tanta determinação e conhecimento maçônico em prol da nossa instituição, esse irmão jamais será esquecido, os irmãos de Camacan fizeram a homenagem certa, colocando o nome do nosso irmão José Carlos Oliveira na loja de perfeição .

Adeus meu querido irmão, José Carlos Oliveira. Agora você está nos braços do nosso Pai Celestial, a sua jornada foi concluída.

Como foi gratificante ver suas ações, ouvir seus ensinamentos. Sua semente foi plantada e, com certeza, dará bons frutos.

Obrigado, grande guerreiro, obrigado meu querido irmão José Carlos Oliveira.
Seu legado será passado de geração a geração .

Obrigado, meu Mestre.

Nosso agradecimento ao nosso irmão inspetor litúrgico Jose Carlos Oliveira!

Gratidão!

José de Carvalho Peixoto é empresário.

Santos de Pelé jogou em Ilhéus em 1965 || Foto Acervo Santos
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Tomaram um café e partiram, passaram por Feira de Santana, e tocaram pela famosa Rio-Bahia. Madrugada pela frente, muitos caminhões e ônibus na estrada tornavam intenso o movimento. Lá pelas tantas, um caminhão tenta ultrapassar outro e dá de cara com o jipe que conduzia nossos torcedores que voltavam pra casa.

 

Walmir Rosário

O brasileiro sempre foi apaixonado pelo futebol. Não conheço nenhuma pesquisa que nos coloque no topo da pirâmide entre os vários países do mundo, mas nem precisa, somos nós e pronto. Nenhum povo alcançou os nossos feitos em copas do mundo, temos resultados fantásticos nos campeonatos mundiais de clubes e mais que o valham.

E nos apaixonamos por um clube, devotando a ele toda a nossa paixão. Pra cada um de nós o meu time é o melhor e só não ganhou o campeonato por fatores extracampo, como as decisões dos árbitros de futebol, cujas coitadas das mães são xingadas por qualquer motivo fútil. Pouco interessa se os diretores não contrataram os melhores jogadores e sim pernas de pau.

Mais que torcer por um time, alguns se apaixonam – no bom sentido – pelos craques, e isso tenho como provar desde meus tempos de menino lá pras bandas do ainda bucólico bairro da Conceição, em Itabuna. Tínhamos os nossos craques, jogadores dos times amadores e da imbatível Seleção Amadora de Itabuna, mas também devotávamos nosso amor pelos craques do Rio de Janeiro e São Paulo.

E um desses era o Tio Coló, que não era bom de bola, mas gostava de jogar com estilo. Estilo, aliás, era com o próprio: não dispensava uma calça de linho passada a ferro com goma, um sapato do tipo mocassim branco, camisa esporte listrada, fino violonista. No máximo se permitia andar com sandália japonesa, a legítima, nas cores preto e branco, como do Santos de Pelé.

E ele era um exímio motorista, escolhido a dedo por grandes empresários para viagens, muita delas voltadas para jogos de futebol. Segurança total com o Tio Coló ao volante. E quando o assunto versava sobre futebol ele cortava qualquer conversa e dizia em alto e bom som: “Só morrerei depois de ver Pelé jogar”. Já era um mantra incorporado ao tema futebol.

Pois bem, lá pros idos de 1964, se não me engano, chega a grande oportunidade para o Tio Coló realizar seu eterno desejo, com a notícia dada na resenha esportiva da Rádio Bandeirantes de São Paulo, informando que o imbatível Santos viria a Salvador enfrentar o Bahia. Foi um alvoroço no salão de sinuca de Ismael. Seria agora ou nunca para Tio Coló.

Na mesma hora começaram a planejar a viagem entre os presentes. Tio Coló, o mestre de obras da prefeitura, Antônio Cruz, o comerciante Nicanor Conceição, o dono de bar Teles, o comerciante de leite e cana Nivaldo (Cacau). O próximo passo seria alugar um carro e embarcarem para a capital baiana e assistir ao jogo com o Rei do Futebol, Pelé.

E no próprio bairro da Conceição alugaram um carro de praça (táxi), o jipe de Eliseu, também interessado em assistir à partida. Na data marcada partiram para Salvador onde realizariam o sonho, antes considerado impossível. E as estradas daquela época eram horríveis, de terra batida até Jequié, e daí pra frente o asfalto da Rio-Bahia e da BA- 324 até a capital.

Chegaram um pouco antes do início do jogo, e torceram por Pelé, que marcou os dois gols do time santista. Partida encerrada, eles tomaram a estrada de volta e ao chegar a Feira de Santana Eliseu se sentia cansado. O jeito era passar o volante para o colega Tio Coló. E esse era um gesto ímpar, pois o jipe de Eliseu ninguém dirigia. E Tio Coló seria o primeiro a ter o privilégio.

Tomaram um café e partiram, passaram por Feira de Santana, e tocaram pela famosa Rio-Bahia. Madrugada pela frente, muitos caminhões e ônibus na estrada tornavam intenso o movimento. Lá pelas tantas, um caminhão tenta ultrapassar outro e dá de cara com o jipe que conduzia nossos torcedores que voltavam pra casa.

O choque foi inevitável e o caminhão atingiu o jipe do lado esquerdo. Rodovia interditada por causa do acidente os passantes iniciaram o atendimento aos seis ocupantes do jipe, todos bastante machucados e iam sendo levados para o hospital mais próximo. Na realidade, somente quatro puderam ser atendidos: Antônio Cruz, Teles, Nicanor e Nivaldo Cacau.

Na direção Tio Coló não resistiu ao impacto da colisão e morreu no local. Mesmo destino teve Eliseu, o proprietário do jipe, que se encontrava sentado logo atrás do banco do motorista. Assim que a notícia chega a Itabuna, se instala um clamor no bairro da Conceição, que passa a chorar seus mortos e feridos.

Acredito que, em relação ao Tio Coló, a profecia foi feita: morreu exatamente após ter assistido jogar o seu grande ídolo, Pelé, o Rei do Futebol. Nunca mais um solo de violão do Tio Coló, que sempre era lembrado quando o assunto no salão de sinuca de Ismael era o futebol. É triste entrar para a história por sua morte, pois todos queriam que ele ressaltasse sua alegria ao ver Pelé jogar. E logo mais, em 1965, Pelé jogou em Ilhéus, pertinho de casa.

Walmir Rosário é  radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

O presépio é a representação do nascimento de Jesus
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Acredito que a representação natalina de presentear seja mais que justa e que entre os cristãos e os povos que professam outras religiões a bondade possa durar o ano inteiro e não apenas um dia.

 

 

Walmir Rosário

Sou fascinado pelo Natal, sua beleza plástica, as formações de presépios (bem escassas atualmente), o colorido das roupas, as músicas que abrem nossos espíritos e que nos deixa transbordando de alegria. Mais, ainda, pela transformação das pessoas, notadamente aquelas que transpiram bondade, alegria, crença na salvação da humanidade.

Neste período do ano irradiamos de felicidade com a presença dos motivos natalinos nas pessoas do Deus Menino, nascido numa manjedoura, tendo ao seu lado as figuras de Maria, sua Mãe, e São José, o pai humano. Pelo aspecto local, como não poderia deixar de ser, a presença de animais (bois, vacas, bezerros, carneiros, etc.).

É uma representação bem singela para um Deus que se fez carne e veio habitar entre nós, o que deveria ser comemorado com muita festa, não fosse ser nomeado o Rei dos Judeus. Belém deveria estar em êxtase! Mas não, o seu reino era o do Céu, não o da terra, cercado de suntuosidade e riquezas dos componentes da Corte.

Nasce o herdeiro do Rei Davi numa manjedoura, sem as pompas devidas e o conhecimento dos judeus, mas a história nos mostra que três Reis Magos – Melchior, Gaspar e Baltazar – vêm de longe para homenagear e adorar o Deus Menino e presenteá-lo com ouro, incenso e mirra. Guiaram-se na viagem pela estrela do oriente, a estrela de Belém.

E os Reis Magos vão buscar notícias do Deus Menino, o Rei dos Judeus, justamente com o Rei Herodes, que passou a temer a perda do seu status e poder. De forma dissimulada, solicitou aos Reis Magos que assim o encontrassem, passassem a informações para que ele também pudesse ir adorar o Rei recém-nascido.

Não encontrando Jesus, que por orientação de um anjo em sonho a São José fugiram para o Egito. Temendo pela perda do poder real, Herodes manda matar todas as crianças nascidas recentemente em Belém. Passado o perigo, a família de Jesus retornar a Israel, indo morar em Nazaré, conforme nova orientação de um anjo em sonho a São José.

Até hoje não sabemos ao certo de onde vieram os três Reis Magos, se do oriente (mais consistente), se do continente europeu, se do africano. O que conhecemos são os presentes que trouxeram para o Deus Menino. Ouro, Incenso e Mirra, que representam o poder real do Rei dos Judeus; a divindade de Jesus Cristo; e o remédio para os males do corpo sofrido por Jesus e ressurreição do nosso Salvador.

Acredito que a representação natalina de presentear seja mais que justa e que entre os cristãos e os povos que professam outras religiões a bondade possa durar o ano inteiro e não apenas um dia. Não quero condenar a forma profana de comemoração, a comercial, desde que acompanhadas dos mais puros sentimentos, como os que motivaram os Reis Magos.

Se no Natal somos inundados por cartões com mensagens positivas e incentivadoras, sempre voltadas para a esperança, e os sentimentos religiosos geralmente estendidos ao Ano Novo. Esperamos que possamos fechar tudo de ruim do ano que passou e que possamos renovar nossos corações com o ano que se anuncia, pedindo muita paz ao Salvador.

