“CANTA O MEU CORAÇÃO, ALEGRIA VOLTOU”
Mesmo que, sob os mais variados motivos, ele seja adiado, transferido, mudado ou impugnado, o Carnaval está à porta, e não há força capaz de impedir sua vinda, pois ele sobrevive em nossos corações. Então, mesmo desafinados (“é preciso cantar para alegrar a cidade”), cantemos jardineiras, auroras, pastorinhas, colombinas, cantemos até à beira do balcão, prá comprar fiado, se preciso for. Cantemos as mulheres, no geral e no particular, pois só elas têm o dom de devolver a este mundo a graça perdida. “Benditas sejam as moças”, disse um poeta chamado Antônio Maria (foto), antes de nos fazer cantar os versos de Manhã de carnaval, sobre melodia de Luiz Bonfá. É um casamento de música e texto do tipo “feitos um para o outro”. Mas se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água, não. E se a lei não quer que você dirija quando bebe, é só deixar de dirigir… Evoé, Momo!
Clique no play e confira Manhã de Carnaval, na interpretação de Emílio Santiago.
RACHEL, A CONSPIRADORA
A escritora Rachel de Queiroz (1910-2003), que nasceu junto com Itabuna, se identificava pela simpatia (marcada pelo sorriso de avó) e o sofrimento de jovem militante do Partido Comunista. Na ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945), foi presa e teve seus livros queimados em praça pública (a exemplo do também comunista Jorge Amado). Caminho de pedras foi feito na prisão, no Rio de Janeiro, em 1937. Tudo isso é verdadeiro, mas há um lado que a mídia mal informada ou a crítica conivente não tem mostrado ao público: Rachel, aos 54 anos, já deixara o PCB, virara trotskista e saíra pelo outro lado. Adquirira o perfeito e completo perfil da intelectual reacionária: quando os anjos vestidos de verde-oliva derrubaram um presidente, para “salvar” o Brasil da “ameaça vermelha”, a velha Remington da escritora cearense estava a serviço deles.
ADONIAS, O “GENERAL CIVIL”
A autora de O quinze, com aquele ar bondoso, jamais superou o ódio que devotara a Getúlio – chegando ao absurdo de transferir tal ódio para Jango e Brizola. Para o grupo dela, dito de liberais, Getúlio simbolizava “a reação, o fascismo, a aliança com o Eixo” – é o que está em Tantos anos, seu livro de memórias, já mencionado aqui. Convenhamos que classificar Jango como fascista é algo excessivamente criativo, mesmo para uma ficcionista (na verdade, Jango estava mais para alienado). O fato é que ela começa a conspirar com um grupo de generais (Golbery – “O satânico Dr. Gô”, Andrade Muricy, Sizeno Sarmento e outros, com a presença silenciosa do general Castelo Branco, seu parente pelo lado Alencar), em companhia do nosso Adonias Filho (foto), que Rachel descreve como “uma espécie de general civil”. As reuniões, às vezes “vigílias cívicas”, eram na casa da escritora, transformada em quartel-general do golpe. “O que nós fazíamos era conspiração mesmo: saber onde estava a tropa, o que tinha havido, se o coronel fulano tinha se manifestado, se o coronel beltrano era de confiança”, confessa.
DEPOIS VEIO O TEMPO NEGRO
Como jornalistas influentes, Adonias e Rachel procuravam manipular a opinião pública, em favor dos fardados. Ele era ex-presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e editorialista do Diário de Notícias; ela assinava uma coluna com muitos leitores (eu, inclusive), a “Última página”, na revista O Cruzeiro. Na voz da dona: “Eles me usavam como jornalista, eu opinava muito e era muito lida”. O baiano e a cearense se deixavam claramente usar pelos arcanjos que iriam mergulhar o País nas trevas, por duas décadas: “o lado político, de pregação, de jornalismo de combate, de artigos de encomenda, de nos trazerem assuntos para a gente falar, isso era o nosso trabalho”. Depois veio o tempo negro (1964-1985). Rachel de Queiroz estava no sertão do Ceará, quando soube do golpe – que ela, como todo simpatizante, chama “Revolução de 1964” – não pelo rádio ou pelo seu precário televisor movido a bateria de carro: o aviso a alcançou num telegrama assinado pelo “Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, presidente da República”. Castelo mostrou-se grato à romancista: ofereceu-lhe vaga no diretório da Arena, para “intelectualizar” o partido do governo (a entrada não se concretizou), e delegada do Brasil na Assembleia Geral da ONU, que ela aceitou.
