Post de Campos em redes sociais em ação de Lula contra a fome || Reprodução
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Agora, suas redes – que já deixaram de ser locais há um tempo – seguem alternando as pautas com nacionais (e até mundiais) na medida certinha, sem excessos e sem se amiudar.
Manuela Berbert
João Campos, prefeito reeleito de Recife, é um grande gestor? É! Se comunica muito bem? Sim! Mas o time de marketing dele é excelente, e conversa com o eleitorado no “time” perfeito!
João marcou o primeiro check nacional concedendo uma entrevista brilhante ao Programa Roda Viva, recentemente, e na sequência sua equipe viralizou pequenos trechos que deixaram a entender que ele está para jogo grande!
Agora, suas redes – que já deixaram de ser locais há um tempo – seguem alternando as pautas com nacionais (e até mundiais) na medida certinha, sem excessos e sem se amiudar.
O hype dessa segunda-feira, por exemplo, sobre o G20 e a luta contra a fome não foi apelativo, não foi desconexo nem foi acima do Presidente. Pelo contrário: foi elogioso e politico, como ele é, mas foi também um “tô no Nordeste, mas meu olhar está ampliado!”
E assim ele segue, com mais de 16 mil curtidas em menos de 12 horas só no Instagram, incontáveis compartilhamentos e uma história politica nacional sendo contada da forma mais bonita e honesta que o marketing político pode fazer: com habilidade!!!
Tem nordestino se colocando pra jogo nacional aí, hein?!
Vencedor e vencidos em Itabuna: Augusto, Pancadinha, Chico França, Isaac Nery e Cleonice Monteiro || Foto Reprodução
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Com exceção do deputado Fabrício Pancadinha, que precisa correr trecho para se qualificar já em 2026, todos os outros terão 4 anos pela frente para aprimorar seus projetos, sejam pessoais ou coletivos. O populismo, por si só, terá dificuldades em vencer uma eleição em Itabuna.
José Cássio Varjão
Em período pós-eleição, o senso comum costuma apontar, superficialmente, vencedores e perdedores dos embates eleitorais. Observando dessa forma, sem a profundidade necessária que o tema exige, essa conduta não contribui para a formação crítica de determinada metodologia, que, efetivamente, não corresponde à realidade do mundo político. Ganhar ou perder faz parte do processo. Assim, a vitória nem sempre representa o verdadeiro sucesso, como a derrota não significa um terrível fracasso, afinal, trata-se de resultado imediato e este não define o êxito ou o revés de uma trajetória. A longo prazo, é o trabalho sério, a capacidade de adaptação às nuances da política e a responsabilidade com o eleitorado que determinam o verdadeiro legado de um político.
Na política, a ideia de que “às vezes ganha-se perdendo e perde-se ganhando” reflete a complexidade das vitórias e derrotas eleitorais e do próprio processo político. Uma derrota eleitoral, por exemplo, pode servir como oportunidade para o candidato desenvolver uma visão mais madura, revisar seus planos, investir na sua formação ou especialização em políticas públicas e ouvir as necessidades do eleitorado de forma mais profunda. Essa experiência traz aprendizado e crescimento, e o candidato pode voltar mais forte e preparado, conquistando maior respeito e apoio no futuro. Como não lembrar de José Pepe Mujica: “não existe vitória nem derrota definitiva”.
O candidato mais preparado venceu as eleições em Itabuna, mas não somente. Rompeu uma regra que se prolongava desde a eleição de 2000. O instituto da reeleição contribuiu para a vitória de Augusto Castro e, para quebrar com a maldição da reeleição no município, ele contou, também, com as estatísticas a seu favor, visto que nas últimas três eleições, 2016, 2020 e 2024, os candidatos à reeleição saíram vitoriosos no pleito, com percentuais de 67%, 65% e 80%, respectivamente. Para além da reeleição, o prefeito de Itabuna ganhou também a condição de líder político regional, com seu nome ganhando força para presidir a UPB (União dos Municípios da Bahia).
Por outro lado, com expressiva votação, a Federação Brasil da Esperança, formada por PT, PC do B e PV, também foi destaque positivo em Itabuna nessas eleições, com 7.752 votos. Manoel Porfírio foi o vereador mais bem votado, com 3.485 votos, seguido da vereadora Wilma, com seus 2.770 votos, concluindo com o vereador Paulinho do Banco e seus 1.497 votos. O PSD, partido do prefeito Augusto Castro, também elegeu três vereadores, que, somados, contabilizaram 6.643 votos. O Avante, do mesmo modo, elegeu três vereadores, perfazendo um total de 3.565 votos. Como observância da amplitude da vitória da Federação, o Avante obteve, com a eleição dos mesmos três vereadores, 45,98% da votação do grupo formado por PT, PC do B e PV.
Para além dos dados acima, a Federação ainda contribuiu na eleição de Augusto Castro, indicando o vice-prefeito, Júnior Brandão, do PV. Por conseguinte, como evento considerável, existem conversas avançadas, já com várias adesões, para indicação de Manoel Porfírio como candidato a presidente da Câmara de Vereadores, no biênio 2025/2026.
Em artigo científico de minha autoria, publicado em 2022, sobre a Volatilidade Eleitoral no município de Itabuna, nas eleições legislativas, constatei uma espantosa renovação de 2/3 dos vereadores entre os períodos de 2012/2016 e 2016/2020, ou seja, a cada eleição entraram 14 novos vereadores e somente 7 se reelegeram. Em 2024, a renovação foi de 57,14%, entrando 12 novos vereadores e continuando 9 vereadores. Para o período 2025/2028, a Câmara de Vereadores de Itabuna contará com 95,24% dos seus ocupantes, composto por homens. Um dado interessante entre esses três pleitos é que somente um parlamentar municipal foi reeleito nesse período, o vereador Ronaldo Geraldo, o Ronaldão.
Como conclusão desse estudo, que será atualizado a cada novo pleito, pude consumar que a renovação ocorrida na Câmara de Vereadores de Itabuna, nesse período, se deve à ação do eleitor utilizando como parâmetro à Teoria da Escolha Racional, quando esse cidadão/eleitor se utiliza de um custo-benefício do voto para escolher seu candidato, baseando-se na sua situação econômica e no assistencialismo presente no ambiente político. Corroborando com essa definição, a utilização do termo “da Saúde”, por exemplo, está presente no nome de quatro vereadores eleitos em 2024.
Na outra ponta, acerca dos candidatos que disputaram o cargo majoritário nessa eleição, fiquei surpreso, mas nem tanto, com a incipiência dos pretendentes ao Centro Administrativo Firmino Alves. Esperava um debate mais propositivo e enfático de quem deseja administrar um município que, em alguns anos, viu 15% da sua população praticar a migração forçada para outras regiões do estado e do país, por questões econômicas. Como o resultado inconteste, a enorme diferença de 35.709 votos entre o primeiro e o segundo colocados nessa disputa majoritária.
Foi perceptível a falta de harmonia entre apresentar projetos e planos de governo, elemento preponderante de uma candidatura, e partir para o confronto com o adversário, como se esse fosse o fator fundamental da disputa. Jacques Séguéla, publicitário francês, disse que “a comunicação é como uma droga. Em doses adequadas é medicamento, em doses elevadas, veneno fatal”. O equilíbrio é a palavra-chave, mas há candidaturas que nascem fadadas ao fracasso.
Como as eleições nas grandes cidades são necessariamente estadualizadas, as lideranças políticas do estado marcam presença, com os olhos no horizonte de 2026. A definição posicional dos chamados opositores do prefeito Augusto Castro e, por conseguinte, do governador Jerônimo Rodrigues, nas eleições municipais, foi um tanto confusa, deteriorou-se na fase embrionária por individualismo político, tudo isso com o aval do vice-presidente nacional do União Brasil. Algumas possibilidades de coalizão, que eventualmente poderiam ter acontecido, trariam mais dificuldades para o candidato do PSD, com destaque para a palavra “tratorado”, efusivamente pronunciada pelo Capitão Azevedo, vítima da escolha majoritária do cacique do partido.
O desfecho de toda candidatura passa por alguns fatores que são inerentes intrinsecamente ao candidato, como potencial de votos, exigindo capacidade de liderança, habilidade de discurso e o seu carisma. Também existem os fatores internos de pressão, como seu grupo político, partido e bases financeiras da campanha. Ultrapassadas essas duas etapas, vem o objetivo primordial da campanha, o eleitor, e aí, por último, chega-se aos adversários. Aqui encontramos uma das regras mais conhecidas do marketing eleitoral: “Numa campanha, metade do esforço se faz no seu próprio quintal e metade no quintal alheio”. Portanto, a grande virtude do político é mostrar suas qualidades, de um lado, e as deficiências de seus adversários, de outro.