Um Natal por ano é muito pouco para uma humanidade que caminha a passos largos para o materialismo, a falta de atenção ao próximo, à brutalidade, hoje tão comum entre os seres ditos racionais. Peço que possamos nos guiar pelo sentimento espiritual e assim possamos nos irmanar, consagrando ao Senhor tudo o que fazemos para que nossos planos sejam bem-sucedidos.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Na Maternidade da Mãe Pobre não tinha burocracia || Foto Waldyr Gomes/PMI
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E essa foi a grande sacada do marketing da Maternidade Ester Gomes, que passou a receber inclusive algumas parturientes oriundas da high society itabunense.

 

Walmir Rosário

Fernando Gomes Oliveira, prefeito de Itabuna por cinco mandatos e deputado federal por outros três, contados aí, o deputado constituinte, sempre foi considerado um dos maiores líderes políticos de Itabuna. Volta e meia elaborava algumas frases de efeito de fazer inveja a qualquer marqueteiro, embora tenha amargado ter dito outras, a exemplo de uma dita na pandemia.

A mais famosa foi a “Morra quem morrer”, trecho de uma explicação sua sobre a abertura do comércio durante a pandemia, que somente foi aproveitada pela mídia e oposição esse pedacinho polêmico. Outras frases de Fernando Gomes também ganharam o mundo e hoje se encontram esquecidas, principalmente as de efeitos positivo no marketing político.

Muito do que Fernando Gomes falava era de difícil compreensão, já que havia um descompasso na sua maneira de pensar e de se expressar, cujo nome não sei explicar. Deixo isso para os prendados em ciências médicas. Fernando Gomes, que para muitos não era letrado, completou os estudos até o ensino médio (científico) e estudou Direito por uns três meses, por acreditar que melhor seria ganhar dinheiro e administrar seus bens e os públicos.

Como prefeito conhecia todos os detalhes da administração municipal e era ele, e só ele, quem decidia o que fazer e o que pagar. Nas datas em que entravam os repasses estadual e federal (ICMS e FPM), se reunia com o secretário de Finanças para elaborar a relação dos pagamentos a serem feitos. Conhecia tudo nos mínimos detalhes.

Mesmo os oposicionistas que conheciam essa realidade, espalhavam que Fernando Gomes não era uma pessoa letrada, que não possuía habilidade com a matemática, principalmente a financeira. Ledo Engano. Num debate sobre a administração pública deixava os debatedores sem ação, de bocas abertas, pelas respostas que dava, bem como pelas perguntas que faziam.

Saúde e educação eram duas preocupações em seus governos e muito fez nessas áreas por Itabuna. E nos seus mandatos de deputado federal muito aprendeu como buscar os recursos para implantar seus projetos. Também se aliava a um determinado grupo político, como fez com se ferrenho adversário, ACM, para construir o Hospital de Base de Itabuna, batizado de Deputado Federal Luiz Eduardo Magalhães.

Assim que encerrou seu primeiro mandato na prefeitura de Itabuna, era deputado eleito com uma avalanche de votos. Em Brasília aprendeu como buscar recursos, mesmo sem ocupar ou ter um liderado na prefeitura. Montou a Fundação Fernando Gomes, que mesmo sem apresentar um bem qualquer passou a arrecadar recursos.

E entre as primeiras ações da Fundação Fernando Gomes foi a criação da “Maternidade da Mãe Pobre”, com a proposta de desburocratizar o atendimento, facilitando o internamento das grávidas. Assim que assumiu o segundo mandato na Prefeitura de Itabuna anunciou seu projeto número um, destinado ao atendimento da população mais humilde.

No dia da apresentação apresentou a Maternidade Ester Gomes (em homenagem a sua mãe), que prestaria atendimento médico-hospitalar gratuito à população de baixa renda e ainda doaria o enxoval dos recém-nascidos. E explicou que a maternidade seria uma referência nas áreas de ginecologia e obstetrícia da Bahia.

E na apresentação, o prefeito Fernando Gomes passou a destacar o planejamento da Maternidade Ester Gomes, dotada de 56 leitos e deveria realizar mais de 300 internações mensais. E ressaltou que após receber alta, a parturiente seria levada em casa por um serviço de ambulância próprio sem nenhum custo.

E antes que apareçam um repórter ou cabo eleitoral atrasado na coletiva de imprensa e queira mostrar serviço fazendo perguntas repisadas, a exemplo de como fazer e os documentos que precisaria para internar uma parturiente, Fernando Gomes foi logo avisando: “Olha, na maternidade é bem diferente do INPS, sem qualquer burocracia”. E arrematou em alto e bom som.

– Já disse e repito. Na Maternidade da Mãe Pobre não terá papelório: Aqui o único documento é a barriga!

E essa foi a grande sacada do marketing da Maternidade Ester Gomes, que passou a receber inclusive algumas parturientes oriundas da high society itabunense.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Pensemos na perspectiva de melhorar o que nos cerca, façamos dessa ação a nossa oração.

 

Rosivaldo Pinheiro

Mais um ano se aproximando do final e outro chegando. Com eles, novamente a sensação de que tudo se renovará, que seremos melhores do que fomos. Que o próximo ano trará o melhor para cada um de nós e que num passe de mágica provocará uma melhoria no nosso viver coletivo.

Primeiramente, o Natal, período em que de fato é possível perceber uma mudança em uma significativa parcela dos indivíduos. Uma predisposição mais acentuada na prática do bem comum: a solidariedade fica mais aparente. Parece se instalar, ainda que de forma transitória, uma nuvem de bonança. Os corações se permitem serem tocados a exercer a espiritualidade e acolher o outro com um toque de irmão.

Nesse período, as músicas, as decorações, o comércio tendem a construir uma sinergia que, inevitavelmente, além da nuance de melhoria das relações sociais, também impacta no consumo através do ato de presentear, selando, assim, essa atmosfera dos abraços e sorrisos. Um estado de alegria e contentamento.

No aspecto das redes sociais e do WhatsApp, ainda assistimos um ambiente polarizado com o componente ideológico ainda tensionado, e todos os temas acabam desembocando em uma agenda provocativa e pouco humanizada.

Não farei desse espaço um momento de solução de problemas, apenas de uma pontual reflexão, afinal, logo mais o novo ano chega, e só será um novo ano se cada um entender que o melhor, coletivamente falando, só virá quando, individualmente, agirmos com sensatez no trânsito, nas ruas, nas redes e em família. Essa será a chave da mudança para a construção de um mundo melhor.

Então, sejamos a mudança que desejamos ver no outro, afinal, você colherá sempre os frutos que plantou. Pensemos na perspectiva de melhorar o que nos cerca, façamos dessa ação a nossa oração. Trabalhemos as nossas limitações buscando a superação. Que a vida nos permita entender que saberes e sabores dependerão sempre de todos, portanto, feliz plantio, e que a colheita seja abundante durante o próximo ano.

A todos nós, um Feliz Natal e um próspero Ano Novo!

Rosivaldo Pinheiro é economista, especialista em Planejamento de Cidades e secretário de Governo.

Waldir Pires foi deputado, governador da Bahia, ministro e vereador || Foto Marcelo Casal Jr./ABr
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Waldir sabia dos riscos da sua atitude e, ao se despedir do cardeal, com certa acidez e um leve sorriso nos lábios disse: O senhor vai responder lá em cima, e muito fortemente, pela injustiça que está cometendo.

 

 

José Cássio Varjão

Um dos nomes de maior relevância, da política baiana e brasileira foi o social-democrata Francisco Waldir Pires de Souza. Advogado, professor da Universidade Católica de Salvador, professor da Universidade de Brasília, professor da Universidade de Dijon, na França, consultor-Geral da República no governo João Goulart, ministro da Previdência Social, no governo José Sarney, ministro da Controladoria-Geral da União e Ministro da Defesa, nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva, deputado estadual, deputado federal, governador e, por fim, vereador, de Salvador.

Como capítulo marcante do meu livro Eleições Históricas – Do Voto à História, a ser lançado nas próximas semanas, a eleição para o governo da Bahia, em 1986, foi um acontecimento memorável na história política da Bahia. Os olhos do ex-deputado federal Domingos Leonelli brilham quando lembra da campanha de 1986: “Uma campanha como aquela nunca se viu. Dificilmente se verá outra igual. Uma rebelião cívica. Waldir era o símbolo do anseio de liberdade acumulado ao longo dos anos”.

Para escrever sobre o processo eleitoral de 1986, no estado da Bahia, me debrucei, inebriado, nas quase 800 páginas dos dois volumes sobre a biografia de Waldir Pires, de autoria do jornalista, escritor e professor Emiliano José, doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea pela UFBA. “A campanha de 1986 foi algo jamais visto na Bahia, pelo que suscitou de sonhos, de encantamento, de magia. Chegasse a hora que chegasse, às duas, às três, às cinco da manhã, ninguém arredava o pé, chovesse canivete, houvesse a tempestade que houvesse, fizesse chuva, fizesse sol, frio ou calor, as praças não se mexiam. Foi um caso de arrebatamento, um profundo caso de amor entre a população e seu líder. Um líder das massas. Quase um Messias”, sintetizou Emiliano José.

Principalmente pela controversa renúncia ao mandato de governador, para concorrer com Ulisses Guimarães, na eleição presidencial de 1989, pelo PMDB, esses dois textos, que escreverei, tem como objetivo trazer à tona algumas situações do jogo político que passaram ao largo pela população, que, ainda nesses dias, tece comentários, às vezes sem quaisquer parâmetros, como se “a decisão mais difícil da minha vida política”, frase dita por Waldir Pires, inúmeras vezes, tivesse sido uma escolha sem fundamento. Como exposto no título desse escrito, Waldir Pires viveu alguns confrontos ao longo da sua vida política que merecem especial atenção.

