Julio Gomes recupera memórias afetivas nas vozes de Moraes, Gal e Erasmo
Tempo de leitura: 3 minutos

 

“Perder cantores que ouvíamos quando éramos bem jovens – e que eram ídolos de nossos pais – é como perder um pouco mais e novamente aqueles que nos criaram”.

 

Julio Gomes

Primeiro foi Moraes Moreira. Senti o golpe ao saber que aquele que cantava Pombo Correio e que sacudia a praça, seja a Castro Alves, em Salvador, ou qualquer outra pelo Brasil afora, quando embalava Tem que dançar a dança / Balança o chão da praça, ao som de quem tanto dancei e pulei carnaval, havia partido repentinamente após um infarto. Doeu, deixou um sabor de nunca mais misturado com muitas saudades.

Há bem pouco tempo, outra perda significativa: aquela Gal que docemente cantava Baby, eu sei que é assim e que eletrizava dizendo que é preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte também se foi muito de repente, sem aviso prévio e sem adeus, fazendo ecoar por dias seguidos em minha mente as músicas que ouvia minha mãe colocar na vitrola no tempo em que eu ainda era criança.

Perder cantores que ouvíamos quando éramos bem jovens – e que eram ídolos de nossos pais – é como perder um pouco mais e novamente aqueles que nos criaram, pais e mães que, com seu amor e seus defeitos, nos formaram como seres humanos que somos.

Agora, ainda não refeitos da ida de Gal, recebemos a notícia da partida de Erasmo Carlos, sempre mais ousado do que seu parceiro Roberto Carlos, que fez mais sucesso e vendeu mais discos, mas não tinha o charme rebelde do Tremendão, apelido de Erasmo, que tão bem encarnava a Jovem Guarda e o espírito inovador e inquieto dos anos de 1960.

Perder pessoas que nos anos 60 tinham em torno de 20 anos e que, naquela época, mudaram o mundo com a força de sua juventude e rebeldia é, sem dúvida, um duro golpe para nós que crescemos escutando suas músicas, namorando apaixonadamente ao som de seus acordes, que dançamos os seus ritmos e que sonhávamos acordados com as letras das músicas que falavam de um mundo novo, ressignificado e em busca de paz e amor, como se as revoluções e o movimento Hippie nunca mais fossem acabar, como se a nossa juventude também pudesse ser eterna.

Erasmo, Gal e Moraes Moreira se juntaram àqueles da sua geração que partiram precocemente, como Gonzaguinha e Elis Regina, e nos deixaram com esse sentimento de estarmos órfãos, de perder as referências sentimentais e culturais que nos fizeram ser quem somos, pensar como pensamos, gostar do que gostamos.

Fica a vontade de ouvir novamente suas maravilhosas canções, originais como o mundo que desejavam criar, como os sonhos que ousaram viver.

Eles se foram, mas cumpriram sua missão: enfrentaram a caretice, a repressão sexual, as ditaduras, criticaram a Guerra do Vietnã e todas as outras guerras, ousaram se vestir de forma colorida e diferente, usar cabelos longos e desprezar a sociedade de consumo que trata o dinheiro e o mercado como se fossem deuses absolutos.

Acima de tudo, penso que a geração dos jovens nos anos 60 – a geração de meus pais – tentou aprender a amar e a viver ardentemente, errando e acertando, quebrando a cara e recomeçando, criando novos estilos musicais e novas formas de convivência entre as pessoas, acreditando que toda a forma de amor vale a pena.

Que todos nós possamos ser um pouco como eles, sobretudo em seus acertos, para sermos mais ousados, mais inovadores e amarmos ainda mais intensamente do que eles conseguiram amar.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz).

Chuva alaga acampamento de golpistas em Brasília
Tempo de leitura: 3 minutos

“Tudo tem limites, chega de tentar incendiar o país, chega de maluquices!”

Julio Gomes

Estamos quase no final do mês de novembro, passaram-se mais de vinte dias da realização do segundo turno das eleições que definiram quem foi eleito para presidente da República e para governador nos estados onde houve segundo turno para este cargo, como ocorreu aqui na Bahia. Mas, alguns brasileiros ainda insistem em ocupar a frente dos quartéis e bloquear estradas no que chamam de protesto contra o resultado das eleições presidenciais, já que nenhum outro resultado desta mesma eleição (para governadores, senadores ou deputados) é questionado.

Estes brasileiros pedem aquilo que denominam “intervenção federal” para que, usando a força militar, impeça-se a posse do presidente eleito.

É preciso pensar no que isso significa, para entendermos quão perigosa é esta situação.

Primeiramente, é preciso deixar claro que o que pedem é, na prática, um golpe militar, já que seria a tomada do poder à força de armas. E isso é uma violência inaceitável contra o Regime Democrático, contra as leis e contra a vontade da maioria do povo brasileiro expressa nas urnas.

Caso o que desejam viesse a acontecer, o Brasil estaria reduzido ao tamanho de países sem nenhuma expressão ou importância no cenário internacional, em que um ditador qualquer manda com poderes ilimitados como se fosse um rei dos tempos mais antigos.

Não! O Brasil, quinto maior país do mundo em extensão territorial e em população, sendo por isso mesmo um dos países mais importantes, não pode se posicionar desta forma diante da humanidade nem passar a isolar-se no cenário internacional.

Caso aquilo que chamam de “intervenção federal” ocorresse, teríamos aqui um governo ilegítimo e sem base legal nenhuma, visto que não foi eleito, e com todos os requisitos para tornar-se uma ditadura, onde prisões ilegais, “desaparecimentos”, censura, tortura, assassinatos políticos e outras práticas ilegais e medievais do mesmo gênero predominam. Aliás, talvez seja isso mesmo o que querem muitos desses manifestantes.

Além disso, aberto este precedente de não aceitação do resultado das eleições por força das armas, a partir de agora todas as votações futuras estariam sujeitas ao mesmo mecanismo de só serem consideradas válidas após o “permita-se” dos armamentos.

Por fim, como também há a possibilidade de, após uma eventual “intervenção militar”, uma parte dos brasileiros não aceitar e reagir de forma armada, poderíamos ter uma guerra civil em nosso país, um banho de sangue com brasileiros contra brasileiros, pais contra filhos, irmãos contra irmãos a trocar tiros e gerar mortes o que, aliás, é o que desejam alguns que tantas armas e munições compraram justamente para isso.

Nós, brasileiros, em nossa imensa maioria, queremos paz e democracia, queremos legalidade e prosseguimento normal de nossas vidas, trabalhando, estudando, ficando com a família e amigos, vivendo como cidadãos normais em um país onde prevalecem a lei e o respeito ao próximo, mesmo com todas as dificuldades que sempre fizeram parte de nossas vidas.

Simples assim: quem ficou insatisfeito com o resultado das eleições que dispute a próxima, daqui a quatro anos, como ocorre em qualquer país democrático.

Tudo tem limites, chega de tentar incendiar o país, chega de maluquices!

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Em pé: Patuca, Vilson, Paim, Dal (Tarzan) João Bocar e Vitor Baú; agachados: Jonga, Pedrinha, Pintadinho, Afrânio e Esquerdinha
Tempo de leitura: 4 minutos

“Soube parar o futebol quando as pernas e o fôlego já não conseguiam ter o mesmo rendimento de antes. Parou na hora exata, para que os amigos e torcedores lembrassem dele como o excepcional e implacável atacante”.

Walmir Rosário

Concordo plenamente com os que defendem a tese de que há muita proximidade entre o futebol e outras artes, a exemplo da música. Certifico e dou fé – se é que assim posso proceder – que muitos dos meus conhecidos fazem dessas artes “gato e sapato”, com a maior intimidade. E para provar, apresento aqui Zé Pintadinho, Pintadinho Alfaiate ou simplesmente Pintadinho, como exemplo.

Habilidade na música e no futebol não lhe faltava. Para ele, tanto fazia jogar na ponta-esquerda, ponta-direita ou como centroavante. O que importava mesmo era fazer gols para seu time ganhar o jogo. E tudo isso pode ser comprovado por quem o viu jogar ou pelos livros de registro da Liga Desportiva de Itabuna (Lida), onde está tudo anotado para dar conhecimento à posteridade.

Na música não era diferente. Era considerado o homem dos sete instrumentos: cantava, tocava surdo, pandeiro, reco-reco, e agogô e ainda fez incursões por alguns instrumentos de sopro, principalmente o trombone, que o considerava um dos mais sublimes da música e que fazia tocar a alma das pessoas. Deixou o instrumento aconselhado pelo maestro, que o avisou dos riscos de ficar com a “papada” grande. E ele obedeceu.

