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Apesar de atuarem em campos opostos, o bancário Luiz Sena e o Tenente PM Souza Neto sempre foram amigos e, ao avistar o militar que vinha chegando para comandar a tropa, o comunista parte para ele e começam um bate-papo amistoso, com muita gesticulação por parte de Luiz Sena.

Walmir Rosário

Me lembro como se fosse hoje dessa história, passada ainda no tempo da ditadura militar que governava o Brasil, e é absolutamente verdadeira. Vi com os meus olhos que a terra há de comer, como diz um antigo ditado popular. Era uma greve geral de bancários em Itabuna e o sindicato da categoria mobilizava seus filiados em frente às agências do Baneb e do Bradesco, ambas na avenida do Cinquentenário.

Todos os bancários paralisados, os caixas eletrônicos sem cédulas e os funcionários com cargos de direção impedidos pelos grevistas de fazer a reposição, provocando uma confusão sem precedentes. Àquela época os cartões de crédito não eram populares como atualmente e a população encontrava sérias dificuldades em fazer compras, pois nem todos os estabelecimentos comerciais aceitavam o dinheiro de plástico.

Os cheques eram aceitos em praticamente todo o comércio, mas com algumas restrições, a mais comum delas a verificação junto ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), cuja consulta era feita por telefone. Nos supermercados as filas eram enormes e impacientavam os clientes e funcionários, que nada podiam fazer com acabar com o sufoco criado pela greve.

E como diziam os bancários, greve é para incomodar mesmo, do contrário não valia nada, não atingia os objetivos, fazendo com que as partes sentassem-se civilizadamente à mesa de negociação. Enquanto isso não acontecia, nas ruas, de um lado os grevistas, com faixas, cartazes e muitos discursos repercutidos no carro de som do sindicato, e de outro a Polícia Militar apenas observando o movimento paredista.

No comando da tropa, o ainda tenente Souza Neto – hoje coronel reformado – com parte do efetivo policial em frente a agência do Bradesco. Cerca de 100 metros a frente se localizava a agência do Baneb, onde o sindicalista Luiz Carlos Sena, empregado do Banco do Brasil e dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) incitava os camaradas para não esmorecê-los do movimento.

De vez em quando um cliente chegava para tentar sacar algum dinheiro e era prontamente impedido pelos bancários grevistas, que não permitiam o seu ingresso na antessala da agência, local dos caixas eletrônicos. A agonia e impaciência do cliente era motivo de galhofa dos grevistas, que diziam para ele se virar, pois agora quem mandava nos bancos era o sindicato. Ali ninguém entrava.

E, ainda por cima, sugestionavam que o cliente fosse convencer os donos dos bancos para aumentar o salário dos bancários, e as agências voltariam a funcionar imediatamente em todo o Brasil. E, bandeiras do sindicato e da CUT em punho, amedrontavam o pobre do cidadão, que nada tinha a ver com a briga entre patrões e empregados, com o discurso marxista da mais valia.

E a Polícia Militar tinha ordens expressas para não recrudescer e apenas olhar, manter a calma e somente intervir caso a situação ficasse fora do controle. Os policiais no lado de fora do passeio, parte dos grevistas – a chamada comissão de convencimento – postada em frente às portas das agências bancárias e outra parte no interior, para garantir que ninguém conseguisse ludibriar os companheiros de fora.

Numa cidade como a Itabuna do começo dos anos 1980 todos – policiais e bancários – se conheciam e nas horas mais tranquilas chegavam mesmo a bater papo com a finalidade de diminuir a tensão. E assim passavam os dias postados em frentes aos bancos, cumprido ordens: Os bancários para não deixar os clientes ter acesso ao interior do banco e os policiais militares para evitar qualquer tipo de confronto.

E esse clima amistoso permanecia também entre os dirigentes sindicais e o comando da tropa, que mantinham distância somente nos momentos mais tensionados, até que a situação voltasse à normalidade. Apesar de atuarem em campos opostos, o bancário Luiz Sena e o Tenente PM Souza Neto sempre foram amigos e, ao avistar o militar que vinha chegando para comandar a tropa, o comunista parte para ele e começam um bate-papo amistoso, com muita gesticulação por parte de Luiz Sena.

Ao perceber Luiz Sena apontando o dedo para ele a todo o momento, mesmo sendo o teor da conversa sobre amenidades, o Tenente Souza Neto não titubeou e segurou a mão de Luiz Sena com força e ainda lhe passou um sermão:

– Tire seu dedo da direção do meu rosto, pois seu povo está olhando e pensando que você está me pagando “sugesta” e meus comandados tendo a impressão que estou fraquejando, o que pode desencadear alguma animosidade. Aqui, quem foi treinado para bater fui eu, e para apanhar foi você – gritou Souza Neto, jogando a mão do sindicalista para trás, diante do espanto dos bancários.

Mas tudo terminou bem!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Para o eleitor que ainda tem dúvida sobre quem representa de verdade o antifernandismo, que vem fazendo oposição ao governo municipal desde o início da administração, é só perguntar ao próprio Fernando Gomes quem ele quer mais derrotar.

Marco Wense

Nenhum resquício de dúvida ou expectativa : Fernando Gomes deixou o enigma de lado. É novamente pré-candidato a prefeito de Itabuna, salvo engano pela sétima vez. Colocou o sobrinho Son Gomes como vice. A chapa não é puro-sangue no sentido partidário, já que o alcaide é do PTC e o ex-secretário de Administração do Republicanos. Mas é uma composição puro-sangue familiar.

O gestor do cobiçado Centro Administrativo Firmino Alves, além do PTC e Republicanos, conta com o apoio do Solidariedade, PMN e do PSL. O maior desafio de Fernando é diminuir o alto índice de rejeição apontado em todas as pesquisas de intenções de voto. Tem pela frente um forte sentimento de mudança que toma conta de quase 65% do eleitorado, dispostos a não votar em quem já governou a cidade, o que termina atingindo os ex-prefeitos Geraldo Simões (PT), capitão Azevedo (PL) e Claudevane Leite (PROS).

Com Fernando Gomes na disputa, o cenário político muda totalmente. O fernandismo continua encrustado em uma parcela significativa do eleitorado. Por outro lado, vale lembrar que nenhum chefe do Executivo conseguiu ser reeleito. O tabu da reeleição não foi quebrado, permanece virgem. O último a sofrer com a “maldição” foi o capitão Azevedo.

A candidatura de Fernando é um terremoto no staff de Azevedo. A próxima pesquisa, já com o nome do atual prefeito, deve apontar uma queda do militar. Tenho dito que não há espaço suficiente para dois postulantes populistas, que tem o mesmo reduto eleitoral. O criador e a criatura têm o mesmo manual para conquistar o voto, seguem a mesma cartilha.

Outro prefeiturável que será prejudicado com a candidatura de Fernando é Geraldo Simões (PT). Fernando candidato é a certeza de que o governador Rui Costa ficará distante da sucessão, sequer uma declaração de apoio ao colega petista. Com efeito, o que se comenta nos bastidores do Palácio de Ondina é a frieza de Rui Costa com o “companheiro” Geraldo, que anda esquecido pela cúpula estadual do PT. Do seu lado, em termos de liderança e de apoio verdadeiro, somente o senador Jaques Wagner, que é um companheiro (sem aspas).

É evidente que Fernando não terá mais a expressiva votação da sucessão de 2016. Mas ficará entre os três primeiros nas pesquisas. Na pior das hipóteses em terceiro lugar. A disputa será entre Fernando, Mangabeira e Augusto Castro.