Existem algumas mensagens que os resultados das urnas em Itabuna mostram, mas que nem sempre são captadas pelo agente político. Nessas eleições, foram poucas as pesquisas divulgadas, apesar de partidos e candidatos fazerem internamente as suas, sem registrar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Daí surge um detalhe que é de conhecimento de toda a população, mas, às vezes, imperceptível. Todos os candidatos a prefeito de Itabuna, com exceção de Chico França, já eram conhecidos da população, portanto, com teto limitado para crescimento. O candidato do PL, que teve seu nome inserido na cédula pela primeira vez, era a incógnita da eleição.
Uma observação que não é peculiar a Itabuna, mas inerente ao nosso sistema político, são as sucessivas candidaturas que concorrem tanto nas eleições municipais como gerais, que são completamente distintas uma da outra. A magnitude eleitoral de uma eleição municipal se restringe à abrangência territorial do município, enquanto a eleição estadual a amplitude é muito maior e o disparate entre elas está na concorrência. O atual vice-prefeito, Enderson Guinho, foi o candidato a deputado federal, por Itabuna, mais bem votado em 2022, com 15.218 votos. Não conseguiu se eleger vereador em 2024. O candidato Isaac Nery concorreu a deputado federal em 2022, obtendo 15.155 votos. Para prefeito em 2024, 8.259 votos. Fabrício Pancadinha teve, em 2022, para deputado estadual, 27.338 votos. Em 2024, 29.620 votos para prefeito, com a concorrência somente de três opositores, maior visibilidade e com aporte financeiro considerável.
Também como fato em destaque, são as sucessivas trocas de partido pelos candidatos. O candidato Isaac Nery já participou de três eleições, em 2020, para prefeito; em 2022, para deputado federal; e em 2024, para prefeito novamente, por três partidos diferentes, Avante/70, Republicanos/10 e PDT/12, respectivamente. Se por um lado essa permuta busca melhores condições para a disputa, não mais que isso, por outro, confunde o eleitor menos observador, escancarando o personalismo político do candidato em detrimento ao partidarismo. Situação semelhante ocorreu com vários vereadores, idem com o Capitão Azevedo e com o vice-prefeito Enderson Guinho.
Outra observação gira em torno da candidatura dita de direita nas eleições municipais de Itabuna, que, num primeiro momento, deduz-se que não foi bem-sucedida. Se levarmos em consideração a votação obtida por essa direita e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2022, que obteve 52.768 votos, ou 47,07% dos votos válidos, a candidatura Chico França, que contou com vídeos com o próprio JB, obteve somente 12,95% dos votos do ex-capitão. Assim, fica cristalinamente demonstrado que esse percentual de votos obtidos em 2022, pelo ex-presidente foi distribuído entre todos os candidatos, inclusive – e principalmente, para Augusto Castro. Com o personalismo político, algumas pessoas votam em determinado candidato por rejeição a outrem, ou seja, por eliminação. O que garante que, em nova eleição entre Jair Bolsonaro e outro adversário, ele conservará esse percentual de votos em Itabuna?
Após a derrota em uma eleição, o político precisa fazer algumas escolhas, podendo seguir alguns passos estratégicos no sentido de fortalecer sua imagem e preparar o terreno para uma possível nova candidatura. Começando por analisar os erros e acertos de campanha, continuar a se aproximar das suas bases eleitorais, fortalecer a presença nas redes sociais e na mídia, estar inserido nos projetos comunitários e sociais, construir novas alianças políticas, enfim, preparando um plano a longo prazo. Por fim, a profissionalização dos agentes políticos em gestão e políticas públicas é fundamental para um mandato eficaz e alinhado com as necessidades da população. Quando políticos possuem conhecimento técnico e compreensão sólida das ferramentas de gestão pública, eles são mais capazes de formular e implementar políticas que realmente impactem a vida das pessoas de maneira positiva e duradoura.
Com exceção do deputado Fabrício Pancadinha, que precisa correr trecho para se qualificar já em 2026, todos os outros terão 4 anos pela frente para aprimorar seus projetos, sejam pessoais ou coletivos. O populismo, por si só, terá dificuldades em vencer uma eleição em Itabuna.
A antiga Rua 28 de Junho, atual Jorge Amado || Foto Acervo José Nazal
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A cidade está ficando feia. Esse é o meu sentimento e o que penso.
José Nazal Pacheco Soub
Três fotos de uma das ruas mais antigas de Ilhéus, nos tempos de Colônia denominada Rua Direita. A partir da elevação à categoria de cidade, através da Lei Provincial 2187/1881, Rua 28 de Junho. No governo de João Lyrio (1989-1993), passou a ser Rua Jorge Amado, e a Rua 28 de Junho passou a ser na Boa Vista.
A Rua Jorge Amado no ano 2000 || Foto José Nazal
A primeira foto, de autor não identificado, estimo ser entre as décadas de 30 e 40 do século passado. À direita o prédio da Pensão Miled, que pertencia a Miled Zugaib e foi adquirido por Alina Herbert Carvalho Durand, onde foi instalado o Colégio Afonso de Carvalho.
Também identifico as casas de Rodolfo Vieira, de Pedro Piauhy e a da Família Góes. Ao fundo, a casa de João Amado de Faria e as Praças Luiz Vianna e João Pessoa, hoje dedicadas a Pedro Mattos e Dom Eduardo.
A Rua Jorge Amado em 2024 || Foto José Nazal
As fotos mais novas – de minha autoria, registradas em 2000 e 2024 – demonstram como temos tido pouco cuidado com a plástica da cidade. A cidade está ficando feia. Esse é o meu sentimento e o que penso. Como sempre afirmo, o que sinto e o que penso, só vale para mim.
José Nazal Pacheco Soub é fotógrafo, memorialista e autor do livro Minha Ilhéus – Fotografias do Século XX e um pouco de nossa história, lançado pela Via Litterarum.
Fausto Pinheiro escreve sobre a cadeia cacau-chocolate || Foto Daniel Thame
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É um setor que movimenta a economia de forma significativa, com uma dinâmica própria, gerando emprego e renda, contribuindo para a produção conservativa e de alto valor agregado.
Fausto Pinheiro
O setor Cacau-Chocolate no Brasil, na atualidade, reúne verdadeiras condições de retomar e firmar-se como referência mundial de desenvolvimento da cadeia produtiva.
O forte espírito empreendedor de seus atores, a existência de diferentes modelos de produção, sejam eles grandes, médios e ou familiares, e a presença de infraestrutura de grande moagem e de transformação de amêndoa em chocolate em associações e iniciativas individuais, demonstram a pujança da cadeia e um dos elementos de força da área.
O franco desenvolvimento do mercado consumidor de cacau-chocolate de qualidade, orgânico, fino ou especial, agregando valor ao produto caracteriza mais um significativo segmento a ser explorado e ampliado.
As condições de clima, solo, desenvolvimento de novas tecnologias através de pesquisas públicas e privadas, plantio em regiões tradicionais e não tradicionais, a exemplo do oeste baiano, São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Tocantins, conferem à cacauicultura nacional potencial de aumento de produtividade e competitividade na produção de matéria-prima e de chocolate.
A geopolítica da produção mundial de cacau nos leva a considerar que os maiores países produtores do mundo, concentrados no continente africano, a exemplo da Costa do Marfim e Nigéria, enfrentam dificuldades nas questões climáticas, no pouco cuidado com o meio ambiente, aspectos sociais com forte impacto sobre a produção e problemas com pragas e doenças. Ainda, com um modelo expansionista com fronteiras limitadas e baixa incorporação de tecnologias e pequena produtividade, que sinaliza um cenário de escassez do produto dessas origens e abre uma grande oportunidade para o Brasil.
Recentes e motivadoras notícias de novos mercados compradores conquistados em mais cinco países do leste Europeu e da Ásia (Rússia, Belarus, Armênia, Cazaquistão e Quirguistão) só aumentam nossas reais oportunidades de crescimento do setor. Os países tradicionalmente conhecidos como consumidores também demonstram disposição e resiliência para o aumento do consumo, apesar da alta recente dos preços. A ampliação também dos produtos derivados de cacau e suas diversas utilizações, tais como maquiagem, hidratantes, gastronomia, medicamentos, além do valor adicionado como alimento promotor de saúde e bem-estar, consolidam novas formas de consumo.
O estado da Bahia detém a liderança nacional na produção de cacau, com 60% do volume produzido no Brasil e adiciona um aumento no volume produzido em amêndoas de qualidade para produção de chocolates finos, já reunindo 100 marcas em fase comercial. Reúne também pujante estrutura científica e tecnológica instalada no que denominamos de Estrada do Conhecimento, dispondo de universidades e centros de pesquisa como Uesc, Ceplac, Centro de Inovação do Cacau (CIC), IFBaiano, Ifba e UFRB, conferindo ao estado protagonismo e liderança para acreditar em novo e continuado modelo de desenvolvimento da cadeia produtiva.
Estes fatores dão sinais ao Brasil e destacam a Bahia em particular junto a outros estados, trazendo estímulo e mostrando que vivenciamos um momento singular e estratégico para dar assistência a tais requerimentos.
