Rosivaldo diz que município poderá solicitar conferência, caso seja confirmada a redução populacional
Tempo de leitura: 3 minutos

 

A bola foi tocada e, na primeira passada, irritado, o marcador provocado tentou me tirar do lance para não ser zoado. Acertou um chute por trás, direto no tendão que, por mais de cinco décadas, nunca havia sido alcançado.

 

Rosivaldo Pinheiro || rpmvida@yahoo.com.br

Hoje, compartilho com vocês a minha volta ao gramado, numa terça-feira à noite, num baba disputado. No meu pensamento, 12 anos depois de ter parado, estava de volta a uma rotina que imaginei ter cessado.

Parei de jogar aos 42 anos, um recorde se a CBF tivesse registrado. Bom, agora aos 54, os cabelos brancos já são logo notados, trazendo com eles um apelido colado, alguém diz, sonoramente: “olha o coroa do lado”.

A minha volta era resultado do clima da copa e do incentivo da turma do trabalho. Além dessas duas verdades, o desejo de pisar pra jogar numa das areninhas que viraram febre, fruto da parceria da gestão municipal com a gestão do estado. Todas essas coisinhas me passavam energia e me deixavam empolgado.

Pronto, a hora chegou e, com tudo novo, a reestreia enfim tinha chegado. Calma! Explico o tudo novo falado, antes que alguém questione querendo ser engraçado: os itens esportivos (materiais de trabalho) – chuteira, caneleira, meião, short, camisa, bola e gramado e o cinquentão aqui ainda conservado.

O jogo começou, a bola correu de canto a canto, e eu passeava por conhecer os atalhos. Usava da sabedoria e tocava de lado, deixando a turma mais nova correr até ficar cansada. Eles têm mais afinco, afinal, estou com 54 e logo mais 55.

Os lances aconteciam, o pensamento estava em dia, as jogadas saíam mesmo que o físico não atendesse plenamente o drible e o lance idealizados.

Terminei a primeira partida. Suado, meio extenuado. Por um momento pensei: por hoje, estou realizado.

Saí um pouco, 15 minutos depois já me achei recuperado, e pedi pra ser novamente escalado. O ‘Rosi’ fominha já estava atualizado.

Voltei, a essa altura achando tudo engraçado. Na sequência vos conto porque acabei engessado. Já antecipo o final antes que alguém se intrometa e mude a verdade dos fatos.

Pedi a bola, falei em tom de provocação: “joga em mim, não estou marcado!”. Olhei de relance e vi o marcador com a expressão de zangado. A bola foi tocada e, na primeira passada, irritado, o marcador provocado tentou me tirar do lance para não ser zoado. Acertou um chute por trás, direto no tendão que, por mais de cinco décadas, nunca havia sido alcançado.

Ainda tentei caminhar, mas só me restou deitar, de imediato gritar e me contorcer no chão, e escutar a zoação: caiu sozinho, tropeçou nas próprias pernas e outras contrariedades. Mas sempre tem a turma que presta solidariedade. Resumo do lance: amparado para fora do campo de jogo, o atleta foi transportado e o jogo continuado.

Saí dali com uma imaginação: era apenas um machucado. Ao chegar em casa, olhei e percebi que o pé, o tornozelo e a panturrilha estavam todos inchados. Esperei por uma semana para estar recuperado. Sem melhora e aconselhado, fui ao médico que, ao examinar o local, disse: “Tem jeito não. Rompimento de tendão, mas vamos fazer uma imagem pra compreender a extensão”.

Logo após o raio-X, manteve a impressão e pediu ultrassom para ter certeza da tomada de decisão. Procedimento feito e ele novamente, com especial atenção, disse: “você fará cirurgia de tendão, uns dias com limitação, depois, fisioterapia e estará na ativa pra contar a ocorrência de um atleta cinquentão”.

Aqui, encerro a narrativa do retorno do atleta bem-humorado, que com graça provocou o marcador e terminou engessado. Por fim, essa história teve dor, mas eu conto com humor porque sei que não vale a pena guardar nenhum rancor. Já com a página virada, assisti à Seleção, que também foi eliminada. Assim é a vida, e seguimos a nossa jornada.

Vou ficando por aqui. Até o próximo texto, a próxima copa e a próxima jogada. Um abraço, cambada.

Rosivaldo Pinheiro, atleta cinquentão, é economista e especialista em Planejamento de Cidades.

Piaba, primeiro em pé, à esquerda, era de família pródiga em craques do futebol
Tempo de leitura: 4 minutos

 

Piaba foi convocado para a Seleção de Itabuna e já em 1961 terminou o Campeonato Intermunicipal como bicampeão. Daí não saiu mais até a conquista do hexacampeonato

 

 

Walmir Rosário 

Custo a acreditar que o craque já nasce feito, embora tenha minhas dúvidas sempre me vem à mente a história de determinados jogadores de futebol do passado, que já apareceram “arrepiando” nos campinhos de baba, tanto faz na zona rural ou na cidade. É certo que, por mais modesto que tenha sido, sempre atuava um “jogador técnico” nos diversos times de futebol por esse Brasil afora.

No caso em questão, me refiro a Piaba, um itajuipense baixinho que “sobrava” nas zagas e meio campo dos times pelos quais passou, e tinha lugar assegurado na Seleção de Itabuna amadora, a hexacampeã baiana. E Piaba fazia parte de uma família pródiga em craques, com os irmãos Almir, Abel, Aloísio, Luiz e Ariston, jogadores importantes nos clubes de Itajuípe, Buerarema, Ibicaraí, Ilhéus e Itabuna.

Batizado Antônio Avelino dos Santos, nasceu em Itajuípe em 26 de outubro de 1935 e o apelido Piaba veio do seu comportamento e estilo de jogo, pela forma esguia, escorregadia, serelepe de tomar a bola e se desvencilhar dos adversários. Assim que saiu da fazenda Independência, onde foi criado e veio residir em Itajuípe, começou a aprender o ofício de alfaiate com o mestre Boca-rica, o mesmo que lhe deu o apelido.

E foi o Boca-rica – um mestre de alfaiataria de renome – que apadrinhou Piaba em sua famosa oficina e nos campos de futebol, atuando pelo Independente, Internacional e o lendário Bahia de Itajuípe. Com o tempo, Boca-rica se muda para Ibicaraí, e não abre mão do seu aprendiz de alfaiate e promessa de craque. Na nova cidade, Piaba dá um show de bola e se torna revelação.

No Independente de Itajuípe, de Litinho (Wanderlito Barbosa), chamava a atenção a atuação de duas famílias, que praticamente completavam o time inteiro. Eram Piaba e os cinco irmãos, além do próprio Litinho e seu irmão Bel. Esse era um pequeno exemplo da quantidade de craques itajuipenses que jogavam em sua cidade, além de Itabuna, Ilhéus e até em Salvador, a capital do estado.

Mas Piaba dá saudade de casa e retorna a Itajuípe, passando a jogar no lendário Bahia. Considerado um dos maiores craques, é também convocado para a Seleção de Itajuípe. E não era por menos, pois o Bahia chegou a ser considerado o time do século da região cacaueira. Com o crescimento de Piaba no futebol passou a ser cobiçado pelos grandes clubes das cidades de Itabuna e Ilhéus.

E o Flamengo de Ilhéus, de Gildásio Almeida, foi mais rápido e conseguiu fechar contrato com Piaba, levando o craque para a cidade rival de Itabuna. O goleiro Antônio Pires, do Bahia de Itajuípe e do Janízaros, ainda lembra que o dirigente do Fluminense de Itabuna, Frederico Midlej, e o itajuipense Hemetério Moreira, diretor do Janízaros, disputaram a vinda de Piaba para Itabuna, queda de braço vencida pelo Fluminense. Posteriormente, Piaba se transfere para o Janízaros, como queria o amigo Hemetério Moreira.