Nascido em Cajueiro, hoje município de Acajutiba, litoral norte da Bahia, em 1926, filho do casal Zeca Pires e dona Lucíola, mudou-se em 1929, com seus pais e irmãos, para Amargosa, a chamada Rainha do Café, no início do século XX. Fez o ginásio em Nazaré das Farinhas antes de seguir no final de 1941, para a Cidade da Bahia, a gigantesca Salvador, com seus 290 mil habitantes. Estudou no Colégio Estadual da Bahia, depois, Colégio Central e, finalmente na Faculdade de Direito da Bahia.

Em 1949, foi o orador da turma de Direito, uma honraria especial àquele aluno que obteve média superior a 7 em todas os exames escritos. A data da formatura, 5 de novembro, marcava o centenário do jurista Rui Barbosa, com a inauguração do fórum que leva seu nome, no Campo da Pólvora, Salvador. Com pompa, circunstância e a presença do governador Octávio Mangabeira, Waldir Pires foi o primeiro orador a ocupar a tribuna do fórum e o primeiro a se pronunciar na nova sede do Tribunal de Justiça da Bahia.

Exímio tribuno, um ano antes de se formar, em 1948, recebeu a visita do então prefeito de Amargosa, João Sales, convidando-o para ser o orador oficial da recepção ao governador Octávio Mangabeira, na inauguração da energia elétrica da cidade. “Discurse por Amargosa”, pediu João Sales. Ainda não havia envolvimento político, não estava vinculado a nenhuma corrente política. Quando chegou a Amargosa, soube que o governador não estaria presente, seria representado pelo secretário de Segurança Pública, Oliveira Brito. O líder do governo na Assembleia Legislativa, Antônio Balbino (PSD), também estaria presente e a vida de Waldir Pires tomou um rumo completamente inesperado para aquele momento da sua vida. Se João Mangabeira foi seu inspirador, Antônio Balbino foi seu tutor.

Um ano após a formatura em Direito, em 1950, Waldir Pires concorreu a deputado estadual pelo PSD (Partido Social Democrático). Era a confirmação, para Balbino, da sua vocação política e nada melhor do que jogá-lo aos leões, testá-lo na batalha da conquista de votos. Waldir obteve 2.664 votos. Outro concorrente, Josaphat Marinho ficou com 3.044 votos. Os dois se encontrariam em outras oportunidades do cenário político, como aliados ou como adversários. Antônio Balbino estava certo. O talento do rapaz para a política era inegável.

A carreira política de Waldir Pires estava se iniciando e os frutos da amizade com Antônio Balbino lhe renderam a indicação para o cargo de secretário de Governo de Régis Pacheco, eleito governador em 1950, aos 24 anos de idade. Um fato trágico a ser lembrado é que o candidato a governador pelo PSD, em 1950, era o deputado federal Lauro Farani Pedreira de Freitas, que morreu em acidente aéreo em 11 de setembro de 1950, na cidade de Bom Jesus da Lapa. O coordenador e homem forte da campanha de Lauro de Freitas era Antônio Balbino, que em três dias definiu Régis Pacheco, deputado federal e ex-prefeito de Vitória da Conquista, como o candidato do partido.

Em 1954, é eleito deputado estadual pelo PTB, com 7.162 votos, estava definitivamente inserido no mundo político. Nessa legislatura, entra na vida de Waldir Pires o maior desafeto e adversário da sua carreira política, Antônio Carlos Peixoto de Magalhães, que obteve 3.990 votos na eleição suplementar de 1955, bem abaixo de Waldir e o décimo eleito pela UDN, que elegeu onze deputados estaduais. Nesse período, não se rivalizaram e, em algumas oportunidades, Antônio Carlos fez seguidos elogios à atuação de Waldir Pires. Nessa legislatura Waldir Pires foi o líder do governo na Assembleia Legislativa. Josaphat Marinho também era deputado estadual.

Em 1958 é eleito deputado federal, com mandato a se encerrar em 1963. Com destacada participação na 41ª Legislatura da Câmara Federal, Waldir alçava voos no cenário nacional. Foi integrante ativo da Comissão de Constituição e Justiça, integrante da Frente Parlamentar Nacionalista, vice-líder da maioria no governo de Juscelino Kubistchek. Em 1961, em Genebra, Suíça, compôs a comissão que representou o Brasil numa conferência internacional, votando pela admissão da China à ONU.

Aos 36 anos, em 1962, se lançou à primeira campanha para o governo do estado da Bahia. Outro desafio, mais um degrau a subir e por pouco não obteve sucesso. Perdeu a eleição para Lomanto Júnior, ex-prefeito de Jequié, por meros 5% dos votos válidos. Aqui, surgiu a primeira controvérsia da carreira política de Waldir Pires, o improvável embate com dom Augusto Álvaro da Silva, o famoso Cardeal da Silva, nome da avenida que liga os bairros do Rio Vermelho e Federação, em Salvador.

Naquela disputa, Lomanto tinha o apoio dos partidos de direita, dos principais meios de comunicação e da Igreja Católica, enquanto Waldir tinha o apoio do PSD e do PCB. Antônio Guerra Lima, advogado e procurador-Geral do Estado no Governo de Waldir Pires (1986), afirmava que “não bastaria apenas constatar genericamente o apoio da Igreja Católica a Lomanto. Era imperativo afirmar o desempenho fervoroso e a dedicação pessoal do cardeal com a intenção de derrotar Waldir Pires, um anti-Cristo a quem era necessário abater”.

Dom Augusto Álvaro da Silva era um “príncipe católico” conservador, completamente absorvido pelo clima que o mundo vivia naqueles tempos de Guerra Fria, e agiu como um militante político influenciando o clero baiano, nas suas missas e sermões, a não votar no candidato dos comunistas. Com ataques diários, sendo amplamente divulgados pela imprensa, eram distribuídos panfletos espúrios, com o título de “Alerta Democratas”, constando os nomes dos candidatos “supostamente comunistas”. Parênteses para pensar: Alguma similaridade com a política praticada por alguns grupos atualmente?

Dia 6 de setembro de 1962, 31 dias antes das eleições, a manchete do jornal A Tarde revelava que a Igreja Católica dividia os candidatos ao governo do estado em duas classes: os bons e os maus. Na lata. Direto ao ponto, sem nenhuma sutileza. A matéria descrevia que “o perigo comunista mereceu a atenção dos sacerdotes, sendo ponto pacífico que a Igreja não transigirá com os candidatos vinculados ao credo de Moscou, ou com ele comprometidos, pelo perigo que representam para a segurança do regime democrático e para os princípios fundamentais defendidos pela Igreja Católica”.

Waldir Pires e os seus pais eram extremamente católicos, o que levou Zeca Pires a divulgar uma carta ao povo da Bahia, contra as atitudes do Cardeal da Silva. Após as eleições, seu pai divulgou outra carta, demonstrando grande revolta com as arbitrariedades do líder católico. Num dos trechos, Zeca Pires assim escreveu: “No último episódio eleitoral, da sucessão baiana, assistimos, com espanto e revolta, ao estrangulamento ou sacrifício da verdade e do esforço construtivo. Procuraram, sem fundamento, suspeitas sobre a ideologia de um moço, Waldir Pires, de sólida formação moral e cristã que, como pai católico, graças a Deus, eu a soube ministrar, com esmero e cuidado, pelo fato desse moço nutrir ideias de renovação e de progresso. É assim, de manifesta leviandade e covardia, o setor da igreja que, depois de aprovar seu nome, o desapoiou, na última hora, em uma guinada espetacular e esquisita. Descristianizaram-se, atrelando-se ao carro dos interesses humanos e das conveniências da vida. Hoje, o pseudocomunista representa bem o samaritano do evangelho, é mais cristão do que muitos sacerdotes”. Zeca Pires era coletor federal e foi o responsável pelo ensino do francês aos seus filhos.

Certo dia, numa manhã de domingo, dona Lucíola, sua mãe, “católica de berço e terço”, foi se confessar com o padre de Amargosa. Ajoelhou-se, confessou seus pecados (Waldir perguntava à mãe que raios de pecados ela tinha para se confessar, pois ele não encontrava pecado nela) e recebeu a sua penitência de ave-marias, pai-nossos e salve-rainhas. Quando estava saindo do confessionário, o padre disse: a senhora sabe que esse ano tem eleições? Ela respondeu afirmativamente. Continuou o padre, dizendo que ela não poderia votar no nome de Waldir Pires. Dona Lucíola levantou-se bruscamente, abriu a cortina do confessionário, e o pecado da ira caiu sobre ela: Fique sabendo o senhor que Waldir Pires é meu filho. O senhor me respeite. Isso é uma indignidade! Uma injustiça que estão fazendo com Waldir. Se fosse pecado, desse ela não pediria perdão. O padre imóvel e com os olhos esbugalhados, calou-se.

O embate em si, frente a frente, ocorreu quando o cardeal chamou Waldir para uma conversa no Palácio Episcopal, durante o processo eleitoral: Waldir, eu o chamei aqui porque soube que o senhor tem o apoio dos comunistas. Isso é verdade? Sim. Respondeu Waldir. A conversa seguiu com Waldir argumentando que não tinha motivos para recusar o apoio do PCB. Então, o cardeal vociferou: Se o senhor não recusar esse apoio, vou baixar uma instrução recomendando que os católicos não votem no senhor. Vou condenar sua candidatura. Waldir, impressionado pela frieza do cardeal, respondeu: Lamento, mas não recusarei. Tenho lutas comuns com eles, o petróleo, a energia, a luta pela igualdade social. Não há por que recusar esse apoio. Waldir sabia dos riscos da sua atitude e, ao se despedir do cardeal, com certa acidez e um leve sorriso nos lábios disse: O senhor vai responder lá em cima, e muito fortemente, pela injustiça que está cometendo.

