A capa de "Pedra Branca" e o seu criador, Ramon Fernandes || Fotos Walmir Rosário
Tempo de leitura: 3 minutos

 

 

 

Como no juízo final, os personagens ganham o lugar que merecem na história, sem atropelos, de acordo com seus procedimentos.

 

Walmir Rosário

Em apenas duas sentadas – com muito fôlego – li o novíssimo romance Pedra Branca, sangue e poder, lançado no último sábado (10-08-24), no restaurante Porto dos Milagres, em Canavieiras, por Ramon Fernandes. O livro marca a estreia do autor na literatura, com uma obra bem engendrada e que contribui para o enriquecimento da intelectualidade regional.

A história é ambientada na fictícia Pedra Branca, pequena cidade interiorana fincada nas barrancas do rio Jequitinhonha, bem na divisa dos estados da Bahia e Minas Gerais. Como todo o romance que busca prender o leitor, já no início nos apresenta um personagem que morre cedo, mas deixa um imenso legado.

A história é bem fiel ao estilo de vida interiorano, com fortes raízes fincadas na família campestre e na pachorra das pequenas cidades, com a predominância dos seus personagens marcantes. E todos estão bem situados, cada um com seus destaques: o padre, os coronéis, os comerciantes, os políticos, o delegado, a dona do bordel, ou casa de conveniência, como queiram.

Ramon Fernandes é formado em Filosofia pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), professor na rede particular de ensino, servidor público municipal da Prefeitura de Canavieiras e ex-secretário de Cultura. Embora com vida fincada em Canavieiras, conhece e viveu em outras cidades regionais, algumas bastante parecidas como a descrita no romance.

Daí é que após a leitura de Pedra Branca, sangue e poder tomei a liberdade e indiscrição ao perguntar ao autor se o livro era oriundo de uma história verdadeira e por ele romanceada. Respondeu que era apenas fruto de sua imaginação – criativa, digo eu, diante do bom argumento, desenvolvimento e ambientação.

Os personagens com vida breve na história saem com dignidade e os longevos sempre aparecem em bons momentos. Não sei se é redundante observar que nas cidades pequenas – no estilo Pedra Branca – as ocorrências são sempre monótonas, contrastando com os fuxicos e brigas normalmente resolvidas entre as partes, no estilo mais agressivo.

As diferenças menores são resolvidas por meio dos conselhos do delegado, que a todos conhece e há muito se tornou amigo. Mas só que mora ou morou em pequenas cidades interioranas, notadamente nas divisas de estados, conhecem de perto as rusgas entre as pessoas influentes e seus apaniguados, que vão desde as questões de terras e as políticas.

E em Pedra Branca as guerras não acontecem somente entre as diversas famílias, mas também dentre um mesmo clã, geralmente derivadas por ciúmes, posição social e riqueza. E essa questão está presente no romance com briga fraticida entre coronéis, sem faltar motivação para a expropriação de terras com o apoio dos revólveres e rifles dos jagunços.

A personalidade feminina aparece com muita distinção e força, desde a coronela, senhora de si e que comanda com mão-de-ferro suas propriedades e família. Com a ajuda de bons jagunços, defende seus bens contra pessoas da própria família; resolve sua vida conjugal de uma hora pra outra após a viuvez; ajuda seus protegidos. Uma mulher resolvida.

Também aparece com altivez e se torna personagem marcante a figura meiga da senhora do delegado, com ares de professorinha, que assume o protagonismo de uma hora pra outra, sem que alguém esperasse. Outra personagem, esposa de um coronel, vítima de maus-tratos, resolve se libertar do jugo do marido, toma uma atitude inesperada e vai viver nova relação. Esta proibida pelas leis dos homens e de Deus.

Lançamento do romance de Ramon Fernandes, no Restaurante Porto dos Milagres

Não poderia faltar na trama os forasteiros que chegam, encontram oportunidades e as aproveitam. Alguns metem os pés pelas mãos, mas conseguem se segurar devido às habilidades no relacionamento social e político. Mas como sempre nessa vida terrena, a avareza, a inveja e soberba promovem a própria destruição.

Como no juízo final, os personagens ganham o lugar que merecem na história, sem atropelos, de acordo com seus procedimentos. Os maus geralmente acabam na cadeia ou cemitério, os bons continuam distribuindo felicidade, os menos atrevidos sem destaque. Cada qual no seu quadrado, como determina Ramon Fernandes, com minha posterior aprovação. Recomendo.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Maurício Maron escreve sobre ataque xenófobo a pré-candidata a prefeita de Ilhéus
Tempo de leitura: 2 minutos
Adélia nasceu em Itabuna, como nasceram Antônio Olímpio e Jabes Ribeiro. E essa identidade territorial não lhe tira a legitimidade do pertencimento e nem sua trajetória tão presente em Ilhéus.

Maurício Maron

A pré-candidata a prefeita de Ilhéus, Adélia Pinheiro, nasceu em Itabuna e com apenas seis dias veio morar em Ilhéus, onde os pais já viviam. Passou a infância no Pontal, no Centro e na Conquista. Começou o Jardim de Infância no Vovó Isaura, na Cidade Nova. Estudou o maternal na Escola Perpétua Marques. Ingressou no Colégio Piedade até concluir o 1° ano científico. No Colégio Vitória fez até o terceirão.

Saiu temporariamente de Ilhéus em 1982 para cursar medicina na UFBA.

Não existia este curso em outro lugar na Bahia.

Adélia foi atleta da seleção ilheense de vôlei.

Estudou, formou, voltou. Tornou-se professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), reitora por dois mandatos e, convocada pelos governos de Rui Costa e Jerônimo Rodrigues, foi servir à Bahia. Dois dos seus três filhos nasceram em Ilhéus. O terceiro só não, por que foi prematuro e ela precisou, por segurança, ser transferida para Salvador. Pena que não existia o Materno-Infantil que ela, como secretária, cuidou tão bem.

Feita essa linha do tempo, é, portanto, inaceitável e mesquinho que os seus opositores políticos e setores da imprensa ligados a eles, a tratem como uma “pessoa de fora e sem identidade com Ilhéus”. Adélia nasceu em Itabuna, como nasceram Antônio Olímpio e Jabes Ribeiro. Ou como nasceu João Lyrio em Itapé ou Herval Soledade, em Salvador. Adélia nasceu em Itabuna, como nasceu Valderico Reis, em Ibirataia. E essa identidade territorial não lhe tira a legitimidade do pertencimento e nem sua trajetória tão presente em Ilhéus.

Trabalhei em vários estados do Brasil. E foi em Itabuna onde vivenciei o desagradável protesto pelo fato de um prefeito da época ter contratado “uma pessoa de fora” para sua assessoria. Esse “estrangeiro” era eu, numa cidade onde os meus antepassados ajudaram a construir.

Acho isso de uma imensa pequenez quando numa campanha o assunto prioritário a ser debatido é outro. O fato de não ter nascido numa cidade, não diminui a história de uma pessoa ou o vínculo que você ao longo de uma vida inteira conseguiu construir com ela.

É como li uma certa vez: os laços afetivos que vamos fazendo durante a jornada da vida são, muitas vezes, mais firmes que nós apertados.

Maurício Maron é jornalista.

Tempo de leitura: < 1 minuto

Ao se aproximar dos 500 anos, Ilhéus está muito perto de ter, pela primeira vez, uma mulher prefeita.

 

Cris Calabraro

As eleições municipais em Ilhéus terão a participação de mulheres em todas as chapas majoritárias. Podemos dizer que estamos vivendo um momento histórico, que marca muitas mudanças. Uma luta milenar de toda a sociedade. A trajetória das mulheres na política é uma história de batalhas e conquistas e, de forma efetiva, começa a se concretizar. Vemos um novo cenário político ilheense.

A presença das mulheres na política é fundamental, pois é um passo enorme para diminuir as injustiças e as desigualdades, servindo de inspiração para futuras gerações, priorizando saúde, educação e o cuidado com as pessoas. O potencial feminino de promover mudanças positivas sustenta o argumento de que mais mulheres na política geram gestões inovadoras para o desenvolvimento social.

Mais do que representatividade, é ter no centro das atenções pautas supostamente secundárias, muitas vezes vistas como irrelevantes, mas que, quando centralizadas, demonstram ser determinantes para verdadeiras transformações. Um desafio a ser enfrentado.

Ao se aproximar dos 500 anos, Ilhéus está muito perto de ter, pela primeira vez, uma mulher prefeita. A pré-candidatura da professora Adélia, da Federação Brasil da Esperança (PT-PCdoB-PV), influenciou a maior participação efetiva de mulheres nas disputas eleitorais, sendo a única a concorrer à Prefeitura, uma vez que nas demais chapas as mulheres ocupam a vaga de vice.