Em Itabuna, como era praxe entre os jogadores de Itajuípe, Piaba chega pra ficar, encantando pelo seu futebol sério e decisivo, despertando a atenção de outros clubes. O atleta itajuipense também jogou pelo Flamengo, sagrando-se campeão em 1963, com o timaço formado por Luiz Carlos, Abiezer, Zé David, Leto, Péricles, e Piaba; Gagé, Maneca, Tertu, Tombinho e Luiz Carlos II.

Apesar de sua pequena estatura – 1,66 metro de altura – Piaba tinha disposição para cabecear e bolas altas não eram problema. Possuía uma grande impulsão, sendo constantemente comparado ao seu companheiro de seleção, Ronaldo Dantas, outro baixinho do futebol que não se amedrontava com adversários mais altos. Piaba e Ronaldo se revezavam nos jogos da seleção.

Piaba foi convocado para a Seleção de Itabuna e já em 1961 terminou o Campeonato Intermunicipal como bicampeão. Daí não saiu mais até a conquista do hexacampeonato, em janeiro de 1966, embora o certame seja relativo a 1965. Na seleção de Itabuna foi decisivo na conquista do Hexacampeonato baiano e sua figura em cima do carro do Corpo de Bombeiros com o rosto enfaixado chamou a atenção.

Na partida final, Piaba levou um pontapé no rosto, aplicado num choque com o jogador Meruca, que até hoje gera controvérsias se foi um simples encontrão ou premeditado para tirar o craque de campo, pois seu substituto estava contundido. Meruca foi o mesmo jogador que não conseguiu evitar a cabeçada de Pinga e que resultou no gol da vitória da Seleção de Itabuna e no hexacampeonato.

A chegada da Seleção itabunense que acabara de conquistar o Hexacampeonato Baiano de Futebol amador em Itabuna foi uma verdadeira apoteose, numa comemoração sem precedentes. Na chegada foi realizada uma carreata com os jogadores desfilando em cima do carro de bombeiros, cedido pela Prefeitura de Itabuna. A imagem mais marcante era a de Piaba com o rosto inchado e coberto com gases e faixas, contrastando com a alegria estampada na fisionomia dos jogadores e da torcida.

Piaba foi um dos poucos jogadores a atuar pelas seleções de Itajuípe, Ilhéus e Itabuna, além do Galícia, de Salvador. Devido a alguns problemas de saúde, Piaba retorna a Itajuípe, sua terra natal. Até atingir os 30 anos de idade, o atleta não bebia nem fumava. Porém, o laudo médico apontou o uso do cigarro como a causa de sua morte, em 15 de julho de 1997.

Piaba morreu triste, no hospital, sem conseguir ver os seus companheiros de sucesso no futebol.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

 

Antônio Fagundes e Wagner Moura em cena de "Deus é brasileiro"
Tempo de leitura: 2 minutos

 

Hoje está tudo tão exposto, tão mecânico e “ostentação caça-likes” que perdeu parte do encanto.

 

Manuela Berbert || manuelaberbert@yahoo.com.br

Se você acha que esse texto é sobre política, sinto muito te desapontar, mas ele não é. Ou talvez seja! Tá tudo tão intimamente conectado que, por vezes, a gente até duvida! Ou não! Mas o fato é que ontem à noite, Bruna Dantas, uma amiga virtual de longas datas, hoje gerente de Produção, Inovação e Conteúdo da LC Barreto Produções, postou uma foto com Antônio Fagundes, ambos rumo à última gravação do filme Deus Ainda é Brasileiro.

As gravações estão acontecendo aqui no Nordeste, em Alagoas, e eu já vinha acompanhando umas coisinhas através dos posts de Bruneca, como é carinhosamente chamada a amiga dos primórdios da internet. É corriqueira a frase que chegamos “por aqui” quando tudo era mato, e ajudamos a desbravar.

Lembro, com saudades, do tempo em que pontos, virgulas e muita imaginação faziam parte do cotidiano das blogguers (Bruna era uma delas), que narravam suas rotinas e aguçavam a imaginação dos leitores. Hoje está tudo tão exposto, tão mecânico e “ostentação caça-likes” que perdeu parte do encanto. E eu escrevo esse texto no lugar de fala de quem tem as redes como ambiente profissional e também como seguidora/telespectadora/leitora de alguns.

A imagem de Fagundes – que virou Fafá nas gravações do novo longa! Ahhh, o Nordeste! – caminhando e sorrindo, rumo ao set de gravação, mexeu comigo. O filme é uma espécie de continuação de Deus é Brasileiro, estrelado por ele e Wagner Moura há alguns anos. Foi um grande sucesso, como vinha sendo o cinema nacional e do nada, ploft, ladeira abaixo também. Não em qualidade, mas em quantidade, talvez. Em incentivo, em movimento, especialmente com a extinção do Ministério da Cultura. Com a reimplantação dele (e eu nem sei se é correto usar essa palavra para descrevê-lo), a cantora, atriz e ativista social Margareth Menezes assume. A minha vontade foi de sentar naquele barquinho famoso do filme, onde “Deus” (vivido por Antônio Fagundes) reflete sobre a vida, e perguntar: “Mas, e aí, Deus ainda é brasileiro?! A gente vai voltar a sorrir?!”.

Manuela Berbert é publicitária.

Julio Gomes escreve sobre intolerância política e religião || Fotomontagem Jornal da USP
Tempo de leitura: 3 minutos

Se fomos expulsos de algum local de culto, de forma explícita ou sutilmente, oremos por aqueles que assim fizeram e procuremos outro local mais adequado para vivenciar nossa religiosidade.

Julio Gomes

Estas eleições disputadas em 2022 foram diferentes de tudo quanto já se viu no Brasil e deixaram marcas profundas na sociedade brasileira e em cada família, nas empresas, nas amizades e até mesmo nos meios religiosos, que também sofreram com a agressividade e a radicalidade presentes na disputa, de onde ninguém saiu ileso.

Falando especificamente do exercício religioso e de suas instituições, encontramos relatos de inúmeras pessoas que simplesmente deixaram de frequentar a igreja ou local de culto, ou o espaço litúrgico onde exercia sua religiosidade, fosse este ou aquele.

Mais frequentes ainda são as notícias de afastamentos internos entre pessoas de uma mesma religião, a ponto de não quererem mais trabalhar juntas nem mesmo se relacionarem, como amigos ou como simples companheiros de um mesmo ideal.

Esses fatos merecem uma reflexão mais aprofundada.

Alguns argumentam que não toleram mais olhar para companheiros de fé, sobretudo cristãos, sabendo que estes desejam para as outras pessoas a prisão por motivos políticos, a tortura, a morte, a mais dura repressão ditatorial. Que desejam que trabalhadores percam seus direitos. Que indígenas e negros não tenham nenhum tipo de política pública de compensação voltada para si. Que a polícia mate, como ação fundamental e primária, e que as pessoas sejam reduzidas em seus direitos humanos.

Outros dizem que não querem de forma alguma se relacionar com pessoas que defendem o aborto, que destroem a família por meio de suas ideologias, que pregam a desordem e o comunismo, que aceitam o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que normalizam o uso das drogas e que pregam a desordem sexual, moral e a destruição de toda a ordem social.

Com isso, cavou-se um fosso profundo em muitas instituições religiosas, templos evangélicos, igrejas católicas, centros espíritas, sendo tal atitude, algumas vezes, tristemente incentivada pelos próprios diretores destas instituições.

