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A indicação de uma mulher negra e progressista ao STF seria mais um passo corajoso e necessário.

 

Rodrigo Cardoso

O debate sobre a indicação do presidente Lula para a vaga que surgirá no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria da ministra Rosa Weber já ocupa o debate público. Enquanto a grande mídia foca nas fontes palacianas que sugerem mais uma indicação “tradicional”, surgiu originalmente de entidades, ativistas e intelectuais do movimento negro, mas já se espalha por diversos setores sociais, uma campanha para que Lula escolha uma jurista progressista negra.

Na atual composição da Suprema Corte, é inegável que a representatividade está longe de ser ideal. Com nenhum ministro negro e apenas duas mulheres entre os onze membros, a diversidade e a inclusão no órgão mais alto da Justiça brasileira são desafios evidentes que precisam ser superados.

Também se nota grande divergência na própria base social de apoio do presidente Lula em relação a essa questão. Talvez contaminada pela polêmica em torno da primeira indicação, do advogado Cristiano Zanin, cuja atuação brilhante demonstrando a perseguição judicial ilegal que atingiu a Lula valeu elogios de todos os democratas. Inclusive de juristas conservadores, como o ministro Gilmar Mendes, que, emocionado, declarou durante o julgamento que a atuação do mesmo honrou a história da advocacia brasileira.

Zanin, apesar de sua inegável contribuição para a democracia e a defesa do Estado de Direito, tem perfil conservador em diversos aspectos, tendo se notabilizado também por advogar para grandes empresas. Foi alvo de diversos ataques, à direita e à esquerda, antes e depois da nomeação.

Alguns setores argumentam que essa pressão, mesmo com viés progressista, enfraquece o governo. Lembram das polêmicas Jornadas de Junho de 2013, que, ao fragilizar o governo Dilma, de certa forma, teriam aberto caminho para sua derrubada e posterior ascensão da extrema-direita protofascista ao centro do poder. No entanto, é importante lembrar que o próprio presidente Lula tem incentivado a pressão social por causas populares, como forma de equilibrar os interesses econômicos poderosos que sempre exerceram grande influência sobre a política brasileira.

Outros até entendem o quanto é estratégico para o avanço das demandas sociais que o indicado seja alguém progressista. Porém, buscam desqualificar como meramente “identitária” a reivindicação para que o presidente atente, também, para a necessidade de garantir a presença de negros e mulheres no STF.

Aí nos perguntamos: e por que não uma mulher negra? Se admite-se que existem diversas pessoas com esse perfil representativo, negros e mulheres, progressistas, com notório saber jurídico e moral ilibada, por que o STF é e deve continuar sendo composto 100% por brancos?

Por que essa “maioria minorizada” (conceito simples, que traz diversas questões profundas, exposto em recente ensaio de mesmo título publicado pelo professor Richard Santos, da UFSB) do povo brasileiro deve continuar sendo excluída, em especial nos espaços públicos e de poder?

No mesmo livro, o docente da Universidade Federal do Sul da Bahia lembra do questionamento do professor Milton Santos sobre a ação política consequente necessária para tratar eticamente a questão do negro no Brasil. Após 135 anos da abolição da escravidão oficial, devemos esperar mais outro século para obter direito a uma participação plena na vida nacional?

A indicação de uma mulher negra progressista ao STF seria mais um passo corajoso e necessário. Além de uma mensagem de simbolismo muito forte para que os milhões de negros e negras, que compomos a maioria do povo brasileiro, possamos sentir que é possível participar de um verdadeiro projeto de nação, que queira incluir a todos e todas de forma igualitária na construção de um país desenvolvido, soberano e justo.

Rodrigo Cardoso é presidente do Sindicato dos Bancários de Ilhéus e membro da direção do PCdoB na Bahia.

Walmir Rosário recupera história do duelo futebolístico entre Belmonte e Itajuípe
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Pires prometeu que nunca mais jogaria em Belmonte e abandonaria o futebol se tivesse que fazer outra partida naquela cidade.

 

 

 

 

 

 

 

Walmir Rosário

Quem jogou ou, pelo menos, acompanhou jogos do futebol amador em tempos passados sabe a dificuldade em disputar uma partida no campo adversário. Nas fazendas, então, era o parto da bezerra. O visitante era convidado a jogar, mas era impedido de ganhar. Para tanto, o árbitro era escolhido a dedo pelo mandante, com o dever de impedir, a qualquer custo, a vitória do time de fora. E não adiantava espernear.

Para não ficarmos falando só do passado, isso existe até hoje, não pela simples rivalidade entre as duas equipes, a exemplo de Itabuna e Ilhéus, que perdura aos dias atuais e não tem prazo para encerrar. Com as equipes profissionais convencionou-se dizer que nos seus domínios o adversário tem que agir com muita cautela, chegando a afirmar que o touro em pasto alheio não passa de bezerro. E os velhos alçapões estão aí.

Para não dizer que não saí da cozinha de casa, lembro bem das partidas entre os times brasileiros e argentinos nos estádios dos hermanos, que não respeitam a torcida, os árbitros e muito menos os adversários. Quando o resultado não já estava encomendado, eles o fabricavam, sem qualquer cerimônia ou receio das consequências legais que poderiam ser tomadas.

Não tenho base legal ou conhecimento para afirmar que os antigos dirigentes e torcedores da Seleção Amadora de Belmonte, no Sul da Bahia, herdaram esses costumes dos argentinos, mas que agiam parecido, isto é fato e não se pode negar. Que digam os atletas, dirigentes e torcedores das seleções amadoras de Canavieiras, Ilhéus, Itabuna nos velhos tempos do Campeonato Baiano de Amadores.

Pra início de conversa, assim que a seleção adversária chegava era recepcionada por uma comissão que tinha como objetivo atingir moralmente os adversários com palavras difamantes, ultrajantes e tudo o mais que a valha. Mas não ficava por aí, essas comissões se revezavam em frente a pensão que hospedava a delegação, e fazia muito barulho noite a dentro, evitando que dormissem o sono dos justos.

Uma solução encontrada por Itabuna foi viajar para Belmonte em aviões, os famosos teco-tecos, com a finalidade de chegar um pouco antes da partida. Os que se aventuravam ir de ônibus comiam o pão que o diabo amassou. Tinham que chacoalhar nas velhas “marinetes” da Sulba por quase 200 quilômetros. Aguentar a poeira os atoleiros, a depender da estação do ano.

No começo da década de 1960, a Seleção de Itajuípe tinha um compromisso com o selecionado de Belmonte pelo Campeonato Baiano de Amadores. Os dirigentes alugam um ônibus e saem no sábado bem cedo (um dia antes). No caminho desceram para empurrar o veículo várias vezes e conseguiram chegar com o sol caindo no horizonte. Foram ao estádio reconhecer o gramado e dali se dirigiram à pensão.

Por recomendação do presidente Jackson Hage e dos diretores Fernando Mansur e Tuffik, os jogadores não saíram da pensão para conhecer a cidade, por motivos óbvios. Mas não conseguiram dormir com a batucada na praça em frente, sob o comando da apaixonada torcida belmontense. E Itajuípe tinha que sair de Belmonte, no mínimo, com um empate, para disputar com a Seleção de Ilhéus. Mas o pensamento do grupo era ganhar o jogo.

E a partida não saia do 0X0. Mais ou menos aos 35 minutos do segundo tempo, o árbitro, do meio de campo, marcou um pênalti contra a Seleção de Itajuípe, sem qualquer motivo e fora de qualquer jogada. Não adiantaram as reclamações. O árbitro estava irredutível. Atrás do gol de Itajuípe, uma pessoa chegou para perto do goleiro Antônio Pires, tirou o revólver da cintura e disse: “Se você se mexer na área eu lhe encho de chumbo”.

Ao presenciarem a cena, os jogadores da Seleção de Itajuípe comunicaram o fato à diretoria, que por sua vez chamou a polícia, que confirmou a arma e a estranha ameaça. Não se sabe o motivo e o poder do agressor, já que os policiais não o prenderam. Apenas se dividiram em dois grupos, um junto ao ameaçador e outro ao lado da trave, no sentido de evitar que o crime se consumasse, caso o goleiro Pires pegasse o pênalti.

Confusão amainada, o jogador do selecionado belmontense chuta a bola e o goleiro Pires a encaixa com segurança. Mesmo com a proteção dos policiais, o ameaçador continua prometendo transformar Pires numa tábua de pirulito, pelos tiros que prometia dar. O árbitro é obrigado a interromper o jogo, pois todos os jogadores formaram um cordão de isolamento para proteger o goleiro ameaçado.

A única solução encontrada pelos dirigentes foi fretar um avião teco-teco e transferir Pires para Ilhéus. Embarcaram Pires em um jipe, na companhia de Fernando Mansur e Tuffik, além dos policiais, para levá-los ao avião, enquanto em outro jipe ficou o agressor cercado de policiais. Assim que o teco-teco levanta voo, o jogo é retomado, com o goleiro reserva no lugar de Pires, e o placar de 0X0 foi mantido, apesar do desespero dos itajuipenses.

