Tempo de leitura: 2 minutos

Jorginho soube viver e interpretar a sociedade e suas angústias em tempos sombrios e duvidosos. Fez parte de uma massa, aquele “massa dos homens normais”.  Teve sensibilidade e sofrer ao falar da massa, “a massa que falo é a que passa fome, mãe…”. Deixa uma obra imortal. Faz parte de uma daqueles baianos humanos imortais. Luto e saudade.

André Curvello

Alguém escreveu que o céu de Santo Amaro da Purificação tinha uma estrela a mais hoje. Recebi tantas mensagens, li tantos textos que peço desculpas pela preguiça de não procurar o autor. Mas, tenho que discordar em parte, pois não foi apenas o céu da terra de Caetano que ganhou mais uma estrela; foi o céu da Bahia e do Brasil.

A chegada de Jorge Portugal é certeza de festa entre as estrelas no céu brasileiro. A mim, só resta agradecer a Deus a oportunidade de ter conhecido e convivido com uma bela figura humana: gente na máxima expressão da palavra.

São várias recordações recheadas de carinho e admiração que vão desde a um encontro fortuito em pleno centro antigo de Roma a várias reuniões na Secretaria de Comunicação do Estado muitos anos depois. Mas, permita-me, poeta, dizer que o mais fantástico momento foi nos bastidores do ensaio de Maria Bethânia, numa quinta-feira, véspera da inauguração da nova Concha Acústica. E você disse pra rainha: “Vai, agora é com você. Estamos realizando um sonho”. E Bethânia te respondeu: “A inauguração não é hoje. O sonho só será realizado amanhã”.

De tantas pessoas que vibraram, não me lembro de uma vibrar tanto com a nova Concha quanto Jorge Portugal. Um entusiasta da cultura, das aulas de Português, um amante de fazer amigos. Um poeta, um sonhador, um ser humano da democracia e da liberdade. Um daqueles caras especiais que sentem “a dor do menino-bezerro pisado no curral do mundo a penar… é a dor de nem poder chorar”.

Jorginho soube viver e interpretar a sociedade e suas angústias em tempos sombrios e duvidosos. Fez parte de uma massa, aquele “massa dos homens normais”.  Teve sensibilidade e sofrer ao falar da massa, “a massa que falo é a que passa fome, mãe…”. Deixa uma obra imortal. Faz parte de uma daqueles baianos humanos imortais. Luto e saudade.

André Curvello é secretário estadual de Comunicação e amigo de Jorge da Massa, da Bahia e do Mundo.

Tempo de leitura: 3 minutos

Marão copia políticos mais velhos nas artimanhas e comportamentos ao tratar com eleitores durante a campanha eleitoral, demonstrando bastante intimidade quando na cata ao voto.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Por causa do título não deveríamos levar a sério a recomendação, por ter sido uma recomendação especial dos ex-presidentes José Sarney e Michel Temer, pois seria o mesmo que dizer faça o que mando, mas não o que faço. Mas o recado precisa ser dito ao prefeito de Ilhéus, Mário Alexandre, o Marão, pelo seu comportamento durante a visita a um dos bairros da cidade, o Vila Nazaré, em busca de voto.

Basta uma olhada na imagem – um pequeno vídeo filmado por alguém do povo, acredito – nota-se que não se tratava de uma visita de trabalho, ou uma passagem a caminho de outra localidade. Não, a imagem é proposital e representa um escárnio ao povo de Ilhéus, aquele mesmo que o prefeito – há meses – mandou ficar em casa e pediu a ajuda ao governador para que a Polícia Militar prendesse que saísse às ruas.

Desta vez, quem está nas ruas – em plena pandemia – é o prefeito e seus assessores, fazendo tudo o que proibiu, como a aglomeração e o ajuntamento com cumprimentos de mão e abraços. No pequeno vídeo está implícito que ele deixa a rua, onde ensaiava passos de dança para ir dar um abraço num amigo e, quem sabe, possível eleitor nas eleições que se aproximam.

Essa talvez seja a única coisa que o prefeito Marão saiba, de fato, fazer: sair às ruas em busca de eleitores com tapinha nas costas, beijos e abraços, mesmo com o risco de contaminação pela Covid-19, se não dele que já positivou e curou, mas dos acompanhantes. Como médico, Marão que prometeu cuidar do povo, mostra que não tem a menor intenção de cumprir a promessa de campanha, pelo contrário, mostra comportamento inadequado diante do perigo da infecção.

Como prefeito de formação em medicina, se omitiu no início da pandemia em tomar as providências cabíveis e necessárias com a presteza e urgência requerida, o que, possivelmente, pode ter ampliado a ação do vírus em Ilhéus. Não acredito que tenha sido por má-fé, mas por absoluta falta de vontade de exercer a administração municipal, como vem largamente demonstrando.

O velho Marão, que na campanha se vendeu como novo, apesar de representar o que há de mais antigo na política, entregando as chaves da prefeitura a colaboradores, por simples falta de vontade, apatia de tocar a administração municipal. Voltando ao velho chavão que corre em Ilhéus, teria abdicado da caneta em benefício de um secretário e ainda entregou a obrigação de fazer ao governador do Estado da Bahia.

Comparações à parte, Marão copia políticos mais velhos nas artimanhas e comportamentos ao tratar com eleitores durante a campanha eleitoral, demonstrando bastante intimidade quando na cata ao voto. Promessas e mais promessas durante a campanha, esquecimento após a eleição, quando já não mais depende dos que o elegeram, mas pouco importa o distanciamento após se aboletar na cadeira de prefeito.

Na contabilidade do prefeito Marão, em quatro anos estará de volta, abraçando e beijando os eleitores de memória fraca e já acostumados a perder para os políticos experientes, gente de boa lábia e fácil persuasão. Se não deu para fazer, põe a culpa em outras instâncias, garante que passou todos esses anos com o projeto aprovado, faltando apenas a vinda dos recursos, presos na burocracia governamental. Deixa a pandemia passar…

Mas as redes sociais não estão permitindo esse tipo de comportamento dúbio dos políticos, haja vista o que demostra esse pequeno vídeo, que não permite contestação, dada a sua objetividade. Hoje tudo está às claras, nas lentes das máquinas fotográficas e filmadoras dos aparelhos celulares. Em menos de um minuto cruza o mundo pelas redes sociais, e continua perfeito, mesmo que apagado pela fonte emissora.

É chegada a hora do eleitor avaliar bem o seu candidato, escolhendo o que se apresenta como ético e moral, comprometido com as necessidades da população, estas postergadas a cada quatro anos de sucessivos mandatos. Basta não acreditar em projetos mirabolantes e nas vãs promessas, feitas sem nenhuma garantia factível da serem executadas e nem o pudor quando apresentadas.

Já não era sem tempo o eleitor dar um simples basta nessa prática execrável, useira e vezeira a cada campanha eleitoreira. Que saiba dizer um não aos candidatos com prazo de validade vencido e que passaram o tempo inteiro com propostas enganadoras, beijos e abraços na campanha eleitoral, pois lembrem-se de que só quem vive bem os agostos é merecedor da primavera.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 3 minutos

Pois Saldanha não se fez de rogado e abriu a coletiva com sua pergunta saudação por cerca de três minutos. De bom humor, após os elogios fáceis e adjetivos escolhidos a dedo, o governador Jaques Wagner respondeu à pergunta e em seguida acenou para Isaac encerrar a coletiva.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

As entrevistas coletivas concedidas por autoridades e políticos eram consideradas algo relevante, um encontro onde seriam revelados planos, projetos, programas, notícias dignas de bomba. De uma só vez o digníssimo venderia seu peixe e se colocava à disposição dos comunicadores para as devidas explicações de praxe, tirando todas as dúvidas e mal entendidos que por ventura ainda existissem.