Não desejo entrar aqui no mérito do que cada um pensa do ponto de vista estritamente político. Não menosprezo nem retiro a enorme importância desta discussão, que é, sim, necessária. Mas desejo prosseguir sob outro ponto de vista.

É fundamental que as pessoas não se afastem de Deus nem de sua religiosidade, aconteça o que possa acontecer, tomem os outros as decisões que tomarem. Nossa relação com Deus é personalíssima e íntima, não deve passar pelo crivo social de ninguém, embora o exercício litúrgico, frequentemente, seja coletivo.

Sobretudo se somos cristãos, cabe exercermos a disciplina e a tolerância, a humildade de sabermos que, mesmo com todas as nossas convicções, não somos donos absolutos da verdade. Cabe vermos que todos somos humanos e cheios de erros, falhas, equívocos, e que, sem fé e compreensão mútuas, sem tolerância e sem amor ao próximo, não iremos a lugar algum.

E se, por acaso, fomos expulsos de algum templo, igreja ou local de culto, de forma explícita ou mais sutilmente, oremos por aqueles que assim fizeram e procuremos outro local mais adequado para vivenciar nossa religiosidade, pois inaceitável mesmo é que nos afastemos de Deus, do exercício da fé e das boas obras. Isso, nunca!

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

Seleção Brasileira de 1970, com botafoguenses e tricampeã
Tempo de leitura: 4 minutos

 

Minha convicção foi formada logo após uma reunião no Bar do Everaldo, em Itabuna, patrocinada pelos jornalistas botafoguenses Cláudio da Luz, Raimundo Nogueira e Joel Filho, com o apoio de um vascaíno, quando ficou vaticinado que copa do mundo sem jogador do Botafogo é eliminação na certa. E não deu outra…

 

Walmir Rosário

E não é que os desavisados choram a copa perdida? Pra mim não foi nenhuma novidade os brasileiros retornarem sem o caneco na mão, sem som de reco-recos, tamborins, atabaques e o samba atravessado na voz dos jogadores canarinhos. Vamos pular essa parte, pois não dá para chamar essa equipe juntada no continente europeu de canarinho, pois acredito que seja uma ofensa aos jogadores passados.

No meu conceito, copa do mundo é para quem sabe jogar! Para isso se faz necessário escolher os melhores e não apenas os apadrinhados de alguns despachantes de luxo que administram carreiras. Do goleiro ao ponta-esquerda, passando pelos reservas têm que ter um bom pedigree, curriculum vitae de fazer inveja aos estrangeiros de Europa, mas, para tanto, temos que escolher um técnico que saiba das coisas.

Além do que falei, faltou um componente essencial para vencer uma copa do mundo: a convocação dos jogadores do Botafogo, desconhecidos do tal técnico, observador do jogos dos torneios europeus, para onde viaja para vê-los em ação. Tudo isso ganhando polpudas diárias, recebidas em euros, moeda forte do velho continente, e não em reais pelos estados brasileiros.

Pois perdeu tempo e dinheiro, sem falar no título, voltando mais cedo para casa (quase todos para os países europeus, onde moram), como um país qualquer, sem tradição nesse bravo e tinhoso esporte bretão. Por falar em bretão, também deixaram o Catar a Inglaterra, inventora do futebol, Portugal. Permanecem a implacável Croácia, que despachou o Brasil após um jogo apático e uma desastrada cobrança de pênaltis, França, Marrocos e Argentina.

E por falar em penalidades máximas, não posso deixar de me ater a um breve comentário sobre os pecados cometidos pelos jogadores brasileiros. E não me venham com a velha teoria de Neném Prancha, de que a responsabilidade de bater um pênalti é tanta, que deveria se cobrado pelo presidente do clube, no caso em questão, a Confederação Brasileira de Futebol, a carcomida CBF.

Os tempos são outros e quem se dedica a jogar futebol – e ganhar muito dinheiro – tem que saber batê-los, chutando com perfeição, dentro dos três paus e fora do alcance do goleiro, pois alguns também treinam como pegá-los. De Zico pra cá, caiu por terra o conceito de Neném Prancha, já que os que desejavam se tornar craques perfeitos treinavam por horas, depois do coletivo, a cobrança de faltas e penalidades máximas.

Pelo que ouvi dizer, o nosso goleiro não é afeito a defender penalidades e nossos cobradores não tem lá essas intimidades todas em batê-las com perfeição, marcando os gols necessários para vencer a partida. Mesmo sendo uruguaio, convoco aqui o botafoguense “Loco Abreu” com suas cavadinhas, daquelas que desmoralizavam dezenas de goleiros, por mais preparados que fossem.

Confesso que não sou um técnico em futebol, mas na condição de brasileiro me acho no dever e no direito de – se não analisar – pelo menos expressar minha indignação por esse  selecionado, pálido, desanimado, xoxo, que foi ao Catar desesperançar o povo brasileiro. Pelo que soube, essa derrota para a Croácia provocou muito choro e desespero nas criancinhas brasileiras, muitas delas que deixaram de ir à escola para ver o jogo na TV.

À noite, num bar em que me encontrava, a discussão não poderia de ser outra: os vizinhos de mesa estavam inconsoláveis com a indecorosa proposta, feita sem qualquer pudor pelo narrador global Galvão Bueno, que defendia nos consolarmos passando a torcer pela Argentina, como se nunca tivesse ouvido o saudoso Nélson Rodrigues falar sobre a “pátria de chuteiras”, para expressar nossa apaixonada relação com a Seleção Brasileira de futebol.

Esse murro na cara do brasileiro, aplicado por Galvão Bueno, nos remete ao conceito, também criado por Nélson Rodrigues: o famoso “complexo de vira-lata”, nos colocando em inferioridade frente aos hermanos argentinos. Jamais! Pelo que diziam meus vizinhos de mesa, a singela pretensão do aposentável narrador, era apenas e tão somente que o público brasileiro não desligasse seus aparelhos de TV, seguindo-o até o final da copa.

Bons tempos aqueles em que não se decretava feriado nas repartições públicas em dias de jogos da seleção brasileira. Longe disso, veriam os jogos os verdadeiros torcedores, aqueles que amavam o futebol praticado pelos craques canarinhos. Não éramos “obrigados” a dar audiência aos meios de comunicação detentores dos direitos das transmissões esportivas da copa do mundo.

Pois é, não vou mentir para vosmecês e confesso que cheguei a assistir algumas partidas de seleções estrangeiras, mas não me animaram aquele esquema de passes atrasados da linha de ataque até o goleiro, como se a finalidade de um jogo de futebol não fosse a marcação dos gols. Futebol é pra quem sabe jogar, driblar os adversários, dar lançamentos precisos, invadir a área adversária, fazer vibrar os torcedores com o gol.

Desde antes já tinha definido minha ausência na audiência televisiva, até pela plena certeza que a seleção brasileira daria com os burros n’água, ou nas areias do deserto. E a minha convicção foi formada logo após uma reunião no Bar do Everaldo, em Itabuna, patrocinada pelos jornalistas botafoguenses Cláudio da Luz, Raimundo Nogueira e Joel Filho, com o apoio de um vascaíno, quando ficou vaticinado que copa do mundo sem jogador do Botafogo é eliminação na certa. E não deu outra…

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Jurimar, Walter Maron, Walmir Rosário e o professor Dourado, na posse de Lopes no Sinjorba
Tempo de leitura: 3 minutos

Assim que me viu, abriu um largo sorriso e disse que nunca esperou assumir o cargo de prefeito de Itabuna, até por não ser afeito às questões políticas.