Zé Pintadinho já fez de tudo em Itabuna assim que chegou de Sergipe, em 1944, aos 16 anos de idade. Trabalhou em sorveteria, feira livre, enveredou pela música, onde se sentia bem, e pelo futebol. Porém, aconselhados pelos amigos mais velhos, buscou aprender um ofício mais seguro, como o de alfaiate, profissão que exerceu até o final de sua vida, e que lhe proporcionou criar uma numerosa família.

Pintadinho jogou futebol em Itabuna em apenas duas equipes: o Botafogo do bairro da Conceição e no Bahia de Álvaro Barbeiro, o esquadrão de aço do sul da Bahia. Pelo Botafogo, atuou nas célebres partidas contra o Brasil de Buerarema e o Bahia de Itajuípe, ganhando as duas. Esta última para decidir uma aposta firmada por Sílvio Sepúlveda – jogador e cartola do Botafogo – e Oswaldo Gigante, do Bahia.

Outras partidas memoráveis jogadas por Pintadinho – já no Bahia – tiveram como palco Belmonte, na festa para comemorar o aniversário da cidade. No sábado, venceu por 3X2 e no domingo 2X1. Àquela época, diante da dificuldade de viajar pelas estradas ruins, embarcaram num avião em Itabuna e fizeram valer a supremacia do futebol itabunense, para o desgosto dos belmontenses, que não aceitavam fácil as derrotas.

Na década de 1950 sete times disputavam o campeonato amador de Itabuna – Corinthians, Grêmio, Janízaros, Flamengo, Fluminense, Itabuna e Botafogo – numa disputa ferrenha pelo título. Jogador que decidia partidas com os inúmeros gols que marcava, Pintadinho jogava cadenciado, com estilo, embora soubesse impor seu ritmo de jogo para não ser incomodado pelos zagueiros adversários.

Com toda essa habilidade e determinação, em campo atuava com humildade e sabia respeitar os adversários para também ser respeitado, gostava de dizer Pintadinho, para não ser visto como um jogador boçal. Além do respeito em campo, Pintadinho era uma pessoa muito querida na sociedade, além de ser um profissional da alfaiataria de conceito, haja vista as encomendas que recebia.

Soube parar o futebol quando as pernas e o fôlego já não conseguiam ter o mesmo rendimento de antes. Parou na hora exata, para que os amigos e torcedores lembrassem dele como o excepcional e implacável atacante. Se deixou de entrar em campo, fora dele continuou torcendo para o magnífico futebol de Itabuna, levando seus filhos ao campo da Desportiva nas tardes de domingo.

Fora de campo, continuou fiel à máquina de costura, sua inseparável companheira de anos a fio na antessala de sua residência, onde recebia clientes e amigos para desempenhar seu trabalho, ou simplesmente ter uma boa prosa. E ali conversava sobre tudo, principalmente seus feitos no futebol e na música, atividade que continuou a exercer até os últimos dias de sua vida.

Na música, além de cantor, ensinava os colegas a cantar, principalmente boleros e sambas. Com sua charanga, animava os comícios de seus candidatos ou eventos políticos de prefeitos nas inaugurações de obras em toda a cidade. Nos domingos, participava dos programas de auditório ou externos, realizados nos bairros da cidade pelos radialistas Titio Brandão e Germano da Silva.

O Carnaval era seu forte e desfilava nas baterias de blocos e escolas de samba de Itabuna. Cantou e tocou nas escolas Império Serrano, Salgueiro e Nova Mangueira, esta fazendo parte da diretoria. Perto de completar os 80 anos, Pintadinho surgia garbosamente na bateria do Bloco Casados I…Responsáveis, no qual participou ativamente desde a sua fundação. Homem de variados instrumentos, Pintadinho recebeu certificado da Sociedade Montepio dos Artistas de Itabuna como percussionista pelos instrumentos que tocava.

Mesmo após ter sofrido duas cirurgias: próstata e hérnia, Pintadinho continuou trabalhando como alfaiate, já não mais com as encomendas de ternos, calças e camisas, mas sobretudo de consertos, com a mesma dedicação. Pintadinho não abria mão de, no fim do dia, descer até a praça dos Capuchinhos para comprar os pães e trocar uns leros com os amigos.

José Pintadinho, ou José Alves da Silva, nos deixou num sábado, 13 de agosto de 2011, aos 83 anos.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Antônio Lopes e algumas de suas obras || Fotomontagem Walmir Rosário
Tempo de leitura: 4 minutos

 

Procurou se livrar dele, afinal estava em Paris, o melhor lugar do mundo, depois de Buerarema. Na manhã seguinte, ao dar pela falta do cartão de crédito, percebeu ter sido vítima de um legítimo vigarista parisiense. Fazer o quê?

 

Walmir Rosário 

O prezado e estimado leitor conhece Buerarema desde quando? Se a resposta do distinto for de uns tempos pra cá, passo a ter dó e piedade dele, pois na verdade, pouco ou quase nada viu do seu povo e de sua história. E bote História (com H maiúsculo) nisso, daquelas de cair o queixo, acontecidas desde o tempo que a aconchegante Macuco (seu nome enquanto distrito de Itabuna) reunia os melhores personagens num só local.

Pois fiquem os senhores sabendo que aquele pedacinho de terra cercada de matas e cacaueiros por todos os lados, entrecortados por pequenos riachos e rios caudalosos em busca da praia de Ilhéus têm muito a ser contado. Ponha sua cabeça pra pensar naquele amontoado de gente, vinda de todos os cantos do mundo, e que acabou formando um arruamento, vila e depois cidade, com essa gente mandando neles mesmos.

Estás curioso! Pois não perdes por esperar! Basta sentar com uns cinco livros de autoria do professor, jornalista e escritor Antônio Lopes, um pernambucano que se fez macuquense e bueraremense por obra e graça de sua mais legítima vontade. Pense numa viagem (há quem chame de imersão) voltando no tempo e conhecendo histórias, estórias e causas cometidos pelos seus personagens, inclusive o próprio.

Mas agora vamos nos ater aos dois últimos livros publicados, do contrário vamos perder muito tempo nessa leitura e passar dos “entretantos aos finalmentes”. Em “A Bela Assustada”, uma antologia pessoal, alguns textos inéditos, Antônio Lopes não se conteve e apresenta Manuel Vitorino, Zé Mijão, Mundinho Cangalha, João Baié, Léo Briglia, Dr. Elias, o padre Granja, o pastor Freitas, Manuel Lins, Clarindo Corno Preto, Zeca de Agripino, Vilson Cordier e muitos outros brilhantes personagens.

E o menino trazido de Triunfo, no Pernambuco, pelo seu irmão mais velho, João Lopes, estudou o primário e o ginásio, fez jornalismo estudantil e formou seu caráter em Buerarema. Mais tarde, foi estudar em Ilhéus, trabalhar em Itabuna, até chegar a São Paulo escrevendo para a Última Hora, do lendário Samuel Wainer. Foi seguir o caminho e aportou na Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras da Bahia.

Não sei se essas incursões mundo afora fixaram na memória do autor os causos vividos em tempos idos. O que sei mesmo é que são contados com simplicidade e o humor daquela gente e daquela época. Quem melhor narraria – a posteriori – um jogo do Brasil Esporte Clube, o BEC, do que o sapateiro Zé Vitorino? Que os senhores saibam o delírio da plateia com seus lances, tornando Galvão Bueno um simples fichinha. E nem tínhamos TV.

A Buerarema dos cines Cabral e Maracanã, à época em que não sofriam a concorrência das redes de televisão e era ponto de fixo para a troca de gibis e o encontro de namorados trocarem juras de amor, enquanto bandidos e mocinhos de digladiavam na tela. Uma boa pedida são os banhos no Poço da Pedra, onde o autor aprendeu a nadar, boiar e distribuir cangapés e quase se afogar.

Da minha lembrança não sai o causo de Agripino Vieira, fazendeiro de 15 mil arrobas de cacau, cliente assíduo do Bar Pingo de Ouro, que deu um drible no médico Dr. Elias, após o conhecido esculápio proibir suas incursões aos bares. Sem qualquer peso na consciência chegou na Farmácia Maria e decretou ao balconista Afonso que lhe desse o um vidro de Biotônico Fontoura, o maior que tivesse na referida botica.

Em A Vida Refletida, Antônio Lopes conta que na sua adolescência quem não tinha habilidade para coisa nenhuma ia para a Marinha. Mas ele quis fazer diferente, por não levar jeito. Não estudou medicina, engenharia ou direito, mas trabalhou em rádio, televisão, assessoria, escritório, deu aulas, vendeu remédios. Profissões essas que lhe garantiram o uísque de cada dia. E as histórias, acrescento eu.

