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Curar a mãe dentro de você é conciliar-se consigo mesmo. Porque, queira ou não, goste ou não, essa mãe vive em você.

 

Rava Midlej Duque || ravaduque@gmail.com

O nosso movimento na vida e para a vida está diretamente relacionado aos nossos pais. Na Psicologia Sistêmica e nas Constelações familiares gostamos de dizer: a mãe é a vida, o pai é o mundo.

Mas hoje, em específico, quero falar da mãe. Não só por ser o mês oficial de celebração às mães, mas também por ser a mãe a primeira estrutura para onde olhamos quando estamos buscando a nós mesmos. Ou pelo menos, deveria ser.

Mas agora você pode estar a perguntar, mas por que a mãe, Rava?

Eu gostaria muito de aprofundar essa explicação aqui, mas não é possível. Porque só esse assunto me rendeu um livro. Mas vou te contar algo suficiente para que gire uma chave importante em você.

A nossa mãe é a nossa grande professora. Professora do quê, Rava? Da nossa alma. É ela quem nos traz (isso acontece de forma inconsciente) os aprendizados necessários para crescermos e evoluirmos.

Tenha em mente que nossa família é um campo funcional. Cada pessoa ocupa um lugar único nesse campo e é somente quando cada um ocupa o seu lugar: sua mãe, seu pai, seus avós, os pais deles, o pai dos pais deles, e assim desde a origem, é que a vida se faz para você. Concorda comigo? Afinal você precisou de uma mãe, um pai, os seus pais precisaram dos pais deles e assim desse a primeira semente da sua árvore genealógica.

A clareza sobre o nosso lugar no mundo é estabelecida a partir da nossa relação com a nossa família, a começar da mãe e do pai. Mas como avisei lá no começo do texto, hoje vamos direcionar a nossa atenção a mãe.

A ausência da mãe (física ou emocional) na vida da pessoa pode causar feridas profundas, com cicatrizes e dores por toda uma vida. Um conflito relacionado à nossa mãe afeta a relação que temos com nós mesmos, com os outros e com o mundo, porque a mãe é a primeira relação que temos na vida e, por isso, a base de todas as outras que estabelecemos ao longo da nossa vida.

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A produção de chocolate é um dos caminhos para reposicionar o sul da Bahia no cenário nacional, quiçá, internacionalmente. Entretanto, sentimos falta de ruas e de mais lojas especializadas em chocolate em Ilhéus, por exemplo.

 

Efson Lima || efsonlima@gmail.com

A Bahia é um dos estados maiores produtores de cacau do Brasil e o escritor Jorge Amado se tornou o grande divulgador do cacau e de seus elementos socioculturais por meio da literatura no mundo ao colaborar para a temática alcançar diferentes países. É sabido também que a região de Ilhéus e os municípios adjacentes concentraram a maior produção de amêndoas de cacau do País, entretanto, o sul da Bahia plantava, colhia e exportava-as ao longo do século passado, ocupando assim a posição de grande produtora de commodity . No fim dos anos 70 do século XX, indústrias multinacionais de moagem se instalaram, especialmente, em Ilhéus, com objetivo de beneficiar o cacau, mas não produziam chocolate. Após o processamento, a produção é escoada para outros lugares.

A produção de chocolate no Litoral Sul voltada à comercialização em escala tem iniciativa com Hans Schaeppi, quando implanta em Ilhéus a primeira fábrica com esse propósito. A partir dos anos 2000, cresce um movimento em favor do cacau fino. Em Ilhéus, no ano de 2007, é realizado o primeiro festival internacional do chocolate, inclusive, colaborando para difundir conhecimentos técnicos sobre a produção de chocolates e fomentando intercâmbio entre produtores locais e internacionais. Surge assim um ambiente propicio à produção do chocolate, confirmando as perspectivas de Nelson Schaun e Eusínio Lavigne que defendiam a produção do chocolate no sul da Bahia, como estratégia para o desenvolvimento econômico e social da região. Atualmente, o Litoral Sul possui mais de 100 marcas de chocolates e o número de fábricas de chocolate é crescente no território.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com apoio da SETRE e com colaboração do Cesol Litoral Sul, realizou estudo sobre a produção de chocolate no sul da Bahia, em 2022, cuja pesquisa indicou que 80,6% dos produtores de chocolate iniciaram suas atividades entre 2011 e 2021 e segundo eles, a principal fonte de renda está associada à produção de chocolate, conforme apontou 64,5% dos entrevistados.

O estudo apresenta uma série de dados interessantes sobre esses produtores: renda, escolaridade, composição etária, gênero, renda entre outros aspectos. Não resta dúvida que a produção de chocolate aumenta o valor agregado do produto, consequentemente, o melhoramento da renda dos trabalhadores. Outro fator preponderante é a produção sustentável desse chocolate e o impacto que essa produção exerce na melhoria de vida dos produtores locais. Ademais, a produção cuidadosa e preocupada com a natureza possibilita combinações exclusivas de barras de chocolate.

Em 2023, o Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, implantou uma fábrica-escola, no campus da UESC, para a produção de chocolates, sendo a primeira no Brasil, na área da economia solidária. Os números da produção e da comercialização da Chocosol, cooperativa de produtores locais, se mostram expressivos com base nos dados fornecidos pelo Centro Público de Economia Solidária (CESOL) em seminário realizado na própria UESC.

A Chocosol merece uma análise à parte, bem como a região precisa consolidar a sua identidade para a produção de chocolate. Poucas áreas no mundo conseguem estabelecer um conjunto de fatores tão necessários à sustentabilidade do negócio: cultivo de cacau e beneficiamento, preservação da natureza, turismo e literatura e produção de chocolate. A produção de chocolate é um dos caminhos para reposicionar o sul da Bahia no cenário nacional, quiçá, internacionalmente. Entretanto, sentimos falta de ruas e de mais lojas especializadas em chocolate em Ilhéus, por exemplo. Talvez, a Rua Antônio Lavigne de Lemos em breve alcance esse lugar.

Efson Lima é doutor em Direito (UFBA), advogado e membro das academias de Letras de Ilhéus (ALI) e Grapiúna ( Agral).

Hoje, 18 de maio, é o Dia Nacional da Luta Antimanicomial
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A liberdade é a única via de cuidado que possibilita o restabelecimento da saúde biopsicossocial das pessoas em sofrimento psíquico.

Jualiana Campos e Jádira Gomes 

No dia 18 de maio de 1987, o Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental, em Bauru, deu origem ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Apesar do nome destacar os profissionais da área, foi também um encontro dos pacientes e familiares, os outros dois dos três pilares do movimento social que, em abril de 2001, resultou na Lei 10.216, de proteção dos direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, responsável pelo redirecionamento do modelo assistencial em saúde mental.

A data ressalta a importância da liberdade como forma de cuidado das pessoas em sofrimento psíquico, que marca as mobilizações em torno do fechamento de manicômios e a formalização de novas legislações, a implantação da rede de saúde mental e atenção psicossocial e da instauração de novas práticas no importante movimento de Reforma Psiquiátrica Brasileira.

O 18 de Maio também nos lembra que a luta antimanicomial é constante, pois ainda hoje existe uma correlação de forças que tenta recorrer às práticas manicomiais, ou seja, práticas que isolam, excluem, desumanizam e aprisionam as pessoas em sofrimento psíquico.

A loucura é sempre mobilizadora de afetos intensos e marcantes. Muitas vezes, diante dela, sentimos repulsa, medo e estranhamento, porém a loucura é humana e está para todos nós, em alguma medida. Não à toa tivemos, até um passado recente, séculos de manicômios que, ao invés de tratar e cuidar, segregavam e maltratavam essas pessoas e as tornavam inexistentes para boa parte da sociedade.

Hoje é notório que a liberdade é a única via de cuidado que possibilita o restabelecimento da saúde biopsicossocial das pessoas em sofrimento psíquico. É condição inegociável para o tratamento dessas pessoas. Por isso a data é tão importante e significativa na historia da luta antimanicomial, que nunca cessa e deve se manter incessante e cotidiana.

Juliana Campos Oliveira é psicóloga e psicanalista; Jádira Gomes é assistente social.

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Estamos perto das eleições municipais. Será que com o prefeito que vai chegar, ou mesmo que o atual se reeleja, ocorrerá mudança nessa mentalidade tacanha? Tomara! Ainda há tempo para amparar a nossa cultura, que é rica de conteúdo e história, e salvar o que resta. Basta boa vontade.

 

Cyro de Mattos

A quem cabe zelar pela cultura de um povo e não corresponde aos seus apelos comete omissão imperdoável. A cultura alimenta a autoestima e reforça os laços identitários de uma sociedade nas suas relações com a vida. Se a educação é o corpo da sociedade, que precisa ser bem alimentado, que dizer de sua alma, a cultura? Quem não valoriza a cultura de seu povo, contribui para que não haja resposta quando se pergunta qual é o seu nome, onde você nasceu e para onde você vai. Torna assim o ser humano um caminhante no vazio do estar para viver ou, se quiserem, cadáver ambulante que procria, como diz o poeta Fernando Pessoa.

