Ex-prefeito Antônio Olímpio faleceu nesta quarta-feira || Foto Mary Melgaço
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Pelo que conheço de AO como irmão, valoroso maçom, servidor público, professor e amigo, acredito que ele não gostaria de deixar triste os amigos, até pelas piadas que contava. Prefiro o sentimento da saudade, que o da tristeza; da lembrança dos momentos agradáveis, do que os maçudos; da espontaneidade, do que os críticos. AO estará fisicamente longe de nós, mas perto do coração.

 

Walmir Rosário

Ilhéus amanheceu tristonha nesta quinta-feira (27) com a notícia da partida de Antônio Olímpio Rehem da Silva, ou simplesmente AO. E ele deixa saudosos os ilheenses de todos os recantos e níveis sociais. Para AO, a figura humana não tinha a distinção que porventura é feita de acordo com os costumes, credos, situação financeira ou cor da pele. Era do tipo que conhecia todos como gente.

O anúncio de sua partida para o Oriente Eterno gerou uma grande comoção em Ilhéus. Após uma queda, há dias ele se encontrava internado para tratamento no Hospital São José, porém não resistiu. Aos 91 anos, deixa a viúva Maria Amélia e os filhos Marcus Flávio e Luciano, além de netos. Também deixa órfã uma grande legião de amigos que construiu durante sua vida.

AO é (ou era) um itabunense adorado pelos ilheenses. Foi prefeito por duas vezes e deputado estadual. Em sua primeira eleição, desafiou o status quo da política, se elegeu prefeito e foi responsável pela transformação da cidade e dos distritos. Soube buscar os recursos necessários e realizou obras de infraestrutura importantes, muitas das quais responsáveis por mudanças no cartão postal da cidade.

Antônio Olímpio prefeito se notabilizou por dar vez e voto a uma nova geração de políticos, deixando de lado o varejo e o compadrio para entregar aos ilheenses uma Ilhéus planejada. Pelo primeira vez, a Prefeitura subiu aos morros fora da campanha política, com investimentos estruturantes, os distritos ganharam acessibilidade e Ilhéus passou a executar uma política turística de apresentar sua história e personagens ao mundo.

Foi o prefeito que trabalhou junto à população, o que, para ele, não era nenhuma novidade, pois sempre circulou com desenvoltura em todas as camadas sociais. Com a simplicidade que visitava os gabinetes em Brasília e Salvador, passeava em todos os recantos de Ilhéus, constatando os reclames da população e fiscalizando a execução das obras da Prefeitura.

Sua intimidade com a população era tamanha, que logo cedo conversava com os pescadores do Pontal – bairro em que morava –, atendia as lideranças políticas, vereadores e o povão de Deus sem a menor cerimônia. Conhecia a todos e os tratava com respeito e intimidade, chamando-os pelos nomes, sobrenomes e apelidos, dedicando carinho e cobrando quando necessário.

Se era bem recebido nos salões da nobreza, AO também era fortemente abraçado pelos mais simples, aos quais tratava com brincadeiras e gozações. Não raro era visto batendo papo nas ruas ou na praça São João, no Pontal, comportamento que não é peculiar aos políticos. Se sentia confortável ao visitar os amigos da tarifa (entreposto de pescado), permanecendo para algumas partidas de dominó.

Pescador exímio e conceituado, ministrava aula de pesca aos pescadores, informando com segurança os melhores locais onde as diferentes espécies de peixes seriam mais facilmente encontradas. Mas a simples localização não bastava, e ele complementava com o tempo e o clima ideal em que eles estariam gordos, excelentes para o consumo e o tipo de captura mais adequado.

Advogado de conceito, servidor do Ministério do Trabalho, professor, secretário do Meio Ambiente, Presidente da Fundação Universidade do Mar e da Mata (Maramata), escritor, brindava os amigos com sua sabedoria e os “causos” contados com a verve que Deus lhe deu. Era do tipo que poderia perder o amigo, mas nunca a piada, como diz o ditado, só que não, conservava os dois.

Outra grande e excelente habilidade de AO era a gastronomia, notadamente em peixes e frutos do mar. Nesse mister, formou bons chefs nos cursos em que promovia na Maramata, entre os quais me incluo (sem o adjetivo acima citado). Poderia ser considerado um bon vivant, como todos os que valorizam os prazeres da vida, generoso, bem-humorado, de bem com a vida.

Tive a felicidade de conviver um bom tempo com Antônio Olímpio, momentos que jamais serão esquecidos. Nos nossos encontros, muitos deles profissionais, elaborei boas histórias, boa parte das quais contadas em reportagens administrativas, políticas e gastronômicas. E essa convivência se transformou em amizade, daquelas que ele sabia construir e conservar por toda a vida.

Pelo que conheço de AO como irmão, valoroso maçom, servidor público, professor e amigo, acredito que ele não gostaria de deixar triste os amigos, até pelas piadas que contava. Prefiro o sentimento da saudade, que o da tristeza; da lembrança dos momentos agradáveis, do que os maçudos; da espontaneidade, do que os críticos. AO estará fisicamente longe de nós, mas perto do coração.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Panorâmicas das cidades de Ilhéus e Itabuna em fotos de José Nazal e PMI
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O pensar territorial oportunizará para todas as cidades o direito ao crescimento e desenvolvimento. Do contrário, haverá permanente migração de populações das cidades menores para as maiores na busca por melhores condições de vida

 

Rosivaldo Pinheiro

É cada vez mais imperioso que pensemos as nossas cidades contemplando as necessidades mais importantes à luz do seu potencial. Pensá-la dissociada do território é, na verdade, não entender esse lugar de fala dentro do processo de organização de cada município e, evidentemente, da região e das interdependências que eles têm naquele território.

É necessário que entendamos a necessidade de organização política e planejamento de uma região. Ou seja, entender a territorialidade para que, a partir dela, cada cidade possa intensificar os seus diferenciais, agregando novas perspectivas para a sua economia.

O pensar territorial oportunizará para todas as cidades o direito ao crescimento e desenvolvimento. Do contrário, haverá permanente migração de populações das cidades menores para as maiores na busca por melhores condições de vida, gerando, em consequência, problemas como encolhimento e inchaço das cidades, respectivamente. Esse movimento dificulta a implantação de políticas públicas.

É importante que cidades como Itabuna e Ilhéus estejam irmanadas, funcionando como fios condutores e que, a partir desta simbiose, a região se fortaleça, possibilitando que todos ganhem. Esse pensamento nos permitirá avanço ao ponto de conseguirmos melhorar as nossas representações políticas, elegendo parlamentares estaduais e federais que tenham uma visão de unicidade de pensamento global. A eleição desses líderes dará maior força para trabalharmos pautas importantes para o Litoral Sul, superando os projetos individuais de poder. Nessa sistematização política, o que valerá é o voto de defesa da região, caminho único para continuarmos avançando e superarmos nossos atrasos históricos.

Rosivaldo Pinheiro é comunicador, economista, especialista em Planejamento de Cidades e secretário de Governo de Itabuna.

Rádio, por anos a magia da comunicação
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Com a chegada da internet, mais uma vez o rádio foi jurado de morte. E o povo do rádio nem deu a mínima. Mais que depressa, tomou para si as facilidades dessa nova tecnologia e ampliou seu espectro social com as ferramentas da rede.

 

Walmir Rosário

Desde que fui iniciado no rádio me acostumei a ouvir a derrocada desse meio de comunicação instantâneo, antes calcado no tripé: música, esporte e notícia. Com a chegada da TV, sua morte foi decretada solenemente, mas o rádio se recusou a morrer de morte matada. Fosse hoje, diríamos que a notícia circulante se tratava apenas de uma fake news e não deveria ser levada a sério, como não deve até hoje.

De lá pra cá, essas mentirinhas continuaram a ser ditas assim que anunciada uma nova tecnologia. E o rádio, sorrateiramente, continuou firme e forte, ampliando sua área de atuação e o tripé de sustentação de antes passou a implantar novos “pés”, e se encontra mais sólido que nunca. Por um tempo esteve segmentada, principalmente com a aquisição de emissoras pelas igrejas de várias denominações.

Quem manteve a segmentação pura e simples deu com os burros n’água e foi obrigado a promover uma profunda mudança. Os segmentos católicos e protestantes não eram capazes de manter uma estrutura vibrante sem os comunicadores; apenas locutores de programas religiosos não bastavam. Daí que hoje algumas delas promovem debates ecumênicos com representantes de várias religiões, espíritas, ateus e que mais valham.

Fora desses horários, os comunicadores disputam a audiência com muita inteligência, buscando a cumplicidade dos ouvintes. E a MPB, o samba, o romantismo, o rock estão presentes em suas programações na mesma intensidade dos programas de autoajuda, de apoio às donas de casa, do apoio providencial aos motoristas nas grande cidades, ao homem do campo pelas manhãs, e aos notívagos, madrugadores, boêmios ou no batente.