No próximo texto falarei sobre o início da convivência entre Waldir Pires e Antônio Carlos Magalhães, a rivalidade criada com o passar dos anos, a interferência de ACM no governo Waldir em 1986 e, finalmente sobre a renúncia em 1989.

José Cássio Varjão é cientista político.

Walter Braga Netto foi detido no Rio de Janeiro, no sábado (14) || Foto Fernando Frazão/Agência Brasil
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Esperamos que nossos militares sejam o que são: militares e não tutores ou juízes de resultado das disputas eleitorais.

 

 

 

Julio Cezar de Oliveira Gomes

Não consigo sentir alegria com a prisão daquele que é apontado como o articulador intelectual da tentativa de golpe de Estado contra o presidente Lula e também como envolvido nas preparativas para assassiná-lo juntamente com o vice Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Mas sinto alívio e satisfação pelo dever cumprido pelos órgãos governamentais competentes e pelo funcionamento legítimo das instituições que compõem o Estado brasileiro.

Não é possível sentir alegria, porque é muito triste e indesejável de todas as formas que um general de Exército, outros militares e figuras importantes se envolvam em uma trama golpista que só traria desrespeito às nossas leis, violência, derramamento de sangue e o retorno a governos ditatoriais que nunca deveriam ter existido e que nunca deverão voltar a existir.

Mas é necessário que as prisões ocorram, porque aqueles que tentaram o golpe não demonstram qualquer arrependimento, reflexão ou respeito pela legalidade e continuam insistindo no propósito de violentar nossa democracia a qualquer custo, mesmo agora quando parte da população brasileira finalmente começa a enxergar a loucura que perpassa as ações desses líderes absolutamente irresponsáveis, que não hesitam em resvalar na direção do crime.

Esperamos que nossos militares sejam o que são: militares e não tutores ou juízes de resultado das disputas eleitorais.

A Constituição de 1988 e nosso ordenamento jurídico definem o papel institucional das forças armadas e dar golpe de Estado não é um deles, seja a que pretexto for. Cabe-lhes a defesa das fronteiras, de nossa soberania, de nossa integridade territorial, cabem-lhe ações meritórias junto ao povo e a formação de novos militares sempre voltados para a paz e a legalidade como meta desejável, embora preparados para qualquer conflito.

Queremos ter com nossos militares uma relação de respeito, de confiança e de solidariedade na construção de um novo Brasil. Pessoas como Braga Netto, que têm a cabeça e a alma presas ao odioso regime instalado a partir de 1964, não devem encontrar acesso em corações voltados para a paz e para o futuro, para a dignidade de todos os brasileiros, para o respeito à diversidade, à cidadania e à busca da convivência democrática.

Não somos nós que excluímos pessoas com a conduta e os valores de Braga Netto. São eles que estão se auto excluindo de um futuro de paz e de harmonia que desejamos para nosso país.

Que as apurações ocorram e que as pessoas respondam as acusações aos crimes que lhes são imputados gozando de todas as garantias do contraditório e da ampla defesa previstos na Constituição. Mas que sejam responsabilizadas para que possamos viver em um Brasil onde nenhum grupo armado, seja ele do mundo do crime ou escondido atrás da institucionalidade, tente se colocar além ou acima da Lei.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

O professor Érito Machado e o campus da Uesc
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Não teve jeito, e o velho Opala surrado do professor Érito Machado parou de vez e, por mais que ele tentasse, não conseguia fazer o motor funcionar.

 

 

Walmir Rosário

Estudar na Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna (Fespi), atual Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), era um sufoco, principalmente no turno da noite. Isso nas décadas de 1970/80, por falta de estrutura nos transportes coletivos, sempre superlotados e em horários espaçados. Bem melhor ir de carro próprio ou uma providencial carona.

Mas esses eram os problemas enfrentados fora dos muros da sonhada futura universidade. Dentro, novos e diferentes problemas se avolumavam, como a falta de pagamento aos professores e funcionários, o que desaguava em constantes greves; falta constante de energia elétrica, que transferiam os alunos das salas de aula para o bar do Jabá, no bairro do Salobrinho.

Achávamos graça das agruras que passávamos, tendo em vista a excepcional qualidade de conhecimento dos professores, grandes profissionais do direito na magistratura, ministério público, advogados. A grande maioria não possuía os famosos títulos de doutores, tão em voga na atualidade, mas esbanjava sabedoria, prontos para dar aulas de improviso de qualquer matéria ou tema.

E um desses professores merece destaque, Érito Francisco Machado, ex-juiz de Direito e, à época, juiz do Trabalho em Itabuna. Depois transferido para o Tribunal Regional do Trabalho, em Salvador, no cargo de desembargador, chegando à Presidência do TRT 5ª Região. Nascido em Xique-Xique (BA), nunca perdeu suas origens naturais da região da caatinga.

Érito Machado era um intelectual completo: foi professor da antiga Faculdade de Ciências Econômicas de Itabuna (Facei), da Faculdade de Direito de Ilhéus, que deram origem à Uesc, lecionando diversas matérias. Estudioso da filosofia, lia os clássicos no original, em alemão, e se correspondia com filósofos de várias partes do mundo.

Levava sua vida privada de forma reservada, embora tivesse uma vida social normal, poucos eram os amigos mais chegados. Aos sábados não perdia a tradicional feijoada do restaurante do Pálace Hotel, posteriormente no Baby Beef, em Itabuna. Amante dos vinhos alemães, falava com propriedade deles, classificando os melhores e desprezando os tantos que considerava “vinagre”.

Em nossa turma lecionou Direito Civil (todo o curso). E nossa sala era pra lá de especial quase semelhante à arca de Noé, com todos os bichos. A garotada, os de meia idade, e os “coroas”. Entre estes, aposentados, profissionais de outras áreas que vieram incorporar o direito como conhecimento, e até professores da Uesc que lecionavam em outros departamentos. Era uma classe especial.

Tínhamos aulas com ele na sexta-feira à noite e no sábado pela manhã. Em cada uma delas elegia três pontos, devidamente assinalados no quadro-negro e passava a descrevê-lo com desenvoltura por cerca de 50 minutos. O tempo restante destinava a tirar dúvidas, conversar amenidades e tirar sarro de alguns alunos, na opinião dele, diferentes.

O professor Érito Machado possuía um Opala Diplomata, branco, já de certa idade, veículo com o qual se deslocava de Itabuna à Uesc. Volta e meia o carro apresentava alguns problemas mecânicos e nos deixava preocupados, principalmente no retorno, a partir das 22 horas, no percurso dos 13 quilômetros entre a universidade e Itabuna.

Assim que ele saía, um ou dois veículos dos alunos passavam a segui-lo, por questões de segurança. Certa noite os faróis apagaram e iluminamos o trajeto até sua casa. De outra feita, o velho Opala começou a falhar e o professor se dirigia ao acostamento até que o motor voltasse a firmar. E assim seguiu por uns poucos quilômetros.

Mas não teve jeito, e o velho Opala surrado do professor Érito Machado parou de vez e, por mais que ele tentasse, não conseguia fazer o motor funcionar. Dois carros parados e uns seis ou sete alunos dando cobertura. Entre eles dois alunos do curso de Direito e professores do departamento de Economia e Administração: Geraldo Borges e Joelson Matos, também dirigentes da Ceplac.

Lá pras tantas, Joelson, que era prendado em várias artes, pede que o professor abra o capô do carro e começa a verificar os cabos de vela, distribuidor, carburador e todas essas pecinhas que gostavam de complicar. De repente dá o diagnóstico: é o platinado, pega uma chave de fenda no carro de Geraldo Borges e consegue arrumar o defeito. E seguimos no comboio até Itabuna.

Na manhã de sábado, eis que chega à sala o professor Érito Machado, dá uma olhada profunda nos alunos presentes e descobre Joelson Matos. Sem mais delongas, pergunta ao colega professor: “Não sei por que você quer estudar direito, já que podia muito bem continuar como mecânico, que é o que sabe muito bem”. Gargalhadas por uns cinco minutos e o professor Érito inicia a aula como se nada tivesse acontecido.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

André Curvello é jornalista
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O verdadeiro protagonismo sempre esteve nas mãos dos colaboradores e servidores da Secom, que fizeram deste um trabalho coletivo. Como secretário, fui mais coadjuvante e aprendiz desse time extraordinário.

André Curvello

Quero expressar minha gratidão pela parceria, pela confiança e pelo relacionamento construído ao longo desses dez anos. Uma relação sempre pautada pela sinceridade e pela ética, com colegas não apenas da capital, mas também das diversas regiões do interior do estado. Desde o início, procuramos desenvolver uma política de regionalização e valorização dos veículos de comunicação — pequenos, médios ou grandes — sempre tratando todos com igualdade e respeito.

Este é o fim de um ciclo e, ao mesmo tempo, o início de um novo caminho que começa a se formar. Agradeço a todos que contribuíram para os avanços significativos na comunicação pública, que evoluiu de forma expressiva em tecnologia e na criação de um mapa da mídia, permitindo uma visão mais clara do mercado. Graças a esse esforço, a Secretaria de Comunicação do Estado da Bahia se consolidou como referência nacional, sendo a mais premiada do Brasil, com campanhas sempre focadas em utilidade pública e responsabilidade social.