O que vemos por aqui entristece. Ainda hoje viceja esse comportamento atávico para anular o que foi produzido para representar e permanecer como referência do nosso patrimônio cultural. O Museu da Casa Verde, por exemplo, que antes foi o espaço de convivência social da elite, com reuniões importantes de políticos, quando então eram debatidos assuntos relevantes de nossa cidade, encontra-se fechado há tempos. Seu patrimônio valioso, que muito diz sobre a história da burguesia cacaueira no tempo dos coronéis, está encoberto pelas sombras da indiferença do poder público. Assim contribui para que o visitante, o estudante e o habitante dessa terra desconheçam um capítulo importante da civilização do cacau, com seus costumes, valores, linguagens, suas relações políticas e sociais como marcas de uma maneira singular de proceder perante o mundo. Não recebe o mínimo apoio do poder público, da classe empresarial e de clube de serviço, para que se torne um espaço movimentado com vistas ao conhecimento da história coletiva municipal e regional.

O quiosque Walter Moreira, na praça Olinto Leoni, obra realizada na gestão do professor Flávio Simões, quando presidente da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania, foi demolido. Já serviu para exposições de artistas plásticos locais, comércio de artesanato, lançamento de livro e local como parte das comemorações no Dia de Cidade, com exposição de fotos históricas e dos prefeitos. Dá pena saber o destino que impuseram ao Quiosque Walter Moreira no jardim da Praça Olinto Leoni. A memória desse artista da cor, que passou uma vida retratando na tela a paisagem humana e física dessa terra, não merece essa pancada.

O Monumento da Saga Grapiúna, criado pelo artista Richard Wagner, itabunense de fama mundial, erguido nas proximidades do Supermercado Jequitibá, é uma homenagem aos elementos formadores da civilização grapiúna – o sergipano, o negro, o índio e o árabe, e não está tendo melhor destino. Monumento que remete as gerações de hoje e de amanhã à infância da civilização do cacau, em nossa cidade e na região, encontra-se também no descaso. O gradil protetor ao seu redor está danificado, lá dentro o seu interior serve de depósito de coisas imprestáveis e lixo. Não existe fiscalização nem proteção para preservar uma obra artística e cultural de valor inestimável. Árvores cresceram ao seu redor, tirando-lhe a visibilidade.

Com sua beleza rica de significados, em que se retrata a história da civilização cacaueira baiana, representada em figuras, símbolos, cenas e paisagens, o painel composto de azulejos, criado pela arte genial de Genaro de Carvalho, instalado no prédio Comendador Firmino Alves, onde funcionava o antigo Banco Econômico, entre a avenida do Cinquentenário e a praça Adami, nos idos de 1953, é indiscutivelmente um dos patrimônios artísticos de incalculável valor dessa terra onde nasceram o romancista Jorge Amado e o poeta Telmo Padilha.

Essa obra de arte magnífica esteve entregue à indiferença de autoridades, ao longo dos anos. Ficou sem alguns azulejos, na frente serviu para que camelôs fixassem seus produtos à venda no comércio informal. A FICC fez a reconstituição das avarias no painel, mas até hoje a valiosa obra de Genaro de Carvalho não teve a preservação merecida para que seu estado não volte como antes. Na frente dele, camelôs improvisam o gradil como expositor para vender seus produtos. Dentro do gradil protetor guardam a bicicleta. A poluição visual do painel às vezes prossegue com a faixa estendida de um poste a outro, na frente, para anunciar a venda de um produto novo chegado ao comércio local.

O prédio do Colégio Divina Providência e o do Cine Itabuna tomaram uma destinação comercial, nem parece que ali a vida saudável fez morada, através de gerações que aprendiam com mestres do ensino em um e se divertiam com Oscarito e Grande Otelo, o Gordo e o Magro, no outro.

Perdemos o Castelinho, o Cine Itabuna, o prédio do Ginásio Divina Providência, o casarão do coronel Henrique Alves dos Reis, o Campo da Desportiva, o Teatrinho ABC na Praça Camacã, a fachada da residência onde morou o comendador Firmino Alves e sua família na praça Olinto Leoni está desfigurada. Até quando vamos continuar maltratando a nossa memória e o nosso patrimônio arquitetônico, portador de rico simbolismo em nossa história?

E o rio Cachoeira, que tanto contribuiu para a progressão da cidade, alimentou os pobres, forneceu ganho às gentes do povo, teve peixe em abundância quando as águas eram claras? Há tempos vem chorando água, virou um esgoto a céu aberto.

Estamos perto das eleições municipais. Será que com o prefeito que vai chegar, ou mesmo que o atual se reeleja, ocorrerá mudança nessa mentalidade tacanha? Tomara! Ainda há tempo para amparar a nossa cultura, que é rica de conteúdo e história, e salvar o que resta. Basta boa vontade.

Cyro de Mattos é itabunense, autor de 67 livros editados e publicados também em vários países, premiado internacionalmente, além de ser detentor da Comenda Dois de Julho e do título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Neto Terra Branca faz defesa do forró autêntico nas festas juninas
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Os festejos de junho são para os artistas locais tocar o autentico forró em praças e com temas próprios. Estão querendo acabar com a melhor festa do ano e sua tradição. Por favor, devolvam minha festa junina.

 

Neto Terra Branca

Os gestores do Nordeste do Brasil e seus dirigentes culturais estão atuando nas últimas décadas para acabar com a maior tradição da região, o forró. Ritmo típico das festas juninas, esse tipo musical introduzido, no país, por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, vem perdendo espaço nas comemorações dos santos Antônio, João e Pedro para o modismo que nada ter a ver com os festejos juninos.

Até Caruaru, que tem a marca de ser a Capital do Forró, aderiu à contratação de artistas do axé music, arrocha, piseiro e sertanejo ou sofrência. Sem falar nas bandas do “forró elétrico”, que, segundo Dominguinhos, em relato ao extinto Domingão do Faustão, da Rede Globo, afirmou que em nada condiz com o xote, xaxado e baião, ritmos criados pelo Velho Lua, como era carinhosamente chamado o mestre Luiz Gonzaga.

Outro exemplo a ser citado é Itabuna. A Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (FICC), órgão municipal responsável por fomentar a cultura da cidade, vem anunciando a grade de atrações do Ita Pedro, a festa da cidade que comemora o São Pedro e está em sua terceira edição. Até o momento, entre os nomes apresentados, apenas o cantor Dorgival Dantas, têm canções autenticas do gênero tipicamente nordestino.

Além de Dorgival Dantas, a FICC anunciou a cantora Joelma, os cantores Batista Lima e Leo Santana e a banda Calcinha Preta. No ano passado, a Fundação contratou o cantou Wesley Safadão, por um cachê que passou da casa do R$ 1 milhão, o que gerou muita polêmica na cidade.

Outro ponto que chama a atenção são as diferenças dos custos dos cachês desses artistas em relação aos autênticos representantes do forró. Em 22 de junho do ano passado, a Folha de São Paulo, numa matéria assinada pelos jornalistas João Pedro Pitombo e José Matheus Santos, apontou a disparidade dos valores pagos aos cantores e bandas do axé, piseiro, sertanejo e arrocha em relação aos artistas locais da autêntica música junina.

Predominando a contratação por parte das prefeituras e dos governos estaduais de bandas e cantores, que não representam a tradição junina, irão desaparecer por perda de espaço nomes como Flávio José, Mestrinho, Targino Gondim, Adelmário Coelho, Trio Nordestino, Del Feliz, Santana, Cacau com Leite, Alcimar Monteiro, Flávio Leandro e tantos outros que carregam a essência da cultura nordestina.

A MPB é eclética e não se trata de bairrismo ou reserva de mercado. Porém, nunca se assistiu a um autêntico forrozeiro tocando nos Carnavais e Micaretas da vida. Muito menos se apresentando nas festas do Circuito Sertanejo, o que inclui a Festa do Peão de Barretos, a principal do circuito.

Os festejos de junho são para os artistas locais tocar o autentico forró em praças e com temas próprios. Estão querendo acabar com a melhor festa do ano e sua tradição. Por favor, devolvam minha festa junina.

Neto Terra Branca é radialista e publicitário. Também edita o portal Central de Política.

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Ao entendermos a profunda ligação entre nossas relações familiares, em especifico a relação da ‘figura’ materna com a nossa saúde alimentar e emocional, abrimos caminho para uma vida mais equilibrada e mais consciente.

 

Rava Midlej Duque || ravaduque@gmail.com

Imagine uma tapeçaria tecida com fios invisíveis, cada um representando nossas crenças, que desde a infância moldam nossas escolhas e experiências. Esses fios sutis, muitas vezes não percebidos, têm o poder de guiar nossas jornadas de forma profunda e determinante.