Nem sempre as coletivas saem conforme o planejado, com perguntas consideradas inconvenientes ou fora do contexto, causando um mal-estar ao entrevistado e sua trupe – assessores e comunicadores amigos. Presenciei coletivas que acabaram em gargalhadas e outras de final lastimável, após a providencial, necessária e conveniente intervenção da turma do deixa disso.

Nessas ocasiões, o objeto da coletiva cai por terra e a notícia é salva por um sucinto release enviado pela assessoria de comunicação aos veículos de comunicação, prejudicando a informação. E no meio do tiroteio virtual fica a sociedade que não conhecerá dos detalhes da notícia, com a visão diferenciada dos diversos comunicadores presentes.

Mas existem, ainda, as coletivas que contam com a participação de penetras – a favor e do contra o político presente –, que querem mostrar serviço, puxar o saco, dizer que está presente para defendê-lo, quem sabe, até a morte. Exageros à parte, cortam a pergunta do comunicador, ajudam na resposta do entrevistado, fazem discurso tecendo loas, conseguem desagradar mineiros e baianos.

O radialista Elival Saldanha, conhecido como o “Gogó de Ouro” de Ilhéus, se notabilizou pela sua voz, é claro, mas sempre enriquece o seu currículo com outras nuances. Promotor de eventos artísticos no passado, em tempos mais recentes assumiu a realização de festas etílico-gastronômicas em Ilhéus, a exemplo da Feijoada e da Peixada do Jornal Foco Bahia, além do camarote Dubai é Aqui, no Carnaval ilheense.

Mas isso não era tudo para o velho Saldanha, que adorava participar de uma entrevista coletiva. E mais, era sempre o primeiro a perguntar, ou melhor, fazer uma pergunta através de um lauto elogio, a pleno pulmões com a voz que Deus lhe deu. E não abria mão dessa primazia, que proporcionava uma “boa” dor de cabeça nos assessores da autoridade a ser entrevistada.

E não adiantava a lista dos comunicadores inscritos pela ordem na mão do coordenador da coletiva, já que não possuía os pulmões e cordas vocais com força suficiente para abafar a sonora voz do Gogó de Ouro. E como todos já o conheciam e eram amigos, permitiam a primazia da pergunta inaugural, seja quem fosse o entrevistado, não conseguia escapar do questionamento de Saldanha.

E assim aconteceu durante a coletiva concedida pelo governador Jaques Wagner numa abertura do Festival do Chocolate, no Centro de Convenções de Ilhéus. Como estavam presentes 15 profissionais de imprensa, a luta era traçar uma estratégia para dissuadir Saldanha de fazer a primeira pergunta, o que não funcionou, para o desespero dos jornalistas Daniel Thame, Maurício Maron e Isaac Jorge, coordenadores do evento.

Pois Saldanha não se fez de rogado e abriu a coletiva com sua pergunta saudação por cerca de três minutos. De bom humor, após os elogios fáceis e adjetivos escolhidos a dedo, o governador Jaques Wagner respondeu à pergunta e em seguida acenou para Isaac encerrar a coletiva, com apenas oito minutos de duração, para desespero de quem não tinha conseguido fazer uma só pergunta.

E quem disse que Saldanha se sentiu ofendido com o fim da coletiva? Pelo contrário, o Gogó de Ouro se jactava que teria sido o único comunicador a ter a deferência do governador do Estado, e ainda aproveitou a oportunidade para convidar Jaques Wagner a participar do camarote Dubai é Aqui, do Sheik Saldanha. Os jornalistas preteridos não se deram ao trabalho de repreender Saldanha pelo costumeiro comportamento.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 2 minutos

O fogo que destruiu o seu “ganha-pão” foi o mesmo que acabou lhe expondo a outra vida, outras pessoas e outra forma de “apresentar” a vida aos filhos!

Manuela Berbert || manuelaberbert@yahoo.com.br

Eu certamente não vou me lembrar da história exata, porque escutei há alguns anos, mas vou tentar resumir. Recém-formada, trabalhando em uma agência de marketing promocional em Salvador, viajava bastante para eventos institucionais. Sempre conversadeira, ia acumulando pessoas e causos.

Era convenção de uma grande empresa na Costa do Sauípe, e lá passei praticamente uma semana, entre montagem e desmontagem de stand do cliente, e acompanhamento do evento. Circulando, conheci um senhorzinho que me resumiu o seguinte: ele tinha uma padaria relativamente pequena e dali sustentava sua família e o status de empresário. (Vale lembrar que Empreendedor é um termo mais atual!) Um dia, ele teria sido surpreendido com a pequena padaria em chamas. O fogo teria destruído tudo! Tudo mesmo! Recomeçar seria uma opção, se ele pudesse, mas nem dinheiro para isso tinha!

Arranjar um emprego seria o mais prudente naquele momento, mas com a idade um pouco avançada, ele teria conseguido apenas uma vaga para vender um determinado produto, de porta em porta. E assim o fez. Alguns anos depois, estava ali, sentado naquele stand, tomando sorvete (todo dia eu ia lá filar um sorvetinho), enquanto me falava dos filhos, que eram, naquele momento, grandes empresários e estavam ali como tal.

A mudança e reconstrução não me impressionaram, até porque amo biografias e já li milhares assim! O que nunca esqueci foi ele me dizer que se o fogo não tivesse destruído sua pequena padaria, talvez ele não tivesse a oportunidade de se orgulhar dos seus. O fogo que destruiu o seu “ganha-pão” foi o mesmo que acabou lhe expondo a outra vida, outras pessoas e outra forma de “apresentar” a vida aos filhos!

Obs: O stand era de uma marca de móveis nacionalmente conhecida, o sorvete era apenas um receptivo e meu companheirinho estava em Sauípe praticamente a passeio! Feliz de mim que pude conhecê-lo!

Manuela Berbert é publicitária e especialista em Marketing de Conexões.

Tempo de leitura: 2 minutos

Dentre os nossos atrasos históricos, torna-se cada vez mais necessário superar os passivos social, urbanístico e ambiental. Isso exige novos olhares, união de esforços e objetivos, modernização da máquina pública, definição de prioridades e atração de novos investimentos.

Rosivaldo Pinheiro || rpmvida@yahoo.com.br

Nossa cidade completa hoje 110 anos de emancipação política, trazendo consigo a marca do empreendedorismo e da ousadia em desbravar horizontes. Sua gênese se deu pelo trabalho de sergipanos que por aqui chegaram em 1867. Dois deles: Felix Severino do Amor Divino e José Firmino Alves. Antes, em 1857, surgia o arraial de nome Tabocas, ponto de apoio aos tropeiros que se dirigiam a Vitória da Conquista.

Nesses 110 anos de emancipação política, passamos por uma verdadeira transformação no aspecto urbano, tendo sua maior expansão no período da crise da vassoura-de-bruxa, agravada na década de 1990, quando chegaram milhares de trabalhadores expulsos do campo, em busca, no solo local, de uma alternativa para sobrevivência, impactando os serviços públicos e exigindo de toda a sociedade adaptação a essa nova realidade que se estabelecia.

Se, por um lado, essa expansão representou pressão sobre a zona urbana e os serviços públicos, fazendo aparecer a escassez de recursos para salvaguardar direitos constitucionais, por outro deu à cidade um aumento populacional e a motivação para que os seus atores principais, públicos e privados, passassem a compreender a necessidade de superação da crise imposta pelo modelo agropastoril exportador para um novo, no qual comércio e serviços ganharam nova dinâmica e foi dado início a uma embrionária industrialização.