Nosso trabalho foi marcado pelo compromisso de visitar as regiões do interior, dialogando olho no olho com os colegas, independentemente do porte dos veículos. Agradeço especialmente àqueles que enfrentaram conosco os momentos mais difíceis, como durante a pandemia do coronavírus. Naquele contexto, conseguimos criar um sistema de comunicação que serviu de modelo não apenas para o Nordeste, por meio do Consórcio Nordeste, mas também para a criação do Conselho Nacional de Secretarias de Comunicação Social.

Gostaria de dar um abraço em Arany Santana, e reconhecer o empenho de toda a equipe da Ouvidoria Geral do Estado, um dos mais importantes órgãos voltados à cidadania do Governo do Estado.

Deixo aqui meu agradecimento aos governadores Rui Costa e Jerônimo Rodrigues, pela confiança e oportunidade, e à minha equipe. O verdadeiro protagonismo sempre esteve nas mãos dos colaboradores e servidores da Secom, que fizeram deste um trabalho coletivo. Como secretário, fui mais coadjuvante e aprendiz desse time extraordinário.

A todas e todos, meu muito obrigado!

André Curvello é jornalista.

Gabriel Nunes recebe a comenda Barachisio Lisbôa
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Gabriel destaca que a advocacia não é apenas uma profissão, mas um legado de quem tem a responsabilidade de garantir os direitos, a liberdade e a vida dos semelhantes

 

 

Walmir Rosário

A sabedoria popular não falha ao afirmar que as homenagens têm que ser prestadas ainda em vida, com os laureados ao vivo e em cores, saudações de praxe e a receber todos os salamaleques a que têm direito. Não que as cortesias não possam ser prestadas às famílias, passado o tempo e sem as presenças dos enaltecidos.

Prestando justiça aos seus filiados, a Subsecção da OAB de Itabuna fez festa sexta-feira (06-12) para homenagear os advogados com mais de 50 anos de profissão ininterrupta e conduta ilibada com a Comenda Barachisio Lisbôa. Agiu de forma virtuosa o presidente da OAB Itabuna, Rui Carlos da Silva, ao distinguir 14 advogados com a honraria institucional.

E a Comenda Barachisio Lisbôa enaltece os homenageados, por ter sido um dos mais brilhantes advogados baianos, ex-presidente da OAB-Bahia, de larga cultura e notório saber jurídico. Acertadamente, o presidente Rui Carlos ressaltou uma frase que ouvia do seu professor Osvaldo Chaves – um dos homenageados – que o advogado, ao exercer sua profissão não pode temer.

Entre os advogados homenageados a OAB de Itabuna reuniu os profissionais que mais se destacaram na advocacia regional e na formação acadêmica, desde que surgiu a Faculdade Católica de Direito de Ilhéus, em maio de 1961. Em seguida, integrou a Federação das Escolas Superiores de Ilhéus (Fespi), e por fim a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Dentre os 14 homenageados destaco aqui o advogado Gabriel Nunes, Membro Honorário da Academia de Letras Jurídicas do Sul da Bahia; Presidente da OAB Itabuna por 23 anos; advogado diplomado pela Faculdade de Direito de Ilhéus em 1967; advogado com 57 anos ininterruptos na advocacia itabunense e regional, notadamente nas áreas Cível e do Trabalho.

De forma carinhosa, Gabriel Nunes é chamado pelos colegas de “o eterno presidente da OAB de Itabuna”, não só pelo tempo em que se dedicou à entidade, mas pelo trabalho e empenho que devotou. Sempre esteve à frente nas lutas em defesa da advocacia e dos advogados, agindo como um grande negociador e dirigente atuante.

Durante anos a Subsecção da OAB funcionou nas instalações do Fórum Rui Barbosa – como acontecia em todas as comarcas – e o Poder Judiciário iniciou uma pressão para que desocupasse as instalações. Em 1997, após uma campanha de reivindicação junto à Secção estadual, Itabuna se torna a primeira subsecção baiana a inaugurar sua sede própria.

Àquela época, transferências financeiras para as subsecções eram ínfimas, mas o presidente Gabriel Nunes conseguiu os recursos suficientes para adquirir sua sede, uma conquista da advocacia itabunense. Após uma reforma para adequar o prédio às necessidades, junto com o presidente da OAB-Bahia, Arx Tourinho, inaugura a casa do advogado, que leva o nome de Sede Gabriel Nunes.

Ao receber a Comenda Barachisio Lisbôa, o advogado Gabriel Nunes disse que se sentia honrado por ser advogado, escolha que fez com acerto ainda moço, na atividade que buscou desempenhar com justiça e honradez. Gabriel destaca que a advocacia não é apenas uma profissão, mas um legado de quem tem a responsabilidade de garantir os direitos, a liberdade e a vida dos semelhantes.

HOMENAGEADOS

 Durante o evento foram homenageados com a comenda os advogados Cyro de Matos, Dalmo Magalhães (in memoriam), Carmem Habib, Francisco Madureira, Gabriel Nunes, Glória Gomes, Joel Brandão de Oliveira, Osvaldo Chaves, Raimunda Crispim, Waldeck Viana, Waldemir Rosa, Wanderley Rodrigues, Yara Smith Lima e Zizete Celestino da Silva.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Já estamos classificados para o Mundial 2025 da Fifa e queremos mais. Os torcedores da kombi pedem passagem…

 

Walmir Rosário

É sempre assim, “tem coisas que só acontecem com o Botafogo”. Esse velho chavão, ou melhor, mantra, sempre foi utilizado para marcar, ressaltar, os fatos negativos do Glorioso de General Severiano. Agora, com a conquista da taça do Campeonato Libertadores da América, definitivamente, também passará a definir os atos e fatos positivos.

Asseguro que nunca nos faltou conquistar taças, torneios e campeonatos por todo o mundo, inclusive os que valiam em nível mundial, apesar de refutados pelos eternos rivais. Por muitos anos o Botafogo “papava” os títulos contra os rivais europeus, como Barcelona, Real Madri, e outras equipes da prateleira de cima do continente europeu. Tudo anotado na imprensa da época.

Os campeonatos da América do Sul, alguns com estofo de mundial, fazem parte dos troféus exibidos na sede do clube, expostos com o destaque que sempre mereceu. Apenas os rivais brasileiros não querem reconhecer, atitude mesquinha e ranzinza dos eternos sofredores, que não esquecem as memoráveis surras em campo.

Faz parte da história do futebol brasileiro os tempos de crise vividos pelo Botafogo, fruto de más administrações das pessoas que somente buscaram tirar proveito do Glorioso. Mesmo assim, conseguia reunir os pedaços e realizar memoráveis feitos no futebol brasileiro e internacional. Alguns até pregavam o fim do clube, que seria considerada a falência do futebol brasileiro.

Realmente tem coisas que só acontecem com o Botafogo. Isto é fato. Qual o clube de futebol que revelou e manteve em seu plantel as grandes feras do futebol brasileiro? Qual o clube que forneceu a maior quantidade e os mais brilhantes craques à Seleção Brasileira? O Botafogo, claro, como voltou a fazer este ano, para a alegria dos que realmente gostam, são apaixonados pelo futebol.

E dentre as coisas que só acontecem com o Botafogo, posso citar que, por pouco, ele não encerrou as atividades, como queriam dirigentes e torcedores de clubes rivais. São pessoas que não dão a mínima importância para o futebol e se preocupam apenas com o clube pelo qual torce, sem saber que não morreria” apenas o Botafogo, mas o futebol brasileiro.

Por anos a fio fomos nominados de forma pejorativa como sendo a torcida que cabia numa kombi. Apenas ríamos, mas não nos esquivávamos de dar a resposta nos resultados dentro de campo, humilhando os adversários com acachapantes derrotas. Dizem hoje que isso é coisa do passado, digna de museu, mas mudam rapidamente de assunto, apenas para não prolongar o sofrimento.

Nossos rivais jamais esquecerão nossa invasão a Buenos Aires, de forma ordeira e pacífica, com a preocupação de apenas levantar a taça de campeão da Copa Libertadores da América. Mostramos nossa superioridade fora e dentro de campo, ao vencermos nosso adversário, o Atlético Mineiro, por 3X1, placar que seria mais elástico, não fosse nossa minoria de um jogador em campo. Um infortúnio no começo do jogo.

Vencemos e convencemos forças pré-estabelecidas, a exemplo dos rivais, arbitragem, direção do futebol nacional, grande e esmagadora parte da imprensa nacional, que não souberam ou quiseram enxergar a mudança empreendida pelo Botafogo. Criticavam a nova forma de administração do clube, a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), entidade privada com o formato de fazer os investimentos retornarem com sucesso financeiro e os grandes resultados dentro de campo.

Fomos dia e noite criticados pela imprensa e rivais sob o argumento de que o grande investidor teria apenas a vontade de tomar o clube, como se fosse uma ave de rapina do capitalismo. Erraram feio, os investimentos foram feitos, os resultados apareceram em forma de administração, craques, vitórias em campo e pagamento do enorme passivo do Botafogo associação.

E as críticas não paravam, agora sobre o pretexto que o investidor americano não se importaria com os torcedores e que com a SAF a paixão do futebol teria seus dias contados. Ledo engano, o Botafogo é cada vez mais uma família unida. Tanto assim, que pela primeira vez, John Textor levou funcionários e famílias de atletas do Botafogo para assistirem à partida em Buenos Aires.