Em Um Tabaréu em Paris (pgs. 101/103), o autor conta que se encontrava na cidade luz quando um cara branco, vestido à classe média, lhe dá um encontrão. Desculpou-se (todo cheio de “pardon”, monsiseur), e continuou puxando conversa. Procurou se livrar dele, afinal estava em Paris, o melhor lugar do mundo, depois de Buerarema. Na manhã seguinte, ao dar pela falta do cartão de crédito, percebeu ter sido vítima de um legítimo vigarista parisiense. Fazer o quê?

Sobre o livro de Lopes, Joaci Góes escreveu: “Antônio Lopes é um autodidata que atingiu elevado patamar como humanista, polindo seu crescimento com as aulas que deu de português, matemática, história e redação, sem falar em suas experiências como animador de comícios e redator de discursos políticos, de festas carnavalescas, comentarista de futebol, vendedor, gestor de recursos humanos, fez tudo isso para sobreviver e ter as condições mínimas de se dedicar à leitura dos grandes autores, na geografia do tempo, experiências que contribuíram para torná-lo um dos mais refinados escritores brasileiros da atualidade”.

E prossegue Joaci…“Provavelmente, se Antônio Lopes tivesse produzido sua surpreendente obra de Paris, Londres, Roma ou New York, não faltasse quem dissesse que só a partir de domicílios tão cosmopolitas seria possível produzir literatura de conteúdo e forma tão marcadamente universais”.

A vida refletida/Antônio Lopes – Ilhéus, Ba: Editus, 2019.

A bela assustada : antologia pessoal + inéditos/ Antônio Lopes. – Itabuna, BA : A5 Editora, 2021.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Em artigo, Jerônimo Rodrigues conclama população baiana a superar desavenças
Tempo de leitura: 2 minutos

A nenhum baiano pode interessar uma Bahia repartida. A Bahia é plural, miscigenada, acolhe a todos para além das raças ou credos.

Jerônimo Rodrigues

Passado o período das disputas eleitorais, desmontamos os palanques e arregaçamos as mangas para acelerar o processo de crescimento e desenvolvimento econômico e social da Bahia. Convido as baianas e os baianos a participarem desde esforço.

A escolha pela maioria da população do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para governar o País pelos próximos quatro anos, bem como dos governadores e parlamentares, abre um novo capítulo da democracia e da unidade do Brasil em torno de temas estratégicos.

Temos muitos desafios pela frente. A comida deve ser acessível à população, não podemos admitir que 33 milhões de brasileiros permaneçam em estado de insegurança alimentar; é inaceitável que o número de desempregados fique em dois dígitos; não há como conviver com as altas constantes nos preços dos combustíveis, preocupando os setores produtivos e os consumidores ou com o cruel endividamento das famílias.

O regime democrático exige dos governantes muita disposição para o trabalho em benefício do povo. E entre a população deve haver constantemente a busca pelo entendimento. Posicionamentos divergentes estimulam a democracia, mas não devem ser obstáculos para o diálogo.

A nenhum baiano pode interessar uma Bahia repartida. A Bahia é plural, miscigenada, acolhe a todos para além das raças ou credos.

Vamos avançar na saúde, na educação, na geração de emprego e renda, na infraestrutura, na construção e requalificação de estradas, na segurança pública, na mobilidade urbana, na assistência aos mais necessitados, na criação de oportunidades para todos, no apoio às atividades agropecuárias, na agricultura familiar, no turismo, na inclusão e igualdade social, na produção de energias limpas, na sustentabilidade, na tecnologia, na cultura, no esporte, no lazer.

Meu compromisso é dar a mesma atenção aos 15 milhões de baianos nos 417 municípios, na cidade e na zona rural.

Serei o governador de todas e de todos.

Jerônimo Rodrigues é governador eleito da Bahia.

Em Ilhéus, grupo de extrema-direita pede intervenção militar || Redes Sociais/Reprodução
Tempo de leitura: 2 minutos

 

O momento da disputa, com o calor que lhe é natural, já passou. Agora é preciso retirar os adesivos dos carros e das casas e prosseguir.

 

Julio Gomes

Sábado, 29/10/2022. Flamengo e Athletico-PR se enfrentam em Guayaquil, no Equador, para decidir quem seria o campeão da Copa Libertadores da América. Com um único gol, marcado aos 48 minutos do 1º tempo, o Flamengo decidiu o jogo e sagrou-se campeão.

Domingo, 30/10/2022. Lula e Bolsonaro disputam, no Brasil, quem seria o Presidente da República nos próximos 4 anos. Com 50,9% dos votos e pouco mais de 2 milhões de votos de vantagem, Lula ganha as eleições.

Os exemplos acima são muito significativos para mostrar o quanto é descabido o questionamento quanto ao resultado final dos embates, sobretudo quando eles se dão dentro de regras claras, devidamente pré-estabelecidas e com contendores plenamente cientes de que apenas um poderia ser o ganhador.

É natural que, ao final de disputas acirradas, haja comemorações públicas nas ruas, como fizeram torcedores no sábado e eleitores no domingo. Também é natural que um sentimento mais acentuado de frustração ou mesmo de tristeza se apodere, nos momentos imediatamente seguintes ao resultado, das pessoas emocionalmente envolvidas.

Porém, o que não é natural é que se questione o resultado estabelecido, e menos ainda que se apele para uma terceira força, inteiramente estranha à disputa em questão, para tentar alterar o resultado final.

O fechamento de rodovias, com vistas a provocar transtornos de toda ordem e desabastecimento, com suas graves consequências, passa dos limites do choro natural e humanamente aceitável de quem perdeu. E muito pior são as manifestações em frente a unidades militares, incitando-as a meter os pés pelas mãos e fazerem a grossa besteira que seria intervir no resultado de uma eleição que se deu, em última análise, na conformidade com as previsões constitucionais.

A vida precisa seguir em frente.

Há quatro anos, também em uma eleição presidencial, o candidato derrotado em 2022 ganhou e teve seus quatro anos de governo. É justo, natural e necessário, para o bem do país e de todos, que o ganhador das eleições realizadas em 30/10/2022 tome posse no cargo para o qual concorreu e governe pelo período legalmente previsto.

Como ocorre em todas as eleições disputadas no Brasil nos últimos 60 anos, quem ganhou deve assumir e governar, garantindo-se a quem perdeu o direito democrático de constituir-se como oposição política, sempre dentro dos marcos e limites da lei.

Precisamos trabalhar, estudar, cumprir nossos deveres cotidianos e trazer para casa o pão de cada dia. O momento da disputa, com o calor que lhe é natural, já passou e agora é preciso retirar os adesivos dos carros e das casas e prosseguir, retirando também do coração eventuais ressentimentos que nada trarão de positivo.

Vamos seguir em frente com o resultado democraticamente estabelecido nas urnas, para o bem do Brasil, de todos e de cada um de nós.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

Rosivaldo diz que município poderá solicitar conferência, caso seja confirmada a redução populacional
Tempo de leitura: 3 minutos

 

Aos líderes do estado e dos municípios de Itabuna e Ilhéus estarão os extratos dos resultados e também as respostas que terão que apresentar, cada um, conforme o peso e os objetivos que o presente apresentou e também o que esperarão para o futuro.

 

Rosivaldo Pinheiro || rpmvida@yahoo.com.br

O segundo turno das eleições se findou, mas os ciclos não se encerram com ele. Vamos precisar de um pouco mais de tempo para seguirmos com menos tensões em nível Brasil. Na disputa nacional, o comportamento do presidente Bolsonaro deixa mais um ar de negacionismo e caos, que, aliás, foi uma das marcas indeléveis do seu minúsculo governo.

Na disputa eleitoral baiana, a postura de ACM Neto no discurso de reconhecimento da vitória de Jerônimo Rodrigues demonstrou maturidade política e espírito democrático, e sinalizou a linha que ele adotará para se manter vivo até a próxima disputa. Fará uma permanente vigília ao novo governo.

Nesse aspecto, faz-se necessário ao PT e aos partidos aliados no estado se debruçarem nas análises dos resultados, especialmente nas maiores cidades e também nos pontos onde o ciclo de 16 anos de gestão permitiu mais ataques do adversário. Avaliar, inclusive, o porquê da queda de desempenho nas cidades mais populosas.

Será que a melhor condição de renda nessas localidades refletiu um alinhamento da disputa com o plano nacional? E Neto se beneficiou? Ou, qual o verdadeiro fator que provocou esse comportamento do eleitorado dessas cidades? Os menores municípios se sentiram em grande maioria incluídos no ciclo da atual gestão estadual e demonstraram alinhamento e conexão com Lula e Jerônimo. Parece ter havido uma nacionalização do pleito. Consequentemente, um reflexo direto nos números da disputa avaliando de forma direta: cidades maiores e menores.