As candidaturas femininas para o legislativo também ganham destaque, temos mais mulheres preparadas e prontas para assumir cadeiras na Câmara de Vereadores e a clareza de que mais mulheres devem ocupar espaços de decisão na administração municipal. Um passo importante para o futuro dessa amada terra chamada Ilhéus!

Cris Calabraro é vice-presidente do PCdoB em Ilhéus e diretora estadual da União Brasileira de Mulheres.

A torcida itabunense lotava o estádio Luiz Viana Filho || Foto Waldyr Gomes
Tempo de leitura: 5 minutos

 

Vem o segundo tempo e Geraldo Santos abre a transmissão com o grito de guerra “Vamos lá Itabuna”, os times se estudam, como no início de jogo, mas ao que tudo indica, os técnicos Paulinho de Almeida, do Vitória, e Tombinho, do Itabuna, pedem para os jogadores apenas tocar a bola. 

 

Walmir Rosário

Guardem bem essa data: 28 de julho de 1973. Dia da Cidade de Itabuna e inauguração do Estádio Luiz Viana Filho. A cidade repleta de autoridades, como o governador Antônio Carlos Magalhães, o secretário do Bem-Estar Social, Bernardo Spector, os presidentes do Vitória, do Bahia, da Federação Bahiana de Futebol, o prefeito José Oduque e o presidente do Itabuna, Charles Henri.

E para inaugurar o estádio, que ficou conhecido como o “Gigante do Itabunão”, dois jogos foram agendados: o primeiro, entre Itabuna Esporte Clube e Vitória, no sábado (28-07-1973), e o segundo, entre Bahia e Cruzeiro, este no domingo (29-07-1973). Uma festa esportiva pra ninguém botar defeito, com público de várias cidades baianas, além da imprensa de diversos estados brasileiros.

Até hoje sinto bastante não estar presente à efeméride esportiva grapiúna, pois à época morava em Paraty (RJ), de onde ouvi resenhas e parte do jogo pela Rádio Sociedade da Bahia. Claro que não lembro exatamente o que ouvi, mas faço escrita das palavras dos colegas radialistas, Geraldo Santos, Yedo Nogueira, Ramiro Aquino, Roberto, Juca e Jota Hage, por meio da Rádio Jornal de Itabuna, cuja gravação ostento com carinho em minha biblioteca.

Geraldo Santos e Yedo Nogueira (com os microfones) || Acervo de Walmir Rosário

Pra começo de conversa, o Itabuna era um time de respeito, com jogadores vindos da vitoriosa Seleção itabunense hexacampeão baiana, bem reforçada com novos jogadores regionais e do Rio de Janeiro. Mas, a bem da verdade, encarar aquele poderoso esquadrão do Vitória era dose pra elefante, como se dizia bem antigamente.

E o jogo entre Itabuna e Vitória valia mais do que o placar de 2X2 anotado ao final da partida. A histórica inauguração do estádio de gramados suspensos, como enaltecia a mídia esportiva, tinha a grandeza do que aconteceria no jogo, como, por exemplo, quem marcasse o primeiro gol seria consagrado para o resto da vida. E esse feito coube ao ponteiro-direito Osny, o endiabrado camisa 7 do Vitória.

Outro aspecto importante dessa inauguração era o privilégio de estar presente no jogo 12 do teste de número 146 da Loteria Esportiva, sob os olhares dos apostadores de todo o Brasil. E ao anunciar o placar, o narrador Geraldo Santos não cansava de enfatizar em qual coluna se encontrava – um, do meio ou a dois, E terminou na coluna do meio, com o placar de 2×2.

E nessa transmissão, a Rádio Jornal ostentava como patrocinador exclusivo o novíssimo Centro Comercial de Itabuna, equipamento urbano considerado o mais moderno do Sul da Bahia. Num dos reclames, Geraldo Santos dizia: “Marque o maior tento de sua vida, compre uma loja no Centro Comercial de Itabuna, a obra do século”, como queria o bom marketing da época.

Após uma parada no jogo para os jogadores baterem uma falta, lateral ou escanteio, Geraldo Santos indicava aos possíveis clientes que poderiam adquirir uma loja na Construtora Fernandes, na avenida Amélia Amado, ou junto ao empreendedor Plínio Assis, na praça Otávio Mangabeira. E o Plínio era aquele mesmo que foi goleiro do Flamengo e da Seleção Amadora de Itabuna.

Enquanto isso, o jogo continuava pegado, com vantagem do Vitória nas jogadas, principalmente de Osny, Mário Sérgio, André e Almiro. Segundo o comentarista Yedo Nogueira, o jogo ainda se encontrava na fase de estudo, reconhecimento do terreno. E o narrador prometia dar um rádio Philips de presente ao jogador que marcasse o primeiro gol no Estádio Luiz Viana, uma gentileza da Loja Rosemblait

Aos sete minutos do primeiro tempo, eis que André, ainda o “Peito de Aço”, invade a área, dribla o goleiro Luiz Carlos, que derruba o centroavante na grande área. Pênalti, marca o árbitro Saul Mendes. O serelepe Osny se prepara para bater a penalidade máxima, chuta com maestria e o resultado foi bola no canto esquerdo e o goleiro caindo no canto direito. Gol do Vitória!

Coluna 2 do jogo 12 do teste 146 da Loteria Esportiva. Em outro lance, enquanto o Itabuna se prepara para bater um escanteio, Geraldo Borges convida os ouvintes de toda a região para assistirem ao super show do cantor Roberto Carlos e Banda RC7 no novíssimo Estádio Luiz Viana Filho, no próximo dia 2 de agosto. Em campo, Reginaldo bate o tiro de canto e a zaga do Vitória rebate para o ataque.

Exatamente aos 16 minutos do primeiro tempo, enquanto o comentarista Yedo Nogueira analisa que o Itabuna está sem qualquer esquema de jogo para entrar na área do Vitória, André volta a receber outra bola e marca o gol. O Segundo do Vitória. Imediatamente os jogadores partem em direção ao bandeirinha Wilson Lopes para reclamar do mais claro e límpido impedimento e são ameaçados de expulsão pelo árbitro Saul Mendes. Só faltou dizer “gol legal”, como Mário Vianna, com dois enes.

E a partida continua na coluna 2 no jogo 12 do teste 146 da Loteria Esportiva. Aos 30 minutos Osny chuta raspando a trave de Luiz Carlos. Aos 33 minutos, Déri invade a grande área e pega o goleiro Agnaldo, do Vitória desprevenido e marca o primeiro gol do Itabuna, fazendo delirar na arquibancada a torcida alvianil.

E o gol deu ânimo aos jogadores do Itabuna e numa jogada de ataque, Rafael passa pelo marcador, a bola é rebatida por Valter (Vitória) cai nos pés de Perivaldo, que passa a pelota a Jaci, que dá o passe para Déri marcar o segundo gol. A torcida, animada pela bateria da Escola de Samba da Mangabinha, comemora pra valer. Itabuna 2, Vitória também 2. Coluna do meio na loteca.

Vem o segundo tempo e Geraldo Santos abre a transmissão com o grito de guerra “Vamos lá Itabuna”, os times se estudam, como no início de jogo, mas, ao que tudo indica, os técnicos Paulinho de Almeida, do Vitória, e Tombinho, do Itabuna, pedem para os jogadores apenas tocar a bola. E assim o placar continuou selado nos 2X2 e Déri também é agraciado com um rádio Philips da Loja Rosemblait.

No dia seguinte o jogo foi entre Cruzeiro e Bahia, e não passou de 1×1.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Fernando Gomes dispensou o voo para seguir o coração
Tempo de leitura: 4 minutos

 

 

Apesar de uma só turbina funcionando, o avião pousou com tranquilidade. Em terra, ambulâncias carros de bombeiros junto à pista, completavam a segurança, embora não precisaram intervir.

 

Walmir Rosário

No início de 2007 me deparei com o então prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, no aeroporto de Congonhas. Eu vinha de Joinville, após passar uns dias com os filhos; ele de Brasília, onde tinha ido prospectar recursos para a cidade. Estava com uma gripe violenta e disse ter passado a noite em São Paulo, por não ter chegado a tempo do último voo para Ilhéus.

E o motivo não foi um simples atraso, segundo ele, pois o avião em que saiu de Brasília para fazer a conexão com o que iria a Ilhéus apresentou alguns problemas, chegando a São Paulo fora do horário previsto. A alternativa possível seria passar a noite na capital paulista e retomar a viagem no primeiro horário do dia seguinte. Não tinha outro jeito.

