Com três meses à frente da Prefeitura de Ilhéus, o prefeito Valderico Junior (UB) está diante de uma das decisões mais aguardadas do início do governo. O contrato da Viação São Miguel, concessionária do transporte público, vence no próximo dia 13, e cabe ao prefeito decidir se a empresa merece a renovação da concessão.
No debate público, predominam vozes pelo encerramento do vínculo administrativo, com direito a manifestações em vias públicas e discursos acalorados de vereadores. Uma ou outra voz destoa, lembrando as dificuldades que o extenso território ilheense impõe aos empresários do setor.
Ao PIMENTA, Valderico Junior ressaltou a atenção que tem dado ao transporte, o que o levou a participar de ao menos cinco reuniões com representantes das concessionárias. Nelas, cobrou maior cuidado com a manutenção dos ônibus, que, com frequência, envolvem-se em incidentes por falhas mecânicas e má conservação.
O prefeito reconhece que, até o momento, as empresas São Miguel e Viametro não entregaram as melhorias cobradas pela gestão. “Não está acontecendo”. Apesar de reconhecer os problemas, pondera que não pode agir de maneira impulsiva para decidir se renova ou não o contrato da São Miguel.
Na entrevista, também falou dos desafios para o início do ano letivo nas escolas municipais, as dificuldades decorrentes do bloqueio de recursos da Prefeitura, o enxugamento da folha salarial da Secretaria de Saúde e a interlocução com o governador Jerônimo Rodrigues e com as secretarias estaduais. Leia.
PIMENTA – Após três meses, qual é a síntese deste início de governo?
VALDERICO JUNIOR – Pegamos o município muito debilitado em todas as áreas. Não havia um serviço em pleno funcionamento. O município também sofre com o endividamento de gestões passadas. Só neste ano, cerca de R$ 30 milhões foram bloqueados. Sem os bloqueios, estaríamos em outro patamar. Esse valor representa, por exemplo, talvez metade dos recursos para [reurbanizar] a Soares Lopes, ou um terço de uma reforma na Central de Abastecimento do Malhado. São valores que poderiam ser investidos em obras estruturantes.
Como o senhor avalia os primeiros meses da nova gestão?
Buscamos melhorar a saúde, área mais demandada pela população. Na comparação de dezembro de 2024 com janeiro deste ano, aumentamos os procedimentos médicos em 67%, usando um quarto do orçamento [do mês anterior]. Estou falando de sair de uma folha de R$ 2 milhões para R$ 480 mil. Na educação, a mesma coisa. A gente passa por um processo seletivo e teve que fazer tudo ao mesmo tempo. [A Prefeitura] estava sem contrato para nada, para reformar colégios, estruturas. Ainda tem colégio necessitando de cadeira e várias outras coisas. Temos que ir pontuando, trazendo a legalidade do processo e parando de dar jeitinho. Tinha muito esse negócio em Ilhéus: dá um jeitinho para resolver isso. E não tem que ser assim. Temos que buscar a formatação que a lei exige para servir à população.
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População vai precisar de paciência.
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Já é possível destacar resultados positivos?
Estamos correndo para dar certo. Na infraestrutura, o secretário Gabriel Cerqueira é um engenheiro brilhante e tem o desejo de nos ajudar. Nesta semana, começamos a fazer asfaltamento na zona sul e no Iguape. Mas, a população vai precisar de paciência. A gente precisa de manilhas, mas ainda não tem licitação para isso. Temos a necessidade de sete a oito ambulâncias do Samu. Pegamos com duas funcionando e já viabilizamos mais três ambulâncias. Estive com os pais de crianças autistas e informei que encontramos – e já buscamos – uma van para o transporte escolar dessas crianças. A van foi destinada ao município, via emenda parlamentar, mas estava parada em Salvador há quase um ano. Quando soube, fui buscar na hora, porque um equipamento desse serve à população e já vamos fazer a entrega. Também vamos retomar obras travadas no governo passado, destravando verba parada na Caixa.
Duas obras do Governo do Estado em parceria com o município estão paradas, a cobertura do canal do Malhado e a duplicação da BA-001. A nova gestão alinhou com a Conder e com a Seinfra-BA o que precisa ser feito para retomá-las?
