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Com uma certeza que tira não se sabe de onde, o deputado estadual Capitão Fábio (PRP) acredita que os fatos nebulosos protagonizados por ele, quando restavam 48 horas para as eleições municipais em Itabuna, em outubro de 2008, já estão sendo diluídos.
Em entrevista concedida hoje ao programa Resenha da Cidade, com a participação do Pimenta, Fábio reafirmou que desistiu da candidatura em favor da petista Juçara Feitosa, na tentativa de impedir a eleição do Capitão Azevedo (DEM), “pelo bem da cidade”. Uma estratégia canhestra, que resultou em uma vitória histórica do democrata, reforçada pela migração em massa dos votos de Fábio na direção indesejada e absurdamente não prevista.
Fábio também disse que o deputado federal Geraldo Simões (PT) firmou o compromisso de apoiar, em Itabuna, “exclusivamente” a sua candidatura a deputado estadual, apesar de, na semana passada, o petista ter deixado claro o desejo de lançar a candidatura da esposa a uma cadeira na Assembleia Legislativa.
Leia abaixo os principais trechos dessa conversa:
Que análise você faz desse seu segundo mandato?
Nessa segunda legislatura, nós fomos agraciados agora com a presidência da Comissão de Educação, por indicação do líder do governo (deputado Valdenor Pereira – PT), e estamos desenvolvendo as atividades naquela comissão.Tenho procurado projetos dessa área, tanto é que apresentamos proposição para a construção de um colégio de ensino médio no bairro de Ferradas e outro no bairro São Pedro, em Itabuna. Os recursos do MEC para esses dois colégios já estão disponíveis na Secretaria de Educação do Estado, restando apenas a desapropriação das áreas. Acreditamos que isso será finalizado dentro de pouco tempo. Temos também um trabalho voltado para a educação profissionalizante e já existe um compromisso do secretário Adeum Sauer de instalar um centro regional de ensino profissionalizante em Itabuna, provavelmente no Colégio Polivalente. É a preparação para o aporte de recursos que virá com o Programa de Aceleração do Crescimento, com obras como a Ferrovia Oeste-Leste e a nova rodovia entre Itabuna e Ilhéus. A região tem que se preparar para as realizações que estão por vir.
Como você está projetando as articulações partidárias, com vistas às eleições de 2010?
Eu pretendo permanecer no Partido Republicano Progressista, partido pelo qual fui eleito e reeleito. Inclusive foi um grande erro termos saído recentemente do PRP, apesar de ter sido um consenso e eu ter sido autorizado pelo presidente Jorge Aleluia (a migrar para o PMDB). O período que passei no PMDB não foi muito feliz.
Mas por que você decidiu ir para o PMDB?
Porque eu fui convidado pelo ministro Geddel Vieira Lima.
Você se arrepende?
Muito! Se eu continuasse no PRP, no pequenininho, teria iniciado uma campanha modesta, não estaria num partido de pompa, que tem a imagem de partido rico, milionário, e hoje com certeza eu estaria aqui falando como prefeito de Itabuna.
Então você criou uma expectativa com relação à força do PMDB e ao prometido apoio da maior liderança do PMDB, o ministro Geddel. Você se sentiu traído?
Traição não, porque em política não existe lugar para romantismo. Eu entrei no partido e sei como é o jogo político. Eu sempre cumpri meus acordos, mas na política nem sempre é assim. Eu fui para o PMDB consciente dos riscos e infelizmente aconteceu o que nós não desejávamos, que foi o abandono da nossa candidatura.
O que lhe foi prometido pelo ministro Geddel Vieira Lima?
Não posso falar explicitamente, pois são acordos políticos…
Que não foram cumpridos…
Não foram cumpridos. Eu tive uma sensação de abandono, como eu falei, não de todas as pessoas ligadas ao PMDB, mas de uma grande parte, que já iniciava movimentos em direção ao atual prefeito. Alguns já estavam, inclusive, em negociação. Isso é verdade, eu não estou inventando nada. Observe quem está aí na administração municipal. É um espaço que jamais seria aberto em 48 horas, após a minha renúncia. Já estava sendo acertado há muito tempo. Só que eu não me rendi.
O ex-deputado estadual Renato Costa (PMDB) é um dos que dizem ter ficado decepcionados com a sua desistência para apoiar a candidata do PT. Ele chegou a declarar que não confia mais em sua palavra.