Apesar da dificuldade em falar, causada pelas constantes tosses e rouquidão, estava encantado com a atual fachada dos prédios da capital paulista, livre dos anúncios publicitários que tornava feia a paisagem. É que poucos dias antes, o então prefeito da Paulicéia, José Serra, travou uma guerra contra a poluição visual dos anúncios.

De pronto, não ficou um letreiro luminoso – ou não –nas fachadas dos arranha-céus. Outdoor, nem pensar. “Adeus poluição visual”, comemorava Fernando Gomes, elogiando a coragem e determinação do seu colega paulista em tomar uma medida drástica, contrariando o poderoso segmento publicitário paulista, o maior do Brasil.

Enquanto Fernando Gomes falava eu notava um brilho nos seus olhos, apesar de marejados com as lágrimas derramadas pelo mal-estar da forte gripe, ou da estranha virose, conforme tinha diagnosticado o pneumologista na noite passada. Assim que a tosse aliviava, ele voltava a puxar a conversa, sempre focada para o novo aspecto visual de São Paulo, capital.

Lá pelas tantas, me garantiu que assim que chegasse a Itabuna convocaria o Procurador-Geral e os secretários da Administração e Indústria e Comércio para uma reunião, na qual proporia uma ação idêntica à tomada pelo colega José Serra em Itabuna. “Nosso centro da cidade está muito feio, com aquelas placas de publicidade horríveis e que não condizem com a magnitude de Itabuna”, ressaltava o prefeito.

Já nos preparávamos para embarcar num determinado portão, quando tivemos que tomar outro rumo, devido à mudança do local de estacionamento da aeronave. Fernando Gomes não se conteve e foi tomar satisfação com o pessoal da TAM, para saber qual o verdadeiro motivo da transferência repentina. Seria algum problema na aeronave? Perguntava.

Só aí, então, Fernando Gomes mudou de assunto, contando que se não fosse pelo seu agravado problema de saúde, ele abortaria sua viagem nesse voo, que passou a desconfiar de algum problema à vista. Embarcamos no ônibus que nos levaria ao avião e ele passou a me relatar uma situação desagradável que vivera anos antes num voo da Varig.

Teria saído de Brasília para Ilhéus com escalas previstas em São Paulo e Rio de Janeiro. Ele optou por esse voo com a esperança de chegar mais cedo, pois o próximo só sairia 6 horas depois. E como precisava chegar cedo a Itabuna, onde assuntos urgentes lhe aguardavam. Logo chegou a Congonhas e mudou de aeronave, essa com escala no aeroporto Santos Dumont e, em seguida, Ilhéus. Nem desceria do avião.

Assim que chegaram ao Rio de Janeiro foram comunicados que o avião entrara numa pequena pane e que logo retornariam a bordo. Cerca de quarenta minutos depois voltaram a embarcar na mesma aeronave. Assim que decolaram estoura uma turbina, e passaram uns 45 minutos rodando para derramar o combustível, aumentando a segurança do pouso.

Apesar de uma só turbina funcionando, o avião pousou com tranquilidade. Em terra, ambulâncias carros de bombeiros junto à pista, completavam a segurança, embora não precisaram intervir. Mais uma vez teriam que remarcar as passagens, no balcão da Varig, marcada pela enorme fila que se formara pelos assustados passageiros.

Assim que Fernando Gomes recebeu a nova passagem e as orientações sobre o novo voo, disse sentir seu coração avisando: “Não vá nesse voo”. De pronto, falou com a atendente que não embarcaria e queria sua bagagem – já despachada desde Brasília – de volta. E ninguém conseguiu lhe convencer. Iria por terra, alugaria um carro e ele mesmo dirigiria.

Na locadora alugou um automóvel JK, da Alfa Romeo, por Cr$1.500,00 (dinheiro da época) e partiu. Quando estava chegando em Campos, mais um problema: tomba o carro. Chama uns homens e lhe ajudam a desvirar o carro e desamassar o teto. Como não tinha sofrido cortes nem se machucado, toca a viagem até Vitória, onde dormiu. Na tarde do dia seguinte chega a Itabuna.

Já o avião que recusou viajar chegou ao aeroporto de Ilhéus uma hora e meia depois, sem ele, é verdade, pois seu coração não o deixou continuar a viajem. Já o nosso voo de São Paulo a Ilhéus chegou após duas horas de percurso sem qualquer problema, permitindo a Fernando Gomes uma consulta ao seu médico de confiança.

Quanto a seguir o projeto do colega José Serra, ficou para outra oportunidade.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Cambão reinou absoluto na Lavagem do Beco do Fuxico
Tempo de leitura: 4 minutos

A notícia da lavagem do Beco do Fuxico e da escolha real correu como rastilho de pólvora em toda a cidade, noticiada em rádios e jornais, com direito a uma notinha nas emissoras televisivas de Salvador.

 

 

 

 

 

 

 

Walmir Rosário 

Quem foi rei nunca perde a majestade! E esse ditado popular é por demais verídico, tanto na imaginação quanto na vida real. Exemplos nos saltam aos olhos a todos os momentos que vislumbramos uma figura portadora de “sangue azul”, mesmo na imaginação. Mesmo os que já perderam o reino e a coroa continuam ostentando a condição anterior, haja vista Dom Pedro II, exilado em Paris, que até na sua morte recebeu todas as homenagens.

Mas aqui não bisbilhotarei – garanto – a vida dos nossos monarcas vivos e mortos, e sim contar como foi instituído título nobiliárquico de tamanha magnitude no Beco do Fuxico, local em que transita a alta flor da mais fina boemia de Itabuna. E digo mais, não tivemos um só rei, mas dois. E isso porque um deles, o inicialmente escolhido não aceitou o encargo de ostentar a coroa real e abdicou do trono. Quer dizer, não foi bem abdicar.

Numa daquelas tardes conhecidas por sexta-feira, em que todos caminham em direção aos bares para aliviarem as tensões do dia ou dias da semana, eis que os frequentadores do Beco do Fuxico recebem uma notícia bombástica. E foi um momento de grande emoção, pois um grupo de frequentadores se reúne para criar a Lavagem do Beco do Fuxico. E pra já, a uma semana antes do Carnaval.

E eles eram liderados pelo engenheiro Roberto Carlos Godygrover Bezerra (Malaca), de Salvador, que conseguiu convencer seu amigo Bel Moreira, que dava expediente no Beco do Fuxico. Malaca não se conformava de que um Beco como o Maria da Paz, era alvo de uma promoção de alto nível, sendo lavado para o Carnaval, como era que o de Itabuna, sede de tanto botecos deixava uma data momesca passar em brancas nuvens? Inconcebível!

E enquanto os detalhes eram pensados e planejados entre uma cerveja altamente gelada e uma cachaça com folha de figo no bar de Batutinha, a lavagem do Beco do Fuxico ia sendo colocada no papel. Ao final, faltava apenas um comandante para a lavagem, que não seria o Rei Momo, monarca de outras ocupações, ligada ao poder público. Tinha que ser um rei daqueles reais, saído do próprio ambiente, gente do Beco do Fuxico.

E não deu outra, o personagem escolhido foi o Caboclo Alencar, diretor do ABC da Noite há décadas, educando os novos alunos e toda a turma repetente, por anos a fio. E foi aprovado por unanimidade. Assim que comunicado da honraria, Caboclo Alencar não topou o encargo. Se mesmo sem querer já era chamado de rei das batidas, como faria para dar conta de um novo reino. Era muita coroa para um só rei.

E com toda a inteligência que Deus lhe deu, o Caboclo indicou o seu substituto, ali presente e que participou de todo o planejamento da promoção para a Lavagem, por ser um dos frequentadores mais antigos e assíduos frequentadores. Pessoa de bem, amigos de todos, boêmio com assento em diversos botequins de Itabuna e redondezas. Não teria nenhuma oposição à coroação de José Emmanoel de Aquino, melhor dizendo, Cambão, apelido que o nomeava desde a adolescência.

Nunca um grave problema como esse, que envolvia um cobiçado reinado foi resolvido em minutos, sem ameaças de invasões e guerras, indicações ou eleições. Cambão sempre foi uma pessoa que gozou e goza de prestígio em toda a sociedade itabunense, da pessoa mais simples ao alto escalão da política, economia, e que circulava com desenvoltura por todos os recantos da boemia.