Em relação aos números, precisamos fazer uma análise mais apurada nos resultados de Itabuna e Ilhéus, cidades que estão no prisma do estado com vultosos investimentos. Ilhéus já em plena fase de colheita, e Itabuna ainda na fase de plantio. Os gestores desses municípios também vivem diferentes tempos de gestão: um faltando dois anos para encerrar o ciclo do segundo mandato, enquanto o outro está completando os dois anos do início da sua primeira gestão à frente do município. Por essas particularidades, a análise que Augusto Castro precisará fazer é de maior profundidade.

A grosso modo, diria que para Marão resta tocar a máquina mantendo o trivial e arregimentando forças para projeção de alguém seu, politicamente falando, e o fortalecendo para ser apresentado como mantenedor do grupo à frente de Ilhéus. Augusto precisará de resiliência, sabedoria emocional, visão estratégica, fortalecimento do tecido político e outros ajustes, conforme a sua análise e visão direcionarem: fazer uma leitura externa e outra interna dos resultados das urnas.

O pós-eleição é sempre um momento especial para autoanálise e para simular cenários, além, claro, de analisar as áreas e estratégias que, por incompreensões ou não incorporação das diretrizes política e de gestão, apresentaram respostas abaixo das esperadas, e tomar as devidas e necessárias providências. Aos líderes do estado e dos municípios de Itabuna e Ilhéus estarão os extratos dos resultados e também as respostas que terão que apresentar, cada um, conforme o peso e os objetivos que o presente apresentou e também o que esperarão para o futuro.

O que esses líderes não podem é deixar que a oposição e os opositores ditem os seus passos e sedimentem no imaginário popular das duas cidades que saíram enfraquecidos da eleição. Do contrário, a corrida para “apagar incêndios” fará parte do dia a dia e o planejamento se perde, dando lugar ao improviso e permitindo o crescimento dos oponentes. É importante realizar ajustes, mas não perder de vista que houve vitória do campo político ao qual eles estão alinhados, tanto no estado quanto em nível federal.

Esse diferencial só Augusto e Marão podem lançar mão, fortalecendo e sendo fortalecidos para mudar as preferências dos eleitores locais em relação ao governo do estado e, consequentemente, para as suas próprias gestões. O mapa eleitoral está posto e exposto. Agora, restam as leituras dos resultados e as interpretações. A democracia se fortalece por esse caminho e por encaminhamentos a cada ciclo de disputa.

Rosivaldo Pinheiro é comunicador, economista e especialista em Planejamento de Cidades (Uesc).

Tempo de leitura: 2 minutos

 

Sem sombra de dúvidas, o instituto da usucapião extrajudicial, juntamente com a regulamentação 65 do CNJ de 2017, forma um conjunto eficaz e de resposta rápida aos requerentes que buscam a regularização da propriedade

 

Abraão José Ribeiro Filho | abrahao@harrisonleite.com

Antes da entrada em vigor da lei 13.105/2015, o único meio de reconhecimento  da usucapião era o judicial, pois, via de regra, a propriedade era transmitida pela morte ou pela inscrição do título no registro de imóveis e, nesse aspecto, a usucapião era um dos procedimentos judicias mais complexos e morosos existentes.

A Lei 13.105/2015 trouxe um arcabouço jurídico sobre o tema. A nova estrutura  introduziu o instituto da usucapião extrajudicial, também conhecido como usucapião administrativa, prevista no Artigo 1071, e, de igual maneira, com a inserção do Art. 216-A, na Lei 6.015/73, que dispõe sobre os registros públicos.

A fim de uniformizar o procedimento, tornando-o eficaz e célere, o Conselho Nacional de Justiça regulamentou o provimento n° 65 de 2017, buscando dar segurança jurídica aos diversos processos.

O objetivo do legislador ao criar tal instituto foi promover a desjudicialização, de modo a desafogar o Poder Judiciário de inúmeras demandas usucapiendas morosas, que além de tumultuar a esfera judiciária, despendia um enorme custo, o que demonstra a utilidade do instituto e suas projeções benéficas a longo prazo.

Sem sombra de dúvidas, o instituto da usucapião extrajudicial, juntamente com a regulamentação 65 do CNJ de 2017, forma um conjunto eficaz e de resposta rápida aos requerentes que buscam a regularização da propriedade, dado que seus requisitos são menos burocráticos, sendo os principais: a posse mansa e pacífica, posse contínua e duradoura, posse de boa-fé e com justo título e a posse com intenção de dono, salientando que este procedimento oferta ao requerente como vantagem principal a rapidez na resolução do processo de regularização da propriedade, o que incentiva a desjudicialização e a resolução alternativa dos conflitos sociais, beneficiando não apenas os interessados, mas o próprio Poder Judiciário e a sociedade.

Abrahão José Ribeiro Filho é advogado atuante nos ramos do direito imobiliário, previdenciário e do consumidor.

Rosivaldo diz que município poderá solicitar conferência, caso seja confirmada a redução populacional
Tempo de leitura: 2 minutos

 

O debate não é partidário, mas de pedaços esquecidos do país que precisam ser aproximados e inseridos no cotidiano das ações governamentais.

 

Rosivaldo Pinheiro || rpmvida@yahoo.com.br

Durante essa disputa eleitoral, fiquei sem tempo de vir aqui nesse espaço para socializar com aqueles que gostam dos meus posicionamentos e visão de mundo em relação ao momento de cidadania que estamos vivenciando. Hoje, ao levantar, optei por, ao invés do café, fazer esse texto.

Estamos num país onde um pão comum e uma fatia de queijo, acompanhado de uma xícara de café com leite, custa em média dez reais.

Como fechar os olhos para essa realidade?

Como afirmar que estamos economicamente bem?

Não quero avançar muito na análise do nosso cenário macro e microeconômico, mas apenas chamar atenção a partir do preço do cafezinho típico brasileiro para dimensionarmos o momento singular que estamos vivendo no país. Nesse cenário catastrófico se insere a realidade nua e crua de milhões de irmãs e irmãos que não têm o que comer. Segundo os números pesquisados, já passam de 30 milhões de brasileiros nessa catastrófica situação.

A esse trágico cenário se juntam os milhões de desempregados, os desalentados (grupo que não procura mais emprego), os que se aventuram nas vias e vielas dos quatro cantos deste país, tentando empreender na informalidade ou através da precarização da relação capital-trabalho, levando com muito suor um pouco de dinheiro para tocar o seu sustento. Esse universo composto por desalentados, informais não aparece no dado do desemprego.

Só para lembrar: perdemos muitos direitos com a reforma trabalhista, e o cenário que está em curso no governo atual, através do ministério comandado por Paulo Guedes, é de aumento da precarização da relação capital-trabalho ao acolher solicitação de um grupo de empresários ligado ao pensamento liberal. Além desse mal, o reajuste do salário mínimo não tem incorporado a inflação e tem perdido poder de compra.

É nesse país de retalhos – e de retaliação – que se concentra o grande debate nessas eleições: dois projetos antagônicos, um versa pela via do estado liberal e a serviço dos mais ricos, o outro, segue na perspectiva de reconstrução do estado desenvolvimentista, onde as políticas públicas se assentam num estado indutor do desenvolvimento e na atenção aos mais vulneráveis. O debate não é partidário, mas de pedaços esquecidos do país que precisam ser aproximados e inseridos no cotidiano das ações governamentais.

A cidadania é algo sagrado. Exige também o exercício da democracia. Para tanto, exercer um bom debate de ideias se faz necessário ao fortalecimento do sistema político.

Precisamos dialogar e romper com a polarização maniqueísta do bem contra o mal. Nele, o aparecimento de uma realidade paralela ofusca a verdadeira necessidade de se aferir os modelos em curso, dificultando a compreensão por parte de parcela expressiva do eleitorado e criando muita incompreensão em relação aos projetos e programas que são defendidos pelo ex-presidente Lula e o atual, Bolsonaro.

Que a serenidade e a sanidade façam morada e possam habitar mentes e corações no próximo dia 30. Que usemos esse tempo atual de forma didática e que possamos assumir o protagonismo e voltar a colocar o país nos trilhos do desenvolvimento interno e nos grandes fóruns mundiais, adotando políticas públicas que elevem a qualidade de vida das brasileiras e dos brasileiros em todas as classes, com especial atenção aos que estão fora do orçamento atual, possibilitando o resgate do valor nação, sepultando a falta de interesse na condução da vida nacional e resgatando a cidadania.

