Advogado e doutor em Direito Efson Lima
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A disputa é pragmática e, agora, interessa converter toda a estratégia em voto. Ontem o artista foi de direita, hoje, dialoga com os interesses da esquerda e vice- versa.

 

Efson Lima

No Brasil, geralmente, não é um nascido na periferia que ocupa o “poder”, especialmente, o Executivo. Mas, é pouco provável alguém alcançar a função executiva sem um apoio das camadas mais populares. As eleições municipais de 2024 chamam bastante a nossa atenção. Os acenos para as periferias são constantes e demarcam o perfil do eleitorado brasileiro. As periferias no Brasil não são uniformes. As novelas, programas prediletos de milhões de brasileiros, já tinham sido produzidas com lastro nesse perfil e as periferias algum tempo já contribuem enormemente para o PIB brasileiro, inclusive, com uma classe média que cresceu nesse ambiente e “prefere” lá permanecer.

Segundo o IBGE, o Brasil tem mais de 10 mil aglomerados urbanos, representando aproximadamente 8% da população, em números absolutos, 16,6 milhões de habitantes. O sul da Bahia, como Ilhéus e Itabuna, as duas maiores cidades da região, possui diversas periferias e mostra o enorme tecido social. Núcleos urbanos que cresceram em decorrência da lavoura do cacau e que até hoje reclama uma solução.

Em Itabuna, determinado candidato, parece ter sua base nesse ambiente e consegue aglutinar diversos formadores de opinião em favor de seu nome.  Não sem razão, inúmeras pessoas declaram a partir desse lugar de origem e raça.  Outros tantos enxergam a oportunidade de uma pessoa com cunho mais popular alcançar a cúpula da gestão municipal.  Em Ilhéus, cidade demarcada por seus morros, muitos deles habitados pelas camadas populares, depara-se com candidatos de classe média, mas que esses cientes do desafio de receber o apoio do eleitorado, buscam os mais diferentes estratagemas para alcançar o eleitorado e converter em voto no domingo. A Princesa do Sul, uma cidade com enorme contingente periférico, padece com candidaturas, historicamente, aventureiras. E muitas delas sempre fazem apelo ao populismo. O eleitorado periférico precisa confrontar as propostas de programas de governo e verificar quais ações estão sendo pensadas para esse grupo.

Portanto, as estratégias para atingir esse eleitorado são as mais distintas, algumas delas surgem dentro de um contexto assertivo, logo, conseguimos verificar na proposta do programa de governo; outras buscam o voto do eleitor e recorrem aos artistas, preferencialmente, aqueles com apelo popular e conectado com essa massa. A disputa é pragmática e, agora, interessa converter toda a estratégia em voto. Ontem o artista foi de direita, hoje, dialoga com os interesses da esquerda e vice- versa.

As periferias brasileiras sempre instigaram pesquisas e reflexões. Algumas delas indicam que as periferias não são homogêneas; existe uma forte presença de igrejas evangélicas. As mortes violentas e as que decorrem pelo não acesso ao tratamento adequado dos problemas de saúde são constantes. Estas últimas são materializadas pela violência do Estado e, às vezes, do racismo estrutural.

As periferias são espaços urbanos, que constituídos pela omissão estatal ou articulados por agentes do Estado, refletem habitações muitas vezes desordenadas, ruas apertadas e uma gama de problemas que reunidos constituem ambientes singulares e que carecem de uma ação efetiva do Estado. Nem sempre a periferia está na borda de uma cidade, ela pode estar do lado de um bairro nobre.

As periferias possuem uma série de demandas: regularização fundiária, esgotamento sanitário e uma efetiva coletiva seletiva de resíduos sólidos; geração de trabalho; escolas e acesso ao ensino superior, preferencialmente, gratuita e pública e com qualidade; as diversas formas de acesso à cultura e de fomento, sem juízo de valor das elites. A segurança pública não pode ser repressiva, mas que dialogue com as diversas dificuldades locais e que seja acompanhada do conjunto de direitos: saúde, transporte público efetivo. As crianças e adolescentes precisam de apoio permanente.

Após as eleições, espera-se que os gestores e os legisladores eleitos para o âmbito municipal não se esqueçam desse conjunto de cidadãos que, diuturnamente, constroem a nação brasileira a partir de cada cidade. Por fim, a periferia merece ser representada por seus sujeitos de direito e de fato. A periferia não deseja ter príncipe e nem chefe de gueto, mas gestores comprometidos com o fazer pleno e permanente da cidadania.

Efson Lima é advogado e doutor em Direito pela Ufba.

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Espero que as informações contidas na ata não tenham refletido o alto teor dos debates, animados por cerveja bem gelada e de reduzido teor alcoólico, mantendo incólume o relatório com ares de ciência.

 

Walmir Rosário

Com a eleição na reta final, muita gente ainda não escolheu seu candidato, na maioria das vezes por falta de informações. É que eles ficam entocados durante quatro anos, aguardando apenas a largada para uma boa colocação numa câmara municipal qualquer, também chamada de câmara de vereadores. E aí falta tempo suficiente ao eleitor conhecê-los de perto.

Confesso que pensei em analisar esses candidatos, mas com o passar do tempo esqueci completamente da minha promessa. Ainda bem que tenho amigos que sabem cuidar das questões dos amigos, reparando algumas falhas cometidas ao longo do tempo. E foi providencial o convite de Valdemar Broxinha para nos dedicarmos à análise dos candidatos durante um dia inteiro.

E o local escolhido foi o Bar Laranjeiras, de Bené, no centro da cidade, perto de todos os interessados. Imediatamente surgiu outro pretexto: reeditar uma das reuniões do Clube dos Rolas Cansadas, no local mais apropriado. Bastou uma ligação de Valdemar Broxinha, Bené cuidou de gelar cerveja, preparar uma boa quantidade de almôndegas caseiras para saciar a sede e fomes dos associados.

A proposta seria passar em pente fino a vida dos candidatos a prefeito e vereador, sem qualquer favorecimento aos amigos ou injustiça aos menos chegados. Telefonemas e mensagens via whatsapp disparados, pelo menos 10 associados confirmaram presença ao meio-dia em pino da quarta-feira passada, com sua relação de candidatos.

Apesar de aposentados, os associados do vetusto Clube dos Rolas Cansadas “deram um cano” no encontro, alegando os mais diversos compromissos surgidos de última hora, com explicações nada convincentes. Fora desse time ficou Zé do Gás, que se envolveu num acidente ao atropelar um cão em plena avenida. Depois de prestados os socorros, ele não mais reunia condições emocionais para a reunião.

Como Valdemar Broxinha não é homem de perder a viagem, ainda mais para um debate de elevada importância cívica, resolveu abrir o encontro com os presentes. É certo que eram poucos, eu, o italiano Alessandro, Bené, e mais uns dois gatos pingados que resolveram ir dar suas desculpas in loco, e aproveitaram para assinar a ata e dar dois ou três pitacos.

Bom mesmo e fez valer a pena a reunião foi o nível de conhecimento de Valdemar Broxinha, de Alessandro Italiano e Bené, que apenas utilizando a boa memória, fizeram relatos detalhados da vida pregressa dos políticos. De cara, a maioria foi reprovada por comportamento inadequado, sobrando umas três dúzias de concorrentes.

Entre os goles de cerveja e garfadas nas almôndegas, o relatório (ou ata) já contava com pelo menos umas cinco páginas, escritas em letras vermelhas para nominar os reprovados e quase duas páginas, em letras azuis com os considerados aptos ao voto. Juro que as análises foram feitas de forma honesta e democrática, justificando os adjetivos.