Eu entrei no rádio por acaso, ao participar da equipe do seminário nos programas religiosos transmitidos pela Rádio Sociedade de Feira de Santana, lá pelos idos de 1963. Algum tempo depois – 1965 –, em Itabuna, o empresário Carlito Barreto compra a Rádio Clube e doa aos frades capuchinhos. E quem vem dirigir a emissora é justamente Frei Hermenegildo de Castorano, ex-diretor da emissora coirmã em Feira de Santana.

E mais uma vez lá vai eu em direção ao rádio, inicialmente na programação religiosa, depois em outras atividades como a mesa de som, técnica em transmissão externa, locução, e por aí afora. Por um tempo me dediquei à atividade e outros tantos fora dela. Volta e meia retornava, na redação, reportagem, apresentação, e convivi com várias “feras” da comunicação e em diversos horários, inclusive nas madrugadas.

No programa De Fazenda em Fazenda, na Rádio Difusora, produzido e apresentado pela Ceplac, estive no comando por anos e presenciei o que era a verdadeira interação com os ouvintes da cidade e, principalmente da área rural. Em determinados momentos chegamos a receber uma montanha de cartas, mais de 600 delas entregues nos diversos escritórios da Ceplac na cidades irradiadas. Muitas quais escritas por pessoas de pouca ou quase nenhuma alfabetização.

Só quem trabalhou na reportagem sabe a dificuldade de passar um flash ao vivo da rua quando ainda não existia entre nós o aparelho de telefonia celular. Era preciso disputar uma fila num orelhão e introduzir diversas fichas metálicas para que a ligação não caísse, fosse cortada, enquanto passava a informação. Do contrário, bastava ter a cara de pau de pedir para usar o telefone fixo em uma casa comercial ou residencial.

Sem esses auxílios providenciais, só após chegar à emissora algum tempo depois com a fita gravada. Para isso teria que contar com a sorte e não tomar o furo de outra emissora. De vez em quando um ouvinte ligava passando a informação e torcíamos que não fosse um trote. Não posso falar em gravar uma entrevista sem comentar o tamanho e o peso dos jurássicos gravadores e suas fitas cassetes que cismavam não gravar em momentos importantes.

Outra atividade radiofônica que sempre gostei de trabalhar era o horário gratuito nas campanhas eleitorais. Somente quem milita nesse segmento sabe da importância do rádio numa eleição. Numa oportunidade, fui convidado a coordenar a campanha de rádio de um candidato em Itabuna. E a missão que recebi do coordenador geral de comunicação da campanha, jornalista Sérgio Gomes, foi a de produzir um programa totalmente independente da veiculada na televisão.

Contratamos um excelente comunicador, Paulo Vicente, na edição de áudio, Luiz Barroso (meu operador por anos), eu na direção, redação e locução de editoriais, e contamos com a participação de uma dupla pra lá de especial: os radialistas Paulo Leonardo e Florentina Jerimum, estes na apresentação de humor. Nesta editoria eu escrevia apenas um roteiro e os dois se encarregavam de finalizá-lo na gravação, sem qualquer texto prévio.

Resultado, todos os dias eu era surpreendido nos bares, esquinas e demais locais públicos com as discussões dos quadros do programa e muitas das expressões viraram memes e bordões no boca a boca dos ouvintes e eleitores. Desta vez, o programa de rádio influenciou o programa de TV, que passou a abordar os temas apresentados no programa radiofônico do candidato, vencedor da eleição (não apenas e tão somente por isso).

Com a chegada da internet, mais uma vez o rádio foi jurado de morte. E o povo do rádio nem deu a mínima. Mais que depressa, tomou para si as facilidades dessa nova tecnologia e ampliou seu espectro social com as ferramentas da rede mundial de computadores. Na minha humilde concepção, com a internet, o rádio perdeu apenas seu glamour ao expor seus apresentadores nos canais das redes sociais, ganhando em intimidade.

O rádio continuará firme e forte, desde que não queiram inventar a roda quadrada.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Mateus Santiago em artigo sobre prática rotineira em farmácias do país || Foto Divulgação
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O estudo percebeu uma baixa maturidade no tratamento dos dados pessoais pelo setor farmacêutico, o que implica em prejuízo à proteção dos dados pessoais e ao direito à informação dos titulares especialmente ligados aos programas de fidelização e descontos

 

Mateus Santiago

A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais – LGPD (Lei nº 13.709/2018) em vigência no território nacional e a preocupação com a utilização correta dos dados tem sido cada vez mais evidente pelos inúmeros incidentes que ocorrem no cotidiano das pessoas.

Uma análise perfunctória do texto legal deixa evidente que a LGPD surgiu com o objetivo de evitar que dados pessoais sejam utilizados sem a devida proteção, com finalidade obscura e sem transparência pelas empresas, órgãos governamentais e demais agentes que tratam dados pessoais.

Para fins de contextualização, dado pessoal é toda e qualquer informação que identifica uma pessoa imediatamente (ex.: nome, CPF, RG, PIS, CNH, título de eleitor) ou que, embora não possa identificar imediatamente uma pessoa, caso o dado seja analisado em conjunto com outras informações, poderá tornar uma pessoa identificável (ex.: IP de computador, dados de geolocalização, etc).

Os dados pessoais são classificados, segundo a lei, em dados comuns, dados sensíveis e dados de crianças e adolescentes. Todos os dados pessoais são protegidos pela LGPD, contudo, a lei apresenta disposições específicas para cada classificação e exige um nível maior de cautela no tratamento de dados.

Com relação ao uso dos dados pessoais, tem sido muito comum ao se chegar nas farmácias e drogarias ser convidado pelo preposto do estabelecimento comercial a informar seu CPF para fins de recebimento de descontos.

Após denúncias sobre o abuso na coleta de dados pelo setor farmacêutico a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) divulgou a Nota Técnica nº 4/2022/CGTP/ANPD, constatando a existência de práticas em desconformidade com a legislação de proteção dos dados pessoais.

Toda utilização de dado pessoal deve seguir uma finalidade, que deve ser informada ao titular, contudo foi averiguado pela ANPD tratamentos diferentes do que era indicado para os titulares e a coleta excessiva de informações, incluindo dados sensíveis, sem, contudo, haver informações claras da utilização desses dados pelos estabelecimentos farmacêuticos.

Também se constatou a ausência de transparência com relação ao compartilhamento dos dados com prestadores de serviço e outros parceiros comerciais. Como conclusão o estudo percebeu uma baixa maturidade no tratamento dos dados pessoais pelo setor farmacêutico, o que implica em prejuízo à proteção dos dados pessoais e ao direito à informação dos titulares especialmente ligados aos programas de fidelização e descontos.

A atuação da coleta não permite aos titulares entender a extensão da utilização dos seus dados. Em possível afronta também a legislação de proteção ao consumidor, o acesso ao desconto apenas se efetiva com o fornecimento do dado pessoal, que no geral se inicia com o CPF e em algumas situações ocorre até mesmo a coleta de dados biométricos.

Se pondera o que realmente está por trás desse tipo de coleta do dado pessoal. Pode-se eventualmente pelo consumo dos medicamentos, traçando um perfil de saúde do consumidor e identificando doenças pré-existentes, haver um compartilhamento com prestadores de serviços de saúde suplementar (planos de saúde)? Possibilitando talvez um aumento na parcela do plano ou mesmo uma recusa em se efetivar a contratação? São apenas ponderações que surgem em virtude da ausência de transparência na coleta e tratamento dispensado aos dados pessoais. Portanto, ao adentrar num estabelecimento farmacêutico, ou de outra natureza qualquer, pense bem antes de responder à pergunta: “me informa seu CPF?”.

Mateus Santiago é advogado e doutorando em Propriedade Intelectual e Inovação pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Notícia da viagem de Nininho para teste no Fluminense, em 1958
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O menino de Macuco, iniciado no Pindorama Futebol Clube, depois no Brasil Esporte Clube, o BEC, venceu no futebol e até hoje é reconhecido como bom exemplo por onde passou.

 

Walmir Rosário

Campeão pela Seleção de Itabuna no primeiro Intermunicipal vencido, Nininho, o Sputnik, sentiu necessidade de mostrar seu futebol em outras terras, se apresentar no Maracanã, o santuário do futebol. E aqui pra nós, qual jogador de futebol que nunca sonhou atuar no Gigante do Maracanã? Nem tinha medo com o tradicional friozinho na barriga no jogo de estreia. Era o começo de uma carreira, quase sempre bem-sucedida.