A vantagem de Mangabeira (PDT) em relação a Augusto Castro (PSD) está assentada no antifernandismo, já que o pedetista é visto como o mais antifernandista de todos os prefeituráveis. O antifernandismo é um bom e invejável cabo eleitoral, assim como foi o antipetismo na eleição de Bolsonaro.

Augusto, além de ter sido por um bom tempo aliado de Fernando Gomes, é da base de sustentação política do governador Rui Costa, hoje bem próximo do atual gestor. O chamado voto útil para evitar uma vitória do fernandismo e do seu líder maior, será direcionado para o candidato do PDT.

Para o eleitor que ainda tem dúvida sobre quem representa de verdade o antifernandismo, que vem fazendo oposição ao governo municipal desde o início da administração, é só perguntar ao próprio Fernando Gomes quem ele quer mais derrotar.

Concluo dizendo que com Fernando Gomes disputando sua própria sucessão, Azevedo e Geraldo passam a ser cartas fora do baralho de uma sucessão que caminha para ser acirrada e, infelizmente, impregnada pelo jogo sujo.

Marco Wense é articulista do Diário Bahia.

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O Caboclo se encontrava no merecido período de férias, que gozava na aprazível capital alagoana – Maceió – com sua esposa, integrando uma caravana do não menos impoluto radialista itabunense Cacá Ferreira, o que justifica a ausência

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Cliente assíduo por mais de 40 anos do ABC da Noite, o jornalista canavieirense aposentado Tyrone Perrucho, passeando por Itabuna, resolveu dar as caras para tomar umas batidas e rever o amigo Caboclo Alencar. Flanou pelo centro da cidade olhando as vitrines das lojas da avenida do Cinquentenário e adjacências até que chegasse o horário do Caboclo abrir as portas, exatamente às 11 horas, como manda a tradição.

E às 10h55min se apresentou e postou-se em frente ao estabelecimento, como um daqueles alunos rebeldes, ausentes do ABC da Noite por anos a fio, esperando ser o primeiro a se apresentar ao Caboclo como um aluno repetente. Mas eis que nesta fatídica quarta-feira o Caboclo Alencar não cumpriu o prometido, conforme a placa afixada na parede com o horário de funcionamento.

Mas o velho aluno não se fez de rogado e continuou postado no passeio aguardando a abertura para ter a primazia de ser o primeiro a se deliciar com uma batida de tamarino ou gengibre – de acordo com a linha de produção do dia. Exatamente às 11h27min, olhou em sua volta e se deparou com outros fregueses, que assim como ele, aguardavam ansiosamente o horário de abertura.

Mas nada do Caboclo! Pelo olhar que dirigiam ao ABC da Noite – fechado –, pareciam crianças perdidas no meio da multidão à espera da mãe, que nunca aparecia. Eis que então, tomado por uma atitude impensada, dá mais uma olhada no aparelho celular para conferir o horário, confabula com os outros clientes rejeitados e toma a decisão de ir embora, sem voltar a se deliciar com as maravilhosas batidas do Caboclo Alencar.

Maravilhosas, deliciosas, apetitosas, tanto faz, e o desocupado Tyrone Perrucho, sentido o seu orgulho de cliente ferido, resolve ir embora, voltar para sua Canavieiras sem “molhar o bico” e tirar dois dedos de prosa com o Caboclo. Apesar da grande amizade que os une, Tyrone se sentiu traído, por sempre espalhar pelos quatro cantos do mundo a precisão britânica, guiada pelo relógio suíço de Caboclo Alencar, obediente aos horários de abertura e fechamento.

Antes de dar a meia volta e retornar a Canavieiras para dar expediente na Confraria d’O Berimbau, estabelecimento que não prestigia os horários, desde que cheguem após as 10h51min, fez questão de mirar seu celular para a frente do ABC da Noite e clicar uma foto. Da próxima vez que voltar a Itabuna irá exibi-la ao Caboclo com o olhar de reprovação pelo desleixo num dos costumes mais tradicionais da cidade.

Mas o jornalista não foi o primeiro a dar as caras nas portas fechadas do ABC da Noite em horário de pleno expediente, colegas frequentadores tantos já tiveram o mesmo dissabor ao não poder se deliciar das saborosas batidas antes do almoço. Chegam, se postam em frente do ABC e ficam esperando que, como num passe de mágica, o Caboco Alencar apareça do nada para servir sua batida predileta.

Como um filhote de pássaro à espera da mãe para regurgitar o precioso alimento, olham para as portas esperando que se abram, olham para o relógio e não se conformam com o descumprimento do horário. Aos poucos outros vão chegando e se associando ao misterioso sumiço do Caboco, que sem mais nem menos deixa os clientes como filhotes famintos abandonados no ninho.

Ia me esquecendo, e deixo aqui os devidos esclarecimento para os desavisados: Uma placa de bronze fixada na parede proclama os horários de abertura e fechamento do régio expediente: De segunda a sexta-feira: das 11 às 12h30min e das 17 às 19 horas; aos sábados, das 11 às 12h30min; sem expediente aos domingos. De minha parte, acho um exagero a atitude do exigente Tyrone Perrucho, afinal, aos 89 anos bem vividos, que mal faz o caboclo relaxar o horário de vez em quando?

Relaxado não é adjetivo para ser aplicado na impoluta figura do Caboclo Alencar, considerado uma autarquia nos meios em que frequenta. O Caboclo se encontrava no merecido período de férias, que gozava na aprazível capital alagoana – Maceió – com sua esposa, integrando uma caravana do não menos impoluto radialista itabunense Cacá Ferreira, o que justifica a ausência.

Tyrone Perrucho que marque outra viagem a Itabuna!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Âncora ao mar, barco amarrado na ponte, seguimos desfazendo a curiosidade alheia e a bronca das mulheres. E fizemos o primeiro pit stop etílico no “Bem-me-quer”, ponto de origem de toda a fofoca sobre nossas quase mortes no mar da Baía de Paraty.

 

Walmir Rosário

O ano era 1977 – salvo melhor juízo – período em que retornei de Salvador para Paraty (Rio de Janeiro). À época, com a BR-101, a cidade passava por uma transformação, porém ainda mantinha seu espírito bucólico, em que prevalecia a amizade, apesar da recém-chegada onda consumista. A chegada do progresso era fato e todos queriam se beneficiar dele e de seus efeitos, mas de forma honesta, no pensamento de alguns.

Entre as atividades em ascensão a produção de cachaça era a mais promissora delas, notadamente para quem conhecia do ofício, como Eduardo Mello, o Eduardinho, fiel seguidor dos ensinamentos do seu pai, Antônio Melo, produtor – por anos a fio – da cachaça “Quero Essa”. Com a venda da Fazenda Boa Vista, os novos proprietários – industriais paulistas, creio eu – fecharam o alambique, deixando órfãos uma legião de cachacistas apreciadores do bom e precioso néctar da cana.

E nada tirava da cabeça de Eduardinho continuar a desempenhar o mister aprendido por anos e anos, plantando, colhendo, moendo cana e destilando o seu caldo até chegar ao ponto ideal da excelente cachaça. Não é de hoje que a cachaça de Paraty era cantada verso e prosa Brasil afora, e a semelhança não é mera coincidência, Paraty cidade, paraty cachaça, da boa, como convém aos apreciadores mais entendidos.

Até que chegou a oportunidade de ouro para o filho de Antônio Mello. Após várias tentativas, eis que um dos bons produtores de cachaça, o Ormindo, que fabricava a Coqueiro, pretendia se aposentar. Por outro lado, Eduardinho, que se aposentara precocemente e temporariamente, queria voltar a trabalhar, alambicar cachaça, cachaça do mesmo padrão de qualidade da “Quero Essa”, ou da “Vamos Nessa”, feita pelos seus avós. Era o caldo de qualidade, no fogo adequado.