Rei abdicado, rei posto, com direito a desfile em todo o Beco do Fuxico e circunvizinhanças, em traje de gala e coroa na cabeça, ainda mais com a indicação do professor Alencar Pereira da Silveira. Daqui pra frente bastava Cambão ir ao alfaiate tirar as medidas e colocar o traje real, circulando com toda a majestade entre os súditos na primeira notória lavagem de Itabuna.

A notícia da lavagem do Beco do Fuxico e da escolha real correu como rastilho de pólvora em toda a cidade, noticiada em rádios e jornais, com direito a uma notinha nas emissoras televisivas de Salvador. A festa, entretanto, esbarrou junto ao poder público municipal, que argumentou falta de tempo e orçamento para incluir a nova lavagem na programação do governo municipal.

Mais aí é que o engenheiro Malaca salva a lavagem ao disponibilizar um trailer de sua empresa, equipamento de aspergir betume no asfaltamento da construção das casas da Urbis (hoje Jardim Primavera). A lavagem estava garantida até as mangueiras estourarem, o que não prejudicou a festa que continuou até o último frequentador teve forças para sambar e beber.

Com a “prefeiturização” da festa, Cambão (José Emmanoel de Aquino) abdicou do cargo de Rei do Beco do Fuxico, mas a lavagem continuou sendo aberta pelos blocos Maria Rosa, Casados I…Responsáveis, Mendigos de Gravata, dentre outros. Hoje, a lavagem do Beco do Fuxico está totalmente descaracterizada da proposta inicial e é praticamente a festa do Carnaval de Itabuna.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Os dois cachorros sempre presentes às funções religiosas || Reprodução Pascom Paraty
Tempo de leitura: 4 minutos

 

Jamais interpretarei esse costume dos animais que se refugiam ou participam dos atos litúrgicos da Igreja Católica como sendo um aviso de Deus à humanidade pelo seu afastamento das coisas divinas. Mas que parece, parece.

 

Walmir Rosário

Meus personagens de hoje não têm compromisso algum, não devem obediência a ninguém, entram e saem de onde e na hora que querem, levam o tempo a passear pelas ruas de Paraty e ainda aproveitam para dar um “bordejo” pela praia do Pontal. Não usam roupas apropriadas ao banho, e sequer se preparam para a defesa dos raios solares com bronzeadores. Vivem livres e soltos.

Não são seres humanos e sequer têm nomes. Não importam para eles esse costume legal, mas o certo é que são admirados e respeitados por todos, sejam nativos ou turistas. Esses dois seres são animais ditos irracionais, cachorros, cães, como queiram chamar, até de vira-latas, embora eu não tenha o conhecimento adequado para tal.

Poderiam ser apenas mais dois cães entre tantos que preambulam pelas ruas de Paraty. Mas não, basta o repicar dos sinos da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios, Nossa Senhora do Rosário ou de Santa Rita, que os dois se dirigem para um desses locais. Chegam sem pedir licença, e se acomodam no tapete da passarela de entrada, sem qualquer cerimônia.

Hoje são dois, mas já foram três. Um deles sumiu, dizem que morreu, mas não se sabe ao certo. De vez em quando, aparece mais um para desfrutar da companhia, mas por pouco tempo. Não consegui distinguir o porquê de não se adaptar aos mais diferentes atos litúrgicos, que compreende muitas falas e músicas, ou se não gostou de algo. O certo é que esse terceiro é esporádico.

Como os dois, tem a mesma pelagem e cor, são chamados de Caramelo, quem sabe se por estar surfando nas ondas das redes sociais mundo afora. Os dois costumam se acomodar conforme o ritual litúrgico. Deitados na passarela de entrada, e assim que o cortejo passa para a área do altar – se desviando deles –, também se dirigem ao púlpito no qual descansa a Bíblia Sagrada.

Assim que o celebrante lê o Evangelho e segue pregando a homilia, um deles se coloca na frente e outro atrás do púlpito, em posição de descanso, como se estivesse prestando a atenção ao padre. Recordo que o durante a Celebração de Missa do Divino Espírito Santo, o Padre Roberto (ex-pároco), demonstrou cuidado especial para não incomodá-los, sequer pisá-los, distraidamente.

Parece até que os dois (Caramelos) conhecem, de cor e salteado, a liturgia, se posicionando em locais diferentes. Assim que a Missa está sendo finalizada, eles se dirigem à passarela, como costumam fazer os fiéis. Se estiver programada uma procissão, eles não se fazem de rogado e a acompanham pelas ruas da cidade até o retorno à Igreja.

Confesso que esta não é a primeira vez que tomo conhecimento da predileção desse tipo de animal por igrejas. Já assisti reportagens em alguns canais de TV, uma delas de um cachorro na cidade de Tanquinho, nas proximidades de Feira de Santana. Ele frequenta, religiosamente, as funções litúrgicas, nos horários programados em qualquer dia da semana.

Desconheço totalmente os costumes dos cachorros, pois não crio animais e nem tenho intimidade por eles. Embora respeite qualquer ser vivo, prefiro manter minha privacidade, daí não ter informação alguma sobre a inteligência e costumes. Ouço falar que existem raças inteligentes e que se prestam (ou são melhores) para a guarda, caça, mas nunca para a religião.

Os dois Caramelos acompanham as procissão do Divino em Paraty 

Não me levem a mal e nem pensem que cometo qualquer heresia a falar da relação dos animais e a religião, pois um grande exemplo foi o de São Francisco, que considerava os animais seres criados por Deus. Tanto é assim que é considerado o santo protetor dos animais. Mostra a história que enquanto São Francisco pregava era rodeado por animais.

Jamais interpretarei esse costume dos animais que se refugiam ou participam dos atos litúrgicos da Igreja Católica como sendo um aviso de Deus à humanidade pelo seu afastamento das coisas divinas. Mas que parece, parece. Principalmente quando os cristãos – que se autodenominam católicos – se afastam da Igreja, ignoram os ensinamentos, desprezam as funções religiosas.

Além da igreja, eles também gostam da praia || Imagem de internet

Se não consigo decifrar a teologia, menos, ainda, a vida dos animais. Faltam-me conhecimentos filosóficos e científicos para tal debate, mas não posso me esquivar de trazer o tema às discussões dos entendidos. Caso não seja atendido nessa arguição, acredito que seja válido disseminar essa informação inusitada no comportamento dos cachorros, notadamente os dois de Paraty.

Seria, por acaso, um mistério divino?

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Secretário Rosivaldo Pinheiro analisa sucesso e desafios do Itapedro || Foto Divulgação
Tempo de leitura: 2 minutos

 

O Itapedro já é uma marca consolidada, colocando nossa cidade como um grande destino turístico, dentre os 10 mais procurados do Brasil. Esse dado reflete a importância de manter o evento nas buscas por meio das agências, inserindo o Itapedro no mapa turístico nacional.

 

Rosivaldo Pinheiro

A primeira oportunidade que surge após o término do Itapedro é a compreensão de que a cidade de Itabuna ganhou amplitude nacional e a marca teve o seu fortalecimento em níveis federal, estadual e fora do país. A festa teve a sua ambiência voltada não apenas para o entretenimento, mas também para o fortalecimento do comércio e dos serviços, que são características fortes da cidade de Itabuna, gerando renda e emprego na região.

A edição 2024 do Itapedro ainda teve um novo desafio, que é justamente fazer novamente essa festa acontecer e superar as expectativas. E, agora, já é uma marca consolidada, colocando nossa cidade como um grande destino turístico, dentre os 10 mais procurados do Brasil. Esse dado reflete a importância de manter o Itapedro nas buscas por meio das agências de turismo, que fazem essa prospecção e atuação no mercado de eventos, já cabendo a Itabuna se inserir no mapa turístico nacional.

É natural que uma festa dessa envergadura, dessa magnitude, tenha sempre a necessidade de ajustes ao final de cada etapa, e assim agregando novos serviços, novas oportunidades de gerar mais atrativos e, dessa forma, ir fortalecendo os elos do setor turístico para que todos possam aproveitar a oportunidade gerada por esse mega evento e, consequentemente, poderem ampliar suas fontes de renda, como muitos aproveitaram neste Itapedro, colocando suas casas para locação, comercializando alimentos, água e outras bebidas em suas barracas, guardando carros etc. Sem falar nas vias públicas, que vão cada vez mais recebendo investimento para melhorar a mobilidade e a infraestrutura urbana, que já vêm mudando, mas passam a ter ainda mais impacto de organização.