Pires prometeu que nunca mais jogaria em Belmonte e abandonaria o futebol se tivesse que fazer outra partida naquela cidade. E não se falou mais nisso.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor de Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Existe uma grande expectativa de um conjunto cada vez maior da sociedade em credibilizar o atual gestor como alguém que vai superar os gargalos locais.

 

Rosivaldo Pinheiro

Apesar da busca, por alguns, para anular os feitos da atual gestão de Itabuna, numa disputa intelectualmente desleal por poder, o município vive um momento pujante jamais imaginado nos últimos anos: desde a reconstrução financeira e fiscal a investimentos estruturantes já perceptíveis e celebrados por grande parte da população.

Na lista, o fechamento do lixão, a implantação da coleta seletiva e destinação dos resíduos sólidos para o aterro sanitário ambientalmente legalizado, requalificação de escolas, de unidades de saúde, praças, iluminação pública com substituição de braços de energia e lâmpadas comuns por LED, abertura de um hospital de campanha para vítimas da Covid, reabertura e requalificação de hospitais – Cemepi, Otaciana Pinto (Mãe Pobre), São Lucas – e ampliação do Hospital de Base, onde já foi implantado um centro de imagem. Além de tudo isso, a regularidade nos pagamentos dos serviços de média e alta complexidades aos prestadores, dentre eles, a Santa Casa, que deixou de viver sob permanente ameaça de greve dos funcionários.

Também o funcionalismo municipal vive um novo e esperançoso momento, com um calendário de pagamentos com antecipação salarial mensalmente registrada, que teve o último reajuste de 8,5%, acima da inflação, e que está em fase de celebração do plano de cargo, carreira e salários. Na educação, os professores receberam todos os reajustes estabelecidos pelo governo federal, e terão, no próximo ano, acesso aos recursos dos precatórios, uma espera que já ultrapassava uma década. Na economia, a atração de novos investimentos da iniciativa privada. No esporte, a construção de Areninhas, campos de futebol e a requalificação do Itabunão, prevista para iniciar em breve.

Importante fazer destaque nessa reconstrução da cidade para três instrumentos de mudança de status: o programa Mais Água, que permitirá ampliação de armazenamento e distribuição de água para mais de 160 mil pessoas ao final da sua estruturação, e o melhoramento viário dos bairros através de recursos capitados na ordem de R$ 115 milhões junto ao Banco do Brasil e o empréstimo internacional junto ao Fundo da Bacia do Plata (Fonplata), ambos com garantia do tesouro nacional.

Os recursos do Fonplata poderão ser utilizados e aplicados em até cinco anos, contados a partir de 2024. Eles garantirão equipamentos de grande impacto para a qualidade de mobilidade e, consequentemente, de vida em Itabuna e região, com a construção de pontes, viaduto, redução da carga de esgoto no Rio Cachoeira (projeto da Emasa) e outras intervenções importantes para uma nova configuração urbanística da cidade.

Por todas essas iniciativas, existe uma grande expectativa de um conjunto cada vez maior da sociedade local em credibilizar o atual gestor como alguém que vai superar os gargalos locais. Augusto Castro tem capilaridade junto ao governo do Estado e à União capazes de fazer uma virada de chave, trazendo à luz desse sentimento um novo ciclo local de desenvolvimento.

Rosivaldo Pinheiro é comunicador, economista, especialista em Planejamento de Cidades e secretário de Governo de Itabuna.

Ao lado de Silmara Sousa, Orlando Cardoso entrevista Jorge Braga, ex-presidente da CDL Itabuna
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Era 26 de fevereiro de 1961. Em meados de abril, o diretor de Broadcast da Rádio Difusora, Lourival Ferreira, o convoca para assumir o comando das narrações, e sozinho.

 

Walmir Rosário

Dizem os estudiosos em física e matemática que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Até que poderia, mas as probabilidades seriam remotas, ínfimas. Não concordo, mesmo tendo consciência de que sou, cientificamente, um ignorante nesses assuntos. E rebato essa tese apresentando prova em contrário, reconhecida e testada em todos os lugares em que as ondas do rádio de Itabuna alcançaram e fizeram sucesso.

E minha tese, como disse, tem nome e sobrenome, Orlando Cardoso Melo, com 62 anos dedicados ao rádio. Pelas minhas contas, seriam 63, mas como ele não coloca sua primeira experiência no currículo, acato a idade radiofônica em questão. E Orlando desempenha, ainda, com maestria tudo o que criou e fez no rádio, como transmissões esportivas, apresentação de resenhas, programas musicais, informativos e o que mais apareça.

E ele chegou ao rádio por acaso. A primeira vez em que o raio (do rádio) caiu foi em 1960, na antiga Rádio Clube de Itabuna, por obra e graça de Cristóvão Colombo Crispim de Carvalho, o CCCC, que solicita para que Orlando Cardoso gravasse um jogo imaginário em seu gravador (de Crispim). Feito o teste, aprovado, foi convidado a narrar uma partida preliminar do Campeonato de Itabuna. Perfeito para a primeira vez.

Foi convidado a fazer parte da equipe comandada por José Maria Gottschalk, com Gérson Souza, Crispim, dentre outros. Aceitou. A emissora estava ampliando o quadro do esporte, com Leovaldo Almeida, Edson Almeida, Geraldo Santos, e Leovaldo e o designou para a redação da resenha. Perguntou se “batia a máquina”, como a resposta foi negativa, ordenou que se matriculasse numa escola de datilografia.

Orlando não deu as caras na emissora e continuou seu trabalho na Loja Osgonçalves, esqueceu a quase nova profissão de radialista, para desgosto de Crispim. Vida que segue, em 1961 inicia o serviço militar no Tiro de Guerra, sob o comando do então sargento Paulo. Num desses domingos, ao encerrar a instrução, o sargento anuncia que o radialista Romilton Teles teria convidado a todos para participarem do programa Show da Alegria, na Rádio Difusora.

E o raio tornou a cair no mesmo lugar. Romilton Teles anuncia que os atiradores podem se apresentar com o que sabem fazer de melhor: cantar, dançar, recitar poesia. Um colega engrena a música Esmeralda e incentiva a apresentação dos demais. Para surpresa da plateia, Orlando Cardoso se candidata a narrar um jogo entre o Vasco da Gama e o Real Madri, pois tinha escutado esse jogo no meio da semana, com o gol de Delem.

Assim que recebeu o microfone das mãos de Romilton, Orlando pede a ajuda da galera e botou o tom fora, até anunciar o gol do Vasco. Se junta aos demais e em seguida é convocado para voltar à emissora na quarta-feira, para se encontrar com o diretor-geral Hercílio Nunes. Se apresenta, mas como o diretor estava numa reunião, pede que ele vá no domingo ao Campo da Desportiva e que chegue mais cedo, pois narrará uma partida.

Chega cedo como aprazado e Hercílio abre a transmissão, anuncia o novo contratado, que narrará o jogo em conjunto com o titular, Luiz Alves. E cada um narraria o jogo numa metade do campo, como faziam Jorge Curi e Antônio Cordeiro na Rádio Nacional. Era 26 de fevereiro de 1961. Em meados de abril, o diretor de Broadcast da Rádio Difusora, Lourival Ferreira, o convoca para assumir o comando das narrações, e sozinho.

No próximo domingo já estreou no Estádio Mário Pessoa, em Ilhéus, transmitindo Seleção de Ilhéus e Bonsucesso, do Rio de Janeiro. E não parou mais. Apresentou resenhas e inovou ao criar e apresentar um programa com músicas de Carnaval, só que fora do Carnaval. Mesmo contra a opinião de Hercílio Nunes, apresentava aos domingos, das 7 às 9 horas, Carnaval Toda a Vida, e a primeira música tocada foi Roubei a mulher do rei.

Enquanto isso, fazia de tudo para continuar nas duas ocupações, a Osgonçalves e a Difusora, até quando não deu mais e deixou a loja. Assim que avisou a Hercílio que estava “desempregado” da loja, recebeu a proposta para apresentar um novo programa, à tarde. Descansou merecidos 15 dias e passou a apresentar o programa Discoteca Jovem de Ontem, com músicas passadas, que caiu, imediatamente, no gosto dos ouvintes.

E Orlando Cardoso se consolidou no rádio itabunense e regional pela alegria em que narrava as partidas de futebol e as apresentações dos programas musicais, contando piadas e mandando os alôs para os ouvintes. Nas ruas e estádios era cumprimentado com os bordões que criava, era convidado a ir às casas dos ouvintes, e sempre chegava com a mesma alegria do rádio.