Na jornada da vida, algumas pessoas encontram um cenário de abundância, felicidade e crescimento contínuo, enquanto outras enfrentam desafios persistentes e dificuldades. Essa diferença muitas vezes está enraizada em suas crenças mais profundas.

Não é diferente com o seu corpo e a sua relação com a comida. No processo terapêutico, é crucial deixar de lado a mente racional e abrir um espaço disposto e disponível para acessar além do aparente. Compulsão alimentar, bulimia, alergia alimentar são transtornos que estão diretamente conectados com as relações familiares e são sintomas que dizem algo sobre como nos sentimos em relação à vida.

A forma como nos relacionamos com a nossa mãe está ligado diretamente à como tratamos nossas vidas. Mãe e comida são portadoras da mesma energia que nutre alma e corpo. A mãe é aquela que dá vida e o primeiro alimento. Por isso, quando o adulto apresenta problemas com peso ou disfunções alimentares, está de forma inconscientemente buscando essa mãe.

Muitas vezes, assumimos padrões alimentares transmitidos ao longo das gerações, refletindo conflitos internos e transtornos alimentares por uma vida inteira. Ao acessar as emoções e os padrões inconscientes por trás das disfunções alimentares, torna-se possível liberar e reprogramar comportamentos.

Esses padrões, enraizados em questões familiares não resolvidas, se manifestam de diversas formas, desde compulsões até rejeições alimentares, revelando nossos sentimentos mais profundos em relação à vida e àqueles que nos cercam, especialmente nossa mãe. É nesse contexto que a Terapia Sistêmica e as Constelações Familiares se destacam como ferramentas poderosas de auxilio e transformação.

Estas ferramentas não oferecem uma solução mágica, mas sim uma jornada de autoconhecimento e transformação. Ao trazer à luz as fontes dos nossos conflitos alimentares, aqui em especifico as dinâmicas relacionadas à mãe, nos tornamos consciente do cerne da questão que causam os sintomas que vivemos. A partir disso, podemos assumir de forma lúcida, uma nova postura que nos impulsiona em direção ao bem-estar de dentro para fora.

A Constelação Familiar nos permite olhar para o essencial, para a dinâmica oculta que está por trás das disfunções e distúrbios. Diagnosticamos as causas profundas da obesidade, compulsões e outros distúrbios, permitindo movimentos terapêuticos que nos levam à reconciliação com nosso corpo e nossas relações familiares.

Ao explorarmos as leis do universais e da ordem familiar, encontramos o cerne dos transtornos alimentares e a chave para as pazes com o nosso corpo emocional e físico. Não é uma receita de bolo. Cada caso é uma caso e cada pessoa está contando a sua própria história com as dificuldades que enfrenta. Mas há um parágrafo único: a relação que você tem com o alimento representa de maneira indireta a relação que você tem com a sua mãe.

Durante uma Sessão de Constelação ou com o uso do Mapeamento Sistêmico para investigar as relações familiares da pessoa, podemos descobrir as raízes profundas que estão regendo o padrão alimentar disfuncional, que pode estar ligado a uma lealdade inconsciente por aspectos emocionais, vínculos afetivos, não só aspectos fisiológicos, hormonais e bioquímicos.

Ao entendermos a profunda ligação entre nossas relações familiares, em especifico a relação da ‘figura’ materna com a nossa saúde alimentar e emocional, abrimos caminho para uma vida mais equilibrada e mais consciente. Até porque a nossa alma também têm fome. É por esse motivo que chegamos em um momento de vida que buscamos por um sentido maior para tudo isso aqui. Além de crescer, casar, comprar e pagar conta.

Com o acesso às dinâmicas sistêmicas, descobrimos que a forma como nos relacionamos com a comida e cuidamos do nosso corpo está intrinsicamente ligada às nossas relações familiares e aos padrões emocionais que absorvemos ao longo da vida. Cada escolha alimentar, cada comportamento relacionado à comida é um reflexo direto desses padrões sistêmicos.

Ao olharmos para o sistema como um todo, percebemos que esses elementos aparentemente independentes – nossas relações, nossa alimentação e nosso corpo estão entrelaçados por fios invisíveis. A Terapia Sistêmica nos ensina a ler os sinais dessa grande teia, a compreender a integração do nosso sistema interno e externo. Ao compreendermos os padrões sistêmicos, abrimos espaço para uma vida mais saudável e equilibrada, onde nossas relações, nossa alimentação e nosso corpo se tornam aliados. Nunca oponentes.

Rava Midlej Duque é comunicadora, mestra, terapeuta sistêmica, consteladora familiar e especialista em Psicologia Perinatal.

Na montagem, Bel campeão pelo Fluminense em 1966, e na Seleção de Itabuna ao lado de Santinho e Tombinho
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Em 1969, convidado pelo Flamengo, retorna ao Rio de Janeiro e é aprovado pelo clube da Gávea, onde permanece por cerca de 40 dias em treinamento. Mais uma vez decide retornar a Itabuna, agora pela falta de um empresário que cuidasse de sua vida profissional.

 

Walmir Rosário

Se hoje em dia os clubes famosos do continente europeu espalham olheiros mundo afora em busca de promessas de novos craques, nas décadas de 1950 e 60 já tínhamos nossos agentes secretos, se bem que paroquianos, no entorno de Itabuna e Ilhéus. E eles funcionavam bem, descobrindo craques nos bairros e nas pequenas cidades. E posso atestar que eram craques de mão cheia.

Um desses é Abelardo Brandão Moreira, que respirava o futebol a partir de casa, passando pelos campinhos, quadras de futebol de salão até chegar de vez no Campo da Desportiva, templo sagrado do futebol itabunense. E aos 15 anos, calçava chuteiras e o uniforme rubro-negro do Flamengo de Itabuna, considerado um “ninho de cobras”, dada a qualidade do plantel.

E o craque, ainda com a cara de menino, disputava a bola nos gramados com o que tinha de melhor no futebol itabunense. Entrava em campo numa boa e distribuía passes magistrais aos companheiros em campo, grande parte titulares ou reservas da notável Seleção de Itabuna, a hexacampeã baiana. E não podia ser diferente, em 1963 se sagra campeão de Itabuna, num certame pra lá de disputado.

E no Flamengo Bel dividia parte do campo com Luiz Carlos, Nocha, Piaba, Abieser e Leto; Waldemir Chicão e Tombinho; Gajé, Nélson Piroca, Caçote e Luiz Carlos II. Nesse time ainda jogavam craques do quilate de Carlos Alberto, Péricles, Zé David, Maneca, Tertu, Santinho e Zequinha Carmo, e como promessas, Lua e Bel. O técnico era Gil Nery, o mesmo da Seleção de Itabuna. Quem viu não consegue esquecer o bom futebol praticado.

Em 1964 Bel recebe o convite para integrar o Janízaros e se muda com armas e bagagens, levando consigo um futebol em plena ascensão. Foram dois anos de sucesso, reinando absoluto no campeonato itabunense, condecorado com as faixas de campeão por dois anos seguidos – 1964 e 1965. Para coroar sua carreira também foi convocado para a Seleção de Itabuna, penta e hexacampeã baiana.

O Janízaros era um esquadrão formado pelo goleiro Luiz Carlos, Humberto, Ronaldo, Itajaí e Albérico (Toba); Bel e Tombinho; Neném, Pinga, Marinho e Wanderlei. O plantel ainda contava com Biel, Evaristo, Carlos Viana, Américo, Nego, dentre outros. Em três anos de futebol amador, três títulos de campeão consecutivos, marcando positivamente o início da carreira futebolística que abraçara.

Mas o futuro era bastante promissor e em 1966 Bel se transfere para o Fluminense. Se reencontra com colegas de outros clubes, num time formado por Luiz Carlos, Amaro, Ronaldo, Santinho, Amilton, Carlos e Fernando Riela, Waldemir Chicão, Ratinho, Totonho, Carlos Antônio, Orlando Nabizu, Wanderlei, Jonga e Humberto, dentre outros. E neste ano, mais uma vez, levanta a taça de campeão itabunense.

E em 1967 uma mudança revoluciona o esporte do sul da Bahia, com a profissionalização do futebol. Em Ilhéus, Flamengo, Vitória e Colo-Colo; em Itabuna, o recém-criado Itabuna Esporte Clube representa a cidade. Bel encerra a fase amadora e é contratado como profissional pelo Itabuna Esporte Clube. Em 1968 se transfere para o Colo-Colo de Ilhéus, clube em que joga até 1969.

Em 1970, Bel continua jogando na vizinha cidade praiana, mas desta vez pelo recém-criado Ilhéus de Futebol e Regatas. No ano seguinte retorna ao Itabuna Esporte Clube, onde fica até julho de 1972. Em agosto (72) é contratado pelo Atlético de Alagoinhas para disputar o Campeonato do Norte e Nordeste, retornando ao Itabuna em 1973, quando decide parar a carreira, embora continue ocupando outros espaços no futebol.