Walmir Rosário 

Nos anos 1986/87/88 eu trabalhava na Divisão de Comunicação da Ceplac, a conceituada Dicom, que passava por uma das suas muitas crises, com o orçamento sempre contingenciado, apesar do descobrimento da vassoura de bruxa no Sul da Bahia. Sem recursos, reduziu o horário de expediente para meio turno, o que facilitou nosso segundo emprego em assessorias e veículos de comunicação de Itabuna.

Eu dividia meu trabalho entre a Ceplac e a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Itabuna, quando fui procurado por um amigo e colega ceplaqueano, o engenheiro agrônomo Jurimar Rebouças Dantas, para uma conversa. É que ele tinha sido convidado, pela segunda vez, para assumir a Secretaria Municipal da Agricultura e queria informações para decidir se aceitaria o cargo.

Nossa conversa foi bem positiva e disse que o cargo seria talhado para ele e, se não se acostumasse com o comportamento político, voltaria à função de extensionista, sem qualquer prejuízo. Analisou tudo com serenidade e me respondeu com sinceridade: “É, já fui convidado para o cargo pela segunda vez e, caso não aceite, daqui pra frente não serei convidado nem para participar de enterros”.

Tomou posse e se tornou secretário da Agricultura. Rígido no trabalho, todos os dias conversávamos sobre a melhor maneira de agir, fazendo com que tivesse jogo de cintura. Com isso, ganhou notoriedade como bom executivo e, em seguida, ganha nova oportunidade com a saída do secretário da Administração, Cláudio Macedo, assumindo interinamente esta secretaria. E foi ficando na interinidade enquanto o prefeito Ubaldo Dantas conversava com os grupos políticos sobre um profissional competente para assumir a administração da prefeitura.

Nisso, Ubaldo Dantas viaja para a Alemanha a convite de um organismo internacional, para participar de um evento com prefeitos de vários estados do Brasil. A Câmara concede a licença para a viagem e o vice-prefeito Jairo Muniz assume, mais uma vez, o cargo de prefeito. Aproveitando a viagem à Europa, Ubaldo resolve visitar outros países vizinhos, a exemplo da França, onde permaneceu mais dias.

Retorna a Itabuna e recebe um novo convite de evento internacional. Desta vez, no Uruguai, para debater sobre o uso da água, esgoto, saneamento básico e resíduos sólidos. De pronto aceitou, formalizou a licença para a viagem e aí acontece o inesperado. Seu vice-prefeito não poderia assumir, pois era candidato declarado a prefeito de Itabuna, criando um sério imbróglio.

Não teria problema, bastava transmitir o cargo ao presidente da Câmara, o professor Everaldo Cardoso. Quem disse? Ele era candidato à reeleição e se desculpou, dizendo que não estaria bem de saúde. Seguindo a Lei Orgânica de Itabuna, bastaria convocar o vice-presidente da Câmara Municipal. Nova encrenca. O vereador Filemon Brandão, também candidato, apresentou um atestado de saúde e se eximiu de assumir a Prefeitura.

Foi um Deus nos acuda e o primeiro escalão passou a analisar leis antigas e precedentes. Dona Naomi Mangabeira e outros funcionários já tinham assumido a Prefeitura quando não existia a figura de vice-prefeito. Então, ventilou-se dar o cargo a José Conrado, já de certa idade, desistiram; o secretário mais velho, Laércio Pinho Lima, do Planejamento, se encontrava em viagem.

Após tantas idas e vindas, o secretariado chega a consenso e resolve indicar o secretário da Administração para assumir o cargo de prefeito interino. Um simples telefonema traz Jurimar Rebouças Dantas de volta de casa para a Prefeitura. Ainda assustado com tudo que lhe passaram, assina o livro de posse, acertam os primeiros passos e retorna para casa. Nisso, continuamos a comemoração.

Às 7 da manhã, quando cheguei à Prefeitura para pegar uns documentos, Garrinchinha, o ascensorista, me informa: “Dr. Jurimar, o novo prefeito, já está lá no gabinete”. Chego ao quinto andar, pego os documentos em minha sala, caminho mais uns 20 metros e abro a porta do gabinete do prefeito. Lá estava Jurimar, atentamente conferindo documentos que precisavam assinaturas.

Assim que me viu, abriu um largo sorriso e disse que nunca esperou assumir o cargo de prefeito de Itabuna, até por não ser afeito às questões políticas. Lembrei-lhe quando conversamos sobre a possibilidade de ele aceitar o cargo de secretário da Agricultura e sua rápida ascensão, responsável por duas secretarias e agora, ainda por cima, prefeito interino. Para não perder a embocadura, falou:

“Quando o cavalo passa selado, temos que montar, do contrário, nunca mais”.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Rosivaldo diz que município poderá solicitar conferência, caso seja confirmada a redução populacional
Tempo de leitura: 2 minutos

O clamor dessa gente doente tem contato com a irracionalidade e a irresponsabilidade do atual presidente, de parte de lideranças evangélicas, de segmentos da imprensa e de algumas instituições.

Rosivaldo Pinheiro || rpmvida@yahoo.com.br

Vivemos tempos difíceis, todos sabemos. Parte desse cenário foi iniciado em 2014, no pós-reeleição de Dilma. A expressiva votação de Aécio Neves foi o elemento encorajador, e os desdobramentos desse fato culminaram com o impeachment da presidente reeleita. Esse ambiente vem se deteriorando com maior intensidade desde 2016, no pós-golpe, tendo uma nova dose de aumento com a eleição do atual presidente, em 2018, e seu ápice com a derrota do mesmo, em 2022, em segundo turno, numa eleição em que Lula sagrou-se vencedor com 50,83% do votos válidos e assumirá o destino da nação pela terceira vez.

O resultado dessa última disputa escancarou de vez as facetas mais horrendas de parcela da população brasileira, notadamente dos que têm maior identidade com o que representa a diretriz do que pregou o presidente nesses últimos quatro anos. Vejamos que até o verde e amarelo e a bandeira nacional colocados nos veículos, casas e erroneamente usados em frente a quartéis estão sendo evitados, em plena Copa, para não haver equívoco de leitura no posicionamento político entre a torcida pela Seleção e os descontentes com o resultado eleitoral. Estes, em pleno Estado de Direito, imaginam ter prerrogativa de solicitar que o Exército interfira no direito de escolha do eleitor através do voto, condição necessária do regime democrático, produzindo cenas toscas que nos envergonham mundo afora.

O clamor dessa gente doente tem contato com a irracionalidade e a irresponsabilidade do atual presidente, de parte de lideranças evangélicas, de segmentos da imprensa e de algumas instituições, membros do Poder Judiciário e de parte significativa das polícias Rodoviária Federal e Militares. Vivemos um momento que podemos classificar como Estado de lambanças.

Inimaginável até outro dia observar essa gente, que se diz decente, invadir espaços, perseguir opositores nas ruas, em arenas esportivas, aeroportos e outros espaços, bloquear estradas, ofender e interferir no ir e vir das pessoas. Criando um caos, simplesmente por não terem vencido a disputa eleitoral.

A insensibilidade humana e a falta de espírito democrático do presidente derrotado são elementos norteadores desse dissabor comportamental das pessoas que se acham acima da lei, que têm comportamento de seita e vivem num universo próprio e paralelo, impróprio, portanto, para a convivência social e ao contraditório.

