Vista da bela e histórica Paraty com o icônico Patati Patatá, à esquerda || Imagem Google Maps
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De cara avistei entre eles, Tim Maia e sua turma. Sigo para a calçada em frente em busca de informações e fiquei sabendo que a polícia pretendia se livrar daquela galera, por motivos óbvios: perturbação do sossego e mais alguns artigos do Código Penal.

 

Walmir Rosário

Assim que passou o Carnaval do ano da graça de 1973 aporto – mesmo por via terrestre – na cidade de Paraty. Viagem a trabalho, para implantar uma frente de obras na BR-101, no trecho conhecido como Rio-Santos. Muitas imaginações passavam pela minha cabeça, a exemplo de conhecer a cidade histórica cujo nome se transformou em sinônimo de cachaça.

Por outro lado, as notícias que eu tinha sobre a cidade não eram tão tranquilas para os que iriam a trabalho, por ter um custo de vida altíssimo, pois há anos vivia do turismo. Os que iam a passeio pouco se importavam com os custos de hotel e restaurantes. O que importava, mesmo, eram bater suas fotos na cidade histórica, ao lado dos antigos e bem conservados casarões e praias.

Porém, Paraty não era apenas uma cidade dos turistas bem aquinhoados pela sorte nas finanças. Pra lá também seguiam – e ficavam por um bom tempo – os hippies de todos os matizes, desde os originários de famílias abastadas ou os chamados pés-rapados. Se viravam como podiam e se drogavam à vontade, sem qualquer repressão. Pra eles, era o paraíso!

Pois bem, assim que consegui me hospedar com todo o pessoal no Hotel Bela Vista, perguntei ao proprietário, Silas Coupê, onde experimentaria uma boa cachaça de Paraty e uns bons tira-gostos. Me indicou um barzinho (pequeno mesmo) próximo e de nome muito sugestivo: Patati Patatá. E pra lá rumei na intenção de começar bem o primeiro sábado em Paraty.

Para minha surpresa, o barzinho lotado, gente espalhada pelas calçadas. De cara, disse pra mim mesmo: Cheguei ao lugar certo para espraiar as ideias e conhecer bem a cidade e sua gente. Pedi ao dono do Patati Patatá, Luiz Papa, um paulista que trocou a pauliceia desvairada por Paraty, a melhor cachaça e tira-gosto especialidade da casa.

Enquanto vou me familiarizando no ambiente, observo uma mesa barulhenta e uma voz por demais conhecida, que aos poucos identifiquei como sendo o cantor e compositor Tim Maia. Junto a ele, uma “fauna” ligada à música, inclusive o compositor Cassiano e demais ilustres desconhecidos para mim, baiano recém-chegado.

Aos poucos fui conhecendo as pessoas, pouquíssimos paratienses, muitos paulistas, uns argentinos e uruguaios. Na grande maioria, hippies e frequentadores assíduos da cidade, alguns com casas de veraneio. Confesso que fiquei um pouco assustado, mas gostei do ambiente, pelos produtos, serviço e clientes. Guardadas as devidas proporções, a lembrança me remeteu ao Bar Caninha, na Federação, em Salvador.

Assim que a fome apertou, me informo com Luiz Papa onde poderia almoçar uma comida de sustança, se é que por ali serviria. Sem pestanejar, Luiz me indica: “Olha, logo aqui ao lado esquerdo, vizinho à Telesp, tem um seu conterrâneo, o Mário, que prepara tudo o que você quer comer, como mocotó, rabada, feijoada e essas comidas da Bahia”.

Não perdi tempo, pois não poderia deixar essas delícias à espera, ainda mais depois de experimentar a boa cachaça paratiense calçando umas cervejas bem geladas. Me apresento ao conterrâneo como um baiano recomendado por Luiz Papa. Após apertos de mãos e saudações de bem-vindo, me sento, bebo mais uma cachaça, uma cerveja e mergulho nos pratos de sustança.

Devidamente saciado e novamente pronto para qualquer eventualidade, minha intenção era dar mais uma passadinha no Patati Patatá, agradecer pela indicação e retomar o bate-papo. Assim que chego à calçada vejo um ônibus da Colitur estacionado em frente ao barzinho, pessoas do outro lado da rua olhando e alguns policiais organizando uma fila.

Ao chegar mais perto me dei conta que todos os clientes, (ao que me pareceu) estavam sendo colocados no interior do ônibus. De cara avistei entre eles, Tim Maia e sua turma. Sigo para a calçada em frente em busca de informações e fiquei sabendo que a polícia pretendia se livrar daquela galera, por motivos óbvios: perturbação do sossego e mais alguns artigos do Código Penal.

Passei a me sentir protegido por meu anjo de guarda e meu estômago, que me fizeram ausentar – momentaneamente – do Patati Patatá e me safar de um conflito em que não teria qualquer culpa no cartório. Na saída, os policiais deram ordens ao motorista do coletivo que só parasse no distrito da Ponte Branca, a 6 quilômetros, e que eles não se atrevessem a retornar.

Na sequência, Luiz Papa fecha o Patati Patatá, abre o restaurante Palhoça, do qual continuei seu cliente de todas as noites – depois com Toninho Pinto. E esse baiano se aclimatou bem em Paraty, tanto que por lá construiu amigos, se casou com uma paratiense, por lá morou muitos anos e ainda costuma frequentar a cidade.

Poucos conhecem minha passagem nessa história, agora revelada e já de conhecimento público.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor d´Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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As pessoas que não conseguem liberar-se do luto permanecem enredadas em um ciclo prolongado de tristeza e melancolia. Não estão vendo suas vidas, não estão olhando para vida e sim para a morte, estão estacionando sua energia vital e seguem congeladas no trauma.

 

Rava Midlej Duque || ravaduque@gmail.com

Onde estão os entes queridos que partiram deste plano físico?

Estão nos nossos corpos físicos agora. Na nossa mente, no nosso amor, na nossa voz, na nossa obra, no nosso servir. Estão manifestados em nós!

Assisti a uma entrevista em que uma moça falava da morte sem aviso da sua mãe. E fiquei comovida com o seu entendimento e percepção diante da perda que, segundo ela, foi uma das maiores dores que sentiu. Ela disse: “minha mãe dormiu e não acordou mais em seu corpo físico. E embora a dor seja grande, eu pude aprender algo valioso: nunca mais acordei sem agradecer. Hoje quando eu acordo a minha mãe também acorda. Ela vive em mim, nunca mais acordei sozinha. Eu a sinto em mim, eu sou ela!”.

Achei isso tão bonito, porque trata-se de um entendimento que é constantemente ocultado pelo cenário do luto, quando na verdade, poderia ser óbvio! Mas é como dizem, o óbvio precisa ser dito!

O fato é que viver a nossa vida é a forma mais poderosa de honrar quem já partiu deste plano físico. Os entes queridos que partiram querem que a gente continue vivendo, homenageando-os com a nossa vida. Legitimar essa existência através de nós. A forma que temos de manter viva a memória de alguém é mantendo-o vivo dentro de nós. E se possível, fazer algo de bom com o que foi deixado por essa pessoa, através da sua vida, ensinamentos, ações, comportamentos, palavras.

Então, a partir de agora, quando alguém perguntar onde está aquele seu ente querido que deixou o corpo físico dele, não diga apenas ‘morreu’, diga: está aqui dentro. Vive em mim e através de mim, porque ele sou eu.

Dia 02 de novembro é patenteado como o Dia Internacional dos Finados, com celebrações em diferentes partes do mundo. É o dia dedicado à memória das pessoas que faleceram, é o dia de orar pelas almas que se foram, como foi designada ainda no século X, pelo entusiasta abade Odilon, de Cluny, na França. Em alguns países, este dia é considerado como expressão cultural, dia de celebrar a vida com os mortos, com danças, bebidas, músicas e histórias contadas.

No Brasil é diferente. O luto traz muita resistência, porque tem a ver com o que nós entendemos sobre a morte. A morte nos coloca em uma despedida inevitável. É uma despedida dolorosa. É natural sentir tristeza, dor, muitas vezes culpa ou raiva, da vida, do mundo ou até mesmo da pessoa que partiu. Essa dor pela ausência atinge as pessoas de forma diferente, mas há algo comum e inegociável: em qualquer uma das formas e maneiras, o luto precisa ser vivido! É necessário que se viva a dor da perda, caso contrário a pessoa pode pagar com a própria vida futura por essa negligência.

Para a Terapia Sistêmica, área da terapia em que o meu trabalho está fundamentado, se a pessoa por algum motivo é impedida de viver o luto: não pode falar, expressar, dar espaço para sentir a dor, certamente essa dor não expressa, é provável que essa pessoa vá desenvolver algum um sintoma ou doença psicossomática. Senão ela, algum descendente da sua família vai viver a dor dessa morte depois.