E José Maria Santos, o menino de Macuco, hoje Buerarema, só pensava nisso. Tanto foi assim que dispensou as honrarias dos cartolas, comerciantes e torcedores de Itabuna para aventurar a carreira no Rio de Janeiro. Quem sabe poderia aparecer no Canal 100, em todos os cinemas do Brasil, jogando por um grande clube do Rio de Janeiro ou São Paulo. A mudança valeria a pena e ele estava disposto a correr o risco.

Artilheiro com 11 gols marcados em sete jogos da Seleção de Itabuna campeã. Eleito em 1958 o atleta mais eficiente e disciplinado de Itabuna, Nininho ganhou uma passagem de ida e volta, além da hospedagem para 15 dias em hotel no Rio de Janeiro. Viajou acompanhado do colega Hildebrando, que ia visitar dona Guiomar, esposa de Didi do Botafogo, que é da região cacaueira. Nininho foi apresentado aos dois e se tornaram grandes amigos.

Finalmente, o craque Sputnik se foi. No Rio, fez teste no Fluminense, time em que jogava o conterrâneo Léo Briglia, e treinou muito bem. Aprovado, o técnico Pirilo queria inscrevê-lo como juvenil, mas não foi possível, pois já completara 20 anos. Como não tinha vaga no aspirante, completo com jogadores subidos dos juniores, nem mesmo a intervenção de Léo Briglia resolveu. A escolinha do Flu era uma fábrica de craques, o que sempre impedia o aproveitamento de novos valores. E o Sputnik era um deles.

Se não deu certo no Fluminense, ainda em 1958 Nininho decidiu dar uma passada no Botafogo para se submeter aos testes. Enquanto fazia o famoso vestibular no Glorioso, um treinador do Guarani de Divinópolis gostou de sua atuação e quis saber qual era situação do atleta. Informado que era livre e estava passando por testes, convidou o Sputnik para ir disputar o Campeonato pelo Guarani. Aceitou, de pronto.

Em janeiro de 1959, volta ao Rio de Janeiro para se submeter a novos testes no Botafogo, onde pretendia jogar ao lado do time dos grandes craques. Nesse período, foi levado para o Canto do Rio, em Niterói, e daí para o América, no qual se sagrou campeão carioca em 1960. Nesse ano, mesmo na reserva, foi o artilheiro dos aspirantes. Nessa época já tinha incorporado novo nome: Zé Maria.

Nininho (Zé Maria) no América campeão carioca de 1960

Emprestado ao Bonsucesso Futebol Clube para fazer uma excursão no exterior, atuou no Chile e Peru. Nessa viagem jogou o que sabia nos 15 jogos realizados, uma campanha invicta. No último jogo, contra o Sporting Cristal, do Peru, que já era campeão peruano antecipado, faltando três rodadas para o fim do certame, marcou o gol mais bonito de sua vida. Para ele foi a consagração como jogador profissional.

Em 1962 volta a São Paulo, desta vez para jogar na Prudentina. No ano seguinte, 1963, Sputnik, ou Zé Maria, joga um belo campeonato. Àquela época, a Prudentina era um time cheio de bons jogadores e ele consegue se destacar, embora a equipe tenha ido mal. Resultado: no final do ano todos os atletas foram dispensados. Nininho chegou a ser cotado para ir para o Peru, onde jogaria no Sporting Cristal, mas como não se concretizou, ele continua no Brasil e passa a jogar pelo Nacional.

Depois disso foi trabalhar na Rede Ferroviária Federal e continuou jogando por dois anos, e encerrou a carreira em 1967. Anos depois o craque volta para Itabuna. Deixa a Rede Ferroviária, um emprego federal e se instala em Itabuna. Convidado por Ramiro Aquino, José Adervan e João Xavier para supervisionar o Itabuna Esporte Clube, cumpriu a missão de fortalecer o profissionalismo no futebol itabunense.

Nininho preferia ser treinador, mas foi convencido a atuar na supervisão. E fez um excelente trabalho, dando uma nova cara à equipe profissional, àquela época ainda tratada com muito amadorismo no sul da Bahia. O Itabuna chega ao final do campeonato em uma boa colocação, resultado do trabalho implantado por ele e o treinador Roberto Pinto, mudando as características do futebol por aqui praticado.

Nessa época, Itabuna reunia bons jogadores, muitos deles valores regionais. Um em especial, vindo de Itarantim para fazer teste no Itabuna como quarto zagueiro. Era Zezito Carvalho. Assim que viram a baixa estatura dele, Nininho, Roberto Pinto e João Xavier sugeriram que fosse testado na lateral direita. Deu certo e o Zezito Carvalho passou a se chamar Tarantini, nome dado em homenagem ao jogador argentino e que fazia referência à sua cidade, Itarantim.

Nininho também fez um excelente trabalho com a juventude itabunense, quando convidado pelo amigo João Xavier, à época vice-prefeito e secretário de Esporte de Itabuna. A missão era implantar as escolinhas de futebol projetadas pela Prefeitura. E execução deu excelentes resultados, retirando meninos da rua para proporcioná-los uma vida melhor com a prática de esportes, notadamente o futebol.

O menino de Macuco, iniciado no Pindorama Futebol Clube, depois no Brasil Esporte Clube, o BEC, venceu no futebol e até hoje é reconhecido como bom exemplo por onde passou.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

'Arraiá' do Ita Pedro atrai milhares de pessoas por noite em Itabuna || Foto Divulgação
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A valorização do Itapedro e das demais ações que estamos presenciando requer do poder público ainda mais esforços para alterar o ambiente de negócios.

 

Rosivaldo Pinheiro

A cidade de Itabuna é conhecida e reconhecida como a cidade do comércio e do serviço. Aqui também nós temos um polo de educação e de saúde e precisamos avançar na missão de deslanchar o turismo no município. Além de negócios, temos vários elementos históricos, culturais e naturais que podemos trabalhar de forma integrada para que possamos gerar uma cidade de novas possibilidades.

Tivemos agora o Itapedro, um evento que significa estabelecer para a cidade uma marca reconhecida e um produto forte no calendário nacional. Alguns, que ainda não têm compreensão plena dessa conquista, questionam, mas já podemos comemorar os resultados desta edição do Itapedro, que não só movimenta a cadeia do Turismo, mas também é uma festa inclusiva, que atinge uma série de outros segmentos que se integram e impactam nos mais variados setores econômicos. Por exemplo, por trás de um show existe uma vasta contribuição de profissionais, que vão desde a montagem das estruturas e sonorização a recursos pirotécnicos para que possam dar brilho aos dançarinos e ao artista principal.

É preciso que tenhamos uma maior compreensão do significado do Itapedro para Itabuna. É claro que temos que ampliar as discussões e melhorá-lo cada dia mais. Para isso, é preciso um olhar integrado, envolvendo poder público, sociedade civil e setor privado. Nosso evento já nos permite, na sua segunda edição, vislumbrar fazer parte do calendário nacional, porque esse ano, no calendário do Nordeste, ele já entrou.

Não à toa, a Rede Bahia, afiliada da Rede Globo de Televisão, transmitiu nossa festa ao vivo, bem como diversos outros veículos da Bahia e do Brasil fizeram uma megacobertura, destacando a importância do evento. O fato é que o Itapedro já é um caso de sucesso. Por tudo isso, é importante fazer esse destaque porque quase sempre elogiamos eventos de outros municípios, bem como há sempre quem diminua nossa importância, atribuindo a outras cidades e regiões melhor qualidade em tudo.

Precisamos nos apropriar desses momentos e feitos, perceber as nossas mudanças e elevar os nossos olhares e a autoestima. Se a cidade hoje contabiliza uma redução populacional – o que não deve ser na plenitude do censo realizado pelo IBGE, pois ainda falta o instituto entregar para nós as informações estratificadas dos números levantados, para, então, o município poder fazer as devidas apurações -, a valorização do Itapedro e das demais ações que estamos presenciando requer do poder público ainda mais esforços para alterar o ambiente de negócios. E o setor privado, apropriando-se dessa mudança, cumprir o seu papel na ampliação dos seus investimentos. Essa engenharia permitirá com que a cidade atraia novas oportunidades para a ampliação do seu PIB, gerando crescimento com desenvolvimento.

Rosivaldo Pinheiro é economista, comunicador, especialista em Planejamento de Cidades e secretário de Governo de Itabuna.

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Vi quase uma dezena de nomes de indígenas conhecidos que puderam rever o Manto Tupinambá, quando choraram e fizeram questão de realçar a ancestralidade em visita à Dinamarca.

 

Luiz Conceição

Não precisa ter olhos amendoados, pele cor de terra roxa, cabelos lisos e ser arredio. O que basta é ter amor ao que lhe é mais sagrado e lutar sempre para preservar a memória, aromas e tudo aquilo que a ancestralidade guarda na alma para sempre.

Quem entende os atributos a que me referi, saberá compreender os acontecimentos doravante nas aldeias de Olivença (Ilhéus) e Serra do Padeiro (Una e Buerarema) para festejar depois de uma intensa luta de gerações para reaverem aquele objeto sagrado de um povo por 334 anos longe de casa.