Esse ecossistema abriga ainda hotéis, pousadas, restaurantes, táxi, aplicativos, mototáxi, farmácias e assim por diante. Ou seja, o Itapedro é algo muito positivo para Itabuna e os itabunenses. Essa dimensão é preciso ser visualizada também pelos que não compreendem o volume de negócios gerados a partir de um evento da natureza do Itapedro. A segunda fase dessa história é a mensagem da necessidade de uma região como o Litoral Sul discutir uma agenda que seja global, onde Itabuna, Ilhéus e Itacaré assumam a liderança dessa construção, uma oportunidade para todos os municípios da região.

Por último e não menos importante, eventos como o nosso Itapedro elevam a autoestima do povo, que fala com orgulho que a sua cidade está entre os grandes centros de atração de oportunidades de negócios e está atraindo olhares de todo o Brasil pelo seu lado positivo, de um povo acolhedor, que trabalha com muita dedicação e dignidade. Parabéns a todos os milhares de itabunenses que estão fazendo parte desta linda história.

Rosivaldo Pinheiro é economista, especialista em Planejamento e Gestão de Cidades e secretário de Governo de Itabuna.

Edson Almeida começou no rádio aos 15 anos || Foto Bocão News
Tempo de leitura: 4 minutos

Aos poucos, soube criar seu estilo e permanecer no rol dos melhores comunicadores baianos. E melhor, sem perder suas características.

 

 

 

 

 

 

 

Walmir Rosário

Poucos, pouquíssimos, têm a capacidade e sorte de iniciar como profissional do rádio aos 15 anos de idade. Os que conseguiram essa proeza possuíam bastante capacidade de raciocínio, conhecer do “riscado”, e ser um vocacionado. No rádio esportivo, então, precisavam conhecer os jogadores, a regra de futebol e desenvoltura para analisar uma partida, sem pestanejar e em alto e bom som.

Edson Almeida foi um desses predestinados, que aos 15 anos, em 1960, trocou o emprego na Loja Invencível para iniciar sua brilhante carreira de comentarista esportivo na pequena Rádio Clube de Itabuna. Mas não foi fácil! Primeiro, teve que vencer um concurso, superando outros 36 pretendentes ao cargo. Segundo, foi obrigado a convencer o diretor da emissora, Gerson Souza, que era a pessoa certa, apesar da idade.

No dia seguinte a primeira prova de fogo seria comentar um jogo de futebol ao vivo, direto do Campo da Desportiva, ao lado do narrador José Maria Gottschalk, que “encheu sua bola” ao anunciá-lo: “Nos comentários aqui pela primeira vez, o prodígio do rádio itabunense, Edson Almeida”. Sem mais nem menos, pegou o microfone e deu conta do recado, nos mesmos moldes em que fazia o grande Rui Porto. Começou bem.

E Edson Almeida se firmava como um prodígio no microfone, embora a recíproca salarial não combinasse com seu trabalho, que somente passou a ver o primeiro pagamento depois de seis meses. O importante é que ele acreditou no que fazia e cerca de um ano depois recebeu o convite para se mudar para Salvador, indicado que foi por Nílton Nogueira, após assistir seus comentários num jogo Bahia e Santos, em Ilhéus.

Em Salvador, passou a trabalhar com os “monstros sagrados” do rádio baiano, a exemplo de José Ataíde, mas não se adaptou à mudança de vida do interior para a capital. Resolveu fazer as malas e retornar para Itabuna. Continuou os estudos e os comentários esportivos, se notabilizando como um grande profissional do rádio jornalismo baiano, distinguindo-se, também como chefe de equipe, como na Rádio Jornal de Itabuna.

Daí foi um pulo para a Rádio Sociedade da Bahia, Diário de Notícias e a TV Itapoan, TV Bahia, Bocão News, dentre outras. Enfim, ganhou o mundo da comunicação esportiva do rádio e da TV, bem como do jornalismo escrito. A notícia e a análise narrada por Edson Almeida passava credibilidade desde o seu timbre de voz à postura da interpretação. Aos poucos era chamado para novos veículos de comunicação, portanto, novas atividades.

Mas Edson Almeida não ganhou credibilidade por acaso, era fiel à tradição familiar e aos costumes do interior, no qual a palavra dada, o comportamento no dia a dia importava, chegava a ser sagrado. Também continuou se preparando intelectualmente para as novas missões que assumia. Como se o rádio, a TV e o jornalismo não bastassem, fez boas e produtivas incursões na publicidade, com sucesso, é bom que se diga.

Na assessoria de comunicação não foi diferente, trabalhou na política, e como não deveria deixar de ser, no futebol. Só um profissional como Edson Almeida seria capaz de assessorar o Vitória e o Bahia, os dois adversários mais renhidos do estado. É certo que no Bahia não deu tão certo, mas foi convocado por Paulo Carneiro para voltar ao Leão da Barra. Continuou de cabeça ereta.

Assessorar dois presidentes do temperamento de Paulo Carneiro e Paulo Maracajá, por si só, já é motivo para o crescimento do currículo de Edson Almeida, que de tão imenso e qualificado não se restringe aos assessorados, mas que é um case de sucesso, não se pode negar. Mais que isso, são duas torcidas distintas, diferentes, antagônicas, que desconfiam uns dos outros, numa eterna briga de gato e rato.

E Edson Almeida sempre administrou essas passagens com bastante profissionalismo e seriedade, atributos que carrega desde os tempos das rádios Clube e Jornal, em Itabuna, na Sociedade ou Excelsior, nas quais formou e preparou dezenas de profissionais. Soube, como poucos, trabalhar nos dois lados do “balcão”, abastecendo com informações os veículos de comunicação, ou neles garimpando as notícias.

Em Itabuna, o conceito de Edson Almeida pode ser medido em diferentes fases. Quando por aqui militava, nas emissoras de rádios e TV de Salvador, ou nas assessorias, especialmente pelos que mais experientes pela idade. Não foi relegado ao esquecimento e em qualquer discussão sobre o futebol do passado sempre foi tido e havido como uma referência aos bons comunicadores, notadamente pelos colegas.

É certo que 99% dos méritos cabem a Edson Almeida, que de forma pessoal acreditou no seu potencial e conseguiu superar os 36 concorrentes no concurso para a “velha” e pioneira Rádio Clube de Itabuna. Entretanto, não poderemos deixar de exaltar José Maria Gottschalk por ter acreditado no então garoto candidato e recomendá-lo ao diretor Gerson Souza a contratá-lo.

No rádio esportivo de Itabuna daquela época, ainda feito de forma empírica por alguns abnegados, Edson Almeida soube dar o tom de modernidade a pensar introduzir, de primeira, o comentário de Rui Porto, não com uma cópia, mas como modelo. Aos poucos, soube criar seu estilo e permanecer no rol dos melhores comunicadores baianos. E melhor, sem perder suas características.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Jerberson Josué analisa cenário eleitoral em Ilhéus || Foto Divulgação
Tempo de leitura: 3 minutos

Não há dúvidas sobre a prerrogativa do PSD e a incoerência do PT, caso siga com sua pré-candidatura fadada ao fracasso e “laranja” de uma oposição da velha política, que tanto fez Ilhéus retroceder, adoecer e perder!

Jerberson Josué

A pouco mais de um mês para o início das convenções partidárias, seguindo o rito da legislação eleitoral vigente, ainda restam nove pré-candidatos na disputa em Ilhéus. Mas, eram 19 há poucos dias e todos se diziam “irrenunciáveis”, ou que não seriam vice de ninguém!

Articulações, ingerências de instâncias superiores dos partidos e limitações de condições de campanha resultaram em desistências de supostos prefeituráveis, com revés ainda previstos para algumas das atuais nove pré-candidaturas majoritárias: Bento Lima (PSD), Augustão (PDT), Coronel Resende (PL), Wanessa Gedeon (Novo), Jerbson Morais (Solidariedade), Valderico Júnior (União Brasil), Adélia Pinheiro (Federação PT, PCdoB e PV), Jabes Ribeiro (Progressista) e Bebeto Galvão (PSB).

Ainda terá conta para esse número ser subtraído e para saber quais destes prefeituráveis permanecerão com suas candidaturas, algumas articulações, imposições e negociações estão sendo protagonizadas por instâncias maiores dos partidos e Federações, com conversações que não param entre os próprios prefeituráveis. A prova dos nove será revelada no dia 5 de agosto (último dia do prazo para os partidos escolherem seus candidatos), quando ninguém poderá mais dizer que é o que não poderá permanecer sendo!

As oposições seguem sem clareza, se vão se unir de fato, apesar de encontros e conversas entre os pré-candidatos Jabes Ribeiro (PP) e Valderico Reis Júnior (UB) com o principal líder da oposição na Bahia, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, e possibilidade de suas conversas resultarem na inclusão, nesse agrupamento, do também pré-candidato a prefeito Augustão, do PDT.