Pelo menos de meia em meia hora éramos importunados por cabos eleitorais e até candidatos em busca dos incautos eleitores. Nunca vi tanta gente escolada na arte de pedir votos e fazer promessas, estas que serão devidamente cumpridas após a posse. A garantia oferecida eram seus vastos conhecimentos da política, praticada há mais de 20 anos. Ganhou, emprego garantido!

E a análise era iniciada com o comportamento dos candidatos ao longo dos anos, desde sua mocidade, passando pela vida profissional, amizades, e familiar, se casado fosse. Fiquei deveras surpreso com a quantidade de informações armazenadas por Valdemar Broxinha, o italiano Alessandro e Bené, que passaram em revista a política de Canavieiras nos últimos 50 anos.

Ata aprovada e assinada, foi imediatamente fotografada e transmitida pelo whatsapp aos demais participantes do Clube dos Rolas Cansadas para o conhecimento e uso patriótico das informações. Agora, de posse de importantes informações, vamos aguardar a abertura das urnas e estudar o comportamento detalhado do eleitor canavieirense sobre os escolhidos.

Espero que as informações contidas na ata não tenham refletido o alto teor dos debates, animados por cerveja bem gelada e de reduzido teor alcoólico, mantendo incólume o relatório com ares de ciência. Por tudo que foi posto, nos resta certificar que o lugar correto para discutir sociologia, filosofia e outros “ias” é mesmo numa mesa de bar.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Estátua de Jorge Amado em Ilhéus em frente à Casa de Cultura, no Centro Histórico || Foto Divulgação
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Diante da veracidade do documento, assentado em 11 de março de 1931, rogo aos ilheenses de boa índole, que se abstenham da apropriação de Jorge Amado, que por direito pertence a Itabuna. Por outro lado, de papel passado, os verdadeiros conterrâneos passarão a admiti-lo como um deles, uma homenagem pra lá de interessante e muito justa.

 

Walmir Rosário

Há dias passados me encontrava em Itabuna visitando amigos nos bares mais frequentados da cidade, oportunidade que tive de rever o amigo e vereador Ronaldo Geraldo dos Santos, o Ronaldão. Após os cumprimentos de praxe, me prometeu um presente: a garantia de que Jorge Amado nasceu em Itabuna, mimo esse de papel passado, assinado em cartório.

Por si só, a notícia não teria nada de interessante, pois o próprio Jorge Amado garantiu e jurou de pés juntos que era itabunense, declarando em todas as entrevistas ser um Papa-jaca autêntico. Mas isso aconteceu muitos anos após Ilhéus ter se apropriado, não só do escritor, como também da figura humana e seus personagens, sem qualquer documento comprobatório.

Para os ilheenses, o que importava era o tempo em que Jorge Amado morou em Ilhéus, escreveu sobre a cidade, suas figuras humanas, muitas das quais estereotipadas, a exemplo dos cacauicultores, tudo registrado em livros. Foi uma expropriação violenta, sem respeitar os documentos oficiais, a exemplo da certidão de nascimento guardada em livro apropriado em cartório.

Eu até tenho a impressão que o próprio Jorge Amado tenha “surfado nessa onda”, motivadora da celeuma entre ilheenses e itabunenses, agravada com a publicação do livro Terras do Sem-fim, em que sugeria adjetivos não condizentes com os itabunenses. Sem querer meter minha colher em prato alheio, diria até sinônimos desairosos.

Embora sempre respeitado pelos itabunenses, os fatos levam a crer que Jorge Amado não era um amigo bem chegado, daqueles que convidamos pra ir à nossa casa fazer uma farra, devidamente forrada com uma farta feijoada, um churrasco. Alguns mais afoitos não mediam as palavras em considerá-lo um vira-casaca, por se tornar um Papa-caranguejo empedernido, como dito àquela época.

Uma rusga atoa, sem pé nem cabeça, de uma população com um ilustre conterrâneo. Tanto era assim que nunca foi desmerecido e sempre reconhecido pelas suas obras. Mas o nó górdio da questão estava na naturalidade ensovacada pelos ilheenses, sem qualquer razão, pois no ato do nascimento de Jorge Amado, Itabuna já se encontrava emancipada há longos dois anos e livre de qualquer amarra.

Dias depois, meu amigo e testemunha da promessa do vereador Ronaldão, o advogado José Augusto Ferreira Filho, me liga informando que enviara para o meu WhatsApp a certidão passada em cartório e assinada pelo Tabelião Ottoni José da Silva. E isso em 02 de março de 1944, afirmando que Jorge Amado nasceu na Fazenda Auricídia, em Ferradas (Itabuna), em 10-08-1912.

As diferenças entre os itabunenses e seu laureado conterrâneo já chegaram à delegacia quando um busto de Jorge Amado foi depredado em Ferradas, no século passado. Em outra feita mais recente, uma estátua do escritor foi alvo de tiros, além de pedradas, na calada da noite, por pessoas embriagadas, apenas pelo fito de danificar um equipamento público. Coisas do passado!

Lembro-me que no século passado, por volta do início da década de 1990, cheguei a elaborar reportagens para o Correio da Bahia, sobre a possível renomeação da principal avenida de Itabuna, a Cinquentenário, que passaria a ser nomeada Jorge Amado. A campanha encetada pelo jornalista e escritor Hélio Pólvora, não ganhou ampla adesão por ser ano de eleições municipais.

Acredito que essa homenagem teria selado, definitivamente, a paz, a amizade entre os itabunense e seu filho ilustre, mas não chegou a sair do papel. Em 1994, Jorge Amado lança A Descoberta da América Pelos Turcos, uma verdadeira homenagem a Itabuna. O livro foi considerado bem-vindo pelos itabunenses, entretanto faltaram eventos dignos no lançamento da obra na cidade.

A Certidão de Nascimento para eliminar a dúvida

Se antes essas diferenças eram levadas a “ferro e fogo” hoje provocam apenas bons debates. E não é pra menos, pois no livro 1-B destinado aos registros de nascimento, à folha 231, consta o termo nº 516, do nascimento de Jorge Amado, com toda a filiação, acompanhados dos nomes dos avós paternos, maternos além de testemunhas.

Diante da veracidade do documento, assentado em 11 de março de 1931, rogo aos ilheenses de boa índole, que se abstenham da apropriação de Jorge Amado, que por direito pertence a Itabuna. Por outro lado, de papel passado, os verdadeiros conterrâneos passarão a admiti-lo como um deles, uma homenagem pra lá de interessante e muito justa.

De minha parte, prometo adquirir um kit Papa-Caranguejo completo (camisa, caneca e protetor de lata de cerveja), junto às organizações “Lá ele!”. E para tanto deixo registrado o meu pedido a Afonso Dantas, convocando, ainda, o vereador Ronaldão, Augusto Ferreira, José Carlos (Beca) e outros parceiros de mesa de bar para selarmos o armistício definitivo entre Papa-Jacas e Papa-Caranguejos.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Lanns Almeida, engenheiro agrônomo e superintendente da Bahiater || Foto Divulgação
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O nosso trabalho, meu e de toda a minha equipe, é pela altivez dessa gente que planta e que colhe. A nós, não importa o tamanho de suas terras ou quanto produzem, porque nós entendemos que cada cultivo é valioso, alimenta e mata a fome.