Decorridos 48 anos de labuta quase diária para viver, pesquisar e contar a história do povo e desse pedaço chão do sul da Bahia em jornais da capital e local, emissoras de rádio e nos tecnológicos blogs, que a inovação humana trouxe nas últimas décadas, vejo surgir notícias que me remetem à origem incerta e esperançosa ou me enchem a alma de alegrias.

Uma destas, nesta tarde, antevéspera do São Pedro – que na simbologia católica cristã retém as chaves do céu. O Museu Nacional da Dinamarca, relata a reportagem, vai devolver ao Brasil o Manto Tupinambá, peça que consagra a ancestralidade dos povos Tupinambás de Olivença que, apesar de viverem no sul da Bahia desde tempos imemoriais, não eram reconhecidos como indígenas pelo Estado brasileiro.

Isto apesar de quase terem quase sido exterminados pelo governador-geral do Brasil, Mem de Sá, no massacre do Cururupe, em 1559, dolorosamente lembrando todos os anos desde 1937, no local onde aconteceu a seis quilômetros de Olivença. E a 12 quilômetros da sede da antiga Capitania de São Jorge dos Ilhéus.

Atualmente, a comunidade deve ter cerca de cinco mil pessoas, mas só foi reconhecida oficialmente pela Funai em 2001 e até hoje luta para ter sua terra de volta com as incompreensões de sempre e ameaças idem.

Fiquei emocionado, sim, com a notícia publicada na revista Piauí sobre a devolução em perfeito estado de conservação do Manto Tupinambá ao Brasil pelo povo e governo dinamarquês.

Certamente, devia fazer coro aos membros das aldeias que foram a Copenhague e se emocionaram ao ver aquela peça de penas vermelhas, cultuada como relíquia, uma das muitas que repousam naquele tempo da cultura e antropologia embora tenham sido obra de indígenas brasileiros.

Ao dar um google pude ler cada uma das reportagens, teses acadêmicas, dissertações, textos virtuosos sobre a luta incessante dessa pobre gente brasileira na busca pelo que lhe é sacrossanto.

Vi quase uma dezena de nomes de indígenas conhecidos que puderam rever o Manto Tupinambá, quando choraram e fizeram questão de realçar a ancestralidade em visita à Dinamarca. E também chorei pelo amigo jornalista, radialista e escritor Waldeny Andrade, que nos deixou há três anos, mas registrou em livro a saga desses povos, Vale a pena ler: Serra do Padeiro: a saga dos Tupinambás, lançado, em 2017, pela Via Litterarum Editora.

Como repórter, aprendi que a emoção é o último recurso para dar vida a um texto que expresse a mais pura verdade factual. Muitas vezes ao longo de tantos anos não contive os olhos d’água que teimavam em desfazer meu aprendizado.

Vejo que continuo a me emocionar ao lembrar-me das histórias que li, ouvi, pesquisei e presenciei no cotidiano de correspondente, repórter ou editor. Mas vejo que tudo valeu a pena e a emoção continua a me dar taquicardia com a felicidade de um povo que cultua a natureza, a terra, as matas, os pássaros, as águas, os peixes, os animais e a vida.

(*) Essa é a grande volta do manto tupinambá, escreveram jornalistas e repórteres das mais diversas mídias sobre o que ouviram das vozes do povo Tupinambá o tanto que têm de carinho e apreço pelas penas vermelhas da simbólica peça que lhes parece reencarnar a vida dos que vieram antes e deixaram sobre a terra luta, cultura e amor naquilo que acreditam.

Luiz Conceição é jornalista.

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Os tempos são outros e o círculo virtuoso está em curso. Ainda há muito a fazer, porém os horizontes que se abrem, no Brasil e na Bahia, são auspiciosos.

 

André Curvello

Valeu a pena apoiar os festejos de São João na capital e no interior. Mais do que fortalecer uma das maiores manifestações da nossa cultura popular, os investimentos do Governo do Estado deram um grande impulso à economia baiana, ajudando a combater a fome e o desemprego. As ações foram as mais variadas.

Na segurança pública, por exemplo, mais de 23 mil policiais e bombeiros garantiram uma festa pacífica e com ocorrências reduzidas. As famílias puderam se divertir com tranquilidade.

As atrações musicais, por sua vez, atenderam às mais diversas preferências, em cerca de 300 municípios.

No Parque de Exposições, em Salvador, um público diário médio de 100 mil pessoas foi embalado por grandes nomes da música local e nacional. A animação não foi menor em Paripe e no Pelourinho.

Os números comprovam o acerto das decisões tomadas pelo governador Jerônimo Rodrigues. O São João de 2023 gerou R$ 1,5 bilhão em receitas para o estado e atraiu um fluxo de 1,5 milhão de turistas. Esses dados impressionantes refletem o aquecimento do comércio e do setor de serviços, como viagens e hotelaria, durante o período festivo. A alta demanda foi evidente, com locadoras de veículos esgotando 100% das suas frotas, e hotéis e pousadas sem vagas disponíveis.

O aeroporto de Salvador aumentou em 8% a oferta de voos em comparação com o ano anterior, facilitando o deslocamento dos visitantes. No aeroporto de Vitória da Conquista, ocorreu o aumento significativo de 65% na movimentação de passageiros em junho, em relação ao mesmo mês do ano anterior. Em Porto Seguro, o movimento também cresceu. E a rodoviária de Salvador ofereceu mais de 400 horários extras para atender aos viajantes durante o período junino.

A Secretaria de Turismo do Estado realizou uma pesquisa sobre o perfil dos visitantes durante os festejos do São João. Foram coletadas informações sobre a origem dos visitantes durante os festejos, sua renda, satisfação com os serviços e equipamentos oferecidos, gastos realizados e tempo de permanência no destino. Esses dados serão importantes para auxiliar o Governo a compreender com mais detalhes o impacto do turismo durante o São João e auxiliar na elaboração de estratégias para melhorar a experiência dos visitantes.

A atenção dada pelo Governo aos municípios durante o São João não foi isolada. Faz parte das ações contínuas para melhorar a qualidade de vida dos baianos. Os investimentos realizados em 2023 têm como objetivo promover o desenvolvimento econômico e social do estado. Ao todo, só em infraestrutura, são R$ 3,1 bilhões nos primeiros cinco meses do ano, com destaque para os setores de Educação, Saúde e Segurança Pública, porém englobando todos os outros.

Essa política, iniciada em 2007 pelo governador Jaques Wagner e que teve continuidade com Rui Costa, e agora com Jerônimo Rodrigues, tem seu acerto comprovado pelo trabalho recentemente divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A qualidade de vida da população baiana avançou mais de 35% em uma década.

Explicando melhor, o Índice de Perda de Qualidade de Vida (IPQV) no estado apresentou uma redução significativa, caindo de 0,308 para 0,198 entre os anos de 2008 e 2018, o que representa uma redução de 35,7%. Essa melhoria reflete as políticas de fortalecimento da economia e os investimentos realizados em áreas sociais e estruturais.

O índice leva em consideração diversos aspectos, como renda, moradia, serviços públicos, saúde, educação, alimentação, transporte, acesso aos serviços financeiros, padrão de vida, lazer e viagens. Os avanços nessas áreas têm contribuído para o bem-estar da população e para o desenvolvimento do estado.

Os investimentos do governo baiano, aliados ao fortalecimento da economia nacional no governo Lula e à queda nos preços de alimentos e combustíveis, têm proporcionado benefícios significativos para a população. A geração de empregos, o aumento da renda e a melhoria dos serviços públicos são resultados diretos dessas políticas públicas.
Proporcionalmente somos o estado que mais investe em infraestrutura no Brasil.

Os tempos são outros e o círculo virtuoso está em curso. Ainda há muito a fazer, porém os horizontes que se abrem, no Brasil e na Bahia, são auspiciosos.

André Curvello é secretário estadual de Comunicação.

Arthur Lira e Lula no 1º encontro após a eleição de 2022 || Foto José Cruz/Agência Brasil
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Lula acertou ao não entregar o Ministério da Saúde a Lira. Foi uma decisão importante, porque esta é uma área fundamental para um governo que se proponha a recuperar os serviços públicos fundamentais e que foi dilapidada a partir do governo Michel Temer e, principalmente, nos quatro anos de Bolsonaro.

Cid Benjamin

Em países como o Brasil, as grandes questões políticas quase sempre só entram em debate nas eleições para presidente. Aí, todo o país – dos seringueiros da Amazônia aos peões gaúchos – tomam conhecimento dos temas nacionais, como gosta de lembrar Milton Temer.