É um setor que movimenta a economia de forma significativa, com uma dinâmica própria, gerando emprego e renda, contribuindo para a produção conservativa e de alto valor agregado. Representa faturamento estimado de R$ 24 bilhões e exige atitude proativa dos entes envolvidos na busca contínua de produção de conhecimento e concertação de políticas para o setor, que possam fazer o enfrentamento dos novos desafios em nossos caminhos.
Isto posto, há de se retomar o fôlego, aumentar o investimento público e privado em pesquisa, recuperar o crédito e financiamento para a lavoura (em particular na Bahia), investir no aumento de produtividade, ampliar o diálogo com os setores e entes envolvidos fortalecendo a governança do setor, acreditar que estamos estruturando um modelo viável de desenvolvimento e que caminhamos para um novo ciclo de sucesso. Necessário ser breve na decisão, pois trata-se de uma cadeia geradora de emprego, renda, tecnologias e divisas para os estados produtores de amêndoas e de chocolate, fazendo frente à nova realidade.
Fausto Pinheiro é produtor rural e presidente da Câmara Setorial de Cacau da Bahia.
O frio no outono de Praga, o cão fiel de olhar vazio, a mulher ajoelhada, suas lágrimas que molharam a calçada e sua dor são a repetição de fatos e suas tragédias. Mas que diferença tem para os turistas aquelas lágrimas e uma dor que eles não sentem e fingem não enxergar?
André Curvello
Praga, República Checa, 5 de novembro de 2024. Eu estava no centro antigo, numa rua bem próxima do belíssimo relógio astronômico. Fazia frio, com o termômetro acusando 6 graus. Um outono com temperatura rigorosa no país onde se diz que existem apenas duas estações: o inverno e a outra, que faz frio. Longe de casa, tentando me desligar da rotina e da insana velocidade massacrante da vida, observo a história e o vai e vem dos turistas extasiados diante de tanta beleza cultural e arquitetônica. Estava ainda impactado com as palavras da Cheka Alena, uma guia viúva, mãe e avó.
Ela acabara de nos levar ao bairro judeu e não escondia sua indignação ao contar a história das atrocidades do nazismo. Numa calçada, estavam cravadas placas de bronze com os nomes de moradores locais acompanhados da informação: “assassinados”. Que tristeza na história da humanidade! Tudo fruto da doença totalitária e de um falso nacionalismo sem propósito, que matou milhões de inocentes. Será que aprendemos com tudo aquilo ou será que continuamos cometendo crimes contra a humanidade?
Em meio a tantos devaneios e reflexões, pergunto a Alena se aquela mulher logo à frente é de fato uma pessoa carente e necessitada. A mulher vestida de preto estava ajoelhada, com o rosto bem próximo à calçada, acompanhada por um cão fiel e observador. Num copo de papel em frente à cabeça da mulher, depositei uma moeda de coroa checa, cujo valor não me recordo. A moeda chocou com uma outra já depositada ali. A guia me disse que tudo indicava que era, de fato, uma pessoa carente.
Voltei a me aproximar da mulher e, desta vez, depositei no copo plástico uma nota de 20 euros. A guia lhe perguntou de onde ela era, e a resposta da mulher foi um acesso de pranto, que pareceu ser acompanhado pelo seu cão. Ela aproximou mais o rosto da calçada e continuou chorando, como se suas lágrimas fossem a resposta exata.
Segui caminho rumo à ponte Carlos IV, sentindo-me muito menos do que um nada, deixando para trás uma calçada molhada de lágrimas de alguém ao frio, acompanhada de sua história e de seu cão. Tudo isso, ou apenas isso.
O bairro judeu e suas sombras, a mulher e suas lágrimas. De onde ela seria? Família? Mais uma pessoa nas ruas da Europa e do mundo. Existem ainda hoje tantas outras brutalidades que significam mortes e assassinatos. Brutalidades que dissipam famílias e interrompem a felicidade dos inocentes. Tudo em nome do preconceito, da usura, do poder pelo poder. Tudo motivado pelo ódio e pela intolerância.
A história sempre deixa lições dolorosas, as quais simplesmente insistimos em não aprender. O frio no outono de Praga, o cão fiel de olhar vazio, a mulher ajoelhada, suas lágrimas que molharam a calçada e sua dor são a repetição de fatos e suas tragédias. Mas que diferença tem para os turistas aquelas lágrimas e uma dor que eles não sentem e fingem não enxergar? Eles viajam com seus sonhos, necessidades e indiferenças. Mas a história é atenta e impiedosa.
André Curvello é jornalista e secretário de Comunicação da Bahia.
Sempre que o pêndulo se desloca até um extremo, o movimento de resposta é para o lado oposto. O pêndulo da política no Brasil se movimentou. Já está fazendo o caminho de volta.
José Cássio Varjão
Alguns personagens do ambiente jornalístico no Brasil, a chamada grande mídia, militantes partidários dentro da imprensa, tanto digital quanto impressa, fazem análises manipulatórias, principalmente em época de eleição. Os principais portais e seus renomados personagens destacaram que o PSD (Partido Social Democrático), presidido por Gilberto Kassab, é o grande vencedor das eleições, com 887 prefeituras, salientando efusivamente que a centro direita sobrou nessas eleições. Seguindo, vem o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) com 856 prefeituras. O PP (Progressistas) ficou em terceiro lugar, com 747 prefeituras. Uma análise rasa, sem a profundidade real da posição desses partidos dentro do ambiente político atual.
Em 2022, a união de 10 partidos venceu as eleições, com a coligação Brasil da Esperança, que foi formada pelo PT, PC do B, PV, PSB, PSOL, Rede, Solidariedade, PROS, Avante e Agir, no primeiro turno. No segundo turno, declararam apoio à Candidatura Lula, o PDT, PCB, PSTU, PCO, Cidadania e Unidade Popular, perfazendo 16 partidos, a maior coligação que o PT (Partido dos Trabalhadores) já fez em disputas presidenciais. Nos primeiros dias após a proclamação do resultado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o presidente eleito para o quadriênio 2023/2026 e o seu partido começaram diálogos com o MDB, PSD e União Brasil, para composição da base parlamentar do novo governo. Uma ala do PP também compôs essa base.
Atualmente, no governo federal, o PSD tem três ministérios: Agricultura, Pesca e Minas e Energia. O MDB tem três ministérios: Planejamento, Cidades e Transportes. O PP tem um ministério: Esporte. Seguindo, o Republicanos, de Tarcísio de Freitas, com um ministério: Portos e Aeroportos. Até o União Brasil, do ex-prefeito de Salvador ACM Neto, tem inacreditáveis, dois ministérios: Turismo e Comunicações. Nesse período de final de eleições municipais, qual o fundamento para que se separe a realidade nacional dos resultados municipais, como se de fato houvesse vencedores e perdedores para além das disputas municipais e suas peculiaridades?
Apesar de o Presidente da República, com a chamada Frente Ampla, ter abrigado parte considerável desses partidos no seu ministério, chegamos às eleições municipais de 2024 com os núcleos dos partidos da base comportando-se autonomamente. O PSD, que é base do governo do estado de São Paulo, com Gilberto Kassab, secretário estadual de Governo, ligado a Tarcísio de Freitas, elegeu 206 prefeitos, ou 32% das prefeituras do estado.
O PSD da Bahia, presidido pelo senador Otto Alencar, ligado ao grupo do governador Jerônimo Rodrigues, elegeu 115 prefeitos, ou 27,5% das prefeituras do estado. No Paraná, o governador Ratinho Júnior (PSD), ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, elegeu 164 prefeitos, ou 41% das prefeituras do estado. Como noticiado, o PSD elegeu 887 prefeitos no Brasil. Destes, 485, ou 54,6% dos prefeitos eleitos pelo partido, que são dos estados supracitados, pertencem a três correntes políticas distintas, completamente distantes entre si.
No MDB, idem. O prefeito eleito de São Paulo, Ricardo Nunes, é umbilicalmente ligado à Tarcísio de Freitas, que é cria de Jair Bolsonaro. O MDB da Bahia tem o vice-governador do estado, Geraldo Júnior, ligado ao governador Jerônimo Rodrigues. O MDB do Pará, do Ministro das Cidades, Jáder Filho, está ligado ao Presidente Lula. Sebastião Melo, eleito e reeleito prefeito de Porto Alegre, teve o apoio de Jair Bolsonaro.
Alguns partidos são chamados pejorativamente, na Ciência Política, de cacht-all, o pega-tudo, ou partidos de abrangência ampla, e procuram atrair o maior número possível de eleitores, independentemente de sua posição social, ideológica ou econômica. Em vez de se direcionarem a um grupo específico ou a uma ideologia única, esses partidos adotam uma postura flexível, adaptando suas mensagens e propostas para abranger diferentes segmentos da sociedade, o que os torna menos definidos ideologicamente. Suas principais características são a diversidade ideológica, com foco em questões pragmáticas; contam com lideranças carismáticas e com flexibilidade de alianças. No Brasil, alguns partidos possuem características catch-all, especialmente os grandes grupos que atuam em escala nacional e têm uma base eleitoral bastante heterogênea. Entre os principais, destacam-se: MDB, PSD, PP e PL. Todos eles fizeram parte do governo federal desde 2002, com Lula, Dilma, Temer e JB.