RACHEL DE CORAGEM
Tempos depois, Costa e Silva (foto), que Rachel definia como “um sargento de poucas letras”, assumiu o governo e ganhou da escritora uma louvação, solicitada pelo amigo e parente Castelo Branco. “O presidente me obrigou a fazer um artigo sobre o primeiro mês do governo, artigo imparcial e até elogioso”, explica. Mais tarde, ela seria uma espécie de conselheira dos generais da ditadura. Médici a convidou para discutir o Funrural e Geisel fez a ela um convite para ser ministra – mimo que se repetiria com João Figueiredo e José Sarney (presidente civil, mas oriundo da Arena, o ninho dos generais). Mesmo os que reprovam em Rachel de Queiroz a colaboração com o golpe de 1964 e, posteriormente, com a ditadura que se instalou, hão de louvar a coragem com que a escritora, na obra citada, esclarece, mais de três décadas depois (e cinco anos antes de morrer), essa fase moralmente discutível de sua vida. Poucos envolvidos, até hoje, tiveram coragem de confessá-lo.
A PRESIDENTE OU A PRESIDENTA?
O correto jornalista Levi Vasconcelos (foto), d´A Tarde, comentando as eleições no progressista município baiano de Lajedo do Tabocal, assim se pronunciou: “… mas quem assumiu foi Lilian Nascimento (PDT), presidenta da Câmara (nosso, o grifo). E agora, minha gente, como ficamos: dona Lilian é presidenta mesmo ou é, conforme se lê por aí, presidente da Câmara? Para mim, nenhuma dúvida resta de que o velho Levi sabe do que escreve. Quando se fala de mulher é lógico que se empregue a forma feminina. Assim, presidenta é a melhor escolha. A Tarde, jornal a que o citado profissional presta serviços, vive uma crise de identidade quanto a este termo. Às vezes grafa a presidenta, noutras tasca a presidente. Os veículos de Itabuna e Ilhéus repetem a presidente, com uma só exceção: o Agora (herança de quando era editado por Walmir Rosário) escreve (e bem) a presidenta.
“A MINISTRO DILMA ROUSSEF”
Sem intenção de firmar jurisprudência (que sei eu?), imagino que a presidente nasceu por “contaminação” (os gramáticos chamam analogia) com palavras do tipo gerente, cliente, nubente, consulente – que têm os dois gêneros, quer dizer, não variam. Nesse grupo estão também docente, aderente, paciente, suplente, coerente, consciente, complacente, congruente, demente e muitas outras. Presidente é do grupo de parente, palavra masculina, tendo, portanto, uma forma feminina: o presidente, a presidenta; o parente, a parenta. Deve ser isso. Ou desconhecimento elementar da língua portuguesa. Basta olhar o dicionário e ver que presidenta é feminino de presidente. É curioso que a imprensa chama “a ministra Dilma Rousseff”, não “a ministro…”, e coisas parecidas: reitora, vereadora, prefeita, secretária, escritora… por que não presidenta – palavra que aparece como verbete independente no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e também no Houaiss e no Aurélio? O Houaiss, neste caso, até oferece um exemplo: “a presidenta da Nicarágua”.
RESPEITO AO GÊNERO FEMININO
Jornalista e filólogo, Marcos de Castro (ex-Rede Globo) nos dá uma explicação de ordem, digamos, ideológica. Para ele, essa construção esdrúxula (a presidente, que lembra o salsicha, quase nos força a um nó na língua) é fruto do machismo gramatical: a presidente lembra que o cargo é masculino e que estaria, ocasionalmente, ocupado por mulher. Diz lá o autor de A imprensa e o caos na ortografia (foto): “As mulheres vêm sofrendo, através da história, com a permanente situação de inferioridade para a qual são calcadas pelos homens. Mas é tempo de reagir com grandeza, não como fez há tempos uma bobalhona nos Estados Unidos comandando uma grotesca queima de sutiãs. É tempo de reagir de maneira séria, exigindo, por exemplo, que os cargos importantes, os cargos cuja ocupação exige um comportamento digno (que o Governo do Distrito Federal não seja luz a iluminar esse caminho) tenham tratamento através do bom e velho gênero feminino”.
SEM CAMISA, NÃO DÁ!
Num simpático restaurante ilheense, em companhia de gentil senhora mineira (turista a quem eu mostrava a cidade), discutíamos o cardápio, na busca da melhor opção. Eis senão quando adentraram o recinto dois caras de torso nu, como se estivessem na casa da Mãe Joana. Tão logo me recuperei da surpresa (e da vergonha pela senhora que me acompanhava), pedi ao gerente explicações sobre tão inusitado proceder. E dele ouvi, que esse costume de botocudo que era permitido, “por se tratar de uma cidade praiana”. Retruquei-lhe, de pronto, que não se tratava de praia, mas de bons modos, pois gente civilizada não frequenta local público sem estar adequadamente vestida. Ilhéus oferece, em ônibus, supermercados, bares e restaurantes, um espetáculo constrangedor: indivíduos exibem suas panças e, algumas vezes, chegam a mostrar partes íntimas do corpo, à frente e atrás. Os que fazem isso, tanto quanto quem os aceita e justifica, são carentes de educação fundamental. Mas, pelo visto, não adianta reclamar. Em nome da cidade, pedi desculpas à senhora mineira e fomos almoçar, por sugestão dela, no seu hotel, a portas trancadas, para evitar visitas inoportunas. Como se diz nas gerais (as do futebol): valeu!
<h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3>
<div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as