O rastilho de ódio faz surgir e alimenta os gatilhos emocionais e os das armas: ambos mortais. Não dá mais para aceitarmos esse estado de coisa. A nação precisa seguir o curso Constitucional, assim como seguiu diante do impedimento da presidente Dilma, da posse de Temer, da prisão de Lula e da vitória de Bolsonaro em 2018. Mesmo sabendo que Dilma e Lula sofreram pela quebra das regras do Estado democrático de Direito, seus apoiadores não tentaram tocar fogo no país, como pregara um líder evangélico no propósito de reagir às vozes ecoadas pelas urnas no último 30 de outubro. Essa gente precisa saber que não estamos vivendo um estado de barbárie, então não se pode mais aceitar as atuais ocorrências dos que se acham no direito de atentar contra os princípios constitucionais.

Rosivaldo Pinheiro é comunicador, economista e especialista em Planejamento de Cidades (Uesc).

Bruce Lee abriu horizonte cultural sobre o oriente, segundo Julio Gomes
Tempo de leitura: 2 minutos

Podemos encontrar na vivacidade de Bruce Lee se não uma explicação, um precedente que nos mostrou que o mundo oriental existe de fato e exige seu lugar.

Julio Gomes

É muito interessante como algumas pessoas, através de seu trabalho e com o uso correto de seu talento, conseguem mudar aspectos importantes da cultura, da economia, da política, do esporte, de determinados setores da vida, transformando-os profundamente.

Bruce Lee, ator, diretor de cinema e artista marcial como lutador de kung fu, foi um desses que, embora pareça predestinado a fazê-lo, é, sobretudo, exemplo de dedicação, de foco, de entrega aos seus objetivos e da mais admirável persistência.

Filho de pais que pertenciam à rica e conceituada Ópera Chinesa e que se encontravam em turnê se apresentando nos Estados Unidos quando ele nasceu, Bruce soube aproveitar a boa condição econômica e social de seus pais para estudar, crescer e trabalhar de modo exemplar, embora na juventude tivesse um temperamento brigão e bastante inquieto.

Quem é um pouco mais velho, certamente, se lembra de seus célebres filmes (Operação Dragão e outros) que fizeram com que, pela primeira vez, produções cinematográficas vindas do oriente estourassem nas bilheterias ocidentais e caíssem no gosto do grande público, se tornando sucessos mundiais.

Se não o criou, Bruce Lee consolidou, na década de 1970, um novo gênero de filmes: de Artes Marciais, onde víamos as mais incríveis lutas que aconteciam a partir de uma cultura totalmente estranha à nossa, exótica, rica de detalhes, cheia de valores próprios, que encantava pela energia, movimento e vivacidade, sobretudo em seus filmes.

Com Bruce Lee, descobrimos que a China e o mundo oriental existiam de verdade. Através dele, a cultura do oriente penetrou em nosso cotidiano nas academias de lutas, na forma jovial e inovadora de se vestir, no modo como eles interagiam com nosso mundo, de igual para igual. Aqui no Brasil, naquela época, até nas músicas de Caetano Veloso e nas marchinhas de Carnaval o tema esteve presente, mesmo que na forma lúdica típica dos brasileiros.

Passamos a ter um novo olhar sobre os homens e mulheres orientais, que passaram a ser vistos como belos, vigorosos, cheios de iniciativa e valores próprios, quebrando inteiramente a visão estereotipada que deles tínhamos anteriormente, como pessoas fracas, desprovidas de beleza e inteiramente submissas. Não! Bruce era todo energia, movimento e paixão.

Para os que não sabem, Bruce Lee, infelizmente, nos deixou muito cedo, no ano de 1973, com apenas 32 anos, vítima de uma morte não muito bem esclarecida e que, por isso mesmo, causa polêmica até hoje.

Entretanto, sua obra projetou a China para o mundo e mostrou que o Oriente é muito mais do que um território a ser conquistado, submetido e dividido entre os povos brancos do ocidente.

Se hoje vemos o Japão se posicionar entra as principais nações do mundo e a China disputar o primeiro lugar na economia mundial com os Estados Unidos, podemos encontrar na vivacidade de Bruce Lee se não uma explicação, um precedente que nos mostrou que o mundo oriental existe de fato, e que exige o seu lugar no mundo atual.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Advogado Joaquim Júnio explica a tramitação de uma ação de pensão alimentícia
Tempo de leitura: 2 minutos

 

A legislação brasileira ampara aqueles que ainda não atingiram independência econômica e necessitam da ajuda de sua família.

 

Joaquim Júnio Quintino || jjsq1505@hotmail.com

É bastante comum conhecermos alguém que ajuizou ação de alimentos para seu (sua) filho(a), evidenciando que é um assunto muito corriqueiro na sociedade. Mas, como se desenvolve esse tipo de ação judicial?

A pensão alimentícia visa suprir a necessidade de quem recebe os alimentos, chamado de alimentado (a), dentro das condições do alimentante, aquele que paga a pensão alimentícia.

Para que o alimentado venha a receber a pensão é necessário que comprove não ter meios para prover o seu sustento, deixando claro que para menores de 18 (dezoito) anos de idade ou portadores de necessidades especiais essa necessidade de receber pensão já é presumida, não sendo necessário maiores provas para comprovar.

Com relação ao valor a se receber a título de pensão alimentícia, deve-se levar em consideração as necessidades de quem vai receber. Investiga-se, por exemplo, quanto em média é o gasto mensal com educação, alimentação, vestuário, calçado e despesa médica, dentre outras.

Feito isso, cabe agora o enquadrar o valor na possibilidade de quem vai pagar, garantindo assim que ele não venha passar privações. Isso ocorre porque existe uma balança “invisível” para buscar equilibrar o sustento das partes, sem prejudicar o outro.

Citemos como exemplo um filho menor de idade, estudante, que, através de sua representante legal, solicita que o genitor pague pensão alimentícia. Esse genitor é solteiro, possui casa própria, apenas 01 filho e emprego fixo, recebendo mensalmente 1 salário mínimo legal vigente. Esse pai poderá vir a pagar até o valor de 30% do seu rendimento mensal, pois assim não irá passar por privações e irá ajudar no sustento do filho.

A legislação brasileira ampara aqueles que ainda não atingiram independência econômica e necessitam da ajuda de sua família. Cabe ressaltar que a forma consensual é a melhor maneira de resolver a questão em conflito, observando sempre o melhor interesse para o (a) filho (a).

Joaquim Júnio Santos Quintino é advogado atuante nas áreas cível, trabalhista e previdenciário.

Julio Gomes recupera memórias afetivas nas vozes de Moraes, Gal e Erasmo
Tempo de leitura: 3 minutos

 

“Perder cantores que ouvíamos quando éramos bem jovens – e que eram ídolos de nossos pais – é como perder um pouco mais e novamente aqueles que nos criaram”.

 

Julio Gomes

Primeiro foi Moraes Moreira. Senti o golpe ao saber que aquele que cantava Pombo Correio e que sacudia a praça, seja a Castro Alves, em Salvador, ou qualquer outra pelo Brasil afora, quando embalava Tem que dançar a dança / Balança o chão da praça, ao som de quem tanto dancei e pulei carnaval, havia partido repentinamente após um infarto. Doeu, deixou um sabor de nunca mais misturado com muitas saudades.

Há bem pouco tempo, outra perda significativa: aquela Gal que docemente cantava Baby, eu sei que é assim e que eletrizava dizendo que é preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte também se foi muito de repente, sem aviso prévio e sem adeus, fazendo ecoar por dias seguidos em minha mente as músicas que ouvia minha mãe colocar na vitrola no tempo em que eu ainda era criança.

Perder cantores que ouvíamos quando éramos bem jovens – e que eram ídolos de nossos pais – é como perder um pouco mais e novamente aqueles que nos criaram, pais e mães que, com seu amor e seus defeitos, nos formaram como seres humanos que somos.