No ano de 1976 volta ao Itabuna Esporte Clube, agora para emprestar todo o conhecimento adquirido em anos de futebol. Exerceu os cargos de treinador de goleiros, auxiliar técnico, muitas vezes assumindo o comando técnico da equipe. Em 81 foi auxiliar e técnico do Itabuna juvenil. Mais tarde, também a convite de João Xavier, treinou várias categorias de Masters da AABB de Itabuna.

Jogador clássico, de chute certeiro e passes longos e milimétricos, Bel foi convidado por clubes do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Aprovado no Botafogo, por questões particulares preferiu voltar a Itabuna. Junto com Déri, Caxinguelê e Juvenal, em 1967 treinou no Atlético Mineiro. Aprovados, não continuaram no “Galo Mineiro” devido aos baixos salários e péssimas condições moradia e trabalho.

Em 1969, convidado pelo Flamengo, retorna ao Rio de Janeiro e é aprovado pelo clube da Gávea, onde permanece por cerca de 40 dias em treinamento. Mais uma vez decide retornar a Itabuna, agora pela falta de um empresário que cuidasse de sua vida profissional. No rubro-negro carioca tinha que disputar espaço no meio de campo com craques a exemplo de Carlinhos, Liminha, Cardosinho, o paraguaio Reyes e Zanata (estourando a idade).

E assim, após mais de 25 anos de dedicação ao futebol, se transferiu para a atividade privada e, em seguida passa a ocupar cargo no Poder Judiciário, inicialmente na Justiça de Defesa do Consumidor (1991), e depois, em 1993, é aprovado em concurso público para a Justiça do Trabalho, se transferindo para Teixeira de Freitas, retornando a Itabuna após a aposentadoria.

Bel, um craque a ser sempre lembrado.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Cacau, da delícia do chocolate à riqueza do agronegócio || Foto Águido Ferreira/Ceplac
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Não é por acaso que o agro brasileiro nada de braçadas e consegue se manter na dianteira da produção brasileira vendida para o nosso consumo e o mundial, alimentando pessoas com produtos de qualidade.

 

Walmir Rosário

Muito cuspe e giz já foi gasto para explicar as nuances do cultivo do cacau e a cultura dos cacauicultores do Sul da Bahia. O cacauicultor era odiado e amado em livros, reportagens de jornais, rádios, televisões, passando pelos workshops e congressos, com os prós e contras explícitos em acalorados e exaustivos debates. Ora os produtores eram elogiados pela proteção da Mata Atlântica, outras vezes execrados pela monocultura e destruição.

Em cada um desses debates era comum alguém citar trechos de livros do itabunense Jorge Amado, mostrando o cacauicultor como um criminoso contumaz na eliminação da floresta, acredito que por desconhecer o tema. Agora se descobre ser a cacauicultura a avalista na manutenção da nossa rica Mata Atlântica. Que ninguém leve isso a sério, pois os pioneiros não sabiam que os pés de cacau também produziam a pleno sol.

Hoje, passado muito tempo dedicado à pesquisa, o cacau brasileiro pode ser plantado de norte a sul, leste a oeste, independente de clima e altitude, com comprovações científicas e a recomendações técnicas pertinentes. Há alguns anos, era considerado impossível, e seria considerado louco quem tentasse plantar cacau já nas chamadas áreas de transição. Muitos se aventuraram e colheram bons resultados. Os 100 milímetros de chuvas mensais foram solucionados com a irrigação e fertirrigação.

Em meados da década de 1960, com a erradicação do café na região de Ubaíra, Santa Inês, Mutuípe e boa parte do Recôncavo, a Ceplac, de forma corajosa, substituiu muitas dessas áreas com o plantio de cacau. Renovou as esperanças dos produtores rurais em fazendas de apenas terras nuas. Era a ciência rural chegando na hora certa para iniciar, na Bahia, o Brasil do agro vencedor de hoje.

Em tempos atuais, lemos, ouvimos e vemos reportagens sobre a cacauicultura pedindo espaço e ultrapassando novas fronteiras nunca antes imagináveis para receber os pés de cacau. E não são mais aqueles plantados em sementes, na ponta do facão, como faziam os pioneiros das “terras do sem fim”. Nem pensar! Eles utilizam o que de mais modernos saem dos laboratórios: clones altamente produtivos, tolerantes às doenças, com alto teor de gordura conforme manda a engenharia genética.

Na conjuntura atual do cacau não mais nos desesperamos com o preço de manutenção do estoque regulador e os acordos da Organização Internacional do Cacau. A demanda está aquecida e a oferta em déficit, o que faz aumentar o preço. E o cacauicultor brasileiro aproveita para vender o produto a preço mais que justo e investir na lavoura utilizando as mais modernas técnicas do mundo. Ele tem meios de influir na política econômica, exportando e produzindo chocolate para o mercado interno.

Agora, grande parte da produção brasileira tradicional está sob os cuidados de agricultores, filhos e netos dos pioneiros, que deixaram as grandes cidades e capitais para enfrentar o dia a dia na fazenda, na busca de erradicar ou minorar os efeitos devastadores da vassoura de bruxa no capital familiar. Repovoaram a lavoura com material genético adequado e produzem chocolate de qualidade, ao contrário de antes, quando o cacau era uma simples commoditie.

Pesava contra a cacauicultura o espírito empreendedor do cacauicultor sem disposição de ganhar novos mercados com produtos de alta qualidade, embora tivesse coragem de implantar a cacauicultura em todo o Sul da Bahia, numa área compreendendo mais de 100 municípios. E não apenas plantou cacau, implantou uma cultura, a cacaueira, por meio do “visgo do cacau”, e que resistiu a todo o tipo de intempérie, inclusive a vassoura de bruxa.

Infelizmente, o cacauicultor de antes não teve o devido preparo, e dependia da ajuda de mecanismos governamentais para convencer os empresários chocolateiros dos países europeus, extremamente colonialistas, a comparem o cacau brasileiro, de melhor qualidade, do que o africano e asiático. Se os pais não tiveram essa ousadia comercial, seus filhos e netos fazem isso sem qualquer cerimônia, conquistando novos mercados.

Lembro-me de uma reportagem que fiz com um dos grandes produtores e sindicalista da cacauicultura, Weldon Setenta, que ganhou o Brasil e o mundo. Quando perguntei se não teria sido mais viável ao produtor diversificar a produção, ele me deu a seguinte resposta:

– Como produtor rural não posso descuidar ou diminuir os investimentos na produção de cacau em que o mercado me paga US$ 5 mil a tonelada, para produzir outros, vendidos a preços bem menores. O que falta é uma política de governo para a agricultura – revelou.

Essa entrevista foi feita há muitas décadas e agora o preço do cacau em amêndoas dobrou, chegando a US$ 10 mil. Podemos afirmar que o cacau continua sendo uma excelente commoditie, desde que produzido com qualidade, sem falarmos na verticalização da produção, incluindo desde o cacau fino ao produto final, do simples chocolate caseiro aos chocolates especiais que ganham prêmios em todo o mundo.

Se antes dizíamos que os cacauicultores tinham problemas insolúveis, tanto da porteira pra dentro como da porteira pra fora, acredito que esses percalços foram reduzidos e as novas oportunidades aproveitadas. Não é por acaso que o agro brasileiro nada de braçadas e consegue se manter na dianteira da produção brasileira vendida para o nosso consumo e o mundial, alimentando pessoas com produtos de qualidade.

Só posso desejar sucesso aos novos cacauicultores do cerrado aos dos estados nordestinos, inclusive beirando à caatinga pelo espírito inovador; aos da Amazônia, que conseguiram vencer o estigma de cacau de baixa qualidade e hoje são premiados; e aos paulistas da região de Registro, que viram no cacau uma excelente oportunidade em dar ênfase ao cultivo do cacau. Já os do Sul da Bahia nos dão demonstração de que acreditar na ciência é uma atitude inteligente, mesmo que demorem gerações.

O cacau foi, é, e sempre será, o manjar dos deuses!

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

O craque Juca Alfaiate (no centro entre os agachados) fazia jus à fama conquistada em campo e com a tesoura na mão || Arquivo Walmir Rosário
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Juca era respeitado e admirado na sociedade, tanto assim que até o Exército brasileiro lhe fez uma deferência quando foi convocado para servir à Pátria, lutar contra os alemães na Itália, durante a segunda Guerra Mundial.

Walmir Rosário

Durante um jogo no Maracanã estreava na arquibancada do maior estádio do mundo um itabunense. Acostumado a assistir aos jogos no acanhado campo da Desportiva, a todo o ataque dos times cariocas, levantava, fazia muitos gestos, o que perturbava os torcedores localizados logo atrás. E eis que num determinado momento, ouve os torcedores gritando “Fica quieto, Juca Alfaiate”. Olha ele pra trás e pergunta: “Você também é de Itabuna?”, e o carioca responde: “Não sei onde é isso, mas é o nome que está estampado na sua bunda”.