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A dicotomia criada no Brasil nos últimos tempos, que reduz o espectro político em somente dois polos, direita e esquerda, se utiliza do termo extremismo, para melhor definição, mas se exime de fazer referência ao continuum
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A dicotomia criada no Brasil nos últimos tempos, que reduz o espectro político em somente dois polos, direita e esquerda, se utiliza do termo extremismo, para melhor definição, mas se exime de fazer referência ao continuum que vai da extrema direita à extrema esquerda, passando pela direita, centro direita, centro, centro esquerda e esquerda, e são classificados pela diferenciação dos grupos sociais, por razões ideológicas, religiosas, culturais, econômicas ou étnicas, as clivagens sociais. Pode-se incluir aí até o anarquismo.
De acordo com o cientista político Sergio Abranches, essa composição feita por Lula é chamada de presidencialismo de coalizão. Em artigo publicado em 1988, com o título de Presidencialismo de Coalizão – o dilema institucional brasileiro, Abranches define esse conceito “como uma combinação do presidencialismo, do federalismo e do governo por coalizão multipartidária”. Desta forma, “o presidencialismo de coalizão é um regime político institucional que foi moldado pela história da nossa república e contextos políticos, envolvendo as características acima”.
Trinta anos após a publicação desse artigo, em 2018, Sérgio Abranches faz um balanço reciclando o texto original, quando afirma: “A coalizão multipartidária é um requisito imprescindível da governabilidade no modelo brasileiro. Nem todos os regimes presidenciais multipartidários dependem tanto de uma coalizão majoritária. No Brasil, as coalizões não são eventuais, são imperativas. Nenhum presidente governou sem o apoio e o respeito de uma coalizão. É um traço permanente de nossas versões do presidencialismo de coalizão”, finalizou.
Com a frente ampla formada por Lula, em 2022, agraciando o União Brasil, de ACM Neto e Ronaldo Caiado, o PP, de Arthur Lira e Ciro Nogueira e o Republicanos, de Tarcísio de Freitas, soaria estranho afirmar que o Governo Lula 3, é um governo de centro direita?
A dinâmica eleitoral ao redor do mundo, há alguns anos, faz o pêndulo político global se inclinar à direita, sendo esse um movimento natural na política. Sempre que o pêndulo se desloca até um extremo, o movimento de resposta é para o lado oposto. O pêndulo da política no Brasil se movimentou. Já está fazendo o caminho de volta. O espectro político nas eleições de 2018, que estava com movimento direcionado à extrema direita, mostra a convergência do eleitorado para os partidos tradicionais de centro direita, aqueles partidos oriundos da antiga Arena (Aliança Renovadora Nacional). Daí surgem nomes como Ronaldo Caiado, Ratinho Júnior, Eduardo Leite e até Tarcísio de Freitas, com as bençãos da Faria Lima. Todos, com exceção de Tarcísio, já colocaram seus nomes como pré-candidatos em 2026. Até Paulo Guedes já demonstrou interesse de entrar na disputa.
De certa forma, eu sou cético em corroborar com opiniões sobre a definição dessa corrente ideológica chamada bolsonarismo. O movimento que teve seu auge político em 2018 é uma versão 2.0 do Integralismo de Plínio Salgado, evidentemente repaginado com o surgimento das tecnologias modernas, com robôs, algoritmos, fake news etc., é um evento efêmero, mais dia, menos dia, passará. Seu principal líder não se mostrou um político agregador, eficiente em manter as pontes que o fizeram chegar ao poder, deixando pelo caminho onze generais e outros tantos apoiadores de primeira hora, como Gustavo Bebianno. Trata-se de um personagem exaurido, que está sendo descartado a conta gotas. Outra situação que demonstra o enfraquecimento do ex-presidente foi o surgimento e o desempenho de Pablo Marçal, em São Paulo, demonstrando que o voto da extrema direita não tem dono, sem se esquecer, particularmente, de Bruno Engler em Belo Horizonte e André Fernandes em Fortaleza, com seus menos de 30 anos e muito tempo de política pela frente.
Para ser bem pragmático, eu nunca tive dúvidas de que a elite econômica e liberal do país, em breve, irá retomar o protagonismo dentro do cenário político nacional. O mesmo que tiveram atores políticos como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin. Logo surgirão outros representantes, um espaço que não cabe nem Lula nem Bolsonaro. Historicamente, sempre foi assim. É só lembrar a República do Café, atualmente, sem o leite. O pêndulo que se direcionou à extrema direita, pela falta de nomes palatáveis, viáveis dentro desse campo político, hoje sai muito bem-sucedida das eleições 2024.
O bom relacionamento entre os clientes d'O Berimbau || Foto Walmir Rosário
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Como dizia o velho técnico de futebol espanhol e hoteleiro Sotero Montero: “conheço o bom jogador pelo arriar das malas”. É assim a mística do boteco.
Walmir Rosário
Não há nada melhor do que acordar de bem com a vida. Numa sexta-feira, então, é essencial. E afirmo isso por experiência própria. Tenho me dado muito bem com esse costume. A sexta-feira, apesar de ser malvista por alguns, é o dia “ponto de corte” para iniciar um final de semana relaxando, recompondo as energias para enfrentar o batente na semana seguinte.
E é justamente às sextas-feiras que todos os órgãos do corpo humano pedem uma mudança de comportamento, o que é prenúncio de bem-estar. A depender da atividade exercida, a partir do meio-dia, o cidadão já pode desfrutar tranquilamente dos prazeres do fim de semana. Um almoço com amigos é ótimo antídoto para expulsar o mal-estar e o estresse acumulado na semana.
Mas é preciso ter em mente que nem todos os locais são apropriados para o relaxamento das tensões. Também não é preciso recorrer à harmonização de ambientes com decorações milenares, o que não vem ao caso. Deve ser tudo muito simples, bastando apenas os bons fluidos emanados pelos amigos que lhe rodeiam. O chamado bom astral é tiro e queda. Soluciona todos os problemas.
E nada melhor do que um boteco onde o bate-papo corra solto, livre entre seus parceiros de mesa e os vizinhos de outras mesas. É o sinal de que você está num lugar seguro e rodeado de pessoas bem chegadas. Para completar, faça uma pesquisa anterior e se certifique se o dono do estabelecimento é um verdadeiro personal boteco. Sim, eles existem e são figuras humanas afáveis, capazes de compreender o prazer que você busca, mesmo sendo desconhecido. Basta um olhar aprofundado, penetra no seu mundo interior e pode atender seus desejos. Como dizia o velho técnico de futebol espanhol e hoteleiro Sotero Montero: “conheço o bom jogador pelo arriar das malas”. É assim a mística do boteco.
Mas não se incomode ou leve a sério se o dono do boteco for do tipo que se vende como um personagem grosseiro. É que ele quer ser o centro das atenções em sua casa. São nesses locais onde a variedade e qualidade das cachaças são top, as cervejas se apresentam no ponto certo de refrigeração, os tira-gostos são divinos, os clientes fidelíssimos.
Nada melhor do que chegar num determinado ambiente etílico e encontrar as mesas lotadas (o que é um bom sinal) e o seu personal boteco ir buscar outra nos fundos do bar e colocar à disposição de seu cliente. Caso não existam mesas reservas, não tem problema, você será bem acomodado numa mesa já ocupada por colegas do boteco.
Para chegar a um status de alto nível, ser bem chegado, basta ter um comportamento adequado, ser gentil, ter boa conversa e ser bem informado sobre os temas em debate no local. Futebol, economia, política e notícias sociais diversas. Discuta com ênfase, sempre de acordo com padrões aceitáveis de educação e cortesia.
Como nesses locais – geralmente – antiguidade é posto, você poderá ocupar um local nos dois lados do balcão, para o desgosto do personal boteco, que aceitará sua localização inoportuna a contragosto. Essa postura, entretanto, não deverá ser adequada aos clientes novatos, ainda na fase de análise, para não ser rebaixado a uma categoria inferior, a dos chatos e folgados.
Lembro bem que no Bar do Itiel, no Alto Beco do Fuxico, para se tornar um cliente premium, em sua primeira frequência deveria ser apresentado por outro de patente superior, ou sequer cruzaria os umbrais daquela porta. Após a fase de observação, poderia desfrutar das honras e ser visto como um deles em qualquer situação.
Um bom cliente de boteco não deve ter receio de chegar com um violão em baixo do braço, desde que toque com maestria e não atrapalhe as conversas entre os colegas. Tenha um bom repertório, a exemplo de Caroba e Pinguim, e entre na gandaia com bons modos. Um bom frequentador de boteco é conhecido desde sua chegada, com efusivos cumprimentos.
Seja sempre um gentleman, afinal, você frequenta o seu segundo lar e terá mais liberdade do que na sua casa. É uma questão de estilo.