No futebol, criou bordões que fizeram muito sucesso e são lembrados e imitados até hoje. E os ouvintes iam ao delírio quando ouviam Orlando gritar: “Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo do futebol”, subtraído da ideia de Fiori Gigliotti; “Gol itabunense, torcida grapiúna”; “O barbante estufou, o escore mudou”; “Ora, ora, ora, agora, (para informar o horário,”, dentre outros. “Eles apareciam e eu incorporava ao repertório”, conta.

Após vários anos na Rádio Difusora, passa pela Rádio Nacional (ex-Clube) e Rádio Jornal de Itabuna, até retornar à Difusora, onde até hoje lidera a audiência com o Programa Panorama 640 (meia quatro zero). Comentam os colegas radialistas, que o programa não tem mais espaço algum para novas publicidades, o que configura o estrondoso sucesso de Orlando na Difusora e nas emissoras em que passou.

Em 1984 Orlando Cardoso finaliza sua participação como narrador esportivo, apesar dos constantes apelos dos ouvintes e colegas para que permanecesse por mais tempo. Narrou grandes partidas da Seleção Brasileira no Maracanã e no Maranhão; do Flamengo (3) na decisão do Campeonato Brasileiro contra o Atlético Mineiro (1); e em Campinas, na vitória do Guarani sobre o Itabuna por 7X1.

E Orlando Cardoso, torcedor do América carioca, sempre foi um eterno apaixonado pelo bom futebol da Seleção de Itabuna. Foi eleito vereador para dois mandatos de seis anos (cada) e é uma das pessoas mais populares de Itabuna e região. Aos 81 anos de idade e 62 de radialismo (63 se contar com a pequena passagem pela Rádio Clube), se considera um homem feliz e realizado com sua família.

Um homem com grandes histórias e que aqui serão contadas em muito breve.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor de Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Billi Holiday, a dama do blues || Foto The Art Archive / Library of Congress
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Billie diz ter pedido pra tocar Tra´velin All Alone, pois era o que mais se parecia com o que estava sentindo naquele momento. Silêncio total. Quando terminou as pessoas estavam chorando e ela pegou 38 dólares pelo chão.

 

Marival Guedes

Na rede de computadores ouvi casualmente Strange fruit (Billie Holiday). A composição fala sobre corpos de negros linchados e pendurados em árvores nos EUA. Dias depois, também por acaso, encontrei o livro Billie Holiday – Lady sings the blues – uma autobiografia. A publicação em Língua Portuguesa foi sugerida à editora Brasiliense pelo jornalista e biógrafo Ruy Castro, que fez a tradução e escreveu o posfácio.

Billie Holiday, aos dez anos, foi vítima de tentativa de estupro por um homem de 40 anos. Foi presa pela primeira vez injustamente, depois por porte de heroína e sofria constantes discriminações raciais, mesmo depois da fama.

A PRIMEIRA VEZ

A mãe era empregada doméstica e Billie diarista. Certa vez, a mãe, separada do pai, falou que seriam despejadas no dia seguinte, pois não tinha 56 dólares para pagar o aluguel. “Vou fazer qualquer coisa, mas trarei este dinheiro”, prometeu Billie.

Foi numa boate e pediu ao dono pra ser dançarina. No teste, em poucos minutos, foi interrompida e quando iam levá-la pra fora, continuou implorando emprego. O pianista apiedado perguntou se ela sabia cantar. Respondeu que sim, mas imaginou que não adiantaria. Gostava demais de cantar pra sonhar que poderia ganhar dinheiro profissionalmente.

Billie diz ter pedido pra tocar Tra´velin All Alone, pois era o que mais se parecia com o que estava sentindo naquele momento. Silêncio total. Quando terminou as pessoas estavam chorando e ela pegou 38 dólares pelo chão.

No final, mesmo dividindo com o pianista, conseguiu 57 dólares. No retorno pra casa, comprou um frango inteiro e feijão, comida que sua mãe adorava. Falou que conseguiu emprego de 18 dólares por semana. A mãe não acreditou, foi vê-la cantar e tornou-se sua maior incentivadora.

STRANGE FRUIT

Voltando à Strange Fruit, conta que o embrião foi um poema de Lewis Allen. Ele sugeriu que ela e o músico Sonny White transformassem em canção. Billie afirma que parecia falar das coisas que mataram o próprio pai, um músico que morreu vítima de problema pulmonar. O hospital não prestou atendimento por ele ser negro.

A primeira vez que cantou teve receio. Quando terminou não houve aplauso. Então, um jovem começou a aplaudir timidamente e de repente todas as pessoas aplaudiram. Por várias vezes empresários e produtores pediram pra ela não cantar esta composição. Billie desobedecia e foi intensamente perseguida pelo FBI por ordem do governo.

REAÇÕES AO RACISMO

Das histórias sobre discriminação racial destaco duas. Num voo com um amigo também negro, um homem branco na poltrona ao lado se mostrava bastante incomodado e olhava de soslaio para a dupla. De repente, fogo numa asa do avião. O homem pede pra segurar nas mãos deles e rezarem juntos. Billie respondeu: “O senhor vai morrer aí na sua poltrona, cavalheiro, e nós morreremos na nossa.”

Felizmente, a aeronave pousou sem maiores problemas.

Outro caso aconteceu quando passeava com uma amiga e o carro enguiçou. Ela pediu ajuda a um homem, que consertou e deu uma volta pra se certificar que estava tudo bem. E convidou a dupla para um bar. Ao chegar, um comediante se dirigiu à mesa do trio e falou: “pelo jeito você gosta de todos os tipos de mulheres.” Foi esmurrado. Quando retornou à mesa Billie falou que só agora o tinha reconhecido por causa do murro. Ele riu muito. Era o ator Clark Gable.

Billie morreu em 1959, aos 44 anos, “de enfarte, heroína e emoções em excesso”, escreveu Ruy Castro no posfácio. Diz ainda que ela “fundou sozinha uma dinastia de cantoras negras ou brancas que até hoje nos alimentam a alma”.

Marival Guedes é jornalista.

Campeonato Interbairros de Futebol em Itabuna || Foto Pedro Augusto/Arquivo
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Com a implantação do campeonato, os times jogavam nos campos de bairro e disputavam a final no Estádio Itabunão. Praticamente todos os jogos eram transmitidos pelas emissoras de rádio e com cobertura nas TVs locais. O domingo era, realmente, um dia de festa.

Walmir Rosário

Pouquíssimos municípios brasileiros podem se orgulhar de planejar e executar políticas públicas para o setor esportivo. Os programas, por si só não bastam: precisam ser eficientes e eficazes para contemplar uma população de jovens cada vez mais longe do direito consagrado no artigo 217 da Constituição Federal: “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um…”.

E no quesito desporto não há como comparar o antes e o depois da chamada Constituição Cidadã. Desde antes os colégios públicos mais equipados conseguiam formar atletas nas diversas especialidades na disciplina educação física em suas quadras poliesportivas. Nada mais que isso. As prefeituras auxiliavam, quando muito, com um trator na abertura de um campinho nos muitos terrenos baldios existentes nos bairros.

Fora disso, a população se virava aproveitando a ausência do boom imobiliário. Era costume uma turma de garotos e homens formados pegar no pesado para dar forma a um campinho de pelada, ou babas, como queiram. Jogavam descalços, sem uniformes, como queriam e dava tempo. Era voltar da escola, colocar um calção, chegar ao campo e bater o par ou ímpar para escolher os times. Um jogava com camisas, outro com torso nu.

Mas o crescimento das cidades deu um basta na brincadeira dos meninos. Os bem mais aquinhoados financeiramente e que eram associados a clubes continuaram praticando o esporte, bem como os participantes dos times amadores. Os excluídos mudaram de esporte ou deixaram de praticá-los. Outra solução eram os campos que alugavam horário para as partidas.

Em Itabuna, lá pelo ano 1993, o desportista João Xavier – jogador e dirigente esportivo –, eleito vice-prefeito, tomou a incumbência de proporcionar à população os benefícios do esporte, como mandava a Constituição Cidadã. De pronto, escalou José Maria (Nininho, o Sputnik), ex-jogador profissional e ex-supervisor do Itabuna Esporte Clube para pilotar importante projeto desportivo.

De início implantaram diversas escolinhas esportivas nos bairros de Itabuna, cujos alunos participavam das atividades no contraturno da escola formal. Em pouquíssimo tempo, cerca de 700 crianças já se beneficiavam do projeto nos bairros, orientados por profissionais oriundos de diversas modalidades esportivas e supervisionados pelos profissionais de Educação Física do quadro da prefeitura.

E o sucesso do projeto ultrapassou limites e divisas geográficas, chegando em Brasília. De imediato, a então secretaria federal dos Esportes destacou um técnico para conhecer a ação. De cara, destinou R$ 600 mil (à época recursos consideráveis) para o desenvolvimento do projeto. Até hoje as escolinhas dos bairros Santa Inês, São Pedro, Daniel Gomes, Núcleo Habitacional da Ceplac e Ferradas não viram a cor do dinheiro.