É comum, por exemplo, acontecer essa transferência quando uma mulher tem um segundo filho(a), mas antes passou pela perda do primeiro, e não se deu o direito de viver o luto. A criança que vem depois sente e absorve o peso da morte, por conta de um luto não vivido da mãe. Mas, atenção, não é culpa da mãe! Na verdade, na Terapia Sistêmica e nas Constelações, não trabalhamos com culpas, mas olhando os fatos além do aparente. O luto que não for vivido quando o fato acontece, mais cedo ou mais tarde virá à tona para algum membro da família.

O luto precisa de espaço e tempo para ser visto, olhado de frente, vivido e devidamente expressado! Para cada pessoa isso vai ser diferente. É importante respeitar as fases, mas é preciso atenção para perceber até onde a pessoa consegue atravessar o ciclo do luto sozinha. Muitas pessoas e até mesmo famílias inteiras precisam da intervenção de um profissional para ajudá-los nessa travessia.

As constelações familiares oferecem uma perspectiva muito bonita para lidar com a questão da perda e do que chamamos de luto. Elas desempenham um papel fundamental ao auxiliar o processo de aceitação, liberação e cura. Porque é necessário olhar para a morte de uma maneira mais ampla, além do aparente. Precisamos encarar a perda, incorporá-la, honrá-la e expressar uma gratidão, por tudo que essa pessoa representou em nossas vidas. Quando realizamos uma constelação, estamos liberando emoções, bloqueios e resistências que podem estar ligados à morte de alguém.

É através dessa liberação que adotamos uma postura diferente em relação à morte, quanto mais liberamos nossos sentimentos de luto, mas encontramos vida em nossa própria existência.

É fácil fazer isso, Rava? Não!

É por isso que terapeutas, psicólogos, profissionais como eu, desempenham um papel fundamental nessa jornada de aceitação. Através de uma abordagem sensível, compassiva e recursos eficazes, podemos ajudar as pessoas a identificar o que as mantém presas a um luto que perdura por 5, 10, 20 ou 30 anos, para então permitir que essas emoções sejam ressignificadas e se dissipem.

O luto, quando bem trabalhado, nos faz lembrar da vida e nos permite honrar a memória daqueles que se foram.

A vida tem um desejo inato de ser amada e respeitada, e a memória daqueles que partiram permanece em nós de várias formas. Por isso, ao invés de lastimar, pesar, sofrer, é sugerido que a gente aprenda a considerar o que foi. E quem sabe, aprender a celebrar quem já partiu através de boas histórias, replicar uma receita de bolo que a mãe fazia, comprar aquele aroma que faz você lembrar daquela pessoa, ou colocar a música que ela gostava e saudar, celebrar, agradecer o tempo que estiveram juntos. Existem várias formas de se fazer, não precisa ser com peso, com sofrimento e com lamentações permanentes e infinitas.

As pessoas que não conseguem liberar-se do luto permanecem enredadas em um ciclo prolongado de tristeza e melancolia. Não estão vendo suas vidas, não estão olhando para vida e sim para a morte, estão estacionando sua energia vital e seguem congeladas no trauma e criando somatizações e bloqueios emocionais e espirituais.

É curioso como a palavra LUTO tem sido utilizada. A etimologia da palavra luto vem do latim ‘luctus,us’, que significa dor, mágoa, lástima, aflição, pesar, lamentar. Quando a pessoa entra em luto ela entra em aflição, lamentação. Eu não gosto de usar a palavra’ luto’. Prefiro substituir pela palavra ‘honra’. A origem da palavra honrar vem do latim ‘honrare’, tratar com consideração e crédito. Prestar honra e respeito. Sinônimo de honrar é agradecer, enobrecer, elevar, engrandecer e valorizar.

Gosto de pensar por essa via. Ir ao cemitério faz parte da nossa cultura. Entretanto, entendo que mais importante do que ir aos túmulos, acender velas, levar flores, é saber, por exemplo, que os meus avós que já se foram deste plano físico, vivem em mim, através de mim. Nenhum pai morre, nenhuma mãe morre, porque a vida deles está dentro de nós.

Rava Midlej Duque é terapeuta sistêmica, consteladora familiar e especialista em Psicologia Gestacional.

Nocha em foto do jornalista Walmir Rosário
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Por muitos anos continuou a jogar os babas, sempre com a mesma categoria e virilidade de antigamente. Hoje critica o futebol jogado pra trás, sem arte, que não empolga os torcedores e nem produz grandes resultados.

 

Walmir Rosário

A célebre frase cunhada pelo zagueiro Moisés, em 1982, “zagueiro que se preza não pode ganhar o Belfort Duarte, aí perde o moral”, por certo não se aplicaria ao lateral direito itajuipense Nocha. Ele sabia como ninguém desarmar o adversário jogando o bom futebol, porém sabia ser viril quando a jogada merecia, muitas das vezes sem cometer falta, embora em alguns casos tivesse que parar o contrário com a energia necessária.

Nocha, que também atende por José Raimundo Freitas, do alto dos seus quase 81 anos, admite que sempre usou da habilidade e força necessárias para ganhar uma jogada nos clubes em que atuou, desde sua infância nos clubes de Itajuípe, até pendurar as chuteiras. E faz questão de ressaltar que nunca foi desleal com o adversário, pois sabia jogar futebol e não precisava recorrer à violência.

E foi justamente pela sua conduta em campo, destacando-se pelo futebol sério que jogava que foi descoberto pelos diretores do Bahia de Itajuípe, ainda menino, e levado para o time sensação do Sul da Bahia no final da década de 1950. E no Bahia de Itajuípe tanto fazia jogar no primeiro ou segundo quadro para ser reconhecido como um craque do futebol e cobiçado pelos clubes de Ilhéus, Itabuna e Salvador.

Seleção de Itabuna – Nocha, o penúltimo em pé, à direita || Arquivo Walmir Rosário

Na pujança do cacau, os cartolas do Bahia de Itajuípe – mesmo amador – iriam buscar um jogador que se destacava em qualquer cidade próxima, mantendo um verdadeiro “esquadrão de aço”. E como relembra Nocha, eles participavam da melhor vitrine do futebol do Sul da Bahia, recebiam constantes convites de outros clubes, na maioria das vezes bastante tentadores.

Ainda jovens, o que queriam eram jogar bola. E bem. Atrair a atenção dos amantes do bom futebol e ganhar presentes, fossem em dinheiro ou outros bens materiais como era praxe nos clubes amadores dirigidos por pessoas de grandes posses. Vencer uma partida era “bicho” garantido, um campeonato, então, o “carvão” caia direto. E na assinatura e renovação de contrato era só felicidade.

E assim Nocha recebe uma proposta tentadora do Janízaros, de Itabuna, e deixa o Bahia de Itajuípe. Com ele também mudam outros craques itajuipenses. No novo clube era uma garantia jogar na Seleção de Itabuna, que chegou ao Hexacampeonato ao vencer o Campeonato Intermunicipal Baiano por seis vezes seguidas. E Nocha era um desses craques vencedores.

Após vencer alguns campeonatos no Janízaros se transfere para o Flamengo de Itabuna, no qual também se torna vencedor de campeonatos. E Nocha nem se preocupa com a mudança de time, pois também jogava ao lado da “nata” do futebol itabunense, colegas na brilhante seleção de Itabuna. E era grande a rivalidade nesses clubes no campeonato de Itabuna, em que Janízaros, Flamengo e Fluminense se revezavam nos títulos.

E a rivalidade não era apenas nas torcidas. Dentro de campo, os colegas da seleção eram adversários e o lateral-direito Nocha tinha a obrigação de marcar o maior ponta-esquerda que se teve notícia em Itabuna, na Bahia e quiçá no Brasil, Fernando Riela. Mas essa contenda não abalava Nocha, que marcava seu oponente jogando o bom futebol. E a renhida disputa era equilibrada, com vantagens alternadas a cada jogo.

As décadas de 1950 e 60 foram notabilizadas pelo bom futebol, jogado por craques que prezavam a camisa que vestiam, principalmente na Seleção de Itabuna. E não era pra menos, a cada ano acumulava mais um título, vencido com galhardia, contra bons adversários, a exemplo de Ilhéus, Feira de Santana, Alagoinhas, Belmonte, Santo Amaro, São Félix, Jequié, dentre outros.

Merecem destaque a eterna rivalidade entre Ilhéus e Itabuna, duas das maiores seleções. E Itabuna sempre levou a melhor, desclassificando o selecionado ilheense, um timaço, como lembra Nocha, que faz questão de ressaltar nunca ter perdido uma partida para a seleção praiana. Outro destaque lembrado por Nocha foram as partidas contra os grandes times do Rio de Janeiro, em que jogavam de igual para igual. Sem medo.

Em 1967, com a fundação do Itabuna Esporte Clube, Nocha se profissionaliza e participa da primeira equipe que jogou o Campeonato Baiano de Profissionais, junto com outros colegas da Seleção de Itabuna. Quando sentiu que era chegada a hora de parar de jogar o futebol profissional, ainda no auge, deixa o Itabuna Esporte Clube. Poderia ter jogado mais um ou dois anos, mas preferiu sair por cima, deixando boa lembrança na memória dos torcedores.