Enfim, a Libertadores é só o começo de um trabalho recém implantado, cujo planejamento rende os primeiros frutos. As comemorações serão rápidas, pois novas atividades nos esperam, desta vez com a sonhada conquista do Campeonato Brasileiro de 2024. Somos líderes e vamos nos focar em manter nosso status quo para proporcionar novas alegrias aos botafoguenses.

Já estamos classificados para o Mundial 2025 da Fifa e queremos mais. Os torcedores da kombi pedem passagem…

Walmir Rosário é radialista, jornalista, escritor e advogado.

Tempo de leitura: 8 minutos

 

Com Deus, pátria, família, armas, violência, tramas e mentiras, os herdeiros de Frota, que chegaram ao Planalto 22 anos após sua morte, tinham a intenção de estender, a fórceps, a passagem pelo poder. Não representam as Forças Armadas brasileiras na totalidade, mas sua pior tradição, autoritária e entreguista: aqueles que falam grosso com o povo brasileiro e fino com as autoridades americanas.

 

José Cássio Varjão

No dia 28 de agosto de 2024, a Lei 6.683, denominada Lei da Anistia, promulgada pelo então João Baptista Figueiredo, completou 45 anos. Era o início da caminhada pela redemocratização do Brasil (pela segunda vez, a primeira foi em 1945), que começou nessa data, com o perdão daqueles que a Ditadura Militar chamava de subversivos. Para a história, foram perseguidos políticos.

Entre 1978 e 1981, com o intuito de intimidar a sociedade, que se mobilizava pela volta da democracia, vários atentados terroristas foram praticados por militares radicais e paramilitares, que rechaçavam o processo de distensão política que o país atravessava.

Matéria do Jornal do Brasil, de 1º de outubro de 1978, informava que 28 bombas tinham sido explodidas em redações de jornais, sedes de diretórios estudantis, colégios e igrejas, todos no estado de Minas Gerais, nos seis meses que antecederam à reportagem. Tais ações foram de responsabilidade de entidades como GAC (Grupo Anticomunista), MAC (Movimento Anticomunista) e o CCC (Comando de Caça aos Comunistas). O diretor do Jornal O Tempo, Tibério Canuto, vinculava a polícia às atividades dos grupos secretos anticomunistas. Nesse período, a polícia não capturou nenhum responsável.

O mais renomado dos atentados terroristas à sociedade ocorreu no Riocentro, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, quando setores radicais do Exército Brasileiro planejaram explodir uma bomba no estacionamento do Centro de Convenções, no dia 30 de abril de 1981, em evento realizado em comemoração ao Dia do Trabalhador, 1º de maio. Uma das bombas explodiu no interior de um automóvel Puma, no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário, antes do momento previsto para a realização do atentado. Trinta minutos após essa explosão, uma segunda bomba explodiu próximo à casa de força do Riocentro, sem deixar vítimas.

Em junho de 1979, o governo João Figueiredo, através do ministro da Justiça, Petrônio Portela, encaminhou ao Congresso Nacional o projeto da Lei da Anistia. As discussões em torno do tema duraram somente três semanas de debates, sendo a lei aprovada nos moldes que os militares desejaram. Dado ao bipartidarismo (Arena e MDB) adotado durante os anos de governos militares, o MDB, que era o partido da oposição e minoria nas duas casas legislativas, apresentou diversas emendas ao projeto do governo, sendo derrotado em todas.

Segundo dados dos arquivos do Senado Federal, “foram anistiados tanto os que haviam pegado em armas contra o regime quanto os que simplesmente haviam feito críticas públicas aos militares. Graças à lei, exilados e banidos voltaram para o Brasil, clandestinos deixaram de se esconder da polícia, réus tiveram os processos nos tribunais militares anulados, presos foram libertos de presídios e delegacias”.

Mas a Lei da Anistia, concebida ao gosto do governo, não foi tão benevolente como a Arena quis fazer crer. Ela negou o perdão aos chamados “terroristas”, aqueles que tivessem sido condenados de forma definitiva por atos contra o regime. Porém, aqueles que ainda estivessem respondendo a processos idênticos, mas com possibilidade de apelação a tribunais superiores, seriam anistiados.

A questão mais obscura e grave – que os parlamentares do MDB tentaram derrubar, era o perdão aos militares que cometeram arbitrariedades em nome do golpe de 1964, incluindo a tortura e a execução de adversários, dando-lhes segurança de que jamais seriam punidos e, mais ainda, nunca sequer se sentariam no banco dos réus. Propositadamente obscura, sem citar o nome dos militares, a lei dizia que seriam anistiados todos que tivessem cometido “crimes conexos”, ou seja, os agentes da repressão estavam amparados sob o amplo guarda-chuva dos “crimes conexos”.

“Pretende-se que as mortes, os choques elétricos, as lesões corporais, as mais variadas torturas sejam esquecidas. Elas foram compreendidas sorrateiramente pelo projeto de anistia, graças ao recurso de termos ambíguos através dos quais se iludiria a nação”, denunciou o deputado federal Pacheco Chaves (MDB-SP).

Nas semanas seguintes à promulgação da lei pelo presidente da República, vários políticos proeminentes, como Leonel Brizola, Miguel Arraes, Luís Carlos Prestes, Francisco Julião, Betinho, Fernando Gabeira, Vladimir Palmeira, Carlos Minc, Paulo Freire e Haroldo Lima, dentre outros, retornaram ao Brasil depois de, em alguns casos, 15 anos de exílio.

Os militares brasileiros foram os únicos, no Cone Sul da América do Sul, que não foram julgados e devidamente punidos pelos atos praticados entre 1964 e 1979. Em 2011, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil por não investigar os crimes cometidos na ditadura. Tal condenação não tem nenhuma consequência direta ao país, causando somente “constrangimento” perante a comunidade internacional.

Segundo Cláudio Beserra de Vasconcelos, doutor em história pela UFRJ, “os casos de corrupção dos governos militares não são conhecidos porque não se podia investigar, pois a anistia é uma lei do esquecimento. Enquanto outros países fizeram uma mudança de governo, com julgamentos e punições, no Brasil houve uma transição pelo alto. Não houve uma ruptura, foi um processo lento e negociado, que começou com Ernesto Geisel, ainda no início da década de 1970. Uma elite militar e política fez a mudança, não a sociedade. O lobby feito para que os privilégios das Forças Armadas continuassem, e a Constituição de 1988 é um exemplo disso”, aponta Vasconcelos.

Em 1975, o cientista político americano Alfred Stepan (1936-2017) observou a ligação das Forças Armadas com o poder civil no Brasil, “traçando a formação do caráter de tutela que os militares reivindicam ao longo da história, ele estabelece limites, lembrando que duas tentativas de golpe – 1955 e 1961 – não se legitimaram por falta de apoio de significativa parte da elite civil”. Um dos pontos do estudo de Stepan foi que a última participação externa, de grande porte do Exército Brasileiro, foi na Guerra do Paraguai, há exatos 160 anos. Desde então, sem desafios externos, as Forças Armadas brasileiras, em busca de protagonismo, estão voltadas para tarefas de cunho político.

O golpe militar de 1964 foi planejado e executado por uma ala das Forças Armadas, com apoio da elite civil do país. No entanto, após o 31 de março daquele ano, outros militares de alta patente foram obrigados a aderir à tomada de poder pelos militares, por receio de represálias e medo de perder a tropa, composta por soldados, cabos e sargentos.

Os militares mais radicais, os chamados linha dura, defendiam o endurecimento do regime e tiveram em Costa e Silva e Médici seus expoentes principais, entre 1967 e 1974. Com a chegada de Ernesto Geisel e o início da abertura política, a linha dura das Forças Armadas tiveram em Sylvio Frota seu principal representante. Ministro do Exército, Sylvio Frota tentou dar um golpe no golpe, lançando-se candidato à sucessão de Geisel, impedindo a posse de João Figueiredo. Foi o último ato dos chamados linha dura do regime militar, e o assessor e motorista de Frota era um capitão, que se chamava Augusto Heleno. Foi essa ala das FAs que nunca aceitou a abertura política iniciada por Geisel, em 1974, e concluída por Figueiredo em 1985.

Chamado de decano, entre militares que apoiam Jair Bolsonaro, Augusto Heleno concluiu sua formação na Academia Militar das Agulhas Negras em 1969 e fazia coro com os que nunca aceitaram a Lei da Anistia, a transição democrática e a Constituição de 1988. Jair Bolsonaro, que sempre foi peixe pequeno, expressou esse pensamento durante toda a sua medíocre vida política. De 2001 a 2018, das 901 falas catalogadas na Câmara dos Deputados, 252 delas foram alusivas ao golpe militar de 1964.

A introdução de Jair Bolsonaro como candidato a presidente da República ocorreu numa cerimônia de formação de aspirantes a oficiais da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em novembro de 2014, quando a academia era presidida pelo ex-comandante do Exército do governo JMB, general Tomás Paiva. A vitória da chapa Bolsonaro/Mourão contou com a colaboração do Alto Comando do Exército, tendo o General Villas Bôas como seu porta-voz. No seu livro, General Villas Bôas: conversa com o comandante, lançado pela Editora FGV, ele revela como o Alto Comando do Exército ameaçou o STF, no julgamento do habeas corpus do presidente Lula, em 3 de abril de 2018. É imperativo afirmar que a existência de arquétipos ideológicos no interior das Forças Armadas é indiscutível.