Recentemente, o radialista e advogado Geraldo Borges Santos elaborou um projeto que poderia resgatar a formação de jovens nos diversos bairros da cidade. De acordo com o projeto, a prefeitura executaria as ações em parceria com as faculdades e universidades instaladas em Itabuna e empresas privadas. Para tanto, bastaria recuperar alguns equipamentos públicos esportivos, a exemplo de quadras e o complexo esportivo que reúne o Estádio Fernando Gomes e a Vila Olímpica professor Everaldo Cardoso.

Conclui-se, portanto, que a cidade tem uma estrutura básica de equipamentos públicos voltados para o esporte, grande contingente de jovens ávidos para envolvimento em atividades esportivas e de atletismo. Tudo isso aliado a uma população que gosta de esportes, com histórica tradição de sucesso, restando ao Executivo e Legislativo estabelecerem uma política pública que possa beneficiar a comunidade.

Obstinado, João Xavier apresenta e executa outro projeto esportivo de fôlego: o Campeonato Interbairros de Itabuna, considerado o maior certame do gênero no Brasil. De cunho social, mexia positivamente na educação dos jovens e adultos e na economia desses locais onde os jogos eram disputados. Fortalecia o comércio formal e informal nos dias dos jogos e autoestima da população, que se unia em torno de suas comunidades.

O Interbairros também atuou na mudança do comportamento das pessoas, que antes deixavam Itabuna aos domingos para curtir o lazer nas praias de Ilhéus, um verdadeiro êxodo de pessoas e recursos dispendidos nas viagens. Com a implantação do campeonato, os times jogavam nos campos de bairro e disputavam a final no Estádio Itabunão. Praticamente todos os jogos eram transmitidos pelas emissoras de rádio e com cobertura nas TVs locais. O domingo era, realmente, um dia de festa.

Em 28 julho de 2023 o Campeonato Interbairros de Itabuna completou 30 anos. Criado para se tornar uma fonte inesgotável do descobrimento de craques, que poderiam ter chances de jogar em grandes equipes profissionais do Brasil e do exterior, não possui o mesmo glamour. Apesar de estar em atividade, não chega a movimentar toda a comunidade dos bairros itabunenses. Quem sabe mereça um upgrade?

Por si só, o Campeonato Interbairros não forma atletas cidadãos, pois seu público-alvo é formado por jovens formados e adultos. Lembrando do ditado: É de menino que se torce o pepino”, os poderes executivo e legislativo deveriam ter maturidade suficiente para evoluir e privilegiar as políticas públicas e não as políticas de governo. Enquanto isso, os jovens ficam à mercê da sorte, enquanto a marginalidade campeia livremente.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e escritor, autor do livro de crônicas Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Mas ainda há um outro efeito muito importante, destacado pelo ministro: a redução do famigerado custo Brasil por meio da ativação das cadeias produtivas. Isso pode significar maior eficiência e redução de custos na produção. O contribuinte brasileiro agradece.

 

André Curvello

Nesta semana, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, participou de uma verdadeira maratona para apresentar o novo Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, a algumas das figuras mais representativas e influentes do setor produtivo nacional. Em São Paulo, conversou com a Federação das Indústrias de São Paulo, Fiesp, e com a Federação Brasileira de Bancos, Febraban, além de individualmente com dirigentes de empresas de grande porte como o Banco Safra, Toyota, Shein, Grupo Eurásia, e com o empresário Abílio Diniz.

O ministro explicou que o lema “União e Reconstrução”, escolhido pelo próprio presidente Lula para simbolizar os novos ares respirados no Brasil, não é uma simples jogada de marketing, mas sim uma declaração de intenções. Isso quer dizer que o fortalecimento do pacto federativo, tão vilipendiado pelos aventureiros que ocuparam o poder de 2018 a 2022, é o Norte do atual governo.

“Reafirmo os valores que conduzem a nossa gestão no governo, de união e reconstrução; assim foi montado o PAC, dialogando com os governadores, dialogando com os ministros de diferentes partidos e conceitos”, disse o baiano, de forma bem didática, aos pesos pesados do PIB nacional. E foi além: pediu aos empresários que colaborassem com sugestões que possam ajudar a aprimorar o PAC. Ou seja, por intermédio do ex-governador baiano, Lula convida a todos, sem exceção, para o baile que celebra o rompimento com o passado recente e a entrada do País em um novo tempo de entendimento e desenvolvimento social. Não é pouco se considerarmos como o antigo mandatário tratava quem não pensava como ele.

O Novo PAC vai proporcionar o investimento, nos próximos quatro anos, de R$ 1,7 trilhão em todo o país, em áreas estratégicas como transporte, educação, energia, infraestrutura urbana, inclusão digital, infraestrutura social inclusiva e no Água para Todos. Grande parte desses investimentos virão das chamadas PPPs, ou parcerias público-privadas. A entrada da indústria nesse esforço é amplamente requerida. Rui usou como exemplo obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário que precisarão de “forte participação na indústria do saneamento”.

A preocupação com a responsabilidade fiscal foi outro ponto de destaque na explicação do ex-governador da Bahia. A parcela de investimentos que virá do Orçamento Geral da União, R$ 371 bilhões, será pactuado com os ministérios da Fazenda e do Planejamento.

Dotar o país de uma estrutura que proporciona melhor qualidade de vida a um número maior de pessoas, que fortaleça a cidadania, reduza as desigualdades e garanta oportunidades a todos são os benefícios mais visíveis do novo PAC. Mas ainda há um outro efeito muito importante, destacado pelo ministro: a redução do famigerado custo Brasil por meio da ativação das cadeias produtivas. Isso pode significar maior eficiência e redução de custos na produção. O contribuinte brasileiro agradece.

André Curvello é secretário estadual de Comunicação.

Lincoln, do Goiás, e Maurício Duarte, do Vila Nova, disputam bola no Serra Dourada || Arquivo/Walmir Rosário
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Certa feita, ao jogar na Gávea contra o Flamengo, ao tentar tirar a bola do craque Zico, que a adiantou com um toque, passou reto com o carrinho, numa jogada que terminou em gol.

 

Walmir Rosário

Nem todos os meninos peladeiros conseguem tirar a sorte grande jogando os babas apenas nas praias ou nos campinhos de bairro. Muitos são levados para os times consagrados, nos quais aprendem a se especializar no futebol. Os que conseguem unir a habilidade individual às técnicas e táticas, teoricamente terão um futuro garantido e nome gravado entre os astros do futebol.

Por ironia do destino, um garoto peladeiro deixa sua cidade natal, Porto Velho, em Rondônia, e vai para o Rio de Janeiro, acompanhar sua mãe em tratamento médico. Era tudo que queria. Se já se encantava com o futebol jogado na cidade maravilhosa pelas ondas do rádio, agora se imaginava ser um daqueles craques que tanto assistia no rádio e na TV. Finalmente era chegada a hora e a vez do garoto Maurício Duarte.

E tudo se encaminhava conforme seus pensamentos. Em pouco tempo já disputava bola nas areias da praia de Copacabana com a desenvoltura de um atacante, atuando pelas equipes praianas do Radar e do Copa Leme. Mas queria o destino um futuro mais brilhante para a promessa de craque rondoniense. Foi descoberto pelo maior e mais excêntrico “olheiro” de futebol carioca, Antônio Franco de Oliveira, o Neném Prancha.

Botafoguense de quatro costados, Neném Prancha, considerado o maior dos filósofos do futebol, o levou para o seu time de coração, o Botafogo. Aos 12 anos o garoto se deslumbra com a plêiade de craques que ouvia e via jogar no rádio e na TV. Mais que isso, iria participar de uma peneira e, se aprovado, poderia ser um deles, afinal, tinha como padrinho Neném Prancha, o descobridor de Heleno de Freitas e Júnior “Capacete”.

Diante da enorme concorrência, lhe ocorreu uma estratégia de defesa que o fez sobreviver nos gramados de General Severiano. Assim que o treinador e antigo lateral-direito Joel Mendes dividia as promessas de atletas pelas posições que jogavam, Maurício Duarte se assombrou pela quantidade de atacantes e meios-campistas. Os pensamentos rodaram com extrema velocidade em sua cabeça e decidiu: a partir daquele momento seria zagueiro. E para jogar no Botafogo!

E a sorte lhe sorriu, tanto assim que após ver de perto “os cobras” do Glorioso, a exemplo de Gérson, Fischer, Jairzinho, Brito, Manga, dentre outros craques, foi aprovado para a famosa Escolinha de Seu Neca, pela qual passaram as estrelas do Botafogo dos anos 1970, inclusive ele. Descoberto por Neném Prancha, agora teria a felicidade de aprender com seu Neca todas as técnicas e artimanhas do melhor futebol do mundo.