Comemoração de gol do Botafogo contra o Peñarol || Foto Vitor Silva/Botafogo
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Como não conhecer o poderio futebolístico do Botafogo? Ora, deveriam ter dado graças a Deus por não ter tomado uma goleada de nove, dez a zero, daquelas que o Botafogo aplicava contra o Flamengo. O pecado cometido pelos cisplatinos foi querer comparar o Botafogo com o Flamengo que eles despacharam.
Walmir Rosário
O futebol é um esporte que sempre mexeu com emoções. Da equipe de um simples time de várzea ao do selecionado de um país, torcedores dão a vida – se preciso – pela sua agremiação. Mesmo hoje, que o futebol é um esporte que mexe com bilhões, as torcidas seguem seus times, apesar dos ingressos com preços estratosféricos e a falta do amor à camisa, como dantes.
De há muito o futebol é um esporte apaixonante em praticamente todos os países deste mundo e, quem sabe, dia desses consegue ultrapassar o futebol americano, beisebol e o basquete, nos Estados Unidos, e o críquete, nos países de descendência e influência inglesa. Mesmo sendo um dos apaixonados pelo futebol, não sei a influência dele sobre nosso emocional.
Também pouco importa. O que quero mesmo é ver meu time ganhar, ser campeão. Sinto bastante quando minguam as vitórias, escapam as classificações, ficamos de fora da final de um campeonato. E vou avisando: não tolero ser vice, apesar de muitos elogiarem a segunda posição. E ainda por cima afirmarem que é o melhor depois do primeiro. Não concordo.
Pelo dito até agora, os que passaram os olhos por essas mal traçadas linhas já devem ter desconfiado que sou torcedor do Botafogo. Botafoguense com muito orgulho, persistente até não acabar mais. Não posso deixar de lado o bordão “tem coisas que só acontecem com Botafogo”, pois é verdade aqui e no Uruguai, mesmo sem termos culpa no cartório.
Imaginem o Brasil declarar guerra ao nosso vizinho do Sul, que já foi nosso, e sempre se rebela contra nós. Pelo tamanho do seu território não suportaria um confronto armado, mas que sempre provoca. Pelas minhas especulações, esses uruguaios acreditam que como ganharam de nós em 1950, ainda num Maracanã cheirando a tinta, teriam a obrigação de nos massacrar até hoje.
Tenho certeza que a culpa de tudo isso é do nosso ordeiro povo brasileiro, que não os repeliu com veemência naquela copa do mundo. Em 1950, os uruguaios venceram apenas uma copa, não uma guerra, mas queriam o “botim”, como nos bons tempos da Roma antiga, fazendo dos vencidos escravos, serviçais. Se estou certo nas minhas convicções estudaram a história de forma errada.
Gosto muito do Uruguai, dos seus vinhos, carnes maravilhosas preparadas nos braseiros, das cidades tranquilas, incluindo Montevidéu. Mas não gostei nada da guerra particular que tentaram empreender contra o Botafogo. Costumo ouvir dizer que os cisplatinos têm sangue quente, não toleram perder, ainda mais no futebol. E por 5X0, então, queimou o churrasco na Libertadores da América.
Não tenho certeza, mas ao que me parece, esses uruguaios são desinformados. Como não conhecer o poderio futebolístico do Botafogo? Ora, deveriam ter dado graças a Deus por não ter tomado uma goleada de nove, dez a zero, daquelas que o Botafogo aplicava contra o Flamengo. O pecado cometido pelos cisplatinos foi querer comparar o Botafogo com o Flamengo que eles despacharam.
Mas nada do que fizeram se justifica. Um papelão horrendo! Sabiam que não seriam punidos por ameaçar os brasileiros – torcedores do Botafogo – que como turistas costumam encher o Uruguai de dólares todos os anos. Confiavam no ombro amigo da Conmebol, onde choraram suas pitangas e ganharam amparo e afagos.
Como botafoguense não sou torcedor de reclamar de pouca coisa. Tenho o couro cascudo desde a velha rivalidade entre as seleções de Ilhéus e Itabuna, ainda nos tempos em que reclamávamos dos paus e pedras jogados contra nós quando passávamos em baixo do viaduto Catalão ou no estádio. Também íamos à busca da forra, dentro e fora de campo.
Não posso esquecer que no futebol também se faz amigos, e muitos. Um caso clássico é o que aconteceu na África, em 1969, quando o Congo e a República Democrática do Congo silenciaram as armas durante uma guerra, para que o Santos de Pelé pudesse cruzar o país para jogar nos dois lados da fronteira. E não foi só isso.
No mesmo ano, durante a guerra entre a Nigéria e a separatista Biafra, o Santos jogou em Benin. Para que isto acontecesse, os dois antagonistas decretaram feriado, bem como o cessar fogo, para que o Santos de Pelé se apresentasse. Acredito que os uruguaios faltaram essa aula de história das guerras africanas e deixaram o professor na sala falando sozinho.
Preparada para consolidar sua liderança no turismo brasileiro, a Bahia segue avançando com novos investimentos em infraestrutura e qualificação de mão e obra.
André Curvello
A Bahia segue em ritmo acelerado e consolida sua posição como um dos principais destinos turísticos do Brasil projetando-se no cenário global. Apostando em uma variedade de paisagens e expressões culturais, o estado vem implementando estratégias que atraem visitantes e movimentam a economia.
O governador Jerônimo Rodrigues cumpre seus compromissos de campanha. Os investimentos se concentram na expansão da malha aérea, na modernização de aeroportos e em incentivos fiscais, reafirmando o turismo como um motor de progresso econômico e social.
Entre os destaques desse movimento está a inauguração do voo direto Paris-Salvador-Paris, operado pela Air France, em 28 de outubro. A nova rota, operada com moderníssima aeronave, oferece três frequências semanais e transforma Salvador em um ponto de convergência para conexões globais, ligando o Brasil a mais de 180 destinos na Europa, Ásia e África. Esta conexão internacional é um convite para que turistas do mundo todo vivenciem as experiências únicas da Bahia, que combinam paisagens exuberantes e manifestações culturais singulares.
No âmbito doméstico, a partir de 2025, a malha aérea regional será reforçada com novos voos da Azul para cidades como Lençóis, Guanambi e Barreiras. Essa ampliação integra o projeto Conheça o Brasil Voando, realizado em parceria com o Ministério do Turismo, cujo objetivo é descentralizar o turismo e conectar regiões menos exploradas ao fluxo nacional, fomentando o desenvolvimento do interior.
A Bahia oferece 13 zonas turísticas com atrações que vão além das praias e do patrimônio histórico. A promoção desse mosaico turístico em feiras internacionais e roadshows pela Europa vem ampliando a visibilidade do estado e fortalecendo parcerias e novas rotas.
Esses esforços já trazem resultados expressivos. De janeiro a setembro de 2024, o número de turistas internacionais cresceu 58,5%, em contraste com a média nacional de 12%. No total, 94.703 turistas estrangeiros desembarcaram na Bahia nesse período, 33 mil a mais que o Ceará, o segundo colocado no Nordeste. A ampliação de voos internacionais, como os de Buenos Aires, Montevidéu, Lisboa e Paris, além da nova temporada de voos fretados de Varsóvia, reforça o protagonismo da Bahia no turismo internacional.
Infraestrutura é outro pilar essencial dessa estratégia. Com investimentos de R$ 418,8 milhões, o estado moderniza aeroportos e aeródromos em diversas cidades, assegurando operações eficientes e seguras. O governo também investe na participação em eventos importantes como o Salão do Chocolate, que acontece até o início de novembro, em Paris, com potencial de atrair visitantes de várias partes do mundo, além de facilitar a realização de um grande número de negócios, valorizando a produção de chocolate artesanal do sul da Bahia. E ainda teremos, agora no fim de outubro, o início da temporada de cruzeiros marítimos, que trará milhares de turistas de outros estados e países.
Mais do que crescimento econômico, o turismo é uma ferramenta eficaz na promoção da inclusão social e na redução de desigualdades. Essa dinâmica promove uma redistribuição de renda que beneficia tanto os centros urbanos quanto o interior, criando novas perspectivas para a juventude e consolidando o turismo como um eixo estruturante do desenvolvimento regional.
Os números refletem o sucesso dessa abordagem integrada. Entre abril e junho de 2024, a arrecadação de ICMS no setor alcançou R$ 1,2 bilhão, um aumento de 23,5% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Sem falar no significativo crescimento na geração de emprego e renda.
A Bahia não é apenas um destino, mas uma experiência para todas as estações do ano. Das praias paradisíacas às trilhas ecológicas da Chapada, passando pelo Rio São Francisco, pela culinária admirada internacionalmente e pelas tradições religiosas vibrantes, cada canto do estado oferece um convite irresistível ao viajante. Preparada para consolidar sua liderança no turismo brasileiro, a Bahia segue avançando com novos investimentos em infraestrutura e qualificação de mão e obra. Vem muito mais por aí.
André Curvello é secretário de Comunicação Social do Estado da Bahia.
Quem lê essas linhas não tem a ideia do Tolé pai de família extremado, amigos à mancheia e que deixa saudades.