Do lado público, nossa cidade tem tido, ao longo desse mais de um século, poucas inovações. Sua principal característica, politicamente falando, foi ser gerida de forma populista, perdendo, por diversas vezes, o protagonismo regional devido a essa postura administrativa. Isso impactou negativamente, inclusive, na busca por novas receitas e no equilíbrio fiscal do município.

Dentre os nossos atrasos históricos, torna-se cada vez mais necessário superar os passivos social, urbanístico e ambiental. Isso exige novos olhares, união de esforços e objetivos, modernização da máquina pública, definição de prioridades e atração de novos investimentos. Essas conquistas só serão factíveis se adotarmos mecanismos de gestão levando em consideração a incorporação de novas tecnologias e elaboração de projetos para financiamento dessas ações.

Precisamos agir para incrementar políticas reais e alterar o nosso perfil de desenvolvimento local. Tal sinergia exigirá, em doses cada vez maiores, um entrelace do setor público com os setores privados e toda a sociedade para, por meio dessa perspectiva, dotar a nossa cidade de condições melhores para a nossa convivência. Precisamos de um novo pacto social local.

Rosivaldo Pinheiro é economista, comunicador e especialista em Planejamento de Cidades.

Tempo de leitura: 3 minutos

A cada necessidade de crescimento ou desenvolvimento, os coronéis do cacau, do comércio e dos serviços se reuniam e se cotizavam, doando terras, recursos em dinheiro e materiais para implantar uma rede de energia elétrica, a pavimentação de uma rua, e até a construção do aeroporto.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Não é todo o dia que se comemora 110 anos! Uma idade respeitável para uma venerável cidade, generosa, acima de tudo, e que sempre concedeu todas as oportunidades aos que a procuram. Mesmo antes de se emancipar de Ilhéus em 1910, o distrito de Tabocas era conhecido pela sua ousadia de filha precoce que sempre buscou andar com as próprias pernas, sem a dependência financeira.

De início, mal interpretada pela mãe Ilhéus, exigente e responsável pelo futuro da filha, cujos planos e costumes da época se limitavam ao agarramento das saias e submissão ao pátrio poder. Os quase 30 quilômetros da sinuosa estrada que os separavam Itabuna proporcionavam um desejo de independência, emancipação, pois a gente desbravadora das terras do sem-fim também sabia e queria dirigir seus destinos.

Em 1909 os comerciantes do distrito de Tabocas demonstravam sua pujança e fundaram sua Associação Comercial, com sede e diretoria própria, pronta para cuidar dos seus interesses econômicos. O distrito prosperava a olhos vistos com a chegada de leva de pessoas da Bahia, do Brasil e do exterior, fazendo funcionar todas as instituições da comunidade, sem a ajuda de Ilhéus.

Enquanto lutava por sua emancipação, desbravava novas áreas, plantava e colhia cacau, produzia alimentos para sobrevivência, comercializava e os melhores produtos da moda vindos da Bahia (Salvador), Rio de Janeiro e Paris. Os cacauicultores lucravam com a colheita do cacau e construíam as casas de comércio e seus sobrados, verdadeiros palacetes.

As adversidades sofridas com as cíclicas enchentes alternadas com as secas eram superadas à custa de muitas dificuldades daquela gente nortista – baianos da caatinga, sergipanos, alagoanos –, aliada aos turcos, sírios, libaneses, portugueses e espanhóis. E massa deu liga e até hoje está amalgamada na famosa Nação Grapiúna, de novos costumes e cultura do cacau.

Por anos a fio Itabuna esteve no ranking das cidades que mais cresciam no país e passou a ser considerada uma das principais para investimentos. O comércio e serviços contribuíram decisivamente para mantê-la continuamente nessa posição de destaque. Foram construídos hospitais, escolas, melhorada a infraestrutura urbana e rural e os filhos dos coronéis do cacau voltaram das capitais diplomados, ostentando anéis nos dedos.

E Itabuna se fez cosmopolita, passou a interagir mais com Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Paris, desta vez não só com as compras de catálogos, mas através das casas residenciais adquiridas nas capitais, a exemplo dos palacetes no chiquérrimo corredor da Vitória. Tudo financiado com o lucro das fazendas de cacau, produto exportado para todo o mundo.

E Itabuna não se fez de rogada ao perder quase uma dezena de distritos – emancipados –, ao contrário planejou sua economia no que mais pendia sua vocação: o comércio e a prestação de serviços, implantada com os melhores equipamentos. Época de estradas ruins e navegação de cabotagem precária, o itabunense construiu um aeroporto para chamar de seu.

A cada necessidade de crescimento ou desenvolvimento, os coronéis do cacau, do comércio e dos serviços se reuniam e se cotizavam, doando terras, recursos em dinheiro e materiais para implantar uma rede de energia elétrica, a pavimentação de uma rua, e até a construção do aeroporto. O sobe e desce dos aviões rivalizavam com muitas capitais brasileiras, devido ao alto poder aquisitivo da população.

Se o itabunense se preocupava com a economia, desprezava a política estadual e federal, mesmo elegendo deputados locais. Se ufanava da riqueza que produzia, mesmo recebendo migalhas em contrapartida. Bastava chegar ao tesouro estadual os recursos oriundos do Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) do cacau para rodar a folha de pagamento dos servidores e honrar os compromissos com fornecedores.

Não eram recursos exclusivos produzidos por Itabuna, embora grande parte foi gerada com a comercialização nas grandes empresas compradoras e exportadoras de cacau aqui localizadas. Veio a vassoura de bruxa e as aves de mau agouro vaticinaram o fim da lavoura cacaueira, a extinção de Itabuna do mapa econômico regional. Apenas ameaças que não chegaram a atemorizar o itabunense.

Aos poucos, a cidade conseguiu se recuperar e voltou a ocupar o lugar de destaque na Nação Grapiúna. Administrações desastrosas, intemperes, políticas econômicas, preços do cacau em baixa, nada disso abalou as estruturas sociais. Prova inequívoca é a pandemia da Covid-19, cujo efeito devastador não chega a paralisar a cidade, apesar dos decretos e ordens de fique em casa.

Consequência maior e mais triste é o itabunense nativo ou de coração não poder comemorar o  Dia da Cidade na verdadeira data, por ter sido antecipada. Doloroso hoje, prazeroso amanhã comemorar a volta por cima, nos moldes da cultura e tradição deste povo que não se entrega às dificuldades, pois sabe combater o bom combate, sagrando-se vencedor, como sempre.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Itabuna registra 17.575 casos de Covid-19
Tempo de leitura: 2 minutos

Digo tanto para fazer refletir: quantas vezes Itabuna se reconstruiu todos os dias nesses 110 anos? E nós? Passaremos por esses nossos igualmente firmes, pois como diria Valdelice Pinheiro, “[…] de doces e tristes coisas é feita a vida…”.

Ícaro Gibran || icarogibran1@gmail.com

Quando estive em Itabuna, era ainda uma centelha de vida, dia após dia abrindo as vistas para o mundo que me parecia ser a Avenida Juracy Magalhães e seu enorme fluxo. No enquadramento da janela entelada de um apartamento onde cheguei com meus pais, caatingueiros como eu, a turva visão de criança não me deixava conhecer tantas nuances em tantas encruzilhadas. Sim, por ali passavam viajantes, grapiúnas e agrapiunados, vidas cruzadas. Passava também o cotidiano do operário, do lojista, prestadores de serviço, mascates e o ritmo das horas aceleradas pela urgência em tomar os rumos da vida pós-crise.

A memória não me acode quanto aos pormenores, mas já em outra fase e em outra cidade, os relatos eram os de “pantomias” do menino que lançava pelas frestas e sobre os transeuntes tudo quanto fosse possível. Da repreensão, há recordância. Lançada, possivelmente, foi a profecia da volta.