 

Lanns

Não posso começar esse texto sem falar do principal, que é da nossa gente: somos mais de 14 milhões de baianos, possuímos uma vasta extensão territorial e, por isso quatro grandes biomas: cerrado, caatinga, mata atlântica e todo o bioma marinho. A Bahia é um estado gigantesco, rico em diversidade e perseverança, sobretudo do homem e da mulher do meio rural.

À frente da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (Bahiater), o nosso trabalho, meu e de toda a minha equipe, é pela altivez dessa gente que planta e que colhe. A nós, não importa o tamanho de suas terras ou quanto produzem, porque nós entendemos que cada cultivo é valioso, alimenta e mata a fome.

Nas andanças por dentro de cada cidade e meio rural do nosso estado, volto para casa entusiasmado para fomentar ainda mais, e conto com um Governador que empurra, que manda fazer, que cobra e acompanha resultados. O Fundo Estadual de Combate à Pobreza, por exemplo, bateu recorde de aplicação em 2023, destinado a ações de combate à fome e à insegurança alimentar, saneamento básico e moradia, no qual atuamos com agricultores familiares.

Não me canso de repetir uma frase de Paulo Freire que diz que “a cabeça pensa onde os pés pisam”, e também não me canso de ir pessoalmente a cada território do nosso estado. A nossa principal missão é honrar a dignidade do homem e da mulher do campo. Avancemos!

Lanns Almeida é engenheiro agrônomo e superintendente da Bahiater.

Comida de "sustança", apropriada para um domingo || Foto Walmir Rosário
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Além do mais, as quantidades podem ser encontradas facilmente em site especializado na internet. O que valerá, mesmo, será a criatividade, inclusive em me convidar.

 

Walmir Rosário

Uma recomendação que sempre dou a um amigo é que procure comer bem, se a comida for gostosa, não perca tempo, coma muito. Essa é uma receita que deve ser repetida pelo mundo afora pelo que apreciam uma boa mesa, se acompanhada de uma boa bebida ainda melhor. Aconselho aos que por acaso assim nunca procederam, que o faça, pois é pro seu bem.

Sem mais delongas passo a descrever uma pequena aventura que vivi neste último fim de semana, durante uma pequena estadia em Campo Formoso (BA), visitando parentes. E tudo começou ao passar num supermercado, ao me deparar com uma carne de jabá bem vistosa, daquelas de encher os olhos e encher a boca d’água, com o perdão dos leitores.

Não deu outra, pedi ao funcionário do mercado para descer a faca de cima a baixo e acrescentei às compras, um quilo de linguiça levemente apimentada, bacon, arroz, além de alguns temperos. Na minha mente já aparecia uma panelada de arroz carreteiro, prato de substância para o movimentado fim de semana. Foi só passar na gôndola de cerveja e me encaminhar para o caixa.

No sábado, dia de feira, a pretensão era acrescentar uma boa tapioca, e o fubá, essencial para a farofa de cuscuz com linguiça. Logo cedo eu e minha mulher nos dirigimos à feira com o objetivo de comprar outros produtos da terra, diferentes do que encontramos em Canavieiras. De cara, nos deparamos com uns maxixes bonitos e fomos juntando ao andu e às favas. Saímos com pesados embrulhos.

Dizem os mais experientes que “o que os olhos não veem o coração não sente” e essa foi nossa perdição, no sentido estrito da gula. Além do arroz a carreteiro, em minha cabeça fervilhavam a farofa de cuscuz com linguiça e uma moqueca de maxixe, devidamente enriquecida com a jabá, bacon, linguiça, tomates, pimentões, cebolas, leite de coco apurado manualmente na hora e azeite de dendê.

Não sei os que porventura leem esse texto, o façam preferencialmente de barriga vazia e que seja um grande apreciador da boa comida de “sustança”, e em dia de domingo, sem qualquer compromisso no período da tarde, assim como eu. Confesso que a preparação dos pratos não meu muito trabalho, mesmo sendo num dia dedicado ao descanso.

E não deu outra, iniciamos – eu e minha mulher – com a moqueca de maxixe, o arroz a carreteiro, e por últimos a farofa, nesta ordem, com a degustação da boa e velha cerveja, que prazerosamente nos acompanha nessas providenciais ocasiões. E, metodicamente, fomos dando forma aos pratos, especialmente no arroz a carreteiro, preparado numa majestosa panela de barro.

Pelos meus cálculos 12 pessoas estavam inscritas ao almoço, com lugares já reservados à mesa, sem contar os visitantes de última hora, já previstos no planejamento de qualquer almoço domingueiro. Finalmente, perto das 14 horas, mesa posta, convidados devidamente sentados e apossados de pratos e talheres para iniciar a comilança.

Fora do planejado, minha irmã Iracy me apresenta um produto divino elaborado na Gameleira, no povoado do Brejão da Caatinga, em Campo Formoso: um vinho de laranja, que apresentava no seu rótulo ser “o vinho do momento” de produção caseira. E mais, produzido artesanalmente a partir de laranjas. Embora do Brejão da Caatinga, possuía todos os sotaques lusitanos do vinho do Porto.

Confesso que aqui não falo como especialista em vinho, por não possuir tais credenciais, mas digo com certeza que meu paladar nunca me falseou. Após o silêncio sepulcral (linguagem chula para um almoço…) dos refinados paladares, fiquei corado com os elogios. Ainda bem que detectei serem sinceros, pelo que vi na repetição dos pratos.

E para finalizar a comilança domingueira nada melhor dos doces (a escolher) de groselha e carambola, retirados dos devidos pés no quintal e elaborados um pouco antes para nosso deleite. Tenho que finalizar com o que preguei no início dessa crônica: todos comeram bem e muito, porque gostoso, digo sem pretender ser alvo do elogio fácil, pois juro que não tenho interesse de caitituar prestígio em campanha de marketing.

Deixarei de oferecer a competente receita para não me estender no texto, pois como já forneci os insumos, prefiro que cada um que se atreva a elaborar um banquete deste tipo use sua imaginação. Além do mais, as quantidades podem ser encontradas facilmente em site especializado na internet. O que valerá, mesmo, será a criatividade, inclusive em me convidar.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Datena e Marçal brigam em debate da TV Cultura em São Paulo || Reprodução
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A verdadeira mudança ocorre quando os eleitores se tornam conscientes do jogo insidioso que está sendo jogado.

 

 

Juliana Soledade

Na grande arena das eleições, onde ideais e promessas se confrontam, a política muitas vezes se assemelha a um espetáculo sangrento em que os leões devoram aqueles que ousam se colocar no caminho do poder. O cenário é marcado por estratégias cruéis, ataques implacáveis e uma luta constante pela sobrevivência política.

As campanhas eleitorais, em sua essência, deveriam ser um espaço de diálogo e defesa de propostas. No entanto, frequentemente se transformam em um combate feroz, onde os candidatos, como leões famintos, utilizam de todos os recursos disponíveis para avançar frente ao completo desequilíbrio emocional. Nesse ambiente hostil, as críticas são afiadas, as calúnias circulam como flechas e os ataques pessoais se tornam as armas preferidas. O objetivo é claro: eliminar a concorrência e conquistar a aprovação do eleitorado a qualquer custo.

E se, na arena, os leões são os políticos em busca de votos, os espectadores — os cidadãos-contribuintes-eleitores [por OBRIGAÇÃO!]— muitas vezes se tornam as vítimas desse confronto. Presos entre as promessas grandiosas e os ataques ferozes, eles podem se sentir desorientados, incapazes de discernir a verdade em meio ao caos. O clima de desconfiança e medo se instala, e a desinformação se espalha como um incêndio incontrolável, alimentando a animosidade entre os diversos grupos sociais.