Mas Nocha não abandonou o futebol e passou a atuar nos times amadores de Itajuípe, notadamente o Grêmio e o Santa Cruz, pelos quais disputou mais partidas. E por muitos anos continuou a jogar os babas, sempre com a mesma categoria e virilidade de antigamente. Hoje critica o futebol jogado pra trás, sem arte, que não empolga os torcedores e nem produz grandes resultados.

Prestes a completar 81 anos, Nocha mantém uma invejável forma física, passeia diariamente pelas ruas de Itajuípe, visita os amigos, faz compras e conversa sobre futebol. Com a simplicidade, diz não recordar muito do seu passado até a conversa fluir e relatar os bons tempos nos campo de futebol. Como diz o ditado: Quem foi rei nunca perde a majestade. E Nocha continua sendo uma referência no bom futebol do Sul da Bahia.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor d´Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Pilhado, o sujeito foi a Otávio Moura, editor do Diário da Tarde, e disse para falar com Alberto Hoisel que o respeitasse, que era reserva moral da cidade e que não admitiria tal falta de respeito. Se o epigramista continuasse, ele iria responder. O editor apavorou.

 

Carlos Pereira Neto Siuffo

Alberto Hoisel foi o melhor epigramista que Ilhéus já teve. Era quase um gênio. Um dia chegou na cidade um sujeito que se achava muito importante e espalhou que era candidato a prefeito. Alberto publicou no Diário da Tarde: “Em Ilhéus qualquer sujeito/que quer ter notoriedade/espalha pela cidade/que é candidato a prefeito”.

Pois bem, na cidade, tinha um professor muito querido que, em toda eleição, anunciava que seria candidato. Às vezes desistia no meio do caminho. Noutras era lanterninha. A turma da maledicência procurou o lente e o convenceu que a quadrinha era para ele.

Pilhado, o sujeito foi a Otávio Moura, editor do Diário da Tarde, e disse para falar com Alberto Hoisel que o respeitasse, que era reserva moral da cidade e que não admitiria tal falta de respeito. Se o epigramista continuasse, ele iria responder. O editor apavorou. Esse era o grande problema. As palestras do professor levavam quatro horas, um latinídio só, e todo mundo dormia. Seus artigos ocupavam todas as páginas do jornal, que encalhava.

Otávio Moura procurou Alberto, contou o ocorrido e pediu para parar. Surpreso, o autor disse que o epigrama não havia sido feito para a ilustre figura, mas, se a carapuça tinha servido, o problema era dele. Aí publicou outro epigrama: “Essa gente que desista/seus gritos não fazem eco/em Ilhéus ninguém é paulista/para votar em Cacareco”. Cacareco era o nome da rinoceronte que, em 1959, recebeu quase 100 mil votos para a vereança na cidade de São Paulo.

O professor cumpriu a promessa e escreveu um artigo de seis laudas. Ocupou todas as páginas do diário, inclusive a manchete. Otávio falou para Alberto: “Eu não disse!”. De quebra, o epigramista lascou os últimos versos:  “Arrependo-me se peco/para que o céu me abençoe/se eu ofendi Cacareco/Cacareco me perdoe.”

Ao final, a pessoa a quem eram direcionados os epigramas desistiu da candidatura, e o nosso querido professor foi candidato. Novamente, ficou na lanterninha.

Carlos Pereira Neto Siuffo é professor da Uesc.

Orlando Cardoso, um exemplo sempre lembrado
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Orlando legislou por dois mandatos de 6 anos e se tornou um vereador conceituado nos 12 anos em que passou no legislativo. Não barganhou votos, não negociou favores, mas se empenhou nas reivindicações da população.

 

Walmir Rosário

Se o sucesso do narrador esportivo Orlando Cardoso multiplicava a cada dia, assim que passou a criar e apresentar programas de músicas e variedades, então, crescia exponencialmente. E a cada vitória da magnífica Seleção de Itabuna no Campeonato Intermunicipal seu prestígio aumentava, em função do seu amor pela equipe e forma apaixonada de transmitir as partidas e apresentar os programas.

Orlando Cardoso não apenas narrava o caminho percorrido pela bola e os jogadores, ele sabia transmitir emoção ao ouvinte, sentimento que se tornava comoção com os gols marcados pelos craques que comandavam o ataque do selecionado itabunense. Nos programas de músicas e variedades não era diferente, pois sabia tocar o coração, o fundo da alma dos ouvintes, com palavras de conforto, carinho e alegria.

Comunicador de palavra fácil (não confundir com Luiz Mendes, o comentarista da palavra fácil), não precisava empolar o texto, engrossar a voz, forçar o grave. Bastava falar ao ouvinte como fazia em sua vida normal, manter sua identidade. E assim tocava uma música, contava uma piada, mandava um alô com bastante intimidade ao amigo. Com isso ganhou cadeira cativa nas residências, nas empresas, onde quer que estivesse o ouvinte.

E Orlando Cardoso passou a ser um membro das famílias, e não raro recebia convites para almoços, aniversários, festas em geral. E passou a visitar essas pessoas com mais frequência, como retribuição ao carinho que era tratado. Certa feita, ao visitar uma pequena comunidade na área rural, foi recebido por quase toda a população, que fazia questão de ver pessoalmente o amigo que chegava diariamente pelas ondas do rádio.

Sua popularidade era tamanha que era tratado nas ruas com os bordões que utilizava. Em vez do tradicional bom dia, era cumprimentado de forma carinhosa: “É gol itabunense, torcida grapiúna”, ou “O barbante estufou, o escore mudou”. Foi aconselhado a postular uma vaga na câmara municipal, pois teria mais condições de solucionar os problemas da comunidade, muito deles reivindicados pelo rádio.

E Orlando Cardoso aceitou o encargo, mas pautou sua campanha de forma diametralmente oposta aos outros candidatos, sem as costumeiras promessas de fazer e acontecer, como se fosse o guardião do cofre municipal. De maneira singela, dizia não prometer nada, a não ser o empenho político, pois como nunca tinha sido vereador, não sabia com precisão o que poderia realizar, cumprir as promessas.

Os parcos recursos da campanha se destinaram à confecção de santinhos, dentre outras pequenas despesas inerentes. O sucesso e a confiança obtida no rádio foi transmitida à campanha vitoriosa. Legislou por dois mandatos de 6 anos e se tornou um vereador conceituado nos 12 anos em que passou no legislativo. Não barganhou votos, não negociou favores, mas se empenhou nas reivindicações da população.

Enquanto exerceu os mandatos continuou narrando partidas de futebol, apresentando seu programa radiofônico com a mesma desenvoltura de antes, distinguindo e separando as obrigações assumidas com os ouvintes e eleitores. E fazia questão de revelar sua conduta antes de depois de eleito, com a mesma seriedade que sempre pautou sua vida. Continuou sendo o Orlando Cardoso alegre, festeiro, atencioso de sempre.

Certa feita o vereador Orlando Cardoso foi procurado por uma pessoa do bairro da Conceição, onde morava e mora, solicitando seus préstimos no legislativo para propor um projeto de lei de mudança de nome de rua. Coisa simples, um parente – também amigo de Orlando e com prestígio no bairro – teria morrido e poderia ser homenageado emprestando seu nome na rua em que morou por muitos anos.

Sem querer desagradar a pessoa, o vereador Orlando Cardoso agradeceu e disse que se sentia honrado pela sua escolha e com toda a sinceridade que Deus lhe deu, propôs uma simples condição. Como a rua já homenageava outra pessoa, ele sugeriu que a proponente elaborasse um abaixo-assinado subscrito por todos os moradores endossando a mudança do nome da rua, que ele apresentaria o projeto.

Dois dias depois foi procurado pela mesma pessoa, que agradeceu a atenção do vereador e pediu que não desse andamento à proposição, pois na primeira casa em que ela teria visitado era justamente a da família do atual homenageado. E mais, teria tratado a proponente com aspereza e prometeu ir às vias de fato caso houvesse a mudança no nome da daquela rua. E não se falou mais nisso.

Nas votações de projetos importantes a Câmara de Vereadores se transformava num fervedouro, com a movimentação de políticos dos mais variados partidos e bancadas, representantes do Executivo cabalando votos para a aprovação ou rejeição. Na maioria das vezes com vantagens eleitoreiras. Nessas ocasiões, o vereador Orlando Cardoso ouvia a todos com atenção e manifestava seu voto de acordo com a importância do projeto e sua consciência, sem qualquer alarde.