Walmir Rosário
Domingo (27-10) em Canavieiras, dia de pleno sol, próprio para a praia, a cerveja com os amigos, as partidas de futebol, e o mais importante: as discussões entre os torcedores. Meu velho amigo Antônio Amorim Tolentino, Tolé, para todos, não participou de nada disso, preferiu viajar e tomou o caminho sem avisar a ninguém, nem aos amigos mais chegados e familiares. Simplesmente partiu.
Eu fui surpreendido pelo amigo em comum Luiz Sena, que aos prantos me pedia para confirmar ser verdade o passamento de Tolé. Eu ainda nem sabia deste triste acontecimento. Tolé era uma espécie de tutor de Sena, que chegou ainda rapazinho no Banco do Brasil em Canavieiras.
Pelo visto, deve ter sido interpelado por São Pedro, ao bater à porta do Céu, para prestar contas de sua passagem por esse mundo. E foi preparado, vestindo uma vistosa camisa do Flamengo, seu time de coração. Desconheço se São Pedro gosta de futebol, mas Tolé deve ter dito que empreendeu a viagem para assistir de cima a disputa da Copa Brasil, com uma visão privilegiada.
Por certo, após os santos questionamentos, saberá convencer o chaveiro do Céu. Apesar de não ser um católico praticante e se considerar amigo chegado de São Boaventura, pois morava ao lado da Igreja, sabia como ninguém o que se passava no templo, sem precisar subir os degraus da matriz. Ouvia tudo pelo rádio ou por meio dos amigos.
Em sua defesa deve constar nos livros de São Pedro suas ações pró São Boaventura, desde as discussões sobre o verdadeiro dia da homenagem ao Santo-Doutor da Igreja Católica, passando pelas comemorações profanas. Deve estar lá anotado, quando em plena pandemia, Matriz fechada, ele se encarregou, junto aos vizinhos, de promover a lavagem das escadarias, portando baldes com água, vassouras e água de cheiro.
Tolé era (acredito que ainda é) uma daquelas figuras que nunca se esquece. Quando ainda fazia parte da alta boemia canavieirense, se tornou um colega de farra imprescindível em qualquer festejo. Um dos fundadores da Confraria d’O Berimbau, lavrava as atas semanais e ainda se atinha ao caixa nos devaneios de Neném de Argemiro, para não permitir que, por pressa ou esquecimento, alguém saísse sem proceder ao devido pagamento.
Membro da Galeota Ouro, Tolé era figura de proa na organização do maior evento turístico etílico e gastronômico de Canavieiras. Uma esculhambação devidamente organizada. Acredito que lá em cima já deve ter se reunido com os amigos Tyrone Perrucho, Neném de Argemiro e muitos outros que partiram antes dele. Acredito que já planejam coisas do tipo lá em cima, se é que permitido.
Mas o zeloso funcionário da Caixa Econômica Federal amava sua Canavieiras, tanto assim que trocou de emprego, ingressando no Banco do Brasil, para voltar à sua terra. Bancário conceituado, também foi secretário municipal em Camacan e Canavieiras, esta por diversas vezes. Em todo esse tempo sempre foi visto como uma reserva moral (como todos deveriam ser) no serviço público.
Tolé também era dono de uma “pena” afiada. Foi um dos fundadores do jornal Tabu, ao lado de Tyrone Perrucho, Durval França Filho, Almir Nonato, Raymundo José dos Santos e Lindinberg Hermes. Sabia escrever um texto “apimentado”, porém devidamente terno e educado. Era pródigo em panfletos eleitorais, elaborados com o fino humor e sarcasmo.
Mas, com o tempo, Tolé mudou, para o desespero dos seus colegas. De uma hora pra outra passou a autointitular-se abstêmio. Mas não seria um abstêmio qualquer, moderado, e declarou guerra às bebidas alcoólicas. Essa sua decisão causou um terremoto entre os amigos que passaram a considerá-lo um vira-casaca, traidor da causa boêmia. Não arredou o pé e manteve sua decisão pra sempre.
Mas, neste sábado (26), conversávamos – Raimundo Tedesco, Alberto Fiscal e eu – sobre as peripécias de Tolé, a exemplo da viagem que fez com Tyrone a Salvador sob o pretexto de comprar um carro. Arrebanharam mais dois colegas e partiram para a capital. Carro pronto, partiram numa viagem que levou quase 15 dias no percurso de volta até Canavieiras.
De outra feita, Tolé se organizou com os colegas do Banco do Brasil para participarem da inauguração do Estádio Luiz Viana Filho (hoje Fernando Gomes), em Itabuna. Na caravana, o dito cujo, Raimundo Tedesco, Fred e Jovaldo. Ao raiar do dia embarcaram e fizeram a primeira parada em Panelinha, para o café da manhã, melhor seria cerveja da manhã.
E eles tocam o “barco” até Buerarema, a segunda parada, sendo recebidos pelo colega do BB, Jolison Rosário. No início da tarde saem para Itabuna, que seria o destino. Mas o colega Jovaldo, pernambucano do agreste, queria conhecer Ilhéus, resolveram partir para dar uma voltinha na vizinha cidade e retornarem para o jogo.
Deram uma volta pela cidade até descobrirem um bar do jeito deles e por lá ficaram até o cair da noite. Resultado, o turismo esportivo ficou pra nova oportunidade, e Tolé somente foi conhecer o estádio de Itabuna 12 anos depois. Quem lê essas linhas não tem a ideia do Tolé pai de família extremado, amigos à mancheia e que deixa saudades.
Pelo que eu soube – confidencialmente –, assim que chegou, bateu à porta do Céu, prontamente aberta por São Pedro, que fez mesuras ao convidá-lo:
– Entra, Tolé, seus amigos já estão lhe esperando!
Suas propagandas faziam parte das conversas e seus bordões faziam parte do nosso dia a dia. E era mais que um publicitário, era um popstar. No modo de se vestir, no modo de falar e até no modo de viver.
Afonso Dantas
Para nós, era uma espécie de guru, praticamente um mago, ou uma espécie de deus. Um deus da criatividade. Um deus da propaganda. Assim era Washington Olivetto para quem é de publicidade, a profissão que eu abracei, e que já foi a mais glamourizada das profissões pelos jovens, inclusive com sua concorrência no vestibular, sendo mais requisitada que a da tradicional medicina.
Eu tive o prazer de encontrá-lo e conversar com ele, em um festival de publicidade no Rio de Janeiro, o Wave Festival, no ano de 2008, em um dos locais mais icônicos do Rio, o Copacabana Palace.
Chegamos para o inesquecível café da manhã na charmosa varanda do Copa, com vista para a praia e para a bela paisagem do Rio, antes do evento, e fui fazer meu prato, maravilhado com as delícias que o buffet exibia, quando minha esposa, Tiana, sentou-se a uma grande mesa e alguns minutos depois, um senhor elegante, sentou-se, perguntando se tinha alguém ali. Ela disse que ele poderia sentar e ela o reconheceu, mas conversou amigavelmente, sem tietagem. Eu cheguei alguns minutos depois e, com uma mistura de surpresa e admiração pela presença do ídolo da propaganda, fui cumprimentá-lo, sentei à mesa e começamos a conversar sobre um assunto que não poderia ser outro em um festival de propaganda: Futebol.
Pois é. Não sei se por que, mas ao invés de perguntar alguma coisa sobre propaganda ao mestre, perguntei: – E aí, e esse seu Corinthians, hem? E ele desandou a falar do seu Timão e eu também a falar do meu, o Bahia (BBMP!), onde ele me passou várias ideias, do potencial que o Bahia teria se fizesse algumas coisas que valorizassem sua origem e sobretudo sua torcida. E papo vai, papo vem, acabei nem pedindo foto ou coisa parecida para não o incomodar. Terminado o café, fomos todos para a palestra de nada mais, nada menos do que do próprio. Uma palestra, para variar, muito bacana e inspiradora.
Olivetto era genial. Descrever sua obra era descrever a história contemporânea do Brasil, nas décadas de 70, 80, 90 e começo dos anos 2000. Suas propagandas faziam parte das conversas e seus bordões faziam parte do nosso dia a dia. E era mais que um publicitário, era um popstar. No modo de se vestir, no modo de falar e até no modo de viver. Uma vida de causar inveja e desejo de pertencer àquele mundo. E isso, em todo o mundo.
E, para mostrar seu reconhecimento mundial, os únicos dois comerciais brasileiros que foram incluídos na lista dos 100 maiores do mundo foram o Primeiro Sutiã e Hitler, todos os dois disponíveis na internet, junto com vários outros fantásticos e inesquecíveis, como os estrelados pelo talentoso Carlos Moreno, o “Garoto Bombril”. Além disso, Olivetto entrou para o Hall da Fama da publicidade mundial, único brasileiro a conseguir essa façanha, sem contar com a conquista de mais de 50 leões em Cannes, o maior prêmio de propaganda do mundo, dentre tantas outras conquistas..
Agora, com a sua perda, parece até que perdemos um parente, como também senti na perda do grande Duda Mendonça, pois cada trabalho em propaganda que fazia, cada movimento da W/Brasil era acompanhado com afinco, principalmente em um tempo em que a propaganda era mais recheada de ideias do que de métricas (Cadê a criatividade?).