Rosivaldo Pinheiro é comunicador, economista e especialista em Gestão de Cidades (Uesc).

Tempo de leitura: 3 minutos

 

Vale saber se o povo brasileiro terá a maturidade de tomar para si o que se vê como brinquedo, para que todos tenham o direito a participação, e, aí sim, o bem comum esteja acima de todos, inclusive da ideia de um Deus partidarista.

 

Aldineto Miranda

Na campanha eleitoral um dos candidatos utiliza o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Esta é uma sentença falaciosa e perigosa, pois tenta convencer, pela alienação, a uma ideia de totalidade. Os que não comungam com tal sentido de ordenação totalizadora, totalitária, são inimigos da pátria, de Deus e devem ser exterminados. Vide os exemplos de violência que estamos presenciando nesse processo eleitoral.

Em nome de Deus houve a inquisição, o holocausto e a caça às bruxas. Destruição e genocídio. Tais aberrações aconteceram por causa dessa ideia de totalidade. Quando se fala “Brasil acima de tudo”, de qual Brasil se está falando? Do Brasil do Norte/Nordeste? Do Sul/Sudeste? Centro-Oeste? Do Brasil que retorna ao mapa da fome, de crianças sem esperança de futuro? Ou do Brasil de uma determinada elite?

Ao defender “Brasil acima de tudo” se diz falar em nome da família, mas é preciso questionar: De qual família? Da família tradicional? E o que é a família tradicional? Seria aquele modelo estilo propaganda de margarina: pai, mãe e filhos brancos, todos sorrindo felizes perante uma sortida mesa de café da manhã? Nessa ideia de família se inclui a heterogeneidade das famílias brasileiras? De uma mãe negra que sustenta seus filhos a partir do seu trabalho, sem a parceria de um marido, e que no máximo tem um pão para dar a seus rebentos pela manhã e, por vezes, vai trabalhar com fome para alimentá-los? Se está falando da família de casais gays que optam pela adoção e constroem um lar de amor, a despeito do preconceito social? Será que está incluído aquelas e aqueles que tem como lar a rua, e sua família são os companheiros que moram nela? De que tipo de família e de Brasil se está falando? Qual Brasil está acima de tudo?

As ideias de totalidade se caracterizam por serem totalitárias, particularistas e desconsideram a alteridade. Ao enunciar “Deus acima de todos” questionamentos semelhantes podem ser feitos: Os que possuem uma outra concepção de divino? As religiões de matriz africana, por exemplo, que possuem a noção diferenciada do sagrado, em relação ao cristianismo, são contempladas nessa ideia de Deus? Sempre que se governa em nome Deus há insensatez e violência, tais aberrações não combinam com a democracia, a qual considera cidadão, não somente um grupo de pessoas abastadas, de uma religião, ou categoria familiar, mas o conjunto da população.

Por isso tal slogan transmite uma perspectiva ameaçadora para a democracia, pois suas ideias estabelecem uma totalidade em que não há espaço para diversidade. Infelizmente também transmite um pouco do que foi os 4 anos do atual governo, que se alimentou do terror e do medo constante, além de fake news, mantendo seus seguidores em um alucinatório estado de alerta. Podemos perguntar: Isso é fazer política?

Podemos definir a política como um jogo que tem regras fundamentais, sem espaço para visões de mundo totalizadoras. Ferir a democracia, fomentando o ódio às instituições, é uma forma de não aceitar as regras do jogo. E aquele que não aceita o jogo é análogo a um menino malcriado, e cruel, que no jogo de futebol ao perceber que está perdendo segura a bola com força e diz: Ela é minha, o jogo acabou, não perco… não perco… não perco!

Só um lembrete: todo ditador é no fundo uma criança imatura, achando que o mundo está a seus pés, e que até Deus deve estar dentro da sua concepção de vida. Contra a malcriação nada melhor que adultos responsáveis, que coloquem esse menino levado em seu lugar. Vale saber se o povo brasileiro terá a maturidade de tomar para si o que se vê como brinquedo, para que todos tenham o direito a participação, e, aí sim, o bem comum esteja acima de todos, inclusive da ideia de um Deus partidarista.

Aldineto Miranda é professor de Filosofia e de Filosofia da Educação do Instituto Federal da Bahia (IFBA) e doutorando em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb).

Em artigo, Agenor Gasparetto aponta colapso da comunicação nas redes
Tempo de leitura: 5 minutos

“A Humanidade passa por épocas que tendem a um maior grau civilizatório e outras, que tendem para graus mais elevados de barbárie. Nos encontramos neste momento num desses segundos períodos”.

Agenor Gasparetto

O escritor e filólogo italiano Umberto Eco (5 de janeiro de 1932 – 19 de fevereiro de 2016), ao receber o título de Doutor Honoris Causa em Comunicação e Cultura pela Universidade de Turim, Noroeste da Itália, em 10 de junho de 2015, em seu pronunciamento, fez incisiva crítica às redes sociais enquanto disseminadoras de informação. Isto porque teriam dado voz, palavra e palco nas telas da Internet para uma “legião de imbecis” com pretensões de serem portadores da verdade. Reconheceu Umberto Eco que esses sempre existiram. Todavia, falavam “em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”.

Para o autor de O Nome da Rosa (1980) e de O Pêndulo de Foucault (1988), entre muitas outras obras literárias, “O drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”. Convém se fazer um registro aqui: as redes lucram com a multiplicação aos milhões de inverdades, meias verdades, verdades fora do lugar, um tsunami de informações replicadas, remunerando monetariamente também os seus principais porta-vozes. Esses lucros e esses ganhos são espúrios posto que resultam de atividade que semeia intolerância, ódios e preconceitos, e confunde as mentes, envenena corações e induz ao erro. O crime está gerando lucros e remunerando.

O mundo em geral e a sociedade brasileira, em particular de 2015 para hoje, 2022, pioraram muito em termos de capacidade de diálogo e de uma verdadeira comunicação. Cada vez mais, posições extremadas ganham corpo. Em razão disso, fica muito difícil discernir entre a verdade factual e a Fake News propriamente dita. A rigor, a verdade em si parece significar cada vez menos. Vale o que contribui para atingir objetivos, não importam custos e nem prejuízos. Tudo o que não estiver de acordo com a lógica de certos interesses é sumariamente negado, seja a Ciência, seja o Papa, seja o Supremo Tribunal Federal, seja o juiz, seja o professor, seja o vizinho ou até o amigo de longas datas, seja quem quer que ouse contrariar o interesse em jogo.

Daí, o mundo plano, a vacina com seus chips capazes de quaisquer desgraças que possam acometer a um vivente ou com o poder de converter vacinado em qualquer aberração da natureza e toda sorte de informações sabidamente falsas, mas deliberadamente utilizadas, porque úteis a propósitos e que podem se prestar para corroer a imagem de algum oponente que esteja no caminho, na presunção de que não advirão consequências pela sua disseminação.

Reduziu-se muito o espaço para o diálogo, para a capacidade de dialogar, de discutir, de ouvir o contraditório, de argumentar e de ponderar e, havendo argumentação e fatos, reconhecer que a razão pode não estar conosco. Pais se desentendendo com filhos, entre irmãos, entre vizinhos, entre colegas e amigos. Há uma dificuldade crescente e até incapacidade de empatia. Vive-se tempos de certezas indiscutíveis. Ai de quem ousar pensar diferente. Vive-se tempos em que até mesmo utilizar uma camisa de seu time de futebol pode implicar riscos à integridade física.

Em matéria de religião e teologia, há quem pareça saber mais que o próprio Papa sem sequer ler um único livro na área, xingando-o, contestando-o, condenando-o a rótulos com o propósito de desqualificá-lo. Em matéria de leis e de justiça, há quem pareça saber mais que os próprios integrantes do Supremo Tribunal Federal, de quaisquer integrantes de tribunais, de juízes, caso ousem contrariar interesses.

Vivemos tempos “estranhos”, como diria Marco Aurélio Mello, ex-integrante do Supremo Tribunal Federal. Tempos muito estranhos em que o respeito ao cargo e à sua liturgia se perdeu no caminhar que nos trouxe até aqui. Xingamentos de baixo calão passam à ordem do dia, numa muito estranha nova “normalidade”, sem respeito, sem consideração, sem escrúpulo. Fulano é isso ou aquilo por ouvir dizer; de tanto repetir, é qualquer coisa que se queira imputar, independentemente dos fatos, e é uma condenação inapelável – não há espaço para a dúvida, não há espaço para argumentos, não há razões, não há salvação nesse tribunal personalizado de quem se acha contrariado e já decidiu a priori a culpabilidade e clama por punição sumária. Está condenado ainda que essa condenação se aplique única e exclusivamente a quem se quer condenar, que seja seletiva. Para os demais em situações análogas, complacência ao máximo. Crime é o que o oponente faz. Quando feito por algum aliado, não se aplica o rigor, pelo contrário, se racionaliza com qualquer banalidade apenas para o silêncio não denunciar a  arbitrariedade. Complacência e autocomplacência ao extremo.

