Ricardo Ribeiro | ricardo.ribeiro10@gmail.com
Nenhum país cresce verdadeiramente onde vigoram os atalhos abertos para atender indivíduos isoladamente.
O nível de inversão de valores em nossa sociedade é provavelmente uma das principais barreiras para que a mesma avance para patamares mais elevados. Onde vigora o jeitinho, a exceção amiga, o favor e o quebra-galho em nome da amizade ou da conveniência, é impossível construir-se um grupo social que se respeite e seja capaz de enfrentar seus principais problemas.
O Brasil é o 73º país mais corrupto do mundo de acordo com a ONG Transparência Internacional, que avalia 183 nações nesse quesito. E onde está a corrupção, senão incrustada, enraizada em cada setor da sociedade? Do governo às empresas, das igrejas às feiras livres. A malandragem é tão presente, que chega a ser vista como traço cultural e atávico, herdado do DNA dos primeiros invasores a desembarcar em Pindorama.
Carma ou safadeza pura e simples, o fato é que a corrupção é praticada inclusive por gente que se acha convictamente honesta. É de praxe, é o modus operandi inescapável, que torna mais fácil o acesso a benefícios pelo cidadão e “azeita” as relações no campo da política. Quem age diferente é ingênuo e incapaz de compreender que a vida é desse jeito mesmo.
E o que esse modo peculiar de agir tem dado de retorno ao país? Assim como jamais se viu alguém que vende o voto melhorar de vida, o mesmo se observa num espectro mais amplo quando se analisa a corrupção na sociedade. Os jeitinhos da vida resolvem o problema de muita gente no imediato. Já no longo prazo só servem para perpetuar o atraso.
Nações democráticas que evoluíram tiveram que consolidar seus ordenamentos jurídicos, que materializa a vontade geral, as opções coletivas voltadas ao bem comum. Nenhum país cresce verdadeiramente onde vigoram os atalhos abertos para atender indivíduos isoladamente. Ou se pensa e age coletivamente, ou o que se tem é um país fragmentado e desmoralizado.
A mensagem serve para a política e para o dia-a-dia de cada cidadão. No judiciário, ela foi bem expressa no discurso de posse do ministro Joaquim Barbosa, novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ao desaconselhar juízes de prestar favores para ascender na carreira.
Trazendo para o local, uma das críticas mais recorrentes ao futuro secretariado da Prefeitura de Itabuna é de que alguns nomes são “corretos demais”. Dizem isso, por exemplo, do futuro secretário de Transportes e Trânsito, Clodovil Soares, frisando que ele será incapaz de flexibilizar ou, para ficar mais claro no exemplo, mandar, a pedido de algum político aliado do governo, “soltar um veículo apreendido”.
Percebam como a inversão de valores se manifesta nessa avaliação. Se o “defeito” do futuro secretário é ser correto, quem tem que mudar é a sociedade. Sob pena de perecer.
Ricardo Ribeiro é advogado e blogueiro.