Já quando se trata da escolha dos parlamentares em geral, o eleitor é movido por questões locais e pelo fisiologismo. Não por acaso, a adoção do parlamentarismo tem sido proposta pelos conservadores, mais interessados em manter a disputa naquilo que o pensador italiano Antonio Gramsci chamava de pequena política, marcada por clientelismo e questões menores, para assim impedir mudanças mais de fundo.

Esse quadro aparece agora nas tentativas de emparedamento do governo Lula pela maioria do Congresso, encabeçada por parte do Centrão e seu capo maior – o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, sucessor do gângster Eduardo Cunha.

Pois bem, diante das chantagens a que Lula vem sendo submetido, existem essencialmente dois caminhos (ainda que não inteiramente excludentes).

Um primeiro é ceder e entregar mais e mais nacos do Poder Executivo e de dinheiro, por meio de emendas ao Orçamento, a gente que usa os cargos no parlamento para fazer “negócios” nada republicanos. As ameaças são explícitas: se as exigências não forem atendidas, o Congresso vai paralisar o governo. Às reivindicações fisiológicas se soma a defesa de uma política econômica neoliberal, que atenda aos interesses do sistema financeiro e não se atreva a enfrentar as obscenas desigualdades sociais.

O outro caminho é – sem prejuízo de eventuais acordos aqui e ali – levar o debate para a sociedade, não deixando que o enfrentamento político se dê principalmente dentro de quatro paredes. Foi o caminho adotado recentemente, até agora com sucesso, por Gustavo Petro, presidente da Colômbia, vítima de chantagens semelhantes. Mas, que ninguém se iluda: esse caminho exige um esforço de mobilização dos trabalhadores e significa conflitos, porque não faltarão acusações de “populismo” por parte da mídia conservadora e do poder econômico.

O presidente brasileiro tem procurado se equilibrar. Faz concessões – seja na entrega de espaços e recursos do aparelho de Estado, seja na política econômica -, mas sem uma rendição absoluta, como a que parece ter feito o presidente do Chile, Gabriel Boric. Recentemente, aliás, Lula acertou ao não entregar o Ministério da Saúde a Lira. Foi uma decisão importante, porque esta é uma área fundamental para um governo que se proponha a recuperar os serviços públicos fundamentais e que foi dilapidada a partir do governo Michel Temer e, principalmente, nos quatro anos de Bolsonaro.

Há, claro, mediações, mas estes são os dois caminhos básicos.

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Ronald Kalid afirma que não disputará eleição em Itabuna || Foto Laele
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Aposto que não mudarão os partidos, os candidatos, com ou sem pré, e tampouco Ronald Kalid, que deve continuar pensando igualzinho. E tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes e adjacências.

Walmir Rosário 

Em Itabuna, o arquiteto Ronald Kalid afirma que não será candidato a cargo eletivo em 2024. Sequer está filiado a um partido político, situação esta que poderá ser mudada, embora jure de pés juntos ter o tempo passado e, com ele, o tal do cavalo selado. Mas o que teria feito Ronald mudar de ideia? Acredito eu, que pela tal da coerência, que ele sempre fez questão de manter ativa e altiva.

Parece uma blasfêmia, ou idiotice, sei lá, falarmos – pior ainda escrever – que um vivente com o juízo em perfeito estado agir nesses moldes, hoje tão em desacordo com os costumes desses tempos tecnológicos. Mas existem, poucos, é verdade, vivos e são, ouvindo e analisando tudo que vê à sua volta, discordando, em dissintonia, ou desacordando dos moldes atuais de fazer política.

Melhor seria dizer – para parecer mais claro – em campanha eleitoral permanente, embora a legislação não permita o uso dessa afirmação. Mas como nesse Brasil varonil sempre conseguimos um jeitinho pra tudo, podemos dizer, sem medo de errar, pré-campanha. Não sei se por soar mais bonito, ou simplesmente como uma figura de linguagem, recurso estilístico produzido para ficar bem na fita.

Pior, ainda, aos olhos dos aplicadores da lei, atentos aos deslizes dos políticos, mais ainda às denúncias dos adversários por infringir às nuances das leis e regulamentos eleitorais. Melhor dizer, pré-candidato, que está tudo bem. Atende muito bem nesses tempos em que o politicamente correto não admite esses cochilos e desce a marreta nos candidatos, “ops”, pré-candidatos.

Mas não acredito que somente essas questiúnculas tenham atemorizado Ronald Kalid, um frequentador assíduo do senadinho do Café Pomar e do Beco do Fuxico, com assento aos sábados na Fuxicaria itabunense. Com certeza, não. Me arrisco a dizer, sem ter perguntado o porquê da desistência, que os motivos são outros. Pra muito gente, quem sabe, o nosso político em questão preferiria manter sua fama de mau.

Não que Ronald trate alguém com descortesia, pelo contrário, mas por ser visto como possuidor inveterado de três atributos considerados terríveis numa campanha eleitoral, ou pré, como queiram. Ser sisudo, não cumprimentar desconhecidos no meio da rua, principalmente com as famosas risadinhas. Com esse péssimo costume (?) não passará, jamais, no difícil vestibular para trono do executivo.

É essencial que para o pretendente ao Centro Administrativo de Itabuna esteja sempre pronto para os tapinhas nas costas dos futuros eleitores, melhor seria acompanhados dos beijinhos nos rostos das eleitoras, sempre acompanhadas das “incumpríveis” (será que existe essa palavra?) promessas em liberar rios de leite e ribanceiras de cuscuz, bem ao estilo costumeiro, pois é assim que a banda toca.

Basta um de nós perguntar a qualquer marqueteiro ou aos amigos da imprensa sobre esse terrível costume. Eles não deveriam concordar, mas quem iria contrariar uma tese vencedora a cada dois anos nas campanhas eleitorais brasileiras? Melhor ficar com a grande maioria, até porque fica mais fácil afirmar que a “voz do povo é a voz de Deus”, e estamos devidamente conversados.

Maus exemplos como esse deveriam ficar escanteados nesses tempos tão modernosos, que poderiam servir de baliza, mergulhando na consciência eleitoral de cada um. Mas que nada, melhor criar nossos mitos, de preferência santos com pés de barro, que podem ser quebrados depois com certa facilidade. Quem sabe ficaremos com mais poder de barganha caso haja qualquer necessidade de manutenção da governabilidade.

Não sei se por isso o Brasil seja o campeão da enorme população flutuante nos partidos políticos, que muda das agremiações de acordo com seus interesses e não com os estatutos partidários. Eles aprenderam que pouco importa para o povão a ideologia, o que vale é o agora, qual benefício poderá auferir. Políticos não são anjos e sequer têm vocação para santos, mas têm que ser vivos, sabidos ao extremo, pois os simplórios estão de fora.

E assim pouco importa o ontem, administrações passadas, capacidade de trabalho, conhecimento da administração pública. Bom mesmo é o agora, com os interesses pessoais antes dos coletivos. É o salve-se quem puder, com o aval partidário, pois não participam do grande banquete os que não foram amplamente sufragados nas urnas eleitorais eletrônicas.

A mudança sempre é necessária, desde que para melhor. E aqui no nosso minúsculo debate, quem deveria mudar: os partidos, cumprido sua ideologia e seus princípios elencados nos estatutos, entregando aos eleitores a mercadoria vendida; Ronald Kalid, cuja promessa é das mais simplórias, simplesmente garantindo um relacionamento saudável entre os poderes públicos e a iniciativa privada.

Pelo pouco que conheço das artes políticas, numa campanha se gasta muita saliva, sola de sapato e dinheiro, este precioso e doado pelos partidos coligados e alguns amigos, hoje de acordo com o processo legal. Mas aposto que não mudarão os partidos, os candidatos, com ou sem pré, e tampouco Ronald Kalid, que deve continuar pensando igualzinho. E tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes e adjacências.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Marão e Soane prestigiam evento organizado por Pancadinha || Reprodução/Instagram
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Por que Marão estaria se envolvendo no pleito de Itabuna, reforçando um pré-candidato de oposição ao Governo do Estado contra seu colega de partido, pré-candidato à reeleição?

Rodrigo Cardoso

Surpreendeu a todos a animada presença do prefeito de Ilhéus, Mario Alexandre (PSD), na festa do deputado estadual Fabricio Pancadinha (SD), na vizinha cidade de Itabuna. O que poderia ser visto como mera cortesia entre autoridades públicas, ainda mais pelo fato da esposa de Marão, Soane Galvão (PSB), ser colega de Assembleia Legislativa do deputado, ganhou contornos políticos que geraram diversas especulações.

Num dia em que o prefeito de Itabuna, Augusto Castro, colega de partido de Marão, também fazia festa, essa presença significaria uma aproximação política com Pancadinha, que se revelou a principal representação eleitoral da oposição ao Governo do Estado no Litoral Sul e é pré-candidato a prefeito com o apoio do candidato a governador derrotado ACM Neto (UB). Lembrando-se que, dentre as dez maiores cidades do estado, apenas quatro são governadas por partidos da base e, em quase todas, a oposição foi vitoriosa na eleição para governador, inclusive em Ilhéus e Itabuna.