Novos tempos, e quando Itabuna esteve em mim, aos 18, já não se tinha conta a fazer. Eu fui apenas um dentre tantos que vieram, retornaram ou permaneceram para a lida com a semeadura e cultivo de sonhos. Por vezes escutei pelas bandas do sudoeste baiano sobre o grandioso potencial da cidade com ares de capital. Essa impressão (a de teimosa latência) em mim continua morando. Mas cacau já não havia. Neste lugar estavam as marcas da pós-grapiunidade forjada a suor e sangue pelos que adubaram a monocultura e instituíram a hierarquia de subalternidades que organiza a dinâmica geográfica e decalca os limites da periferia e da violência ainda e sobretudo hoje.

Falo de hoje, pois permaneço nessa vivência há mais de década. Ainda que por ter recebido deste lugar os insumos necessários para uma formação privilegiada (é bem verdade), permaneço pelos ganchos com a resistência de uma cultura ímpar, dissidente, inquietante como os cheiros que se misturam ao cair da noite, abrindo o olfato para as madrugadas de chocolate no ar. Aqui estou pois, como no Cachoeira, há perenidade nos Vinte poemas do rio, do Cyro de Mattos. Há multifacetadas expressões na Inúmera Daniela Galdino. Há juventude fazendo literatura não canônica, há (re)existência e rap nas praças, e há poesia mesmo no desfilar das capivaras.

Digo tanto para fazer refletir: quantas vezes Itabuna se reconstruiu todos os dias nesses 110 anos? E nós? Passaremos por esses nossos igualmente firmes, pois como diria Valdelice Pinheiro, “[…] de doces e tristes coisas é feita a vida…”. Mas, por como me sinto – filho desse espaço –, é honra minha fazer com a poeta uníssono: “Eu sou plantada neste chão. Eu sou raiz deste chão. Este chão sou eu”.

Ícaro Gibran é bacharel em Comunicação Social (Uesc), pós-graduando em Gestão Cultural e atua no marketing sul-baiano há muitas lavagens de beco.

Tempo de leitura: 3 minutos

– Quem bom, embaixador! Essa é uma ótima notícia para a população de Itabuna, que poderá ficar livre dessa terrível doença. Basta utilizar o bagunço como supositório, que estarão imunizados – brincou (mas não necessariamente com essas palavras).

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

No segundo mandato de Antônio Olímpio (AO) como prefeito de Ilhéus, o então deputado federal Haroldo Lima (PCdoB) trouxe à região uma comitiva da República Popular da China. O interesse do deputado comunista era ampliar o comércio entre os dois países, notadamente de cacau, à época atravessando uma das suas muitas crises – esta, causada pela vassoura de bruxa.

Àquela época, os técnicos em agropecuária da Ceplac, ideologicamente ligados aos partidos de esquerda – PCB, PCdoB, PT e PSB – convenceram seus dirigentes nacionais que a saída para o cacau era comercializar o cacau com a China. Após os cálculos feitos em várias reuniões, acreditavam que se cada chinês tomasse, diariamente, uma pequena xícara de chocolate, o preço do cacau subiria às nuvens.

Tese aprovada pelos cardeais vermelhos da esquerda brasileira, a primeira providência era convencer os herdeiros de Mao Tsé-Tung a introduzir esse novo hábito alimentar no cardápio de seus compatriotas. Para tanto, deveriam convidar uma comissão de alto nível para conhecer o Sul da Bahia e provar as qualidades alimentares e afrodisíacas do cacau, que poderia voltar a ser conhecido como frutos de ouro.

Nada mais fácil para camaradas e companheiros arrebanharem as pessoas mais importantes e decisivas numa negociação entre Brasil e China, que prometiam mostrar ao mundo capitalista os bons resultados de uma negociação com dois países com governos ideologicamente próximos, diria até, iguais. Data marcada, a cúpula das instituições políticas e da cacauicultura do Sul da Bahia se engalanaram para receber os chineses.

Entre os “camaradas” da comitiva estavam o embaixador da República Popular da China no Brasil (chefiando a delegação), o Cônsul, funcionários graduados da embaixada, empresários, técnicos e jornalistas. Aqui, cumpriram uma extensa programação, que incluiu visita a três fazendas de cacau, Ceplac, Conselho Nacional dos Produtores de Cacau (CNPC) e as prefeituras de Itabuna e Ilhéus.

Convidado pelo prefeito Antônio Olímpio para um almoço no Hotel Canabrava, a delegação compareceu em peso. Bem falante, o cicerone Haroldo Lima demonstrava todo o seu conhecimento sobre a região cacaueira – local onde permaneceu clandestino nas fazendas de cacau durante a ditadura militar –, encantava os chineses com informações sobre a Mata Atlântica (fauna e flora), além de características sobre a história e a população.

Lá pelas tantas, Haroldo Lima apresentou uma das frutas mais famosas da árvore Artocarpus heterophylla, a jaca, responsável pela alimentação da população rural e os doces que poderiam ser feitos com ela. Entusiasmado com as ricas propriedades da jaca, o embaixador chinês pediu a palavra e discorreu sobre as propriedades medicinais da fruta, conhecida dos chineses, que a plantam no sul do seu país, junto ao cacau.

Prosseguindo, o embaixador chinês revelou um estudo científico realizado pelos chineses para combater a Aids, por possuir em sua composição uma substância de propriedades medicinais, a “jacaína”. A cada frase, o embaixador fazia uma pausa, para que o tradutor fizesse a transcrição para os presentes, quando foi aparteado pelo prefeito então prefeito de Ilhéus, Antônio Olímpio.

– Quem bom, embaixador! Essa é uma ótima notícia para a população de Itabuna, que poderá ficar livre dessa terrível doença. Basta utilizar o bagunço como supositório, que estarão imunizados – brincou (mas não necessariamente com essas palavras).

Os chineses apenas sorriam – como sempre – mas não entendiam o porquê do silêncio sepulcral no ambiente. É que a intervenção de Antônio Olímpio causou um profundo mal-estar entre os presentes de língua portuguesa, inclusive no tradutor, que ficou embasbacado sem saber como verter a frase para o chinês, para desespero do embaixador, que continuava sem saber o que estava acontecendo.

Explicações de pé de ouvido entre uns, troca de olhares entre outros, fortes risadas entre os brasileiros que naturalmente conheciam Antônio Olímpio e sabiam da sua verve humorística. Na verdade, quem conhece Antônio Olímpio sabe que ele perde o amigo, mas não perde a piada, e que nem se lembrava ou importava que ele, nascido em Ferradas, à época distrito e hoje bairro de Itabuna, era um autêntico papa jaca.

Discretos, os chineses não disseram o motivo pelo qual abriram mão de importar milhões de toneladas de cacau prometidas pelos comunistas brasileiros. Se contaram ficou em segredo de Estado.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 2 minutos

O grande desafio dessa doença reside em amar o “improdutivo”, aquele que não pode oferecer muito, é amar o velho e compreender o amor em sua plenitude, em sua forma mais gratuita e genuína, sem cobrança, sem expectativas. É cuidar de nossas lembranças, da nossa história.

Juraci Leal Filho

Somos testemunhas de uma guerra e, ao mesmo tempo, combatentes dela. Crianças estão partindo, jovens, mas principalmente idosos. Nossos velhinhos estão sendo dizimados, famílias tendo seus entes arrancados, acometidos antes pela dor da solidão, que mata devagarinho, e, por fim a partida sem o adeus.