O papel da mídia nesse circo político também não pode ser ignorado. As manchetes sensacionalistas e a cobertura tendenciosa muitas vezes exacerba a luta, transformando a política em um espetáculo a ser assistido, em vez de um processo democrático a ser respeitado. O foco na audiência e na espetacularização se sobrepõe ao debate saudável, levando os espectadores a se tornarem meros torcedores, em vez de cidadãos críticos.

Entretanto, é possível vislumbrar uma saída dessa arena infernal. A verdadeira mudança ocorre quando os eleitores se tornam conscientes do jogo insidioso que está sendo jogado. Ao invés de se deixar levar pelas emoções e pelas narrativas polarizadoras, eles podem exigir uma política mais ética, centrada no diálogo e na colaboração.

Se todos nós, como cidadãos, formos leões que defendem a integridade de nossas escolhas e exigirmos responsabilidade dos nossos representantes, é possível transformar a arena do medo e da manipulação em um espaço para ideias construtivas, onde as políticas públicas realmente atendam aos interesses da sociedade.

Assim, em vez de devorar uns aos outros, que possamos nos unir em busca de um futuro mais justo e consciente, onde o respeito e a empatia sejam os verdadeiros conquistadores nessa batalha política.

Juliana Soledade é advogada.

Campus da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc)
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Maior que o inestimável prejuízo financeiro seria a humilhação, pois, inevitavelmente, seria manchete dos jornais, rádios e televisões. Como àquela época não existiam as redes sociais a decepção seria bem menor, mas essa não é hora para avaliações.

 

Walmir Rosário

O sugestivo título não é apenas uma apelação de editores de publicações sensacionalistas. É verdade e dou que fé que o que passarei a contar nas próximas linhas é por demais verdadeiro, embora manterei oculto o nome de um dos personagens: o autor de tal proposta, o professor que marcou o tal e absurdo horário para uma prova.

O fato aconteceu na Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), no início da década de 1990, portanto, no século passado, e continua gravado em minha carcomida memória, por ser esdrúxula até onde não pode mais. Não me lembro com riqueza de detalhes, pois não fui uma das pessoas atingidas, embora tenha sido abastecido com robustas informações.

Numa tarde fui procurado no jornal A Região, de Itabuna, do qual era editor, por alguns estudantes do curso de Direito, que pretendiam fazer uma séria denúncia. Uma verdadeira bomba, diziam. Eles queriam, de uma só vez, lavar a honra e a alma, além de conseguirem provas e subsídios para ingressar com uma ação contra o dito professor e a Uesc.

A Redação inteira parou para ouvir a história, inclusive Daniel Thame, com quem eu dividia as responsabilidades, as artes e manhas do semanário de maior circulação de Itabuna, à época. Ouvimos toda a história, contada e recontada por cada um dos alunos, sempre com um detalhe a mais, enquanto nós, de início não os levássemos a sério.

E não era pra menos a nossa desconfiança, embora não estivéssemos cara a cara com alunos dos cursos fundamentais e sim com homens e mulheres, muitos deles casados, pais e avôs. Por certo não teriam deixado seus afazeres de família e trabalho e se deslocados ao jornal para promover uma pegadinha em nós e nos leitores.

O que mais afligia aos estudantes do curso de Direito era não participar da colação de grau agendada para semanas próximas, pelo fato de não terem realizada a última prova de Direito Civil VI. Pior, ainda, para os que claudicavam com os resultados e notas nem tão positivos, sendo que alguns poderiam ir buscar uma repescagem na famigerada prova final.

E como ficariam os providenciamentos da colação de grau e a famosa festa de formatura praticamente quitada. E era um preço altíssimo, valor inestimável, pagos em prestações mensais com muitas dificuldades. Sem falar nos convites, já distribuídos para amigos mais chegados e familiares, muitos dos quais moradores de outras cidades, estados.

Seria uma vergonha dispensar os convidados e, ainda por cima, mudar a foto da turma, e ter que arcar com os novos custos. Maior que o inestimável prejuízo financeiro seria a humilhação, pois, inevitavelmente, seria manchete dos jornais, rádios e televisões. Como àquela época não existiam as redes sociais a decepção seria bem menor, mas essa não é hora para avaliações.

E os formandos em Direito pela Uesc (turno noturno) já se sentiam avacalhados pelo horrendo professor, capaz de ter proposto a realizar a quarta prova do último semestre num horário altamente impróprio, às 3 da madrugada, fora do expediente da universidade. Viviam uma situação assombrosa que os marcariam para o resto da vida. Que futuro profissional teriam?

E somente aí é que se encorajaram a contar a terrível história, objeto da denúncia que pretendiam fazer à sociedade. Pelo que relataram, eles estavam assustados com a exiguidade do tempo e propuseram ao professor, um conceituado advogado, que marcasse a prova do quarto crédito para a semana seguinte, como meio de facilitar a vida de todos.

De pronto, o professor não aceitou a proposta, sob a alegação que teriam um calendário a cumprir, no sentido de satisfazer a frequência (carga horária) e a apresentação dos temas da grade curricular. Sem acordo, a discursão foi aumentando e professor e alunos se distanciando de aparar as arestas para o pretendido acordo do dia da prova.

Lá pras tantas, o dito professor resolve dar um chega na questão e propõe realizar a prova, não na sexta-feira pretendida pelos alunos, mas no sábado às 3 da madrugada, horário que dispunha em sua apertada agenda. A proposta, mesmo estranha, bizarra, estapafúrdia, foi vista pelos alunos como viável, apesar de exigir um pouco de sacrifício. Mas, ao final de cinco anos, valeria.

E na data aprazada chegaram ao campus da Uesc, convenceram o vigia sobre a prova e entraram para o pavilhão de Direito. Restava apenas uma prova, cujo o tema estava por demais estudado. Tudo na cabeça. Bastava tirar boas notas e, cada um estaria livre da viagem diária, dos sacrifícios em chegar quase à meia-noite em casa. Agora, sim, todos fariam jus ao título de doutor advogado.

Em vão aguardaram o professor até os primeiros raios de sol, quando começaram a considerar que teriam sofrido uma pegadinha de muito mau gosto. Um crime, talvez, e que mereceria ser reparado nos tribunais. Mesmo assim, foram tirar a prova dos nove com o professor, que estranhou a ida na madrugada de um final de semana à universidade para uma prova. Brincadeira.

Após os ânimos amainados, consegui convencê-los a se submeterem à prova no dia estipulado pela universidade, pois o professor e a direção da Uesc deveriam fazer de tudo para que não fossem prejudicados. De minha parte, ao contrário da pretendida matéria e manchete estampada na primeira página, fiz uma notinha divertida na coluna Malha Fina, na página 3. E tudo se resolveu.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

O início do Itabuna no velho Campo da Desportiva || Foto Acervo de Walmir Rosário
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Apesar da queda do rendimento no segundo turno, o Itabuna manteve a quinta colocação no campeonato de 1967, o primeiro que disputou, embora tenha perdido na classificação dos times do interior, liderada pelo Flamengo de Ilhéus, em quarto lugar, com um ponto a mais que o escrete itabunense.

 

Walmir Rosário

No início do ano de 1967 os homens que comandavam o futebol amador de Itabuna são convencidos pelos dirigentes da Federação Bahiana de Futebol e dos clubes de Salvador e Feira de Santana a disputar o futebol profissional. Após dezenas de reuniões, em que a tônica era elevar o nome de Itabuna ao cenário nacional esportivo com o que existia de craques na cidade, aceitaram o desafio.