Segundo alguns, essa aproximação teria como objetivo a construção de relações políticas com vistas a projetos futuros do prefeito Marão, de candidatura a deputado federal, ou até sonhos maiores.

Acordos políticos e eleitorais entre candidatos a deputado da base do Governo e da oposição são mais comuns do que gostariam os militantes e dirigentes com compromisso mais perene com o projeto político democrático e popular liderado pelo Partido dos Trabalhadores na Bahia. No entanto, geralmente, movem-se nos municípios menores, onde bandas A, B, C, D buscam conciliar projetos políticos locais com o fortalecimento que a relação com deputados de Governo ou oposição, republicanas ou não, oferecem.

Nas cidades maiores, é de se esperar que os partidos que compõem a base de sustentação do governador e que, portanto, têm maior interesse em fortalecer esse campo e reverter o cenário adverso das últimas eleições, se esforcem para a construção do máximo de unidade possível, enxergando, também, que a eleição de prefeitos da base facilita para que o Governo do Estado implemente políticas públicas para o desenvolvimento das cidades e a melhoria das condições de vida das pessoas.

O prefeito Marão é exemplo disso. Após uma metade de primeiro mandato extremamente contestada, com alta rejeição – que se refletiu no resultado eleitoral negativo de sua mãe, a ex-deputada Ângela Sousa, que não conseguiu a reeleição -, o prefeito conseguiu dar a volta por cima, se reelegendo e elegendo a esposa deputada estadual com grande votação. Tudo isso impulsionado pelas diversas ações e obras do Governo do Estado em Ilhéus, que ele soube muito bem capitalizar e reforçar com suas ótimas relações com o então governador e hoje ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT).

Desse modo, cabe a pergunta: por que Marão estaria se envolvendo no pleito de Itabuna, reforçando um pré-candidato de oposição ao Governo do Estado contra seu colega de partido, pré-candidato à reeleição?

Esse questionamento se reforça porque, em Ilhéus, onde sua responsabilidade de liderar o processo sucessório é óbvia e onde a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), do presidente Lula e do governador Jerônimo Rodrigues, não faz parte de sua base, mas tem demonstrado total boa vontade em contribuir com as ações que beneficiam o povo, ele tem dito que só falará de sucessão no ano que vem, apesar de várias lideranças do arco político da base já se movimentarem, com ou sem seu aval.

Poderia responder que seria um movimento ousado para trazer o deputado Pancadinha para a base, deslocando-o do campo de ACM. Aí alguns poderiam considerar que seria apenas uma briga entre caciques do PSD no sul da Bahia, sem maiores consequências para a grande coalizão que governa o estado. Porém, as conversas de bastidores estão longe de referendar essa visão mais otimista.
Seguimos observando.

Rodrigo Cardoso é dirigente do PCdoB em Ilhéus e membro da direção estadual do Partido.

Presidente Gustavo Petro cercado por apoiadores na Colômbia || Reprodução/Instagram
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O exemplo colombiano é uma clara demonstração de que concessões nem sempre são a melhor forma de construir a governabilidade. E que é preciso informar o povo e convocá-lo para a luta política. As duas coisas estão em falta no Brasil.

Cid Benjamin

No dia 29 de maio de 1983, Flamengo e Santos se enfrentaram no Maracanã no segundo jogo pelas finais do Campeonato Brasileiro. Depois de uma derrota por 2 a 1 na primeira partida, no Morumbi, no Rio o Flamengo venceu por 3 a 0 e se sagrou campeão. A partida – realizada antes de que, por motivos inconfessáveis, Sérgio Cabral Filho tivesse desfigurado o Maracanã, transformando-o numa “arena” moderninha – teve o maior público da história em campeonatos brasileiros. Estiveram presentes 155.253 torcedores. Eu estava entre eles.

O Flamengo tinha um timaço e sua vitória foi incontestável. Mas houve uma voz dissonante: a do técnico Formiga, do Santos. Ele preferiu não ver o estádio pelo lado do lindo espetáculo proporcionado pela torcida. Em entrevistas depois do jogo, choramingou: “um jogo com tanta gente no estádio é antiesportivo. Deveria ser proibido, porque a pressão é muito grande e a disputa fica desequilibrada.” As palavras podem não ter sido estas, mas o sentido foi.

Claro que torcida nem sempre ganha jogo, como provou o valente time uruguaio na final da Copa de 50, no mesmo Maracanã. Na ocasião, diante de 199.854 espectadores, o Uruguai venceu o Brasil. Mas, é claro, se sozinha não ganha jogo, torcida ajuda. Isso não se discute. Ainda mais quando está ao lado de um belo time, como era aquele de Zico, Júnior, Leandro e outros mais.

Isso vale para o futebol e, ainda mais, vale para a política. Determinadas iniciativas de interesse popular, se apoiadas massivamente, ganham enorme força. Mas é preciso que os líderes convoquem o povo e se disponham a encabeçar o movimento.

Exemplo disso ocorreu semana passada na Colômbia, com a intensa mobilização em sustentação a medidas promovidas pelo presidente Gustavo Petro, um líder que está se tornando a principal figura contemporânea da esquerda latino-americana.

Lá, como ocorre no Brasil, o governo estava sendo pressionado a fazer concessões e mais concessões a uma maioria de políticos conservadores, corruptos e fisiológicos, sob pena de o Congresso travar suas ações e paralisá-lo.

Petro não aceitou a chantagem nem que a disputa se limitasse ao interior das quatro paredes. Logo ao tomar posse, em agosto de 2022, já tinha dado mostras de disposição de luta e de coragem, ao remover parte expressiva do alto comando das Forças Armadas, passando para a reserva oficiais envolvidos em atropelos aos direitos humanos e ligados à extrema-direita.

Agora, na semana passada, deu uma aula sobre como deve reagir um governo popular a tentativas de golpes brancos. Diante do corpo mole de alguns partidos da base para apoiar reformas promovidas pelo governo, o presidente colombiano – que já tinha trocado três ministros no fim de fevereiro – promoveu uma ampla reforma, exonerando mais oito dos 19 integrantes de seu Ministério. No lugar deles foram nomeadas pessoas comprometidas com o programa defendido na campanha.

Claro que a busca de governabilidade é objetivo de qualquer governo. Para tal, às vezes deve negociar e, eventualmente, precisa fazer concessões. Porém, essa busca da governabilidade pode ser feita de diferentes formas, que inclusive não são excludentes. A negociação é apenas uma delas.

Quando se está diante de um processo claro de chantagens, porém, como no caso do Brasil – as concessões não podem ser o caminho único, ou sequer o principal. Afinal, sabe-se como começa uma chantagem, mas não se sabe como, nem quando, nem onde, ela termina.

Petro reagiu ao que chamou de “golpe brando”, tirando a disputa dos gabinetes refrigerados. Mais de 400 intelectuais, líderes políticos, dirigentes sindicais e representantes de movimentos populares, de um número superior a 20 países, firmaram um manifesto em apoio a seu governo, denunciando a campanha da direita para boicotar reformas que aumentariam salários, melhorariam a saúde, a educação e os demais serviços públicos e protegeriam o meio ambiente. E esse discurso não ficou entre quatro paredes. Foi levado para as ruas pelo governo.

Petro fez mais: convocou em rede nacional de rádio e TV manifestações na capital e em outras 200 cidades do país, em apoio à aplicação do programa aprovado nas urnas. Multidões tomaram as ruas. Isso mudou a conjuntura e pôs os conservadores na defensiva.

O exemplo colombiano é uma clara demonstração de que concessões nem sempre são a melhor forma de construir a governabilidade. E que é preciso informar o povo e convocá-lo para a luta política. As duas coisas estão em falta no Brasil.

Recentemente o governo Lula relançou, em formato ampliado, pelo menos três programas que melhoram a vida das pessoas – o Farmácia Popular, o Mais Médicos e o Minha Casa, Minha Vida. Além disso, anunciou o Desenrola, que equaciona as dívidas de famílias pobres e a maior parte da população nem ficou sabendo. Sequer os ministros falaram dessas iniciativas. Aliás, nem eles, nem a inútil área de comunicação do governo.

Ora, não é de hoje que se sabe: a correlação de forças muda substancialmente quando o povo entra em campo. O Flamengo já tinha mostrado que é sempre melhor enfrentar o adversário em jogo com casa cheia e torcida a favor. Multiplicar as concessões ao mercado financeiro, à Faria Lima e aos chantagistas do Centrão, capitaneados por Artur Lira, não é a única forma de se conquistar a governabilidade. Frequentemente tampouco é a melhor.