Ao deixar a política continuou exercendo seu trabalho diário na apresentação de seu programa, a gravação de publicidade e a divulgação por meio de carro de som, gozando do mesmo respeito de antes. Até hoje, sempre que no meio político ou na comunicação alguém tece comentários sobre o comportamento dos vereadores, seu nome é lembrado como um exemplo a ser seguido.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor de Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Transporte público deverá demandar a atenção de candidatos em 2024 || Foto ABr
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As propostas para melhorar o transporte público podem ser um diferencial importante para conquistar o voto dos eleitores.

 

Oscar Silva

Os principais fatores que contribuem para a crise no transporte público são:

* Falta de investimento – O transporte público é um serviço essencial, mas que muitas vezes é negligenciado pelos governos. A falta de investimento em infraestrutura, frota e pessoal leva a um serviço de qualidade inferior, com atrasos, lotação e aumento da tarifa.

* Gestão ineficiente – A gestão do transporte público também é um problema. Muitas vezes, os contratos são mal feitos, as empresas são ineficientes e os serviços são prestados de forma inadequada.

* Aumento da demanda – O crescimento populacional e a urbanização também contribuem para a crise no transporte público. A demanda por transporte aumenta, mas a oferta não acompanha.

A crise no transporte público tem um impacto negativo na qualidade de vida da população. Os usuários do transporte público são frequentemente prejudicados por atrasos, lotação e aumento da tarifa. Isso afeta o acesso ao trabalho, à educação e aos serviços essenciais.

Nas eleições municipais, a crise no transporte público é um tema que pode influenciar o voto dos eleitores. Os candidatos que apresentarem propostas concretas para melhorar o transporte público podem ter mais chances de vencer.

A seguir, são apresentados alguns exemplos de como a crise no transporte público pode influenciar as eleições municipais:

* Eleitores podem votar em candidatos que prometem melhorar o transporte público. Se um candidato apresentar propostas concretas para melhorar o transporte público, ele pode conquistar o voto dos eleitores que estão insatisfeitos com o serviço atual.

* Eleitores podem votar em candidatos que representam partidos ou movimentos que defendem a melhoria do transporte público. Se um partido ou movimento tem uma agenda clara de defesa do transporte público, ele pode conquistar o voto dos eleitores que estão preocupados com esse tema.

*Eleitores podem votar em candidatos que representam bairros ou regiões que são mais afetados pela crise no transporte público. Se um bairro ou região está enfrentando problemas graves com o transporte público, os eleitores podem votar em candidatos que prometem resolver esses problemas.

É importante que os candidatos às eleições municipais estejam cientes da importância do transporte público para a população. As propostas para melhorar o transporte público podem ser um diferencial importante para conquistar o voto dos eleitores.

Oscar Silva é diretor da Compasso Pesquisa.

Lula e Biden durante lançamento de ação global em prol do trabalho digno || Foto Ricardo Stuckert
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A iniciativa conjunta dos presidentes Lula e Biden pode marcar um ponto de virada na tendência das políticas estatais para o mundo do Trabalho.

 

 

 

 

 

 

Rodrigo Cardoso

O recente comunicado dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, Lula e Joe Biden, na “Declaração Conjunta Brasil-EUA sobre a Parceria pelo Direito dos Trabalhadores,” marca um momento significativo na agenda global da luta por trabalho digno. O documento delineia um conjunto abrangente de temas que incluem a proteção dos direitos dos trabalhadores, o fim do trabalho forçado e do trabalho infantil, a promoção de condições de trabalho seguras e saudáveis, a ênfase na transição digital e energética centrada nos trabalhadores, a utilização da tecnologia para benefício de todos e o combate à discriminação no local de trabalho.

É interessante notar que, por parte de Joe Biden, essa ação pode ser interpretada como uma tática para envolver o movimento sindical norte-americano em sua campanha à reeleição. Esse movimento tem passado por um certo renascimento, com uma crescente participação de jovens trabalhadores afetados pela precarização do trabalho, baixos salários e altas dívidas estudantis, o que torna o apoio sindical um recurso valioso em sua dura disputa com o ex-presidente Donald Trump.

Entretanto, não podemos subestimar o impacto potencial dessa iniciativa, considerando o contexto histórico. A eleição de governos neoliberais, como os de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, teve um papel paradigmático na promoção de soluções conservadoras à crise do Wellfare State, que resultaram na diminuição do papel do Estado na economia, na retirada de direitos trabalhistas e na redução de investimentos sociais em todo o mundo, desde a década de 1980.

A tendência que se estabeleceu foi da superexploração do trabalho, desregulamentação dos mercados e diminuição de impostos para os mais ricos em busca da maximização dos lucros. Como bem demonstra o economista francês Thomas Picketty em seu mais recente livro, Capital e Ideologia, esses fatores somados às enormes diferenças nas oportunidades educacionais e ao acúmulo histórico de desigualdades de renda e de patrimônio, têm causado uma tendência à intensificação da concentração de renda e patrimônio em pequenas elites, que correspondem, muitas vezes, a menos de 0,1% da população.

Esse documento, que deve ser levado para a discussão com outros países na reunião do G20 e nas próximas COP’s, tem potencial para marcar uma inflexão nessa tendência. A necessidade de um retorno qualificado do papel do Estado ficou evidente com a mais recente crise financeira, a pandemia de Covid-19 e a ameaçadora crise ambiental. Esses eventos destacaram a importância de políticas públicas que protejam os trabalhadores, promovam a equidade e atendam às necessidades da sociedade.

Nesse sentido, também é importante que trabalhadores e trabalhadoras organizados valorizem e fortaleçam iniciativas públicas já estabelecidas que remam contra a maré da desregulamentação e buscam a promoção do trabalho decente. Um exemplo é a ação da Secretaria de Trabalho, Emprego e Renda da Bahia, Setre, que, ao longo dos últimos 16 anos, tem se destacado como principal experiência política de um estado subnacional na promoção do Trabalho Decente.

A Pasta atua em várias frentes, como a erradicação do trabalho escravo  e infantil; promoção da segurança e saúde do trabalhador; igualdade de raça, gênero e da pessoa com deficiência; valorização do serviço público e do trabalho doméstico; e estímulo a empregos verde e para a juventude. Além disso, a Setre passou a investir em uma rede de núcleo de difusão do trabalho decente nos 27 territórios de identidade da Bahia.

Portanto, no atual contexto, a iniciativa conjunta dos presidentes Lula e Biden pode marcar um ponto de virada na tendência das políticas estatais para o mundo do Trabalho. Mobilizações sociais e disputas políticas sempre foram o motor para as transformações e não será diferente em relação a esse tema. A ênfase na justiça social, direitos dos trabalhadores e a transição para uma economia mais sustentável é um sinal de mudança importante. No entanto, o sucesso dessa empreitada dependerá da decisão política sustentada pelo povo para implementar as medidas propostas e superar os desafios globais que persistem.

Rodrigo Cardoso é presidente do Sindicato dos Bancários de Ilhéus e membro da direção estadual do PCdoB.

Eduardo Mello autografa a tradicional Cachaça Coqueiro, de Paraty (RJ)
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Se a moda pega, Eduardinho tem que se preparar para fortalecer a munheca.

Walmir Rosário

Confesso que do alto dos meus bem vividos setenta e tantos janeiros já vi muita coisa nesta vida, mas sempre me surpreendo com algumas novidades a que somos apresentados nos dias atuais. É uma simples constatação de que por mais conhecimentos que temos, sempre existe uma novidade a presenciar, não simplesmente por ouvir dizer, mas ao vivo e em cores, como afirmava aquela propaganda televisiva de recuados anos.

E vou logo dando uma pista para não amolar o prezado leitor: o que vou citar é costume antigo, praticado por gente famosa, acostumada a fazer sucesso com determinadas atividades, quase que exclusivamente artística. Pelo que sempre vi, esse hábito era para quem cantava, tocava instrumentos, atuava nos palcos de teatro, filmes e novelas. Mas teria que fazer muito sucesso.

O assédio era total em determinados artistas, tanto que eram formadas filas enormes nas saídas das emissoras de rádio e TV e as multidões de fãs conseguiam furar os bloqueios em busca do tão sonhado autógrafo. Euforia e desmaios eram comuns no passado, quando uma fã conseguia ultrapassar a barreira de segurança e voltava com o autógrafo do seu ídolo escrito no caderninho.

Diziam as revistas focadas nas especulações artísticas que muitas dessas multidões eram “fabricadas” pelas próprias gravadores e agentes dos artistas para dar uma mãozinha na carreira de sucesso que viria a acontecer com mais rapidez. Lembro até de um português cujo troféu buscado não era o simples autógrafo, o que lhe satisfazia era beijar a pessoa famosa, fosse homem ou mulher, daí seu apelido de beijoqueiro.

Com o tempo, vimos diminuir esse interesse pelos autógrafos, até porque ninguém – ou quase nenhum vivente – tem o velho costume de carregar lápis, caneta ou um pedaço de papel nos bolsos ou bolsa. Coisa do passado que não volta mais. Agora – há cerca de 15 anos ou mais – o costume é foto do tipo selfie, lado a lado do famoso de estimação. Basta publicar instantaneamente nas redes sociais e cruzar o mundo em um segundo.