Não se trata de apenas uma questão do país. Por exemplo, entre as guerras que há pelo mundo, a da Ucrânia ganha relevo pelo potencial de implodir a atual ordem mundial, condenando o mundo a uma Terceira Guerra Mundial, desta vez nuclear, para azar da velha Europa e do Hemisfério Norte. No entanto, não há qualquer sinalização para ações diplomáticas. É como se a velha Europa tivesse perdido o bom senso, a sabedoria, as lições de sua própria história de conflitos, desgraças e tragédias, e estivesse caminhando inexoravelmente para o abismo, outra vez mais.

Não que esse fato seja realmente novo, inédito. A Humanidade passa por épocas que tendem a um maior grau civilizatório e outras, que tendem para graus mais elevados de barbárie. Nos encontramos neste momento num desses segundos períodos de tempo. Semelhante ao do presente, seguramente, parece ser o final dos anos 20 e nos anos 30 do século passado. Esse paralelo parece assustador, por se conhecer as consequências, ainda que aqueles acontecimentos ora sejam relativizados e minimizados pelo extremismo e pela desumanização crescentes. Parece inerente à natureza humana.

Thomas Morus, na obra Utopia, editada em 1516, falando dessa natureza humana, afirmou:

Os homens têm gostos diferentes; seu humor é às vezes tão desagradável, seu caráter tão difícil, seus julgamentos tão falsos que é mais sensato conformar-se e rir disso do que atormentar-se com preocupações, querendo publicar um escrito capaz apenas de servir e de agradar, quando ele será mal-recebido e lido com desagrado…. A maioria se compraz apenas com as próprias obras. Um é tão austero que não admite uma brincadeira; outro tem tão pouco espírito que não entende um gracejo. (….) Outros são tão caprichosos que, de pé, deixam de louvar o que aprovaram sentados. Outros têm seus assentos nas tavernas e, entre dois tragos, decidem do talento dos autores, pronunciando condenações peremptórias conforme seu humor, desgrenhando os escritos de um autor como para arrancar os cabelos um a um, enquanto eles próprios se acham tranquilamente ao abrigo das flechas, os bons apóstolos, de cabeça raspada como lutadores que não deixam um pêlo para o adversário pegar eles (Obra reeditada pela LP&M. Porto Alegre, 1997, páginas 11-12).

Essa transcrição de escrito de mais de 500 anos mostra que não há nada de novo. Contudo, esse mundo de mesquinhez e de miudezas que antes ficava no plano do cotidiano, dos mundos particulares, com a Internet e suas redes sociais de um lado e a ideologização e polarização de outro, ganha um insuspeito e grande palco, ganha voz, ganha plateias, nivelando pelo mínimo tudo e todos. Parece que se adota um comportamento de “massa” no sentido definido pelo escritor e professor, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Elias Canetti (Bulgária, 25 de julho de 1905 – Zurique, Suiça, 14 de agosto de 1994), em Massa e Poder (Editora UNB/Melhoramentos. São Paulo, SP, 1983). Há nesse comportamento e nessas ações extremadas, marcadas pela polarização, componentes de “massa”.

O senso comum, com seus pré-conceitos, suas crendices e seus achismos, toma o lugar da Ciência. Essa, por parecer muitas vezes se subordinar em primeiro lugar ao lucro, favorece seu questionamento, desconfiança e mesmo sua rejeição. E a autoridade, seja em que âmbito for, só o é enquanto validar e contribuir para se atingir objetivos. Sendo assim, adeus ritos e liturgias. A vulgarização e a banalização se impõem como o novo referente. O velho bom senso marca sua presença sobretudo pela sua falta. Fica cada vez mais distante, no passado, a distinção entre cultura superior e cultura popular. O senso comum vai pouco a pouco impondo a sua tirania e seu domínio, e a Internet com suas redes sociais está viabilizando esse domínio.

Agenor Gasparetto é sociólogo, professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e diretor da Sócio Estatística Pesquisa e Consultoria.

Wagner ao lado de Jerônimo, candidato ao governo da Bahia pelo PT
Tempo de leitura: 3 minutos

 

Ninguém pode desprezar a força e o trabalho do nosso grupo. Foi por isso que encerramos o primeiro turno em vantagem. Mas não vamos deixar de lado a humildade. Seguiremos na rua trabalhando, até o dia 30, para ampliar a votação de Lula no estado e consolidar a vitória de Jerônimo como governador.

 

Jaques Wagner

No último dia 2 de outubro, a Bahia virou assunto nacional quando, mais uma vez, o resultado das urnas contrariou a maioria das pesquisas divulgadas ao longo da campanha. Assim como aconteceu comigo, em 2006, e com o governador Rui Costa, em 2014, o expressivo resultado obtido por Jerônimo Rodrigues surpreendeu não só o estado, mas todo o ­País. Por pouco mais de 40 mil votos, a vitória não foi sacramentada no primeiro turno. Após a apuração, o próprio presidente Lula me telefonou para dizer que carimbei de novo o resultado. Por conta disso, muitos insistem em dizer que sou uma espécie de bruxo, por, desde o início, cravar que venceríamos esta disputa. Mas não tem nada de magia na história. O que há é a fé no trabalho que temos realizado ao longo desses anos.

Desde que anunciamos Jerônimo, tenho repetido que a nossa candidatura seria alavancada por três fortes âncoras: as realizações do PT na Bahia nos últimos 16 anos, um candidato que carrega uma história bonita e verdadeira e, claro, o ex-presidente Lula. Qualquer nome associado ao dele se torna favorito na disputa. Lula teve aqui no estado, no primeiro turno, quase 70% dos votos válidos e a maior vantagem sobre o seu adversário: 3,8 milhões de votos de frente. Sua identidade com o povo baiano é incontestável. Ele mesmo repete diversas vezes que, se tivesse nascido em outro lugar, com certeza seria na Bahia.

O povo nordestino gosta de Lula, pois ele melhorou a vida de todos. Até chegarmos ao governo, na Bahia, só existia uma universidade federal. Hoje, são seis. Além disso, mais de 30 novos institutos federais e grandes obras de infraestrutura contemplaram todas as regiões. A Bahia é o estado com maior número de unidades habitacionais construídas pelo Minha Casa Minha Vida e contou com 1,8 milhão de beneficiários do Bolsa Família. O Luz Para Todos levou energia para quase 600 mil famílias. O estado ganhou também 840 Unidades Básicas de Saúde e cerca de 700 creches.

Durante os governos do PT, os microempreendedores se qualificaram, o jovem sonhou com o Ciências Sem Fronteiras, a agricultura familiar foi incentivada, o salário mínimo teve aumento real. Nada disso aconteceu nos últimos quatro anos, com o atual presidente. As famílias querem de volta uma vida melhor. Portanto, o que há não é idolatria gratuita por Lula. O que há é um sentimento de gratidão, um reconhecimento de que Lula é o nome que representa a prosperidade.

Além de todo esse legado construído ao longo dos governos Lula e Dilma, se somam ao contexto estadual gestões que modernizaram a Bahia. No período que o grupo político adversário esteve no poder, entre 1990 e 2006, apenas um hospital foi construído no estado. Com o nosso grupo, desde 2007, já são 22 hospitais, 24 policlínicas, quase 18 mil quilômetros de estradas e mais de 4 bilhões de reais investidos na agricultura familiar.

Hoje, quem chega em Salvador, comenta que a capital se modernizou. Colocamos o metrô para andar depois de quase 14 anos parado nas mãos da prefeitura, construímos novos viadutos na Avenida Paralela, grandes avenidas como a 29 de Março, a Gal Costa e as vias Expressa e Metropolitana, além das pontes Jorge Amado, em Ilhéus, e a que liga a Barra a Xique-Xique.

Nosso grupo modernizou as relações políticas na Bahia, tanto entre os poderes Executivo e Judiciário, como entre o governo e empresários, e a relação com a imprensa. O ambiente ficou mais ameno, democrático e respeitoso. Carrego isso com imenso orgulho. Toda essa mudança de mentalidade contrasta com a postura dos nossos adversários, que hoje representam a velha política baiana querendo voltar ao poder.