Em 23 de maio de 1967, finalmente, o Itabuna Esporte Clube é fundado e estava pronto para disputar o Campeonato Baiano daquele ano como um dos 14 participantes. Agora se encontrava de igual para igual com o Bahia, Vitória, Botafogo, São Cristóvão, Leônico, Ypiranga e Galícia (Salvador), além do Fluminense, Bahia (Feira de Santana), Conquista Esporte Clube (V. da Conquista), Flamengo, Colo-Colo e Vitória (Ilhéus).

E finalmente o Itabuna estreia no Campeonato Baiano de Futebol Profissional no dia 4 de junho de 1967, com a vitória de 1X0 contra o São Cristóvão, gol de Nélson, no campo da Desportiva. No próximo domingo (11), torcida entusiasmada, o time volta ao campo da Desportiva para enfrentar o Botafogo, com mais uma vitória em casa, pelo placar de 1X0, gol de Bal.

Na quinta-feira (15-06) enfrentou o Flamengo de Ilhéus no Mário Pessoa e sofreu a primeira derrota como profissional por 3X1, gols de Jurandi, Clemente e Zé Pequeno, para os ilheenses, e Bal para o Itabuna. Em seguida (06-07) ganhou para o Bahia de Feira na casa do adversário por 2X1, gols de Carlos Riela e Déri (Ita) e Almir (BF); e venceu o Vitória da capital por 2×1, em Itabuna (20-07), com gols de Neném e Nélson (Ita) e Itamar (V).

No próximo jogo (27-07) o Itabuna volta a vencer, e desta vez a vítima foi o Conquista, que levou 3X1, no campo da Desportiva, com gols de Danielzão, Déri e Bal (Ita), e Piolho (Conq). Em 3 de agosto, o Itabuna vai a Feira de Santana e empata com o Fluminense em 0X0. Em pleno estádio Mário Pessoa o Itabuna vence o Vitória ilheense pelo placar de 1×0, gol de Batuqueiro. Em 20 de agosto empata com o Ypiranga no campo da Desportiva por 1×1, com gols de Batuqueiro (Ita) e André Catimba (Ypi).

No próximo jogo (31-08), contra o Colo-Colo, em Ilhéus, o Itabuna não teve sorte e perdeu por 1X0, gol de Ronaldo (CC). No dia 7 de setembro, em Salvador, empata com o Galícia por 2X2, com gols de Florizel e Déri (Ita) e Nélson e Enaldo (Gal). Ainda na capital baiana, no dia 10 de setembro perde para o Bahia por 3X1, gols de Zé Eduardo, Manezinho e Canhoteiro (Ba) e Florizel (Ita). No último jogo do primeiro turno (01-10) empata com o Leônico em 2X2, com gols de Itajaí (contra) e Gajé (Leo), e Maranhão (Ita).

Com esses resultados o Itabuna estreia no profissionalismo e termina o primeiro turno na quinta colocação, com 16 pontos, sendo seis vitórias, quatro empates e três derrotas. Nos 13 jogos disputados marcou 17 gols, sofreu 15 e manteve saldo de apenas dois gols. Foi um resultado bastante positivo, pois encerrou o primeiro turno como a equipe do interior melhor colocada.

Nos jogos de volta do segundo turno, o Itabuna inicia bem aplicando 2X0 no Flamengo de Ilhéus (08-10), gols de Maranhão; empata com o Leônico por 1X1, também no campo da Desportiva (15-10), gols de Carlos Riela (Ita) e Catu (Leo). Em casa, torna a empatar com o Bahia de Feira por 1X1, gols de Fernando Riela (Ita) e Maromba (BF); e perde para o Bahia da capital por 2X0, em 5 de novembro, com gols de Elizeu e Alencar. Já em 12 de novembro, em jogo com mando de campo invertido, aplica 3X1 no São Cristóvão, na Desportiva, com 3 gols de Florizel (Ita) e Iaúca (SC).

Outro placar favorável ao Itabuna em frente sua torcida foi contra o Vitória de Ilhéus, pelo placar de 3X0, 2 gols de Maranhão e 1 de Carlos Riela. Jogando em Salvador empata com o Botafogo em 2X2 (01-12), com 2 gols de Florizel (Ita), Nílson e Ronaldo (Bot). Em Vitória da Conquista perde por 2X1 para o Conquista (17-12), gols de Durvalino e Dão (Conq) e Fernando Riela (Ita). Em 28 de janeiro de 1968, valendo pelo mesmo campeonato, empata com o Ypiranga, por 0X0, em Salvador; e em 11 de fevereiro cai diante do Galícia por 2X0, no campo da Desportiva, gols de Santinho (contra) e Carlinhos Gonsálves (Gal).

Ainda no campo da Desportiva, no dia 18 de fevereiro, o Itabuna enfrenta o Vitória e empata em 1X1, com gols de Danielzão e Arcângelo (contra); e no jogo seguinte (03-03) perde para o Fluminense de Feira por 1X0. No segundo turno o Itabuna não obteve o mesmo resultado positivo do primeiro e fica na sétima classificação (duas abaixo), com 12 pontos, sendo seis vitórias, seis empates e quatro derrotas. Marcou 16 gols, sofreu 15, com apenas um de saldo positivo.

Apesar da queda do rendimento no segundo turno, o Itabuna manteve a quinta colocação no campeonato de 1967, o primeiro que disputou, embora tenha perdido na classificação dos times do interior, liderada pelo Flamengo de Ilhéus, em quarto lugar, com um ponto a mais que o escrete itabunense. Entre os artilheiros do campeonato, Florizel marcou 7 gols; Maranhão, 5; Carlos Riela, Bal e Déri, 3 gols; Fernando Riela, Danielzão, Batuqueiro e Nélson, 2; Neném 1 gol. Itajaí, Santinho e Arcângelo marcaram 1 gol contra, cada.

E a direção do Itabuna Esporte Clube colocou um time em campo, formado basicamente pelos jogadores oriundos da seleção amadora, com alguns reforços: Goleiros – Luiz Carlos, Betinho; lat. dir. – De Aço, Neném, Roberto, Miltinho e Nocha; zag. – Itajaí, Ivan, Santinho, Ronaldo e Clésio; lat. Esq. – Caxinguelê, Leto e Zito; meio-campistas – Arcângelo, Déri, Carlos Riela, Lua Riela, Nélson e Bel; atacantes – Neves, Maranhão, Raimundo, Vandinho, Fernando Jorge, Firmino, Fernando Riela, Batuqueiro, Danielzão, Pinga e Florizel; técnicos – Luiz Negreiros e Tombinho.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Denúncias de assédio eleitoral poderão ser feitas no MP e em sindicatos || Foto ABr/Arquivo
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O assédio eleitoral é crime e desde 2022 e o número de denúncias só tem crescido. Para evitar que um trabalhador ou servidor público sofra a pressão direta ou indireta dos patrões ou dos chefes imediatos para votar em determinado candidato, as centrais sindicais lançaram, nesta terça-feira (03), um aplicativo onde é possível que o trabalhador denuncie essa prática antidemocrática.

O lançamento acontece em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT). A iniciativa partiu da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Pública, Intersindical e MPT. A denúncia também pode ser feita pela página do Fórum das Centrais Sindicais.