Eu possuo grande respeito pelo doutor Renato, no entanto tenho que concordar com as pessoas que falam que ele age politicamente com o fígado. Ele tem que parar com essa raiva, pois em política você não pode trabalhar de forma raivosa. Naquele momento (da desistência), a decisão tinha que ser minha, pois Renato Costa sabia que quem estava carregando a campanha nas costas era eu. Ele não foi comunicado da desistência, Ubaldo (Dantas) não foi, ninguém foi. Até três horas antes nem eu sabia.
Não foi uma decisão intempestiva?
Eu posso ter todos os defeitos do mundo, mas sou um homem de decisão. Tenho o poder de fazer essas análises em pouco tempo. Mas eu não tive foi tempo – e esse foi o problema – de esclarecer as pessoas que estavam me acompanhando, de informar aos eleitores o que eu queria atingir.
E o que era?
O que eu queria era evitar que viesse a acontecer o que está acontecendo hoje em Itabuna (com o governo Azevedo). No momento em que tive aquele encontro com Geraldo Simões, eu pensei em Itabuna. Claro que pensei também na minha sobrevivência política e tinha pouco tempo para tomar uma decisão. Era uma hora e meia, porque iriam fechar as redações dos jornais, dos blogs; a TV já estava aguardando e eu queria um tempo para esclarecer aos eleitores sobre o meu sacrifício, mas não houve tempo. Essa foi a nossa falha e eu peço desculpas ao meu eleitorado por isso. Nossa estratégia era para impedir que Azevedo fosse eleito, mas essa estratégia não foi bem aceita pela comunidade (num exemplo clássico de tiro pela culatra, os votos do deputado migraram em peso para Azevedo).
Seu acordo com Geraldo Simões previa apoio à sua reeleição para a Assembleia Legislativa? Como seria esse apoio?
O deputado federal Geraldo Simões assumiu o compromisso de apoiar em Itabuna a minha candidatura a deputado estadual, exclusivamente. Sou um militar, vim da caserna e não minto. Foi “exclusivamente”. Não tenho nada contra candidaturas postas aí por partidos aliados, acho que precisamos ter uma maior representação, mas o voto do deputado Geraldo Simões ele me prometeu, me deu a palavra de que seria meu.
Mas ele já demonstrou que no mínimo vê com muita simpatia a candidatura da esposa…
Eu acredito que o deputado Geraldo Simões se confundiu.
Geraldo esteve com você após essa entrevista?
Ele esteve em minha casa, inclusive no meu aniversário, e disse que ele e toda a sua família estariam empenhados na minha reeleição. Eu quero dizer que estou com a minha consciência tranquila. Política a gente faz por meio de acordos, compromissos, e eu e o deputado Geraldo Simões temos um compromisso. Acredito na palavra dele, mesmo porque existe o aval do governador Jaques Wagner.
Em artigo publicado no Pimenta, o advogado Allah Góes defende que a sua desistência foi planejada pelo deputado Geraldo Simões, não para assegurar a vitória de Juçara, que naquele momento já estava praticamente derrotada. A intenção seria, de acordo com essa tese, criar um desgaste tamanho para o político Capitão Fábio, a ponto de deixá-lo fora de combate para futuras disputas, inclusive a reeleição na Assembleia…
Meu amigo doutor Allah jogou aí um venenozinho (risos), mas eu não concordo com essa tese, porque o deputado Geraldo Simões é um político inteligente e, se ele agisse dessa forma, estaria sendo “desinteligente”. A nossa imagem hoje, como deputado estadual, está presente não só em Itabuna, mas em toda a Bahia. O desgaste que houve em Itabuna está sendo diluído, tanto que estou andando em toda Itabuna e sou recepcionado com muito carinho. As pessoas entendem que eu, como deputado, desempenho minha atividade a contento. O meu posicionamento de renunciar (à candidatura a prefeito) não tem nada a ver com o meu desempenho como deputado. E com a campanha em Itabuna, eu cresci muito mais. Estou hoje muito mais popular e com muito mais credibilidade do que antes, porque as pessoas começaram a compreender qual foi a nossa atitude, justamente pela situação em que se encontra o município. Não tenho nada contra Azevedo, mas acho que ele pegou um abacaxi.