E para fechar o negócio, marcamos a viagem para a Sexta-feira da Paixão como o “Dia D”. Tudo de forma bem planejada numa das muitas noitadas dançantes no Paratyense Atlético Clube. A contragosto, mas com responsabilidade, cerca de meia-noite saímos da boemia com o compromisso de estarmos de prontidão às 6 da manhã no cais e zarpar para o encontro com o Ormindo, na Fazenda Engenho D’água.

No horário aprazado, lá estávamos nós – eu, Eduardinho, seus irmãos Neguinho (Antônio Carlos) e Luiz (Piranha), além de Jorginho, este amigo e dono do barco que nos levaria ao então alambique, cujo único meio de comunicação era o marítimo. Apesar de cedo, já encontramos aberto o bar “Bem-me-quer”, do Edmir, e encomendamos nossas provisões (víveres) para a viagem. Do pedido constaram 24 latas de cerveja Skol em latas, carteiras de cigarros (ainda tínhamos esse péssimo vício) e 10 sanduíches de filé.

A manipulação dos sanduíches foi prontamente rechaçada pela cozinheira Madalena, que se recusou a cometer tal heresia:

– Comer carne na Sexta-feira Santa é um sacrilégio e Deus vai castigar quem fizer e quem comer – se desesperou Madalena.

Após várias intervenções de Edmir, finalmente, muito a contragosto, Madalena preparou os (mal)ditos sanduíches e rumamos para embarque na Kombi (assim era chamado o barco de Jorginho, pela sua aparência com o veículo fabricado pela Volkswagen). Após umas três cervejas e dois sanduíches de filé, finalmente chegamos à fazenda de Ormindo.

Negócio fechado, comemoramos com mais um litro de Coqueiro e alguns mergulhos no mar. Ao pôr do sol resolvemos rumar de volta para Paraty, fazendo planos para a mudança do alambique e a nova produção. Ávidos para chegar à cidade com as boas notícias, demos mais um mergulho no mar, bebemos mais uma Coqueiro “zuleika” (com folhas de tangerina) e subimos no barco.

Tudo era festa, até notarmos os primeiros sinais de problema no motor da “Kombi flutuante”, que começou a perder força. Diagnóstico feito na hora, era a junta do cabeçote que tinha queimado. Alegres e satisfeitos com a aquisição do alambique, não nos afobamos e a cada cinco ou dez minutos desligávamos o motor até que esfriasse, para navegarmos mais um bom pedaço.

Se os problemas do barco não nos afligia, situação diferente se passava na cidade, após constatado o nosso sumiço. No bar, Madalena não se cansava de pregar os castigos de Deus com os hereges que se atreveram a comer carne na Sexta-feira da Paixão, desafiando os desígnios de Deus. Aos poucos, nossas famílias foram para o cais, apavoradas com a demora do regresso, a notícia “corria costa” e as versões superavam o fato.

De boca em boca, Deus tinha feito justiça e castigado os hereges, que perderam-se no mar, naufragando com o peso dos pecados. No mar, cumpríamos nosso encargo de navegar e parar para esfriar o motor. Enquanto isso, o povo não arredava o pé do cais, para o desespero de nossas famílias.

Persistentes, nós sobreviventes de um quase acidente marítimo, fomos nos aproximando da cidade. Para nossa alegria, já avistávamos as luzes. Ligávamos o motor…logo em seguida desligávamos, e assim nos aproximávamos do cais.

E esse calvário continuou até as 21 horas, quando aportamos, para o alívio e felicidade geral. Âncora ao mar, barco amarrado na ponte, seguimos desfazendo a curiosidade alheia e a bronca das mulheres. E fizemos o primeiro pit stop etílico no “Bem-me-quer”, ponto de origem de toda a fofoca sobre nossas quase mortes no mar da Baía de Paraty.

E, juntos, pedimos ao Edmir uma Coqueiro e à Madalena mais um sanduíche de filé para comemorar a nossa ressurreição!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Em tempos de Covid – 19 e de cenário econômico previsivelmente recessivo, modificar toda a estrutura documental e de layout por causa da ausência de registro da marca não é medida de gestão eficiente, sendo muito mais rentável e economicamente viável a prévia proteção de um dos mais valiosos ativos que uma empresa pode ter, pois a conecta diretamente com sua clientela.

Mateus Santiago || mateus.santiago@gmail.com

Mesmo em tempos de pandemia, com o comércio funcionando de forma diferenciada, percebe-se que a preocupação com a proteção de um importante ativo das empresas está viva. Tem-se visto importantes estabelecimentos comerciais da cidade mudando seus layouts em virtude da intervenção de titulares da marca cujo registro pré-existente os torna proprietários do símbolo e senhores de sua exploração comercial.

A Lei da propriedade industrial no Brasil sinaliza que as marcas são “sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais”. A norma ainda caracteriza a marca como “aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa”.

Desta forma a marca é o símbolo que tem a função de diferenciar um item específico de outros que podem ter função e qualidades semelhantes, com a clara intenção de atrair consumidores ou mesmo facilitar o acesso ao referido produto ou serviço particularizado.

Para que ocorra a proteção e exploração exclusiva da marca dentro de um ramo de atividade, é necessário que se proceda o registro, feito através de uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Economia, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o que torna o titular da marca autorizado não só a explorar esse ativo econômico, mas também para determinar quem pode utilizar o símbolo em sua atividade, o que se faz através de cessão ou licença.

O registro e a exploração do ativo marca trazem consigo benefícios consideráveis. Segundo Domeneghetti e Meir (2009), a marca é um dos ativos intangíveis mais valiosos e um elemento capaz de trazer estabilidade econômica para a empresa. Basta olhar para conhecidas empresas multinacionais em que a marca é mais valiosa do que propriedades e outros bens físicos.

Em termos gerais, o registro da marca confere proteção contra terceiros que a utilizam de forma idêntica ou com estrutura que se assemelha à original, com o objetivo de evitar confusão nos consumidores já familiarizados com a marca de tempo maior no mercado.

Apesar da necessidade de proteção da marca, inclusive como forma de ter assegurada a possibilidade de uso e exploração, cuidando-se para não ter anos de trabalho perdidos pela necessidade de modificação do nome do estabelecimento e correr o risco de ter de responder judicialmente por perdas e danos e eventuais indenizações e prejuízos, o número de empresários que protegem sua marca precisa melhorar, para se evitar o risco de ver anos de trabalho em reputação e credibilidade se perderem.

No ano de 2018 o Sebrae, por meio de uma pesquisa em todo território nacional entre donos de pequenos negócios, identificou um baixo índice de aproveitamento da marca como ativo e uma notória ausência de proteção. Dos entrevistados, 81% (oitenta e um por cento) não fizeram registro de marca no INPI, sendo que a maioria possuía um nome ou símbolo passível de registro junto ao INPI.

Em tempos de Covid – 19 e de cenário econômico previsivelmente recessivo, modificar toda a estrutura documental e de layout por causa da ausência de registro da marca não é medida de gestão eficiente, sendo muito mais rentável e economicamente viável a prévia proteção de um dos mais valiosos ativos que uma empresa pode ter, pois a conecta diretamente com sua clientela.

Mateus Santiago S. Silva é advogado no escritório Harrison Leite Advogados Associados, presidente da Comissão Especial de Propriedade Intelectual da OAB/BA Subseção de Itabuna – BA e mestrando em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (Profnit-Uesc).