Alguns artistas têm ojeriza à multidões – inclusive de fãs – e dão um jeitinho de não se aproximar das legiões de tietes, seja por uma logística competente ou mesmo por mau humor. Outros nem tanto, pacientemente param, acenam posam para as selfies, causando o desespero de sua entourage. Não critico os que se escusam, pois faz parte do seu modo de vida, mesmo que dependa do sucesso.

Dia desses vi no YouTube um lançamento de um livro, numa grande livraria de São Paulo, capital. Uma fila quilométrica, de dobrar quarteirões, em que pessoas aguardavam, pacientemente, pelo seu autógrafo no livro recém-lançado. O autor em questão era o advogado e jornalista Tiago Pavinatto, que apresentava sua mais recente obra: Da Silva: “A Grande Fake News da Esquerda”. Um fenômeno.

Não é todo o santo dia que presenciamos tamanho sucesso, principalmente quando o centro das atenções é um livro, mesmo sendo o autor um personagem na crista da onda nas áreas da comunicação e da política. Pelo que soube, algumas pesquisas já creditavam tamanho apoio na próxima eleição para o cargo presidencial, embora ele sempre negue pretensão de ingressar nesse meandro.

Pois bem, neste fim de semana me deparo com outro sucesso absoluto em plena cidade maravilhosa, o Rio de Janeiro. Exatamente no dia 13 de setembro de 2023, uma quarta-feira à noite, e o local, pelo que soube, era a Academia da Cachaça. Sentado à mesa, lá estava o meu amigo Eduardo Mello, CEO da Destilaria Engenho D’água, de Paraty, autografando litros e garrafas da conceituada cachaça que fabrica: a Coqueiro.

Diante de tal cena pergunto pelo WhatsApp ao meu amigo Antônio Mello (Neguinho), irmão de Eduardo, que me descreva a imagem, embora tenha enxergado bem com esses olhos que a terra um dia há comer. E como resposta, fico sabendo que a cada viagem do comendador Eduardinho o ritual se repete por uma legião de cachaceiros (consumidores) de boa cepa, que fazem questão de levar pra suas adegas as garrafas devidamente autografadas.

Apesar de não ter perguntado, ficou subtendido que não basta ao nobre consumidor desta iguaria paratiense levar pra casa um produto confiável, mas que também tenha um selo atestando o padrão de qualidade, afiançado pelo próprio fabricante. Não vejo a hora de voltar a Paraty para sentarmos à mesa – quem sabe no próprio alambique – para jogar conversa fora enquanto Eduardinho autografa garrafa por garrafa de Coqueiro.

Com essas preciosidades, mesmo que consuma todo o estoque em tempo recorde – isto é, antes de retornar a Paraty – posso expor as garrafas como verdadeiros troféus, mesmo que vazias à espera da reposição de um meu objeto de desejo, sonho de consumo, a boa cachaça. E digo isso com toda a autoridade de quem participou das farras com a Quero Essa e o início da produção da Coqueiro no seio da família Mello.

Se a moda pega, Eduardinho tem que se preparar para fortalecer a munheca.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor de Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Tempo de leitura: 3 minutos

A indicação de uma mulher negra e progressista ao STF seria mais um passo corajoso e necessário.

 

Rodrigo Cardoso

O debate sobre a indicação do presidente Lula para a vaga que surgirá no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria da ministra Rosa Weber já ocupa o debate público. Enquanto a grande mídia foca nas fontes palacianas que sugerem mais uma indicação “tradicional”, surgiu originalmente de entidades, ativistas e intelectuais do movimento negro, mas já se espalha por diversos setores sociais, uma campanha para que Lula escolha uma jurista progressista negra.

Na atual composição da Suprema Corte, é inegável que a representatividade está longe de ser ideal. Com nenhum ministro negro e apenas duas mulheres entre os onze membros, a diversidade e a inclusão no órgão mais alto da Justiça brasileira são desafios evidentes que precisam ser superados.

Também se nota grande divergência na própria base social de apoio do presidente Lula em relação a essa questão. Talvez contaminada pela polêmica em torno da primeira indicação, do advogado Cristiano Zanin, cuja atuação brilhante demonstrando a perseguição judicial ilegal que atingiu a Lula valeu elogios de todos os democratas. Inclusive de juristas conservadores, como o ministro Gilmar Mendes, que, emocionado, declarou durante o julgamento que a atuação do mesmo honrou a história da advocacia brasileira.

Zanin, apesar de sua inegável contribuição para a democracia e a defesa do Estado de Direito, tem perfil conservador em diversos aspectos, tendo se notabilizado também por advogar para grandes empresas. Foi alvo de diversos ataques, à direita e à esquerda, antes e depois da nomeação.

Alguns setores argumentam que essa pressão, mesmo com viés progressista, enfraquece o governo. Lembram das polêmicas Jornadas de Junho de 2013, que, ao fragilizar o governo Dilma, de certa forma, teriam aberto caminho para sua derrubada e posterior ascensão da extrema-direita protofascista ao centro do poder. No entanto, é importante lembrar que o próprio presidente Lula tem incentivado a pressão social por causas populares, como forma de equilibrar os interesses econômicos poderosos que sempre exerceram grande influência sobre a política brasileira.

Outros até entendem o quanto é estratégico para o avanço das demandas sociais que o indicado seja alguém progressista. Porém, buscam desqualificar como meramente “identitária” a reivindicação para que o presidente atente, também, para a necessidade de garantir a presença de negros e mulheres no STF.

Aí nos perguntamos: e por que não uma mulher negra? Se admite-se que existem diversas pessoas com esse perfil representativo, negros e mulheres, progressistas, com notório saber jurídico e moral ilibada, por que o STF é e deve continuar sendo composto 100% por brancos?

Por que essa “maioria minorizada” (conceito simples, que traz diversas questões profundas, exposto em recente ensaio de mesmo título publicado pelo professor Richard Santos, da UFSB) do povo brasileiro deve continuar sendo excluída, em especial nos espaços públicos e de poder?

No mesmo livro, o docente da Universidade Federal do Sul da Bahia lembra do questionamento do professor Milton Santos sobre a ação política consequente necessária para tratar eticamente a questão do negro no Brasil. Após 135 anos da abolição da escravidão oficial, devemos esperar mais outro século para obter direito a uma participação plena na vida nacional?

A indicação de uma mulher negra progressista ao STF seria mais um passo corajoso e necessário. Além de uma mensagem de simbolismo muito forte para que os milhões de negros e negras, que compomos a maioria do povo brasileiro, possamos sentir que é possível participar de um verdadeiro projeto de nação, que queira incluir a todos e todas de forma igualitária na construção de um país desenvolvido, soberano e justo.

Rodrigo Cardoso é presidente do Sindicato dos Bancários de Ilhéus e membro da direção do PCdoB na Bahia.

Walmir Rosário recupera história do duelo futebolístico entre Belmonte e Itajuípe
Tempo de leitura: 4 minutos

Pires prometeu que nunca mais jogaria em Belmonte e abandonaria o futebol se tivesse que fazer outra partida naquela cidade.

 

 

 

 

 

 

 

Walmir Rosário

Quem jogou ou, pelo menos, acompanhou jogos do futebol amador em tempos passados sabe a dificuldade em disputar uma partida no campo adversário. Nas fazendas, então, era o parto da bezerra. O visitante era convidado a jogar, mas era impedido de ganhar. Para tanto, o árbitro era escolhido a dedo pelo mandante, com o dever de impedir, a qualquer custo, a vitória do time de fora. E não adiantava espernear.

Para não ficarmos falando só do passado, isso existe até hoje, não pela simples rivalidade entre as duas equipes, a exemplo de Itabuna e Ilhéus, que perdura aos dias atuais e não tem prazo para encerrar. Com as equipes profissionais convencionou-se dizer que nos seus domínios o adversário tem que agir com muita cautela, chegando a afirmar que o touro em pasto alheio não passa de bezerro. E os velhos alçapões estão aí.

Para não dizer que não saí da cozinha de casa, lembro bem das partidas entre os times brasileiros e argentinos nos estádios dos hermanos, que não respeitam a torcida, os árbitros e muito menos os adversários. Quando o resultado não já estava encomendado, eles o fabricavam, sem qualquer cerimônia ou receio das consequências legais que poderiam ser tomadas.

Não tenho base legal ou conhecimento para afirmar que os antigos dirigentes e torcedores da Seleção Amadora de Belmonte, no Sul da Bahia, herdaram esses costumes dos argentinos, mas que agiam parecido, isto é fato e não se pode negar. Que digam os atletas, dirigentes e torcedores das seleções amadoras de Canavieiras, Ilhéus, Itabuna nos velhos tempos do Campeonato Baiano de Amadores.