E o garoto magro de Porto Velho iniciou os treinamentos na Escolinha do Neca, no Botafogo, no subúrbio de Del Castilho. Era um sacrifício danado, pois pegava dois ônibus lotados para participar do treinamento coletivo às quartas e sextas-feiras. No restante da semana treinava em General Severiano. Se firmou como zagueiro e ganhou posição nas divisões de base, até que chegou o dia de ser incorporado ao time de cima.

Era o ano de 1970. E Maurício Duarte, aos 17 anos, teria a responsabilidade de substituir o zagueiro Brito, convocado para a Seleção Brasileira tricampeã do mundo. Jogaria a Taça Guanabara, posteriormente cancelada, e os jogos amistosos, o primeiro deles contra o Bangu, vencido pelo placar de 2X0. Junto com os profissionais, lembrava dia e noite os ensinamentos do seu Neca, essenciais para a sobrevivência nos gramados da vida.

Nos treinos do Botafogo marcava grandes jogadores de ataque. Certa feita, ao jogar na Gávea contra o Flamengo, ao tentar tirar a bola do craque Zico, que a adiantou com um toque, passou reto com o carrinho, numa jogada que terminou em gol. Aí ouviu do seu Neca: “Você não teria que ter dado o carrinho e sim cercado; acompanharia a jogada e ele não teria toda a tranquilidade. Lembre-se, zagueiro caído é jogador abatido”.

De outra feita, no Maracanã contra o Vasco, quando foi marcar Roberto Dinamite, ouviu outro ensinamento do seu Neca: “O zagueiro tem que ficar com um olho no peixe e outro no gato”. E era para observar a bola e Roberto Dinamite, que ficava de “migué”, na ponta-esquerda quando a bola vinha pela direita. E esse ensinamento lhe serviu para o resto da vida, tomando ou não deixando a bola chegar aos atacantes.

Do Botafogo, Maurício Duarte se transferiu para outros clubes brasileiros, nos quais experimentou a diversidade na realidade do futebol praticado nos quatro cantos deste país. E sua saída do Glorioso se deu por motivos internos. Quando chamado de volta pelo Departamento Amador, acreditou que seria um regresso e não atendeu ao pedido. Daí passou a treinar no “time da Ave Maria”, no finalzinho da tarde, com chances remotas.

Emprestado ao Remo, do Pará, Maurício não foi muito feliz, pois teve uma distensão na virilha. Em seguida se transforma num operário da bola e joga no Santo Antônio e Rio Branco, ambos no Espírito Santo, Flamengo do Piauí, Vila Nova de Goiás, Galícia, Olaria e Itabuna. Nesses times atuou com e contra grandes craques do futebol brasileiro, muitas das vezes sem receber salários em dia, dentre outras adversidades.

No Itabuna Esporte Clube, o último time por qual jogou, Maurício Duarte se identifica bastante com a diretoria e a cidade. E por aqui constrói família, faz um curso de formação em técnico de futebol, trabalha na AABB, dirige as seleções de Itajuípe, Itabuna e Buerarema. Certificou-se em Radialismo, atuou como comentarista em emissoras de rádio e Maurício Duarte se torna um verdadeiro cidadão grapiúna.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

O ex-governador Rui Costa (PT) com o ex-prefeito e já falecido Fernando Gomes || Foto PMI
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Fernando Gomes também foi um adversário contumaz do Partido dos Trabalhadores (PT). E, para desgosto dos petistas itabunenses, fez acordos com os governadores Jaques Wagner e Rui Costa, dos quais passou a ser “amicíssimo desde criancinha”.

 

Walmir Rosário

Para acalmar os ânimos mais exaltados, de logo deixo evidenciado que não vou fulanizar qualquer um dos eleitos ou derrotados nas últimas eleições por esse Brasil afora. O que pretendo é apenas e tão somente, pelo que consigo vislumbrar, demonstrar que o antigo comportamento dos eleitores foi transferido para os políticos. Se antes as pelejas entre os políticos se davam apenas nos discursos, nos microfones, agora vão às vias de fato.

E suas excelências não economizavam os empolados adjetivos encarregados de desacreditar os feitos políticos do colega parlamentar. Fora disso, eram unha e carne, como se diz, no tratamento no cafezinho, no recôndito dos gabinetes, ou nos famosos restaurantes, locais onde se decidiam mais que o plenário. É que havia o chamado espírito esportivo, o jogo limpo, ou o fair play, como queria o ilustre Barão de Coubertin.

Lembro-me bem de certos políticos que eram conhecidos pela sua violência verborrágica, capaz de inebriar seus cabos eleitorais e seguidores, quando das promessas de fazer e acontecer para derrotar, desmoralizar o adversário. Claro que do outro lado a massa ficava enfurecida e volta e meia quando se encontravam numa acirrada campanha eleitoral o resultado era a contagem de feridos nos hospitais e farmácias.

Após 31 de março de 1964, os políticos se reuniram em apenas dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e Movimento Democrático Brasileiro (MDB), e essa difícil acomodação era feita em sublegendas. Se a convivência aberta ao público não era boa entre os membros das duas agremiações, internamente a convivência, às vezes, nunca foi assim tão salutar. Odiavam-se e toleravam-se como mandam as regras sociais.

Nessa época um fato inusitado foi registrado na Câmara de Itabuna, em que um único – se não me engano – vereador emedebista foi eleito presidente do legislativo, embora a maioria esmagadora era filiada à Arena. Os parlamentares municipais arenistas distribuídos nas sublegendas 1, 2 e 3 não conseguiram separar suas divergências partidárias e preferiram eleger Raimundo Lima, um comunista abrigado no MDB.

Não posso esquecer a disputa nos comícios, principalmente os frequentados por Fernando Gomes, candidato da oposição, emedebista oriundo do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), e os arenistas vindos da União Democrática Nacional (UDN), do Partido Democrático Social (PDS), dentre outros. Em cima dos palanques eram promessas de brigas e mortes caso se encontrassem. Cada qual mais valente que outro.

Os discursos encantavam a multidão, principalmente por desafiar os poderosos, os militares da revolução de 64. E a plateia vibrava, se sentia representada, por um salvador Davi contra o perverso gigante Golas. No outro palanque, as promessas eram basicamente a mesma, e os seguidores de cada lado não viam a hora do juízo final, quando seriam cumpridas as promessas solenemente feitas nos palanques.

Pois bem, em Itabuna a oposição se muda de vez para a prefeitura com a eleição de José Oduque, com Fernando Gomes tomando assento na Secretaria da Administração, à época uma das mais poderosas. Destemido, Fernando Gomes se elege prefeito e a política fica, ainda mais acirrada. Eram os arenistas no Governo Federal e da Bahia e os emedebistas em Itabuna, sempre reclamando do tratamento recebido a pão e água.

Com isso, a cada obra feita, a cada carro comprado, junto com a logomarca da prefeitura vinha a inscrição em letras maiores: “Adquirido com recursos próprios”. E era preciso industrializar Itabuna a todo o custo. E nos jantares na casa Calixtinho Midlej se reuniam Antônio Carlos Magalhães e Fernando Gomes – políticos considerados impetuosos – para tratar dos interesses de Itabuna entre copos de whisky, taças de vinho e pratos de pitus.

No seu jeitão em se fazer parecer grosseiro para ganhar a confiança e o voto do eleitor, Fernando Gomes, àquela época dizia com muita propriedade: “Não tenho inimigos na política, só adversários”. Na campanha pela criação do Estado de Santa Cruz, Fernando Gomes enfrentou toda a máquina do Estado da Bahia, liderada por Antônio Carlos Magalhães, num massacre sem precedentes.

Pouco tempo depois, o Toninho Malvadeza se transforma em Toninho Ternura e Fernando Gomes era o convidado pra lá de especial no palanque de ACM. As farpas trocadas foram esquecidas com uma rapidez impressionante pelos seguidores dos dois políticos, que agora trocavam juras de amor eterno e muitos votos nas urnas. E o receio das fragorosas derrotas se transformaram em expressivas vitórias.

A partir desse expressivo acordo, as obras chegavam a Itabuna com mais frequência e nunca mais foi vista a expressão adquirido ou construído com recursos próprios nas placas dos feitos e veículos municipais. Já com assento garantido nas hostes carlistas, Fernando Gomes continuou conversando com todos os segmentos políticos, até mesmo com os ferrenhos adversários.

Fernando Gomes também foi um adversário contumaz do Partido dos Trabalhadores (PT). Quando perdeu a eleição para Geraldo Simões, no dia seguinte em entrevista de rádio avisou aos eleitos que preparassem a equipe de transição (a primeira de Itabuna). E, para desgosto dos petistas itabunenses, fez acordos com os governadores Jaques Wagner e Rui Costa, dos quais passou a ser “amicíssimo desde criancinha”.