Perdemos um gênio. Perdemos um artista, um artesão da comunicação, que com seu talento moldou a propaganda e também alguns costumes do brasileiro. Quase que enveredou para a indústria musical, mas mesmo assim acabou influenciando muito a cena musical brasileira. (- Alô, alô, W/Brasil!). Foi- se o gênio, mas fica o legado e o exemplo a ser seguido. E nossa gratidão por compartilhar conosco sua criatividade. Que surjam outros Olivettos para revolucionar o mundo com suas ideias. Viva a criatividade! Viva Washington Olivetto!
Afonso Dantas é publicitário, sócio e diretor de criação da Camará Comunicação Total, CEO da Lá ele! Camisas e Coisas, Especialista em Gestão Cultural, torcedor do Bahia e pai de Maria.
Casa do fundador de Itabuna, no centro da cidade, é demolida na surdina || Reprodução
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Sociedade civil itabunense organizada, representantes dos poderes executivo, legislativo e judiciário, todos calados, todos coniventes com a demolição da casa do fundador de Itabuna, um dos poucos prédios históricos da cidade, até então, sobreviventes. Mais uma vez a estratégia foi a de demolição na surdina.
Janete Ruiz de Macêdo
A cidade de Itabuna, mais uma vez, foi obrigada a se confrontar com perdas irreparáveis. Perdas que levam à melancolia e ao enfraquecimento da memória, do sentimento de si, da sua identidade. Alguém se importa? Após os acontecimentos deste 19 de outubro de 2024, a demolição do sobrado do comendador José Firmino Alves, construído no final do século XIX, local onde foi pensado e gestado o processo emancipatório da cidade, centro social e político da vila da Tabocas e da cidade de Itabuna, a impressão que fica é de que não. Lá se processaram duros debates para escolha do primeiro Intendente, planos para prover a novel cidade dos aparatos urbanísticos e culturais necessários.
De onde veio mesmo essa cidade? Que imagem queremos construir? Estamos dispostos a apagar a imagem que a cidade adquiriu ao longo da sua trajetória, a imagem que lhe foi construída e que tem sido apresentada aos outros e a si própria?
A ideia de uma identidade cultural coletiva pautada em referentes materiais parece ser uma impossibilidade para os governantes municipais. Da mesma forma, é impossível encontrar quem se identifique com a ideia de patrimônio cultural. Nietzsche, em sua obra Para além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro, afirma que os seres humanos precisam ter futuro, “estabelecer-se como garantia de si mesmo como futuro”, por isso desenvolveram uma vontade ativa de guardar impressões, apreender o acontecimento necessário, antecipar-se ao possível no tempo com segurança. Para tanto, foi preciso, pois, criar a responsabilidade. E esta seria algo vazio se a promessa de ontem caísse no esquecimento.
Dentro dessa perspectiva, onde está a nossa responsabilidade? Sociedade civil itabunense organizada, representantes dos poderes executivo, legislativo e judiciário, todos calados, todos coniventes com a demolição da casa do fundador de Itabuna, um dos poucos prédios históricos da cidade, até então, sobreviventes. Mais uma vez a estratégia foi a de demolição na surdina. Diante do seu susto e indignação, alguém escreveu ao memorialista Moacyr Garcia: “calma, foi a família que vendeu e não foi tombada a pedido dela própria”. Assim foi também com o Castelinho, casa de Aurea Alves Brandão Freire, localizada no canto norte da praça Olinto Leone, construída entre os anos de 1919 a 1924 e demolida em 1989. Deixo aqui registrado fragmentos do texto de Helena Borborema Era uma Vez um Castelo:
“Era uma vez… muito tempo atrás, bem no início da década de vinte, um rico senhor de terras e cacauais[…] desejou dar a uma de suas filhas noivas, como presente de casamento, uma bela mansão. Mas, como realizar o seu sonho numa terra onde tudo faltava, onde as coisas belas do espírito nem eram cogitadas… Queria uma bonita vivenda, algo que embelezasse a sua cidade… era aquela construção o testemunho de uma época endinheirada, monumento de amor à terra que tanto prodigalizou as benesses aos que a ela se dedicaram, nela fizeram fortuna e souberam retribuir a sua dadivosidade. Era ele o símbolo, a expressão da crença de um homem, Firmino Alves, no futuro de uma cidade. E num triste dia, silenciosamente, na calada da noite, impiedosamente, sem protestos, sem o menor respeito […] sem nenhuma causa justificável, o Castelinho foi jogado abaixo, como se com ele jogassem no lixo as relíquias do passado de um povo, de uma cidade”.
Renegamos esse passado? Que memória queremos construir? Para que conservar o que nada significava de amor para elas?
A memória de pedra e cal da cidade é praticamente inexiste: já não existe o teatrinho ABC, o prédio de Martinho Luiz Conceição, o casarão de Tertuliano Guedes de Pinho, a casa pertencente a Carlos Maron e o mesmo destino, em breve, terá a Cadeia Pública Municipal de Itabuna, o Museu Casa Verde e o pouco que resta do sobrado do médico Moisés Hage. Se quisermos ir um pouco adiante, por que não falar da deformação do prédio da Maçonaria Areópago Itabunense e o da Associação Comercial de Itabuna?
É certo que a memória coletiva itabunense não é um baú de tesouros depositados democraticamente, ao longo do tempo por razões afetivas, por todos os cidadãos da cidade. Sabemos que é uma memória exercitada por poucos, uma memória pouco ensinada, e a derrubada da casa de Firmino Alves, atesta, mais uma vez, a falta de efetividade da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (FICC), e do Conselho Municipal de Cultura, órgãos que deveriam ser guardiões do nosso patrimônio histórico e cultural.
Parece só restar, então, a escriturística da saudade, buscando soluções na memória para oferecer uma sensação de identidade sólida apesar dos efeitos do tempo, pois por meio dela, como afirma Joel Candau em sua obra Memória e Identidade, “o que passou não está definitivamente inacessível, pois é possível fazê-lo reviver graças à lembrança. Juntando os pedaços do que foi numa nova imagem que poderá talvez ajudá-lo a encarar sua vida presente”. É isso que alguns memorialistas itabunenses têm realizado incessantemente, buscando soluções na memória para manter viva a história da cidade como um legado para o tempo presente.
A escriturística da saudade busca impedir que no fluxo temporal o esquecimento engula as memórias e a história de um povo e de um lugar, mas para uma memória forte e uma consciência viva sobre seu passado, é necessário a preservação de referentes materiais que lhe deem suporte. Para tanto, se faz necessário o exercício da Responsabilidade que tem faltado de forma profunda a grande parte dos agentes sociais que, direta ou indiretamente, labutam no campo da história e daqueles que ocupam cargos estratégicos no campo da política e da cultura.
Janete Ruiz de Macêdo é professora, doutora em História, fundadora do Centro de Documentação e Memória (Cedoc) da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e curadora do Centro Cultural Teosópolis.
O então presidente da República, Venceslau Brás, depois de várias tentativas para a cura de uma doença na perna, decidiu mandar chamá-la. Foi curado. Neste período o samba era proibido por lei e perseguido pela polícia. Ela pediu ao presidente pra sua casa não mais ser importunada. Foi atendida.
Marival Guedes
A polêmica acontece nas rodas de conversa, veículos de comunicação e nas artes. Na década 50 a composição A voz do morro ecoava pelo Brasil no filme Rio 40 graus, dirigido por Nelson Pereira dos Santos com interpretação do próprio autor, Zé Keti. Os versos comemoravam: “Eu sou o samba/sou natural aqui do Rio de Janeiro/Sou eu que levo a alegria/Para milhões de corações brasileiros.
Na literatura, o autor de Desde que o samba é samba, o carioca Paulo Lins (também autor de Cidade de Deus) afirmou em entrevista à revista Veja em 2012 que o Samba nasceu no Rio. E acrescentou: “Quem fala que nasceu na Bahia não tem conhecimento da história. ”
Já o escritor e jornalista cearense Lira Neto, autor da famosa trilogia biográfica Getúlio, depois de cinco anos de intensa pesquisa, lançou o livro O Samba – Suas origens, primeiro volume de uma trilogia.
Ele afirma que “o samba carioca nasceu no início do século XX a partir da gradativa adaptação do samba rural do Recôncavo baiano ao ambiente urbano da então capital federal. Descendente das batidas afro-brasileiras, mas igualmente devedor da polca dançante, o gênero encontrou terreno fértil nos festejos do Carnaval de rua”.
TIA CIATA
Dentre as pessoas do Recôncavo que levaram o ritmo ao Rio, se destaca Hilária Batista, a Tia Ciata, que morreu há exatamente um século, aos 70 anos. Ela recebia em sua casa, Terreiro de Candomblé, dentre outros (as) a chamada santíssima trindade do samba, composta por Donga, Pixinguinha e João da Baiana. A região no centro do Rio passou a ser chamada de pequena África.