Alfaiate de mão cheia, José Correia da Silva, ou melhor Juca, ainda é considerado o maior craque de Itabuna. E durante toda a minha vida nunca vi ou ouvi ninguém discordar, o que nos faz crer que seja verdade firmada. Magro, educado, bem falante em tom médio, foi quem vestiu os elegantes da cidade por muitos anos. E o seu marketing era estampado por uma fina etiqueta em todas calças, paletós e camisas por ele confeccionadas.

Mas nessa crônica não nos vale muito a refinada profissão de Juca Alfaiate, e sim o seu desempenho no futebol. Se na alfaiataria deixava os clientes elegantes, nas quatro linhas do campo da Desportiva ou estádios alheios, o elegante era ele. Nos anos 1940/50 era quem mandava nos jogos pelos clubes em que jogou, a exemplo do São José, São Cristóvão, Grêmio, Associação Atlhética e Flamengo, todos de Itabuna.

Em campo, frio e calculista, idealizava as jogadas com a mesma maestria em que cortava um terno de linho S-120. Recebia a bola, a matava no peito ou no pé, se desvencilhava do adversário com um jogo de corpo e partia para área em busca de mais um gol. Se a marcação era muito cerrada, distribuía a bola aos companheiros melhores colocados e se postava mais próximo da pequena área.

Baixo e magro, os adversários que ainda não o conheciam acreditavam que era mais um jogador irrelevante, escalado na falta do titular e que estaria ali apenas para fazer número. Ledo engano, assim que o viam dominar a bola passavam a respeitá-lo e somente com falta conseguiam pará-lo, isso quando ele não se antecipava às botinadas dos zagueiros, deixando-os ainda mais zangados e desmoralizados.

Uma falta nas proximidades da grande área era o terror dos goleiros adversários. Como não queria nada, se aproximava do local, pegava a bola com carinho e a colocava no lugar determinado pelo árbitro. Bastava olhar para a barreira formada à sua frente, recuava três ou quatro passos, e como não queria nada, avançava para a bola e dava um chute certeiro, bem colocado, como todos os craques devem proceder.

Não restava alternativa ao goleiro do que pegar a bola no fundo da rede, do lado distinto do qual havia caído. Sim, pois Juca Alfaiate era perfeccionista e ao bater faltas não abria mão do efeito aplicado com o lado do pé, com a finalidade da bola fazer uma curva e enganar o arqueiro. Era bola num canto e o goleiro no outro. E sua frieza deixava os goleiros possessos, pois batia com os dois pés, enganando a barreira e o goleiro.

Nasceu pra jogar bola, diziam torcedores do seu time e até os adversários. Sim, era um craque talhado, como as curvas dos paletós nos corpos dos clientes. Mas juntava sua habilidade natural com os treinamentos, especializando nos dribles desconcertantes, nos chutes com destino certeiro. Com o tempo se fez mestre em marcar gols espetaculares, como os de bicicletas, que faziam os torcedores da velha Desportiva vir abaixo com os aplausos. Mais bonitas do que as de Leônidas da Silva, diziam os mais exaltados.

Incentivado a se profissionalizar nos grandes times brasileiros, de Salvador, Rio de Janeiro ou São Paulo, Juca não se deixava influenciar pelos muitos conselhos a ele dados pelos especialistas do futebol. Queria jogar bola artística como sabia e não como os técnicos e seus ensinamentos queriam. E para referendar, até mesmo uma proposta mirabolante do Guarany, de Salvador, ele recusou de pronto. Pois o Guarany levou todo o time titular, até o seu reserva, que foi o artilheiro e campeão baiano, mas ele ficou.

Juca preferia dividir sua vida entre a família, a profissão de alfaiate de requinte e o futebol refinado. Por onde passou convivia com pessoas bem próximas dele, clientes, amigos bem chegados, craques que faziam vibrar os apaixonados torcedores. Se o futebol não lhe dava o dinheiro que precisava, a alfaiataria permitia que vivesse decentemente, dentro dos padrões da dignidade. Não tinha do que reclamar.

Juca era respeitado e admirado na sociedade, tanto assim que até o Exército brasileiro lhe fez uma deferência quando foi convocado para servir à Pátria, lutar contra os alemães na Itália, durante a segunda Guerra Mundial. Em Ilhéus, onde esperava a data para embarcar num navio para a Europa, os oficiais ficaram encantados com o seu futebol e postergaram a viagem. Ainda bem que Ilhéus conheceu, de perto, o futebol jogado por Juca Alfaiate.

Juca Alfaiate praticava o bom futebol, tratando a bola com respeito, driblando os adversários, não por pura vaidade, mas para chegar ao gol com mais facilidade, jogando a bola nos fundos da rede com plasticidade. Foi um craque temido e, ao mesmo tempo, querido pelos adversários. Parou quando deveria, não pela marcação dos zagueiros, mas por uma contusão. Infelizmente, o centroavante consagrado deixou as quatro linhas e calou as arquibancadas. Nunca mais os dribles e os gols espetaculares de Juca Alfaiate.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Ruy Póvoas (à esquerda) presta homenagem ao amigo André Rosa, falecido neste domingo (7)
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André trouxe Rosa, por sobrenome, a rainha das flores. No percurso de sua existência, muitas vezes não navegou num mar de rosas, tendo em vista os inúmeros desafios que teve de enfrentar. Cremos, porém, que a partir de agora, um mar de bem-aventuranças lhe trará o descanso merecido.

 

Ruy Póvoas

Quatro caminhos no meu percurso, nesta existência, se cumprem no dia de hoje. O entrelace se desfaz com a morte de André Rosa. Meu amigo, meu colega, meu confrade, meu irmão de fé. A quais caminhos me refiro? Éramos parceiros na Universidade/UESC (André era professor e pesquisador); na Literatura (André era escritor e poeta); na Academia de Letras de Ilhéus (André era membro efetivo da ALI) e no exercício da prática de uma religião de matriz africana (André era Tata Cambone de Matamba, do Terreiro Tombenci Neto).

Tais viveres e fazeres nos enlaçaram por muitos anos a fio. Agora, quando Mercúrio retroage no nosso céu, Matamba mandou buscar André e Nanã Borokô o leva de volta ao seio da Mãe Terra. E como fico eu aqui? Aliás, como ficamos nós?

Cumpre volvermos as vistas para seus escritos e seus relatos de estudos e pesquisas. Cumpre mergulharmos com a atenção devida para seus versos extravasantes de intuição artística. Cumpre continuarmos zelando pela ALI, nos devidos cuidados de sustentação e lides de nossa Academia. Cumpre, especialmente a mim, continuar na luta pela conquista de lugar no mundo por partes do povo de santo.

Da última vez que nos vimos, 14 de março deste ano, a nossa ALI vivia momentos de alegria por estarmos iniciando mais um ano de atividades acadêmicas. Vários participantes fotografaram o evento a valer. Em muitas fotos, André e eu saímos juntos. E quando a onda de sentimento amainar, voltarei àquelas fotos que ficaram, representações que são do último momento de uma caminhada que só nos deu contentamento e certeza de que estávamos no caminho certo.

Para nós, gente que pratica a fé de matriz africana, ainda veremos você na intimidade de nossos rituais, quando em breves dias, celebraremos o axexê. Você se vai enquanto criatura encarnada, mas ficará conosco, para o resto de nossas vidas. E isso é possível, sim, porque ficam conosco, seus escritos, seus poemas, seus livros, os resultados de suas atividades na ALI. Ficam, sobretudo, partes de seu axé anexado à comunidade do Terreiro Tombenci Neto.

André trouxe Rosa, por sobrenome, a rainha das flores. No percurso de sua existência, muitas vezes não navegou num mar de rosas, tendo em vista os inúmeros desafios que teve de enfrentar. Cremos, porém, que a partir de agora, um mar de bem-aventuranças lhe trará o descanso merecido.

E de onde você estiver, rogue por nós, seus amigos, camaradas, colegas e irmãos até que chegue nosso tempo também.

Itabuna, 7 de abril de 2024.

Ajalá Deré (Ruy Póvoas) é babalorixá do Ilê Axé Ijexá.

Fotojornalistas protestam contra Figueiredo, em 1984 || Foto J. França
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Não reivindico imparcialidade, mas a distância necessária para dosar a empatia com desconfiança e a antipatia com escuta atenta.

 

 

 

Thiago Dias

Quando ingressei no curso de Comunicação Social da Uesc, em 2007, não sabia que profissão seguir. Foi uma escolha por exclusão das ciências exatas e por alguma afeição à escrita, mas não pensava em jornalismo. Só depois de formado tive o primeiro contato com o ofício, no Blog do Gusmão, onde trabalhei por cinco anos e me profissionalizei.