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Pra não dizer que esqueci dos R$ 16 bilhões da medida provisória, para os municípios esses recursos chegam na hora H, agora que falta um pequeno tempo para as eleições municipais e poderão ter outro destino que não aquele prioritário.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Na terça-feira (18), os prefeitos e governadores comemoraram a sanção da medida provisória 938 pelo presidente Bolsonaro, que destina R$ 16 bilhões aos estados e municípios brasileiros. Esses recursos reforçarão o Fundo de Participação dos Estados e Municípios para compensar as perdas de arrecadação durante o fechamento da economia, anotada no livro de contabilidade da pandemia da Covid-19.

Esses recursos não chegarão de vez aos cofres desses entes federativos, mas representam um novo esforço do governo federal para equilibrar as contas dos estados e municípios, muitos em situação financeira difícil, o que não representa nenhuma novidade. Não é de hoje nem de ontem que deixaram de fazer o dever de casa, gastando (diferente de investindo) mais do que arrecada.

E agora, com a pandemia, têm a oportunidade de refazer suas combalidas contas com a providencial ajuda. Mesmo sem números e estatísticas para apresentar, não tenho receio de dizer que, se caiu a arrecadação nesse período – por conta do lockdown –, também diminuíram as despesas, haja vista que muitos dos serviços que deveriam ser prestados deixaram de ser realizados.

Mas o conceito do princípio federativo é esse mesmo. O Brasil é um grande país, com entes federativos autônomos em determinadas competências e que devem ser socorridos pela União nas dificuldades. E ao longo dos anos tem sido sempre assim: socializam as dificuldades e mantêm a individualidade no período de bonança. É o mesmo que fazer mesura com o chapéu alheio.

De vez em quando nos chegam notícias de que determinados municípios ou estados resolvem “apertar os cintos” com a finalidade de equilibrar as contas, restringindo as despesas, para o desespero de alguns setores. Como costumo repetir, instituições públicas não recebem herança, não fazem grandes negócios e tampouco ganham milhões nas diversas loterias coordenadas pela Caixa Econômica Federal, que dirá no jogo do bicho.

Os que resolvem partir para o caminho do equilíbrio sempre se dão bem, com resultados positivos após o fechamento de torneiras, nas quais despejavam o dinheiro do coitado do contribuinte e esvaiam-se as esperanças por um futuro melhor. E o futuro começa a ser presente, com os recursos disponíveis para os investimentos e custeio na máquina pública, antes direcionados para setores nem sempre recomendados.

Mais fácil que “apertar os cintos” é construir a narrativa com os velhos e carcomidos chavões de terem recebido “uma herança maldita”. Como dizem que o feitiço vira contra o feiticeiro, a narrativa se perpetua pelos quatro anos de desesperança. E o motivo é simples: a cada 10 dias chega uma parcela do Fundo de Participação; todas as terças-feiras é depositado o ICMS, todos os dias pinga o pagamento de tributos municipais. Cofres sempre cheios.

Uma vida bem diferente da iniciativa privada, em que o empreendedor tem que “matar um leão por dia” (não me levem a mal, é apenas no sentido figurado) para que possa abrir as portas do seu negócio no dia seguinte. Paga os impostos, os funcionários, os fornecedores, o aluguel do imóvel e, caso sobre algum trocado, investirá na aquisição de alimentos, vestuários, escolas de filhos, dentre as demais obrigações familiares.

Pra não dizer que esqueci dos R$ 16 bilhões da medida provisória, para os municípios esses recursos chegam na hora H, agora que falta um pequeno tempo para as eleições municipais e poderão ter outro destino que não aquele prioritário. Em outros, por certo, chegarão em boa hora e serão providenciais para o atendimento das necessidades mais prementes da população.

Em alguns municípios o caixa da saúde está superlotado, acumulado desde os primeiros repasses do governo federal nas contas bancárias, embora a destinação correta deveria ter sido a aquisição de equipamentos e medicamentos para a prevenção da Covid-19 e o protocolo precoce. Apesar do carimbo, muitos gestores dão pouca importância à seletividade por confiar nas engenhosas prestações de contas.

As eleições se aproximam e os cuidados com as despesas devem ser redobrados, notadamente nos municípios que muito recebem e utilizam esses recursos de forma estropiada e eleitoreira. No meio político existe um ditado considerado infalível, que diz mais ou menos isso: O prefeito sai da prefeitura, mas a prefeitura nunca sai dele, é uma cumplicidade que dura para o resto da vida.

Espero que isso nunca aconteça, mas…

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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De vez em quando faz uma vítima. Uns pelas visitas da Polícia Federal e Ministério Público, outros pela perda do cargo e dos valores em reais e dólares que costumam guardar em casa.

 

Walmir Rosário

O Coronavírus chinês está dando o que falar em todo o mundo, mas no Brasil chegou às raias do absurdo, pois deixou de ser tratado como doença e a Covid-19 perdeu seu status de exclusividade na ciência médica e biológica. A cada dia estou mais convencido que o ex-presidente francês Charles De Gaulle teria mesmo dito aquele célebre frase, desmentida exaustivamente: “O Brasil não é um país sério”.

Não quero criar polêmica com ninguém, nem os historiadores que dedicaram anos de pesquisa para descobrir se a verdade era mesmo verdade, ou seria mais um caso de fake news (e olha que esse nome era só coisa de americano). Tampouco quero confusões com os médicos, aqueles que costumeiramente costumam enterrar seus erros, como teria dito o Barão de Itararé, ou outro confusento qualquer deste país.

Mas, como ia dizendo, esses estrangeiros não conhecem o Brasil e pensam que tudo por aqui funciona como conforme os costumes ou ao pé da letra na medida do planejado pelos nossos especialistas. Erroooouuuuu, como gritava a pleno pulmões o ex-árbitro de futebol e comentarista esportivo radiofônico Mário Vianna (com dois enes). Aqui a parada é mais embaixo e vai funcionar como a turma decidir.

Pra começo de conversa, a Covid-19 perdeu todos os status que ostentava e ainda ostenta no exterior. Primeiro, na economia passou a ser uma simples estatística, mesmo assim sem credibilidade, cujos números são questionados a três por dois, como diziam os vendedores de bala de antigamente. Se pensava que destruiria o antes frágil mercado brasileiro, quebrou a cara. Nunca se consumiu tanto e com tanta seletividade.

A cada manchete que lemos o balanço das exportações nos dá um monte de vantagens nas vendas ao exterior, como não víamos há dezenas de anos. Classificaram a carne e vegetais como suscetíveis ao vírus, mas esses produtos nem deram bola e desembarcam no costado dos transatlânticos dia e noite rumo a outros países. Nunca se fez tanto churrasco e até o leite se revigorou, pois não se vê mais choradeira dos pecuaristas.

Se estamos exportando a todo o vapor, o consumo interno é dos melhores. As cervejarias estão dando risadas e batendo recordes de produção. Nunca os repositores de supermercados trabalharam tando para repor as mercadorias e já pensam em pedir aumento de salário. Também, o dia inteiro em casa sem ter o que fazer… Quer dizer, menos a turma do home office, que tem que entregar sua produção.

Na medicina não deixou por menos e criou um bate-boca dos diabos (cruz-credo) entre os profissionais da medicina, que ainda aos 60 minutos do segundo tempo não conseguiram marcar o gol da vitória. A cada chute pra frente, com todo o apoio das torcidas, não conseguem fazer com que a bola chegue às redes. E catimba é que não falta nesse vai e vem de jogo duro. Bola pro mato que o jogo é de campeonato.

Pelo visto, as mudanças também são vistas a olho nu nos campos da sociologia e antropologia, com as desobediências às ordens gerais do fique em casa, que não pegou como queriam. Ora, aqui é o Brasil. Tem coisa que pega, outras não, a exemplo das leis ordinárias (fico em dúvida se a palavra ordinária não seria na frente da palavra lei, mas deixa pra lá) e a constituição. Sem falar nas quarentenas solidárias e comunitárias.