Junto a todo esse legado apresentamos como candidato um professor de origem simples, filho de um vaqueiro e de uma costureira. Já trabalhou com educação, agricultura familiar, rodou todo o estado e conhece a Bahia na palma da mão. Tem capacidade. É um profissional testado na gestão pública, com quatro anos de experiência no governo federal e oito no estadual.

Ninguém pode desprezar a força e o trabalho do nosso grupo. Foi por isso que encerramos o primeiro turno em vantagem. Mas não vamos deixar de lado a humildade. Seguiremos na rua trabalhando, até o dia 30, para ampliar a votação de Lula no estado e consolidar a vitória de Jerônimo como governador.

Leia Mais

Tempo de leitura: 3 minutos

 

A fábrica de agressões e fake news contra Lula e seus aliados era esperada, pois faz parte da técnica fascista de comunicação.

 

Wenceslau Júnior

Não é nenhuma novidade que a eleição para presidente este ano seria polarizada entre Lula e Bolsonaro. A principal razão foi que as forças políticas que se apresentaram como alternativa à polarização não conseguiram viabilizar nenhum nome, embora tivessem tentado vários como Doria, Eduardo Leite, Ciro Gomes, Sergio Moro e Simone Tebet, entre outros menos expressivos.

Nesta pequena análise consideraremos dois aspectos: os dados estatísticos (números que emergiram das urnas, pesquisas de opinião) e os aspectos políticos mais relevantes, que ocorreram após o primeiro turno. Dos mais de 156 milhões de brasileiros aptos a votar no primeiro turno, 123.682.372 foram às urnas. No total, foram 118.229.719 votos válidos (95,59%), 3.487.874 de votos nulos (2,82%) e 1.964.779 votos em branco (1,59%).

O candidato Lula foi líder absoluto na Região Nordeste, obtendo percentuais expressivos dos votos válidos: Piauí – 74,08%, Bahia – 69,49%, Maranhão – 68,14%, Ceará – 65,80%, Pernambuco – 65,16%, Paraíba – 64,20%, Sergipe – 63,82%, Rio Grande do Norte – 62,98% e Alagoas – 56,3%. Para se ter uma ideia da importância da força de Lula no Nordeste, especialmente na Bahia, a diferença entre os dois nos votos nacionais foi de 6.187.159 votos a favor de Lula. Somente na Bahia, a vantagem foi de 3.825.482 votos.

Outro dado que merece atenção é que nos três únicos estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) com eleitorado maior que a Bahia, Bolsonaro vence no Rio de Janeiro e São Paulo e perde para Lula em Minas Gerais. Sendo que a vantagem nem se compara aos índices do Nordeste. A comparação percentual dos votos válidos para cada um no primeiro turno foi em São Paulo, 47,7% para Bolsonaro e 40,89% para Lula, no Rio de Janeiro, Bolsonaro conseguiu 51,09% e Lula 40,68, e em Minas Gerais, Lula obteve 48,29% contra 43,6% de Bolsonaro. Lula também alcançou melhores desempenhos nos maiores estados do Norte, perdendo espaço no Centro-Oeste, que possui baixa densidade eleitoral, e nos estados do Sul.

Outro dado importante é que os demais candidatos, além de Lula e Bolsonaro, somaram 9.756.502 votos (Tebet – 4.915.423, Ciro – 3.599.287, Soraia Tronicke – 600.955, Felipe D’Ávila – 559.708 e Kelmon – 81.129). Em uma hipótese absurda de Lula não conseguir a migração de nenhum voto dos 9.756.502 e esses votos fossem todos para Bolsonaro, ele ganharia as eleições com uma diferença de 3.569.343 votos.

Ocorre que os dois mais votados – Tebet e Ciro, que obtiveram juntos 8.514.710 votos, declararam apoio a Lula. Com isso, Bolsonaro precisaria conter o crescimento de Lula no Nordeste, virar o jogo em Minas Gerais e ampliar e muito a vantagem em São Paulo e Rio de Janeiro, além de herdar parte significativa dos votos de Tebet e Ciro. Essa conta não fecha!

Já Lula precisa apenas administrar e consolidar sua vantagem nos estados onde venceu, especialmente no Nordeste e em Minas Gerais, intensificar a campanha no Rio de Janeiro e São Paulo para impedir avanços bolsonaristas e conquistar a maioria dos eleitores que votaram em Tebet e Ciro no primeiro turno. Sem dúvida, uma tarefa factível.

Outro aspecto a ser analisado, além dos números, é o aspecto político. Nesse caso, o Bolsonaro tentou criar uma imagem de que estaria obtendo adesões a sua candidatura. Porém, todos nós sabemos que se trata de “marmita requentada”, pois a quase totalidade que foi às cerimônias de “beija mão” no Palácio do Planalto já estava com ele desde o primeiro turno. A fábrica de agressões e fake news contra Lula e seus aliados era esperada, pois faz parte da técnica fascista de comunicação. Contudo, não existe nenhum fato novo. Nenhuma mentira nova contra Lula. É tudo requentado.

Entretanto, não podemos falar o mesmo do adversário. Algumas derrapadas imperdoáveis foram: a) O ato claro de pedofilia que repercutiu internacionalmente e certamente teve repercussão eleitoral, a ponto dele fazer o que não é comum: pedir desculpas publicamente. b) O episódio relacionado ao preconceito contra o nordestino tem fortalecido ainda mais a candidatura de Lula na região, podendo interferir na votação de São Paulo, estado que possui uma enorme população nordestina. c) O confronto desnecessário com a Igreja Católica demonstrou a intolerância religiosa, o ódio e o preconceito, colocando em movimento forças políticas que não estavam se manifestando de forma mais explícita.

Para encerrar por aqui, o adversário de Lula comprou briga desnecessária com a maioria religiosa brasileira: os católicos. E com o eleitorado mais fiel a Lula: os nordestinos. O que abalou fortemente um dos “pilares” do seu discurso – a família, pois, a exceção dos fanáticos, nenhum pai ou mãe de família, especialmente, os que têm filhas adolescentes irá votar em um sexagenário, que afirmou “pintar um clima” entre ele e garotas de 14 anos de idade.

Por tal razão, concluo que a eleição está praticamente decidida a favor de Lula. O restante fica por conta da militância que sabe muito bem o que fazer até as 17 horas do dia 30 de outubro. Alguns irão me perguntar: Por que não falou das eleições entre Jerônimo e ACM Neto? Respondo que essa já nasceu morta a favor de Jerônimo desde o dia 2 de outubro.

Wenceslau Augusto dos Santos Júnior é advogado, professor de Direito da Uesc, ex-vice-prefeito e ex-vereador de Itabuna.

Tempo de leitura: 3 minutos

 

Moro na cidade de Itabuna desde 1966. Aqui constituí família, atuei na área do comércio e da educação, incentivei o esporte e fui membro ativo de várias instituições sociais e clube de serviços. Sou apaixonado pela cidade de Itabuna e pelo seu povo.

 

Nérope Martinelli || nerope.martinelli@gmail.com

Na década de noventa, Itabuna era a terceira cidade em índice populacional e de desenvolvimento na Bahia. Ficávamos apenas atrás de Salvador e Feira de Santana. Infelizmente, hoje somos a sexta cidade e logo seremos a décima. Precisamos urgente de projetos de desenvolvimento. Tivemos o êxodo rural devido à podridão parda e à vassoura-de-bruxa. Com a economia parada, estamos hoje com o êxodo urbano – Itabuna hoje é um canteiro de placas de aluga-se e vende-se.

No ano de 1915, a cidade de Enterprise, no Estado do Alabama, Estados Unidos, tinha uma economia forte, graças à monocultura do algodão. Veio a praga do Bicudo, devastando as plantações e a economia, como exatamente aconteceu na região cacaueira, com as pragas sucessivas da podridão parda e a vassoura-de-bruxa, que os fazendeiros convivem com elas até hoje, por conta do descaso dos órgãos públicos e orientação técnica equivocada das entidades responsáveis.

As lideranças políticas e empresariais de Enterprise foram em busca de novas alternativas agrícolas e industriais, conseguiram erradicar a praga e criar novas culturas agrícolas e industriais, tornando-se, assim, uma cidade pungente e próspera em apenas quatro anos. E, como resultado, em 2019 construíram um monumento ao besouro Bicudo, considerado o responsável pelo novo desenvolvimento da região.

Precisamos urgente de novas lideranças empresariais e políticas que defendam os interesses da comunidade de Itabuna nos âmbitos Municipal, Estadual e Federal.

SUGESTÕES DE “BICUDOS” PARA A REGIÃO DE ITABUNA

Agricultura Com os novos clones, a produção de cacau voltou a ser rentável. O problema é que os proprietários de terra estão descapitalizados e negativados, precisando de anistia e incentivos. Temos também a opção das áreas já desmatadas para o plantio de café, que, além de rentável, utiliza muita mão de obra, com alguns produtores regionais colhendo mais de duas mil sacas de café por safra. Pode-se também aproveitar as áreas para a pecuária de corte e leite.