Agora, ainda não refeitos da ida de Gal, recebemos a notícia da partida de Erasmo Carlos, sempre mais ousado do que seu parceiro Roberto Carlos, que fez mais sucesso e vendeu mais discos, mas não tinha o charme rebelde do Tremendão, apelido de Erasmo, que tão bem encarnava a Jovem Guarda e o espírito inovador e inquieto dos anos de 1960.

Perder pessoas que nos anos 60 tinham em torno de 20 anos e que, naquela época, mudaram o mundo com a força de sua juventude e rebeldia é, sem dúvida, um duro golpe para nós que crescemos escutando suas músicas, namorando apaixonadamente ao som de seus acordes, que dançamos os seus ritmos e que sonhávamos acordados com as letras das músicas que falavam de um mundo novo, ressignificado e em busca de paz e amor, como se as revoluções e o movimento Hippie nunca mais fossem acabar, como se a nossa juventude também pudesse ser eterna.

Erasmo, Gal e Moraes Moreira se juntaram àqueles da sua geração que partiram precocemente, como Gonzaguinha e Elis Regina, e nos deixaram com esse sentimento de estarmos órfãos, de perder as referências sentimentais e culturais que nos fizeram ser quem somos, pensar como pensamos, gostar do que gostamos.

Fica a vontade de ouvir novamente suas maravilhosas canções, originais como o mundo que desejavam criar, como os sonhos que ousaram viver.

Eles se foram, mas cumpriram sua missão: enfrentaram a caretice, a repressão sexual, as ditaduras, criticaram a Guerra do Vietnã e todas as outras guerras, ousaram se vestir de forma colorida e diferente, usar cabelos longos e desprezar a sociedade de consumo que trata o dinheiro e o mercado como se fossem deuses absolutos.

Acima de tudo, penso que a geração dos jovens nos anos 60 – a geração de meus pais – tentou aprender a amar e a viver ardentemente, errando e acertando, quebrando a cara e recomeçando, criando novos estilos musicais e novas formas de convivência entre as pessoas, acreditando que toda a forma de amor vale a pena.

Que todos nós possamos ser um pouco como eles, sobretudo em seus acertos, para sermos mais ousados, mais inovadores e amarmos ainda mais intensamente do que eles conseguiram amar.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz).

Chuva alaga acampamento de golpistas em Brasília
Tempo de leitura: 3 minutos

“Tudo tem limites, chega de tentar incendiar o país, chega de maluquices!”

Julio Gomes

Estamos quase no final do mês de novembro, passaram-se mais de vinte dias da realização do segundo turno das eleições que definiram quem foi eleito para presidente da República e para governador nos estados onde houve segundo turno para este cargo, como ocorreu aqui na Bahia. Mas, alguns brasileiros ainda insistem em ocupar a frente dos quartéis e bloquear estradas no que chamam de protesto contra o resultado das eleições presidenciais, já que nenhum outro resultado desta mesma eleição (para governadores, senadores ou deputados) é questionado.

Estes brasileiros pedem aquilo que denominam “intervenção federal” para que, usando a força militar, impeça-se a posse do presidente eleito.

É preciso pensar no que isso significa, para entendermos quão perigosa é esta situação.

Primeiramente, é preciso deixar claro que o que pedem é, na prática, um golpe militar, já que seria a tomada do poder à força de armas. E isso é uma violência inaceitável contra o Regime Democrático, contra as leis e contra a vontade da maioria do povo brasileiro expressa nas urnas.

Caso o que desejam viesse a acontecer, o Brasil estaria reduzido ao tamanho de países sem nenhuma expressão ou importância no cenário internacional, em que um ditador qualquer manda com poderes ilimitados como se fosse um rei dos tempos mais antigos.

Não! O Brasil, quinto maior país do mundo em extensão territorial e em população, sendo por isso mesmo um dos países mais importantes, não pode se posicionar desta forma diante da humanidade nem passar a isolar-se no cenário internacional.

Caso aquilo que chamam de “intervenção federal” ocorresse, teríamos aqui um governo ilegítimo e sem base legal nenhuma, visto que não foi eleito, e com todos os requisitos para tornar-se uma ditadura, onde prisões ilegais, “desaparecimentos”, censura, tortura, assassinatos políticos e outras práticas ilegais e medievais do mesmo gênero predominam. Aliás, talvez seja isso mesmo o que querem muitos desses manifestantes.

Além disso, aberto este precedente de não aceitação do resultado das eleições por força das armas, a partir de agora todas as votações futuras estariam sujeitas ao mesmo mecanismo de só serem consideradas válidas após o “permita-se” dos armamentos.

Por fim, como também há a possibilidade de, após uma eventual “intervenção militar”, uma parte dos brasileiros não aceitar e reagir de forma armada, poderíamos ter uma guerra civil em nosso país, um banho de sangue com brasileiros contra brasileiros, pais contra filhos, irmãos contra irmãos a trocar tiros e gerar mortes o que, aliás, é o que desejam alguns que tantas armas e munições compraram justamente para isso.

Nós, brasileiros, em nossa imensa maioria, queremos paz e democracia, queremos legalidade e prosseguimento normal de nossas vidas, trabalhando, estudando, ficando com a família e amigos, vivendo como cidadãos normais em um país onde prevalecem a lei e o respeito ao próximo, mesmo com todas as dificuldades que sempre fizeram parte de nossas vidas.

Simples assim: quem ficou insatisfeito com o resultado das eleições que dispute a próxima, daqui a quatro anos, como ocorre em qualquer país democrático.

Tudo tem limites, chega de tentar incendiar o país, chega de maluquices!

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Em pé: Patuca, Vilson, Paim, Dal (Tarzan) João Bocar e Vitor Baú; agachados: Jonga, Pedrinha, Pintadinho, Afrânio e Esquerdinha
Tempo de leitura: 4 minutos

“Soube parar o futebol quando as pernas e o fôlego já não conseguiam ter o mesmo rendimento de antes. Parou na hora exata, para que os amigos e torcedores lembrassem dele como o excepcional e implacável atacante”.

Walmir Rosário

Concordo plenamente com os que defendem a tese de que há muita proximidade entre o futebol e outras artes, a exemplo da música. Certifico e dou fé – se é que assim posso proceder – que muitos dos meus conhecidos fazem dessas artes “gato e sapato”, com a maior intimidade. E para provar, apresento aqui Zé Pintadinho, Pintadinho Alfaiate ou simplesmente Pintadinho, como exemplo.

Habilidade na música e no futebol não lhe faltava. Para ele, tanto fazia jogar na ponta-esquerda, ponta-direita ou como centroavante. O que importava mesmo era fazer gols para seu time ganhar o jogo. E tudo isso pode ser comprovado por quem o viu jogar ou pelos livros de registro da Liga Desportiva de Itabuna (Lida), onde está tudo anotado para dar conhecimento à posteridade.

Na música não era diferente. Era considerado o homem dos sete instrumentos: cantava, tocava surdo, pandeiro, reco-reco, e agogô e ainda fez incursões por alguns instrumentos de sopro, principalmente o trombone, que o considerava um dos mais sublimes da música e que fazia tocar a alma das pessoas. Deixou o instrumento aconselhado pelo maestro, que o avisou dos riscos de ficar com a “papada” grande. E ele obedeceu.

Zé Pintadinho já fez de tudo em Itabuna assim que chegou de Sergipe, em 1944, aos 16 anos de idade. Trabalhou em sorveteria, feira livre, enveredou pela música, onde se sentia bem, e pelo futebol. Porém, aconselhados pelos amigos mais velhos, buscou aprender um ofício mais seguro, como o de alfaiate, profissão que exerceu até o final de sua vida, e que lhe proporcionou criar uma numerosa família.