Em algum lugar de nossas vidas, antes dessa pandemia avassaladora, o tempo para os mais velhos parecia artigo de luxo. O filho quase não tinha, o neto, também não. E assim a vida, o ninho vazio seguia para aqueles seres que não mais “produtividade” exercia para a sociedade. Afinal, o velho sempre foi a sobra de um tempo, aquele que somente figurava na vida dos outros, um apetrecho da sociedade que descarta pessoas como objetos.

Mas o tempo se encarregou de aplicar uma lição, surgindo uma doença, que isola as pessoas em suas casas, e o trabalho no escritório teria que dar um intervalo atípico, longo, bem maior que o programado. Trabalhadores incansáveis e indispensáveis a toda uma sociedade tiveram que parar.

Uma doença nova, sem precedentes científicos e literários, tudo novo, no ineditismo do novo Coronavírus, tudo fora da programação normal, pessoas, governos, empresas… Tudo fugiu do script, ninguém tem certeza de nada, a todo tempo inauguramos algum protocolo, alguma estratégia. Roteiro absolutamente longe do nosso controle. O nosso projeto cotidiano precisou ser reinventado, vidas sacudidas.

Muitas reflexões precisaram surgir, e se tudo acabasse agora, em meio a essa doença cruel, a convivência familiar e suas nuances intrageracionais, o vovô e o netinho, histórias recontadas, remoídas, o novinho muitas vezes cansado, sem paciência quase nem escutava mais, sem saber do esforço tremendo que o idoso fazia, para se apoiar na sua maior riqueza, sua memória, lugar onde suas lembranças estariam intactas, preservada nos mínimos detalhes.

Desta vez a saudade deu lugar a um enredo estranho. Não estamos tendo histórias com começo, meio e fim. É começo e fim, rápido assim, abruptamente vidas desaparecerem, famílias não se despedem dos seus entes, idosos recebem uma convocação extraordinária de partida, sem direito a despedida, muitos lutos são sufocados, e com coração mutilados, estamos assistindo a gerações desaparecerem, nossas histórias partindo junto. Quem conseguiu ouvir, guardou, quem não teve tempo, ficará a dor do remorso, e para todos nós algumas lições. E se amou de verdade, ficou o amor. Esse, verdadeiramente, nunca morre!

Aos jovens que mergulham na arrogante ilusão de vitalidade, na inebriante sensação de infinitude, ficam os ensinamentos dessas experiências de dor, saudade e sofrimento – e que tudo aqui é efêmero.

O grande desafio dessa doença reside em amar o “improdutivo”, aquele que não pode oferecer muito, é amar o velho e compreender o amor em sua plenitude, em sua forma mais gratuita e genuína, sem cobrança, sem expectativas. É cuidar de nossas lembranças, da nossa história. É reencontrar o caminho da fraternidade através de nossas tragédias, aproveitando a certeza do presente, sem perdermos o espírito de gratidão e a capacidade resiliente de amar.

Juraci Leal Filho é policial militar e assistente social.

Fernando Riela era craque dentro e fora do campo
Tempo de leitura: 4 minutos

Quatro irmãos, quatro craques! Fernando, Carlos, Leto, Lua. Uma família boa de bola. Boa de bola é pouco, isso era para quem não gostava de futebol. Uma família de craques testada e aprovada por onde passaram. Em campo chegavam a ser adversários: Dois no Fluminense – Fernando e Carlos, no Flamengo – Carlos, e Lua, o mais novo, no Janízaros, cada qual com seu estilo e posição.

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Nesta quarta-feira (22) o esporte fica de luto e os desportistas perdem um ídolo: Fernando Riela, o maior ponta-esquerda do futebol de Itabuna, que há muito vinha driblando as complicações cardíacas. De repente, por uma leve distração ou pelos efeitos sobrenaturais do futebol, Fernando Riela não conseguiu chegar ao fim da linha esquerda com a bola nos pés e cruzar para o gol, como fazia no velho campo da Desportiva.

Perdeu a bola para o adversário – seu próprio coração – e tomou um gol de contra-ataque nesta madrugada. Infelizmente, perdeu o jogo, não o do seu Fluminense ou da gloriosa Seleção Amadora de Itabuna e no Itabuna Esporte Clube, mas da vida, para a tristeza de familiares, amigos, admiradores. É sempre assim, nem sempre conseguimos ganhar todas as partidas, às vezes empatamos, outras perdemos.

E Fernando Riela estava acostumado com os altos e baixos do futebol, onde muitas vezes dominava o jogo inteiro, estraçalhava o adversário, aplicava-lhe dribles infernais e não conseguia a chegar ao gol. Na vida também é assim. Passamos boa parte de nossa existência numa boa, ganhando todas, e lá pela frente nos alcança o cansaço, próprio dos anos vividos. Bem ou mal vividos, tanto faz.

O que importa é completar o ciclo por cima, amparado pelo que fizemos de bom, o que deixaremos como exemplo para a sociedade que nos cerca. É o chamado legado, no caso de Fernando Riela, bem positivo. É certo que ninguém está livre de tomar uma bola “pelas costas” num cochilo qualquer, mas logo retomada com maestria e finalizada com um gol magistral.

Mas o tempo não perdoa. A cada minuto o árbitro da partida está de olho no relógio, preocupado com os 45 minutos do segundo tempo, impedindo qualquer avanço para a linha de fundo. Às vezes, até dá pra cruzar a bola, que nem sempre chega à cabeça do centroavante e ir ao fundo da rede e partirmos para comemorar mais um tento na nossa vida, o que equivale ao “por pouco não chegamos lá”.

Você deve lembrar com saudade, Fernando, de quando recebia a bola e partia para a linha lateral cercado de zagueiros, controlando a bola coladinha no pé esquerdo e passando – de passagem – por todos eles? Claro, como poderia esquecer essa jogada, que terminava com um lançamento para a pequena área e gol. Como esquecer a galera inteira do campo da Desportiva aclamando mais um gol! Impossível esquecer!

Quatro irmãos, quatro craques! Fernando, Carlos, Leto, Lua. Uma família boa de bola. Boa de bola é pouco, isso era para quem não gostava de futebol. Uma família de craques testada e aprovada por onde passaram. Em campo chegavam a ser adversários: Dois no Fluminense – Fernando e Carlos, no Flamengo – Carlos, e Lua, o mais novo, no Janízaros, cada qual com seu estilo e posição.

Se separados eram bons, imaginem juntos na invencível Seleção Amadora de Itabuna, que chegou ao octacampeonato. Uma emoção e tanto para os torcedores, imaginem para os outros tantos craques que atuavam juntos. Como ouvi algumas vezes de outro craque dessa época, o meu amigo Bel (Abelardo Moreira), era fácil jogar com tanta inteligência e ginga junto, tudo ficava mais fácil.

Mas Fernando Riela não foi somente um jogador de futebol, melhor, o jogador de futebol, ou como o definiu o também jogador Maurício Duarte, com passagens por grandes clubes brasileiros: Fernando Riela foi o Garrincha pela ponta-esquerda. Fora dos gramados, era um amigo leal, um pai de família exemplar, um empresário, um cidadão sempre disposto a participar dos eventos do bem.

Dos quatro, dois estão entre nós, Carlos e Lua. Leto, e agora Fernando já nos deixaram por terem sido escalados por Deus para a seleção do Céu, onde jogam ao lado de tantos colegas. Lembram de Tombinho, Santinho, Léo Briglia, Jonga Preto, Luiz Carlos, Humberto, Danielzão, Valdemir Chicão, Neném, Santinho, Humberto Cézar, Zequinha Carmo, Amilton e tantos outros, animados pela charanga de Moncorvo.