Como ele bem dizia: Não tenho inimigos, mas adversários políticos.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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A interiorização da Medicina e a presença de um curso de graduação de Medicina são essenciais para o acesso a uma saúde de qualidade para a população.

 

Rodolfo Prado da Silva

Os movimentos migratórios brasileiro tem gerado diversas mudanças sociais em sua dinâmica, algo que tem impactado diretamente na educação superior, assim como nas necessidades de atenção à saúde da população. Neste contexto, temos a interiorização da Medicina, englobando o profissional e a educação médica conforme foi induzido pelo governo federal pela Lei do Mais Médicos no ano de 2013, cuja lei incentivou a ida de médicos para o interior brasileiro, assim como a criação de cursos de Medicina no interior.

A interiorização da Medicina tem sido benéfica de uma maneira geral para a população devido a presença de médicos e cursos de Medicina no interior, beneficiando positivamente a população com o atendimento de médicos e estudantes de Medicina que são acompanhados por professores durante o atendimento. Este atendimento impacta decisivamente na melhoria dos indicadores de saúde, onde podemos verificar em informações do Ministério da Saúde como o aumento de consultas pré-natais em gestantes, assim como a diminuição da desnutrição infantil.

Além disso, a presença de um curso de graduação em Medicina no interior, assim como programas de Residência Médica, tende a facilitar a fixação destes profissionais no Interior. Pesquisas do Ministério da Saúde tem demonstrado que a presença de uma Residência Médica tende a fixar em mais de 70% o médico na cidade a qual ele fez a especialização médica devido a diversos vínculos que ele irá construir no município.

Portanto, a interiorização da Medicina e a presença de um curso de graduação de Medicina são essenciais para o acesso a uma saúde de qualidade para a população, uma vez que aumenta a quantidade de profissionais médicos, aumentando assim o número de consultas disponíveis, acompanhamentos longitudinais da saúde população, assim como demonstra resultados positivos nas condições de saúde da população do interior.

Rodolfo Prado da Silva é especialista em Gestão de Serviços e Sistemas de Saúde, graduado em Fonoaudiologia e assessor acadêmico do curso de Medicina da Unex – Centro Universitário de Excelência em Feira de Santana (Rede UniFTC).

Plínio de Assis, goleiro da Seleção Amadora de Itabuna || Foto Arquivo/Walmir Rosário
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Plínio lembrava com emoção as partidas disputadas no velho campo da Desportiva, sempre lotada de torcedores. Talvez por isso, sempre lhe dava um friozinho na barriga quando entrava em campo.

 

Walmir Rosário

Plínio Augusto Silva de Assis iniciou no futebol amador de Itabuna jogando pelo Flamengo, por insistência do amigo e comentarista de futebol Yedo Nogueira. De início não se entusiasmou pelo convite, pois torcia pelo Fluminense, no Rio de Janeiro e em Itabuna. Convite aceito, ganhou o futebol da cidade, pela excelente qualidade do goleiro, que fez uma carreira meteórica e chegou à titularidade do selecionado itabunense, em 1960.

Titular absoluto no Flamengo, no selecionado alvianil Plínio de Assis era o reserva imediato de Asclepíades, junto com Luiz Carlos. Em 1960, ano do cinquentenário de Itabuna, finalmente assume a titularidade da seleção. Por muitos anos é convocado para a brilhante seleção, muitas das vezes alternado com o goleiro Luiz Carlos, de acordo com a escolha da comissão técnica do selecionado.

De temperamento calmo, Plínio sequer se abalou com um tiroteio durante uma partida em Ilhéus, e teve a tranquilidade de orientar seus colegas em campo, enquanto a briga corria solta e os tiros pipocando na arquibancada. Se fora de campo o clima era tenso, entre os atletas das duas cidades a rivalidade exigia muito para manter o controle, mesmo os atletas se esforçando para um clima sadio durante a partida.

E Plínio não abria mão de se preparar físico e mentalmente para os jogos realizados entre as seleções de Itabuna e Ilhéus. E dentre os cuidados tomados, treinar bastante e dormir cedo para ter um desempenho à altura. Ele sabia que as cobranças de dirigentes e torcida eram maiores em relação ao goleiro, por existir as possibilidades de partidas melhores ou piores, daí estar sempre preparado.

Mesmo assim, Plínio não se abalava com os resultados negativos, por estar consciente de que se tratava de possíveis falhas por contingência da prática esportiva. Na mesma partida em que poderia sofrer algum frango, também existia a possibilidade de fechar o gol com defesas inesquecíveis, como na disputa do tricampeonato contra a Seleção de São Félix, em 1962, um dos grandes jogos em que participou.

Como não existiam àquela época grandes técnicos com táticas de jogo mais elaboradas, Plínio ouvia com atenção as orientações do cirurgião-dentista Carlito Galvão, Costa e Silva e Gil Nery, que montavam as estratégias da equipe. Fora de campo, os técnicos davam o recado, dentro, uma meia-dúzia de jogadores coordenavam o time como um todo, de acordo com os acontecimentos.

Uma lembrança permanente de Plínio era a atuação de Didi na Seleção Brasileira contra a Suécia, em 1958, quando o jogador, após sofrer um gol botou a bola debaixo do braço e se dirige até o meio de campo, pede calma aos colegas e renova os ânimos. Na seleção de Itabuna quem fazia esse trabalho eram Santinho, Tombinho e Abieser, além do próprio Plínio orientando os jogadores com sua visão privilegiada em campo.

E assim Plínio de Assis se manteve na Seleção de Itabuna até se sagrar tetracampeão, título inédito, ampliando em seguida para o Hexacampeonato Intermunicipal por anos seguidos. Era a época do amor à camisa, na qual os jogadores treinavam a partir das 5 da manhã, corriam pra casa para tomar café e se dirigirem para o trabalho. Era o sacrifício que compensava pelo amor e não pela remuneração profissional, como atualmente.

Mas o goleiro, além de bem preparado também tem que ter sorte. No campo da Desportiva, numa partida disputada contra a seleção de Muritiba, o atacante adversário cabeceou, Plínio foi vencido e levantou seu calcanhar como último recurso, conseguindo evitar o gol. Em outra partida, contra o Vasco da Gama, a Seleção de Itabuna perdia por 2X1. Delém estava com a bola na marca do pênalti e Plínio parte para a jogada. Delém chuta, a bola bate no seu peito e não entra.

E naquela época do futebol de craques a Seleção de Ilhéus era a maior adversária de Itabuna, até pela rivalidade criada entre as duas cidades, porém não se pode deixar de citar Muritiba, que fez um timaço e possuía grandes jogadores, a exemplo de Betinho, um grande goleiro. Estivessem ou não preparados, os jogadores da Seleção de Itabuna tinham que se superar nessas partidas.

Apesar do ditado de que não há favoritos num clássico, Plínio costumava dizer que existiam outros “ossos duros de roer”, a exemplo de Alagoinhas e Belmonte. E os jogos em Belmonte, então, eram famosos. E Plínio contava que certa feita, numa vitória importante, um político influente na cidade se postou no fundo do gol itabunense, com um revólver na mão, para evitar que as pedradas pudessem atingi-lo.

Mas após as partidas todas as diferenças eram superadas nas festas promovidas nos clubes dessas cidades. E no entender de Plínio, essa era a mística do futebol amador, paixão que não existe mais. E ele sempre dizia que o entusiasmo sequer mais existe até na Seleção Brasileira, quem sabe, pelo excesso de profissionalismo dos jogadores, tenha se transformado em apatia, o que não é bom para o esporte.

Naquela época, apesar de ainda ser uma cidade pequena, em número de habitantes, Itabuna possuía um campeonato amador de muita rivalidade, principalmente entre o Fluminense, Flamengo, Janízaros, Grêmio e o aguerrido Botafogo do bairro da Conceição. E Plínio ressaltava que uma partida de domingo na Desportiva era comentada a semana toda, antes e depois, despertando paixões nos noticiários das rádios e jornais, incentivando as discussões no trabalho, bares e praças.

E Plínio lembrava com emoção as partidas disputadas no velho campo da Desportiva, sempre lotada de torcedores. Talvez por isso, sempre lhe dava um friozinho na barriga quando entrava em campo. E para ele não era diferente se os adversários eram de Itabuna, Ilhéus, Salvador ou Rio de Janeiro. Eram jogos em que tinham que se superar das deficiências do preparo físico com um bom futebol. E era isso o que eles mais gostavam.

Plínio de Assis morreu em 16 de abril de 2019, em Salvador, onde morava, e foi sepultado no cemitério do Campo Santo, em Itabuna, no dia 17.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Projeto indica como seria o novo aeroporto
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Não se consegue fazer e promover turismo com um aeroporto onde as pessoas correm risco de não desembarcar para aproveitar as férias e nem fazer negócios.