Pra início de conversa, assim que a seleção adversária chegava era recepcionada por uma comissão que tinha como objetivo atingir moralmente os adversários com palavras difamantes, ultrajantes e tudo o mais que a valha. Mas não ficava por aí, essas comissões se revezavam em frente a pensão que hospedava a delegação, e fazia muito barulho noite a dentro, evitando que dormissem o sono dos justos.

Uma solução encontrada por Itabuna foi viajar para Belmonte em aviões, os famosos teco-tecos, com a finalidade de chegar um pouco antes da partida. Os que se aventuravam ir de ônibus comiam o pão que o diabo amassou. Tinham que chacoalhar nas velhas “marinetes” da Sulba por quase 200 quilômetros. Aguentar a poeira os atoleiros, a depender da estação do ano.

No começo da década de 1960, a Seleção de Itajuípe tinha um compromisso com o selecionado de Belmonte pelo Campeonato Baiano de Amadores. Os dirigentes alugam um ônibus e saem no sábado bem cedo (um dia antes). No caminho desceram para empurrar o veículo várias vezes e conseguiram chegar com o sol caindo no horizonte. Foram ao estádio reconhecer o gramado e dali se dirigiram à pensão.

Por recomendação do presidente Jackson Hage e dos diretores Fernando Mansur e Tuffik, os jogadores não saíram da pensão para conhecer a cidade, por motivos óbvios. Mas não conseguiram dormir com a batucada na praça em frente, sob o comando da apaixonada torcida belmontense. E Itajuípe tinha que sair de Belmonte, no mínimo, com um empate, para disputar com a Seleção de Ilhéus. Mas o pensamento do grupo era ganhar o jogo.

E a partida não saia do 0X0. Mais ou menos aos 35 minutos do segundo tempo, o árbitro, do meio de campo, marcou um pênalti contra a Seleção de Itajuípe, sem qualquer motivo e fora de qualquer jogada. Não adiantaram as reclamações. O árbitro estava irredutível. Atrás do gol de Itajuípe, uma pessoa chegou para perto do goleiro Antônio Pires, tirou o revólver da cintura e disse: “Se você se mexer na área eu lhe encho de chumbo”.

Ao presenciarem a cena, os jogadores da Seleção de Itajuípe comunicaram o fato à diretoria, que por sua vez chamou a polícia, que confirmou a arma e a estranha ameaça. Não se sabe o motivo e o poder do agressor, já que os policiais não o prenderam. Apenas se dividiram em dois grupos, um junto ao ameaçador e outro ao lado da trave, no sentido de evitar que o crime se consumasse, caso o goleiro Pires pegasse o pênalti.

Confusão amainada, o jogador do selecionado belmontense chuta a bola e o goleiro Pires a encaixa com segurança. Mesmo com a proteção dos policiais, o ameaçador continua prometendo transformar Pires numa tábua de pirulito, pelos tiros que prometia dar. O árbitro é obrigado a interromper o jogo, pois todos os jogadores formaram um cordão de isolamento para proteger o goleiro ameaçado.

A única solução encontrada pelos dirigentes foi fretar um avião teco-teco e transferir Pires para Ilhéus. Embarcaram Pires em um jipe, na companhia de Fernando Mansur e Tuffik, além dos policiais, para levá-los ao avião, enquanto em outro jipe ficou o agressor cercado de policiais. Assim que o teco-teco levanta voo, o jogo é retomado, com o goleiro reserva no lugar de Pires, e o placar de 0X0 foi mantido, apesar do desespero dos itajuipenses.

Pires prometeu que nunca mais jogaria em Belmonte e abandonaria o futebol se tivesse que fazer outra partida naquela cidade. E não se falou mais nisso.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor de Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Existe uma grande expectativa de um conjunto cada vez maior da sociedade em credibilizar o atual gestor como alguém que vai superar os gargalos locais.

 

Rosivaldo Pinheiro

Apesar da busca, por alguns, para anular os feitos da atual gestão de Itabuna, numa disputa intelectualmente desleal por poder, o município vive um momento pujante jamais imaginado nos últimos anos: desde a reconstrução financeira e fiscal a investimentos estruturantes já perceptíveis e celebrados por grande parte da população.

Na lista, o fechamento do lixão, a implantação da coleta seletiva e destinação dos resíduos sólidos para o aterro sanitário ambientalmente legalizado, requalificação de escolas, de unidades de saúde, praças, iluminação pública com substituição de braços de energia e lâmpadas comuns por LED, abertura de um hospital de campanha para vítimas da Covid, reabertura e requalificação de hospitais – Cemepi, Otaciana Pinto (Mãe Pobre), São Lucas – e ampliação do Hospital de Base, onde já foi implantado um centro de imagem. Além de tudo isso, a regularidade nos pagamentos dos serviços de média e alta complexidades aos prestadores, dentre eles, a Santa Casa, que deixou de viver sob permanente ameaça de greve dos funcionários.

Também o funcionalismo municipal vive um novo e esperançoso momento, com um calendário de pagamentos com antecipação salarial mensalmente registrada, que teve o último reajuste de 8,5%, acima da inflação, e que está em fase de celebração do plano de cargo, carreira e salários. Na educação, os professores receberam todos os reajustes estabelecidos pelo governo federal, e terão, no próximo ano, acesso aos recursos dos precatórios, uma espera que já ultrapassava uma década. Na economia, a atração de novos investimentos da iniciativa privada. No esporte, a construção de Areninhas, campos de futebol e a requalificação do Itabunão, prevista para iniciar em breve.

Importante fazer destaque nessa reconstrução da cidade para três instrumentos de mudança de status: o programa Mais Água, que permitirá ampliação de armazenamento e distribuição de água para mais de 160 mil pessoas ao final da sua estruturação, e o melhoramento viário dos bairros através de recursos capitados na ordem de R$ 115 milhões junto ao Banco do Brasil e o empréstimo internacional junto ao Fundo da Bacia do Plata (Fonplata), ambos com garantia do tesouro nacional.

Os recursos do Fonplata poderão ser utilizados e aplicados em até cinco anos, contados a partir de 2024. Eles garantirão equipamentos de grande impacto para a qualidade de mobilidade e, consequentemente, de vida em Itabuna e região, com a construção de pontes, viaduto, redução da carga de esgoto no Rio Cachoeira (projeto da Emasa) e outras intervenções importantes para uma nova configuração urbanística da cidade.

Por todas essas iniciativas, existe uma grande expectativa de um conjunto cada vez maior da sociedade local em credibilizar o atual gestor como alguém que vai superar os gargalos locais. Augusto Castro tem capilaridade junto ao governo do Estado e à União capazes de fazer uma virada de chave, trazendo à luz desse sentimento um novo ciclo local de desenvolvimento.

Rosivaldo Pinheiro é comunicador, economista, especialista em Planejamento de Cidades e secretário de Governo de Itabuna.

Ao lado de Silmara Sousa, Orlando Cardoso entrevista Jorge Braga, ex-presidente da CDL Itabuna
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Era 26 de fevereiro de 1961. Em meados de abril, o diretor de Broadcast da Rádio Difusora, Lourival Ferreira, o convoca para assumir o comando das narrações, e sozinho.

 

Walmir Rosário

Dizem os estudiosos em física e matemática que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Até que poderia, mas as probabilidades seriam remotas, ínfimas. Não concordo, mesmo tendo consciência de que sou, cientificamente, um ignorante nesses assuntos. E rebato essa tese apresentando prova em contrário, reconhecida e testada em todos os lugares em que as ondas do rádio de Itabuna alcançaram e fizeram sucesso.

E minha tese, como disse, tem nome e sobrenome, Orlando Cardoso Melo, com 62 anos dedicados ao rádio. Pelas minhas contas, seriam 63, mas como ele não coloca sua primeira experiência no currículo, acato a idade radiofônica em questão. E Orlando desempenha, ainda, com maestria tudo o que criou e fez no rádio, como transmissões esportivas, apresentação de resenhas, programas musicais, informativos e o que mais apareça.

E ele chegou ao rádio por acaso. A primeira vez em que o raio (do rádio) caiu foi em 1960, na antiga Rádio Clube de Itabuna, por obra e graça de Cristóvão Colombo Crispim de Carvalho, o CCCC, que solicita para que Orlando Cardoso gravasse um jogo imaginário em seu gravador (de Crispim). Feito o teste, aprovado, foi convidado a narrar uma partida preliminar do Campeonato de Itabuna. Perfeito para a primeira vez.

Foi convidado a fazer parte da equipe comandada por José Maria Gottschalk, com Gérson Souza, Crispim, dentre outros. Aceitou. A emissora estava ampliando o quadro do esporte, com Leovaldo Almeida, Edson Almeida, Geraldo Santos, e Leovaldo e o designou para a redação da resenha. Perguntou se “batia a máquina”, como a resposta foi negativa, ordenou que se matriculasse numa escola de datilografia.