Entre arroubos, valentias e práticas golpistas, os militares brasileiros, salvo inegáveis exceções, são fiéis aos próprios regulamentos disciplinares, porém, afeitos às transgressões da ordem institucional, em diversas oportunidades. Começaram com a traição a Dom Pedro II, na Proclamação da República ou Golpe Republicano. Seguindo, com a Revolução de 1930, e o Movimento Tenentista, que impediu o presidente eleito, Júlio Prestes, de tomar posse. Depois veio golpe do Estado Novo, em 1937, com um documento apócrifo dos militares, intitulado Plano Cohen, que fraudulentamente relatava sobre um suposto ataque da Internacional Comunista que derrubaria o Governo Vargas, promovendo greves, incêndios de prédios públicos, depredações e assassinatos de autoridades. Finalizou com a ditadura de 1964, que derrubou o presidente João Goulart, estabelecendo um regime de exceção que durou 21 anos.

Porém, é de suma importância relacionar os movimentos de quebra da ordem institucional que ocorreram em outras oportunidades e que não vingaram, seja por falta de planejamento ou por falta de apoio da sociedade. Comecemos com a Revolta da Armada, entre 1891 e 1894, numa ação liderada por setores da Marinha contra os primeiros governos republicanos. A Revolução Constitucionalista de 1932, uma tentativa dos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul, para derrubar Getúlio Vargas. O Golpe de 1954, que ruiu, tendo como causa a morte de Getúlio Vargas. A Crise Institucional de 1955, cujo objetivo era impedir a posse de Juscelino Kubitschek. O Movimento de 1961, que também tentou impedir a posse de outro presidente, João Goulart. Historicamente, foram essas as tentativas frustradas dos militares tupiniquins, sendo proposital a estratégia dos militares mais radicais, que nunca aceitaram o fim da ditadura, alimentando a continuidade dos próprios projetos políticos.

Nada disso é sinal de despreparo ou de excessos. É tudo bem pensado. Reportagens de diversos meios da comunicação escrita, publicados em 2021 e 2022, indicou a presença de mais de 6,1 mil militares ocupando postos civis da administração direta do governo Bolsonaro. Antes, em 2005, somente 996 militares ocupavam cargos civis no governo federal. Não se pode esquecer que, contra a instalação da Comissão Nacional da Verdade, os militares se posicionaram a favor do impeachment de Dilma Rousseff e a favor da prisão de Lula, com o famoso tweet do general Villas Boas pressionando o STF. Essa junção de fatos culminou com um inusitado agradecimento de Bolsonaro a Villas Boas por chegar à presidência, sem se estender sobre o motivo do tal reconhecimento.

Eis que vem à tona um mirabolante plano de golpe de estado, acompanhado pelo assassinato de autoridades da República, quando vários generais de Exército, com quatro estrelas, e outros, de baixa estatura, a serviço de um capitão, desprovido de qualquer brilho intelectual ou de comando, tentam mais uma vez interferir na vida civil da nação, jogando na lata do lixo 60 milhões de votos da população, para se apropriar indevidamente do poder central.

O relatório de 884 páginas entregue ao STF (Supremo Tribunal Federal) pela Polícia Federal, sobre a tentativa de golpe de estado que se sucedeu após a divulgação do resultado das eleições presidenciais de 2022, detalha minuciosamente os detalhes da trama golpista. Numa mistura de sadismo e trapalhadas, o relatório indiciou 37 pessoas pela tentativa, mais uma vez, de ruptura institucional. “Às favas, senhor presidente, todos os escrúpulos de consciência”, frase de Jarbas Passarinho, que era oficial do Exército, dita na reunião sobre a instalação do AI-5, ainda paira na mente delinquente dos golpistas. Karl Marx citou a famosa frase de Hegel, no 18 Brumário de Luís Bonaparte, de que a história se repete: “A primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

Esse é o cerne dos militares na política, e foi a mesma receita de Sylvio Frota para a continuação da ditadura, com saída autoritária e endurecimento do regime. Jair Bolsonaro e seus personagens grotescos têm alguma linhagem política, com certeza é a do general Sylvio Frota.

Com Deus, pátria, família, armas, violência, tramas e mentiras, os herdeiros de Frota, que chegaram ao Planalto 22 anos após sua morte, tinham a intenção de estender, a fórceps, a passagem pelo poder. Não representam as Forças Armadas brasileiras na totalidade, mas sua pior tradição, autoritária e entreguista: aqueles que falam grosso com o povo brasileiro e fino com as autoridades americanas.

Não há necessidade de tecer comentários sobre o Artigo 142 da Constituição Federal de 1988, porque não cabe às Forças Armadas arbitrarem conflitos entre poderes, tampouco interferência na vida política da nação. Esses eventos refletem o papel dos militares como atores centrais na política brasileira desde a Proclamação da República. A história desses movimentos é marcada por disputas internas, crises políticas e transformações institucionais que moldaram o Brasil moderno.

P.S.: Em 1977, o ministro do Exército de Ernesto Geisel, o general Sylvio Frota, apoiado pelo também general Jayme Portela, articularam uma ação para impedir a candidatura de João Figueiredo, que continuaria a distensão entre a ditadura e a democracia, para posteriormente depor Geisel. Fato semelhante ocorreu em 1965 com Castelo Branco e Costa e Silva, com duas enormes diferenças entre os atores. Geisel era audacioso e mais habilidoso em relação a Castelo Branco. Ao passo que Sylvio Frota era menos preparado que Costa e Silva.

O presidente Geisel convocou os comandantes militares para uma reunião em Brasília. Com a intenção de golpear o presidente, Sylvio Frota enviou um carro, dirigido pelo motorista/capitão Augusto Heleno ao aeroporto de Brasília, para transportá-los, não ao Palácio do Planalto, mas para o Comando do Exército, para em seguida comunicar a Geisel que estava assumindo o poder. Os generais desconfiaram da manobra e não aceitaram entrar na viatura. Sylvio Frota foi demitido do cargo de ministro do Exército, no dia 12 de outubro de 1977.

José Cássio Varjão é cientista político.

Braga Neto e Bolsonaro seriam artífices de golpe, segundo PF || Foto Valter Campanato/AB
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Apuração rigorosa, resguardado o direito de defesa, e punição adequada e sólida para os culpados. É o único caminho que restou ante o absurdo e a loucura do golpe.

 

Julio Cezar de Oliveira Gomes

 

 

 

Imaginemos que o golpe deu certo e que Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes foram mortos. Imediatamente depois, um gabinete de gestão de crise foi instalado com funções de junta de governo e, obviamente, sob o pretexto de que o país precisa “voltar à normalidade”, instala-se o estado de exceção com a suspensão de todas as garantias constitucionais individuais e coletivas.

De fato, teria sido algo absolutamente sem precedentes na história do Brasil, pois em nenhum dos diversos golpes contra a ordem legal que já vivemos antes houve o assassinato dos dirigentes do país. Vejamos.

Em 1889, com o golpe que pôs fim à Monarquia e instalou o regime republicano, Dom Pedro II e a família Real foram depostos e exilados, mas sem violência física alguma.

Já ao fim da República Velha, quando o presidente Washington Luís foi deposto em 1930, houve a breve prisão no Forte de Copacabana seguida do exílio, mas sem violências; e quando Getúlio Vargas foi deposto em 1945 não houve nem mesmo prisão ou exílio, ele apenas retornou para sua cidade natal, São Borja, no Rio Grande do Sul.

Até mesmo no golpe de 1964, que depois viria a originar uma ditadura sangrenta, não houve violência física contra o então presidente João Goulart, que foi retirado do poder e se exilou no Uruguai, porém ao que se saiba nunca se pensou em assassinar Goulart ou qualquer um dos demais governantes anteriormente citados.

De forma radicalmente oposta, o golpe delineado que agora vem à tona começaria com o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Alckmin e do ministro mais emblemático do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

Uma das reflexões mais necessárias neste contexto é: o que viria depois disto? Se as três pessoas da mais alta importância institucional foram eliminadas, o que restaria em termos de direito e de segurança para pessoas comuns como eu e você?

Na verdade, o assassinato das três pessoas citadas poderia ser a senha para uma “limpeza” bem mais ampla que incluísse a eliminação de jornalistas, blogueiros, sindicalistas, professores, religiosos de oposição e, por fim, qualquer pessoa que incomodasse aos golpistas, ainda que fosse pelo motivo mais banal.

Afinal, se mataram um presidente, então não haveria mais limite algum para outras violências e assassinatos que viessem a ser cometidos, extinguindo não só a Democracia, mas o Estado de Direito, as leis, a segurança e vida de quem quer que fosse.

Por isso que não se pode deixar de apurar e punir, pois quem ousa matar um presidente mata qualquer outra pessoa, e por qualquer motivo, incluindo a você que lê este texto.

Gostaríamos, sinceramente, que pudesse ser diferente. Mas, diante da gravidade do que foi planejado e iniciado, e que não se concretizou por motivos alheios à vontade de muitos dos golpistas, não há alternativa para o Brasil senão apurar e punir aqueles que planejaram a eliminação dos opositores como forma de assalto violento ao Poder.

Apuração rigorosa, resguardado o direito de defesa, e punição adequada e sólida para os culpados. É o único caminho que restou ante o absurdo e a loucura do golpe.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz

O jornalista e bacharel em Direito Ederivaldo Benedito, Bené
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Os afrodescendentes são cidadãos e devem agir e serem vistos como tal. Não são seres inferiores nem superiores, mas a história e o sofrimento dos seus antepassados precisam e devem ser reconstruídos e reconhecidos em todas as camadas da sociedade para que possamos reduzir as desigualdades e promover a tão almejada justiça social no país.