O exemplo Petro deve ser visto com atenção. É preciso levar a política para a sociedade. Que aportem no Brasil os bons exemplos e os bons ventos da Colômbia.

Cid Benjamin é jornalista e autor de Gracias a la vida – memórias de um militante (Ed. José Olympio, 2013).

Bel no Itabuna de 1971: na foto, Zé Lourinho, Americano, Raminho, Perivaldo, Douglas Paulo Viana e Genival_ Cipó, Santa Cruz, Élcio, Bel Santana, e Jaci
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A competência demonstrada em campo foi essencial para sua convocação para a Seleção Amadora de Itabuna, a hexacampeã baiana que enchia os olhos dos espectadores e ouvintes das narrações esportivas da época.

 

Walmir Rosário

No futebol amador de Itabuna tivemos craques à mancheia, como diria nosso conterrâneo Castro Alves. Cada um na sua especialidade. Desde os goleiros que “abriam as asas” e fechava a área; os pequenos zagueiros e laterais que subiam mais que os grandes atacantes; os clássicos que não faziam faltas (à vista do árbitro); os meio campistas que desarmavam e construíam; os atacantes que faziam muitos gols.

Mas hoje vamos lembrar de um meio campista especial: Bel, batizado Abelardo Brandão Moreira, que iniciou sua carreira no futebol amador muito cedo, ainda meninão, isso pelos anos 1963, quando aportou de vez em Itabuna, vindo de Itajuípe. O garotão bom de bola encantava – também – pelo seu comportamento junto aos craques já estabelecidos. Era um boa praça, um menino com pinta de craque.

E exibia seu bom futebol nos campinhos de pelada de Itabuna, despertando a atenção dos futebolistas. Estudou e se diplomou na modalidade de futebol de salão, dominando, não só a bola, mas o jogo, para a alegria da torcida. Nem me lembro mais quantas vezes fomos campeões pelo Colégio Estadual de Itabuna, no qual estudávamos o ginásio. Antes de qualquer reclamação, aviso, de pronto, que eu era um jogador medíocre, mas estava lá.

E foi o futebol de salão (hoje Futsal) que deu régua e compasso a Bel, credenciando-o a brilhar nos campos de futebol de Itabuna e região, com toda a desenvoltura que Deus lhe deu. Não escolhia o melhor campo para jogar, mas tinha inteligência suficiente para superar as dificuldades dentro das quatro linhas (isso quando era marcado), se desviando dos buracos, da grama malcuidada e dos adversários.

No meio campo era um maestro, e foi assim por onde passou. No velho campo da Desportiva, não importando o time por qual jogava, estava ali cercado dos melhores craques de Itabuna. Exibia seu estilo com desenvoltura, aproveitando a força da juventude com a qualidade do futebol que sabia praticar. Incorporou seu estilo de jogo no pequeno campo de futebol de salão, adaptando-o ao campo oficial de futebol.

E Bel Jogava com precisão. Não sei em quem ele se espelhava, se no futebol exibido por Didi ou, quem sabe, Gérson o canhotinha de ouro, na casa sagrada do futebol brasileiro, o Maracanã. Não precisava correr em campo. Com elegância, fazia a bola circular em passes curtos ou longos, a depender do andamento do jogo e da posição de seus companheiros em campo, surpreendendo os adversários.

Embora não precisasse correr em campo, como um bom meio campista sabia se antecipar ao adversário para matar uma jogada e construir as condições necessárias para facilitar a entrada dos colegas atacantes e marcarem os gols. Muitas das vezes, ele mesmo se encarregava de estufar a rede adversária. Defendia, atacava, marcava gols, o que demonstrava sua capacidade de dominar os espaços no gramado.

A competência demonstrada em campo foi essencial para sua convocação para a Seleção Amadora de Itabuna, a hexacampeã baiana que enchia os olhos dos espectadores e ouvintes das narrações esportivas da época. E passa a atuar naquele escrete de ouro, onde a concorrência de craques era a maior da Bahia. Entrava um e saia o outro sem que a qualidade do jogo sofresse qualquer alteração negativa.

O garoto Bel, Santinho e Tombinho, na Seleção de Itabuna hexacampeã em 1966

Surpreendia-me os passes de longa distância encaminhados por Bel. Eram na medida exata, e quem o recebia não precisava se esforçar, esticar a perna ou dar um grande impulso para cabecear. Ele chegava na medida certa, bastava um maneio de cabeça, uma matada no peito, uma emendada com o pé para que chegasse ao seu destino: o gol adversário. Mesmo não entrando nos três paus, dava a sensação e o grito abafado de gol.

Até hoje nunca perguntei a Bel como ele aprendeu a despachar a bola com tanta elegância e fidalguia. Às vezes me dá a impressão que antes ou depois dos treinos ele saia com uma fita métrica medindo as distâncias e idealizando a potência dos passes. Precisão milimétrica disparada pela força das pernas e o jeito do pé, como vemos hoje com a tecnologia disponível aos mísseis teleguiados.

Com a criação do Itabuna Esporte Clube, em 1967, Bel foi um dos primeiros a se profissionalizar e mostrar seu futebol para novas plateias. Se antes jogava ao lado de craques feitos em casa, passou a conviver e atuar com jogadores vindos do Rio de Janeiro, São Paulo e outras grandes praças esportivas, o que lhe garantiu um maior conhecimento do futebol.

Em seguida, foi jogar em Ilhéus, atendendo a insistentes convites feitos por amigos. Na vizinha e rival cidade continuou jogando o seu futebol arte, encantando aos que ainda não o conheciam. Uma certa feita estava no Rio de Janeiro, quando se encontra com Pinga, seu colega de seleção e Itabuna profissional e vão a um teste no Botafogo carioca. No treino, marcam cinco gols, três de Pinga e dois de Bel, que resolveu voltar a Itabuna.

E todo o conhecimento de futebol adquirido nos campos por onde jogou foi transferido para a garotada, atendendo a um convite de João Xavier, diretor da AABB de Itabuna. Também jogou e treinou várias seleções de veteranos de Itabuna, exibindo-se para uma geração mais jovem, que não conheceu o futebol arte. Pra mim, Bel e outros craques deveriam mostrar aos de hoje, o futebol eficiente e elegante do passado.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Ho Chi Minh e a relação da esquerda com a verdade, segundo Cid Benjamin
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Não nos esqueçamos que, embora as manifestações de junho de 2013 tenham começado de forma difusa, nelas a revolta contra a corrupção estava muito presente e, depois, esse sentimento adubou o terreno para a farsa do impeachment de Dilma e a vitória de Bolsonaro.

Cid Benjamin

Nos anos 1970, quando eu era um jovem militante, com vinte e poucos anos, li num texto de Ho Chi Minh algo que tenho presente até hoje. Ele afirmava que, dada a desproporção de forças entre os revolucionários e os representantes das classes dominantes, era da maior importância política que ficasse clara a superioridade moral dos primeiros.

Para ilustrar o que dizia, Ho contava uma história relacionada com a Guerra do Vietnam (1955-1975). O país estava sendo atacado por bombardeios diários da aviação norte-americana. Algumas vezes, as aeronaves eram atingidas pela defesa antiaérea e saíam soltando fumaça, mas não chegavam a cair, conseguindo retornar às bases. E havia uma tendência a que se computassem aviões em situação assim como abatidos. Ho, então, ordenou: só poderiam ser contados como derrubados os aviões que estivessem no solo.

E explicava: justamente por não terem os poderosos meios de divulgação de que os Estados Unidos dispunham, era fundamental que os revolucionários vietnamitas cultivassem rigorosamente a verdade. Assim, quando eles afirmassem algo, todos – aí incluída a imprensa internacional – saberiam que o afirmado era realidade.

O rigor em relação à verdade, dizia ele, ainda que não usasse exatamente essas palavras, não era só uma questão de natureza moral, era também uma espécie de investimento político.

Foi, então, construída pelos vietnamitas uma reputação que se tornou decisiva para o desfecho da guerra. Tanto assim que, embora a resistência nos campos de batalha tivesse sido importantíssima, em grande medida, o conflito se resolveu fora deles, na área da política, e até mesmo em território norte-americano. Chegou-se a um ponto que os EUA não tinham mais como sustentar – tanto internamente, como aos olhos do mundo – aquela intervenção injustificável. A superioridade moral dos vietnamitas era incontestável. Isso foi decisivo.

O livro “Guerra irregular” (Editora Contexto, 2009), um bom estudo do militar brasileiro Alessandro Visacro, especialista em contra-insurgência, conta (pag. 116) diálogo travado em encontro realizado depois de terminado o conflito, reunindo combatentes dos dois lados. Nele, em dado momento, o coronel americano Harry Summers Jr vangloriou-se: “vocês nunca nos derrotaram no campo de batalha”. “Pode ser, mas isso é irrelevante”, respondeu tranquilamente um representante vietnamita. Visacro dá razão a este último.