Herdei de meus pais, Dagmar e Luís, duas características elementares para o jornalismo, o gosto por ouvir e contar histórias e a honestidade. Ser honesto é pressuposto do relacionamento jornalístico com as pessoas e do esforço para diminuir ao máximo a distância intransponível entre a informação e o fato reportado. Aquilo que se pode chamar, num pleonasmo, de realidade factual.

É o compromisso reiterado com a apuração da notícia que torna o repórter e o veículo de imprensa credíveis. Eis a matéria-prima da construção e manutenção da credibilidade do emissor em um contexto de circulação acelerada de informações e opiniões.

Não reivindico imparcialidade, mas a distância necessária para dosar a empatia com desconfiança e a antipatia com escuta atenta. A busca desse equilíbrio reduz, de um lado, os pontos cegos do olhar emotivo e, de outro, permite a abertura para um diálogo capaz de rechaçar um preconceito injusto ou de reafirmar uma posição crítica.

Essa é das lições mais exercitadas nos meus três anos e três meses neste PIMENTA. Na redação, o convívio com os jornalistas Ailton Silva e Davidson Samuel é fonte de aprendizagem diária. Nos seus textos, aprendi a admirar o rigor descritivo e a frase curta e direta como expressões sofisticadas da clareza a serviço da notícia.

Além das lições, o PIMENTA também me abriu portas valiosas, como a do Jornal das Sete, da Morena FM 98.7, rádio dirigida pelo jornalista Marcel Leal, com quem divido a redação do informativo, que vai ao ar de segunda a sexta, às 18h40min. Ilheense, quis o destino me abrigar em dois veículos na cidade vizinha, apresentando-me, ainda que de forma mediada, uma Itabuna que eu não conheceria se não fosse o jornalismo.

Está aí um presente que a profissão me deu em 11 anos de estrada. Descobri uma Itabuna de forte presença das associações civis e da imprensa como forças de pressão organizada e de dinamismo político. Quando compartilho essas impressões com amigos itabunenses, boa parte deles diz que estou superestimando o verde da grama da casa vizinha.

Será? Penso que não, especialmente por causa do papel relevante que vejo a imprensa exercer no debate público de Itabuna – um autoelogio que o Dia do Jornalista, comemorado neste domingo (7), nos autoriza a cometer.

Thiago Dias é repórter do PIMENTA e do Jornal das Sete (Morena FM 98.7).

A camisa criada por Afonso Dantas desperta o sentimento de pertencimento do itabunense
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Nada mais brega do que a velha rivalidade entre papa-jacas e papa-caranguejos.

 

Walmir Rosário

Guardo muitas recordações dos tempos de menino, entre elas as boas brigas por apelidos, gentílicos, etnônimos, topônimos, principalmente os vistos como depreciativos. E não era pra menos, imagine um itabunense ser chamado taboquense, por ser Tabocas o nome do distrito que deu origem a Itabuna. Pior, ainda, e totalmente sem cabimento, o nascido em Itabuna ser chamado de papa-jaca pelos ilheenses. Por pouco não é declarada uma guerra, finalmente, pacificada agora por Afonso Dantas.

Eu mesmo já sofri muito com os preconceituosos gentílicos por ter nascido em Ibirataia (BA), nomeada de Tesouras quando ainda distrito de Ipiaú (também papa-jaca). Em 1960, finalmente, Ibirataia ganha sua “carta de alforria” e passa a ser cidade, município. Para fazer a população e os “de fora” se acostumarem com o novo nome, o prefeito teria tido uma conversa de pé de ouvido com o delegado, que proibiu Ibirataia ser chamada de Tesouras. E as ameaças não eram poucas, inclusive com a permanência de uns dias de xilindró.

Mas em Itabuna era inaceitável ser chamado de papa-jaca, notadamente pelos ilheenses, que não se conformavam em ter perdido o domínio sobre a nova Itabuna, mormente pelos contos de réis que embolsavam nos tempos de Tabocas. Pois bem, a rivalidade era acirrada, pois Itabuna se agigantava e exibia uma Associação Comercial (em Ilhéus ainda não existia), ganhava no futebol, no comércio, enfim, ameaçava – de verdade – a hegemonia de Ilhéus.

Como não sou historiador, não fui nem irei à cata de documentos para fazer as devidas comprovações do que digo, pois sabidamente está na boca do povo. E o gentílico papa-jaca nasceu por pura inveja dos ilheenses, pelo simples fato dos itabunenses ignorarem, também, os restaurantes e pensões de Ilhéus, quando iam à praia da Avenida. Na carroceria de caminhões, os itabunenses levavam seu farnel, reforçado com feijoada, farofa de jabá e uma boa jaca, saboreada como sobremesa, para a inveja dos ilheenses.

Depois disso, pelo que soube por gente da minha inteira confiança, e fui conferir que até o conterrâneo Jorge Amado (ele itabunense de fato e eu por direito), no livro Terras do Sem-fim, renegou a origem e descreveu ser o papa-jaca gente de Itabuna, pessoas rústicas, mulheres de comportamento duvidoso e homens violento, às vezes cornos. Fiquei puto da vida, mas não vou brigar com um conterrâneo, e que já se foi deste mundo.

Inconformados com a independência e altivez do itabunense, os ilheenses partiram para a galhofa, retrucada em seguida com o gentílico papa-caranguejo, por motivos óbvios. Aí é que rivalidade aumentou, chegando às raias do quebra-pau. Lembro-me que à época o sentimento de pertencimento com a cultura popular não era aceito e os gentílicos e etnônimos malvistos e resolvidos na porrada.

Mesmo em tempos recentes, um desprestigiado e despudorado juiz de direito (hoje ex) chegou a tentar denegrir o presidente da OAB itabunense, tendo o desplante de chamar o causídico de papa-jaca, como se ofensa fosse. Em resposta, no Forró do Advogado, em pleno Alto Beco do Fuxico, foi esculachado em uma música criada pelos advogados itabunenses, que foi hit por meses a fio, colocando o tal do então magistrado em seu devido lugar, o lixo.

Com o passar do tempo, os malvistos passaram a ser benquistos e incorporados como bens imateriais. E cito aqui um fato comprobatório: Na década de 1970, o paratiense, cujo gentílico era papa-goiaba, recusava terminantemente ser chamado de Caiçara, rebatendo o adjetivo, por considerar pejorativo e somente se aplicar aos moradores do litoral paulista, e não aos “beiradeiros fluminenses”. Hoje acredita ser um deles e aceita os dois gentílicos com todos os mimos.

Mas voltando à nossa paróquia, já aceitamos e adotamos os gentílicos e etnônimos, mesmo que os topônimos não tenham nenhuma ligação. Nada mais chique do que desfilar por aí – em Itabuna, Ilhéus, Salvador, Nova Iorque ou Paris – com uma vistosa camisa criada pelo publicitário e cronista Afonso Dantas, com a bela figura de uma jaca ricamente estampada, arrematada logo abaixo com a pomposa legenda: Papa-jaca. Tudo isso teve início quando Afonso passou a criar camisas com gírias e expressões tiradas das raízes mais profundas do vocabulário “baianês”. Lá ele! Tô fora!

É de meter inveja aos ilheenses, que ficam putos da vida, por sentir o efeito contrário da galhofa: em vez da raiva anterior, o itabunense demonstra sabedoria e pertencimento. Trocando em miúdos, fez do limão uma limonada. E o projeto de Afonso Dantas não se resume a Itabuna, pois muitas cidades da região cacaueira – a nação grapiúna – esnobam as demais, e apresentam a jaca como figura e adereço cultural maior.

A criação das camisas ganhou o mundo, como já disse, e elevou a autoestima do itabunense, papa-jaca sim senhor, e com muito orgulho. Tanto assim que perdoou o conterrâneo Jorge Amado, acreditando ter sido influenciado pelos coronéis ilheenses da época, putos da vida com o desenvolvimento de Itabuna. Hoje, papa-jacas e papa-caranguejos dividem e convivem o mesmo espaço praiano com a mais perfeita harmonia.

Daqui de Canavieiras, onde me refugiei há mais de uma dezena de anos, tomei ciência que o gentílico papa-caranguejo é palavra corrente para distingui-los. E como se não bastasse, eles ainda ressaltam que é a iguaria mais gostosa, além das mais belas pernas da Bahia. Sem qualquer descortesia, Trajano Barbosa utilizou o caule da jaqueira como mastro na festa do “Pau de Bastião” por mais de 60 anos, na famosa festa da Capelinha.

Nada mais brega do que a velha rivalidade entre papa-jacas e papa-caranguejos.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

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Temos sido surpreendidos pela voracidade com o assédio escandaloso a pré-candidatos e pré-candidatas à Câmara Municipal de partidos da base, que estão nesse esforço da construção da unidade política. Se fosse dos adversários, seria o mais natural da disputa.