Paulo Oliveira, secretário de Organização e Mobilização da CSB explicou que os trabalhadores não vão precisar baixar o app. Os sites das centrais e o MPT vão colocar em suas páginas o QR Code onde o trabalhador, com seu celular, poderá acessar o canal e denunciar se estiver sendo vítima de assédio eleitoral no ambiente de trabalho.

O assédio eleitoral, muitas vezes, ocorre de maneira sutil, segundo a procuradora do MPT Priscila Moreto, quando um empregador defende que seus funcionários votem em determinado candidato porque, assim, a empresa continuará crescendo. Caso o trabalhador não vote no candidato do patrão, o empregador diz que haverá mudanças, quando não demissões. “Essa é uma das formas do assédio eleitoral”, disse ela.

Valeir Ertle, secretário nacional de Assuntos Jurídicos da CUT, alerta que o assédio eleitoral é muito forte no Brasil, até porque em 73% dos 5,7 mil municípios, a população varia entre 10 e 20 mil habitantes. “Nessas cidades, é muito comum que os trabalhadores conheçam os candidatos preferidos do empregador, e a pressão para que os funcionários votem no candidato indicado é muito forte. A mesma pressão, o assédio, ocorre com os funcionários das prefeituras”, disse ele.

O voto livre e esse exercício democrático é um direito fundamental que deve prevalecer em todas as situações, de acordo com a também procuradora do trabalho Danielle Olivares Corrêa, porque, caso contrário, o trabalhador torna-se um instrumento dos interesses exclusivos do empregador. Assédio eleitoral é crime e o MPT estará atento a toda e qualquer denúncia que chegar pelo app.

Nas eleições de 2022, as centrais sindicais e o MPT fizeram a mesma parceria de agora, e o resultado foi o recebimento de 3,5 mil denúncias de assédio eleitoral, um percentual 1.600% maior do que ocorreu nas eleições de 2018.

O assédio eleitoral ou o famigerado “voto de cabresto” não se vê mais nos rincões do país, onde os coronéis determinavam em qual ou quais candidatos os empregados deviam votar. Esse fenômeno cresceu e veio para os grandes centros urbanos também. Dados extraídos do sistema informatizado do MPT, em 2022 foram expedidas 1.512 recomendações e ajuizadas 105 ações civis públicas contra o assédio eleitoral.

As centrais sindicais e o MPT disponibilizaram cartilhas para que os trabalhadores identifiquem as abordagens ilícitas no ambiente de trabalho. D´Agência Brasil.

Determinação de Moraes suspendeu rede X (ex-Twitter) em todo o Brasil || Reprodução
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Globalmente, não se verifica uma democracia perfeita, mas, certamente, ela jamais se aperfeiçoará diante de descumprimento de decisão judicial pela via da mera insatisfação pessoal ou de um conglomerado econômico.

 

Efson Lima

O Estado brasileiro tem sido desafiado em face das redes sociais. E, nos últimos dias, a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, de suspender o funcionamento da rede social X, antigo Twitter, no território nacional impôs limitações à empresa responsável pela rede, bem como, de algum modo, restringiu o acesso dos usuários a ela, especialmente, os de boa-fé que fazem uso da rede social para os diversos fins, entre eles: lazer e comercializar, por exemplo. Ficam algumas reflexões: até onde todos podem ser “punidos” ou vale limitar direitos para proteger o escopo do Estado brasileiro?

À unanimidade, a 5ª Turma do STF manteve a decisão do Ministro – relator, tornando a decisão em colegiada, deixando-a de ser monocrática e, agora, passando a pertencer, literalmente, ao coletivo do Supremo. Salvo melhor juízo, verifica-se também uma estratégia política, pois, protege o julgador e assegura o exercício da jurisdição constitucional de forma plena na República Federativa do Brasil. Ficou nítido nos votos que democracia exige responsabilidade e comprometimento com os seus contornos.

É verdade que a liberdade de expressão é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, entretanto, o seu uso para fins ilícitos é vedado por essa mesma engrenagem jurídico-política. Não obstante, estabelecer limites a uma empresa transnacional é testar a soberania nacional e o alcance da responsabilização. Os próximos dias vão jogar luzes não só para o Brasil, mas para tantos outros países. Afinal, a decisão é paradigmática, razão pela qual repercutiu internacionalmente. Outros países já vedaram as redes sociais, entretanto, o caso brasileiro se mostra curioso por ser uma decisão judicial e dentro de um contexto considerado democrático.

A atuação do STF  na suspensão da rede social X assegura também o papel constitucional do Congresso Nacional, elaborador das normas legislativas  que disciplinaram o uso da internet e das redes sociais no País. Globalmente, não se verifica uma democracia perfeita, mas, certamente, ela jamais se aperfeiçoará diante de descumprimento de decisão judicial pela via da mera insatisfação pessoal ou de um conglomerado econômico. Provavelmente, agora, o cidadão está prejudicado, entretanto, essa mesma decisão o protegerá de um ambiente  aparentemente sem lei e/ou da terra de ninguém.

Efson Lima é advogado e doutor e mestre em Direito (UFBA).

Turrão e Tolé, ídolos do passado na Confraria d'O Berimbau || Foto Walmir Rosário
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Com inteligência, levam algumas latas de cerveja sem álcool e não se fazem de rogados em abri-las com aquele conhecido barulho ao retirar os lacres. Mais que isso, Turrão e Tolé participavam ativamente da degustação do filé mal assado preparado com esmero por Zé do Gás.

 

Walmir Rosário

Reafirmo que muito já foi dito, contado e recontado sobre a Confraria d’O Berimbau, instituição recreativa, etílica e cultura da vida mundana de Canavieiras. Porém, consta dos anais que os frequentadores jamais abandonam o recinto, a não ser por causa mortis, embora digam alguns dos mais exaltados confrades, que eles continuam a povoar o local, agora meramente em espírito.

Mas esse é um assunto que não costumo discutir por não ter habilidade, competência, especialização ou comprometimento com temas que envolvam o plano espiritual. Reconheço que me faltam essas e outras características, mas não deixo de meter minha colher em temas quase tão relevantes como esses, e jamais me furtarei em discorrer sobre frequentadores ainda lépidos e faceiros, mas reconhecidamente fora das atividades etílicas.

E posso falar de cátedra, pois tenho amigos tantos que após muita labuta na parte de fora dos balcões dos botequins, hoje se encontram ausente das pelejas, afastados pelos mais diversos motivos. Posso até comparar com o futebol, em que alguns pedem para sair, enquanto outros são retirados pelos técnicos, por não se comportarem bem em campo.

É uma questão individual, bem sei, embora não me conforme em perder parceiros de uma vida inteira, que mais que de repente, aplicam um drible da vaca nos parceiros e se retiram do boteco. Conheço mais que uma dúzia de seduzidos pela religião, obrigados pelos discursos das lideranças espirituais a se afastarem, definitivamente, desse nosso restrito convívio.

Outros tomaram essas tresloucadas atitudes por vontade própria, quem sabe com os aconselhamentos de pé de orelha da patroa, com toda a razão. Mas existem outros tantos que ainda não consegui identificar quais os motivos que os levaram a romper com as coisas boas da vida, deixadas por Deus para todos os filhos, sem distinção, acredito eu.

Desses últimos, alguns, sem mais nem menos, sequer se esforçaram em fazer uma visita aos amigos nos locais de costume, que no caso da Confraria d’O Berimbau, aos sábados, preferencialmente ao meio-dia em pino. Festejo aqui outros nessa mesma classe que não se fazem rogados em comparecer em datas festivas, cumprimentam jogam uma conversa fora e vão embora.