São processos distintos. Nossos secretários e engenheiros já estiveram na Conder. Fiz questão de estar presente nessa reunião para demonstrar que estamos tratando de gente, de gestão e não de política. Mostramos que o prefeito está muito interessado que a obra seja finalizada. Identificamos inconsistência no uso dos recursos da obra do Malhado [pelo governo anterior]. O município vai ter que prestar conta da gestão passada. O município já recebeu mais do que executou em obra. As medições estão atrasadas. Na zona sul, a segunda etapa da duplicação da BA-001 é de gerência total do Governo do Estado e a gente tem cobrado, insistentemente, o retorno da obra, até para não prejudicar mais um verão. Vamos fazer de tudo para resolver as duas obras o quanto antes, principalmente a do Canal do Malhado, que prejudica comerciantes e a população de uma forma geral.
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Não tenho dúvida de que ele [o governador] poderá fazer um grande trabalho conosco.
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O senhor já teve a oportunidade de conversar pessoalmente com o governador Jerônimo Rodrigues?
Não. Estivemos em secretarias, [conversamos com] alguns secretários, já estive com Jusmari [Oliveira, titular da Sedur], que nos recebeu duas vezes. Com o governador, ainda não tivemos a oportunidade. Estou me colocando sempre à disposição para dialogar, porque nós não temos partido nesse momento. Nosso partido é Ilhéus, e essa é minha bandeira.
O governador esteve em Itabuna recentemente e disse ao PIMENTA que essa conversa deve ser agendada para este mês de abril. Tem data marcada?
Não fui comunicado sobre isso. Estou à disposição. Temos feito a nossa agenda, mas, para chegar até o governador, tenho que ter uma pauta muito bem definida e alinhada, porque é assim que deve ser, é o processo. Quero entender primeiro quais os passos que ele pensa para a cidade de Ilhéus. Tenho os nossos pedidos, é claro, não pode ser diferente. Mas, não tenho dúvida de que estaremos em comunicação. Repito, independe de partido, nossa pauta vai ser Ilhéus. Ele tem voto em Ilhéus e nosso grupo também, e a gente quer o melhor para a nossa cidade e a região toda. Não tenho dúvida de que ele poderá fazer um grande trabalho conosco, e cada um sabe o seu papel.
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Vou cobrar do estado e do governo federal uma interferência [para a retomada das obras da Fiol].
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O senhor teve reunião com representantes da Bamin. O tema foi a paralisação das obras da Fiol?
A empresa veio comunicar ao município a paralisação momentânea da obra e informar que busca um investidor para poder tocar o projeto, que é muito sólido e vai acontecer, não tenho dúvida. Havia a expectativa da venda [do complexo Pedra de Ferro, Fiol e Porto Sul] à Vale, em março, não aconteceu. Por isso, eles estão tirando esses funcionários, metendo o pé no freio, mas continuarão com os projetos ambientais, as contrapartidas e a manutenção [do trecho já construído]. Eu fico triste, porque são de 250 a 300 pais e mães de famílias que vão ficar sem emprego, enquanto a gente precisa que a cidade seja pujante. Me coloquei à disposição e vou cobrar do estado e do governo federal uma interferência, porque a gente não pode deixar um projeto que já tem 60% dos serviços executados ficar parado.
Um assunto incontornável é o transporte público. A decisão de renovar ou não com a concessionária São Miguel já foi tomada? Martelo batido?
O caos do transporte é no Brasil todo. Ilhéus passa por um caos pior. Desde o início da nossa gestão, o município tem cumprido suas obrigações, cuidando das vias urbanas, das estradas rurais. Venho dialogando com as duas empresas. Foram cinco ou seis reuniões com diretores e proprietários, buscando realinhamento e cobrando efetividade. Chegamos ao consenso de que as empresas apresentariam 30 ônibus novos. Não só isso. O compromisso era de mudar tecnologia, ter sinal de wi-fi embarcado e, principalmente, cuidar da frota com a devida atenção, para que a população tenha o serviço prestado. E não é o que está acontecendo. Eu não estou aqui para perseguir ninguém nem para colocar ou tirar alguém. Quero servir da melhor forma à população. Hoje, a maior discussão é sobre o contrato de uma das empresas, que encerra agora no dia 13 de abril. Não posso agir por impulso. Buscamos todos os meios de fiscalizar e cobrar, para que o transporte seja requalificado. A empresa não atendendo, uma ou outra, tomaremos as devidas providências. Estou do lado da população e assim seguirei. Mas, por enquanto, se você me perguntar se está decidido, não está. Está sendo discutido e conversado.