Se isso vale para guerras, vale ainda mais para a luta política.

Qualquer observador da situação brasileira nos últimos anos percebe a criminosa manipulação ocorrida na Lava Jato. Conhece o papel das bandas podres do Judiciário e do Ministério Público, das quais Sérgio Moro e Deltan Dallagnol são exemplos gritantes. Não é segredo, também, que parte importante da mídia deveria fazer uma profunda autocrítica pela cumplicidade com os procedimentos criminosos dessas bandas podres e por sua participação no processo espúrio que desaguou no impeachment de Dilma Rousseff.

É inegável que a corrupção não começou no Brasil com o PT ou com as esquerdas no governo. É inegável, também, que nem o PT nem as esquerdas são os maiores exemplos de corrupção no País. Mas, mesmo que os métodos de Moro e seus asseclas na Lava Jato se assemelhassem a uma pressão ilegal e criminosa a presos – “ou assina a confissão ou continua na cadeia” -, os recursos devolvidos por alguns acusados atestam que, de fato, houve corrupção.

Isto posto – e até porque não se pode contar com a isenção de boa parcela da mídia, que tem a mão mais pesada quando trata de apontar erros da esquerda – é preciso um cuidado especial para construir uma imagem de rigor no trato com a coisa pública, de maneira que essa imagem se torne um instrumento a favor das forças que lutam por mudanças, e não o inverso.

Qualquer escorregão nesse terreno custa caro, como ficou claro nos últimos anos. Não à toa, a direita – a força mais envolvida na corrupção ao longo dos tempos – tem a luta contra ela como uma de suas principais bandeiras.

Esta questão nada tem a ver com o udenismo ou o denuncismo barato próprio do conservadorismo. Ao contrário, o rigor de parte da esquerda é importante justamente para não abrir a guarda para esse mesmo udenismo. Alguns argumentam que, com ou sem motivo justificado, a mídia direitista buscará cabelo em casca de ovo e levantará a bandeira da denúncia da corrupção, o que tornaria irrelevantes as preocupações levantadas aqui. Tal argumento não se sustenta. Evidentemente, essa bandeira será mais forte nas mãos dos conservadores se os fatos denunciados forem reais.

Não nos esqueçamos que, embora as manifestações de junho de 2013 tenham começado de forma difusa, nelas a revolta contra a corrupção estava muito presente e, depois, esse sentimento adubou o terreno para a farsa do impeachment de Dilma e a vitória de Bolsonaro.

Agora, vencida a dura batalha para impedir a reeleição do nazifascista, há com Lula na Presidência um governo que tem uma composição que vai da direita até a centro-esquerda. E há um Congresso majoritariamente reacionário, com a Câmara de Deputados controlada por um chantagista que representa o que há de pior na política brasileira e que busca se apropriar de recursos do Executivo para fins inconfessáveis.

Na eleição foi preciso uma composição com a direita para derrotar o fascismo. Depois, foi necessário abrir espaço para o Centrão para que o Governo não fosse inviabilizado, apesar das concessões programáticas.

Nesse quadro, é possível que haja ministros cometendo malfeitos, para usar uma expressão cara a Dilma, o que não quer dizer que se deva fechar os olhos para isso. Mas assim funciona essa gente. No entanto, é diferente quando pessoas de esquerda fazem coisa semelhante, cavando boquinhas para parentes em tribunais de contas, bajulando o mercado financeiro ou aceitando a devastação da Amazônia e da Mata Atlântica em nome de sabe-se-lá-o-quê.

Os prejuízos, aí, não devem ser contabilizados em reais, mas numa moeda muito mais importante na política: a credibilidade. Por isso é preciso atenção.

Lembremo-nos das lições de Ho Chi Minh.

Cid Benjamin é jornalista e autor de Gracias a la vida – memórias de um militante (Ed. José Olympio, 2013).

Walmir Rosário aborda a origem do "feriado" de Corpus Christi no Brasil
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Esse é um feriado – ou ponto facultativo – estranho, que ninguém sabe ao certo como aportou no Brasil com ânimo definitivo. Por ouvir dizer, me consta que iniciou como uma parada bancária e se perpetuou.

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Lembro-me perfeitamente dos dias santos e feriados que eram respeitados no meu tempo de criança e adolescente. Nestas datas não precisávamos frequentar a escola, muito menos o trabalho, para os que já pegavam pesado no batente. Era uma festa. Embora soubéssemos pelo calendário, essas datas sempre eram acrescidas em função da tradição e legislação estadual ou municipal.

Além dos feriados corriqueiros, aqueles que se destacam na folhinha com letras vermelhas (acredito que para chamar mais a atenção), éramos avisados que dias tais não precisávamos vir às aulas, pois a cidade estaria em festa com sua micareta. Festejávamos os dias santos e o prefeito decretava feriado nas vitórias da seleção de Itabuna, sem contar os pontos facultativos no serviço público.

Vivíamos em constante estado de festa. E como hoje (08-06-2023), também chamado de quinta-feira, é dia de Corpus Christi, me encontro no perfeito gozo de um merecido descanso, apesar de não trabalhar formalmente. Esse é um feriado – ou ponto facultativo – estranho, que ninguém sabe ao certo como aportou no Brasil com ânimo definitivo. Por ouvir dizer, me consta que iniciou como uma parada bancária e se perpetuou.

Claro que esse feriado ou ponto facultativo (em algumas cidades) tem um pezinho na nossa ancestralidade portuguesa, com certeza, nas raízes da religiosidade e atendimento à bula papal editada por Urbano IV, lá pelos longínquos idos de 1264. Pelo que se sabe, o papa teria incumbido o grande filósofo São Tomás de Aquino para redigi-la, em comemoração a Corpus Christi.

Só que o papa Urbano IV não teve a felicidade de comemorar a data ou editar alguma indulgência, pois morreu logo após ter mandado instituir a homenagem, tanto é assim que a bula somente foi reafirmada pelo Concílio de Vienne, em 1311. No Brasil, pelas ordens do primeiro-ministro português Marquês de Pombal, as coisas políticas e religiosas não caminhariam mais juntas, portanto deveria acabar essas comemorações.

Mas ela – a data – resistiu bravamente e se encontra em nosso meio até os dias de hoje. O São João também sofreu as perseguições em nome do estado laico, e hoje não é comemorado em grande parte do Brasil. Em Itabuna, por exemplo, deixou de ser feriado há muitos anos e não tem mais a competência para fechar o comércio, indústria e serviços, embora os itabunenses se mandem para “forrozar” em Ibicuí e Jequié.

Lembro de certa feita em que os gerentes de bancos se sentiram atemorizados em funcionar em plena festa junina sem a devida segurança. É que grande parte da Polícia Militar teria sido transferida para os grandes sítios forrozeiros. E a solução encontrada foi sensibilizar o poder público municipal para decretar o competente decreto de ponto facultativo, extensivo à iniciativa privada, devido à possível insegurança. Fechou tudo.

Outro feriado tradicional de Itabuna era o dia do Caixeiro (comerciário), comemorado religiosamente em 30 de outubro, chovesse ou fizesse sol. De uns tempos pra cá, foi retirado do decreto e somente vale por acordo, através da negociação sindical, e em data móvel. Perdeu a graça, pois a maior comemoração era o Torneio Caixeiral, com a participação de cerca de 50 equipes formadas por comerciários. Nem lembram mais.

Duro mesmo eram as empresas e órgãos públicos que têm em seu quadro de pessoal itabunenses e ilheenses, independente do município onde está sediada, a exemplo da Ceplac e Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). Elas fechavam nos feriados e dias santos das duas cidades. Com o passar dos anos, a Ceplac apertou a corda e a Uesc ainda manteve por muito tempo. Hoje não tenho informação de como é.

A Ceplac, na sua sede regional, passou a obedecer apenas os feriados e dias santos de Ilhéus, por estar em solo ilheense. À época foi um Deus nos acuda. Reclamações em todos os setores pelo antidemocrático gesto não comoveram os dirigentes. Daí, os inconformados servidores criaram uma comissão para tentar sensibilizar os diretores, reclamando do prejuízo de não poderem exercer suas religiosidades aos padroeiros.

Na Divisão de Comunicação éramos sempre escalados nos carnavais para noticiar a participação dos ceplaqueanos nos blocos e escolas de samba, sempre com muitas fotos publicadas no jornal interno Espelho Ceplaqueano. Então, um dos diretores, a título de brincadeira, sugeriu que poderiam até participar e que estenderiam as matérias jornalísticas do Espelho e, posteriormente da Agenda, para uma ampla cobertura nas missas e procissões, ressaltando a religiosidade dos servidores.

A partir daquela data não se soube mais de qualquer reivindicação dos fiéis religiosos. Até os dias de hoje não se sabe o motivo deles abandonarem seus santos padroeiros.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.