Não pretendo impingir a alguns a pecha de algum defeito ou vício, e até acredito que alguns cometam essas ausências por simples bizarria ou excentricidade. Dos desaparecidos nas atividades etílicas da Confraria d’O Berimbau, mereceram distinção e louvor alguns desses valorosos quadros retirados dos campos etílicos os cunhados Turrão (José Albertino Bonfim de Lima) e Tolé (Antônio Amorim Tolentino).

Convidados para alguma efeméride ou simples data comemorativa não se furtavam em dar o ar da graça com suas presenças. Com inteligência, levam algumas latas de cerveja sem álcool e não se fazem de rogados em abri-las com aquele conhecido barulho ao retirar os lacres. Mais que isso, Turrão e Tolé participavam ativamente da degustação do filé mal assado preparado com esmero por Zé do Gás.

Com toda serenidade, cumprimentavam a todos os ex-colegas de copo, buscavam assento à mesa ou cadeiras que melhor lhes convinham e faziam de conta que nada mudou. Contavam histórias e estórias, fiscalizavam o velho e surrado caderno de contas e o livro de atas, tudo na mais perfeita sintonia, como se os velhos costumes estivessem mortos e enterrados.

Até hoje não faltam os efusivos convites à dupla (Turrão e Tolé) para retornar às atividades etílicas, por serem considerados quadros valorosos, daqueles bastantes disputados em convites, escolhidos de primeira como na escolha “dos babas” de antigamente. Apenas gracejam das propostas e garantem ser fruto de um passado que não volta mais, bananeira que deu cacho.

Como no futebol, são aposentadorias sentidas, consideradas precoces que não se coadunam com a qualidade de cada um deles. Mas assim é a vida, mudam os costumes, não apenas os relegam como sendo uma atividade a esconder, mas acreditam que o presente é outro. Para tanto, dão uma olhada no retrovisor para garantir as ações do futuro. Sem traumas.

Turão e Tolé, dois ídolos da boemia do passado em Canavieiras.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Deixo aqui o meu singelo conselho: se você nunca foi a uma Agrovila ou não sabe exatamente como se dão as políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, permita-se conhecer um pouquinho só, e nunca mais a sua visão de mundo será a mesma!

 

Lanns

No início da gestão do governador Jerônimo, ele disse uma frase que trago como um lema de vida: “precisamos levar as políticas públicas a quem mais precisa”, se referindo às ações da Bahiater e a todos os desdobramentos positivos que a Extensão Rural leva para a vida das pessoas.

Como a missão dada é missão cumprida, vivo nas minhas andanças por cada município do nosso Estado, principalmente no meio rural de cada região, verificando ações, perguntando o que mudou, se já mudou de verdade e como podemos fazer ainda mais.

Neste mês de agosto, por exemplo, visitei a Agrovila 16, no município de Carinhanha, um grande exemplo: ela abriga um projeto que libertou, inicialmente, 22 mulheres (hoje 30) agricultoras familiares da fome, da escassez, da sensação de impotência e até da depressão. Experiências contadas por elas mesmas na minha visita. Um trabalho que está transformando as mulheres que viviam sem expectativas em agricultoras com formação e bem remuneradas, com hortas, galinheiros estruturados, classificadora de ovos e assistidas por políticas públicas como o PAA e o PNAE.

Lanss durante visita a agrovila || Foto Divulgação

Ver aquilo tudo de perto e escutar, além das histórias de superação pessoal e familiar, que as verduras e hortaliças plantadas, cultivadas e colhidas por elas – e as centenas de ovos que saem dali – são adquiridas pela própria gestão municipal e chegam a à mesas baianas com dignidade, me anima ainda mais.

Deixo aqui o meu singelo conselho: se você nunca foi a uma Agrovila ou não sabe exatamente como se dão as políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, permita-se conhecer um pouquinho só, e nunca mais a sua visão de mundo será a mesma!

Lanns é engenheiro agrônomo e superintendente da Bahiater

Uma das formações da Seleção de Itabuna da época. Luiz Carlos, Abiezer, Zé David, Carlos Alberto, Leto e Ronaldo; Jonga, Santinho, Gajé, Carlos Riela e Fernando Riela || Foto Acervo Walmir Rosário
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Neste dia Afrânio Lima estava possesso, pois tinha perdido algumas apostas no jogo anterior (manipulado, dizia), inclusive uma joia com um brilhante caríssimo. Mas Afrânio estava confiante na vitória e não regateou: apostou todo o dinheiro que carregava numa pequena maleta.

 

Walmir Rosário

A cada jogo da Seleção Amadora de Itabuna a torcida comemorava em duas festas: a vitória dentro de campo e as intermináveis festanças pelas ruas das cidades, tanto em Itabuna ou nas casas adversárias. Não importava o local, os efusivos festejos eram garantidos pelos resultados positivos. Nos terreiros alheios Itabuna sempre “cantava de galo”.

E esses rituais eram sagrados e garantidos pela força da torcida que acompanhava o escrete alvianil. Um substancial exemplo foi a festança em comemoração à conquista do Hexacampeonato Baiano de Futebol Amador, em Alagoinhas. Embora a festa tivesse sido preparada pelo adversário, os itabunense festejaram até o dia raiar como se estivesse em casa.

E dentre a grande comitiva que acompanhava a Seleção de Itabuna, dirigentes e torcedores dos mais diferentes níveis sociais, o que fazia a diferença. Como queria o escritor francês Alexandre Dumas em Os Três Mosqueteiros, era “um por todos, e todos por um”. E assim as festas rolavam até que voltassem a Itabuna, onde a comemoração continuava sem horário para encerrar.

No Campeonato Baiano de 1964, a Seleção de Itabuna disputou a final com a Seleção de Feira de Santana. No primeiro jogo, realizado em Itabuna, Feira de Santana foi goleada pelo placar de 4X0, três gols de Gajé e um de Santinho. Foi um passeio completo. Para ficar com a taça, poderia até perder para o selecionado da Princesa do Sertão por um placar menor.

Afrânio Souza Lima dobrou aposta e encheu a mala || Foto Acervo Walmir Rosário

E em Feira de Santana Itabuna perde para o selecionado local por 1X0, após o árbitro, caprichosamente, anular três gols do craque Fernando Riela. Como o regulamento do campeonato foi modificado, as duas equipes teriam que disputar uma terceira partida, justamente no estádio Joia da Princesa. Mais um osso duro de roer. Menos para Afrânio Souza Lima, que não jogava conversa fora e acreditava no penta.

Para os craques itabunense a mudança não faria diferença e o que somente importava era ganhar o jogo e levar mais uma taça para Itabuna. No terceiro jogo, Itabuna entra em campo para ganhar e pouco se importou com a pressão dos feirenses que lotavam o estádio. Apesar de pequena, a torcida itabunense era barulhenta e incentivava a seleção em mais uma brilhante vitória por 3X1.

Se em campo a guerra era intensa, nas arquibancadas não era diferente e os itabunenses confiavam na vitória. Um deles era Afrânio Lima, cacauicultor e pecuarista que acompanhava a Seleção de Itabuna em todos os jogos. Mais do que a simples presença, gostava de desafiar os adversários, os chamando para apostar. E ainda oferecia vantagem.