Fernando Riela jogou em Itabuna, mas pelo futebol que jogava poderia ter atuado no time que quisesse e somente não estreou no Vasco da Gama para atender a um pedido do seu pai, seu Astor, que não abria mão de não ver seu filho jogando naquele Fla-Flu grapiúna. Atendendo ao pedido paterno, deixou o Rio de Janeiro, viajou para Itabuna e jogou no clássico. Estraçalhou o Flamengo, embora tenha perdido o jogo no segundo tempo.

O tempo que não para, não perdoa quando é chegada a hora, como não parou agora.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 3 minutos

Tal e qual o pombo liberado por Noé para ver se ainda existia vida na terra, devidamente mascarado e com um vidrinho de álcool em gel nas mãos, me aventurei por outros dois quarteirões.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook

Aos poucos, as livrarias começaram a nos oferecer livros sobre as causas e efeitos da pandemia, primeiramente com livros reportagens, contando, passo a passo, o início, o meio e as previsões para o fim. O que mais me chamou a atenção – mesmo não tendo adquirido nenhum deles, e sim ao ler resenhas – é que não existirá um fim para a Covid-19, no máximo uma trégua.

Trégua essa que depende dos avanços da ciência na apresentação de medicamentos e, sobretudo, vacinas, já em experimentos em diversos países e com a participação do Brasil nas pesquisas. Essa seria uma boa notícia se eu não tivesse lido por aí que o Coronavírus é chegado a mutações e poderemos ter pela frente o Covid-20, 22, 38, 45, de acordo com a vontade dos chineses.

Se nos bastasse o grande incômodo da doença, agravada pelas notícias da grande mídia terrorista, também seremos assediados pelas publicações de livros de luxuosas capas e conteúdo aterrorizador. Monografias de especializações, dissertações de mestrado e teses de doutorados invadirão nossos cérebros, sugando nossa massa cinzenta, tal e qual o tamanduá do cartunista Henfil.

Quem também está de volta, reestilizado, é o Cabôco Mamadô, cujas vítimas não mais serão enterrados no cemitério dos mortos-vivos e sim pomposamente cancelados com ampla repercussão nas redes sociais. É os tempos mudaram. Por mais que alguns se esforcem, a tese marxista continua sendo levada ao pé da letra: A história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa.

Mas voltando às edições sobre a pandemia, termos livros sobre todas as óticas e ideologias, sempre aos olhares atentos dos antropólogos, sociólogos, filósofos, juristas, historiadores, ideólogos e, quem sabe, sem especialidade alguma, como eu. Uma barafunda de ideias que – por certo – fará corar o mais sabidos dos sofistas que pululam os programas de televisão de norte a sul do país.

Enquanto gastaremos nosso precioso tempo em ler, ouvir e ver tais “verdades absolutas”, quem sabe esqueceremos os absurdos que vimos e presenciamos durante o tempo em que ouvimos insistentemente: “Não saiam, fiquem em casa”. Presos – ou melhor, “debaixo de ordens” –, não tivemos nem mesmo que pensar sobre o livre arbítrio ou o princípio constitucional do direito de ir e vir.

Como se não bastasse a queda, ainda levamos o coice. Não temos nem o sagrado direito de informação sobre o trâmite dos recursos destinados a dar um freio na pandemia, gastos como se investidos fossem nas mais variadas formas de tratamento. Salvo por uma ou outra operação da Polícia Federal, não temos como traçar um simples roteiro do dinheiro desde que saiu de Brasília.

Nos tempos modernos de hoje, esse dinheiro nem precisa viajar pelas estradas, como nas diligências nos velhos filmes de faroeste, ou mais recentemente pelos carros-fortes, sempre alvo dos assaltantes. Agora viajam por meio eletrônico e não levam dois segundos sequer para chegar aos destinos. Pelos meus imprecisos cálculos, essa viagem é tão acelerada que não dá parar no destino. Faltam os freios, acho eu.

Enquanto fico em casa sem ter o que fazer, a não ser ajudar a mulher em pequenas tarefas domésticas, me atenho aos meios de comunicação disponíveis para continuar informado se o mundo ainda consegue se equilibrar no firmamento. Numa de minhas saídas consegui ver um carro-pipa jogando água nas paredes, passeios e ruas e fui informado pelo motorista que era água sanitária para matar o vírus. Tiro e queda!

Nem eu mesmo sabia dessas ricas propriedades da água sanitária e enquanto me debruço ao computador para aprender o que poderia fazer com a que tenho em casa, eis que ouço de novo num carro de som a mensagem para não sair de casa. Até que me alegrei pois me era concedido o direito de ir à padaria, supermercado e farmácia. Viajar! Jamais! Me aquietei por uns dias.

Tal e qual o pombo liberado por Noé para ver se ainda existia vida na terra, devidamente mascarado e com um vidrinho de álcool em gel nas mãos, me aventurei por outros dois quarteirões. Conversei com uns dois amigos no jardim de suas casas, perguntei pelas novidades e se já tinham descoberto algum medicamento para nos livrar dessa maldita doença. Qual nada, tudo na mesma.

Depois de uma meia hora encontro um cidadão bem informado sabedor dos fatos, cabo eleitoral dos bons, gente importante na política municipal e estadual, e que me confidencia e recomenda: “É melhor ficar quieto em casa, pois não tem remédio que bata a testa com a doença, que teima em aumentar a cada dia, desembestada igual mula antes de amansar”.

Não me contento e pergunto:

– E a água sanitária não resolveu a parada?

– Que nada, parece que não surtiu efeito, respondeu e continuou sua viagem.

Da maneira que ele falou, achei que já estavam falsificando a água sanitária. Vou até mandar a que comprei em casa para fazer um teste no laboratório.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado. Confira crônicas e histórias no Blog Walmir Rosário.

Tempo de leitura: 2 minutos

A live foi uma palestra, com doses de entusiasmo, chamada de responsabilidade, inovação, tradição, simpatia e respeito. A fala de Luiza nos faz sair do lugar comum e avançar. Luiza é sinônimo de trabalho, adjetivo e também filosofia de vida, como disse a ela na oportunidade.

Rosivaldo Pinheiro || rpmvida@yahoo.com.br

Como já disse anteriormente, estamos observando no Brasil as vísceras e veias expostas desta nação, uma verdadeira explosão de falta de estrutura e ação vieram à tona, impulsionadas pelo novo coronavírus. O vírus fez aumentar a lente de observação dos nossos problemas seculares que havíamos conseguido reduzir a partir da eleição de Fernando Henrique Cardoso, ganhando maior celeridade com o conjunto de políticas públicas implementado nos governos Lula e Dilma. Após o impeachment, tivemos um achatamento de curva, a da atenção social. E, agora, com a expansão da curva pandêmica, essas vulnerabilidades se mostraram ainda mais explícitas.

Tive a honra de entrevistar, na última terça-feira (13), a empresária Luiza Helena Trajano, responsável pelo comando da Magazine Luiza. Uma história de sucesso. É a maior empresa do segmento varejista nacional, que se iniciou com uma lojinha em Franca, interior de São Paulo, aberta por Luiza Helena Donato, tia da atual comandante.

Luiza nos contou que a empresa nasceu do espírito empreendedor da tia e que, inicialmente, ela só queria gerar emprego para a família. Hoje, a Magalu emprega mais de 40 mil funcionários, diretamente, e outros milhares de forma indireta, sendo a empresa de maior valor do setor no Brasil. O valor de mercado da Magalu é de R$ 110,7 bilhões (Ibovespa, maio de 2020).

O que mais me impressionou nesse papo empreendedor foi observar aquela mulher humana, sensível, compromissada com o país, com o trabalho e sabedora das suas qualidades e limitações. Mas, acima e apesar de tudo, com a alma e o coração imersos na humildade. Foi uma verdadeira aula de sabedoria e valor de cidadania. Apesar de ocupar um espaço de poder, algo que pode envaidecer muitos que não são pé no chão, não deixou aflorar o ego.