 

Efson Lima || efsonlima@gmail.com

A cidade de Ilhéus possui um aeroporto desde o ano de 1938, sendo asfaltado na década de cinquenta e de lá para cá não se registra acidente aéreo no seu perímetro. Entretanto, desde o acidente ocorrido no Aeroporto de Congonhas/SP, em agosto de 2007, diversas ações cuidadosas, porém, restritivas, foram adotadas no Aeroporto Jorge Amado em Ilhéus, conforme orientação da ANAC, entre elas, a redução do tamanho da pista em 110 metros, tornando assim custosa a operacionalização do aeroporto, especialmente, para as companhias aéreas e virando um fator de preocupação para os passageiros e familiares que precisam embarcar e desembarcar na Princesa do Sul.

O aeroporto de Ilhéus passou a ser chamado de Aeroporto Jorge Amado, em 2002, após a morte do escritor e por meio de lei federal, que estabeleceu a nova nomenclatura para homenagear o famoso prosador das terras de Gabriela. Somente em 1981, que a Infraero passou a administrar o aeroporto, permanecendo até 2017, quando o Estado da Bahia assumiu a gestão do aeródromo.

O aeroporto em Ilhéus já atendeu positivamente a demanda regional, entretanto, atualmente, a região carece de um aeroporto moderno e com condições de receber pessoas com maior conforto e que possa operar em condições climáticas adversas. Hoje, a aeronave descer no aeroporto de Ilhéus é uma aventura e significa sorte na loteria para o passageiro e familiares. Inúmeras vezes, as aeronaves retornam para Salvador e tais situações tornam as passagens aéreas caras e impactam na vida do cidadão.

Apesar disto, o aeroporto de Ilhéus é o segundo mais movimentado do interior do nordeste, ficando atrás apenas do Aeroporto Internacional de Porto Seguro. Em 2023, o aeroporto de Ilhéus teve 633.154 passageiros alcançando sua maior marca, sendo o limite de 700.000 mil passageiros e o maior número de pousos e decolagens foi realizado em 2011, com 8.556. Para se ter uma ideia, o Aeroporto de Vitória da Conquista, em 2022, teve 346.703 passageiros, sendo até então a melhor marca.

Não obstante,  no sul da Bahia está em curso um processo de atração de investimentos governamentais e também empresarial, provocando a necessidade urgente de um novo aeroporto com capacidade para atender a demanda do modal que está em processo de implantação no sul do Estado, com dois portos: Porto Sul e Porto do Malhado (1971); Ferrovia Leste-Oeste; a construção da rodovia Itabuna-Ilhéus (BA 469); a consolidação da Universidade Federal do Sul da Bahia e a própria Zona de Processamento de Exportação (ZPE), sem deixar de registrar o Polo de Informática de Ilhéus, que com o aeroporto internacional poderá  finalmente ter sua estratégia ressignificada  e alavancar a produção.

 

Parece haver pouco envolvimento dos atores locais em defesa [do novo aeroporto]. A minha felicidade aumenta quando prefeitos de cidades circunvizinhas se mostram interessados e dispostos a defenderem o novo aeroporto internacional

 

Por fim, não se consegue fazer e promover turismo com um aeroporto onde as pessoas correm risco de não desembarcar para aproveitar as férias e nem fazer negócios. A tristeza pode ser aumentada em caso de lua de mel. Portanto, a região espera contar com o olhar atento dos governos federal e estadual para confirmarem a área situada no eixo Ilhéus – Itacaré, com vistas à construção do aeroporto internacional do sul da Bahia, cujo funcionamento impactará, nas diversas cidades circunvizinhas, inclusive, alcançando o baixo-sul. A cidade de Ilhéus que sempre contribuiu para o desenvolvimento do estado, agora, espera receber essa homenagem.

Entretanto,  parece haver pouco envolvimento dos atores locais. Continuo pensando que “parece”  existir uma apatia em defesa dos novos projetos para a cidade. De todo modo, a minha felicidade aumenta quando prefeitos de cidades circunvizinhas se mostram interessados e dispostos a defenderem o novo aeroporto internacional, evidenciando que a cidadania ultrapassa a fronteira municipal e interesses coletivos podem e devem ser articulados por diferentes gestores municipais. Os cidadãos do Litoral Sul agradecem.

Efson Lima é doutor e mestre em Direito pela UFBA e membro das academias de Letras de Ilhéus (ALI) e Grapiúna (Agral).

Torcida do Botafogo tem quebrado recordes de público no Brasileirão || Foto Botafogo FR
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Eu e outros botafoguenses éramos chamados de “Turma da Kombi”. Hoje, nem desculpas pedem pelas constantes quebras de recordes no estádio Nílton Santos.

Walmir Rosário

Gostaria que meu velho amigo Dudu Rocha, herdeiro de uma família forjada nas hostes da Estrela Solitária, ainda estivesse entre nós. Estaríamos dando boas gargalhadas dos torcedores de outros times de expressão nacional, especialmente dos flamenguistas, que nunca quiseram enxergar a superioridade do Botafogo e seus torcedores, quando o tema é torcer pelo Glorioso.

Mas, infelizmente, como dizem os mais experientes, nós não nos governamos quando o assunto é nossa existência física aqui na terra, Dudu Rocha se foi há pouco mais de um mês. Mesmo assim acompanhou parte da atual trajetória meteórica do Botafogo, como sempre estávamos acostumados a vê-lo em outras ocasiões, para o desespero dos torcedores de outros times, como sempre.

Até aqui nenhuma novidade, não fosse a insistência desses torcedores, certamente incentivados pelos flamenguistas, que resolveram incorporar a “Mãe Dinah”, ao enxergar um futuro incerto e não sabido. Caolhos, ou acometidos por cataratas e outras enfermidades que não permitem enxergar um palmo à frente do nariz, as nebulosas previsões caíram por terra uma a uma.

Dudu Rocha – bem como milhares de botafoguenses – deram boas gargalhadas com as fotos postadas nas redes sociais, em que animais – cavalos, elefantes e outros bichos – pousavam em cima de árvores, marquises e outros locais que não permitem suas descidas por próprios meios. Sim, eles comparavam a posição do Botafogo na tabela do Campeonato Brasileiro da Série A, com a posição esdrúxula dos animais.

Na visão caolha ou nebulosa – quem sabe, jocosa –, o Botafogo apenas passava uns dias no andar de cima da tabela, sem méritos, quem sabe ocupando lugares dos seus times, que se mostraram e ainda se mostram ineficientes quando o tema é vencer partidas. A cada uma vitória do Glorioso, diziam e dizem ser questão de tempo, pois seus times voltariam a ocupar o andar de cima. Até de vascaínos ouvi essa heresia.

Em vez de me zangar com o besteirol, passei a dar o tratamento merecido: chamar os torcedores adversários para o debate, análise dos jogos. Não fui feliz neste intento. Para não perder os amigos, me engajei nas piadas, em muitas delas dando a resposta em tom de galhofa, como merecia. Também não obtive sucesso. E a cada dia de jogo os números do Botafogo se apresentavam mais robustos.

E, paulatinamente, fomos ganhando as partidas contra esses tais times. Na surra que aplicamos no Flamengo, apesar de contrariar a arbitragem, esperei o dia seguinte para dar o bom dia nas redes sociais. Insucesso total! Nenhum flamenguista deu o ar da graça, o que me preocupou significativamente. O que teria acontecido com eles? Alguma indisposição durante os comes e bebes no horário do futebol? Continuei sem resposta.

Foi daí que percebi que o buraco era mais em baixo. Se antes dizíamos “segue o líder”, o slogan passou a ser “segue o vice, já que o líder disparou”. Ainda não consegui entender o motivo do prolongado sumiço das postagens contrárias ao Botafogo nas redes sociais. Até mesmo os cronistas desportivos foram desmentidos um a um, pelos craques botafoguenses, sem dirigi-los uma só palavra, apenas marcando gols.

E aí foi que a porca torceu o rabo, com a iminente adesão e credibilidade dos nossos cronistas sobre a futebol jogado pelo Botafogo. O goleiro era um paredão, a zaga impenetrável, o meio campo inteligente e o ataque matador. Todos com lugares reservados na próxima convocação da Seleção Brasileira. Não for burrice do técnico interino, todos envergariam arenas afora a camisa amarelinha.

Sempre é bom reconhecer o erro e nisso nossos cronistas agiram bem, com raríssimas exceções. Se na mídia houve essa mudança, o mesmo não aconteceu junto aos torcedores, que passaram a evitar os botafoguenses. Por mais que eu tente, não encontro espaço para bater uma bolinha sobre os jogos do Campeonato Brasileiro, Série A, mesmo que reconheçam meus méritos para tal peleja.