 

Ederivaldo Benedito

Neste 20 de novembro – que lembra os 329 anos do assassinato de Zumbi dos Palmares – é momento propício para uma reflexão sobre a trajetória e a condição dos afrodescentes brasileiros. Também a primeira vez em que o Dia da Consciência Negra é feriado nacional, após o presidente Lula sancionar, em 21 de novembro do ano passado, o projeto de lei n.º 3.268/2021, que cria a data. A proposta, de autoria do senador Randolfe Rodrigues, do partido Rede do Amapá, teve 286 votos favoráveis, 121 contra e duas abstenções.

Há décadas, a data é feriado em seis Estados brasileiros – Mato Grosso, Rio de Janeiro, Alagoas, Amazonas, Amapá e São Paulo. Segundo levantamento da Fundação Cultural Palmares, ela é comemorada em, pelo menos, 1.260 municípios. A sanção do presidente fez com que a data se tornasse feriado nacional.

Um dos principais líderes negros do período Brasil Colônia, Zumbi dos Palmares, batizado como Francisco, é considerado o maior líder quilombola da América Latina, além de criador do Quilombo dos Palmares, complexo com 20 mil habitantes, localizado na Serra da Barriga, no município de União dos Palmares, em Alagoas. Ele incentivou a fuga de escravos e liderou a resistência contra a escravidão.

Segundo historiadores, Zumbi nasceu livre em Palmares, mas um padre o escravizou aos seis anos, chegando a servir à missa e aprender latim. Aos quinze anos, retornou ao quilombo, onde se tornou o Guerreiro Zumbi.
Em 1694, uma expedição portuguesa destruiu o quilombo. Em 1695, após uma emboscada, Zumbi acabou capturado e decapitado. Sua cabeça foi exposta em praça pública. Zumbi dos Palmares é considerado um símbolo de resistência dos negros à escravidão no Brasil.

A data tem um grande significado para todo o povo brasileiro, porque consciência negra – ideia extraída dos movimentos sociais que lutam contra o racismo, o preconceito e pela igualdade racial no início das décadas de 70 e 80 – é muito mais que o orgulho da cor da pele negra. Simboliza luta, resistência e a consciência de que a negritude não é inferior, nem superior, e que o negro tem seu valor e seu lugar na sociedade.

Significa, também, respeito e direitos a todos os seres humanos, e nos leva a imaginar e fazer, em foz alta, inúmeras indagações, consideradas pertinentes:

Se o Brasil é o país com a maior população negra fora do continente africano e, de acordo com o IBGE, somos mais de 110 milhões de pessoas espalhadas nos seus 26 Estados e no Distrito Federal, por que pouco se sabe sobre a história negra nesta Terra de Santa Cruz de contribuição e formação da sociedade brasileira?

Por que – se o 20 de novembro é uma data que, além de homenagear o líder na época dos quilombos, surgiu como uma iniciativa de gerar reflexão para as questões raciais no país, fortalece mitos e referências históricas da cultura e trajetórias negra nesta terra, trazendo referências para lideranças atuais – ainda hoje os nossos presídios estão abarrotados de pretos e pardos, as ruas cheias de pedintes negros e as taxas de desemprego são lideradas por pessoas pretas?

Por que 136 anos após a abolição da escravatura, oficialmente em 13 de maio de 1888, o negro continua numa posição inferior na sociedade brasileira?

Por que durante o século XIX, a irmandade negra do Rosário dos Pretos das Portas do Carmo, em Salvador, sobreviveu quatro séculos – a maior parte do tempo sob a escravidão – contribuindo para a afirmação dos negros e da cultura negra na Bahia, organizando a resistência, lutando em favor da libertação dos escravos, preservando a cultura afro e mantendo unido o povo de origem africana?

Por que durante o Brasil-Colônia, na Bahia, em Pernambuco e no Rio dme Janeiro, existiam as “juntas” – associações criadas com o fim de formar uma poupança em dinheiro para empréstimo aos escravos que se encontravam em dificuldade financeira ou precisassem comprar carta de alforria – foram fundamentais para que muitos deles não caíssem na mendicância quando perdiam as forças para trabalhar?

Por que as “juntas” eram presididas por um líder que cuidava de guardar e anotar as quantias depositadas e retiradas, e seus membros se reuniam, geralmente aos domingos, para retirar e depositar dinheiro e discutir negócios, e no século XIX os negros de ganho que trabalhavam na zona portuária da cidade do Rio de Janeiro, inclusive carregadores de café, também se reuniam em torno de associações com o fim de promoverem a liberdade de seus membros?

Por que no período escravocrata, organizados e unidos, os negros lutavam incessantemente pela compra das cartas de alforria, conseguida também por algum parente do escravizado que esperava ser libertado, pelo próprio escravizado ou por alguma pessoa livre com a qual o escravizado manteve contato, e hoje, apesar do avanço tecnológico, do acesso à escola e aos meios de comunicação, e da inserção social essa união e organização não é tão evidenciada na luta contra o preconceito social que impera no país?

Por que o negro ainda é discriminado e alvo de preconceito racial na Bahia, um Estado brasileiro com grande concentração de pretos e afrodescendentes?

Por que discriminação racial contra negros na terra onde nasceu o Brasil, assim como em outras regiões onde há uma grande população negra, é resultado de um longo histórico de racismo estrutural enraizado na sociedade?

Por que, nestes quase um século e meio, na Bahia a herança da escravidão e a persistência de preconceitos raciais ainda contribuem para a discriminação e exclusão do povo preto em diversos aspectos da vida cotidiana, como acesso a emprego, Educação, Saúde e Justiça?

Por que, em todo território nacional, a falta de políticas públicas efetivas e a perpetuação de estereótipos negativos em relação aos negros também contribuem para a manutenção da discriminação racial?

Por que a sociedade brasileira, apesar de tantas lutas, ainda não conseguiu promover, de forma efetiva, a conscientização e o combate ao racismo estrutural, à discriminação e ao preconceito racial, bem como a implementação duradoura de políticas de inclusão e de igualdade para que todos os cidadãos possam viver em uma sociedade mais justa e igualitária?

Por que o candomblé – religião de matriz africana que foi trazida para o Brasil pelos escravizados durante a época da colonização, e que não segue os padrões impostos pela sociedade dominante – é tão discriminado e alvo de preconceito no pais, em especial, na Bahia?

Por que, no limiar da metade da segunda década do Século XXI, a sociedade brasileira ainda se ocupar em colocar como pauta de discussão acadêmicas e políticas o racismo estrutural – um problema historicamente enraizado, que se manifesta de diversas maneiras, como discriminação no mercado de trabalho, acesso limitado à educação de qualidade e à violência policial – e perpetua a posição inferior do negro em nosso meio?

Por que a maioria absoluta dos negros no Brasil vive em situação de pobreza e tem acesso limitado a oportunidades econômicas e sociais, e a desigualdade de renda e o acesso desigual a recursos vêm contribuindo, ao longo de décadas, para a manutenção da posição inferior do negro na sociedade?

Por que, apesar dos avanços legais e políticos para combater a desigualdade racial no Brasil, ainda há uma lacuna na implementação efetiva de políticas públicas que promovam a igualdade de oportunidades para negros e brancos, e a falta de políticas afirmativas e a perpetuação de estereótipos e preconceitos contribuem para a manutenção da posição inferior do negro na sociedade brasileira?

Por que, ativistas e educadores, militantes e pesquisadores, líderes do movimentos sociais e professores, pais de alunos e parlamentares aliados, estudantes e políticos do campo progressistas não organizam e, unidos, constroem uma frente ampla nacional com o objetivo de sensibilizar a sociedade e pressionar os governos estadual e federal na luta pela inclusão de negros, em especial os pobres, nas instituições de ensino superior públicas e privadas, nos serviço público e no mercado de trabalho – por meio do cooperativismo, do associativismo e do empreendedorismo coletivo – possibilitando, dessa forma, empoderamento e mobilidade social para população afro-brasileira?

Por que as organizações e movimentos que defendem a causa não chegam – unidos e organizados – junto aos organismos competentes e aos governamentais locais e aos parlamentares ligados a esta terra e apresentam um projeto viável de implantação, no sul da Bahia, de núcleos coletivos de Educação, visando à capacitação de professores da rede municipal de ensino, para que estes disseminem a cultura afro-brasileira nas escolas públicas da região?

Por que até o momento não foi colocado em prática, de forma dinâmica, plena e eficiente, em nosso meio, o programa de capacitação de docentes, que objetiva disseminar a cultura afro-brasileira nas escolas públicas, e a proposta que contempla a Educação étnico-racial nas unidades educacionais públicas municipais, por meio da meta estabelecida pelo Plano de Educação da Secretaria de Educação, e de acordo com a Lei n.º 10.639 de 2003, que fala sobre o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana?

Fala-se muito em reparação e em ações afirmativas, mas é preciso que as ações sejam efetivamente ações. Se a exclusão é cotidiana, a luta pela inclusão também. Durante esta semana da data, diversas atividades foram realizadas, assim como palestras, cursos, seminários, oficinas, audiências públicas, entrevista e passeatas. Mas entendemos que o discurso deve se tornar prática e, diariamente, recriamos, reconstruirmos, resgatarmos, contarmos a outra historia do Brasil.

Em síntese: o 20 de novembro não pode nem deve ser apenas num dia, porque as questões e os problemas que pretos e pardos enfrentam são constantes, diuturnos. Os afrodescendentes são cidadãos e devem agir e serem vistos como tal. Não são seres inferiores nem superiores, mas a história e o sofrimento dos seus antepassados precisam e devem ser reconstruídos e reconhecidos em todas as camadas da sociedade para que possamos reduzir as desigualdades e promover a tão almejada justiça social no país.

Ederivaldo Benedito é jornalista, radialista, bacharel em Direito, historiador, escritor, graduando em Teologia e pós-graduando em História e Cultura Afrobrasileira.