E neste dia Afrânio Lima estava possesso, pois tinha perdido algumas apostas no jogo anterior (manipulado, dizia), inclusive uma joia com um brilhante caríssimo. Mas Afrânio estava confiante na vitória e não regateou: apostou todo o dinheiro que carregava numa pequena maleta. Saiu do estádio com a maleta e os bolsos entupidos de dinheiro dos torcedores feirenses. “Patos”, dizia.

Era chegada a hora da festa e ninguém sabia comemorar mais que Afrânio Lima. Saiu do estádio e foi o primeiro a chegar à boate contratada para a comemoração da vitória da Seleção de Itabuna. E entre as primeiras providências tomadas, o fechamento da casa e lavá-la por inteiro com a melhor e mais gelada cerveja. Estava tudo pronto para comemorar o Pentacampeonato Baiano de Amadores.

Assim que os jogadores e comissão técnica iam entrando, passavam pelo banho de cerveja. A festa na boate feirense atravessou a madrugada. Cedo, embarcaram no ônibus da Sulba, especialmente fretado, e uma nova parada para o café da manhã em Sapeaçu. E assim as comemorações continuavam nas sucessivas e providenciais paradas. Festas das boas.

Em Itabuna a multidão aguardava a Seleção Pentacampeã Baiana, em plena segunda-feira, transformada em feriado pelo prefeito Félix Mendonça. Mas os vitoriosos jogadores ainda tinham uma obrigação, entrar na vizinha cidade de Itajuípe e participar do banquete promovido pelo presidente do Bahia local, Oswaldo Gigante. E assim foi feito.

Em Itabuna uma multidão, com charangas a postos para batucar no desfile pelas ruas da cidade, aguardava os jogadores e torcida na praça Adami. Carro de Bombeiros a postos, os itabunenses se rendiam aos eternos campeões. Já Afrânio Lima, assim que chegou, se despediu dos jogadores e rumou para se encontrar com os amigos no Bar Avenida, de Olímpio, e comemorar. Na farra, abriu a valise e mostrou a vultosa aposta que ganhara dos “patos” feirenses.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Livro traz o diálogo histórico e curto entre Paulo Henrique Amorim e Silvio Santos || Fotos Divulgação
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Numa tarde, depois de nove meses desempregado, recebeu um telefonema da amiga Hebe Camargo. 

 

Marival Guedes

O jornalista Paulo Henrique Amorim quando demitido do Jornal do Brasil foi trabalhar na TV Manchete, TV Globo, Bandeirantes, TV Cultura de São Paulo e TV Record.

Numa tarde, depois de nove meses desempregado, recebeu um telefonema da amiga Hebe Camargo.

– Paulo Henrique, estou aqui na sala do Sílvio. Estou dizendo a ele que você deveria vir pra cá. Você toparia?

– Claro, Hebe, muito obrigado. Estou desempregado.

-Viu, Sílvio, ele topa! Fale com ele, Sílvio.

Vai Sílvio Santos ao telefone.

– Olá, Paulo Henrique. Eu gosto muito do seu trabalho. Muito, mesmo. Mas, eu gosto do seu trabalho, na televisão dos outros.

Esta história foi relatada por Paulo Henrique Amorim no livro O quarto Poder – uma outra história, de sua autoria, publicado pela Editora Hedra em 2015.

Marival Guedes é jornalista.

A capa de "Pedra Branca" e o seu criador, Ramon Fernandes || Fotos Walmir Rosário
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Como no juízo final, os personagens ganham o lugar que merecem na história, sem atropelos, de acordo com seus procedimentos.

 

Walmir Rosário

Em apenas duas sentadas – com muito fôlego – li o novíssimo romance Pedra Branca, sangue e poder, lançado no último sábado (10-08-24), no restaurante Porto dos Milagres, em Canavieiras, por Ramon Fernandes. O livro marca a estreia do autor na literatura, com uma obra bem engendrada e que contribui para o enriquecimento da intelectualidade regional.

A história é ambientada na fictícia Pedra Branca, pequena cidade interiorana fincada nas barrancas do rio Jequitinhonha, bem na divisa dos estados da Bahia e Minas Gerais. Como todo o romance que busca prender o leitor, já no início nos apresenta um personagem que morre cedo, mas deixa um imenso legado.

A história é bem fiel ao estilo de vida interiorano, com fortes raízes fincadas na família campestre e na pachorra das pequenas cidades, com a predominância dos seus personagens marcantes. E todos estão bem situados, cada um com seus destaques: o padre, os coronéis, os comerciantes, os políticos, o delegado, a dona do bordel, ou casa de conveniência, como queiram.

Ramon Fernandes é formado em Filosofia pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), professor na rede particular de ensino, servidor público municipal da Prefeitura de Canavieiras e ex-secretário de Cultura. Embora com vida fincada em Canavieiras, conhece e viveu em outras cidades regionais, algumas bastante parecidas como a descrita no romance.

Daí é que após a leitura de Pedra Branca, sangue e poder tomei a liberdade e indiscrição ao perguntar ao autor se o livro era oriundo de uma história verdadeira e por ele romanceada. Respondeu que era apenas fruto de sua imaginação – criativa, digo eu, diante do bom argumento, desenvolvimento e ambientação.

Os personagens com vida breve na história saem com dignidade e os longevos sempre aparecem em bons momentos. Não sei se é redundante observar que nas cidades pequenas – no estilo Pedra Branca – as ocorrências são sempre monótonas, contrastando com os fuxicos e brigas normalmente resolvidas entre as partes, no estilo mais agressivo.

As diferenças menores são resolvidas por meio dos conselhos do delegado, que a todos conhece e há muito se tornou amigo. Mas só que mora ou morou em pequenas cidades interioranas, notadamente nas divisas de estados, conhecem de perto as rusgas entre as pessoas influentes e seus apaniguados, que vão desde as questões de terras e as políticas.

E em Pedra Branca as guerras não acontecem somente entre as diversas famílias, mas também dentre um mesmo clã, geralmente derivadas por ciúmes, posição social e riqueza. E essa questão está presente no romance com briga fraticida entre coronéis, sem faltar motivação para a expropriação de terras com o apoio dos revólveres e rifles dos jagunços.

A personalidade feminina aparece com muita distinção e força, desde a coronela, senhora de si e que comanda com mão-de-ferro suas propriedades e família. Com a ajuda de bons jagunços, defende seus bens contra pessoas da própria família; resolve sua vida conjugal de uma hora pra outra após a viuvez; ajuda seus protegidos. Uma mulher resolvida.

Também aparece com altivez e se torna personagem marcante a figura meiga da senhora do delegado, com ares de professorinha, que assume o protagonismo de uma hora pra outra, sem que alguém esperasse. Outra personagem, esposa de um coronel, vítima de maus-tratos, resolve se libertar do jugo do marido, toma uma atitude inesperada e vai viver nova relação. Esta proibida pelas leis dos homens e de Deus.

Lançamento do romance de Ramon Fernandes, no Restaurante Porto dos Milagres

Não poderia faltar na trama os forasteiros que chegam, encontram oportunidades e as aproveitam. Alguns metem os pés pelas mãos, mas conseguem se segurar devido às habilidades no relacionamento social e político. Mas como sempre nessa vida terrena, a avareza, a inveja e soberba promovem a própria destruição.

Como no juízo final, os personagens ganham o lugar que merecem na história, sem atropelos, de acordo com seus procedimentos. Os maus geralmente acabam na cadeia ou cemitério, os bons continuam distribuindo felicidade, os menos atrevidos sem destaque. Cada qual no seu quadrado, como determina Ramon Fernandes, com minha posterior aprovação. Recomendo.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.