Me sinto injustiçado, discriminado, e sequer posso reclamar legalmente, pois não há diploma legal que me ampare nos tribunais. Um pouco antes, nem bem chegava num boteco, e até mesmo em supermercados e outros locais públicos, era prontamente aclamado e com assento privilegiado à mesa para falar sobre o futebol. Eu e outros botafoguenses éramos chamados da “Turma da Kombi”. Hoje, nem desculpas pedem pelas constantes quebras de recordes no estádio Nílton Santos.

Eu entendo perfeitamente a contrariedade dos flamenguistas, afinal foram muitos anos de sofrimento com as acachapantes derrotas para o Botafogo, muitas deles homéricas e porque não dizer vergonhosas. Mas a vida passa, novos campeonatos virão e a alegria é um direito de qualquer torcedor. As decepções – como a do craque Zico – são passageiras e esperamos que não sejam motivadoras de futuras depressões, mesmo que esportivas.

Como manifestei, sigam o vice, pois o líder disparou.

I’m sorry!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Ainda lembro da euforia adolescente de passar pelo quebra-molas do Katikero pra ver quem tava, e de ir andando tomar um sorvete na Bobbys, coisinhas simples que o tempo (e outras coisas mais) nos furtou!

 

 

Manu Berbert

Olha, olha, se não é o aniversário da centenária Itabuna! Com um tiquinho a mais de experiência, diga-se de passagem, afinal, temos um treze a mais aí, o que, sei lá por qual motivo, reanimou os petistas geraldistas. Aiai, só eu tomando um café pra acompanhe essa celeuma…

Cinco horas da manhã de hoje a alvorada deu o ar da graça. E nem precisava estar em revoada, comendo aquele tradicional sarapatel no Galo Vermelho, pra escutar. Tomei um susto com a quantidade de fogos e prontamente lembrei: é aniversário dela, da diferenciada! Oh terra pra ter personagem, né?! Jorge Amado, se deu foi bem, mas se tivesse nascido por agora teria histórias ainda mais, digamos, #diferentes. Uma sentadinha no Senado da Cinquentenário e pronto, era certo escrever uns três livros por mês. Dois ou três grupos de políticos & personalidades no WhatsApp e, pronto!, o Oscar da criatividade tava garantido! Sei não se Marco Wense iria gostar disso, viu?! Sei não!

Só sei que cinco horas da manhã e eu acordada, com uma gripe danada. Cresci com meus pais dizendo que Itabuna é muito úmida, e por isso a gente sofre tanto de rinite, sinusite e esse tanto de ite que só existe pra nos confundir. “Mas é ótimo pro cacau!”, escutava. E confusa mesmo eu fico quando leio nos Instagram de fuxico que Itabuna nunca foi a terra do fruto de ouro, e sim a colega vizinha. “Como é, amigo?” Você pode até dizer que o negócio caiu e abalou a cidade, mas você não pode nos negar esse passado. E, olha só, de reviravolta Itabuna entende, viu?! Porque ela foi lá e aprendeu a se virar e se sustentar com um comércio aquecido e importante para toda a região. Eu fico triste quando vejo o Centro tão sem expressão, sem beleza, sem vida. Poderia estar melhorzinha, né não, Mauro?! Vai que é tua, secretário!

E para finalizar, digo que Tabocas (chamada assim carinhosamente quando rola um fuxico grande) é, sim, um lugar legal pra se viver, desde que você saiba viver nela. Ainda lembro da euforia adolescente de passar pelo quebra-molas do Katikero pra ver quem tava, e de ir andando tomar um sorvete na Bobbys, coisinhas simples que o tempo (e outras coisas mais) nos furtou! Cidade quando cresce, ganha muito. E perde um tanto, também. Tabocas vive nessa linha tênue entre a evolução e a simpatia cordial de antigamente, e talvez as próximas gerações possam dizer o que deu e o que não deu certo. “Ah, mas a gente pode, sim, dizer que nossa cidade tá super diferente!” “Como é, amigo?”

Manu Berbert é publicitária.

Ex-prefeito Antônio Olímpio faleceu nesta quarta-feira || Foto Mary Melgaço
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Pelo que conheço de AO como irmão, valoroso maçom, servidor público, professor e amigo, acredito que ele não gostaria de deixar triste os amigos, até pelas piadas que contava. Prefiro o sentimento da saudade, que o da tristeza; da lembrança dos momentos agradáveis, do que os maçudos; da espontaneidade, do que os críticos. AO estará fisicamente longe de nós, mas perto do coração.

 

Walmir Rosário

Ilhéus amanheceu tristonha nesta quinta-feira (27) com a notícia da partida de Antônio Olímpio Rehem da Silva, ou simplesmente AO. E ele deixa saudosos os ilheenses de todos os recantos e níveis sociais. Para AO, a figura humana não tinha a distinção que porventura é feita de acordo com os costumes, credos, situação financeira ou cor da pele. Era do tipo que conhecia todos como gente.

O anúncio de sua partida para o Oriente Eterno gerou uma grande comoção em Ilhéus. Após uma queda, há dias ele se encontrava internado para tratamento no Hospital São José, porém não resistiu. Aos 91 anos, deixa a viúva Maria Amélia e os filhos Marcus Flávio e Luciano, além de netos. Também deixa órfã uma grande legião de amigos que construiu durante sua vida.

AO é (ou era) um itabunense adorado pelos ilheenses. Foi prefeito por duas vezes e deputado estadual. Em sua primeira eleição, desafiou o status quo da política, se elegeu prefeito e foi responsável pela transformação da cidade e dos distritos. Soube buscar os recursos necessários e realizou obras de infraestrutura importantes, muitas das quais responsáveis por mudanças no cartão postal da cidade.

Antônio Olímpio prefeito se notabilizou por dar vez e voto a uma nova geração de políticos, deixando de lado o varejo e o compadrio para entregar aos ilheenses uma Ilhéus planejada. Pelo primeira vez, a Prefeitura subiu aos morros fora da campanha política, com investimentos estruturantes, os distritos ganharam acessibilidade e Ilhéus passou a executar uma política turística de apresentar sua história e personagens ao mundo.

Foi o prefeito que trabalhou junto à população, o que, para ele, não era nenhuma novidade, pois sempre circulou com desenvoltura em todas as camadas sociais. Com a simplicidade que visitava os gabinetes em Brasília e Salvador, passeava em todos os recantos de Ilhéus, constatando os reclames da população e fiscalizando a execução das obras da Prefeitura.

Sua intimidade com a população era tamanha, que logo cedo conversava com os pescadores do Pontal – bairro em que morava –, atendia as lideranças políticas, vereadores e o povão de Deus sem a menor cerimônia. Conhecia a todos e os tratava com respeito e intimidade, chamando-os pelos nomes, sobrenomes e apelidos, dedicando carinho e cobrando quando necessário.

Se era bem recebido nos salões da nobreza, AO também era fortemente abraçado pelos mais simples, aos quais tratava com brincadeiras e gozações. Não raro era visto batendo papo nas ruas ou na praça São João, no Pontal, comportamento que não é peculiar aos políticos. Se sentia confortável ao visitar os amigos da tarifa (entreposto de pescado), permanecendo para algumas partidas de dominó.

Pescador exímio e conceituado, ministrava aula de pesca aos pescadores, informando com segurança os melhores locais onde as diferentes espécies de peixes seriam mais facilmente encontradas. Mas a simples localização não bastava, e ele complementava com o tempo e o clima ideal em que eles estariam gordos, excelentes para o consumo e o tipo de captura mais adequado.

Advogado de conceito, servidor do Ministério do Trabalho, professor, secretário do Meio Ambiente, Presidente da Fundação Universidade do Mar e da Mata (Maramata), escritor, brindava os amigos com sua sabedoria e os “causos” contados com a verve que Deus lhe deu. Era do tipo que poderia perder o amigo, mas nunca a piada, como diz o ditado, só que não, conservava os dois.

Outra grande e excelente habilidade de AO era a gastronomia, notadamente em peixes e frutos do mar. Nesse mister, formou bons chefs nos cursos em que promovia na Maramata, entre os quais me incluo (sem o adjetivo acima citado). Poderia ser considerado um bon vivant, como todos os que valorizam os prazeres da vida, generoso, bem-humorado, de bem com a vida.

Tive a felicidade de conviver um bom tempo com Antônio Olímpio, momentos que jamais serão esquecidos. Nos nossos encontros, muitos deles profissionais, elaborei boas histórias, boa parte das quais contadas em reportagens administrativas, políticas e gastronômicas. E essa convivência se transformou em amizade, daquelas que ele sabia construir e conservar por toda a vida.

Pelo que conheço de AO como irmão, valoroso maçom, servidor público, professor e amigo, acredito que ele não gostaria de deixar triste os amigos, até pelas piadas que contava. Prefiro o sentimento da saudade, que o da tristeza; da lembrança dos momentos agradáveis, do que os maçudos; da espontaneidade, do que os críticos. AO estará fisicamente longe de nós, mas perto do coração.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.