Infraestrutura Duplicação urbana das BRs 101 e 415 e conclusão das três pernas que faltam do Semianel Rodoviário, abertura de novas avenidas como vetores de desenvolvimento, a exemplo das ligações da antiga estrada de Buerarema, no final do bairro São Caetano até a BR 101, e outra avenida do Hospital de Base até Ferradas, na BR-415. Todas essas opções com infraestrutura de asfalto, água e energia – possibilitando a chegada de empresários com indústrias, concessionárias de veículos, grandes redes varejistas e atacadistas etc.

Aeroporto Revitalização do Aeroporto Tertuliano Guedes de Pinho e urbanização do bairro Bananeira, com abertura do aeroporto para voos domésticos e comerciais (transporte de carga), podendo absorver passageiros de toda região cacaueira – porque todos passam por Itabuna, com exceção de Canavieiras, Una e Uruçuca.

Logística Com a chegada da Ferrovia Oeste-Leste (Fiol) e do Porto Sul –  como Itabuna é servida por duas rodovias federais, BRs 101 e 415 – temos que construir com urgência um polo de logística visando a exportação de grãos, gado, madeira, cacau, minério etc.

Zona Azul A cidade de Itabuna precisa urgente da implantação da zona azul, antes das atividades do Natal. Todas as vagas de estacionamento são ocupadas por profissionais liberais, empresários, comerciantes, comerciários, bancários, ambulantes e etc. os compradores motorizados circulam atrás de vagas para estacionar e não encontram, seguem para o Shopping (menos mal) ou voltam par a casa e compram pela internet.

Moro na cidade de Itabuna desde 1966. Aqui constituí família, atuei na área do comércio e da educação, incentivei o esporte e fui membro ativo de várias instituições sociais e clube de serviços. Sou apaixonado pela cidade de Itabuna e pelo seu povo. Precisamos com urgência do apoio da união de lideranças política e empresariais, profissionais liberais e população em geral. Essa luta é de todos empresários, profissionais liberais, trabalhadores e população em geral.

Nérope Martinelli é empresário e pensador regional.

Mauro Horta e a urna revolucionária: desafio era superar a descrença || Foto Walmir Rosário e Ilustração
Tempo de leitura: 4 minutos

 

Como se não bastassem as palavras chulas, ofensivas e obscenas, fui ameaçado de morte matada, caso não calasse a boca e parasse de injuriar os inocentes mortos, decentemente enterrados de acordo com o ritual cristão.

 

Walmir Rosário

Estávamos em setembro de 1999. À época, entre outras atividades, eu exercia o cargo de assessor de comunicação da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Itabuna, uma instituição até hoje bastante ativa no setor econômico e social. Semanalmente, publicávamos um tabloide, de nome Momento Empresarial, com 12 páginas, encartado no jornal Agora, de bastante sucesso, e volta e meia nossa matéria de capa se tornava a principal manchete do Agora.

Na semana de 11 a 17 de setembro de 1999, a bendita capa apresentava a seguinte manchete: “Urnas funerárias fabricadas em isopor”. Celeuma é pouco para o fuzuê criado na cidade. E a confusão se iniciou ainda na elaboração da matéria, o que garantia o sucesso da publicação. Eu era o editor, redator, repórter, editorialista, articulista, produtor e mais que houvesse de necessidade na produção do jornal.

Imaginem, então o sufoco que passei desde a elaboração até a circulação do Momento Empresarial. E fiz tudo dentro da conformidade dos manuais da técnica e ética do jornalismo, com todos os detalhes. Um título decente, uma reportagem que ouviu todos os principais interessados, matéria principal equilibrada, secundária com sustentação científica e destaques. O grande problema era apresentar o simples isopor para substituir as tradicionais urnas de madeira.

O assunto chegou a meu conhecimento numas das concorridas reuniões de quintas-feiras da CDL, na qual o empresário Mauro Horta apresentou a novidade que prometia transformar Itabuna na primeira sede dessa inusitada indústria. Garantiu que com a tecnologia existente, a urna (caixão) de madeira seria substituída por outra, esta produzida a partir da espuma de poliestireno, conhecido popularmente como isopor.

O empresário revelou que a urna funerária de isopor estava patenteada junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial, e prometia revolucionar o mercado de “caixões”, principalmente junto aos menos favorecidos economicamente. Porém ele alertava que seria preciso vencer o aspecto tradicional e religioso, por despertar a desconfiança das pessoas em acreditar ser o isopor frágil, que não suportaria transportar o mais simples mortal ao cemitério, o que era um engano.

E as engenhosas urnas de isopor seriam entregues, como manda a tradição de nossa última viagem num caixão funerário de madeira, acrescida dos mais diversos acessórios, a exemplo de forro de cetim branco acolchoado por dentro, cetim roxo por fora e outros motivos religiosos como a cruz. A vantagem seria o baixo custo do sepultamento, que seria reduzido dos atuais R$ 170,00 a R$ 5 mil, para módicos R$ 80,00, um alívio para os menos favorecidos economicamente.

Ainda defendia o empresário, que devido ao baixo custo, o uso inicial das urnas de isopor deverá ser mais intenso entre os indigentes e a população de baixa renda, que geralmente procura o serviço social das prefeituras para custear o enterro. O invento de Mauro Horta já tinha ganhado, segundo afirmou, o apoio do prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, e de secretários municipais. “Um caixão tem que ser simples, singelo e barato, e esse é o ideal”, defendeu com ardor.

A preservação do meio ambiente era outro carro-chefe da invenção, evitando que no processo de desencarne os líquidos contaminassem o solo e o lençol freático. Esse processo seria realizado em apenas 90 dias, ao contrário dos cinco anos de hoje. Com o aumento dos problemas urbanos, a nova urna funerária resolveria a questão do espaço nos cemitérios, que segundo os cálculos do empresário, a relação de espaço poderá ser reduzida em até 16 vezes.

E o projeto de Mauro Horta ia além da produção de urnas funerárias de isopor e pretendia colocar no mercado um serviço de seguro funerário, no qual as pessoas de baixo poder aquisitivo pagariam um valor mensal para adquirir o seu “caixão”, despreocupando a família no caso de sua morte, que não teria de arcar com despesas inesperadas. A intenção era aliar os custos à funcionalidade, no sentido de beneficiar a população.

Entretanto, para a colocar fábrica de Itabuna em funcionamento, o empresário estava em busca de recursos para implantar o projeto, que poderá gerar cerca de 400 empregos, entre a fabricação de cinco mil urnas mensais e demais tipos de embalagens que serão produzidas. E se tivesse dificuldade em implantá-la na cidade, poderia levá-la para o Rio Grande do Sul, cujo governador já teria manifestado interesse no projeto.

Para os céticos, a urna funerária de isopor seria apenas uma brincadeira ou falta de respeito às tradições e religiões. Pouco importavam que a urna fosse moldada e injetada, com três pares de alça, revestimento interno em cetim, externo em pigmento roxo e visor de acrílico ou suportasse, com segurança, 220 quilos. Daí a desconfiança dos investidores e dos demais segmentos interessados, a exemplo das funerárias e parentes dos defuntos.

O maior problema da reportagem foi tentar convencer os donos de funerárias a tecerem comentários a respeito do ambicioso projeto do empresário Mauro Horta. Por telefone, mesmo me identificando como sendo o jornalista Walmir Rosário (conhecido de sobra), assessor de comunicação da CDL de Itabuna, não consegui nenhuma palavra a respeito do tema da reportagem que elaborava.

Pelo contrário, ouvi muitos xingamentos com palavras de baixo calão, impublicáveis nesta singela e familiar crônica, para o bem e o respeito que devo aos meus queridos e respeitáveis leitores. Como se não bastassem as palavras chulas, ofensivas e obscenas, fui ameaçado de morte matada, caso não calasse a boca e parasse de injuriar os inocentes mortos, decentemente enterrados de acordo com o ritual cristão.

Assim que o jornal Agora foi publicado, com manchete do caderno Momento Empresarial, a confusão foi grande e os debates se afloraram, divergindo desde o novo padrão de sepultamento até a matéria jornalística. Confesso que me resguardei por uns dois dias e ficou nisso mesmo. O certo é que o empresário Mauro Horta não conseguiu o financiamento para o seu projeto, nem em Itabuna ou nos pampas gaúcho.

E os mortos sequer puderam inaugurar uma nova tecnologia funerária.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.