Tempo de leitura: 16 minutosNo ano do seu centenário, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) escolheu Sofia Manzano para representá-lo na disputa da Presidência da República. A paulistana de 51 anos é radicada em Vitória da Conquista desde 2013, quando assumiu o cargo de professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), onde leciona Economia, sua área de pesquisa da graduação na PUC-SP ao doutorado na USP.
Ela é autora do livro Economia Política para Trabalhadores (Ed. Instituto Caio Prado Jr.), título que indica um dos desafios da sua pré-candidatura: levar ao conhecimento da classe trabalhadora as propostas dos comunistas para a economia do país.
A tarefa não é fácil. O PCB está em franca reconstrução, mas ainda longe do protagonismo que marcou sua trajetória no século passado. Some-se a isso os consensos neoliberais no debate público, promovidos por meios de comunicação de massa. As brechas estão na internet, como nas redes sociais, onde os pré-candidatos comunistas acrescentaram a sigla do partido aos seus nomes (@sofiamanzanoPCB, por exemplo) para uniformizar a identificação dos perfis.
Se a missão de falar às multidões é cheia de obstáculos, o apelo dos temas econômicos é forte e incontornável no debate eleitoral. A carestia da vida está nas gôndolas de alimentos, nos postos de combustíveis, na conta de energia, no preço do gás, etc., enquanto o salário mínimo não tem ganho real desde 2017.
Nesta entrevista ao PIMENTA, Sofia Manzano mostra como esse cenário econômico reflete o conjunto da obra do governo Bolsonaro. Também explica como o Dieese chega ao valor recomendado do salário mínimo para as despesas de uma família, que hoje seria de R$ 6,3 mil. Segundo ela, com planejamento econômico, o país tem condições de atingir esse nível de renda mensal familiar. Leia.
PIMENTA – O Comitê de Política Monetária elevou a taxa básica de juros para 12,75%, alegando que isso é necessário para conter a inflação. De um lado, a gente vê reclamações, como as da Confederação Nacional das Indústrias. De outro, tem gente da esquerda defendendo a gestão de Roberto Campos Neto. Qual é o melhor caminho para a política monetária brasileira?
Sofia Manzano – É um equívoco a gestão do Banco Central independente do Roberto Campos, porque ele está fazendo uma política monetária que visa, simplesmente, o interesse do mercado financeiro. Essa política de aumentar a taxa Selic é muito ineficiente para conter a inflação. O que eles alegam é que a inflação está – e de fato está – muito elevada e crescendo. Por isso, eles aumentam a taxa de juros, pensando sempre num modelo de teoria econômica bastante ultrapassada, que é a teoria quantitativa da moeda. A ideia de que, se os preços estão subindo, é porque a demanda está muito elevada, então tem que aumentar a taxa de juros para conter a demanda.
Só que sabemos que o nosso processo inflacionário não decorre do aumento da demanda. Muito pelo contrário. Tínhamos, antes da pandemia, quando não havia uma inflação tão elevada, uma população se alimentando e consumindo. Com a pandemia e o empobrecimento da população por causa da reforma trabalhista, hoje temos mais de cem milhões de pessoas com insegurança alimentar. Elas não têm dinheiro para comprar o básico, o alimento. Portanto, a demanda, que é a procura por bens e serviços, não está aumentando, está retraindo. A inflação atual não é causada por um excesso de demanda, mas por pressões de custo.
Quais?
A principal é a política de preços da Petrobras. O lucro trimestral da Petrobras aumentou 3.000%, R$ 44,5 bilhões. Ora, não é a Petrobras empresa: o governo que está comandando essa empresa é que faz uma política que só visa o lucro, com aumentos constantes dos combustíveis e gás, que entram no custo de toda a produção. Para produzir qualquer coisa tem que ter energia e transporte. Se a energia e o transporte sobem, o preço desses produtos vai subir.
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