Estrago mesmo a Covid-19 causou foi na política. Coisa nunca vista desde o Império até a República, passando pelos períodos mais crespos. Não há fundamento de marketing que resista por muito tempo. Com as redes sociais em pleno movimento, os dedos trabalham nas telas dos smartfones com mais velocidade e precisão de que os consagrados mocinhos americanos nos gatilhos dos revólveres nos filmes de faroeste.

E de vez em quando faz uma vítima. Uns pelas visitas da Polícia Federal e Ministério Público, outros pela perda do cargo e dos valores em reais e dólares que costumam guardar em casa. Enquanto uma nova turma nada de braçadas em mar de almirante, sem se preocupar com o peixe que está vendendo, entregue sem qualquer tipo de embalagem bonitinha e ou cheirosinha.

Sem tirar a lente da câmera dos smartphones em direção às autoridades um só segundo, nem mesmo aquelas fotos para pose na hora da vacina são vistas e “engolidas” sem mais nem menos. Na mesma hora, uma equipe de especialistas é posta em ação, e os mínimos detalhes são analisados tintim por tintim, pelos mais variados ângulos, de forma meticulosa, para saber se a agulha perfurou ou não a epiderme e derme do indivíduo.

Em alguns casos, como aconteceu com o mais marqueteiro dos governadores, os especialistas descobriram que a foto não era da aplicação de uma vacina chinesa contra a Covid-19 (valha-me Jesus!) e sim de uma reles vacina contra a gripe, uma gripezinha qualquer. Como se isso não bastasse para o trabalho de desconstrução, os especialistas ainda descobriram que a foto foi clicada em data retroativa. Bastou cruzar os dados.

A Covid-19 que se cuide, seus dias estão contados. Assim espero.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Sítio Histórico de Canavieiras, no sul da Bahia
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Atualmente o canavieirense vive de lembranças, das boas lembranças em que Canavieiras sediava constantemente eventos regionais e um dos seus maiores produtos de marketing, o caranguejo.

Walmir Rosário || walmirrosario.blogspot.com

Em todos os eventos realizados em Canavieiras frequentemente lemos ou ouvimos loas sobre os benefícios econômicos ou financeiros advindos desses festejos (só festas, mesmo), para tentar convencer à sociedade sobre as vantagens de contratar bandas e cantores (nem tão famosos). Por si só, essa é uma demonstração de que o caminho tomado não é o mais adequado a ser seguido.

Pode até tentar explicar, mas não convence, principalmente aos mais críticos, que não devem ser chamados de oposição, aves de má agouro e outros adjetivos pejorativos, como se fossem apenas arautos de futricas. Os recursos públicos devem ser aplicados com transparência e os questionamentos são válidos e necessários, no sentido de corroborar, ou não, as ações dos gestores.

As contas do turismo não são tão simplórias como alguns gestores acreditam, pois não são lastreadas de cunho científico, pois não existem informações sobre os equipamentos de hotelaria (pousadas, restaurantes e bares) para avalizar as assertivas. Também não há nenhuma informação sobre os que aqui vêm, os motivos e o montante dos recursos que pretendem gastar.

Outra grande falácia é a divulgação aleatória do número de pessoas presentes em um determinado evento e quando eles gastam, sem qualquer informação sobre a condição financeira e a disposição de entregá-lo aos donos de restaurantes, bares e “capeteiros”. Também seria de importância fundamental a origem desses festeiros, de onde vieram – Itabuna, Ilhéus, Santa Luzia, Camacan, ou dos bairros de Canavieiras.

Portanto, nada mais falso que prestar informações inverídicas. O que deveria ser informação passa a ser desinformação propositada com intenção de enganar os incautos para escamotear a verdade, a falta de conhecimento. Mas o desconhecimento da atividade turística não é um referencial de Canavieiras, mas de centenas de municípios brasileiros que brincam de explorar o turismo.

Sem trocadilho, exploram o turista duplamente: primeiro, pela propaganda enganosa do que oferecerá; segundo, por cobrar preços não condizentes com a realidade oferecida, deixando-os insatisfeitos. E a culpa é de quem? Do poder público? Da iniciativa privada? De ambos? Acredito que de todos os envolvidos, resguardando alguns empresários que conseguem sair da mesmice reinante e encantando meia dúzia de clientes.

As questões estrutural e conjuntural convivem de braços dados como dois amigos que se detestam mas não têm coragem de promover o rompimento do status quo, vivendo de tapinha nas costas, na presença, e falando mal quando distantes. As iniciativas pública e privada sabem quais são os problemas que os afligem, embora não tenha coragem de tentar solucioná-los.

O que estou dizendo pode ser comprovado por qualquer cidadão, basta acessar os planos de governo apresentados à Justiça Eleitoral, quando o gestor, ainda candidato, prometeu o que faria se eleito. Todas as propostas indicam – mal ou bem-apresentada – a transformação do modelo turístico do sazonal para o perene, “garantido” a geração de emprego e renda a todos.

E até que Canavieiras já tentou mudar o seu estilo turístico, mas esbarrou nas mudanças de gestão. Tivessem dado continuidade ao Projeto Canes, teríamos hoje empreendedores com experiência na área e mais turistas frequentando as nossas praias. Digo praias, mas acrescento a beleza do casario do apogeu do cacau, da riqueza ambiental dos manguezais e da mata atlântica, do cacau simbolizado pela fazenda Cubículo.

Não houvessem jogado ao lixo os recursos para a construção do projeto de requalificação e urbanização da praia da Costa, nas avenidas Beira-mar e Tucunarés, bem como do Parque Ecológico Luís Eduardo Magalhães, com a Passarela do Robalo e o Caminho da Fé, por certo a situação seria outra. Claro que não estamos falando da salvação do turismo, mas de meio caminho andado.

Equipamentos turísticos como esses teriam atraído novos investimentos para a cidade e a geração de emprego e renda deixaria de ser uma falácia para se transformar em realidade. Pouquíssimas cidades brasileiras têm belezas e histórias para serem contadas e vendidas ao público nacional e internacional como Canavieiras, mostrando do primitivo ao moderno no mesmo conjunto.

Temos um dos maiores bancos pesqueiros de marlim do mundo, o Royal Charlotte, objeto de desejo dos pescadores dos chamados peixes de bico, que visitam Canavieiras todos os anos. Com a tecnologia, essa modalidade de pesca preserva os cardumes, pois os peixes são apenas fisgados, filmados e fotografados para dar o comprimento e peso do peixe, que em seguida é devolvido ao mar.

Atualmente o canavieirense vive de lembranças, das boas lembranças em que Canavieiras sediava constantemente eventos regionais e um dos seus maiores produtos de marketing, o caranguejo. Promoveu o Festival de Caranguejo – em algumas edições – privilegiando-o em diversas formas, como mandava a culinária canavieirense, ao contrário de hoje, em que no principal sítio da festa não se encontra um caranguejo para remédio.

Não se pode negar o brilho artificial dos últimos Festivais do Caranguejo, com chefs da cozinha internacional elaborando pratos mirabolantes às vistas dos espectadores, que apenas comiam com os olhos e lambiam com a testa. Projeto copiado do desenvolvido na vizinha Itacaré, cujo modelo de turismo é totalmente diferente do praticado em Canavieiras.

Antes de tudo, é preciso dar dignidade aos serviços públicos essenciais prestados pela administração municipal, coletando o lixo e não permitindo que comerciantes e moradores joguem os sacos na rua em pleno domingo; oferecer um serviço de saúde à altura; cursos de aprendizagem junto com o Sistema S; ter perfeito entrosamento com a iniciativa privada, para organizar um calendário de eventos anual capaz de atrair turistas.