Rodrigo Cardoso

A Federação Brasil da Esperança, Fé-Brasil, formada pelos partidos PT, PCdoB e PV, é uma boa novidade na política nacional. Em um mundo que vive múltiplas crises, dentre elas a ambiental e diversas outras decorrentes da emergência de uma realidade multipolar, ter no Brasil um instrumento político-eleitoral que trabalha para se constituir no núcleo de uma frente ampla de todos os que defendem a democracia, o desenvolvimento sustentável e a justiça social é um grande trunfo. Principalmente quando temos como líder o Presidente Lula, que traz em sua história a síntese de diversas lutas de nosso povo.

A unidade para a vitória dessa frente ampla democrática nas eleições municipais 2024 está no centro da tática da Fé-Brasil.

Na Bahia, onde temos o governador Jerônimo (PT) como principal referência política, essa tática se expressa na busca da construção do máximo de candidaturas unitárias possível, em especial nas grandes cidades, onde, no geral, enfrentamos mais dificuldades nas eleições de 2022. Naturalmente, onde o prefeito apoiou nosso governador, o mesmo acaba assumindo protagonismo da articulação das diversas forças que compõem a base do governo, com vistas à construção dessa unidade. Onde pode se reeleger, acaba sendo o candidato natural.

Em Ilhéus, o Prefeito Mário Alexandre (PSD) está no último ano do seu segundo mandato. Entre erros e acertos políticos e administrativos, construiu vitórias expressivas, a última com a eleição da esposa Soane Galvão (PSB) como deputada estadual, com grande votação em nossa cidade.

No entanto, segundo diversas pesquisas de opinião, enfrenta várias dificuldades em seu governo, que mantém alta rejeição. Ainda assim, preserva força política relevante.

Meu partido, o PCdoB, não apoiou o Prefeito Mário em nenhuma das suas vitórias eleitorais nem na sua derrota, quando foi candidato a vice-prefeito em 2012. Disputamos contra ele em 2016, compondo como candidato a vice-prefeito a chapa do PP, que na época fazia parte da base do governador Rui Costa (PT). Em sua reeleição, compusemos a mesma aliança, que teve como candidato a vice o dirigente do PT, Everaldo Anunciação.

Mas sempre mantivemos um diálogo construtivo, contribuindo com a atração de políticas e investimentos públicos para nossa cidade, através de nossas lideranças estaduais, como o Secretário de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Davidson Magalhães, a deputada federal Alice Portugal, o deputado estadual Fabrício Falcão, o Superintendente de Economia Solidária Wenceslau Jr., dentre diversos outros camaradas. Com essa parceria, foram diversos cursos de qualificação, apoio à economia solidária, políticas de geração de emprego e renda, para mulheres, de combate ao racismo, ações e programas de esporte e lazer etc. O mais recente, a Areninha Gustavão, ao lado da Central de Abastecimento do Hernani Sá.

Nosso vereador Cláudio Magalhães sempre foi um ator fundamental nesse diálogo.

Recentemente, em meados do ano passado, o Partido fez um movimento de maior aproximação do governo municipal, com nosso vereador passando a compor a base. A perspectiva era que nossa presença contribuía para a construção da unidade.

Consideramos esse esforço bem-sucedido, na medida em que, em fevereiro desse ano, por iniciativa do Prefeito, se estabeleceu uma mesa de diálogo com todos os partidos da base do Governo do Estado.

Legítimas pré-candidaturas à sucessão se colocaram, o que consideramos positivo para o debate. Tanto do vice-prefeito Bebeto (PSB), quanto da Secretária Estadual de Educação e ex-Reitora da Uesc, professora Adélia Pinheiro (PT). O prefeito já divulga também a pré-candidatura do Secretário de Gestão, Bento Lima (PSD).

Até aí, tudo normal.

Mas, recentemente, temos sido surpreendidos pela voracidade com o assédio escandaloso a pré-candidatos e pré-candidatas à Câmara Municipal de partidos da base, que estão nesse esforço da construção da unidade política. Se fosse dos adversários, seria o mais natural da disputa.

Aparentemente, alguns setores, sorrateiramente, já decidiram que a melhor tática para o sucesso eleitoral de sua candidatura de preferência não seja a unidade da base, mas a divisão, com diversas candidaturas disputando a preferência do eleitorado, apostando, provavelmente, na supremacia de suas “fórmulas menos republicanas” para a vitória.

Na minha humilde opinião, é um grande erro. Tal postura contribui mais para fortalecer o risco de que a maioria do povo busque, como resposta às suas insatisfações com os problemas do município, alternativas que apontem ou para práticas do passado com suas dificuldades conhecidas ou para aventuras que nos tirem do contexto estadual de políticas de desenvolvimento e busca de melhorias de vida para o povo. Ademais, a República tem instituições que, às vezes, funcionam.

Enfim. São apenas reflexões. Quis a providência a sua publicação no Sábado de Aleluia, tão valorizado por nossa cultura popular. Enquanto cristão, dá para acreditar que o Domingo de Páscoa, que nos lembra da ressurreição, é sempre um chamado à renovação de práticas e alianças. Mas sem esquecer que o calendário também o colocou esse ano na véspera do 1° de abril.

Rodrigo Cardoso é presidente municipal do PCdoB e da Federação Brasil da Esperança.

Três formações da Seleção de Itabuna hexacampeã, Pela ordem, a campeã, bicampeã e a hexacampeã
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O prefeito de Alagoinhas, Murilo Cavalcante, organizara uma festa para comemorar a vitória de sua seleção. Mesmo perdendo confraternizou com os itabunenses.

 

 

 

Walmir Rosário

Atesto e dou fé que o que agora passo a narrar é rigorosamente verdade, daí não retirar ou mudar uma só vírgula do assunto em questão, o futebol amador baiano. Está nos anais da história que a Seleção Amadora de Itabuna se consagrou hexacampeã (em títulos seguidos) do Campeonato Intermunicipal Baiano, feito que até os dias de hoje se encontra tremulando nos píncaros do futebol amador da Bahia.

Tudo começou no ano de 1957 – embora o campeonato seja relativo a 1956 – em 27 de outubro, com um empate em 3X3, em casa, no campo da Desportiva, numa partida cheia de emoções. É que até os 45 minutos do segundo tempo, a Seleção de Itabuna perdia por para a Seleção de Belmonte. Aí, um chute de Tertu marca o gol salvador da pátria. Do meio de campo ele consegue colocar a bola na gaveta superior, onde as corujas dormem.

Bastava caprichar no próximo jogo, na casa adversária, e tomar a dianteira. Não deu outra, Itabuna venceu por 3X1 e deu início a um próspero período de vitórias e títulos. A próxima vítima foi a Seleção de Ubaitaba, vencida por 2X1, na Desportiva e por 4X0 em Ubaitaba. E a partida foi bastante tumultuada, com a expulsão do goleiro itabunense Asclepíades, substituído pelo atacante Santinho, ainda com 20 anos de idade.

Daí pra frente Itabuna venceu Valença em sua casa por 4X3 e repetiu a vitória na Desportiva por 4X1. Para finalizar o campeonato, ganhou da Seleção de Salvador – no campo da Graça – por 2X1 e liquidou a fatura contra os soteropolitanos por 3X1, em Itabuna. Era uma equipe pra ninguém botar defeito, que já tinha mostrado seu potencial ao vencer o Torneio Antônio Balbino em abril de 1957.

No Bicampeonato não foi diferente e a Seleção de Itabuna, mesmo tendo que esperar por três anos para o reinício do campeonato, em 1961. Pra começo de conversa, ganhou da Seleção de Itajuípe, em sua casa, por 3X1, com 2 gols de Zé Reis e um de Florizel. No jogo de volta, em Itabuna, ganhou pelo placar de 3X2, todos marcados por Florizel, considerado o maior centroavante que já atuou em Itabuna.

Nas quartas de final, a Seleção de Itabuna vence o Jequié em sua casa por 3X2, e no jogo de volta abate o selecionado da Cidade do Sol por 4X0, no campo da Desportiva. Na semifinal empata com a Seleção de São Félix em 0X0, na casa adversária, e aplica 1X0 em casa, num gol magistral de Santinho. Com essa vitória Itabuna tinha tudo para colocar a mão da taça, mas o adversário na final seria a Seleção de Feira de Santana.

E como o primeiro jogo seria disputado em Itabuna, os jogadores fizeram de tudo para sair com um bom resultado, goleando a Seleção de Feira de Santana pelo elástico placar de 6X0. No jogo de volta, em 28 de janeiro de 1962, em Feira de Santana, bastou empatar por 1X1 para que a taça permanecesse em Itabuna. Foi uma festa sem precedentes, que continuou após a chegada a Itabuna.