Orlando não deu as caras na emissora e continuou seu trabalho na Loja Osgonçalves, esqueceu a quase nova profissão de radialista, para desgosto de Crispim. Vida que segue, em 1961 inicia o serviço militar no Tiro de Guerra, sob o comando do então sargento Paulo. Num desses domingos, ao encerrar a instrução, o sargento anuncia que o radialista Romilton Teles teria convidado a todos para participarem do programa Show da Alegria, na Rádio Difusora.

E o raio tornou a cair no mesmo lugar. Romilton Teles anuncia que os atiradores podem se apresentar com o que sabem fazer de melhor: cantar, dançar, recitar poesia. Um colega engrena a música Esmeralda e incentiva a apresentação dos demais. Para surpresa da plateia, Orlando Cardoso se candidata a narrar um jogo entre o Vasco da Gama e o Real Madri, pois tinha escutado esse jogo no meio da semana, com o gol de Delem.

Assim que recebeu o microfone das mãos de Romilton, Orlando pede a ajuda da galera e botou o tom fora, até anunciar o gol do Vasco. Se junta aos demais e em seguida é convocado para voltar à emissora na quarta-feira, para se encontrar com o diretor-geral Hercílio Nunes. Se apresenta, mas como o diretor estava numa reunião, pede que ele vá no domingo ao Campo da Desportiva e que chegue mais cedo, pois narrará uma partida.

Chega cedo como aprazado e Hercílio abre a transmissão, anuncia o novo contratado, que narrará o jogo em conjunto com o titular, Luiz Alves. E cada um narraria o jogo numa metade do campo, como faziam Jorge Curi e Antônio Cordeiro na Rádio Nacional. Era 26 de fevereiro de 1961. Em meados de abril, o diretor de Broadcast da Rádio Difusora, Lourival Ferreira, o convoca para assumir o comando das narrações, e sozinho.

No próximo domingo já estreou no Estádio Mário Pessoa, em Ilhéus, transmitindo Seleção de Ilhéus e Bonsucesso, do Rio de Janeiro. E não parou mais. Apresentou resenhas e inovou ao criar e apresentar um programa com músicas de Carnaval, só que fora do Carnaval. Mesmo contra a opinião de Hercílio Nunes, apresentava aos domingos, das 7 às 9 horas, Carnaval Toda a Vida, e a primeira música tocada foi Roubei a mulher do rei.

Enquanto isso, fazia de tudo para continuar nas duas ocupações, a Osgonçalves e a Difusora, até quando não deu mais e deixou a loja. Assim que avisou a Hercílio que estava “desempregado” da loja, recebeu a proposta para apresentar um novo programa, à tarde. Descansou merecidos 15 dias e passou a apresentar o programa Discoteca Jovem de Ontem, com músicas passadas, que caiu, imediatamente, no gosto dos ouvintes.

E Orlando Cardoso se consolidou no rádio itabunense e regional pela alegria em que narrava as partidas de futebol e as apresentações dos programas musicais, contando piadas e mandando os alôs para os ouvintes. Nas ruas e estádios era cumprimentado com os bordões que criava, era convidado a ir às casas dos ouvintes, e sempre chegava com a mesma alegria do rádio.

No futebol, criou bordões que fizeram muito sucesso e são lembrados e imitados até hoje. E os ouvintes iam ao delírio quando ouviam Orlando gritar: “Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo do futebol”, subtraído da ideia de Fiori Gigliotti; “Gol itabunense, torcida grapiúna”; “O barbante estufou, o escore mudou”; “Ora, ora, ora, agora, (para informar o horário,”, dentre outros. “Eles apareciam e eu incorporava ao repertório”, conta.

Após vários anos na Rádio Difusora, passa pela Rádio Nacional (ex-Clube) e Rádio Jornal de Itabuna, até retornar à Difusora, onde até hoje lidera a audiência com o Programa Panorama 640 (meia quatro zero). Comentam os colegas radialistas, que o programa não tem mais espaço algum para novas publicidades, o que configura o estrondoso sucesso de Orlando na Difusora e nas emissoras em que passou.

Em 1984 Orlando Cardoso finaliza sua participação como narrador esportivo, apesar dos constantes apelos dos ouvintes e colegas para que permanecesse por mais tempo. Narrou grandes partidas da Seleção Brasileira no Maracanã e no Maranhão; do Flamengo (3) na decisão do Campeonato Brasileiro contra o Atlético Mineiro (1); e em Campinas, na vitória do Guarani sobre o Itabuna por 7X1.

E Orlando Cardoso, torcedor do América carioca, sempre foi um eterno apaixonado pelo bom futebol da Seleção de Itabuna. Foi eleito vereador para dois mandatos de seis anos (cada) e é uma das pessoas mais populares de Itabuna e região. Aos 81 anos de idade e 62 de radialismo (63 se contar com a pequena passagem pela Rádio Clube), se considera um homem feliz e realizado com sua família.

Um homem com grandes histórias e que aqui serão contadas em muito breve.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor de Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Billi Holiday, a dama do blues || Foto The Art Archive / Library of Congress
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Billie diz ter pedido pra tocar Tra´velin All Alone, pois era o que mais se parecia com o que estava sentindo naquele momento. Silêncio total. Quando terminou as pessoas estavam chorando e ela pegou 38 dólares pelo chão.

 

Marival Guedes

Na rede de computadores ouvi casualmente Strange fruit (Billie Holiday). A composição fala sobre corpos de negros linchados e pendurados em árvores nos EUA. Dias depois, também por acaso, encontrei o livro Billie Holiday – Lady sings the blues – uma autobiografia. A publicação em Língua Portuguesa foi sugerida à editora Brasiliense pelo jornalista e biógrafo Ruy Castro, que fez a tradução e escreveu o posfácio.

Billie Holiday, aos dez anos, foi vítima de tentativa de estupro por um homem de 40 anos. Foi presa pela primeira vez injustamente, depois por porte de heroína e sofria constantes discriminações raciais, mesmo depois da fama.

A PRIMEIRA VEZ

A mãe era empregada doméstica e Billie diarista. Certa vez, a mãe, separada do pai, falou que seriam despejadas no dia seguinte, pois não tinha 56 dólares para pagar o aluguel. “Vou fazer qualquer coisa, mas trarei este dinheiro”, prometeu Billie.

Foi numa boate e pediu ao dono pra ser dançarina. No teste, em poucos minutos, foi interrompida e quando iam levá-la pra fora, continuou implorando emprego. O pianista apiedado perguntou se ela sabia cantar. Respondeu que sim, mas imaginou que não adiantaria. Gostava demais de cantar pra sonhar que poderia ganhar dinheiro profissionalmente.

Billie diz ter pedido pra tocar Tra´velin All Alone, pois era o que mais se parecia com o que estava sentindo naquele momento. Silêncio total. Quando terminou as pessoas estavam chorando e ela pegou 38 dólares pelo chão.

No final, mesmo dividindo com o pianista, conseguiu 57 dólares. No retorno pra casa, comprou um frango inteiro e feijão, comida que sua mãe adorava. Falou que conseguiu emprego de 18 dólares por semana. A mãe não acreditou, foi vê-la cantar e tornou-se sua maior incentivadora.

STRANGE FRUIT

Voltando à Strange Fruit, conta que o embrião foi um poema de Lewis Allen. Ele sugeriu que ela e o músico Sonny White transformassem em canção. Billie afirma que parecia falar das coisas que mataram o próprio pai, um músico que morreu vítima de problema pulmonar. O hospital não prestou atendimento por ele ser negro.

A primeira vez que cantou teve receio. Quando terminou não houve aplauso. Então, um jovem começou a aplaudir timidamente e de repente todas as pessoas aplaudiram. Por várias vezes empresários e produtores pediram pra ela não cantar esta composição. Billie desobedecia e foi intensamente perseguida pelo FBI por ordem do governo.

REAÇÕES AO RACISMO

Das histórias sobre discriminação racial destaco duas. Num voo com um amigo também negro, um homem branco na poltrona ao lado se mostrava bastante incomodado e olhava de soslaio para a dupla. De repente, fogo numa asa do avião. O homem pede pra segurar nas mãos deles e rezarem juntos. Billie respondeu: “O senhor vai morrer aí na sua poltrona, cavalheiro, e nós morreremos na nossa.”

Felizmente, a aeronave pousou sem maiores problemas.

Outro caso aconteceu quando passeava com uma amiga e o carro enguiçou. Ela pediu ajuda a um homem, que consertou e deu uma volta pra se certificar que estava tudo bem. E convidou a dupla para um bar. Ao chegar, um comediante se dirigiu à mesa do trio e falou: “pelo jeito você gosta de todos os tipos de mulheres.” Foi esmurrado. Quando retornou à mesa Billie falou que só agora o tinha reconhecido por causa do murro. Ele riu muito. Era o ator Clark Gable.

Billie morreu em 1959, aos 44 anos, “de enfarte, heroína e emoções em excesso”, escreveu Ruy Castro no posfácio. Diz ainda que ela “fundou sozinha uma dinastia de cantoras negras ou brancas que até hoje nos alimentam a alma”.