Concluo dizendo que a live – confira no vídeo abaixo –  foi uma palestra, com doses de entusiasmo, chamada de responsabilidade, inovação, tradição, simpatia e respeito. A fala de Luiza nos faz sair do lugar comum e avançar. Luiza é sinônimo de trabalho, adjetivo e também filosofia de vida, como disse a ela na oportunidade. E serve de inspiração para mulheres e homens que querem revolucionar os seus olhares e ações na construção de uma sociedade menos desigual, onde os nossos papéis sociais possam ser exercidos buscando construir pontes em prol de uma sociedade mais harmônica e feliz.

Rosivaldo Pinheiro é economista e especialista em Planejamento de Cidades (Uesc).

Tempo de leitura: 3 minutos

No meio de sua palestra, todas as questões que sempre defendeu foram postas, para delírio dos presentes. Num desses temas, como era de se esperar, a crescente utilização da maconha, não se restringindo ao “cigarrinho maldito”, como se referiam alguns, mas em diversas atividades econômicas.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Um dos melhores momentos vividos nesse Brasil foi a chamada luta pela redemocratização, com movimentos estourando por todo o país, com palestras, seminários, workshop ou os simples comícios. Desde a luta pelas eleições diretas, a Constituinte e a eleição de Tancredo Neves o Brasil só respirava política. Não se falava em outra coisa.

Políticos com mandato cruzavam os céus em aviões de carreira ou particulares em busca de apoio para suas propostas no Congresso Nacional ou para a formação de novos partidos políticos. Os sem mandatos também se viravam como podiam para “vender seu peixe”, inclusive “as novidades”, a exemplo dos cassados e exilados políticos que retornaram ao Brasil e buscavam mandatos, ou os já eleitos.

Convidado do Município de Ilhéus para vir à cidade participar de um fórum de debates, o deputado federal Fernando Gabeira se transformou, como sempre, numa atração à parte. Não tão somente pela sua história, mas, sobretudo pelas propostas inovadoras para a política brasileira, a exemplo do que sobe fazer, haja vista sua constante capacidade de transformação em relação ao presente e ao futuro.

Em Ilhéus, durante toda sua estada, sempre esteve cercado pela imprensa, inclusive a nacional, e não se fazia de rogado ao tratar dos mais diversos assuntos ligados à política e economia nacional internacional, analisando estruturas e conjunturas, construindo cenários futuros. E assim passou a ser o maior e mais importante personagem do evento, inibindo figuras importantes da vida política e econômica brasileira.

E não era para menos. Jornalista experiente, político defensor de questões consideradas controversas, polêmicas, verdadeiros tabus, o casamento homossexual, a descriminalização da maconha e profissionalização da prostituição, Gabeira tinha muito a falar por onde andava. Ainda mais quando a questão é sua história, a exemplo da militância política clandestina e as ações na luta armada durante o período da ditadura militar, quando participava do Movimento Revolucionário Oito de Outubro.

Membro fundador do Partido Verde (PV), Gabeira é um esquerdista histórico, tanto que alternou sua militância também no Partido dos Trabalhadores (PT) em diversas eleições. Por essas e outras, Gabeira tinha muito que contar e os jornalistas a perguntar. E esse assédio ficou mais evidenciado durante sua palestra no auditório do hotel em que também se hospedava, o Opaba.

No meio de sua palestra, todas as questões que sempre defendeu foram postas, para delírio dos presentes. Num desses temas, como era de se esperar, a crescente utilização da maconha, não se restringindo ao “cigarrinho maldito”, como se referiam alguns, mas em diversas atividades econômicas. O cânhamo passava a ser visto como commodity e não mais como um problema de polícia ou política social.

Tanto era assim, que uma das demonstrações feitas pelo deputado federal Fernando Gabeira era o seu próprio tênis, fabricado com cânhamo, nome vulgar da Cannabis sativa, arbusto que fornece as folhas para a produção do velho cigarrinho de maconha. E a plateia ficou ouriçada com o exemplo dado pelo deputado. A notícia, por certo, ganharia as manchetes dos rádios, jornais e televisões do mundo inteiro, como efetivamente ganhou.

Mas essa não era a preocupação de um expectador em especial, que não perdia um lance do deputado Gabeira, era o repórter fotográfico Mário de Queiroz, o conhecido Mário Bandeira, identificado como um dos usuários da maconha na sua versão enroladinha. Após os cliques de praxe, sempre buscando o melhor ângulo, Mário finalmente se aproxima de Gabeira e diz baixinho:

– Deputado, deputado, vamos subir ao seu apartamento para darmos uma fumada no seu tênis? – incentivou Mário de Queiroz.

Como era de se esperar, Gabeira respondeu com toda a tranquilidade:

– Olha, Mário, atualmente só uso maconha no tênis. Cânhamo, melhor dizendo – e seguiu respondendo as perguntas dos jornalistas.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 3 minutos

Nesta quarta-feira, 15 de julho, os tradicionalistas tiveram que se conformar, haja vista que a pirotecnia poderia ser realizada, menos as atividades das barracas, que tinham de ser presenciais.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Passei toda esta terça-feira (14) em casa, acabrunhado por não ter como participar dos festejos em homenagem a São Boaventura, rever os amigos que vêm homenagear o santo em seu dia. Tudo cancelado por causa da pandemia. Minha única esperança era nesta quarta-feira (15) ir à praça da Matriz rever os católicos tradicionais que comemoram a data no seu verdadeiro dia, 15 de julho.

Dia 14 de julho é data para se comemorar a tomada da Bastilha, marco central da Revolução Francesa, que nada tem a ver com Canavieiras, também conhecida como Canes, com um “n” só para não rivalizar com a cidade da Riviera francesa. São Boaventura era italiano e sua segunda pátria, pelo que consta nos estudos do memorialista Raimundo Tesdesco, é Canavieiras.

Para evitar as inevitáveis (pode?) polêmicas eu fico com as duas datas: dou uma no cravo e outra na ferradura, festejando nos dias 14 e 15, além do tradicional cortejo e lavagem da escadaria da igreja. Este ano, se não fosse pelas estrepolias de Tolé, nem as escadas seriam lavadas, o que por certo seria um desgosto a mais para São Boaventura, já chateado com a mudança de datas.

Pelo que consta, na farta documentação da Igreja Católica Apostólica Romana está registrado o dia 15 de julho de 1274 como a data de seu falecimento e não 14 como hoje festeja a igreja em Canavieiras. Como não gosto de desagradar os amigos, me reúno com todos eles nas barracas montadas na praça da igreja para homenagear o santo. Comemos e bebemos de acordo com a tradição, sem qualquer atrito.

Pelo que Tedesco me contou, essa história da data é uma questiúncula que já deu muito o que falar. Ele jura que no livro de Tombo da paróquia consta que a trezena era iniciada no dia 2 de julho – dia do Caboclo – e se estendia ao dia 15, com festas noturnas bancadas a cada dia por um grupo de devotos, que se esmeravam em promover uma mais rica que a outra, numa demonstração de poder e fazer média com o padroeiro.

Mas num determinado ano, o padre de Belmonte reclamou com seu colega canavieirense que eles não prestigiavam a padroeira da cidade vizinha, Nossa Senhora do Carmo, Mãe de Jesus Cristo, também comemorada na mesma data. Por uma questão de hierarquia, Belmonte merecia a visita dos canavieirenses. O padre canavieirense não contou conversa e antecipou o festejo em um dia.