Pintadinho jogou futebol em Itabuna em apenas duas equipes: o Botafogo do bairro da Conceição e no Bahia de Álvaro Barbeiro, o esquadrão de aço do sul da Bahia. Pelo Botafogo, atuou nas célebres partidas contra o Brasil de Buerarema e o Bahia de Itajuípe, ganhando as duas. Esta última para decidir uma aposta firmada por Sílvio Sepúlveda – jogador e cartola do Botafogo – e Oswaldo Gigante, do Bahia.

Outras partidas memoráveis jogadas por Pintadinho – já no Bahia – tiveram como palco Belmonte, na festa para comemorar o aniversário da cidade. No sábado, venceu por 3X2 e no domingo 2X1. Àquela época, diante da dificuldade de viajar pelas estradas ruins, embarcaram num avião em Itabuna e fizeram valer a supremacia do futebol itabunense, para o desgosto dos belmontenses, que não aceitavam fácil as derrotas.

Na década de 1950 sete times disputavam o campeonato amador de Itabuna – Corinthians, Grêmio, Janízaros, Flamengo, Fluminense, Itabuna e Botafogo – numa disputa ferrenha pelo título. Jogador que decidia partidas com os inúmeros gols que marcava, Pintadinho jogava cadenciado, com estilo, embora soubesse impor seu ritmo de jogo para não ser incomodado pelos zagueiros adversários.

Com toda essa habilidade e determinação, em campo atuava com humildade e sabia respeitar os adversários para também ser respeitado, gostava de dizer Pintadinho, para não ser visto como um jogador boçal. Além do respeito em campo, Pintadinho era uma pessoa muito querida na sociedade, além de ser um profissional da alfaiataria de conceito, haja vista as encomendas que recebia.

Soube parar o futebol quando as pernas e o fôlego já não conseguiam ter o mesmo rendimento de antes. Parou na hora exata, para que os amigos e torcedores lembrassem dele como o excepcional e implacável atacante. Se deixou de entrar em campo, fora dele continuou torcendo para o magnífico futebol de Itabuna, levando seus filhos ao campo da Desportiva nas tardes de domingo.

Fora de campo, continuou fiel à máquina de costura, sua inseparável companheira de anos a fio na antessala de sua residência, onde recebia clientes e amigos para desempenhar seu trabalho, ou simplesmente ter uma boa prosa. E ali conversava sobre tudo, principalmente seus feitos no futebol e na música, atividade que continuou a exercer até os últimos dias de sua vida.

Na música, além de cantor, ensinava os colegas a cantar, principalmente boleros e sambas. Com sua charanga, animava os comícios de seus candidatos ou eventos políticos de prefeitos nas inaugurações de obras em toda a cidade. Nos domingos, participava dos programas de auditório ou externos, realizados nos bairros da cidade pelos radialistas Titio Brandão e Germano da Silva.

O Carnaval era seu forte e desfilava nas baterias de blocos e escolas de samba de Itabuna. Cantou e tocou nas escolas Império Serrano, Salgueiro e Nova Mangueira, esta fazendo parte da diretoria. Perto de completar os 80 anos, Pintadinho surgia garbosamente na bateria do Bloco Casados I…Responsáveis, no qual participou ativamente desde a sua fundação. Homem de variados instrumentos, Pintadinho recebeu certificado da Sociedade Montepio dos Artistas de Itabuna como percussionista pelos instrumentos que tocava.

Mesmo após ter sofrido duas cirurgias: próstata e hérnia, Pintadinho continuou trabalhando como alfaiate, já não mais com as encomendas de ternos, calças e camisas, mas sobretudo de consertos, com a mesma dedicação. Pintadinho não abria mão de, no fim do dia, descer até a praça dos Capuchinhos para comprar os pães e trocar uns leros com os amigos.

José Pintadinho, ou José Alves da Silva, nos deixou num sábado, 13 de agosto de 2011, aos 83 anos.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Antônio Lopes e algumas de suas obras || Fotomontagem Walmir Rosário
Tempo de leitura: 4 minutos

 

Procurou se livrar dele, afinal estava em Paris, o melhor lugar do mundo, depois de Buerarema. Na manhã seguinte, ao dar pela falta do cartão de crédito, percebeu ter sido vítima de um legítimo vigarista parisiense. Fazer o quê?

 

Walmir Rosário 

O prezado e estimado leitor conhece Buerarema desde quando? Se a resposta do distinto for de uns tempos pra cá, passo a ter dó e piedade dele, pois na verdade, pouco ou quase nada viu do seu povo e de sua história. E bote História (com H maiúsculo) nisso, daquelas de cair o queixo, acontecidas desde o tempo que a aconchegante Macuco (seu nome enquanto distrito de Itabuna) reunia os melhores personagens num só local.

Pois fiquem os senhores sabendo que aquele pedacinho de terra cercada de matas e cacaueiros por todos os lados, entrecortados por pequenos riachos e rios caudalosos em busca da praia de Ilhéus têm muito a ser contado. Ponha sua cabeça pra pensar naquele amontoado de gente, vinda de todos os cantos do mundo, e que acabou formando um arruamento, vila e depois cidade, com essa gente mandando neles mesmos.

Estás curioso! Pois não perdes por esperar! Basta sentar com uns cinco livros de autoria do professor, jornalista e escritor Antônio Lopes, um pernambucano que se fez macuquense e bueraremense por obra e graça de sua mais legítima vontade. Pense numa viagem (há quem chame de imersão) voltando no tempo e conhecendo histórias, estórias e causas cometidos pelos seus personagens, inclusive o próprio.

Mas agora vamos nos ater aos dois últimos livros publicados, do contrário vamos perder muito tempo nessa leitura e passar dos “entretantos aos finalmentes”. Em “A Bela Assustada”, uma antologia pessoal, alguns textos inéditos, Antônio Lopes não se conteve e apresenta Manuel Vitorino, Zé Mijão, Mundinho Cangalha, João Baié, Léo Briglia, Dr. Elias, o padre Granja, o pastor Freitas, Manuel Lins, Clarindo Corno Preto, Zeca de Agripino, Vilson Cordier e muitos outros brilhantes personagens.

E o menino trazido de Triunfo, no Pernambuco, pelo seu irmão mais velho, João Lopes, estudou o primário e o ginásio, fez jornalismo estudantil e formou seu caráter em Buerarema. Mais tarde, foi estudar em Ilhéus, trabalhar em Itabuna, até chegar a São Paulo escrevendo para a Última Hora, do lendário Samuel Wainer. Foi seguir o caminho e aportou na Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras da Bahia.

Não sei se essas incursões mundo afora fixaram na memória do autor os causos vividos em tempos idos. O que sei mesmo é que são contados com simplicidade e o humor daquela gente e daquela época. Quem melhor narraria – a posteriori – um jogo do Brasil Esporte Clube, o BEC, do que o sapateiro Zé Vitorino? Que os senhores saibam o delírio da plateia com seus lances, tornando Galvão Bueno um simples fichinha. E nem tínhamos TV.

A Buerarema dos cines Cabral e Maracanã, à época em que não sofriam a concorrência das redes de televisão e era ponto de fixo para a troca de gibis e o encontro de namorados trocarem juras de amor, enquanto bandidos e mocinhos de digladiavam na tela. Uma boa pedida são os banhos no Poço da Pedra, onde o autor aprendeu a nadar, boiar e distribuir cangapés e quase se afogar.