Do contrário, vamos continuar vivendo de lembranças, das boas lembranças de Canavieiras, a começar pelo restaurante da Tia Jael (fechado a décadas), onde o atendimento era primoroso, a cozinha sensacional e ela uma doçura de pessoa, daí as estrelas da Quatro Rodas. Pensando bem, nem de passado podemos viver por falta de um museu que poderia contar a história dos coronéis do cacau da outrora Princesinha do Sul.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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A palavra pode não ter poderes mágicos para garantir bênçãos ou maldições. Porém, a palavra tem o poder de ser inclusiva ou excludente. Afinal, como diz o já consagrado provérbio do mestre Stan Lee, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.

Karoline Vital || karolinevital@gmail.com

“Cuidado, menina! A palavra tem poder”! Minha mãe sempre me falava isso, quando eu falava que algo poderia sair errado. Era o modo dela me alertar sobre o peso de tudo aquilo que se diz. Tudo bem que vinha carregado de uma aura meio mística, tipo um encantamento capaz de atrair a energia do que foi proferido. Falar “desgraça”, então…  Pior do que soltar o mais cabeludo dos palavrões. “É o nome da pelada”. Embora minha mãe nunca soubesse me explicar quem era a tal da pelada nem o que faria de tão desgraçado.

Hoje em dia, minha compreensão do poder da palavra vai além de se evocar sobrenaturalmente algo negativo ou positivo. A função de ser benção ou maldição está atrelada ao sentido político daquilo que se diz. Nada de política partidária, mas política de posicionamento, de ideologia, de como enxergar a si e ao outro.

A turma defensora do mundo mais chato após o politicamente correto é um excelente exemplo de como a palavra revela posicionamentos. Dia desses, caí no perfil de uma professora de português que se dizia sem paciência para vocábulos como “empatia”, “gratidão” e “empoderamento”. Em linhas gerais, classificava o uso dos termos como modismo. Infelizmente, essa atitude dela apenas revelou um vazio que carregava em si. Isso porque, apesar de ostentar elegância e uma condição financeira abastada, a professora era incapaz de refletir sobre o que motivava o uso dessas palavras ou os contextos. Usando uma expressão da moda, a profissional apenas “cancelou” porque não fazem parte da sua realidade nem estava disposta a compreender as motivações.

Muitas lutas, para serem tomadas como legítimas, exigem empatia de quem não vivencia as violências ou privações. O empoderamento vem de dar protagonismo, vez e voz a quem é invisível ou silenciado. Já “gratidão”, apesar de parecer apenas coisa de bicho-grilo que aplaude pôr do Sol, demonstra o sentimento de ser grato por algo ou alguém. Isso porque as raízes do “muito obrigado” estão na obrigação de se devolver o favor, bem na cultura do velho “toma lá, dá cá”.

Revisar vocábulos com origens racistas, sexistas ou que remetam a qualquer tipo de preconceito não é se tornar chato. É se tornar consciente sobre como palavras podem reforçar estruturas opressoras, as quais não cabem numa sociedade da era da informação. A palavra pode não ter poderes mágicos para garantir bênçãos ou maldições. Porém, a palavra tem o poder de ser inclusiva ou excludente. Afinal, como diz o já consagrado provérbio do mestre Stan Lee, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.

Karoline Vital é jornalista.

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Pedro morreu. É mais uma grande perda em 2020, mas sua mensagem profética está eternizada: “Malditas sejam todas as cercas que nos impedem de viver e de amar”(…). E “na dúvida, fique do lado dos pobres”.

Aldineto Miranda || erosaldi@hotmail.com

Casaldáliga era catalão de origem, e escolhe a América Latina para ser seu “chão” em 1970, em plena ditadura militar. Torna-se bispo em São Félix do Araguaia (Mato Grosso) e lá intensifica sua caminhada apostólica de opção pelos pobres.

Um bispo diferente. Dispensa a mitra (utilizada pelos pontífices) e a troca por um simples chapéu de palha. No seu dedo a sua opção preferencial pelos pobres é simbolizada pela utilização do anel de tucum ao invés do tradicional anel de ouro. Em sua vida, lutou contra todas as formas de opressão defendendo em especial os direitos dos povos indígenas; denunciou também o trabalho escravo, a colonização, as várias formas de opressão, sempre mantendo vivo o lema: “nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar, e, sobretudo, nada matar”.

Pedro, como gostava de ser chamado, afirmava que ser cristão era dividir, e lutar por uma sociedade justa e igualitária. Quando em entrevista ao Roda viva o questionam se ele era contra os ricos, ele afirma que a mensagem de Cristo era clara: o Pai nosso deveria reverberar em pão nosso também. Não que fosse contra os ricos, mas era a favor de uma sociedade em que não existissem nem ricos nem pobres, mas que todos tivessem iguais oportunidades e recursos e que todos pudessem ter dignidade.

Numa época que presenciamos os direitos dos povos indígenas sendo vilipendiados, o desrespeito para com a mãe terra, a Pachamama, como a terra é chamada no Peru e em outras partes da América Latina, em que estamos diante de uma pandemia que já ceifou a vida de 100.000 no Brasil, pessoas principalmente pobres, num momento em que também são noticiados vários casos de racismo e de discursos autoritários e preconceituosos. Nesse panorama social, o Casaldáliga é uma luz para o Brasil e toda a América Latina, um exemplo de vida e de verdadeira humanidade, um exemplo daquele que buscou viver a mensagem de Cristo e de como deveria ser um verdadeiro cristão.

Em um momento em que a religião virou barganha, numa teologia da prosperidade egoísta e alienante, o Bispo dos Pobres nos mostra que o reino de Deus se manifesta no engajamento em prol da libertação do povo oprimido, daqueles que são marginalizados por àqueles que seja por sua posição econômica e/ou política se colocam como superiores.

Casaldáliga nos mostrou que Cristo está na mulher agredida, na prostituta desconsiderada, na criança abandonada, nos povos indígenas que são assassinados, no povo negro que sofre com o racismo e a violência cotidianamente, e no povo pobre que labuta dia-a-dia pela sua sobrevivência.

Pedro morreu. É mais uma grande perda em 2020, mas sua mensagem profética está eternizada: “Malditas sejam todas as cercas que nos impedem de viver e de amar”(…). E “na dúvida, fique do lado dos pobres”.

Aldineto Miranda é professor de Filosofia do Instituto Federal da Bahia (IFBA).

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Se eu agora pago essa mensagem os maledicentes, inimigos de Ariston, vão dizer que eu comprei a opinião dele. Isso será péssimo, pois as pessoas vão achar que o Diário da Tarde não é mais independente. E eu defendo, como ele sabe, a imprensa independente…

 

Antônio Lopes || abcdlopes@gmail.com

Antônio Olímpio fez em Ilhéus, de 1976 a 1981, o que se chamou Governo da Renovação: substituiu João Lyrio, um prefeito discreto, que, como se diz, chegou mudo e saiu calado. O que em João Lyrio parecia ausência de vocação para o cargo, encontrou em AO (aos 45 anos, advogado e professor) o oposto: vontade de mudar a cidade, transformar, sacudir a poeira do marasmo. Urbanizou ruas, construiu uma nova Central de Abastecimento, transferiu a grande feira de Ilhéus da Dois de Julho para o Malhado, atualizou a legislação sobre uso do solo, doou ao município o velho “Cine Theatro Ilheos”, então patrimônio da família Rhem.