No dia 15 mais de 10 canoas aportaram em Belmonte com os fiéis canavieirenses, tendo à frente o padre, pensativo com o argumento que utilizaria para acomodar os católicos tradicionais emburrados com a mudança. Rezaram, cantaram e louvor a Nossa Senhora do Carmo, e aqui chegando foi proposta uma eleição para a escolha da nova data. Os cabos eleitorais do padre foram mais convincentes e 14 de julho transformada em data oficial.

Embora perdessem a eleição, os católicos tradicionais não se conformaram e continuaram por muitos anos comemorando São Boaventura no dia 15, até chegar ao esquecimento. Anos depois, resgatada a história, um grupo de rapazes bem-intencionados resolveram ampliar os festejos ao padroeiro por mais um dia, sob protesto dos dirigentes da igreja – padre e assessores.

Da suntuosidade da festa do dia anterior foram abolidas as cerimônias religiosas, por motivos óbvios, o que em nada abalou a boa vontade do grupo, que se limitou ao uso de algumas ferramentas de marketing. Desprovidos de um sino, compraram 15 dúzias de foguetes e pistolões, que soltavam aos poucos para chamar a atenção da comunidade, espantada com a pirotecnia.

Tudo foi estudado milimetricamente pelos rapazes, que no dia anterior propuseram uma parceria aos donos de duas barracas para que ficassem abertos no dia seguinte, com a promessa de alto faturamento. Além alvorada pirotécnica, que se estende por todo o dia, comem e bebem nas barracas e ainda promovem debates sobre a influência de São Boaventura na sociedade canavieirense e contabilizam a quantidade de Boinhas.

Com essa pandemia, acabou a tradição dos católicos tradicionalistas e até algumas dos contemporâneos. E explico: Ao final da procissão, o pároco – da escadaria da Igreja – asperge água benta em carros, motos e bicicletas. Para completar o ato de fé e de confiança no poder de São Boaventura, a população se dirige ao andor do Santo para retirar e guardar as folhas e flores que enfeitavam o andor.

Conforme reza a tradição, quem guardar uma folha ou um pedaço de flor na carteira, não terá dificuldades financeiras, males e doenças. Essa parte ainda foi possível ser feita, pois a procissão foi transformada em carreata. Já nesta quarta-feira, 15 de julho, os tradicionalistas tiveram que se conformar, haja vista que a pirotecnia poderia ser realizada, menos as atividades das barracas, que tinham de ser presenciais.

Estamos chocados com a falta dessa tecnologia para proporcionar uma homenagem tão especial.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 4 minutos

Atuando hoje nas mais diversas áreas do conhecimento, a Uesc volta seu foco de ação para os municípios regionais, notadamente para o enfrentamento à pandemia da Covid-19, incluindo aí os planos de abertura econômica, que pode ser – ou não – referendado pelos prefeitos.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Na noite desta quarta-feira (9) tive a grata satisfação de assistir a uma live organizada pelo Laboratório de Ensino de História e Geografia (Lahige) da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). Em pauta, os Impactos nas Cidades e na Economia no Contexto da Pandemia da Covid-19, debatidos pelo Magnífico Reitor Alessandro Fernandes e o vice-prefeito de Ilhéus, José Nazal.

Finalmente, tivemos a felicidade de constatar que há inteligência no planeta cacau, embora a prática e a execução nem sempre chegue ao destinatário, o cidadão, que paga a conta e não recebe os benefícios. Desta vez, espero que mudem-se os comportamentos e a Uesc possa interagir com a sociedade, como reclamava o ex-professor de Economia José Adervan de Oliveira, desde os tempos de cuspe e giz.

Em duas horas e meia, o reitor Alessandro Fernandes discorreu sobre como fazer ciência na academia e repassar esses conhecimentos às instituições políticas para a aplicação nas diversas cidades da região. Sei que não é fácil esse intercâmbio, haja vista os interesses díspares entre a academia e a política. Se hoje a Uesc faz tudo para sair do Salobrinho, a realidade entre os políticos se volta para o carcomido modelo do clientelismo.

Dentre os políticos do planeta cacau destaco – sem medo de cometer qualquer pecado ou injustiça – o vice-prefeito de Ilhéus, José Nazal, como o único que caminha com desenvoltura por entre as instituições, sempre em busca do conhecimento para aplicar em sua cidade. Não existe em qualquer cidade do sul e extremo-sul da Bahia alguém que estude Ilhéus e região e tenha os conhecimentos acumulados como ele.

Se sobram conhecimentos a Nazal, falta-lhe a caneta, como frisou durante a live, fornecendo dados contundentes, a exemplo dos arquivos digitais de aerofotogrametria do município de Ilhéus, guardados sem que prefeitos demonstrem o menor interesse sobre eles, essenciais para organizar a cidade, prospectar investimentos. É o mesmo que comprar livros de capas duras e coloridas, guardá-los numa vistosa biblioteca, não lê-los, como se ganhasse conhecimento pelos simples olhar e, quem sabe, a osmose.

A Uesc – mais uma grande criação de José Haroldo Castro Vieira – toma seu lugar no mundo da ciência e passa a administrar parte do acervo e serviços prestados pela Ceplac, igualmente criada por José Haroldo. Esse legado também será dividido com a Embrapa e a UFSB, após a decisão da morte por inanição da maior instituição de pesquisa, ensino e extensão da cacauicultura.

Atuando hoje nas mais diversas áreas do conhecimento, a Uesc volta seu foco de ação para os municípios regionais, notadamente para o enfrentamento à pandemia da Covid-19, incluindo aí os planos de abertura econômica, que pode ser – ou não – referendado pelos prefeitos. Embora as prefeituras sejam as maiores empregadoras em seus municípios, nem sempre contam com pessoal qualificado.

E nesta realidade, a Uesc é um campo fértil para as prefeituras, que por falta de bons projetos, nem sempre conseguem prospectar recursos disponíveis em bancos de desenvolvimento e no governo federal. Outro “calcanhar de Aquiles” das prefeituras é a áreas de compras – licitações –, na qual os servidores municipais poderiam “beber em fonte limpa”, e acabar com dissabores da rejeição de contas – junto com a área contábil –, caso queiram trabalhar com técnica e lisura.

Durante a live, muitas questões sobre a região cacaueira foram levantadas, sendo uma delas a realização de um amplo diagnóstico socioeconômico – nos moldes do realizado no início da década de 1970 –, em parceria com os municípios. Como suscitou Nazal, um trabalho dessa envergadura colocaria a região numa situação privilegiada para colocar o trabalho de baixo de braço – ou mandá-la por meio digital para investidores, se transformando em recursos garantidos para investimentos variados.

A esmagadora maioria dos sul-baianos não tem a menor noção do que representa o Complexo Intermodal do Porto Sul em termos de investimentos, crescimento e, possivelmente, desenvolvimento regional. Bilhões de reais serão investidos neste projeto, e o melhor: em diversas cidades, produzindo riquezas de forma solidária à população por meio da geração de emprego e renda.

Como bem disse Nazal, a qualquer dúvida sobre Ilhéus e região ele sai em busca soluções para os problemas apresentados junto aos produtores de conhecimento, notadamente determinadas áreas dos governos federal, estadual e as universidades (Uesc e UFSB). Esse seria um bom caminho a ser trilhado pelos políticos – parlamentares e gestores municipais –, que preferem o discurso vazio eleitoreiro, daí nosso estado de pobreza.

Por tudo isso e muito mais, rogo ao Magnifico Reitor Alessandro Fernandes e aos professores Humberto Cordeiro e Gilsélia Lemos que colaborem – ainda mais – com a região, disponibilizando no site da Uesc ou outro meio de comunicação as lives produzidas. Por certo, contribuirá para melhorar o nível de informação e de interesse sobre o desenvolvimento regional.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.