Era conhecedora das ervas medicinais. O então presidente da República, Venceslau Brás, depois de várias tentativas para a cura de uma doença na perna, decidiu mandar chamá-la. Foi curado. Neste período o samba era proibido por lei e perseguido pela polícia. Ela pediu ao presidente pra sua casa não mais ser importunada. Foi atendida.
Voltando à área musical cito versos de Vinicius em Samba da Bênção: “Porque o samba nasceu lá na Bahia/E se hoje ele é branco na poesia/Se hoje ele é branco na poesia/Ele é negro demais no coração”
O baiano Caymmi criou O Samba da minha terra. E os santamarenses Jorge Portugal e Roberto Mendes compuseram O samba antes do samba:
“O Samba já existia antes do samba/Lá no Recôncavo onde tudo começou/Passaram-se muito anos em muitas rodas de bamba/Só bem depois o telefone tocou”.
O último verso é referência ao samba Pelo Telefone, oficialmente o primeiro a ser gravado.
Sobre este gênero musical, encerro com uma frase do jornalista Chico Pinheiro, que também afirma que o samba nasceu no Recôncavo: “ Me apaixonei pelo samba porque é a crônica da vida de um povo”.
Orlando Cardoso, de azul e na foto com Jorge Braga e Silmara Souza, foi dirigido por Lourival Ferreira
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De volta a Itabuna, Lourival Ferreira soube por ouvintes a falha humorística e pegou o rolo da fita do programa para ouvir a gravação. Para não deixar de graça, deu um esporro em cada um.
Walmir Rosário
Lourival de Jesus Ferreira era um técnico em eletricidade e eletrônica que montou as três emissoras de rádio AM de Itabuna – Clube, Difusora e Jornal, nas décadas de 1950 e 60. Também foi redator, apresentador de programas e diretor de emissoras, um faz tudo conceituado e suas criações e produções eram respeitadas. Todas campeãs de audiência.
Apesar de pessoa de bom trato, educado, Lourival era muito exigente e cobrava qualidade dos colegas que dirigia. Na Rádio Difusora Sul da Bahia, do empresário e deputado estadual Paulo Nunes, tinha o aval dos filhos do parlamentar, sobretudo Paulo Nunes Filho e Hercílio Nunes, este o administrador da emissora.
Lourival Ferreira era o “homem de sete instrumentos” e suas recomendações deveriam ser cumpridas à risca, sob pena de um olhar mais duro, reclamação, suspensão e até demissão. Com o passar do tempo, Lourival estudou direito, advogou em Itabuna, prestou concurso para a magistratura, foi juiz em Una, Itabuna, Salvador e chegou ao cargo de desembargador.
Assim que foi trabalhar no setor esportivo na Rádio Difusora, o “olhar clínico” de Lourival Ferreira identificou outras qualidades no narrador Orlando Cardoso, como apresentador de programas e noticiarista. De início, passou a trabalhar em parceria com Romilton (Teles dos) Santos, já “cascudo” no microfone e que encarnava o personagem “Martelo”, no programa Martelo e Martelinho (Eurípedes).
Como Orlando Cardoso já tinha ganhado a confiança, numa de suas muitas viagens, Lourival Ferreira indica Orlando para substituí-lo na apresentação da Resenha Esportiva que ia ao ar das 18h45min às 19 horas. Na produção o sisudo Raimundo Galvão, e na apresentação Romilton Santos e Orlando. Antes da viagem, as recomendações de praxe: “Era um programa em que as brincadeiras não eram toleradas, daí a escolha”.
E a Resenha Esportiva continuou no padrão de antes, até que um dia, ao noticiar sobre o novo material esportivo do Itabuna amador (ainda o amarelo e preto), Orlando abre o microfone e diz: O Itabuna acabou de receber o seu novo material esportivo, vindo de Santa Catarina. E Romilton complementa: O material do Itabuna consta de maiôs, camisas e chuteiras.
Diante da falha de Romilton, que trocou a palavra meiões por maiôs, Orlando Cardoso não se contém, cai na gargalhada e não consegue se recompor. Aí Romilton empurra Orlando da cadeira e toma a frente, tentando consertar: Aliás, quer dizer, meiões, camisas e chuteiras. Em seguida pede um comercial e lembra o que Lourival Ferreira teria recomendado: “Nada de brincadeiras”. Recompostos, os dois disseram que imaginaram os pesados atletas do Itabuna com as genitálias dentro de um maiô.
De volta a Itabuna, Lourival Ferreira soube por ouvintes a falha humorística e pegou o rolo da fita do programa para ouvir a gravação. Para não deixar de graça, deu um esporro em cada um. Depois caíram na gargalhada. Tapinhas nas costas de Romilton e Orlando, o que seria a recomendação de continuarem, porém sempre observando os textos com atenção.
Outro grande locutor e apresentador da Rádio Difusora foi Germano da Silva. Crooner do Lord Ritmos (se não me engano o nome) e que culminou no Lordão anos depois, Germano foi locutor comercial e apresentador de programas e shows de auditório e praças. Dono de um vozeirão impecável, o locutor gostava sempre de falar palavras difíceis e com sotaque carioca.
Numa manhã, enquanto Germano faz a locução de um texto comercial, ressalta a palavra gratuito por “gratuíto”, em alto e bom som, caprichando na separação do ditongo “ui”, pronunciando “gra-tu-í-to”. E isso justamente quando Lourival Ferreira ia chegando à sala da técnica de som. Pela cara que fez, deu a impressão que tinham estourados os tímpanos do diretor.
Imediatamente, chamou Germano da Silva em sua sala e impôs como castigo ao apresentador Germano da Silva a compra imediata de um caderno de 100 folhas e que escrevesse a frase “a palavra correta é gratuita”, por três mil vezes. Germano tentava se explicar, mas não sabia como consertar. E Lourival Ferreira foi categórico: “Só me volte aqui quando tiver escrito tudo e aprendido a pronúncia correta”.
E assim foi feito. Como era uma sexta-feira, deixou a sede da emissora, passou numa papelaria, adquiriu o caderno recomendado, e passou o fim de semana escrevendo. Na segunda-feira se apresentou, mostrou a escrita e pronunciou a frase por diversas vez, por exigência do diretor. Foi reconduzido ao programa e continuou o showman no microfone.
Germano da Silva passou a atuar também na política, foi assessor de imprensa da Prefeitura de Itabuna por vários anos e apresentador de shows. Cursou Direito e passou a advogar em toda a região, atuando em várias áreas da advocacia. Germano Lopes da Silva é Patrono da Cadeira nº 11 da Academia de Letras Jurídicas do Sul da Bahia.
José Carlos Teixeira, uma das principais referências do jornalismo baiano || Foto Reprodução
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Adorava ouvi-lo falar sobre MPB, campanhas eleitorais, as situações engraçadas pelas quais passou nas diversas redações em que trabalhou e principalmente ler e reler seus textos.
Cláudio Rodrigues
Não sei se minha vida seria a mesma se não tivesse cruzado com José Carlos Teixeira. Era fim dos anos de 1980, trabalhava na recém-criada Secretaria Extraordinária de Comunicação Social, da Prefeitura de Feira de Santana.
Teixeira chegou para ser o diretor de redação e chefiar uma equipe que reunia ótimos profissionais. Era época do telex e das máquinas de datilografia Olivetti, que, operadas ao mesmo tempo, produziam um delicioso barulho, e das fumaças dos cigarros na redação. Quase todos fumavam.
Ele fazia o tipo chefe durão. Chegava, entrava em seu “aquário” e gritava: “tem matéria nessa porra, não?!”. Em seguida, abria um lindo sorriso e começavam a chegar as laudas em papel jornal com os textos.
Cada um esperava Teixeira “pentear a matéria”, como aluno que entregava o dever de casa ao professor. Se o texto estivesse bom, poderia ir embora. Caso contrário, era chamado para reescrever.
Depois que ele editava os textos, eu fazia uma cópia e seguia para operar o telex. Através desse aparelho, que as novas gerações não conhecem, as matérias eram enviadas aos jornais da capital.
Além de mestre, Teixeira foi um pai para todos que tiveram a oportunidade de trabalhar com ele. Em dezembro de 1992, ele me chamou e disse: “estou com um projeto para a cidade de Itabuna, se der certo, você está dentro, topa?” Respondi na lata: “com você vou até para ‘os quintos’”
Dois anos depois, ele deixou Itabuna e eu continuo trabalhando e morando em terras grapiúnas. Teixeira me deu a régua e o compasso, com o qual eu tracei o meu destino. Não seria quem sou sem ele.
Adorava ouvi-lo falar sobre MPB, campanhas eleitorais, as situações engraçadas pelas quais passou nas diversas redações em que trabalhou e principalmente ler e reler seus textos.
Sua partida repentina deixou uma fissura no meu coração, tão grande como o iceberg que rasgou o casco do Titanic.
Segue em paz, meu mentor.
A saudade será eterna, assim como o seu legado.
Cláudio Rodrigues é jornalista e consultor em marketing.