Porém a Seleção de Itabuna queria mais, era chegada a hora de ficar com a taça do Intermunicipal, de forma definitiva, vencendo o Tricampeonato em 1962. E a campanha foi iniciada justamente contra Ilhéus, um adversário difícil. No primeiro jogo, em Itabuna, um empate chorado de 1X1. No jogo de volta, em Ilhéus, Itabuna vence por 2×0, com gols de Tombinho e Gajé. Neste dia Fernando Riela deu um show na ponta esquerda, que culminou com a expulsão de seu marcador, o excelente Coquita.

Agora bastava ganhar de Alagoinhas para chegar ao tri. Numa partida difícil, saiu perdendo com um gol contra de Abieser, mas conseguiu virar para 3X1, na casa adversária e pode decidir o título junto de sua torcida, pronta para festejar no Campo da Desportiva, com todas as honras. Em 17 de dezembro de 1962, o selecionado itabunense ganha de Alagoinhas por 1X0, gol de Zé Reis. Foi comemoração que varou a semana, com direito a música inspirada em Jackson do Pandeiro, “Vocês vão ver como é”, da Seleção Brasileira.

Com a taça em definitivo, era a hora da campanha pelo Tetracampeonato. E mais uma vez começávamos o zonal em 1963 contra a Seleção de Ilhéus, aplicando uma goleada por 4X0, todos marcados pelo centroavante Zé Reis. No segundo jogo, agora no Estádio Mário Pessoa, em Ilhéus, Itabuna joga pela vantagem do placar, perde por 3X0, e continua avançando no Campeonato Intermunicipal.

Agora era só jogar a final contra a Seleção de Santo Amaro, no Campo da Desportiva. Em decorrência de um erro da defesa Itabuna toma um gol, mas se recupera e vence pelo placar de 3X1. Na partida decisiva, Itabuna volta a tomar um gol e vence a catimbeira e poderosa Seleção de Santo Amaro por 2X1, com gols do atacante Gajé. Era só comemorar mais um feito inédito no esporte baiano.

Parece até ironia, mas em 1964 o Pentacampeonato da Seleção de Itabuna é iniciado justamente contra a Seleção de Ilhéus, no Mário Pessoa. Na primeira partida vitória itabunense por 1X0. No jogo de volta, no Campo da Desportiva, Itabuna toma um gol inesperado e parte pra cima virando o placar para 3X1, um gol de Gajé e dois de Santinho, para o delírio da torcida, que já sentia o “gostinho” do Pentacampeonato.

E a decisão era contra a Seleção de Feira de Santana. No primeiro jogo Itabuna sequer tomou conhecimento do selecionado da Princesa do Sertão e goleou por 4X0, com 3 gols de Gajé e um de Santinho. Na segunda partida, em Feira de Santana, perde por 1X0 (com três gol de Fernando Riela anulados). Com a mudança do regulamento, um terceiro jogo é marcado, também para Feira de Santana, e Itabuna vence por 5X3, liquidando a fatura.

Em 1965 Itabuna parte para a conquista do Hexacampeonato. No primeiro jogo, em Ilhéus, vence o selecionado ilheense por 2X1. Na segunda partida, com o Campo da Desportiva lotada, um cartaz recepcionava os ilheenses com a sugestiva frase: “Os Penta saúdam os ilheenses”. E volta a vencer o selecionado praiano pelo placar de 3X1. Agora era só partir para a final, mais uma vez contra Alagoinhas.

Com o Campo da Desportiva superlotado, Itabuna fica no empate 3X3 com Alagoinhas. Na partida finalíssima, encara Alagoinhas em sua casa e vence por 1X0, gol de Pinga, de cabeça, aos 35 minutos do segundo tempo. Enfim, Hexacampeã. O prefeito de Alagoinhas, Murilo Cavalcante, organizara uma festa para comemorar a vitória de sua seleção. Mesmo perdendo confraternizou com os itabunenses. Era 30 de janeiro de 1966. Só alegria!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Panorâmica de Ilhéus com a Catedral de São Sebastião em destaque || Foto José Nazal
Tempo de leitura: 3 minutos

 

 

Os clubes que brotaram, até agora, do território-marca de 1534 buscam nos seus nomes de batismo prestígios copiados extraterritorialmente, como Colo-colo, Flamengo, River, Vitória, e agora, um Barcelona menor

 

 

Sérgio Barbosa || serbarsil@gmail.com

A capitania dos Ilhéus foi reconhecida desde 1534 como promissor território capaz de gerar riquezas, uma vez povoado e explorado economicamente. Primeiramente com a cana de açúcar posteriormente com o cacau atravessou quatro séculos e ainda, hoje, agrega possibilidades com a indústria e os serviços da cultura e do turismo. O perfil de atividade econômica, daquele local, foi se ampliando na medida que o processo cultural da civilização foi compreendendo, em etapas ou eras, novas formas de ocupar e explorar o território nas suas potencialidades.

Sem dúvidas que foi a era da agri(cultura) cacaueira que, até agora, mais se expressou como perfil da cultura do território posto que se enraizou, também, na literatura e deu contornos saborosos ao locus com o imaginário da sensualidade e do amor de dois migrantes que se fundiram como uma explosão de sexo, pleno de liberdades e libertinagens num tempo de profunda rigidez social. Uma trama, do diabo que os deuses do cacau – theobroma – abençoaram.

O forjador dessa fundição, um grapiúna de raiz, deu sabores picantes ao território capaz de chamar a atenção do mundo por mais de século para essa terra de felicidade sem fim, cheia de histórias de amor, experiências, picardia e esperanças…

Jorge Amado, Gabriela e Nacib formaram um triângulo, longevo, rico de nuances que poderá impulsionar por mais outros séculos quem queira navegar nesta fórmula capaz de estimular curiosos amantes e consumidores a se interessar pela produção dessas terras de possibilidades, tal qual a cidade turística de Verona na Itália, que perdura no imaginário dos visitantes na sombra dos amantes Romeu e Julieta.

Assim percebeu, no seu tempo, um outro “imigrante suíço” – Hans Schaeppi – que, nos anos 1970/80, se consagrou ilheense, dentre outros feitos, ao batizar sua fábrica de chocolates com a marca raiz ILHEUS e “linkar” sua produção picante de marcas “Cacau do Nacib” e “Flor da Gabriela”.

Um marketing positivo para o território, invocando um registro de 1534 e abrindo vetores futuros de exploração de outras marcas como átomos dinâmicos de bom comércio e bons frutos. Hans Schaeppi estava bem posicionado no seu tempo e com ampla visão de um mentor de desenvolvimento para o território, mas parece não ter conquistado, ainda, bons seguidores no seu exemplo.

Assim dito, a cultura futebolística ilheense parecer ter inspiração inversa ao “suíço-Ilheense”, pois os clubes que brotaram, até agora, do território-marca de 1534 buscam nos seus nomes de batismo prestígios copiados extraterritorialmente como Colo-colo, Flamengo, River, Vitória, e agora, um Barcelona menor, cuja única identidade com a Catalunha, penso, é nenhuma e se apoia tão somente de momento do clube catalão ou talvez no desenho das bandeiras das cidades. E só.

Lastimável exemplo de demarketing territorial, e ausência de pertencimento, pois, uma vez crescendo o futebol desse clube, seus êxitos serão sempre remetidos a lembranças da cidade catalã que nem patrocina, sequer, nosso suor atrás da bola. Colherão, eles, os frutos sem plantá-los nem os regar.

Parece não ser razoável nem inteligente que a cultura das instituições ilheenses, de quatro centrão, se acomode com esses desperdícios de exposição que a mídia futebolística oferece, e, que o Itabuna, o Ceará, o Fortaleza e o Bahia desfrutam, muito bem, capitalizando suas marcas-territórios ao seu locus de berço.

Assim procedeu a indústria vinícola europeia, no século passado, a criar regras restritivas chamadas de “denominação de origem” vinculando as marcas dos seus “terroirs” com suas vinícolas. Cartão vermelho para qualquer um mortal que se atreva, doravante, a produzir um espumante de vinho com o rotulo de Champanhe exclusividade daquela região francesa que os deuses do comercio passaram a chancelar. É a mesma bebida que as corridas automobilísticas faz-nos beber como sinônimo de êxito e por elas pagar.

Oxalá os orixás nos ajudem a não permitir que os deuses do futebol não se motivem da mesma maneira das vinícolas e venham a exigir royalties pelo batismo-indevido ao nosso clube ilheense quando este se sagrar campeão.

Quem sabe se nossos orixás se unirem e lançarem fagulhas de criatividade e incendiarem, de espíritos “Schaeppianos” misturando à larva “Amadiana”, as novas lideranças dos traders Ilheensi de modo que doravante estejam vigilantes criando talvez um Ilheus-Theobroma F.C., uma SAF de uso múltiplo e arrendado a novos investidores na nossa Capitania. Uma ideia, bem-humorada, picante de desdobramentos e cheiro de século XXI.

Sérgio Barbosa é ilheense de coração nascido em Salvador.