Esse dinamismo como prefeito lhe amealhou popularidade e reconhecimento bastantes para eleger-se deputado estadual, com mandato de 1983 a 1986. Na ALBA (em tempo anterior a esta mania das siglas), teve atuação notável: foi presidente da Comissão de Agricultura e Política Rural e titular das Comissões de Turismo, de Minas e Energia, de Ciência e Tecnologia, de Saúde e Saneamento e de Empreendimento Social, dentre outras.

AO teve seu tempo sabático, voltou à pescaria, à culinária e ao papo com os amigos, três passatempos que o identificam, retornando aos palanques só no começo dos anos noventa, quando se elegeu, outra vez, prefeito de Ilhéus para o período de 1993 a 1996, e logo levou seus admiradores a uma indagação machadiana: “Mudaria Antônio Olímpio ou mudamos nós?”

O fato é que o novo AO não tinha o mesmo ímpeto do primeiro mandato: mostrava-se desmotivado, sem “apetite” para o exercício da função. Aparecia (quando aparecia) nas solenidades oficiais com evidente tédio. Mal comparando: um João Lyrio intelectualizado, verve em dia, ironia à flor da pele, pronta pra ser sacada contra os críticos. Ia mal a administração, os problemas se acumulavam. Um deles, as muriçocas, que infernizavam, em zumbidos e picadas, a vida do ilheense.

Certa feita, o delegado regional Luís do Amaral Carneiro, com ares de autoridade, interpelou AO, de público: “Não é possível continuar desse jeito, com as muriçocas me chupando a noite inteira!” Foi mal. A resposta de AO, em alto e bom som, imprópria para ouvidos pudicos, bendizendo a sorte que o Dr. Luís tinha, naquela idade etc., fez do bravo delegado um inimigo, por muitos dias.

Tempos depois, descontraídos entre copos de cerveja, Carlos Farias, amigo de longa data, levantou a indagação famosa. “O que mudou entre um mandato e outro?”

– O dinheiro – responde AO, sem pestanejar. E explica que, na primeira gestão, o programa chamado Caritas “municiou” a Prefeitura de Ilhéus. Na segunda, os cofres estavam vazios o tempo inteiro. Elementar, meu caro Farias: Sem dinheiro, não há administrador que preste…

Pra terminar: na segunda gestão de Antônio Olímpio, o Diário da Tarde estava em mãos de Ariston Cardoso – advogado (primeira turma de Fespi), ex-prefeito (Arena) e crítico do prefeito – e num dia sim, no outro também, estampava títulos nada lisonjeiros ao chefe do executivo. AO, na dele, engolia tudo, adotando a filosofia de que “o bom cabrito não berra”. Num 28 de junho, Dia da Cidade, quando o jornal aproveitava pra faturar uma publicidade extra em forma de saudação oficial aos munícipes, vai um desavisado representante do DT procurar o prefeito, com a proposta de “uma mensagem de página inteira por apenas…” AO, com toda a educação de que é portador, fez entrar o sujeito incauto, deu-lhe cafezinho, saudou-o no “como vai, como passou”, “a quantas anda o preço do cacau”, elogiou a iniciativa das mensagens, descontraiu o homem e exarou a sentença, final e irrecorrível:

– Por favor, diga a Ariston que eu gosto muito dele e do Diário da Tarde, mas não posso autorizar esta despesa. Sinto muito por isso.

– !!!

– É que o jornal bateu em mim o tempo todo. Se eu agora pago essa mensagem os maledicentes, inimigos de Ariston, vão dizer que eu comprei a opinião dele. Isso será péssimo, pois as pessoas vão achar que o Diário da Tarde não é mais independente. E eu defendo, como ele sabe, a imprensa independente…

Antônio Lopes é jornalista e escritor.

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Como não terá mesmo o emprego a dar ao companheiro de lutas, o prefeito vai se levantando e se despede argumentando que a política é uma atividade onde grassam as traições, por isso entende a decepção do amigo, mas que vai fazer de tudo para conseguir uma colocação.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Os políticos possuem artimanhas que “até Deus duvida”, costumam dizer os analistas e pessoas experientes dos bastidores da área política. E todas esses artifícios são utilizados para sair de situações embaraçosas, como justificativas pelo não atendimento das promessas largamente cumpridas durante as sucessivas campanhas eleitorais.

Para conseguir o voto, além do trabalho dos cabos eleitorais, os candidatos e os dirigentes de partidos fazem de tudo, desde a simples promessa de promover o bem-estar da população com os serviços públicos até a garantia de empregos. Como uma parte do eleitorado não está trabalhando, a promessa é a tábua da salvação; para a outra parte, o que interessa mesmo é estar mamando nas tetas da viúva, e com todas as forças.

Mesmo sendo conhecedores das falsas promessas dos políticos irresponsáveis (a grande e consagradora maioria), o eleitor faz vistas grossas, pois também tem suas treitas artes e manhas para enganá-los. Uma delas é se comprometer com todos os candidatos, garantindo milhares de votos para cada um deles, embora tenha consciência de que nem mesmo o seu será consagrado nas urnas.

E eles – os políticos – são os que mais utilizam esse expediente para conseguir votos: Enquanto alguns prometem governar com o povo, de gabinete aberto para atender os eleitores de antes, hoje simples munícipes, outros juram – de pés juntos – que darão empregos para toda a população, além de um pacote infindável de benesses impossíveis de cumprir. E todos conseguem enganar a população. E a população a eles.

O que vale mesmo é o modus operandi utilizado por todos, beirando ao escárnio e à zombaria, para não dizer vulgar e ridículo, seguido à risca por toda a assessoria dos candidatos, treinados à exaustão. Melhor não fariam os consagrados atores para enganar os incautos (às vezes, nem tanto) eleitores que buscam os candidatos para solucionarem seus problemas, antes da eleição, é claro.

Já devidamente eleito e empossado, é chegada a hora de se ver com o eleitorado, pagar as promessas feitas durante a campanha, até mesmo para quem não reconhece mais, embora saiba que será procurado. Mas não importa, se usou de artimanhas antes do pleito, não será agora, vencida a eleição, que não saberá despachá-los com novas promessas para os velhos pedidos.

Assim que o eleitor consegue adentrar o gabinete do prefeito – guarnecido por guarda-costas que mais parecem guarda-roupas –, o que considerado um ato de sorte, após os cumprimentos e elogios de praxe, começa a relatar suas dificuldades de sobreviver sem emprego. Conversa vai, conversa vem, até que lembra a velha promessa de um emprego público assim que o sus excelência tomasse posse. E ele estava à disposição para começar logo.

Sem perder a calma, de forma dissimulada, o prefeito eleito reclama que envidou muitos esforços para tentar atender à promessa feita ao distinto correligionário, mas explica ter sido ele o culpado, pois teria prometido entrar no gabinete junto com os amigos, inclusive ele, que não deu as caras. Após mais algumas reclamações pelo abandono do eleitor, afirma que todos os cargos já estão lotados pelos eleitores que não o abandonaram.

Mas se o eleitor for da quota de outro partido coligado, ai a desculpa – mais esfarrapada, ainda – é outra:

– Olhe, companheiro, pensei muito em você, que lutou com muita garra em minha campanha, mas sabe como é, pelo acordo feito, quem indica os companheiros é o partido, que me manda uma lista com todos os nomes. Infelizmente, seu nome não consta dela, o que estranhei. Houve algum desentendimento com os dirigentes? – pergunta fingindo compaixão.

Como não terá mesmo o emprego a dar ao companheiro de lutas, o prefeito vai se levantando e se despede argumentando que a política é uma atividade onde grassam as traições, por isso entende a decepção do amigo, mas que vai fazer de tudo para conseguir uma colocação. Diz que precisa só de um pouco de tempo para arrumar a casa, pois herdou uma herança maldita, tudo desarrumado.