Conta-se que dessas conversas sairão apenas um nome candidato a prefeito e um possível vice. Com isso, reduzir-se-á um a dois entre os nomes postos atualmente na disputa eleitoral, pela sucessão do Prefeito Mário Alexandre (PSD), cujo prefeiturável, Bento Lima (PSD), também tem mantido conversações com propósito de ampliar seu leque de aliados e apoiadores.

Ainda no campo oposicionista municipal e também na base do governador Jerônimo Rodrigues, tem os pré-candidatos Adélia Pinheiro (PT); o atual vice-prefeito Bebeto Galvão (PSB) e o ex-presidente da Câmara de Vereadores de Ilhéus Jerbson Morais (SD), de onde poderá sair um vice. Neste contexto, dois seriam preteridos! Coronel Resende (PL), prefeiturável do bolsonarismo, antipetismo e anticomunismo, deve ser realmente candidato, diante do viés eleitoral da direita.

A pré-candidata Wanessa Gedeon (Novo) é uma incógnita, pois ela se movimenta muito bem nos setores e pode ser a noiva (vice) de diferentes potenciais candidatos, inclusive integrando a chapa majoritária como vice de Bento Lima, caso as articulações com o círculo político do Governo do Estado não avancem.

O pré-candidato Bento Lima, prefeiturável do prefeito Mário Alexandre (Marão), segue suas atividades em ritmo acelerado e em franco crescimento, que são revelados nas sondagens de opinião pública, animando o grupo do prefeito Marão, que está trilhando o mesmo caminho dos ex-governadores Wagner e Rui (ambos do PT), que optaram por apostar em nomes novos de seus quadros técnicos, mesmo diante de índices desfavoráveis das pesquisas, no início da campanha.

No momento em que Rui Costa anunciou Jerônimo Rodrigues como seu candidato a governador, com percentuais máximos de 4%, o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto passava dos 60% e deixava a sensação de que venceria fácil no primeiro turno. Os resultados das urnas revelaram que não é somente na fábula da Lebre e da Tartaruga que vence o azarão!

Com esse fato, não há dúvidas sobre a prerrogativa do PSD e a incoerência do PT, caso siga com sua pré-candidatura fadada ao fracasso e “laranja” de uma oposição da velha política, que tanto fez Ilhéus retroceder, adoecer e perder! Logo saberemos se a cúpula governista criou juízo para evitar que Ilhéus volte a um passado ruim, ou fortalecerá um aliado importante para 2026.

Jerberson Josué é ativista social e chefe de setor de Fiscalização da Secretaria da Casa Civil de Ilhéus.

Tempo de leitura: 4 minutos

 

Lembro da rua sendo decorada com bandeirolas pelos moradores; estas eram feitas com revistas, sacolas, jornais. Elas eram cortadas em torno de rodas de conversas e estórias. As crianças, eu era uma delas, iam colando no barbante com uma goma improvisada de farinha de mandioca. As noites eram felizes.

 

Efson Lima || efsonlima@gmail.com

Os festejos juninos já começaram na Bahia e, certamente, em todo o Nordeste. Algumas cidades realizam festas com duração de um mês. Também é razoável que não devemos comparar festas, mas o São João transmite uma sensação de que todo município, pelo menos no Nordeste, de algum modo, acende uma fogueira, as pessoas colocam bandeirolas nas ruas e praças ou um trio de sanfoneiro está a embalar as emoções. É, sem dúvida, a festa do dançar coladinho, mas “não” continua sendo “não” e vale respeitar as diversas formas de amar.

Em outras cidades, as praças são tomadas por grandes atrações, cujas festas movimentam a economia local, lotando pousadas e hotéis. As casas dos moradores são alugadas, o interior da Bahia é envolvido e as relações econômicas das cidades, inclusive os processos eleitorais, são impactados. Afinal, as eleições estão logo ali: outubro.

Em Salvador, a principal praça de festa junina do Governo do Estado é no Parque de Exposições, inclusive, estive lá recentemente para apreciar as atrações com meu amigo Léliton Andrade, por sinal, esse artigo tem sugestão dele. Sem dúvida, uma festa para agradar os diversos gostos. No dia em que estive, acompanhei Luiz Caldas, João Gomes, Psirico e Escandurras.

Observei, atentamente, Márcio Victor, do Psirico, defender a presença daquela atração no São João ao apontar que a música nordestina é a que deve estar nas festas juninas. Por sinal, o show dele foi iniciado com duas músicas e uma quadrilha junina. Complementava a tríade, o telão exibindo o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. A partir daí, as músicas do grupo levaram o público ao delírio. Preciso confidenciar que dancei. Gostei muito dos esforços empreendidos para articular os ritmos e promover uma mistura necessária aos ouvidos, inclusive, o visual dos bailarinos. A roupa usada por Márcio Victor também trazia os elementos nordestinos. Perdemos a tradição? Muitos vão dizer que sim. Só o tempo dirá para nós.

As festas privadas em diversas cidades viveram o boom no passado, agora, lamentam com a perda de público e de patrocinadores. Alguns chegam a culpar o Estado e prefeituras por investirem nas festas públicas. As festas públicas são necessárias, elas democratizam o acesso aos artistas. É óbvio que os valores das atrações precisam guardar alguma razoabilidade e proporcionalidade e a qualidade do recurso público assegurada. Não é crível também entender que a realização de festas é investimento em cultura, quando os grupos teatrais, de danças, cinema e tantas outras manifestações locais ficam à margem ao longo do ano.

Particularmente, tenho apreço às festas juninas no interior da Bahia. Afinal, minha infância foi povoada por algumas dessas em Entroncamento de Itapé, às margens da BR-415. Lembro da rua sendo decorada com bandeirolas pelos moradores; estas eram feitas com revistas, sacolas, jornais. Elas eram cortadas em torno de rodas de conversas e estórias. As crianças, eu era uma delas, iam colando no barbante com uma goma improvisada de farinha de mandioca. As noites eram felizes. Bananeiras, folhas de bambu, pés de laranjas eram colocados nas ruas. As fogueiras eram preparadas pelas famílias. Um par de roupas era comprado por minha mãe. As noites eram memoráveis.

Leia Mais

Déri (penúltimo agachado à direita) no jogo de despedida de Garrincha, em Itabuna
Tempo de leitura: 4 minutos

 

 

O sucesso de Déri chamou a atenção dos times da capital, tanto assim que foi negociado para o Galícia, que o colocou numa vitrine especial do futebol brasileiro. Alegria maior foi quando escalado para jogar contra o Santos de Pelé, com quem posou para foto, recordação que tem até hoje guardada com carinho.

Walmir Rosário

Todo menino bom de bola é o primeiro a ser escolhido no baba, um de cada lado, para não desequilibrar a partida, e até “os pernas-de-pau” tem seu lugar, na falta dos que têm mais intimidade com a bola. Outra meio de ser escolhido de primeira é ser o dono da bola, pois do contrário não terá jogo. Esses são os métodos mais tradicionais, sendo o da meritocracia o mais utilizado.

E um dos meninos escolhidos de primeira nos campinhos do Lava-pés e da Borboleta, nas proximidades da atual estação rodoviária de Itabuna, na década de 1960, era Déri, ou melhor, Derivaldo Alves da Silva. Sua pequena estatura e seu corpo magro não representavam problemas, ao contrário, facilitava “ciscar” em campo com mais facilidade, driblar os adversários e marcar o gol.

E o menino Déri faz fama e “encheu os olhos” de jogadores mais velhos e técnicos dos times de camisa, que viam nele um craque em potencial e que deveria ser lapidado para jogar num dos times amadores no campo da Desportiva. Não demorou e já estava matriculado na Academia de Futebol Grapiúna, comandada pelo cirurgião-dentista Demósthenes Lordelo de Carvalho.

E o garoto prodígio não queria pouco, e passou a se espelhar no futebol jogado pelos grandes craques da época, como Pelé e Garrincha, em São Paulo e Rio de Janeiro, além dos irmãos Riela, Tombinho, Santinho, Neném e outros da Seleção Amadora de Itabuna. Sem demora recebe convite para treinar – também – no quadro aspirante do Janízaros, time em que jogavam seus ídolos.

Se em campo Déri aprendia o futebol com os professores celebridades, fora era apadrinhado dos diretores Zelito Fontes e Antônio Heckel, que se preocupavam com a formação do homem, do cidadão Déri. Sem dúvida alguma, foi um excelente aluno e não demorou dividir o campo com o goleiro Luiz Carlos, Tombinho, Neném, Nocha, Piaba, Jurandir, Santinho, Florizel. Aos poucos o franzino ganhava condição física e técnica.