Da minha lembrança não sai o causo de Agripino Vieira, fazendeiro de 15 mil arrobas de cacau, cliente assíduo do Bar Pingo de Ouro, que deu um drible no médico Dr. Elias, após o conhecido esculápio proibir suas incursões aos bares. Sem qualquer peso na consciência chegou na Farmácia Maria e decretou ao balconista Afonso que lhe desse o um vidro de Biotônico Fontoura, o maior que tivesse na referida botica.

Em A Vida Refletida, Antônio Lopes conta que na sua adolescência quem não tinha habilidade para coisa nenhuma ia para a Marinha. Mas ele quis fazer diferente, por não levar jeito. Não estudou medicina, engenharia ou direito, mas trabalhou em rádio, televisão, assessoria, escritório, deu aulas, vendeu remédios. Profissões essas que lhe garantiram o uísque de cada dia. E as histórias, acrescento eu.

Em Um Tabaréu em Paris (pgs. 101/103), o autor conta que se encontrava na cidade luz quando um cara branco, vestido à classe média, lhe dá um encontrão. Desculpou-se (todo cheio de “pardon”, monsiseur), e continuou puxando conversa. Procurou se livrar dele, afinal estava em Paris, o melhor lugar do mundo, depois de Buerarema. Na manhã seguinte, ao dar pela falta do cartão de crédito, percebeu ter sido vítima de um legítimo vigarista parisiense. Fazer o quê?

Sobre o livro de Lopes, Joaci Góes escreveu: “Antônio Lopes é um autodidata que atingiu elevado patamar como humanista, polindo seu crescimento com as aulas que deu de português, matemática, história e redação, sem falar em suas experiências como animador de comícios e redator de discursos políticos, de festas carnavalescas, comentarista de futebol, vendedor, gestor de recursos humanos, fez tudo isso para sobreviver e ter as condições mínimas de se dedicar à leitura dos grandes autores, na geografia do tempo, experiências que contribuíram para torná-lo um dos mais refinados escritores brasileiros da atualidade”.

E prossegue Joaci…“Provavelmente, se Antônio Lopes tivesse produzido sua surpreendente obra de Paris, Londres, Roma ou New York, não faltasse quem dissesse que só a partir de domicílios tão cosmopolitas seria possível produzir literatura de conteúdo e forma tão marcadamente universais”.

A vida refletida/Antônio Lopes – Ilhéus, Ba: Editus, 2019.

A bela assustada : antologia pessoal + inéditos/ Antônio Lopes. – Itabuna, BA : A5 Editora, 2021.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Em artigo, Jerônimo Rodrigues conclama população baiana a superar desavenças
Tempo de leitura: 2 minutos

A nenhum baiano pode interessar uma Bahia repartida. A Bahia é plural, miscigenada, acolhe a todos para além das raças ou credos.

Jerônimo Rodrigues

Passado o período das disputas eleitorais, desmontamos os palanques e arregaçamos as mangas para acelerar o processo de crescimento e desenvolvimento econômico e social da Bahia. Convido as baianas e os baianos a participarem desde esforço.

A escolha pela maioria da população do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para governar o País pelos próximos quatro anos, bem como dos governadores e parlamentares, abre um novo capítulo da democracia e da unidade do Brasil em torno de temas estratégicos.

Temos muitos desafios pela frente. A comida deve ser acessível à população, não podemos admitir que 33 milhões de brasileiros permaneçam em estado de insegurança alimentar; é inaceitável que o número de desempregados fique em dois dígitos; não há como conviver com as altas constantes nos preços dos combustíveis, preocupando os setores produtivos e os consumidores ou com o cruel endividamento das famílias.

O regime democrático exige dos governantes muita disposição para o trabalho em benefício do povo. E entre a população deve haver constantemente a busca pelo entendimento. Posicionamentos divergentes estimulam a democracia, mas não devem ser obstáculos para o diálogo.

A nenhum baiano pode interessar uma Bahia repartida. A Bahia é plural, miscigenada, acolhe a todos para além das raças ou credos.

Vamos avançar na saúde, na educação, na geração de emprego e renda, na infraestrutura, na construção e requalificação de estradas, na segurança pública, na mobilidade urbana, na assistência aos mais necessitados, na criação de oportunidades para todos, no apoio às atividades agropecuárias, na agricultura familiar, no turismo, na inclusão e igualdade social, na produção de energias limpas, na sustentabilidade, na tecnologia, na cultura, no esporte, no lazer.

Meu compromisso é dar a mesma atenção aos 15 milhões de baianos nos 417 municípios, na cidade e na zona rural.

Serei o governador de todas e de todos.

Jerônimo Rodrigues é governador eleito da Bahia.

Em Ilhéus, grupo de extrema-direita pede intervenção militar || Redes Sociais/Reprodução
Tempo de leitura: 2 minutos

 

O momento da disputa, com o calor que lhe é natural, já passou. Agora é preciso retirar os adesivos dos carros e das casas e prosseguir.

 

Julio Gomes

Sábado, 29/10/2022. Flamengo e Athletico-PR se enfrentam em Guayaquil, no Equador, para decidir quem seria o campeão da Copa Libertadores da América. Com um único gol, marcado aos 48 minutos do 1º tempo, o Flamengo decidiu o jogo e sagrou-se campeão.

Domingo, 30/10/2022. Lula e Bolsonaro disputam, no Brasil, quem seria o Presidente da República nos próximos 4 anos. Com 50,9% dos votos e pouco mais de 2 milhões de votos de vantagem, Lula ganha as eleições.

Os exemplos acima são muito significativos para mostrar o quanto é descabido o questionamento quanto ao resultado final dos embates, sobretudo quando eles se dão dentro de regras claras, devidamente pré-estabelecidas e com contendores plenamente cientes de que apenas um poderia ser o ganhador.

É natural que, ao final de disputas acirradas, haja comemorações públicas nas ruas, como fizeram torcedores no sábado e eleitores no domingo. Também é natural que um sentimento mais acentuado de frustração ou mesmo de tristeza se apodere, nos momentos imediatamente seguintes ao resultado, das pessoas emocionalmente envolvidas.

Porém, o que não é natural é que se questione o resultado estabelecido, e menos ainda que se apele para uma terceira força, inteiramente estranha à disputa em questão, para tentar alterar o resultado final.

O fechamento de rodovias, com vistas a provocar transtornos de toda ordem e desabastecimento, com suas graves consequências, passa dos limites do choro natural e humanamente aceitável de quem perdeu. E muito pior são as manifestações em frente a unidades militares, incitando-as a meter os pés pelas mãos e fazerem a grossa besteira que seria intervir no resultado de uma eleição que se deu, em última análise, na conformidade com as previsões constitucionais.

A vida precisa seguir em frente.

Há quatro anos, também em uma eleição presidencial, o candidato derrotado em 2022 ganhou e teve seus quatro anos de governo. É justo, natural e necessário, para o bem do país e de todos, que o ganhador das eleições realizadas em 30/10/2022 tome posse no cargo para o qual concorreu e governe pelo período legalmente previsto.

Como ocorre em todas as eleições disputadas no Brasil nos últimos 60 anos, quem ganhou deve assumir e governar, garantindo-se a quem perdeu o direito democrático de constituir-se como oposição política, sempre dentro dos marcos e limites da lei.

Precisamos trabalhar, estudar, cumprir nossos deveres cotidianos e trazer para casa o pão de cada dia. O momento da disputa, com o calor que lhe é natural, já passou e agora é preciso retirar os adesivos dos carros e das casas e prosseguir, retirando também do coração eventuais ressentimentos que nada trarão de positivo.

Vamos seguir em frente com o resultado democraticamente estabelecido nas urnas, para o bem do Brasil, de todos e de cada um de nós.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.