– Assim que tiver tudo nos trinques, mando lhe buscar em casa.

E assim, nosso experiente político consegue despachar mais um eleitor desiludido.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Acuado, o artista decidiu pelo autoexílio na França, voltando dez anos depois. Apesar do longo período, Raimundo Sodré não foi esquecido.

Marival Guedes || marivalguedes@yahoo.com.br

Jorge Portugal compôs a belíssima Maio 68 em parceria com Roberto Mendes. Simone, no auge da carreira artística, ouviu, gostou e pediu a Portugal pra gravar, mas não pode ser atendida. Havia o compromisso com o parceiro Raimundo Sodré que fazia sucesso com a Massa, autoria da dupla.

Maio 68, que retrata com maestria os movimentos políticos, sociais e culturais na França e no Brasil naquele período, criava expectativa de sucesso.

Mas tudo mudou repentinamente por causa da realização de um comício da campanha de Clériston Andrade em Aquidabã, Salvador, em 1981, com o apoio do padrinho governador Antônio Carlos Magalhães.

Raimundo Sodré foi contratado e cantou antes dos discursos que haveria. ACM, o candidato ao governo e seus seguidores, ficaram em cima do arco da ladeira Nazaré-Barbalho. O povo, embaixo, na Baixa dos Sapateiros.

Vale lembrar que naquele ano a cidade fervilhava com vários protestos e uma “explosão” ocorreu quando, num ato do Movimento Contra Carestia, sindicatos e partidos na Praça Municipal, o sistema elétrico do local foi interrompido. No quebra-quebra em vários pontos da cidade, 350 ônibus foram depredados e dez incendiados.

Raimundo Sodré havia chegado de viagem e não sabia o que estava acontecendo. Começou a cantar A Massa e no embalo entoou: “Quebra-quebra guabiroba/Quero ver quebrar”, como se fosse um estribilho.

Pareceu uma senha. Contagiada pelas ações anteriores, a multidão começou a apedrejar os políticos que, em pânico, na base do salve-se quem puder, saíram em disparada, obviamente dentro das possibilidades físicas de cada um.

O vingativo ACM pensou que foi intencional e começou uma implacável perseguição contra o artista. Mandou que o hotel onde Raimundo Sodré estava hospedado o expulsasse, ligou para a gravadora para que o novo disco não fosse divulgado e pressionou as emissoras para não executarem suas músicas.

Acuado, o artista decidiu pelo autoexílio na França, voltando dez anos depois. Apesar do longo período, Raimundo Sodré não foi esquecido. Desde o retorno faz shows no Recôncavo, em Salvador e outros lugares. Agora, só faltam divulgar Maio 68.

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O texto acima foi escrito em 2015. A última vez que estive com Jorge Portugal foi em 2018, num encontro casual na porta da Assembleia Legislativa, onde acompanhei a gravação da história da música A Massa para o Canal Danilo Ribeiro. Falei, mais uma vez, que a bela composição Maio 68 deveria ser divulgada. Ele respondeu: “ Vou lhe contar um segredo, em off, estou conversando com Simone e vamos gravar um disco incluindo esta composição”.

Maio 68, A Massa e várias outras composições deixarão Jorge vivo no coração do povo baiano.

Marival Guedes é jornalista.

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Toda essa mobilização política e econômica é a prova de que as redes sociais podem ser decisivas para os rumos políticos de um país.

Andreyver Lima || andreyver@gmail.com

O banimento do Tik Tok nos Estados Unidos representa interesses comerciais e eleitoreiros para o país. A rede social que conquistou o mundo durante a pandemia é chinesa e sua operação é alvo de intensos ataques da Casa Branca por suposta prática de espionagem aos americanos.

Essa ameaça de banimento aumenta a pressão para que a ByteDance, que é a dona do Tik Tok, vendas suas ações para a Microsoft, onde poderia operar livremente dentro dos Estados Unidos. Se a hipótese se confirmar, a Microsoft assumiria todas as operações e, claro, teria o controle sobre os dados dos usuários, problema alegado pelo Governo dos Estados Unidos.

Em junho, Trump tinha um compromisso na cidade de Tulsa e na internet pessoas reservaram lugares para participar, no que seria o maior ato da campanha do presidente. Quando chegou a hora do evento, as arquibancadas estavam vazias graças a uma ‘trolagem’ de usuários do Tik Tok.

No contra-ataque, o Tik Tok acusa o Facebook de copiar funções de seu aplicativo e defende não ter agenda política, mantendo a plataforma dinâmica para que todos possam desfrutar da comunicação com usuários na plataforma.

Em 2018 Mark Zuckerberg, do Facebook, teve de se explicar ao Senado dos Estados Unidos, onde admitiu que sabia, que os dados estavam sendo coletados para direcionar conteúdos de maneira estratégica, durante a campanha eleitoral. Zuckerberg argumentou que sua empresa é “orgulhosamente americana que, diferentemente da rival chinesa, preza pelos valores ocidentais de liberdade e democracia”.

Toda essa mobilização política e econômica é a prova de que as redes sociais podem ser decisivas para os rumos políticos de um país.

Andreyver Lima é comentarista político no Jornal Interativa News 93,7 FM e editor do site sejailimitado.com.br.

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“Quantidade” saiu de cena, literalmente. No palco da vida, com toda a valorização que lhe é importante e que agora lhe foi permitido, entrou a “qualidade”.

Manuela Berbert || manuelaberbert@yahoo.com.br

Confesso que demorei um tempo para decidir acreditar no novo normal que tanto falavam. Por mais otimista que eu seja, no começo disso tudo lia muito sobre uma mudança de comportamento do ser humano que, aqui pra nós, não me parecia tão fácil. Quatro meses e meio depois do começo do isolamento social por aqui, ouso escrever que “grandes experiências são (e serão) o novo normal”.

Inúmeras transformações já vinham acontecendo para os donos de olhares mais atentos. Uma sequência de rompimentos pessoais como separação de casais aparentemente sólidos, rachaduras bruscas na imagem de personagens da vida real, troca de profissões etc. A corrida diária até nos permitia ver isso tudo se desenrolando, mas atravancava a reflexão sobre. A gente seguia o barco no fluxo do desenvolvimento e despejava nele a culpa (ou mea culpa). E pronto.

Aí veio a pandemia, o isolamento social e aos poucos estamos nos (re)encontrando com o mundo. Muitas empresas descobrindo que o home office funciona e que alguns colaboradores estão conseguindo até se cuidar melhor nesta fórmula; amizades de mesa de bar ficaram, literalmente, nas mesas de bares, e os reencontros permitirão o retorno das boas risadas, mas, talvez, não mais de tanta intimidade; relações mais sólidas foram descobertas, enquanto outras tiveram a clareza de realmente não comungarem dos mesmos planos e sonhos, e romperam para sempre.

“Quantidade” saiu de cena, literalmente. No palco da vida, com toda a valorização que lhe é importante e que agora lhe foi permitido, entrou a “qualidade”. Dos alimentos produzidos com carinho por aquela vizinha que a gente mal conhecia e que se descobriu confeiteira porque perdeu o emprego; das cestas de presente organizadas pelas vendedoras da nossa loja preferida, mas que já estavam sem a necessidade de nos cortejar; Inúmeros exemplos do dia a dia em um ciclo que estabelece o que ou quem é de verdade para cada um, e que de agora em diante será cada vez mais nítido, e fará cada vez mais sentido. Sigamos…

Manu Berbert é publicitária e especialista em marketing de conexões.