Déri foi se firmando no meio-campo, saindo sempre que podia para o ataque, tanto pela direita como pela esquerda. E a cada oportunidade que aparecia lá estava ele marcando gols, o que gostava. E Déri aproveitava a sua rapidez e a marcação cerrada dos adversários nas celebridades para se tornar goleador. Com Tombinho desenvolvia jogadas combinadas nos treinamentos, deixando os adversários apavorados.

Naquela época, em Itabuna, não havia programa melhor nas tardes de domingo do que assistir aos jogos do campeonato amador no campo da Desportiva. Pouco importava contra que times jogavam, a torcida lotava o estádio, pois confiava na qualidade do futebol praticado. Nos jogos da imbatível Seleção de Itabuna, então, era preciso chegar cedo para garantir um lugar melhor na geral ou na arquibancada.

E o sucesso de Déri chamou a atenção dos times da capital, tanto assim que foi negociado para o Galícia, que o colocou numa vitrine especial do futebol brasileiro. Alegria maior foi quando escalado para jogar contra o Santos de Pelé, com quem posou para foto, recordação que tem até hoje guardada com carinho. E, ao final do jogo, o placar marcava 2 X 2, um empate com sabor de vitória.

E na vitrine do Galícia chegou a ser cobiçado por várias equipes brasileiras e até da Espanha, esta lhe fez uma proposta irrecusável. Porém, o amor pela família falou mais alto e Déri continuou no “Demolidor de Campeões”, que tinha como técnico o zagueiro e lateral Nílton Santos, a Enciclopédia do Futebol, com quem aprimorou os fundamentos e disciplina tática.

Déri foi um dos componentes da primeira equipe do Itabuna Esporte Clube, recém-criado e profissionalizado, ainda prestes a completar os 17 anos. Passou a integrar o meio-campo do Itabuna ao lado de Bel, Lua Riela, Élcio Jacaré. Outra grande passagem de Déri pelo Itabuna Esporte Clube se deu na década de 1970. Na inauguração do Estádio Luiz Viana Filho, hoje Fernando Gomes, em 28 de julho de 1973, teve uma atuação brilhante e ainda marcou os dois gols contra o Vitória e saiu como o herói da partida, no empate por 2 X 2.

Na Bahia, Déri também passou pelo Atlético de Alagoinhas, o Leônico, no qual foi campeão do torneio de acesso, e o Vitória. Mas foi em Sergipe que se consagrou como o grande ídolo futebolístico. Jogou pelo Confiança, depois no Sergipe e Itabaiana. No Confiança se sagrou campeão em vários anos e considerado o melhor time do estado. Na transferência para o Sergipe, Déri sofreu bastante com os torcedores do Confiança, que não admitiam a mudança. Eram vaias de um lado e aplausos do outro. No Itabaiana também foi campeão por diversos anos.

Déri, campeão por vários anos no Itabaiana

Em Sergipe, o conceito de Déri era tamanho, que era pressionado a enveredar pela política, com convites para se filiar a vários partidos e se candidatar a deputado ou vereador. Soube dispensar os chamamentos e preferiu continuar a jogar futebol. Somente nos estádios sergipanos jogou futebol por longos 10 anos e até hoje é lembrado e endeusado pelos torcedores dos times pelos quais jogou.

O mesmo conceito Déri goza em Itabuna, onde mora. Depois que abandonou o futebol, trabalhou para diversos empresários dos ramos do comércio e agropecuária, além de atuar no comércio de veículos. Atualmente está afastado das atividades econômicas e, aposentado, convive mais próximo de sua família. Atualmente, pouco sai de casa, onde recebe os amigos para bate-papos, geralmente sobre futebol, atividade que se destacou por longos anos.

Déri, um craque a ser sempre lembrado.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Tempo de leitura: 2 minutos

Mais cedo do que muitos imaginavam, talvez pressionados pelo grande crescimento da aceitação popular da professora Adélia, juntam-se as forças do atraso, que querem voltar a governar a cidade mesmo após tantas experiências malsucedidas e que nos legaram grande parcela das dificuldades hoje existentes.

 

Rodrigo Cardoso

As últimas notícias da sucessão municipal em Ilhéus vão deixando o cenário mais claro, apesar de estarmos ainda a quase dois meses do fim do prazo das convenções que formalizarão as candidaturas à Prefeitura e à Câmara Municipal.

Do lado da pré-candidatura da professora Adelia Pinheiro, na última quinta-feira (6), houve o anúncio do apoio do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que traz consigo seu parceiro de federação, Rede Sustentabilidade.

No sábado (8), em grande ato político que mobilizou representações de movimentos sociais diversos, trabalhadores urbanos e rurais, operários, negros, mulheres, indígenas, esportistas, movimento estudantil, de cultura, de luta pela terra e agricultura familiar, dentre outros; com a presença do coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral Nacional do PCdoB e Secretário Estadual de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia, Davidson Magalhães; da Deputada Federal Alice Portugal, da Secretária Estadual de Promoção da Igualdade Racial, Ângela Guimarães; do Superintendente Estadual de Economia Solidária, Wenceslau dos Santos; e do presidente estadual do Partido, Geraldo Galindo; o PCdoB também consolidou seu apoio a Adélia, reforçando a unidade política da Federação Brasil da Esperança, FÉ-BRASIL, também composta pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Verde (PV).

Os já citados PT, PCdoB, PV, PSOL e REDE, juntos com o partido Mobiliza, antigo PMN, iniciam uma frente política em torno da liderança da professora Adélia, que, com sua comprovada capacidade de gestão testada na reitoria da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e nas secretarias estaduais de Ciência e Tecnologia, Saúde e Educação, têm alimentado a esperança de Ilhéus virar a chave, rumo a um novo ciclo de desenvolvimento sustentável alinhado com os inúmeros investimentos dos governos do Estado e Federal em nossa cidade, tais como hospitais, policlínicas, unidade de pronto-atendimento, escolas de tempo integral, nova ponte, rodovia, ferrovia, porto etc.

Por onde passa, a professora Adélia tem demonstrado conhecimento, diálogo, carinho e cuidado com as pessoas, além de muita disposição de trabalho para enfrentar os inúmeros problemas que dificultam o desenvolvimento de Ilhéus e as condições de vida de nosso povo, tanto nos morros, periferias e zonas rurais quanto também em bairros mais centrais.

Já na segunda-feira (10), ocorreu a esperada, apesar de muitas vezes negada, união de dois outros pré-candidatos, que também gerou notícia do outro lado do espectro político.

Mais cedo do que muitos imaginavam, talvez pressionados pelo grande crescimento da aceitação popular da professora Adélia, juntam-se as forças do atraso, que querem voltar a governar a cidade mesmo após tantas experiências malsucedidas e que nos legaram grande parcela das dificuldades hoje existentes.

Tentam afastar Ilhéus da harmonia com o projeto de mudanças implementadas na Bahia, hoje liderado pelo governador Jerônimo, e do esforço de reconstrução nacional capitaneado pelo presidente Lula, que tem como um dos seus principais ministros o ex-governador Rui Costa. Este, por sua vez, já demonstrou, com muito trabalho, seu compromisso com nossa cidade e nosso povo.

Seguimos com a convicção de que muitos e muitas irão se somar à necessária caminhada para a mudança rumo ao futuro que nosso povo merece. Ilhéus não pode andar para trás.

Rodrigo Cardoso é presidente do PCdoB em Ilhéus.

Jerberson: perspectivas apontam alguns prefeituráveis como vices ou cartas fora do baralho
Tempo de leitura: 3 minutos

Bento Lima sempre se notabilizou como o técnico do governo e diretamente responsável pela administração nos processos de construção da infraestrutura e articulações políticas de bastidores.

Jerberson Josué

Chegamos ao início do mês de junho e com ele virão as festas juninas e derradeiras oportunidades para os prefeituráveis se consolidarem como candidatos e se tornarem competitivos na disputa. Nos festejos juninos, os políticos já deverão mostrar as dimensões das suas possibilidades e limitações. O grupo do prefeito Mário Alexandre (Marão) e do seu pré-candidato Bento Lima é, de longe, o mais robusto e que tem maior poder mobilizador. Porém, não se pode menosprezar outros grupos e suas possibilidades. Aqui, faremos uma análise sobre o que vemos da realidade eleitoral e política de cada pré-candidato.