Marival Guedes é jornalista.

Campeonato Interbairros de Futebol em Itabuna || Foto Pedro Augusto/Arquivo
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Com a implantação do campeonato, os times jogavam nos campos de bairro e disputavam a final no Estádio Itabunão. Praticamente todos os jogos eram transmitidos pelas emissoras de rádio e com cobertura nas TVs locais. O domingo era, realmente, um dia de festa.

Walmir Rosário

Pouquíssimos municípios brasileiros podem se orgulhar de planejar e executar políticas públicas para o setor esportivo. Os programas, por si só não bastam: precisam ser eficientes e eficazes para contemplar uma população de jovens cada vez mais longe do direito consagrado no artigo 217 da Constituição Federal: “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um…”.

E no quesito desporto não há como comparar o antes e o depois da chamada Constituição Cidadã. Desde antes os colégios públicos mais equipados conseguiam formar atletas nas diversas especialidades na disciplina educação física em suas quadras poliesportivas. Nada mais que isso. As prefeituras auxiliavam, quando muito, com um trator na abertura de um campinho nos muitos terrenos baldios existentes nos bairros.

Fora disso, a população se virava aproveitando a ausência do boom imobiliário. Era costume uma turma de garotos e homens formados pegar no pesado para dar forma a um campinho de pelada, ou babas, como queiram. Jogavam descalços, sem uniformes, como queriam e dava tempo. Era voltar da escola, colocar um calção, chegar ao campo e bater o par ou ímpar para escolher os times. Um jogava com camisas, outro com torso nu.

Mas o crescimento das cidades deu um basta na brincadeira dos meninos. Os bem mais aquinhoados financeiramente e que eram associados a clubes continuaram praticando o esporte, bem como os participantes dos times amadores. Os excluídos mudaram de esporte ou deixaram de praticá-los. Outra solução eram os campos que alugavam horário para as partidas.

Em Itabuna, lá pelo ano 1993, o desportista João Xavier – jogador e dirigente esportivo –, eleito vice-prefeito, tomou a incumbência de proporcionar à população os benefícios do esporte, como mandava a Constituição Cidadã. De pronto, escalou José Maria (Nininho, o Sputnik), ex-jogador profissional e ex-supervisor do Itabuna Esporte Clube para pilotar importante projeto desportivo.

De início implantaram diversas escolinhas esportivas nos bairros de Itabuna, cujos alunos participavam das atividades no contraturno da escola formal. Em pouquíssimo tempo, cerca de 700 crianças já se beneficiavam do projeto nos bairros, orientados por profissionais oriundos de diversas modalidades esportivas e supervisionados pelos profissionais de Educação Física do quadro da prefeitura.

E o sucesso do projeto ultrapassou limites e divisas geográficas, chegando em Brasília. De imediato, a então secretaria federal dos Esportes destacou um técnico para conhecer a ação. De cara, destinou R$ 600 mil (à época recursos consideráveis) para o desenvolvimento do projeto. Até hoje as escolinhas dos bairros Santa Inês, São Pedro, Daniel Gomes, Núcleo Habitacional da Ceplac e Ferradas não viram a cor do dinheiro.

Recentemente, o radialista e advogado Geraldo Borges Santos elaborou um projeto que poderia resgatar a formação de jovens nos diversos bairros da cidade. De acordo com o projeto, a prefeitura executaria as ações em parceria com as faculdades e universidades instaladas em Itabuna e empresas privadas. Para tanto, bastaria recuperar alguns equipamentos públicos esportivos, a exemplo de quadras e o complexo esportivo que reúne o Estádio Fernando Gomes e a Vila Olímpica professor Everaldo Cardoso.

Conclui-se, portanto, que a cidade tem uma estrutura básica de equipamentos públicos voltados para o esporte, grande contingente de jovens ávidos para envolvimento em atividades esportivas e de atletismo. Tudo isso aliado a uma população que gosta de esportes, com histórica tradição de sucesso, restando ao Executivo e Legislativo estabelecerem uma política pública que possa beneficiar a comunidade.

Obstinado, João Xavier apresenta e executa outro projeto esportivo de fôlego: o Campeonato Interbairros de Itabuna, considerado o maior certame do gênero no Brasil. De cunho social, mexia positivamente na educação dos jovens e adultos e na economia desses locais onde os jogos eram disputados. Fortalecia o comércio formal e informal nos dias dos jogos e autoestima da população, que se unia em torno de suas comunidades.

O Interbairros também atuou na mudança do comportamento das pessoas, que antes deixavam Itabuna aos domingos para curtir o lazer nas praias de Ilhéus, um verdadeiro êxodo de pessoas e recursos dispendidos nas viagens. Com a implantação do campeonato, os times jogavam nos campos de bairro e disputavam a final no Estádio Itabunão. Praticamente todos os jogos eram transmitidos pelas emissoras de rádio e com cobertura nas TVs locais. O domingo era, realmente, um dia de festa.

Em 28 julho de 2023 o Campeonato Interbairros de Itabuna completou 30 anos. Criado para se tornar uma fonte inesgotável do descobrimento de craques, que poderiam ter chances de jogar em grandes equipes profissionais do Brasil e do exterior, não possui o mesmo glamour. Apesar de estar em atividade, não chega a movimentar toda a comunidade dos bairros itabunenses. Quem sabe mereça um upgrade?

Por si só, o Campeonato Interbairros não forma atletas cidadãos, pois seu público-alvo é formado por jovens formados e adultos. Lembrando do ditado: É de menino que se torce o pepino”, os poderes executivo e legislativo deveriam ter maturidade suficiente para evoluir e privilegiar as políticas públicas e não as políticas de governo. Enquanto isso, os jovens ficam à mercê da sorte, enquanto a marginalidade campeia livremente.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e escritor, autor do livro de crônicas Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Mas ainda há um outro efeito muito importante, destacado pelo ministro: a redução do famigerado custo Brasil por meio da ativação das cadeias produtivas. Isso pode significar maior eficiência e redução de custos na produção. O contribuinte brasileiro agradece.

 

André Curvello

Nesta semana, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, participou de uma verdadeira maratona para apresentar o novo Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, a algumas das figuras mais representativas e influentes do setor produtivo nacional. Em São Paulo, conversou com a Federação das Indústrias de São Paulo, Fiesp, e com a Federação Brasileira de Bancos, Febraban, além de individualmente com dirigentes de empresas de grande porte como o Banco Safra, Toyota, Shein, Grupo Eurásia, e com o empresário Abílio Diniz.

O ministro explicou que o lema “União e Reconstrução”, escolhido pelo próprio presidente Lula para simbolizar os novos ares respirados no Brasil, não é uma simples jogada de marketing, mas sim uma declaração de intenções. Isso quer dizer que o fortalecimento do pacto federativo, tão vilipendiado pelos aventureiros que ocuparam o poder de 2018 a 2022, é o Norte do atual governo.

“Reafirmo os valores que conduzem a nossa gestão no governo, de união e reconstrução; assim foi montado o PAC, dialogando com os governadores, dialogando com os ministros de diferentes partidos e conceitos”, disse o baiano, de forma bem didática, aos pesos pesados do PIB nacional. E foi além: pediu aos empresários que colaborassem com sugestões que possam ajudar a aprimorar o PAC. Ou seja, por intermédio do ex-governador baiano, Lula convida a todos, sem exceção, para o baile que celebra o rompimento com o passado recente e a entrada do País em um novo tempo de entendimento e desenvolvimento social. Não é pouco se considerarmos como o antigo mandatário tratava quem não pensava como ele.

O Novo PAC vai proporcionar o investimento, nos próximos quatro anos, de R$ 1,7 trilhão em todo o país, em áreas estratégicas como transporte, educação, energia, infraestrutura urbana, inclusão digital, infraestrutura social inclusiva e no Água para Todos. Grande parte desses investimentos virão das chamadas PPPs, ou parcerias público-privadas. A entrada da indústria nesse esforço é amplamente requerida. Rui usou como exemplo obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário que precisarão de “forte participação na indústria do saneamento”.

A preocupação com a responsabilidade fiscal foi outro ponto de destaque na explicação do ex-governador da Bahia. A parcela de investimentos que virá do Orçamento Geral da União, R$ 371 bilhões, será pactuado com os ministérios da Fazenda e do Planejamento.

Dotar o país de uma estrutura que proporciona melhor qualidade de vida a um número maior de pessoas, que fortaleça a cidadania, reduza as desigualdades e garanta oportunidades a todos são os benefícios mais visíveis do novo PAC. Mas ainda há um outro efeito muito importante, destacado pelo ministro: a redução do famigerado custo Brasil por meio da ativação das cadeias produtivas. Isso pode significar maior eficiência e redução de custos na produção. O contribuinte brasileiro agradece.

André Curvello é secretário estadual de Comunicação.