O pré-candidato do PSD, Bento Lima, atual secretário de gestão do governo e alçado à condição de prefeiturável do prefeito Marão, dialoga com o eleitorado, apontando a nova era que Ilhéus vive e o quanto prosperou a cidade depois dos 8 anos sob a gestão atual. Bento Lima sempre se notabilizou como o técnico do governo e diretamente responsável pela administração nos processos de construção da infraestrutura e articulações políticas de bastidores, na interface com os governos estadual e federal, sendo nos convênios e projetos o protagonista das execuções.

O pré-candidato coronel Resende, do PL, que é o único representante declarado do campo oposicionista com alinhamento direto e objetivo com o ex-presidente Bolsonaro, terá a oportunidade de se apresentar aos fiéis eleitores do campo antipetista, anticomunista e bolsonaristas de Ilhéus. As correntes ideológicas da direita e extrema-direita ilheenses têm alavancado o nome do pré-candidato Coronel Resende, que no início deste ano era um político desconhecido. Thiago Martins, coordenador da campanha do PL em Ilhéus, tenta articular nos bastidores para trazer o ex-presidente Bolsonaro à cidade.

Também há a pré-candidatura da advogada Wanessa Gedeon (Novo), que se sustenta na promessa de buscar caminhos diferentes no processo eleitoral de Ilhéus. Wanessa se presenta com sua história de vida vitoriosa e virtuosa, tentando chegar ao grande público com a plataforma e dogmas do partido, que também tem inserções e adesões no eleitorado de oposição ao PT e PCdoB.

O pré-candidato e ex-presidente da Câmara de Vereadores Jerbson Moraes está com seu nome apresentado pelo Solidariedade e tem se revelado um dos pré-candidatos que mais tem realizado o corpo a corpo com o eleitorado ilheense, com propósito de ter êxito em seus objetivos nessa fase da pré-campanha. Jerbson tem no deputado Paulo Magalhães (PSD) seu fiel escudeiro e suporte político.

O pré-candidato e ex-vereador Makrisi, do PSOL, circula no eleitorado de esquerda e, nessa pré-campanha eleitoral, tem seguido a cartilha de construção via diálogo com o eleitor. Sua perspectiva de desempenho eleitoral é uma incógnita, mas ele não pode ser considerado “carta fora do baralho”! Makrisi já foi vereador e sabe transitar bem nas comunidades da periferia e distritos da cidade.

O vice-prefeito e pré-candidato Bebeto Galvão, do PSB, tem como estratégia catapultar sua pré-campanha, aliando a atuação política nos campos sindicais, potencializando via seu cabedal político nas esferas superiores. Seu maior obstáculo atual é se desvencilhar da suspeita de que deverá ser vice e não prefeiturável.

O pré-candidato e vereador Augustão, do PDT, segue sua cartilha se apresentando como fervoroso opositor e apontando ser o que fará diferença, como narrativa tática ao atento eleitorado ilheense.

A pré-candidata Adélia Pinheiro, do PT, se apresenta no bojo do governismo estadual e federal, buscando se apresentar ao eleitor como quem será o elo das políticas públicas dos governos Lula e Jerônimo em Ilhéus.

O pré-candidato Valderico Reis Júnior, do União Brasil, tem se apresentado ao eleitorado ilheense como único protagonista da nova política e tem se esforçado para se desassociar do estigma negativo que relembra o governo exercido por seu pai, Vaderico Reis.

O pré-candidato e ex-prefeito Jabes Ribeiro, do Progressista, roda a cidade tentando seduzir o eleitorado, numa construção entre lembrar de suas realizações em 40 anos de vida pública e apontar descaminhos da atual gestão.

Enfim, que venham os festejos juninos! Viva São João! Ficaremos aqui, atentos a cada movimento na política eleitoral Ilheense.

Jerberson Josué é ativista social e chefe de setor de Fiscalização da Secretaria da Casa Civil de Ilhéus.

Padres e Bispo na missa da Festa do Divino, em Paraty (RJ)
Tempo de leitura: 4 minutos

Se você ainda pretende acompanhar uma brilhante e piedosa procissão, recomendo que vá a Paraty durante a Semana Santa e participe da Via Sacra, a Procissão do Encontro, o canto da Verônica, dentre outros ofícios.

 

 

 

 

 

 

 

 

Walmir Rosário

No início do mês de maio, sem qualquer planejamento anterior, resolvi propor à minha mulher sumirmos por uns dias, semanas, como fazemos algumas vezes, há décadas, sem qualquer tipo de aviso prévio. Como de costume, compartilhamos a informação a poucas pessoas, pois já somos formados na vida e sem membros da família a exigir nossa constante presença.

Bastou comprarmos as passagens, arrumarmos as sacolas e viajarmos rumo a Paraty, com o objetivo de matar saudades de quatro décadas sem participar da Festa do Divino Espírito Santo. Um festejo de mais de 300 anos, cuja tradição é mantida com os rigores devidos da religião católica e da cultura daquela comunidade, que busca preservar o estilo de vida há centenas de anos.

Às vésperas da abertura da festa estávamos lá reencontrando os amigos, muitos feitos há mais de 50 anos e nos preparando para acompanhar as bandeiras, assistirmos às missas, enfim, todos os festejos inerentes à novena, e mais um domingo de celebração de Pentecostes. Tudo como dantes, porém organizado e ampliado com os requintes disponíveis aos atuais organizadores.

Imperador do Divino Espírito Santo abre a procissão

Não foi uma novidade para nós, que sempre acompanhamos as festas do Divino Espírito Santo e de Nossa Senhora dos Remédios, a padroeira de Paraty, pelo canal da Pastoral de Comunicação (Pascom) no Youtube. Mas não tem como resistir às emoções vividas (ao vivo e em cores) nas cerimônias religiosas, da organização e das apresentações alegóricas.

Às 18 horas da sexta-feira (10), início da novena, um grande número de fiéis (inclusive nós) aguardava a abertura da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios para garantir assento, devido à grande concorrência. Enquanto assistíamos a oração do terço, nos deslumbrávamos com riquíssima decoração, concebida pela comissão de festeiros, que se desdobram a cada ano em inovações.

Tradição do Marrapaiá é mantida até hoje

A cada dia participam ativamente da celebração da missa padres de outras paróquias do Rio de Janeiro e São Paulo, o Bispo Diocesano, e as diversas comunidades católicas dos bairros e distritos. Enquanto os fiéis eram enlevados espiritualmente ao sublime pela evolução das cerimônias e a emoção pelas músicas sacras executadas pelas equipes de liturgia e animação, corações se abriam no apoio aos necessitados.

A cada dia o ofertório – em forma de alimentos – era destinado a um grupo ou comunidade e entregue na igreja para a distribuição nas comunidades carentes. No domingo (19), toda a coleta da missa de Pentecostes foi destinada aos desabrigados do estado do Rio Grande do Sul e alcançou a quantia de R$ 20 mil, um ato de grande generosidade.

Em Paraty, a Festa do Divino Espírito Santo não tem a conotação turística, mesmo que atraia visitantes. É considerada uma festividade religiosa, na qual a população católica se doa na sua realização, mantendo a tradição, como os leilões, a distribuição de carnes aos necessitados, os folguedos em volta da igreja, e a apresentação de músicas e danças do Marrapaiá e Bando Precatório.

No sábado (18), a festa do Divino Espírito Santo inicia o seu clímax com a Bênção do Almoço de confraternização do Espírito Santo, cuja fila dobra quarteirões. Na missa da noite – bastante concorrida – é realizada a cerimônia de Coroação do Menino Imperador do Divino, que no dia seguinte, acompanhado dos vassalos e guardas, vai à cadeia libertar um dos presos.

Seguramente, assim que a Festa do Divino Espírito Santo é encerrada, os festeiros escolhidos para o próximo ano montam as coordenações e começam a trabalhar para a festa seguinte. Além do Pároco Padre Luiz e do Vigário Padre Milton, mais de uma centena de pessoas se desdobram para realizar os festejos em devoção ao Espírito Santo, com o mesmo denodo dos que passaram.

Mas não pensem os leitores que Paraty se devota apenas ao Espírito Santo. Em setembro próximo uma nova novena será realizada em louvor à Padroeira Nossa Senhora dos Remédios. Pensam que basta? Estão enganados, pois ainda são realizadas as festas de Santa Rita de Cássia, São Benedito, e dezenas de outras nas igrejas e capelas por todo o município.

Mas se você ainda pretende acompanhar uma brilhante e piedosa procissão, recomendo que vá a Paraty durante a Semana Santa e participe da Via Sacra, a Procissão do Encontro, o canto da Verônica, dentre outros ofícios. Todos esses eventos realizados nas ruas da cidade, calçadas com pedras brutas e irregulares, aumentando o sacrifício. Então, quem sabe, poderão ajudar a aliviar os nossos pecados.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.